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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ARQ 398 – Trabalho de Fundamentação de Curso

TEMÁTICA: Arquitetura Institucional – Arquitetura e Entretenimento

TEMA: Casa noturna

TÍTULO: Eficiência energética em uma boate no centro de Timóteo, MG.

Aluno: Marcus Heringer de Aguiar

Orientadora: Joyce Correna Carlo

Julho 2011
FOLHA DE APROVAÇÃO
SUMÁRIO

SUMÁRIO ................................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 6
1.1 O PROBLEMA ........................................................................................................................... 7
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................................... 7
1.2.1 GERAL .............................................................................................................................. 7
1.2.2 ESPECÍFICOS .................................................................................................................... 7
1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA ................................................................................. 8
1.4 METODOLOGIA DE PESQUISA ................................................................................................. 9
1.4.1 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ........................................................................... 9
1.4.2 MÉTODOS ........................................................................................................................ 9
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................................................. 11
2.1 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E ARQUITETURA ............................................................................ 11
2.1.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11
2.1.2 PROGRAMA BRASILEIRO DE ETIQUETAGEM ................................................................. 13
2.1.3 TIPOLOGIAS DE EDIFÍCIOS ENERGETICAMENTE EFICIENTES ......................................... 17
2.1.4 APROVEITAMENTO DE LUZ NATURAL ........................................................................... 19
2.2 ENERGIA SOLAR ..................................................................................................................... 20
2.2.1 GERAÇÃO LOCAL DE ENERGIA FOTOVOLTAICA............................................................. 20
2.2.2 SISTEMA SOLAR DE AQUECIMENTO DE ÁGUA .............................................................. 23
2.3 USO RACIONAL DA ÁGUA ...................................................................................................... 26
2.4 DESEMPENHO ACÚSTICO ...................................................................................................... 31
2.4.1 TRATAMENTO ACÚSTICO .............................................................................................. 32
2.4.2 ISOLAMENTO ACÚSTICO ............................................................................................... 32
2.4.3 CONDICIONAMENTO ACÚSTICO ................................................................................... 35
2.5 BOATES: PÚBLICO ALVO E O ESPAÇO FÍSICO ........................................................................ 37
2.5.1 ENTREVISTA ARQUITETO JOEL LIMA ............................................................................. 37
2.6 SEGURANÇA E ACESSIBILIDADE............................................................................................. 38
2.7 LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA .................................................................................................... 40
2.7.1 PLANO DIRETOR ............................................................................................................ 40
2.7.2 LEIS DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ............................................................................. 40

4
2.7.3 CÓDIGO DE OBRAS ........................................................................................................ 42
2.7.4 CÓDIGOS DE POSTURAS ................................................................................................ 42
ESTUDO DE CASO .................................................................................................................................. 44
3.1 ROXY, BELO HORIZONTE ....................................................................................................... 44
3.2 PRIVILÈGE, JUIZ DE FORA ...................................................................................................... 51
3.3 SALVADOR NORTE SHOPPING ............................................................................................... 56
RESULTADOS ......................................................................................................................................... 61
4.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 61
4.2 PROPOSTA ............................................................................................................................. 63
4.3 O TERRENO ............................................................................................................................ 63
4.4 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ............................................... 66
4.5 CONCEITO .............................................................................................................................. 68
4.6 FLUXOGRAMA E SETORIZAÇÃO ............................................................................................. 69
4.7 CRONOGRAMA ...................................................................................................................... 70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................. 71

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INTRODUÇÃO

O lazer sempre fez parte da vida cotidiana das pessoas, como o momento mais
agradável de sua rotina. O futebol com os amigos, o piquenique com a família e o teatro
podem trazer relaxamento, tranqüilidade e socialização.

Falar sobre o lazer urbano contemporâneo é falar de uma vasta e


polissêmica realidade que deve ser tomada em sua complexidade, com diversidade
artística, poética, cultural, econômica, ambiental, urbanística, arquitetônica,
pedagógica, política e social. Esses elementos se constroem tanto com dados
imediatos de suas materialidades, quanto com acervo simbólico dos sonhos e dos
desejos: fermento e ferramenta da transformação, da busca do modo mais solidário
e lúdico de viver, do encontro não só entre pessoas, mas entre vários tempos,
espaços, saberes, sabores, linguagem, tecnologias, produtos, tradições, culturas e
sensibilidades. (GOMES, 2008, p.16).

A socialização por meio do lazer também pode ser encontrada em choperias, concertos
musicais e em boates, caracterizando assim os ambientes de lazer urbano noturno.

Os espaços utilizados para a prática do lazer noturno (fogueiras, tabernas, salões,


discotecas etc.) sempre proporcionaram esta socialização, adquirindo características de
acordo com o público alvo, os avanços tecnológicos e as tendências da época.

No Brasil, por exemplo, aproximadamente no final do século XIX e início do século


XX, surgiram as gafieiras. Segundo Ferreira (1988), ela consiste em um salão popular de
dança, originalmente caracterizado pela música popular urbana, como chorinhos, valsas e
samba. Outros movimentos também obtiveram destaques. As discotecas foram
popularizadas com a novela Dancin’ Days, na década de 70. Já nos anos 90 a música
eletrônica ganhou espaço e, com a necessidade de cenários e outras ambientações,
transformaram as danceterias em boates.

Boate é uma das tipologias de casa noturna. Consiste em um estabelecimento


comercial que funciona durante a noite e em geral consta de bar, restaurante, pista de
dança e palco para apresentação de atrações artísticas. (FERREIRA, 1988). Devido a esses
serviços, a edificação requer detalhado estudo das exigências técnicas para atender à
legislação pertencente.

Considerando a boate como tendência consolidada de espaço noturno, oferecendo lazer


para o público adulto, pretende-se, com essa pesquisa, gerar o embasamento teórico
necessário à proposição de uma boate no centro da cidade de Timóteo, que seja
plasticamente atraente e, ao mesmo tempo, eficiente energeticamente.

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1.1 O PROBLEMA

Em Timóteo a vida noturna é feita basicamente em bares e restaurantes, não existindo


uma opção de entretenimento como uma boate. Por falta de espaços como este, o público
adulto desloca-se para cidades vizinhas como Ipatinga e Coronel Fabriciano.
Outro fator relevante é a depreciação do centro de Timóteo no período noturno. Como
oferece, essencialmente, atividades comerciais diurnas, este espaço está se tornando
propício à criminalidade após o horário comercial. Por meio de uma boate, a revitalização da
vida noturna nessa área pode atrair a população para a sua ocupação.
Considerando o funcionamento de uma boate, o consumo de energia nestes
estabelecimentos é relativamente alto. A energia consumida no condicionamento do ar,
iluminação, equipamentos de som e refrigeração pode atingir níveis elevados.

Os edifícios são responsáveis por parcela significativa do consumo de


energia elétrica nacional – mais de 40% do total da energia utilizada no país – e,
apesar do setor residencial ser responsável pela metade desse consumo (a outra
metade fica com os setores comercial e industrial), a taxa de crescimento anual do
setor comercial é em geral superior. (FOSSATI; LAMBERTS, 2010, p. 60).

Portanto, a pouca ocupação do centro de Timóteo no período noturno, a falta de uma


boate nesta cidade e o alto consumo de energia gerado por estes estabelecimentos são os
problemas a serem considerados neste estudo.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 GERAL

Apresentar subsídios técnicos e conceituais necessários para a elaboração do projeto


arquitetônico de uma boate energeticamente eficiente.

1.2.2 ESPECÍFICOS

 Identificar o funcionamento do centro de Timóteo, analisando os usos e a circulação


realizados nesta área;
 Identificar os requisitos de interesse ao tema proposto, aprofundando principalmente em
eficiência energética segundo o RTQ-C e nas tipologias referentes às boates.

