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GDS/{CODIGO}

GRUPO DE ESTUDO DE DESEMPENHO DE SISTEMAS ELÉTRICOS - GDS

ANÁLISE SIMULADA DOS IMPACTOS DE TRANSITÓRIOS PADRÕES E DE VFTOS EM BUCHAS


CAPACITIVAS DE ALTA TENSÃO

DANIEL CARRIJO POLONIO ARAUJO(1);GABRIEL DE SOUZA PEREIRA GOMES(2);RAFAEL PRUX


FEHLBERG(1);SOFIA MOREIRA DE ANDRADE LOPES(2);DANILO LUIZ ALVES NEGRÃO(2);JOÃO
MARCELO AGUIAR PEREIRA(2);IONY PATRIOTA DE SIQUEIRA(3);RENAN FERREIRA SANTA
ROSA;ROGÉRIO ANDRADE FLAUZINO
TREETECH TECNOLOGIA LTDA(1);GENESIS PESQUISA E DESENVOLVIMENTO LTDA(2);TECNIX
ENGENHARIA E ARQUITETURA LTDA.(3)

RESUMO

Tendo em vista a importância da análise dos efeitos de VFTOs em equipamentos de alta tensão, este artigo propõe
a avaliação da influência de VFTOs em buchas condensivas. Os resultados da simulação para a aplicação de VFTOs
indicaram a alteração na distribuição de tensão ao longo da bucha, fazendo com que o campo elétrico não seja mais
equalizado ao longo das camadas. Tensões no ponto de conexão com o terra atingiram tensões elevadas. Estes
aspectos comprovam uma situação de operação adversa a qual as buchas condensivas têm sido submetidas quando
da ocorrência de VFTOs, indicando a possível razão das falhas prematuras verificadas nos últimos anos.

PALAVRAS-CHAVE
VFTO; SEP; Transitórios de manobra; Transitórios atmosféricos; GIS; AIS; Buchas capacitivas; Ressonância;
Modelagem; Equipamentos de alta tensão.

1.0 INTRODUÇÃO

Transitórios eletromagnéticos são caracterizados como variações de grandezas elétricas que decaem com
o tempo. Diferentes tipos de transitórios eletromagnéticos ocorrem em um Sistema Elétrico de Potência (SEP), cada
um com efeitos específicos. Dentre os principais, podem ser citados os transitórios de manobra, que são causados
por operações de chaveamento em equipamentos elétricos, como disjuntores e chaves seccionadoras; os transitórios
atmosféricos, que são causados por descargas atmosféricas próximas à linha de transmissão ou à subestação; os
transitórios de comutação, que são causados pela mudança de estado de um sistema de energia, como a conexão
ou desconexão de um gerador ou transformador e os transitórios de falta, que são causados por falhas no sistema
de energia, como curtos-circuitos ou faltas à terra (1).
Além dos tradicionais fenômenos transitórios citados anteriormente, transitórios muito rápidos (VFT) têm
ganhado importância no contexto do SEP, devido à maior adoção de subestações isoladas a gás (GIS). Destes
transitórios, a classe mais conhecida é a de sobretensões transitórias muito rápidas (VFTOs), usualmente
ocasionadas por operações de manobra em GIS. Subestações convencionais ou isoladas a ar (AIS) também estão
sujeitas à ocorrência de VFTOs, que podem ser geradas por descargas atmosféricas próximas à linha de
transmissão, operações de manobra ou faltas. Embora a magnitude do impacto de VFTOs em subestações AIS
possa ser menor do que em GIS, as VFTOs ainda podem causar danos aos componentes da subestação. As VFTOs
apresentam componentes de frequência na ordem de MHz e podem causar oscilações de alta frequência nos
enrolamentos do transformador e em outros componentes cuja isolação apresenta características capacitivas, como
é o caso das buchas, TCs e TPCs, podendo levar a possíveis sobrecargas dos materiais isolantes, ocasionando
falhas (2).
As buchas capacitivas são componentes projetados para suportar surtos padronizados, como os
atmosféricos e de manobra, porém, as VFTOs são uma classe distinta de fenômenos. Devido às altas frequências
ocasionadas pelas VFTOs, são verificados padrões de ressonância que afetam a distribuição de tensão ao longo das
camadas isolantes, levando a falhas prematuras desses componentes. Por mais que as VFTOs sejam raras, quando
comparadas a outros transitórios, seus efeitos levam o equipamento a um estado crítico, podendo acarretar falhas
terminais (3).
Tendo em vista a importância da análise dos efeitos de VFTOs em equipamentos de alta tensão, este artigo
propõe a avaliação da influência de VFTOs em buchas capacitivas. Para isso, modelou-se uma bucha capacitivas
como uma linha de transmissão com parâmetros concentrados, onde a capacitância e a indutância de cada elemento
de cada camada foram calculadas utilizando as dimensões de uma bucha padrão de 138 kV. Através de simulações,
foi avaliada a aplicação de uma VFTO sobre a bucha capacitivas e o comportamento da tensão ao longo desta foi

