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IR.

FRIEDRICH LUDWIG SCHRÖDER


História de uma vida extraordinária
Antonio Gouveia Medeiros1
Friedrich Ludwig Schröder2 nasceu em Schwerin em 2 ou 3 de novembro
de 1744. Seu pai, que era organista em Berlim, faleceu antes do seu
nascimento. Sua mãe dirigia um atelier de bordado, mas abandonou-o para
dedicar-se ao teatro. Com seu filho, ela foi para Dantzig, onde foi contratada
pelo teatro da cidade. Depois foi para São Petersburgo e em seguida para
Moscou e Varsóvia.
Em 1749, sua mãe casou-se com o ator Ernst Ackermann, os quais
organizaram uma companhia de teatro, passando a se apresentar pela
Curlandia3.
A Companhia de Teatro se estabeleceu em Königsberg4 que era antiga
cidade fortificada, capital da Prússia Oriental e um importante centro
ferroviário e comercial.
Nesta temporada Schröder conquistou seus primeiros aplausos na
interpretação de peças infantis. Terminada a temporada foram para Varsóvia,
onde Schröder pode prosseguir os seus estudos num Colégio Jesuíta.
Aos dez anos foi matriculado no Colégio Frederico de Königsberg.
Contudo, não completou seus estudos neste Colégio, pois em 1756 a guerra
dos sete anos5 o separou de seus pais. Foi acolhido por um vizinho, que era
sapateiro, passando a morar em uma antiga escola e tomar aulas de ator e
dança com um professor inglês, e lê, aos 12 anos de idade, as obras de
Shakespeare, em língua inglesa.
Em 1759 recebeu uma carta de seus pais comunicando que estavam se
mudando de Berna para Lubeck. Lutou para sozinho chegar a Solothurn onde
foi aceito na Companhia de Teatro. Até 1764, a companhia excursionou pela
Alemanha. Na cidade de Hanôver a Companhia aceitou o reconhecido
declamador Konrat Ekhof. Com seus pais, iniciou sua carreira artística como
mímico-coreógrafo, sendo muito aplaudido em sua apresentação em
Hamburgo. Dedicou-se também a comédia, mas cobriu-se de glória com a
tragédia.
Em 1764, instalou-se em Hamburgo e fundaram o Teatro na praça
“Gänsemarkt”, e mais tarde, junto com Lessing e Ekhof, fundou o Teatro
Nacional na Alemanha. Quatro anos mais tarde por dificuldades financeiras o
Teatro Nacional cerra suas portas. Schröder então vai para o Sul da Alemanha
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Com a morte de seu padrasto em 1771, Schröder assumiu a direção da
Companhia de Teatro, fez sucesso com as obras “Clavigo”, “Götz” de Goethe,
e “Emília Galotti” de Lessing, dedicando-se com perseverança ao bem estar e
aperfeiçoamento moral e intelectual dos membros de sua Companhia.
Em 1773, casa-se com a atora e parceira Anna Christina Hart, com quem
teve um matrimônio muito feliz, porém, nunca tiveram filhos. Nos anos
seguintes desenvolve um grande repertório, representando em um ano 26
papéis principais e assegura direito autoral, pagando honorários aos seus
atores.
Em 26 de Setembro de 1776, foi apresentada, em “Avant Premiere”, a
peça “Hamlet” de Shakespeare em Hamburgo, adaptada por Schröder. Com
adaptação das 18 peças principais de Shakespeare, ele, em 1779, já era
conhecido por toda Alemanha. Nos dois anos seguintes excursionou pela
Alemanha interpretando com grande sucesso os papéis de “Hamlet”, “Lear” e
“Fastoff” de Shakespeare.
De 1781 até 1785, foi membro do Teatro Imperial Nacional de Viena,
retornando em seguida à Hamburgo.
De 1785 até 1798, foi diretor do Teatro de Hamburgo, apresentando obras
de Schiller, oferecendo-lhe colaboração. Em sua correspondência dizia: “O
senhor está livre? Pode trocar Dresden por Hamburgo? Um poeta dramático,
necessariamente precisa estar no local onde o palco se encontra para o qual ele
escreve”.
Em 1798, deixou a vida artística e os seus negócios, retirando-se para sua
propriedade rural em Rellingen, próxima de Hamburgo, dedicando-se aos
estudos históricos e iconográficos.
Porém, em 1811, teve que retornar a direção de seu teatro para evitar a
sua ruína e satisfazer a exigência do público que reclamavam por sua
presença. Nele permaneceu até próximo de sua morte.
A notícia de seu falecimento foi sentida por toda Alemanha, pois durante
toda sua carreira soube demonstrar um modo peculiar e honroso de conduzir a
sua vida.
Com a sua morte a arte dramática perdeu um de seus mais brilhantes
interpretadores e a humanidade um de seu mais nobre membro e possuidor de
sólidas virtudes.