7
 Realizar o planejamento das atividades de projeto por meio do programa de
necessidades, dimensionamento, fluxograma e conceituação.

1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA

Este trabalho torna-se necessário ao observar que há poucos estudos associandos aos
temas boates e eficiência energética. Considerando o desenvolvimento do projeto proposto,
este estudo pode enriquecer a literatura dos temas analisados.

Segundo o Inmetro (2011), nenhum dos edifícios já etiquetados, utilizando as diretrizes


do RTQ-C que especifica os métodos para a classificação de edificações comerciais
eficientes, está voltado para o lazer e o entretenimento. Outro fator que justifica a proposta é
a vantagem que esta tipologia pode ter ao otimizar os gastos com a energia, uma vez que a
proposição deste projeto busca ser energeticamente eficiente.

Carlo (2008) relaciona o consumo de energia em edificações aos ganhos ou perdas de


calor pela envoltória da edificação, que, associados à carga interna gerada pela ocupação,
pelo uso de equipamentos e pela iluminação artificial, resultam no consumo dos sistemas de
condicionamento de ar, além dos próprios sistemas de iluminação e equipamentos. Neste
sentido, a eficiência energética torna-se necessária.

Geller (1994) identifica algumas vantagens sobre a conservação da eletricidade: o


aumento da eficiência diminui custos; o risco de falta de eletricidade é reduzido; impactos
ambientais e sociais são mais nocivos em relação ao fornecimento do que em relação à
conservação (construções de usinas hidroelétricas inundam grandes áreas de terra).

Pode-se dizer que a arquitetura bioclimática e a eficiência energética funcionam como


aliadas no combate ao grande consumo de energia elétrica das edificações. Se os
arquitetos e engenheiros tivessem mais conhecimento sobre a eficiência energética na
arquitetura, e aplicassem esses conhecimentos em seus projetos; evitariam a necessidade
de maior produção de eletricidade no país, e os usuários seriam beneficiados com economia
nos custos da obra e no consumo de energia (LAMBERTS et al, 2004).

Para proporcionar ambientes mais confortáveis pelo uso de meios mecânicos de


iluminação e refrigeração, são consumidos mais de 40% de energia elétrica produzida em
edifícios comerciais, públicos e residenciais (PROCEL, 2004). Este percentual poderia ser
menor se o projeto da edificação interagisse com o meio em que está inserido, tirando
partido da iluminação e ventilação naturais e aproveitando as condições climáticas da

8
região; contribuindo assim, com o uso eficiente e racionalização da energia (MEIRIÑO,
2004).

O tema proposto utiliza como parâmetro o RTQ, analisando a envoltória e suas


condicionantes como pré-requisitos específicos para atender a eficiência energética
pretendida. Não serão estudadas outras condicionantes como sistemas de iluminação e de
condicionamento de ar.

Neste sentido, a necessidade de revitalização da vida noturna no centro de Timóteo,


somada à escassez de locais de entretenimento para a população desta região, também
justificam esta proposta.

1.4 METODOLOGIA DE PESQUISA

1.4.1 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

São objetos de estudo desta pesquisa as condicionantes necessárias para o


desenvolvimento do projeto de uma boate capaz de oferecer uma alternativa de lazer
noturno para a população de Timóteo e região.
Este projeto segue as diretrizes do Regulamento Técnico da Qualidade do Nível de
Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C) que
especifica os métodos para a classificação de edificações comerciais eficientes. Além disso,
pretende-se cumprir outras exigências técnicas como tratamento acústico, segurança e
acessibilidade.

1.4.2 MÉTODOS

O tema boate ainda é pouco explorado, não havendo material bibliográfico


disponibilizado. É mais restrito ainda o material sobre boates energeticamente eficientes.
Contudo, realizaram-se consultas as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas) que regulamentam a acústica destes espaços; leis municipais responsáveis pela
melhor localização e uso do solo urbano e diretrizes do Regulamento Técnico da Qualidade
do Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C),
que especifica a classificação de edifícios que visam eficiência energética.

A metodologia da pesquisa consistiu em: pesquisa bibliográfica relacionada a


eficiência energética, sustentabilidade, arquitetura de entreterimento e lazer e boates de

9
modo geral, utilizando recursos como artigos, revistas, periódicos e trabalhos monográficos;
identificação de normas técnicas referentes a tratamento acústico, segurança e
acessibilidade; estudo de leis municipais sobre a organização do espaço na cidade;
análise das diretrizes estabelecidas pelo RTQ-C para a envoltória, utilizando sistemas
que aumentam a eficiência energética da edificação, como painés fotovoltaicos e sistemas
de aquecimento solar de água; elaboração de estudos de casos de boates construídas e
de edifícios de lazer devidamente etiquetados segundo as diretrizes do RTQ-C; visitas
técnicas para entender o funcionamento de boates; identificação da implantação
adequada para a proposta arquitetônica e formulação do programa de necessidades,
pré-dimensionamento e fluxograma a fim de definir os conceitos e o partido do projeto.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E ARQUITETURA

2.1.1 INTRODUÇÃO

A crise do petróleo nos anos 70 que elevou o preço dos combustíveis fósseis contribuiu
para o avanço de pesquisas e estudos relacionados a fontes renováveis de energia e
métodos de eficiência energética.

Segundo o Balanço Energético Nacional de 2010, utilizando 2009 como o ano base, a
eletricidade foi responsável por 16,6% do consumo final de energia brasileira por fonte, de
modo que, deste valor, 15,1% são creditados ao setor comercial. No consumo de energia do
setor comercial, a eletricidade foi responsável por 89,5% (BRASIL, 2010).

Estima-se que as hidrelétricas sejam responsáveis por 82,36% da energia elétrica


produzida no Brasil (BIG – Banco de Informações Gerais, 2002). No entanto, 48% da
energia gerada no Brasil é consumida por edifícios comerciais, públicos e residenciais
(PROCEL, 2004), onde a maior parte desse consumo é para proporcionar ambientes mais
confortáveis pelo uso de meios mecânicos de iluminação e refrigeração.

De acordo com Plano Nacional de Energia (PNE 2030), que tem por finalidade o
planejamento em longo prazo do setor energético, o setor comercial será responsável por
58% do potencial técnico de conservação de energia (BRASIL, 2007).

Jannuzzi (1997) afirma que a eficiência energética é quase sempre mais barata que a
produção de energia. Desta forma, projetos de combate ao desperdício de energia devem
ser desenvolvidos a partir da aplicação de novas tecnologias construtivas e de normas que
sirvam como parâmetros na produção arquitetônica.

No âmbito do edifício, o estudo dos precedentes arquitetônicos mostra, a


partir da Segunda Guerra Mundial, a banalização da arquitetura do International
Style, que, acompanhada pela crença de que a tecnologia de sistemas prediais
oferecia meios para o controle total das condições ambientais de qualquer edifício,
levou à repetição das caixas de vidro e ao inerente exacerbado consumo de energia
nas décadas seguintes, espalhando-se por cidades de todo o mundo.
(GONÇALVES; DUARTE, 2006, p. 52).

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A necessidade de normalização do edifício e seu desempenho energético foram
discutidos inicialmente em 1991, em um encontro nacional (CHICHIERCHIO; FROTA, 1991;
LAMBERTS, 1991), que resultou nas normas da ABNT atualmente vigentes: NBR 15220
(ABNT, 2005) e NBR 15575 (ABNT, 2008). A primeira norma apresenta requisitos referentes
ao desempenho térmico como métodos de cálculo e de medição de propriedades térmicas
de componentes, enquanto a segunda analisa outros tópicos além do desempenho térmico,
como estruturas e sistemas hidrossanitários. Entretanto, nenhuma apresenta parâmetros ou
requisitos visando diretamente à eficiência energética da edificação, além de referenciarem
somente edificações residenciais (CARLO; LAMBERTS, 2010).