daniel.carrijo@treetech.com.br
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aferido. Espera-se que este artigo incentive análises aprofundadas dos projetos de dispositivos implantados em áreas
propensas a VFTOs.

2.0 BUCHAS CAPACITIVAS E FONTES DE SURTO

De acordo com a norma brasileira NBR-5034 de 2014 (4), buchas elétricas são descritas componentes ou
estruturas de material isolante que garantem a passagem isolada de um condutor através de uma parede não
isolante. As buchas elétricas são usualmente utilizadas para garantir o acoplamento seguro entre um equipamento e
uma estrutura do sistema elétrico, ao permitir a passagem de um condutor energizado através de uma barreira
aterrada ou através de um equipamento que esteja em um potencial elétrico distinto do verificado no condutor. Uma
das principais aplicações das buchas são em transformadores de potência, equipamentos primordiais do sistema
elétrico e que possuem alto custo financeiro associado. Falhas em buchas elétricas representam aproximadamente
1/3 do total de falhas terminais em transformadores, o que indica a necessidade de prevenir este tipo de situação (5).
Dentre as buchas elétricas, duas classes principais são definidas em norma, sendo estas classes
especificadas a partir da tecnologia utilizada na construção da bucha, são estas as buchas capacitivas (condensivas)
e as buchas não-capacitivas (não condensivas) (6). A principal diferença entre ambas as classes de buchas consiste
na presença de folhas condutoras metálicas em seu interior, ao redor do condutor central da bucha, intercaladas com
material isolante. Esta construção interna caracteriza um dielétrico, que permite controlar a distribuição radial e axial
do campo elétrico das buchas. Bucha que apresentam este tipo de núcleo dielétrico, são denominadas buchas
capacitivas, enquanto buchas não-capacitivas não apresentam o conjunto capacitivo em seu interior, de modo que
ao redor do condutor central da bucha há apenas um material isolante como porcelana, vidro, resina ou papel. Por
distribuírem o campo elétrico de modo mais uniforme, a utilização de buchas capacitivas permite a redução das
dimensões radiais da bucha, o que é refletido em custos menores e em menor peso do equipamento (7). Um exemplo
do corpo condensivo de uma bucha capacitiva é apresentado na Figura 1.

Figura 1 - Núcleo condensivo de uma bucha do tipo OIP, ilustrando folhas intercaladas de alumínio e
papel. Fonte: (5)

Dentre os diferentes tipos de tecnologias existentes para a confecção de buchas capacitivas, as buchas de
papel impregnado com óleo (Oil Impregnated Paper - OIP), são as mais utilizadas no mercado. Este tipo de bucha
possui um corpo condensivo geralmente de papel kraft impregnado em óleo mineral intercalado de folhas de alumínio,
dentro de um isolador de porcelana exposto ao ar na extremidade superior e ao óleo de um transformador de potência
na extremidade inferior (8).

a. Fontes de surtos em Buchas Capacitivas

As denominadas fontes de surto em buchas capacitivas são relacionadas com eventos de sobretensão e
sobrecorrentes transitórias em subestações. Tais eventos são usualmente verificados durante operações de
comutação (abertura e fechamento) de chaves seccio geralmente nadoras ou disjuntores, faltas fase-terra, operações
de desconexão e descargas atmosféricas. Neste artigo, o objeto de análise consiste nos fenômenos de sobretensão.
3