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Se como profano, Schröder foi exemplo de honradez e de labor, que
transformou num exemplo a ser seguido, como maçom, ele dedicou-se com
perseverança que lhe rendeu o mérito de reformador da Maçonaria Alemã.
Apresentado por seu amigo Johann Joachim Christian Bode (1730-1793)
na Loja “Emanuel zur Maienblume“ (da Flor de Maio) do Oriente de
Hamburgo, foi iniciado no Grau de Aprendiz em 08 de setembro de 1774.
nesta época as Lojas de Hamburgo adotavam o Rito da Estrita Observância6,
mas já existia um movimento para voltar ao antigo ritual inglês.
Schröder desde logo manifestou seu caráter ótimo e empreendedor dentro
da maçonaria fundando uma Loja com o Título distintivo de “Luísa ao
Coração Ardente”, composta em sua maioria de membros do Rito
Zinnendorf7.
Schröder foi eleito Venerável Mestre da Loja “Luisa”, mas manteve o
primeiro malhete por pouco tempo, pois viajou com a sua Companhia de
Teatro para Viena, onde ficou até 1785. Ao seu regresso a Hamburgo voltou a
trabalhar na Loja “Emanuel”, sendo eleito Venerável Mestre. Ficou neste
cargo por mais de 15 anos consecutivos.
Ao receber o cargo Schröder comprometeu-se a empregar todas as suas
faculdades, bem como, todas as suas forças em prol dos interesses da
Maçonaria. Dedicou-se com afinco ao estudo da Instituição, analisando todos
os sistemas existentes, concluindo que a maçonaria genuína era a de São João,
trazida da Inglaterra para Alemanha. Sempre afirmou que as Constituições de
Anderson e o Antigo Ritual Inglês eram os únicos documentos legais e mais
importantes da Fraternidade que continham e definiam a natureza e a
finalidade da Instituição.
Firme nestas convicções, ao passar a fazer parte da comissão para revisar
o Ritual da Grande Loja de Hamburgo, iniciou seu trabalho visando eliminar
todos os erros e vícios arraigados que desfiguravam a maçonaria. Esta
comissão concluiu pela eliminação ao sistema das Lojas Escocesas e o retorno
ao sistema de três graus de São João. O projeto não correspondeu às
convicções do Grão-Mestre von Exter, que tinha idéias próprias sobre o
sistema adotado.
Em 1799, depois da morte do Ir. von Exter, o Ir Johann Philipp
Beckmann o sucedeu, sendo Schröder proclamado Grão-Mestre Adjunto,
passando assim a dedicar-se ao novo ritual8, que foi adotado no Congresso de
Hamburgo de 29 de junho de 1801. Com estas reformas a Grande Loja
adquiriu uma grande respeitabilidade e recebeu inúmeros pedidos de filiação,
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aumentando consideravelmente a sua jurisdição, estendendo-se por toda
Alemanha.
Schröder prosseguiu sua tarefa redigindo uma Constituição da Grande
Loja Provincial de Hamburgo e da Baixa Saxônia, criando um consórcio para
o bem geral, pesquisas maçônicas e administração das Lojas, surgindo a
fundação pró-criança, ainda existente até hoje, o Hospital Maçônico, uma
caixa de pensão para atores e, mais tarde, instituiu o “Engbund9” (1802-1868),
uma idéia que Fessler já havia instituído em sua Grande Loja, cujo objetivo
era dedicar-se ao estudo e pesquisa sobre os altos graus e demais ritos da
maçonaria.
Em 1811, participou de maneira efetiva na independência da Grande Loja
de Hamburgo10, sendo proclamado Grão-Mestre em 1814 com a morte de
Beckmann. Schröder empunhou o 1o. malhete até 3 de setembro de 1816, data
de seu falecimento, devido ao seu esgotamento físico e mental, em Rellingen
perto de Hamburgo. Foi enterrado do Cemitério de Jacobi e o epitáfio de sua
tumba dizia: “O amigo da verdade e do direito, o patrocinador da felicidade
humana e o artista imbatível”. Mais tarde, foi trasladado para o Cemitério de
Ohlsdorf, no setor reservado as Grandes Personalidades da Cidade, onde se
encontra até hoje. Na sua lápide estão gravadas as expressões: “O Reformador
da Maçonaria Alemã”, “Co-fundador do Hospital Maçônico” e “O
Reformador do Teatro Alemão”.
Com a sua morte, a arte dramática perdeu uma de suas mais brilhantes
Jóias e a humanidade um de seus membros de grande nobreza e com sólidas
virtudes. Seu pensamento se mantém atual, servindo de caminho seguro na
busca incessante da verdade e no trabalho para conquista de dias melhores
para a humanidade.