Deste modo, mecanismos de avaliação da eficiência energética de equipamentos e


edificações para edifícios comerciais, de serviços e públicos foram reconhecidos pela Lei nº
10.295 (BRASIL, 2001b), com a inclusão no Programa Brasileiro de Etiquetagem do
INMETRO.

Segundo Carlo e Lamberts (2010) os sete passos que devem ser entendidos para o
estabelecimento de certificações energéticas que Pérez-Lombard et al. (2009) indicaram, foi
fruto da analise do desenvolvimento de normas e regulamentos em eficiência energética
estudados em diversos países.

Usando estes sete passos como estrutura para o estabelecimento de certificações


energéticas, Carlo e Lamberts (2010) os transcreve para perguntas referentes ao que deve
ser avaliado, como avaliar, como estabelecer os limites para os níveis de eficiência, a que o
edifício deve ser comparado, como estabelecer a classificação, que melhoramentos
recomendar e que informações o certificado de eficiência energética deve conter.

Do mesmo modo, este estudo baseia-se em perguntas transcritas através das perguntas
de Carlo e Lamberts (2010) e que serão respondidas durante o desenvolvimento do
assunto, porém com vistas ao projeto de uma boate:

 O que considerar em termos de eficiência energética no projeto;

 Como considerar os requisitos de eficiência energética no projeto;

 Como atender os limites de certificação;

 Como calcular o nível de eficiência;

 Em que o projeto pode se basear em termos de boas práticas;

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 Que aspecto estético o edifício terá em termos de eficiência que serve de
parâmetros para a produção deste projeto;

 E, Quais as recomendações específicas para boates eficientes.

O interesse em usar tais perguntas como estrutura de análise é aplicar os Requisitos


Técnicos da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de
Serviços e Públicos (RTQ-C) no projeto de uma boate.

2.1.2 PROGRAMA BRASILEIRO DE ETIQUETAGEM

Há dois tipos de políticas que podem ser implementadas visando o uso racional da
energia: políticas baseadas na limitação do nível de eficiência energética permitido mediante
o estabelecimento de índices de desempenho mínimos; e as que estabelecem
classificações por meio de programas de certificação. A eficiência mínima é, em geral,
obrigatória e tem caráter prescritivo, com limites de desempenho estabelecidos por
indicadores. Já a certificação é um mecanismo de mercado que visa promover a eficiência
energética de uma edificação de elevado desempenho ao compará-la ao mínimo obrigatório
(CASALS, 2006).

O RTQ-C especifica requisitos técnicos, bem como os métodos para classificação de


edifícios comerciais, de serviços e públicos quanto à eficiência energética. Os edifícios
submetidos ao RTQ devem atender às normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) vigentes e aplicáveis (PROCEL, 2009).

Os métodos a serem realizados para a etiquetagem da eficiência de edifícios são o


prescritivo ou de simulação. Ambos devem atender aos requisitos relativos ao desempenho
da envoltória (paredes e cobertura), à eficiência do sistema de iluminação e à eficiência do
sistema de condicionamento do ar. Estes sistemas têm níveis de eficiência que variam de A
(mais eficiente) a E (menos eficiente). A área total útil da edificação, a tensão de
abastecimento e a zona bioclimática em que a edificação pertence são outros pré-requisitos
a serem considerados pelo manual do RTQ-C.

Este estudo baseia-se no método prescritivo do manual de Requisitos Técnicos da


Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e
Públicos (RTQ-C), limitando sua analise ao quesito da envoltória e suas condicionantes
necessárias para a determinação da eficiência energética em uma boate.

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A classificação do nível de eficiência da envoltória segue alguns requisitos. Além dos
procedimentos de cálculo e a determinação da eficiência, a transmitância térmica, as cores
e absortância de superfícies e a iluminação zenital precisam ser considerados como pré-
requisitos específicos.

A tabela a seguir mostra as especificações necessárias para a certificação em nível A


(mais eficiente) para a envoltória em relação à transmitância térmica das paredes externas e
cobertura referente a uma determinada zona bioclimática.

Tabela 1 – Transmitância térmica da cobertura e de paredes externas.

Zona bioclimática Transmitância térmica (w/m2K)


Cobertura (Ucob) 3a8 Ambientes Ambientes não
condicionados condicionados
artificialmente
1,00 w/m2K 2,00 w/m2K

Parede externa (Upar) 3a6 3,7 w/m2K

Fonte: PROCEL (2009).

Absortância solar baixa para os materiais de revestimentos externos de paredes,


0,50 do espectro solar. Em coberturas, utilização de cor de absortância solar baixa (
0,50 do espectro solar), telhas cerâmicas não esmaltadas, teto jardim ou reservatórios de
água.

A edificação deve atender ao fator solar máximo do vidro ou do sistema de abertura para
os respectivos PAZ (percentual de aberturas zenital) no caso de existência de aberturas
zenitais, de acordo com a tabela 2.

Tabela 2 – Limites de fator solar de vidros e de percentual de abertura zenital para coberturas.

PAZ 0 a 2% 2,1 a 3% 3,1 a 4% 4,1 a 5%

FS 0,87 0,67 0,52 0,30

Fonte: PROCEL (2009).

Os procedimentos de calculo são compostos de pré-requisitos para a análise da


transmitância térmica, cores e absortância de superfícies para as aberturas zenitais e
componentes opacos.

As equações do item envoltória estão relacionadas à volumetria do edifício, onde


referem-se as aberturas verticais envidraçadas. Há duas equações por zona bioclimática:
uma para edifícios com área de projeção maior que 500 m2 e outra para edifícios com área
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de projeção menor que 500 m2. A equação 1 é o exemplo de uma das equações da
envoltória. Esta corresponde a edifícios com área de projeção maior que 500 m2 e que
estejam localizados na zona bioclimática 2 e 3.

ICenv = -14,14.FA – 113,94.FF + 50,82.PAFT + 4,86.FS – 0,32.AVS + 0,26.AHS –

- 35,75 – 0,54. PAFT.AHS + 277,98


FF Eq. 1

Onde:

 IC é o indicador de consumo (adimensional);

 Ape é a área de projeção do edifício (m²);

 Apcob é a Área de projeção da cobertura (m²);

 Atot é a área total de piso (m²);

 Aenv é a área da envoltória (m²);

 AVS é o ângulo vertical de sombreamento, entre 0 e 45º (graus);


 AHS é o ângulo horizontal de sombreamento, entre 0 e 45º (graus);

 FF (Aenv/ Vtot) é o fator de forma;

 FA (Apcob/ Atot) é o fator altura;

 FS é o fator solar;

 PAFT é o percentual de abertura na fachada total (adimensional, para uso na

equação); e

 Vtot é o volume total da edificação (m³).

Três indicadores de consumo são calculados através desta equação:

 ICenv – Indicador de consumo da envoltória do edifício analisado;

 ICmaxD – Indicador de consumo máximo do nível D de eficiência, de acordo com as

características tabeladas no RTQ-C de edifícios comerciais, públicos e de serviços


com envoltórias típicas de grande ocorrência, a partir de um levantamento de campo
(CARLO, 2008); e

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 ICmin – Indicador de consumo mínimo, de acordo com as características tabeladas

no RTQ-C de uma envoltória considerada eficiente, a partir de um levantamento de


campo (CARLO, 2008).