De acordo com a norma NBR 6939, estes podem ser classificados entre duas classes principais: sobretensão
temporária e sobretensão transitória. Sobretensões temporárias apresentam uma duração longa e tradicionalmente
são relacionadas com a ocorrência de faltas à terra. A amplitude do sinal de tensão, bem como a duração da
sobretensão dependem das características do sistema, como o tipo de aterramento, por exemplo (9).
No caso das sobretensões transitórias, verificam-se eventos de curta duração, podendo ser oscilatórios ou
não, mas usualmente amortecidos. Dentre as sobretensões transitórias, são distinguidas três classes principais, as
sobretensões de frente lenta, que normalmente são unidirecionais, com o tempo até a crista variando entre 20 µs e
5000 µs; sobretensões de frente rápida, cujo tempo até a crista varia entre 0,1 µs e 20 µs; e por fim, sobretensões
de frente muito rápida, as quais o tempo até a crista é inferior a 0,1 µs (9).
As VFTOs se enquadram como sobretensões de frente muito rápida, de modo que alguns estudos indicam
que as curvas de onda verificadas para VFTOs são caracterizadas por um curto tempo de subida, na faixa de 4 a
100 ƞs (10). As VFTOs têm suas frequências naturais determinadas pela configuração da GIS e pelos componentes
conectados, como transformadores, reatores e linhas aéreas. Essas sobretensões apresentam uma magnitude que
pode atingir até 2,4 vezes a unidade de potência. Além disso, as frequências das oscilações podem atingir até 100
MHz (11). A Figura 2, a seguir, apresenta um resumo explicativo sobre os diferentes tipos de sinais verificados em
subestações. Nesta figura, é possível observar que para sinais de frente muito rápida, que caracterizam as VFTOs,
há um tempo de subida relativamente curto, seguido por um período de oscilações de alta frequência, conforme
descrito anteriormente.

Figura 2 - Classes e formas de onda de tensões e sobretensões. Adaptado de: (9) e (12)

No contexto das sobretensões em subestações do tipo GIS, as buchas dos transformadores são expostas
às ondas resultantes dessas sobretensões mesmo antes de atingirem os enrolamentos do transformador. Embora
existam normas da IEC que estabelecem requisitos mínimos para a resistência das buchas contra sobretensões
geradas por descargas atmosféricas, não existem normas que garantam a segurança das buchas em relação a
sobretensões muito rápidas, especificamente as VFTOs. Apesar da ausência de normas e testes que avaliem o
desempenho das buchas diante desse tipo de evento, é amplamente reconhecido que as GIS estão sujeitas a
sobretensões muito rápidas, o que indica a necessidade de revisão do projeto das buchas para esse tipo de ambiente
(3).
Ao ocorrer a passagem do sinal transitório pelo núcleo capacitivo da bucha, a onda incidente se divide entre
as linhas de transmissão equivalentes formadas pelas camadas coaxiais. No caso de sinais de transição muito
rápidos, como as VFTOs, a distribuição de tensão entre as camadas da bucha capacitiva não é uniforme. A repetição
dessas tensões transientes oscilatórias e não periódicas no núcleo capacitivo da bucha resulta em descargas em
seu interior, o que degrada progressivamente a capacidade isolante da bucha (13).

3.0 MODELO DA BUCHA CAPACITIVA DE ALTA TENSÃO

Para o desenvolvimento do modelo da bucha capacitiva, baseou-se em referências da literatura (3, 13, 14),
que validaram modelos de buchas baseados em uma combinação cascateada de modelos Pi, tradicionalmente
utilizados para representação de linhas de transmissão e compostos por combinações de indutâncias e
capacitâncias. Uma bucha capacitiva pode ser modelada teoricamente estimando a indutância oferecida por cada
uma de suas camadas e a capacitância de cada camada com base em seus parâmetros geométricos.
As camadas internas do núcleo da bucha compõem um conjunto de cilindros coaxiais ao redor do condutor
central do equipamento. O comprimento dos cilindros não é igual, de forma que os mais externos são menores e sua
altura aumenta conforme se aproxima do centro. Todavia, a capacitância entre as camadas consecutivas pode ser
considerada constante (13). Tais características são ilustradas na Figura 3.
4