Notas:
1 O Ir. Antonio Gouveia Medeiros é Grão-Mestre Honorário do Grande
Oriente de Estado de Santa Catarina, Grande Secretário Geral de Orientação
Ritualística Adjunto para o Rito Schröder do Grande Oriente do Brasil e
Presidente do Colégio de Estudos do Rito Schröder.
2 O nome de Schröder está estampado em sua tumba como Friedrich
Ulrich Ludwig que é uma homenagem aos seus padrinhos, príncipes Friedrich
e Ludwig e da Princesa Ulrich de Mecklenburg e Schwerin.
3 Curlandia é hoje uma região da Letônia a oeste do rio Duna. Foi
povoada no século XIII pela ordem Cristã Alemã. Esteve sob o Governo da
4
Polônia em 1561. Pertenceu a Rússia de 1795 até 1918. Depois da primeira
guerra mundial foi incorporada à Letônia.
4 Königsberg foi fundada em 1255 pelos Cavaleiros da Ordem Teutônica,
em 1365 uniu-se à Liga Hansiática e sendo fortificada em 1626.
5 A guerra dos sete anos, que durou de 1756 à 1763, foi um conflito entre
Frederico da Prússia e Maria Teresa da Austria pela posse da Silésia (região
da Alemanha), envolvendo de um lado a Inglaterra e a Prússia e, de outro, a
França, a Espanha, a Áustria e a Rússia; a Prússia venceu e a França teve de
entregar para os Ingleses o Canadá e a India.
6 O Rito da Estrita Observância foi criado pelo Barão Karl Gottlieb von
Hund (1722-1776) e constituía de sete graus: 1. Aprendiz; 2. Companheiro; 3.
Mestre; 4. Mestre Escocês; 5. Noviço; 6. Templário, em três classes:
Cavaleiro, Aliado e Porta Espada e, 7. Cavaleiro Professo.
7 O Rito Zinnendorf foi criado em 1766, consistia nos seguintes graus: 1.
Aprendiz; 2. Companheiro; 3. Mestre de Maçonaria; 4. Aprendiz Escocês e
Companheiro Escocês; 5. Mestre Escocês da Maçonaria Vermelha; 6. Favorito
de São João e 7. Capítulo dos Eleitos ou Irmão eleito como Maçonaria
Capitular. Este rito foi adotado pela Grande Loja Nacional de todos os
Alemães.
8 O Ritual de Schröder foi editado pela Grande Loja de Hamburgo em
1801, com a primeira revisão em 1816 e depois em 1853. Esta última edição
foi adotada pelas Lojas brasileiras. Hoje, existem na Alemanha quatro edições
em vigor, resultantes das revisões feitas pela Loja “Absalom zu den drei
Nesseln n° 1(Absalom das três Urtigas)” no Or. de Hamburgo, conhecida
como o antigo ritual; a de 1992, revisão feita pela Comissão de Ritualística da
Grande Loja dos Maçons Antigos, Livres e Aceitos da Alemanha; a da Loja
“Friedrich zum weiβen Pferd n° 19 (Frederico ao Cavalo Branco)” no Or. de
Hanôver e da Loja “Zum schwarzen Bär n° 79 (Ao Urso Preto)” no Or. de
Hanôver.
9 Cada Loja constituía seu grupo de estudo que receberam a denominação
de Engbund, todos sob a coordenação da “Mutterbund” (Matriz), sediada em
Hamburgo, vinculada à Grande Loja Provincial. Nesses fóruns todos os graus
superiores conhecidos foram reproduzidos, dissecados e interpretados, mas
nenhum admitido. Na opinião de alguns historiadores maçônicos o Engbund
se transformou em um grau maçônico separado do simbolismo. Schröder
reconheceu que muitos irmãos, ao mesmo tempo em que concordaram com a
restauração dos tradicionais graus simbólicos, ficaram contrariados com a
5
supressão dos graus superiores, assim o Engbund não deixou de ser um grau
superior híbrido, porquanto não foi formalmente classificado como grau, mas
previa até mesmo um discreto ritual de admissão para todos os mestres que
dele quisesse participar. O “Engbund” nada tinha haver com a direção e tão
pouco com a Administração das Lojas, mas como os problemas de ingerência
sempre ocorriam, causando muitos desentendimentos entre ele e a Loja, foi
então extinto em 1868.
10 A Grande Loja de Hamburgo, tornada independente em 1811, tem sua
origem na Grande Loja Provincial de Hamburgo e Baixa Saxônia que foi
criada em 1740 pela Grande Loja de Londres, que era denominada como os
“Modernos”.

BIBLIOGRAFIA
ABELAIN, Robert. A Franco Maçonaria: Origem, História, Influência:
1351–1688–1720. Tradução de Alcione Soares Ferreira, Ed. Ibrasa, 1990
ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria
Simbólica. Volumes I, II, III e IV. Rio de Janeiro, Ed. Artenova, 1974.
CARVALHO, Assis. Ritos & Rituais. Volume 3. Londrina, Ed. Maçônica A
Trolha, 1ª edição, 1993.
CASTELLANI, José. Liturgia e Ritualística do Grau de Aprendiz Maçom
(em todos os ritos). São Paulo, Ed. A Gazeta Maçônica, 1985.
HINTZE, Wilhelm. Friedrich Ludwig Schröder. (Der Schauspieler – Der
Freimaurer). Hamburg, Bauhütten Verlag, 1974.
SOUZA FILHO, Ubyrajara de. Rito Schröder. (Comentários sobre a sua
origem, seu fundador e a sua introdução no Brasil). Rio de Janeiro, 1998.

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Mapa da Alemanha

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