Os fatores de forma e altura são os mesmos para os três indicadores de consumo

encontrados. O ICmin e o ICmax são subtraídos e divididos por quatro, de modo a localizar o

intervalo ao qual os limites do IC pertencem em relação ao nível de eficiência energética da

volumetria analisada. Em seguida, verificar onde o ICenv está indicado nesses intervalos. A

localização do IC da envoltória corresponde ao nível de eficiência atingido pela mesma


(CARLO; LAMBERTS, 2010). A figura 1 representa a escala do nível de eficiência da
envoltória em função dos indicadores de consumo.

Figura 1 - Escala do nível de eficiência da envoltória em função dos indicadores de consumo.

Fonte: CARLO; LAMBERTS (2010).

A classificação do nível de eficiência de uma determinada edificação pode ser


melhorada de acordo com as iniciativas que aumentem a sua eficiência, podendo até
receber um ponto na classificação geral como bonificação, ou seja, um edifício com
classificação de eficiência em nível B pode obter certificação nível A de acordo com seus
sistemas de eficiência auxiliares. Esta bonificação deve ser justificada e a economia de
energia comprovada.

Desta forma, sistemas e equipamentos que racionalizem o uso da água devem


proporcionar uma economia mínima de 40% do consumo anual de água do edifício; painéis
fotovoltaicos devem oferecer uma economia mínima de 10% do consumo anual de energia
elétrica do edifício; e, edificações em que a parcela de água quente representa um
percentual igual ou maior a 10% do consumo energia e que utilizarem aquecimento solar de
água devem provar atendimento com fração solar igual ou superior a 70% (PROCEL, 2009).

16
2.1.3 TIPOLOGIAS DE EDIFÍCIOS ENERGETICAMENTE EFICIENTES

Segundo o PROCEL (2005), o bioclimatismo é o desenvolvimento de boas práticas na


criação arquitetônica baseadas na pesquisa de tecnologias tradicionais ou inovadoras,
objetivando a conservação de energia e evitando seu desperdício.

Este desenvolvimento de boas práticas arquitetônicas já existe no país. Existem edifícios


que já foram etiquetados, recebendo assim sua respectiva ENCE (etiqueta nacional de
conservação de energia).

A avaliação do edifício da FATENP (faculdade de


tecnologia Nova Palhoça) foi realizada pelo método
prescritivo do RTQ-C (Requisitos Técnicos da
Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de
Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos).
Pertencente a região metropolitana de Florianópolis, o
Figura 2 - Edifício da FATENP
edifício possui classificação de zona bioclimática 3. O
Fonte: CARLO; ORDENES (2009).
equivalente numérico encontrado da envoltória
corresponde a 5,00 (figura 2).

De acordo com a figura 3, o sombreamento gerado pelas proteções solares gerou um


Indicador de Consumo de 126,50 que, comparado ao limite máximo (para nível A e para
este edifício) de 129,06, garantiu nível de eficiência A na envoltória. (CARLO; RAMOS,
2009).

Figura 3 - Indicador de consumo da envoltória do Edifício da FATENP.

Fonte: CARLO; ORDENES (2009).

Segundo o estudo realizado neste edifício, os pré-requisitos específicos foram


alcançados. A cobertura de telhas metálicas verde que cobre principalmente a circulação
central ventilada naturalmente e as salas deve atender ao limite máximo de transmitância

17
térmica correspondente a 2,00 W/m²K, enquanto que sua
parcela que cobre os laboratórios (ambientes
Figura 4 - Edifício da CAIXA, Curitiba.
condicionados) deve atender ao limite máximo de 1,00
W/m²K.

O edifício da CAIXA – Agência Jardim das Américas


(figura 4), localizado em Curitiba, zona bioclimática 1, foi
avaliado pelo método prescritivo do RTQ-C, onde foram
considerados a envoltória, o sistema de iluminação, o
sistema de condicionamento de ar e bonificação pela Fonte: CARLO; ORDENES (2009).
economia no consumo de água.

O edifício possui sombreamento nas aberturas da fachada norte que é a principal. Após
a ponderação dos ângulos verificou-se que as proteções verticais apresentam ângulo
ponderado de 5,37º e as proteções horizontais, ângulo ponderado de 15,38º. As proteções
solares horizontais, juntamente com o baixo percentual de abertura nas fachadas (15%)
garantiram a etiqueta de nível A para a envoltória. O indicador de consumo é de 259,00,
inferior ao limite para nível A de 260,40 para este edifício. Os pré-requisitos específicos de
transmitância térmica e absortância foram cumpridos, ambos abaixo do máximo admissível
para nível A de eficiência energética (CARLO; RAMOS). A figura 5 apresenta o indicador de
consumo da envoltória deste edifício.

Figura 5- Indicador de consumo da envoltória do edifício da CAIXA, Curitiba.

Fonte: CARLO; ORDENES (2009).

18
A economia gerada pelo consumo
anual de água, pelo uso racional de
água e aproveitamento da água da
chuva rendeu ao edifício 1,00 ponto
como bonificação. A água da chuva é
coletada pela cobertura e armazenada
para utilização na limpeza e irrigação
do jardim. Comparadas ao consumo
típico de agências equivalentes a esta,
as medidas ocasionaram uma
economia de 27% do consumo anual
de água (CARLO; RAMOS). A figura 6 Figura 6 - Etiqueta de certificação do edifício da CAIXA, Curitiba

representa a etiqueta de certificação Fonte: CARLO, ORDENES (2009).


deste edifício apresentando a
pontuação recebida na bonificação.

2.1.4 APROVEITAMENTO DE LUZ NATURAL

A iluminação natural é uma fonte limpa e de grande disponibilidade no território


brasileiro, ao longo de todo o ano. Além de ser uma das mais interessantes fontes de
energia para uso em edificações.

...existe cada vez mais, no Brasil, a consciência de que seu uso nos traz
não só benefícios de ordem psicológica, um agradável contato com o ambiente
externo, uma distribuição dinâmica e agradável de luz, mas também benefícios de
ordem econômica, quer pela economia de energia elétrica que pode proporcionar,
quer pela melhoria de produtividade e diminuição de absenteísmo no trabalho.
(SOUZA; PEREIRA, 2004, p.80).

Com a crescente preocupação com a eficiência energética, projetos arquitetônicos têm


explorado a iluminação natural com critérios específicos, como os benefícios e prejuízos
relacionados à intensidade dessa fonte. Iluminação zenital, aberturas verticais e horizontais
são algumas das formas do aproveitamento da mesma.

Para aberturas simples, sem obstáculos ou elementos de controle, a


estimativa da luz natural transmitida pode ser uma tarefa fácil, dependendo
principalmente da transmitância do vidro e do ângulo de incidência da luz.
Entretanto, a adição de obstáculos junto à abertura, como os elementos de controle
solar, pode modificar a trajetória da luz natural transmitida, assim como sua
quantidade, afetando significativamente a iluminação natural no interior das
edificações. Essa influência ocorre devido aos múltiplos processos de reflexões
entre os elementos de controle solar. (BOGO et al., 2009, p.110).

19
As boates não exploram o potencial da iluminação natural, uma vez que não apresentam
aberturas externas como janelas, na busca por um melhor desempenho acústico. Mas sua
utilização pode ser devidamente realizada pelos espaços de apoio e serviços existentes. Um
tratamento acústico qualificado nos ambientes de maior intensidade sonora pode reduzir a
propagação do som e, conseqüentemente, atribuir aos espaços de apoio, tais como cozinha,
banheiros, depósitos, administração, entre outros, uma melhor utilização da luz natural.

2.2 ENERGIA SOLAR

2.2.1 GERAÇÃO LOCAL DE ENERGIA FOTOVOLTAICA

O Sol tem sido, e será, a fonte primária de energia para a Terra e para o nosso sistema
solar. Segundo RÜTHER (2004), diariamente incide sobre o nosso planeta mais energia
solar do que a demanda total necessária para todos os habitantes terrestres em um ano.
Dentre as diversas formas de aplicação da energia solar, a geração direta de eletricidade se
destaca.