Figura 3 - Ilustração esquemática de (1) Núcleo Capacitivo (2) Flange de fixação (3) Tap de teste de
uma bucha capacitiva. Fonte: (7)

O modelo da bucha criado para este estudo é apresentado na Figura 4. Para construir este modelo,
inicialmente deve-se determinar quantas camadas equivalentes irão compor o modelo. A bucha capacitiva é formada
por um número elevado de camadas dielétricas, todavia, para garantir a simplicidade do modelo, deve-se reduzir o
número de camadas que são representadas. Para determinar a espessura de cada camada do modelo, pode-se
assumir que a capacitância entre camadas consecutivas da bucha é constante, assim, o diâmetro de cada camada
é obtido de modo que esta relação de capacitância constante seja mantida. Cada camada do modelo é dividida em
um número específico de seções, e o número de seções por camada depende do comprimento da camada (13, 14).

Figura 4 – Modelo da bucha capacitiva desenvolvido para o artigo.

Cada seção do modelo consiste em um modelo Pi, conforme verificado na figura 4, o modelo da bucha é
constituído por um encadeamento de modelos Pi. A indutância de cada camada do modelo é calculada considerando
a geometria coaxial do equipamento e a indutância de cada seção é obtida dividindo a indutância total da camada
pelo número de seções consideradas (5, 6).
Para este artigo, a bucha modelada consistia em um equipamento de 138 kV com 27 camadas. Assim,
optou-se por um modelo com 24 camadas equivalentes.

a. Metodologia dos experimentos

Para o entendimento dos impactos de transitórios nas buchas capacitivas, foram simulados eventos de
surtos transitórios e estes sinais foram aplicados ao modelo de bucha desenvolvido e apresentado anteriormente.
Além de ondas de impulso destinadas a simular o comportamento de VFTOs, também foram simulados outros
eventos de modo a permitir uma análise comparativa, sendo estes: Regime contínuo (para uma melhor comparação
de resultados); Regime de sobrecarga; Impulso de manobra e impulso atmosférico.
Para a situação de regime contínuo ou permanente, considerou-se um sinal com 138 kV de amplitude e
frequência de 60 Hz, um detalhe da simulação é apresentado na Figura 5.
5

Figura 5 – Simulação do modelo da bucha sob cenário de regime permanente.

Em seguida, considerou-se um sinal de sobretensão, para representar uma situação de sobrecarga. Esta
simulação é apresentada na Figura 6 e foi realizada utilizando um sinal de 200 kV, com frequência de 62 Hz.

Figura 6 – Simulação do modelo da bucha para situação de sobrecarga.

Para a simulação do impulso de manobra, considerou-se um sinal com um tempo de subida de 250 µs e
uma duração de 2500 µs. Este tipo de impulso é imposto as buchas devido a sobretensões internas resultantes de
interrupções ou operações de comutação em redes de alta tensão. Este tipo de impulso demora um longo tempo
para atingir o pico e apresenta uma duração muito longa, sendo caracterizado como um sinal transitório de frente
lenta (15). Detalhes sobre esta etapa da simulação são apresentados na Figura 7.
6

Figura 7 – Simulação do modelo da bucha para aplicação de impulso de manobra.

Em relação a modelagem dos impulsos atmosféricos, os detalhes são apresentados na Figura 8. Para este
tipo de sinal, considerou-se um tempo de subida de até 1,2 µs e uma duração de 50 µs, caracterizando um transitório
de frente rápida. Estes valores foram definidos com base nas normas IEC 60060-1 e IEC 61180-1. Esta classe de
transientes de impulso pode ser gerada por eventos externos, como descargas atmosféricas, ou eventos internos,
como comutações. O resultado é um impulso de tensão com baixo conteúdo de energia que aparece entre
enrolamentos em transformadores, entre linhas de força ou entre lacunas físicas entre condutores e caixas (15).

Figura 8 – Simulação do modelo da bucha para aplicação de impulso atmosférico.

Por fim, a modelagem de surtos VFTOs foi realizada considerando o circuito apresentado na Figura 9. A
onda de impulso necessária para simular uma VFTO deve ter um tempo de subida de 1 até 50 ƞs, caracterizando
um transitório muito rápido (13).
As simulações apresentadas foram realizadas no software ATP e, em todas as configurações simuladas, o
comportamento da tensão ao longo das camadas da bucha foi analisado para verificar possíveis distorções em
relação aos valores de referência. Os resultados de tais análises são apresentados na próxima seção.
7

Figura 9 – Circuito construído para a simulação do modelo da bucha para a aplicação de VFTOs.

4.0 RESULTADOS E ANÁLISES

Com os modelos estabelecidos, cinco análises foram realizadas e a seguir são apresentados os resultados
dos respectivos fenômenos abordados. Para a análise de cada caso, foram medidas as tensões de entrada, as
tensões das camadas conforme o modelo indicado na Figura 4 e a tensão do rabicho (ponto de conexão de terra).

a. Modelamento em regime contínuo

Na primeira simulação, em regime contínuo de 60 Hz, foi verificada a distribuição de tensão ao longo das
camadas. A divisão das tensões ao longo das camadas se mostrou uniforme, porém o modelo foi desenhado para a
utilização em alta frequência e surtos, sendo que o comportamento e desempenho do modelo em regime contínuo é
inferior ao modelo composto apenas por capacitâncias reais em série.
Na figura 10 pode-se verificar à esquerda, a tensão de entrada, 138 kV, com as tensões entre as camadas
(CAM1 e CAM2), e sinal de tensão no rabicho (CAM0). À direita há o detalhamento da tensão no rabicho.

Figura 10 – Resultado da simulação do modelo sob cenário de regime permanente.

b. Modelamento em regime de sobrecarga

A segunda simulação apresentou a ocorrência de uma sobretensão. Assim como no primeiro caso, a divisão de
tensão ao longo das camadas se mostrou uniforme, todavia o modelo utilizado tem melhor desempenho para surtos
e variações abruptas.
Na figura 11, pode-se verificar à esquerda, que a tensão de entrada, de 138 kV, é submetida a uma sobretensão
momentânea, de 200 kV. As tensões entre as camadas (CAM1 e CAM2) sofrem esse aumento de tensão
proporcionalmente. À direita há o detalhamento das tensões das camadas e no rabicho, que aumentaram
proporcionalmente ao sinal de sobretensão injetado.
8

Figura 11 – Resultado da simulação do modelo para situação de sobrecarga.

c. Modelamento de impulso de manobra

Na terceira simulação foi aplicado um impulso de manobra, tendo sido utilizada uma forma de onda de
250/2500 µs. Essa forma de onda alterou levemente a distribuição de tensão ao longo das camadas da bucha,
gerando uma maior tensão nas últimas camadas. Porém, essa distorção ficou bem inferior aos valores considerados
como críticos para a rigidez dielétrica do material.
Na figura 12 pode-se verificar à esquerda, a tensão de entrada, 138 kV, com o impacto do impulso de
manobra, e o resultado nas tensões entre as camadas (CAM1 e CAM2). À direita há o detalhamento da tensão no
rabicho (RBCH) na ordem de alguns Volts, com uma taxa de decaimento proporcional ao sinal aplicado.

Figura 12 – Resultados da simulação do modelo para aplicação de impulso de manobra.

d. Modelamento de impulso atmosférico

Resultado semelhante foi obtido para a quarta simulação, onde foi utilizado um impulso atmosférico. Devido
à característica ainda mais veloz da subida dessa onda (1.2/50 µs), a distribuição de tensão ficou ainda mais disforme,
porém com valores abaixo aos de rompimento do dielétrico. Além disso, pode-se observar um início de ressonância
ao longo das camadas.
Na figura 13 pode-se verificar à esquerda, a tensão aplicada do impulso atmosférico, e o resultado nas
tensões entre as camadas (CAM1 e CAM2) e tensão no rabicho (RBCH). À direita há o detalhamento da tensão no
rabicho na ordem de alguns Volts.

Figura 13 – Resultado da simulação do modelo para aplicação de impulso atmosférico.

e. Modelamento de surtos VFTO


9

Por fim, na quinta simulação foi aplicada uma VFTO e os resultados obtidos mostraram que as VFTOs
alteram a distribuição de tensão padrão das buchas, fazendo com que o campo elétrico não seja mais equalizado ao
longo das camadas. Isso leva algumas camadas a serem submetidas a valores de tensão muito maiores que os
definidos em projeto, indicando a possível razão das falhas prematuras desses equipamentos que têm sido
verificadas nos últimos anos. Camadas que deveriam estar submetidas a apenas algumas centenas de Volts ficaram
submetidas a milhares e dezenas de milhares de Volts, indicando um possível rompimento do dielétrico. As tensões
no rabicho da bucha ultrapassaram centenas de quilovolts, podendo levar a rompimentos dessa conexão e perda de
referência de terra.