A conversão da energia solar diretamente em eletricidade ocorre devido ao


chamado “efeito fotovoltaico” e é realizada pelos dispositivos fotovoltaicos (FV).
Essa conversão ocorre de modo silencioso, sem emissão de gases, sendo
desnecessária a assistência de operador para o sistema (VIANA et. al., p.50, 2010).

O efeito fotovoltaico ocorre nas células solares fotovoltaicas, que são dispositivos
construídos com materiais semicondutores. Empregam principalmente duas tecnologias:
uma baseada no silício cristalino e outra baseada em filmes finos. Não é comum a utilização
de uma única célula para a geração de energia, de modo que são conjuntos de células ou
módulo fotovoltaico que produzem a energia.

Como a luz do sol está universalmente disponível, dispositivos fotovoltaicos


podem fornecer eletricidade sempre que necessário. Como essa fonte de energia
durará centenas de milhares de anos e é muito difícil interferir no seu fornecimento,
muitos acreditam que as células fotovoltaicas (FV) se tornarão a maior fonte de
energia do mundo em longo prazo. Mesmo nas nubladas latitudes do norte, painéis
de FV podem gerar energia suficiente para toda ou parte da demanda de energia de
uma edificação (ROAF et al., 2006).

Em uma instalação fotovoltaica específica pode ser utilizado apenas um módulo, mas
normalmente são utilizados vários módulos associados eletricamente, compondo o painel
fotovoltaico ou gerador fotovoltaico (VIANA et al., 2010).

20
O conjunto de elementos necessários para a conversão de energia solar em energia
elétrica constitui o sistema fotovoltaico (SFV). Além do painel fotovoltaico, o principal
componente, o sistema pode incluir dispositivos para controle, supervisão, armazenamento
e condicionamento de energia elétrica.

Os sistemas fotovoltaicos são classificados em sistemas isolados e sistemas conectados


a rede elétrica pública (ABNT, 2008a). Os sistemas isolados normalmente necessitam de
um banco de baterias para armazenar a energia gerada e fornecê-la nos períodos onde não
há radiação solar, uma vez que não estão conectados a rede elétrica pública. Os sistemas
fotovoltaicos isolados usualmente têm os seguintes componentes principais: banco de
baterias; painel fotovoltaico, controlador de carga e inversor, como mostrado na Figura 7.

Figura 7 - Sistemas fotovoltaicos isolados.

Fonte: <http://amacedofilho.blogspot.com/2009_06_01_archive.html>.

O controlador de carga é responsável por monitorar e controlar a carga e/ou a descarga


do banco de baterias e o inversor é o aparelho que converte a tensão contínua, proveniente
do painel fotovoltaico ou do banco de baterias, em tensão alternada adequada para a
alimentação de aparelhos elétricos e eletrodomésticos.

Nos sistemas conectados à rede, a energia gerada é injetada diretamente na rede e não
há necessidade de banco de baterias. São constituídos basicamente de painel fotovoltaico e
inversor, aos quais se somam os componentes de comando e proteção (chaves, fusíveis,
disjuntores, etc.), de acordo com a figura 8.

21
Figura 8 - Sistemas fotovoltaicos conectados a rede.

Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/_uRwdUP-w280/Sj_oCfn60-I/AAAAAAAAB4o/aaeTM5T94E4/s1600-h/8.jpg>.

Ao detectar a presença da rede, o inversor converte a tensão contínua vinda do painel


fotovoltaico em tensão alternada, com o mesmo padrão de tensão, freqüência e fase da
rede elétrica à qual está conectado. A energia é injetada diretamente na rede elétrica e o
inversor se desliga automaticamente, cessando o fornecimento.

Outro modo de instalar os sistemas fotovoltaicos conectados à rede é integrá-los às


edificações urbanas, como casas e edifícios, na cobertura ou na fachada. A energia gerada
pode ser utilizada pela própria edificação, uma vez que a geração é descentralizada neste
processo. Caso a geração seja insuficiente para atender ao consumo da edificação, a
energia virá da rede elétrica pública e quando a geração exceder a demanda de consumo, o
excedente é enviado para a rede pública, de modo que outros consumidores utilizem.

Por não necessitar de linhas de transmissão, esse tipo de sistema integrado a


edificações tem a vantagem de evitar as perdas de energia que ocorrem nessas linhas,
como acontece no caso das plantas centralizadas, cuja energia gerada deve ser levada até
aos consumidores pelas linhas de transmissão (VIANA et al., 2010).

A conexão de sistemas fotovoltaicos à rede elétrica não é ainda regulamentada no


Brasil. No entanto, diversas iniciativas estão em processo com o objetivo de legislar e
regulamentar o assunto. A mais recente é a Portaria N 36 de 26/11/2008 da Secretaria de
Planejamento e Desenvolvimento Energético, do Ministério de Minas e Energia, que cria o
GT-GDSF, Grupo de Trabalho de Geração Distribuída com Sistemas Fotovoltaicos.

A finalidade do GT-GDSF é elaborar estudos, propor condições e sugerir critérios


destinados a subsidiar uma proposta de política de utilização de geração fotovoltaica
conectada à rede, em particular integrada em edificações urbanas, na tentativa de melhorar

22
a gestão da demanda de energia e de promoção ambiental do País, em curto, médio e longo
prazo (BRASIL, 2008b).

2.2.2 SISTEMA SOLAR DE AQUECIMENTO DE ÁGUA

O aquecimento solar de água está entre as diversas alternativas que buscam o aumento
da eficiência energética e a sustentabilidade de uma edificação.

O abastecimento energético mundial é, atualmente, uma das questões mais


estudadas devido ao quadro de rápidas mudanças ambientais observadas na última
década. Neste sentido, a racionalização do uso de energia traduz-se,
principalmente, na busca contínua de uma maior eficiência dos equipamentos, assim
como no uso mais intenso de fontes renováveis de energia, tal como a solar
(ABREU et al., p.32, 2010).

Sistemas solares de água quente coletam energia da radiação solar e a transformam em


calor, que é distribuído na forma de ar ou água quente até o local onde será utilizado ou
armazenado para uso posterior.

O setor residencial é responsável por cerca de 30% das emissões


de carbono em países desenvolvidos, principalmente devido ao CO2 emitido por
produtos de geração de energia e queima de combustíveis fósseis. Desses 30%,
25% vão para o aquecimento de água das torneiras e para o pré-aquecimento dos
sistemas de aquecimento de ambientes (ROAF et al., 2006)

Apesar dessa tecnologia já ser utilizada no Brasil, a parcela das edificações que possui o
sistema de aquecimento solar de água ainda é muito pequena em relação ao potencial
existente no país. Segundo Abreu et al. (2010), tal tecnologia também tem sido aplicada nos
setores residencial multifamiliar, hoteleiro e piscinas, mas com pouca utilização no setor
industrial.

Neste contexto, o emprego da energia solar para aquecimento de água mostra-se


oportuno, pois o potencial de uso é grande em todo território nacional, que desfruta de
condições climáticas apropriadas para o aquecimento de água, além de ser uma fonte
renovável, limpa e ilimitada.

Um sistema solar de aquecimento de água é composto basicamente de um coletor solar,


onde se verifica a conversão da energia solar em energia térmica, um reservatório
termicamente isolado e respectiva tubulação de alimentação do sistema e distribuição de
água quente.

Os sistemas de aquecimento solar são classificados de acordo com a NBR 15.569


(ABNT, 2008b) em relação ao arranjo, circulação, regime, armazenamento, alimentação e
23
alívio de pressão. Dentro dessa classificação destaca-se o tipo de circulação que pode ser
passivo (termossifão natural), quando a circulação da água ocorre exclusivamente por
diferença de densidade, ou ativo, quando ocorre circulação forçada através de uma bomba
(figura 9 e 10).

Figura 9 – Esquema do posicionamento dos componentes do sistema termossifão.

Fonte: Revista Téchne.

Figura 10 - Sistema solar de aquecimento de água bombeada.

Fonte: Revista Téchne.

24
O funcionamento de um aquecedor solar de água é bastante simples. A radiação solar
atravessa o vidro de cobertura e ao encontrar uma superfície geralmente preta é absorvida e
reemitida, sofrendo um aumento no seu comprimento de onda, o que a torna incapaz para
atravessar de volta o vidro. Desta forma, tem origem uma reemissão desta radiação no
sentido vidro/superfície/vidro (BAPTISTA, 2006).

No coletor que se encontra completamente fechado, ocorre um fenômeno conhecido por


efeito estufa, responsável pelo aumento progressivo da temperatura da superfície pintada de
preto fosco, enquanto durar a ação da radiação solar. Sob a superfície preta e em contato
direto com ela, são colocados tubos paralelos ligados nas extremidades por dois tubos de
maior diâmetro, contendo água em seu interior.

Como a superfície está sendo aquecida pela radiação solar e estando a grade de tubos
em contato direto com ela, verifica-se uma transferência de calor para a grade de tubos e
desta para a água que se encontra em seu interior. O coletor solar é ligado por meio de
tubos a um tanque termicamente isolado, que conterá o volume de água a ser aquecido,
situado sempre acima do coletor.

Segundo Bezerra (2001), este aquecimento provoca o movimento convectivo natural,


também conhecido como termo-sifão, que consiste na transferência da água de um local
para outro devido à diferença de densidades entre a água quente (mais leve) e água fria
(mais pesada) e isto ocorre até que a água existente no sistema solar de aquecimento
(coletor e reservatório termicamente isolado) atinja o equilíbrio térmico.

Se certo volume de água quente é retirado para consumo, imediatamente igual volume
de água à temperatura ambiente entra no reservatório termicamente isolado, já que este
está diretamente ligado à caixa de água local (BEZERRA, 2001).

Desta forma, o emprego do sistema solar de aquecimento de água pode reduzir o


consumo de energia em uma boate. Outro fator que viabiliza o sistema é a bonificação que
este promove na avaliação da eficiência energética do estabelecimento, se comprovada a
redução do consumo aos níveis estabelecidos pelo RTQ-C.

25
2.3 USO RACIONAL DA ÁGUA
O crescimento populacional e o processo de urbanização vêm acarretando, nas últimas
décadas, um aumento significativo no consumo de água. No ano 2000, metade dos recursos
hídricos disponíveis já estava sendo utilizado para fins humanos, o dobro do que era
utilizado em 1965 (WORLD WATER COUNCIL, 2008).

O consumo de água é influenciado por fatores como o clima, o padrão econômico da


população, o número de habitantes da cidade, os hábitos da população, o sistema de
fornecimento e cobrança da água, o custo da água entre outros. (NETTO et al., 1998).

A água é um recurso finito e vulnerável que deve ser utilizado


racionalmente; é um recurso de valorização econômica – a principal “commodity1”
do século XXI, mas também um recurso vital. A água é um elemento essencial que
contribui para a promoção do desenvolvimento e da qualidade de vida, mas é
também um recurso limitado e, se não se alterarem as tendências atuais, irão
agravar-se significativamente as crises hídricas (NUNES, p.2, 2006).

Segundo estudos realizados sobre os diversos usos da água nas edificações, o vaso
sanitário e o chuveiro (banho) são os principais responsáveis pelo consumo de água (DECA,
2007; SABESP, 2008). Além disso, uma parcela significativa relacionada ao uso da água
está destinada a fins em que não há necessidade do uso de água potável, tais como rega de
jardins, lavagem de roupas, automóveis e calçadas. Estes usos com finalidades não
potáveis podem representar em torno de 50% da água utilizada nas edificações (ANDRADE;
MARINOSKI, 2010).

Oliveira e Gonçalves (1999) especificam algumas ações de caráter social, econômico e


tecnológico de modo a contribuírem para a redução do consumo de água:

 Ações sociais – campanhas educativas e de conscientização que implicam na


mudança de comportamento em relação ao consumo de água;

 Ações econômicas – incentivos por meio de subsídios para a aquisição de


sistemas e componentes economizadores de água e de redução de tarifas; e

 Ações tecnológicas – substituição de sistemas e componentes convencionais por


economizadores de água, implantação de sistemas de medição setorizada do
consumo de água, detecção e correção de vazamentos, reaproveitamento de
água e de reciclagem de água servida.

O uso de fontes alternativas de suprimento para o abastecimento dos pontos de


consumo de água com fins não potáveis é uma importante prática na busca da

26
sustentabilidade. Dentre as fontes alternativas podem-se citar componentes hidráulicos
economizadores de água, o aproveitamento da água da chuva e o reuso de águas.

A adoção de componentes hidráulicos economizadores de água no Brasil


vem crescendo de forma acelerada, especialmente em prédios de uso público,
principalmente porque o seu emprego associa estes espaços à sustentabilidade das
construções, proporciona redução das despesas na conta de água e esgoto, bem
como em alguns locais propicia, também, redução na conta de energia elétrica
(ANDRADE; MARINOSKI, p. 28, 2010).

A tabela 3 a seguir apresenta as principais características de alguns componentes


economizadores utilizados em edificações.

Tabela 3 - Principais características de alguns componentes economizadores (Adaptado de ANDRADE;


MARINOSKY, 2010).

Aparelho Componente Principais características


sanitário economizador
Torneiras Arejador Dispositivo regulador do fluxo de saída de água
destinado a promover o direcionamento do
escoamento de água, evitando dispersões laterais e
amortecendo o impacto do jato de água contra as
partes que estão sendo lavadas. É também um
componente que propicia a redução de consumo de
água sem comprometimento das operações de
lavagem em geral. Os arejadores funcionam pelo
princípio de Venturi, incorporando considerável
quantidade de ar ao fluxo de água e reduzindo a
vazão e o volume de água utilizado.
Torneiras Pulverizador Dispositivo fixado na saída da torneira. Transforma o
jato de água em um feixe de pequenos jatos
semelhante ao que ocorre em um chuveiro. Reduz a
vazão para valores entre 0,06 litros/s e 0,12 litros/s,
podendo chegar até a 0,03 litros/s, sem reduzir a
satisfação do usuário.
Torneiras Prolongador Dispositivo fixado na extremidade da torneira para
aproximar e direcionar melhor o jato ao objeto a ser
lavado. Prolongadores bem projetados podem
representar economia de água. Cuidados devem ser
tomados com a correta vedação da conexão à
torneira.
Vaso sanitário Válvula de Dispositivo conhecido como “duo- flush” ou dual é
descarga com utilizado para possibilitar o acionamento seletivo da
acionamento válvula de descarga. A válvula de descarga contém
seletivo dois botões: um deles, quando acionado, resulta em
uma descarga completa para o arraste de efluente
com sólidos. O acionamento do outro botão resulta
em uma meia descarga, geralmente de 3,4 litros,
para limpeza apenas de efluente líquido no vaso
sanitário.
Fonte: Casa Eficiente vol. III (2010).

Outra medida importante no combate ao elevado consumo de água é o


reaproveitamento da água da chuva. A água da chuva de captação direta pode ser
27
considerada um recurso hídrico com qualidade e quantidade que podem atender a diversas
demandas, principalmente não potáveis. Em algumas situações ela pode ser a fonte mais
viável a ser utilizada ou mesmo a única fonte de água disponível.