Figura 14 – Resultado da simulação do modelo para a aplicação de VFTOs.

O resultado dessa comparação mostrou que o efeito causado pelas VFTOs se difere totalmente dos surtos
padrões, indicando que possíveis revisões de projeto deverão ser feitas para equipamentos instalados em locais com
maior probabilidade de ocorrência de VFTOs como subestações compactas e subestações GIS.

5.0 CONCLUSÕES

Este trabalho apresentou simulações considerando um modelo de bucha capacitiva para identificar a
influência da incidência de VFTOs neste tipo de equipamento. Com este objetivo, foram avaliadas diferentes
configurações do modelo de bucha construído. Primeiramente avaliou-se a bucha em operação em regime contínuo
de 60 Hz, em seguida com a ocorrência de uma sobretensão, com a aplicação de um impulso de manobra, com um
impulso atmosférico e por fim com a aplicação de uma VFTO. Os resultados da simulação para a aplicação de VFTOs
indicaram a alteração na distribuição de tensão ao longo da bucha, fazendo com que o campo elétrico não seja mais
equalizado ao longo das camadas. Por consequência, algumas camadas ficam submetidas a valores de tensão muito
maiores do que os definidos em projeto, o que possivelmente ocasiona um rompimento do dielétrico. Ademais, as
tensões no ponto de conexão com o terra atingiram tensões elevadas, o que pode ocasionar rompimentos dessa
conexão e perda de referência. Estes aspectos comprovam uma situação de operação adversa a qual as buchas
condensivas têm sido submetidas quando da ocorrência de VFTOs, indicando a possível razão das falhas prematuras
que têm sido verificadas nesses equipamentos nos últimos anos. Os resultados obtidos pelas simulações
apresentadas no artigo indicam que os efeitos ocasionados pelas VFTOs são distintos dos causados por surtos
padrões. Desta forma, espera-se que este artigo sirva como base de informações para estimular revisões de projetos
de equipamentos instalados em locais com maior probabilidade de ocorrência de VFTOs, como subestações
compactas e subestações GIS, por exemplo.

REFERÊNCIAS

(1) RAO, R. D.; AMARNATH, J. Analysis of VFTO across bushing in 765kV gas insulated substation using EMTP
software. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON SMART ELECTRIC GRID (ISEG), 2014, Guntur, India.
Proceedings... Guntur: IEEE, 2014. p. 1-6. DOI: 10.1109/ISEG.2014.7005588
(2) CIGRÉ. Very Fast Transient Overvoltages (VFTO) in Gas-Insulated UHV Substations. ISBN: 978-2-85873-
212-8. 2012.
(3) NANDA, B.; REDDY, K. S.; SINGH, B. P. Surge distribution in the Oil Impregnated Paper (OIP) bushing of
400KV transformer to determine failure initiated by draw lead. In: CONFERENCE ON POWER, CONTROL,
COMMUNICATION AND COMPUTATIONAL TECHNOLOGIES FOR SUSTAINABLE GROWTH (PCCCTSG), 2015,
Kurnool, Índia. Proceedings... Kurnool: IEEE, 2015. p. 48-52. DOI: 10.1109/PCCCTSG.2015.7503949.
(4) ABNT. NBR 5034: Buchas para tensões alternadas superiores a 1 kV. Rio de Janeiro, 2014.
(5) HEREDIA, L. A. Caracterização, Manutenção e Monitoramento On-line De Buchas Condensivas Para
Transformadores De Potência. 2008. Dissertação (mathesis) — Universidade Federal de Pernambuco, PE - Brasil,
2008
(6) IEC. IEC 60137:2017 - Isolated bushings for alternating voltages above 1000 V. 2017.
(7) MURTY, K. K. Fundamentals of condenser bushings. Transformers Magazine, Merit Media Int. doo, v. 4, n.
5, p. 30–37, 2017. Special Edition: Bushings. Disponível em: https://hrcak.srce.hr/file/298135.
10