O emprego do sistema de capitação e aproveitamento de águas pluviais é uma


tecnologia relativamente simples e econômica (NUNES, 2006). Consiste na coleta,
armazenamento e tratamento deste recurso. Segundo Nunes (2006), a viabilidade destes
sistemas segue três parâmetros básicos:

 Índice pluviométrico da região;

 Área de coleta; e

 Demanda dos pontos de consumo de água.

A tabela 4 apresenta as principais etapas e os componentes necessários para o projeto


de um sistema de aproveitamento de águas pluviais segundo os estudos associados de
Gonçalves et al (2005) e Nunes (2006).

Tabela 4 - Principais etapas de projeto e componentes de sistema de aproveitamento de água.

Etapa Descrição

É o fator determinante do potencial de


captação. Deve ser estabelecida em função
Determinação da precipitação média local das publicações de dados mensais referentes
(mm/mês) à quantidade de milímetros que chove por
mês em um determinado local por metro
quadrado.

Determinação da área de coleta Constituem de locais impermeáveis, tais


como telhados, pátios, estacionamentos,
entre outros.

É determinado em função do material da área


da coleta e faz referência à perda de água por
Determinação do coeficiente de escoamento
evaporação e vazamentos, uma vez que nem
superficial
todo o volume de água precipitado será
armazenado e conseqüentemente utilizado.

Tem como objetivo fornecer elementos para o


cálculo do reservatório de descarte e deve ser
Caracterização da qualidade da água pluvial
realizada utilizando sistema de amostragem
após períodos variáveis de estiagem.

28
Local de destino da retenção temporária e
posterior descarte da água coletada na fase
Projeto do reservatório de descarte inicial da precipitação. Tonéis com sistema de
registro de gaveta e reservatórios de auto-
limpeza com torneiras de bóia de
fechamentos são alguns exemplos deste
reservatório.

É o componente mais dispendioso e deve ser


proposto de acordo com as necessidades do
usuário. A capacidade mínima do reservatório
é calculada em função da precipitação local,
área de coleta e da demanda específica de
Projeto do sistema de armazenamento
cada edificação. A cisterna (reservatório
subterrâneo) é considerada o melhor
recipiente para armazenar a água capitada,
uma vez que por não receber luz e calor
retarda a ação das bactérias.

Os condutores horizontais (calhas) e os


verticais (tubos de queda) transportam a água
pluvial coletada. Podem ser utilizados grades
ou filtros retentores de folha de. Linhas de
Projeto do sistema de condutores
distribuição de águas pluviais tratadas,
unidades de recalque e eventuais
reservatórios complementares estão incluídos
no projeto.

Irrigação de áreas verdes, resfriamento de


sistemas de ar-condicionado, lavagens de
Identificação dos usos da água
piso e veículos são alguns dos usos mais
comuns a este tipo de sistema.

Considerando os usos mais comuns são


utilizados sistemas de tratamento composto
Estabelecimento do sistema de tratamento de unidades de sedimentação natural,
filtração simples e desinfecção com cloro ou
luz ultravioleta.

Fonte: Gonçalves et al (2005) e Nunes (2006).

A água da chuva, captada pela calha segue para um filtro ou grades, eliminando folhas e
detritos. Armazenada numa cisterna, é protegida da luz e do calor para evitar a proliferação
de fungos e bactérias. Uma bomba direciona a água limpa até a caixa. O sistema, paralelo
ao da rede pública, se destina a, por exemplo, lavagem de roupas, veículos e torneiras
externas (figura 11).

29
Figura 11 - Processo de reaproveitamento da água da chuva e seu uso final.

Fonte:<http://artereciclagem.blogspot.com/2009/06/reaproveitamento-da-agua-da-chuva.html>.

A respeito ao uso de fontes alternativas no combate ao consumo elevado de água, outra


medida que está difundida é o reuso da água. O reaproveitamento ou reuso da água é o
processo pelo qual a água, tratada ou não, é reutilizada para o mesmo ou outro fim.

Desta forma, surge a necessidade de se estabelecer critérios relativos à fonte de água


utilizada, especificando sua análise e confiabilidade do tratamento (ALVERCA, 2004).

As águas cinzas claras, compostas por efluentes provenientes de tanques, banheiras,


chuveiros, lavatórios e máquinas de lavar roupas, apresentam melhor qualidade do que as
provenientes de vasos sanitários (águas negras) e as de pias de cozinha (águas cinzas
escuras).

Em edificações, os sistemas de reuso de águas geralmente contemplam apenas a


utilização de águas cinzas. Os sistemas de reuso de água podem ser classificados como
reuso potável (direto ou indireto) e reuso não potável.

O reuso potável direto ocorre quando o esgoto tratado é reutilizado no sistema de água
potável, por meio de tratamento avançado. O reuso potável indireto é realizado quando o
esgoto, após tratamento, é inserido em águas superficiais ou subterrâneas para diluição e
purificação natural e posteriormente captação, tratamento e disposição para uso potável. Já
o reuso não potável pode ser utilizado para fins agrícolas, industriais e domésticos, como
em rega de jardins, descargas sanitárias e lavagem de pisos (MANCUSO; SANTOS, 2003).

30
Os sistemas de utilização de águas cinzas em edificações geralmente envolvem
tratamento biológico destes efluentes, que são posteriormente armazenados em um
reservatório com volume adequado, dimensionado com base nas características
ocupacionais da edificação, na contribuição de efluentes gerados e na demanda de água de
reuso. As instalações hidráulicas de um sistema de reuso de águas devem ser
absolutamente separadas das instalações hidráulicas de água potável, sendo proibida a
conexão cruzada entre elas (ANDRADE; MARINOSKI, 2010).

Um dos sistemas de tratamento que podem ser utilizados para o tratamento de águas
cinzas das edificações é o de zona de raízes (também chamado de leito cultivado construído
ou wetland). Neste sistema biológico são utilizadas vegetações de áreas alagadas,
resistentes aos sais das respectivas águas residuárias (macro e micronutrientes) e
aclimatadas às condições locais. Neste sistema ocorrem operações de sedimentação e
processos biológicos que promovem a redução de carga orgânica, principalmente processos
aeróbios (ANDRADE; MARINOSKI, 2010).

Desta forma, componentes economizadores de água, aproveitamento de águas pluviais


e o reuso da água podem, além de potencializar o uso deste recurso, garantir uma
bonificação que eleve a classificação da envoltória de uma boate energeticamente eficiente
segundo os parâmetros do RTQ-C.

2.4 DESEMPENHO ACÚSTICO

As características acústicas de um determinado local estão sujeita a alterações e


interferências quando há a inserção de uma nova edificação em seu espaço.

Qualificar acusticamente o espaço requer do arquiteto o conhecimento da


interferência acústica que o projeto tem sobre o ambiente e as conseqüências
projetuais decorrentes de questões acústicas (SOUZA, p. 13, 2006).

A capacidade de absorção das propriedades acústicas varia em função do material.


Segundo Nakamura (2006), a capacidade de absorção ocorre quando, por meio da
transformação vibratória em energia térmica, o material pode dissipar a energia sonora que
incide sobre este. A escolha e disposição dos materiais devem considerar a necessidade de
corrigir, reduzir ou eliminar o ruído. Outros fatores que devem ser levados em conta na
seleção de materiais são a taxa de ocupação do ambiente, a durabilidade, estabilidade e a
resistência ao fogo.

31
2.4.1 TRATAMENTO ACÚSTICO

A norma brasileira NBR 12179/92 – tratamento acústico em recintos fechados - define


como tratamento acústico o processo pelo qual se procura dar a um ambiente, dependendo
de sua finalidade, condições que permitam boa audição às pessoas nele presentes.