(8) ABB. The Future of Condenser Bushing Technology and Materials. 2014. Disponível em:
https://tinyurl.com/yc3wz7hx
(9) ABNT. NORMA BRASILEIRA ABNT NBR 6939: Coordenação do isolamento ― Procedimento. 3ª edição.
Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2018. 48 p. ISBN 978-85-07-07715-2.
(10) THOMAS, B.; SAVADAMUTHU, U. Impulse breakdown characteristics of aged oil impregnated paper. In:
IEEE TRANSACTIONS ON DIELECTRICS AND ELECTRICAL INSULATION, v. 24, n. 4, p. 2354-2361,
2017. DOI: 10.1109/TDEI.2017.006456.
(11) MA, G.-m. et al. Calibration of VFTO bushing sensor based on convolution model. In: IEEE
INSTRUMENTATION AND MEASUREMENT TECHNOLOGY CONFERENCE, 2009, Singapore.
Proceedings... Singapore: IEEE, 2009. p. 1631-1635. DOI: 10.1109/IMTC.2009.5168716.
(12) ProNext Engenharia. Nível Básico de Isolamento em equipamentos – NBI. 2021. Disponível em:
https://pronextengenharia.com.br/nivel-basico-de-isolamento-em-equipamentos-nbi/. Acesso em:
01/07/2023.
(13) RAO, M. Mohana et al. Simulation of Capacitively Graded Bushing for Very Fast Transients Generated in a
GIS during Switching Operations. In: Journal of Electrical Engineering & Technology, Vol. 3, No. 1, pp. 36-
42, 2008.
(14) RAGHURAM, A. et al. Modelling of 420 kV SF6/AIR Capacitively graded bushing for very fast transient
overvoltages (VFTO). Disponível em: https://www.iitk.ac.in/npsc/Papers/NPSC2000/p9.pdf
(15) EMC PARTNER AG. Component Tests: Insulation Test System. Suíça, 2013.

DADOS BIOGRÁFICOS

(1) DANIEL CARRIJO POLONIO ARAUJO


Graduado em Engenharia Elétrica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica
de Minas Gerais (2006), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade
Federal de Minas Gerais (2008) e doutorado na Universidade de São Paulo (2022),
na área de Sistemas Dinâmicos. Colabora como CTO na Treetech Tecnologia e
Pesquisador Especialista na Radice. Tem experiência na área de Engenharia
Elétrica, ênfase em Máquinas Elétricas e Dispositivos de Potência e Alta Tensão,
atuando nos temas: Monitoração Online, Sensoriamento Remoto, Subestações,
Técnicas e Metodologias de Manutenção para Equipamentos de Alta Tensão,
Transformadores e Reatores, Buchas Condensivas, Inteligência Computacional,
Sistemas Inteligentes, Processamento Digital de Sinais.

(2) GABRIEL DE SOUZA PEREIRA GOMES


Doutorando em Sistemas Inteligentes pela USP, Mestre em Engenharia Elétrica pela UNIFEI. Líder Técnico em
Ciência de Dados na Genesis. Experiência em para-raios, setor automotivo e análise de sistemas elétricos.
Habilidades em instrumentação, processamento de sinais, IA e programação (C, Python, Matlab). Interesses: IA,
ciência de dados, sistemas médicos, sistemas de potência e processamento de sinais.

(3) RAFAEL PRUX FEHLBERG


Graduado em Engenharia de Controle e Automação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(2004), MBA em Gerenciamento de Projetos pela La Salle Business School (2015) e Mestrando na Universidade de
São Paulo (2022), na área de Sistemas Dinâmicos. Atuando atualmente como Especialista de Engenharia em Gestão
de Ativos na Treetech Tecnologia e Pesquisador Senior na Radice Tecnologia. Tem experiência na área de
Engenharia com ênfase em Dispositivos de Potência e Alta Tensão, Gestão de Projetos, Diagnóstico em
Equipamentos de Potência através de Monitoramento, Gestão de Ativos e Novas Metodologias de Manutenção
através do uso de Inteligência Computacional.

(4) SOFIA MOREIRA DE ANDRADE LOPES


Mestre em Engenharia Elétrica na área de concentração de Sistemas Dinâmicos pela Universidade de São Paulo
(2020). Graduada em Engenharia Elétrica com Ênfase em Sistemas de Energia e Automação pela Universidade de
São Paulo (2018). Atualmente, é aluna de Doutorado da Universidade de São Paulo, na área de Sistemas Dinâmicos.
Tem experiência em docência no ensino superior nos cursos de Engenharia Elétrica/Eletrônica, tendo ministrado
disciplinas nas áreas de sistemas embarcados e microcontroladores. Atuou em projetos de sistemas de proteção
contra descargas atmosféricas, fontes de energia renovável (fotovoltaica e eólica) e sistemas de aprendizado de
máquina.

(5) DANILO LUIZ ALVES NEGRÃO


Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da USP (2012).
Aluno/pesquisador de mestrado em Engenharia Elétrica pela EESC (2014). Tem experiência em P&D na área de
Engenharia Elétrica, com ênfase em Sistemas Elétricos de Potência, atuando principalmente nos seguintes temas:
proteção de sistemas elétricos, sistemas de transmissão/distribuição de energia, desenvolvimento de ferramentas
computacionais. De 2015 a 2020 atuou como engenheiro especialista trabalhando no setor de geração de energia
11

eólica e hidrelétricas, apoiando as áreas de Desenvolvimento, Implantação, Operação e Manutenção. Desde 2020
atua como Gerente de Engenharia, Desenvolvimento e P&D.

(6) JOÃO MARCELO AGUIAR PEREIRA


Advogado, pós-graduado em Direito Processual pela Escola Paulista da Magistratura, foi servidor do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, Tribunal Regional Eleitoral e do departamento jurídico da Caixa Econômica Federal.
É consultor jurídico com especialidade em criptoativos, tecnologia blockchain, LGPD, Direito Comercial e em
regulamentação do setor elétrico. Desde 2021 atua com foco em tecnologia, assumindo a administração da Genesis
P&D e, em 2022, preenchendo seu quadro societário.

(7) IONY PATRIOTA DE SIQUEIRA


Doutorado (Prêmio Brasil) e graduação em Engenharia Elétrica, Mestrado (com honras) em Pesquisa Operacional,
e MBA em Sistemas de Informação. CIGRE Fellow e IEEE Senior Member, Honorary Member, Distinguished
Member, Estrategic Advisor e post-Chairman of Study Committee B5 do CIGRE, Menção Honrosa da Câmara de
Deputados do Brasil, membro brasileiro da TC 57 da IEC, presidente da Comissão de Estudos da ABNT sobre Gestão
de Sistemas de Energia e Intercâmbio de Informações. Autor de 4 livros. Coordenador de 3 WG do CIGRE. Membro
Permanente da Academia Nacional de Engenharia, Presidente da Tecnix Engenharia, Ex-Diretor Técnico e VP do
CIGRE-Brasil.

(8) RENAN FERREIRA SANTA ROSA


Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Itajubá (2017), Pós Graduado em Gerenciamento
de Projetos pela FGV - Fundação Getúlio Vargas (2021). Atuando atualmente como Coordenador de Gestão de
Ativos na Treetech Tecnologia. Tem experiência na área de Sistemas de Potência, Gestão de Projetos, Diagnóstico
em Equipamentos de Potência através de Monitoramento e Gestão de Ativos.

(9) ROGÉRIO ANDRADE FLAUZINO


Graduado em Engenharia Elétrica pela UNESP/Bauru (2001), mestrado em Engenharia Industrial pela UNESP/Bauru
(2004), doutorado em Engenharia Elétrica pela USP/EESC (2007) e Livre-Docente pela USP/EESC em 2014. É
revisor do IEEE Transaction on Power Delivery, IEEE Transaction on Power Systems, Electric Power Systems
Research, International Journal of Electrical Power & Energy Systems e Applied Soft Computing. As áreas de atuação
se concentram em Sistemas Elétricos de Potência e Sistemas Inteligentes. As pesquisas atualmente em
desenvolvimento são direcionadas às redes inteligentes, estudo de sistemas de armazenamento de energia e gestão
de ativos em sistemas elétricos de potência.

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