Segundo a norma, o tratamento acústico abrange o isolamento acústico e o


condicionamento acústico. O isolamento consiste no processo de evitar a penetração ou
saída de ruídos ou sons aéreos ou de impacto de um determinado ambiente, enquanto que
o condicionamento acústico procura atingir tempo ótimo de reverberação e boa distribuição
do som.

Para o projeto de uma boate é necessário os dois tipos de tratamento, uma vez que a
qualidade do som dentro do estabelecimento é indispensável para a utilização do espaço e
a necessidade de um isolamento acústico adequado que evite perturbações ao entorno é
uma exigência legal.

2.4.2 ISOLAMENTO ACÚSTICO

Isolamento acústico pode abordar dois tipos de ruídos: ruídos aéreos e o os ruídos de
impacto. Tais ruídos são controlados e isolados através de materiais com características
adequadas para tal propósito.

Os ruídos aéreos, segundo SOUZA et al. (2006), são ruídos originados no ar e nele se
propagam ou causam a vibração de uma superfície que provoca a vibração do ar imediato a
face oposta da mesma superfície.

O isolamento provocado por uma superfície depende de sua rigidez e capacidade de


amortecimento das ondas sonoras. A tabela 5 relaciona soluções construtivas e seus
respectivos isolamentos.

32
Tabela 5 - Soluções construtivas e seus isolamentos

Desempenho Isolamento Soluções de montagem

- Chapa de gesso acartonado de cada lado, espaçadas 12,5


mm por suporte de metal (largura total de 75 mm).
35
2
- Bloco de 75 mm (baixa densidade 52 kg/m ), com aplicação
de 12 mm de argamassa em uma face.
Baixo
- Chapa de gesso com suporte de metal espaçado a 48 mm,
com fibra mineral ou lã de rocha na cavidade (largura total 75
40 mm).
2
- Bloco de 75 mm (baixa densidade 52 kg/m ), com aplicação
de 12 mm de argamassa em uma face.

- Tijolo maciço de 112 mm sem argamassa.


2
- Bloco de 100 mm (densidade média de 140 kg/m ), com
aplicação de argamassa de 12 mm em ambas as faces.
Médio 45
- Duas chapas de gesso com 12,5 mm, espaçadas a 150 mm
por suporte de metal, com fibra de vidro na cavidade (largura
total 198 mm).

- Tijolo maciço de 224 mm sem argamassa.


Alto 50 - Bloco de 150 mm (alta densidade), com argamassa em
ambas as faces

- Duas chapas de gesso acartonado com 12,5 mm,


espaçadas a 60 mm e com fibra de vidro na cavidade
Especial 55 (largura total 178 mm).

- Tijolo maciço de 336 sem argamassa.

Fonte: Souza (2006).

A criação de câmaras de ar entre ambientes é um artifício utilizado para reduzir a


intensidade sonora. Estas podem ainda ser revestidas com material absorvente para reduzir
a reflexão do som (SOUZA et al., 2006).

Aberturas em determinados ambientes onde o isolamento acústico torna-se necessário


podem comprometer a qualidade do isolamento proposto. Deste modo, a utilização de dois
painéis de vidro com espaço de ar entre eles e a eliminação de juntas rígidas, com aplicação
de materiais resilientes, como a borracha, podem aumentar o isolamento acústico. A tabela
6 indica os índices de isolamento sonoro de alguns vidros.

33
Tabela 6 - Valores típicos de índice de isolamento de alguns vidros

Desempenho Isolamento Soluções de montagem

25 - Vidro simples de 4 mm com vedação.

- Vidro simples de 6 mm com vedação.


28
- Vidraça dupla com vidros de 4 mm e espaçamento de ar de
12 mm.

- Vidro simples de 10 mm com vedação.


Baixo
30 - Vidraça dupla com vidros de 6 mm e espaçamento de ar de
12 mm.

- Vidro simples de 12 mm com vedação.


33
- Vidraça dupla com vidros de 8 e 16 mm, espaçados a 12
mm.

- Laminado simples de 10 mm com vedação.


35
- Vidraça dupla com vidros de 4 e 10mm, com espaço de ar
de 12 mm.
Médio
- Laminado simples de 12 mm com vedação.
38
- Vidraça dupla com vidro de 6 e 10 mm, com espaço de ar de
12 mm.

- Laminado simples de 19 mm com vedação.


Alto 40
- Vidraça dupla com vidro de 6 mm e laminado de 6,4 mm
com espaço de ar de 12 mm.

- Laminado de 12 mm e vidro de 10 mm, com espaço de ar de


12 mm.
43
- Vidraça dupla com vidros de 6 e 10 mm e espaçadas a 100
mm.
Especial
- Laminado de 17 mm e vidro de 10 mm, com espaço de ar de
12 mm.
45
- Laminado de 6 e 10 mm. Com absorvedor e espaço de ar de
100 mm.

Fonte: Souza (2006).

Os ruídos de impacto e vibrações são transmitidos diretamente sobre uma estrutura e


provocam, conseqüentemente, a vibração do ar. Normalmente, quanto maior for à dimensão
da estrutura, maior será a transmissão do som.

34
Desta forma, uma estrutura de concreto que se comporta como um bom isolante de
ruídos aéreos devido a sua grande massa, não possui esse mesmo comportamento quando
se trata de isolamento de ruídos de impacto.

A utilização de materiais resilientes e descontinuidade na estrutura podem interromper a


transmissão destes ruídos. Os materiais resilientes amortecem a onda sonora devido à
eficiência de sua elasticidade e devem ser aplicados sob equipamentos, máquinas e solo. O
emprego de junções resilientes na estrutura, criando uma descontinuidade, auxilia na
redução das vibrações transmitidas pela própria estrutura.

2.4.3 CONDICIONAMENTO ACÚSTICO

A distribuição uniforme do som, o tempo de reverberação adequado ao uso do espaço


são algumas medidas que garantem a qualidade sonora em um ambiente. Outros
condicionantes, não menos importantes que os já citados, interferem na qualidade do som.

Condicionantes como a forma espacial que influencia na direção dos raios sonoros e o
tipo de material constituinte do ambiente que define a energia sonora refletida e a absorvida,
uma vez que o som é refletido, absorvido ou transmitido ao encontrar uma superfície.

Segundo Ávila (2009), um ambiente possui boa difusão quando a onda sonora se
distribui em todas as direções deste espaço, alcançada pela forma irregular e difusora das
superfícies e pela aplicação balanceada de materiais de construção. Os materiais possuem
relação direta com a reverberação do ambiente, de modo que quanto maior a quantidade de
materiais absorventes, menor o tempo de reverberação.

A tabela 7 apresenta o coeficiente de absorção de alguns materiais. O coeficiente de


absorção representa a porcentagem de som que é absorvido, ou deixa de ser refletido em
relação ao som incidente, variando de 0 a 1. Um determinado material não apresenta o
mesmo coeficiente de absorção para sons graves, médios e agudos.

35
Tabela 7 - Coeficientes de absorção de alguns materiais.

Freqüências (Hz)
Materiais
125 250 500 1000 2000 4000

Reboco áspero 0,03 0,03 0,03 0,03 0,04 0,07

Reboco liso 0,02 0,02 0,02 0,02 0,03 0,06

Concreto 0,02 0,03 0,03 0,03 0,04 0,07

Borracha 0,04 0,04 0,08 0,12 0,03 0,10

Tapete de veludo 0,05 0,06 0,1 0,24 0,42 0,60

Chapa de lã de madeira de 50 mm
0,11 0,33 0,90 0,60 0,79 0,68
diretamente na parede

Cortina grossa 0,25 - 0,40 - 0,60 -

Público por pessoa 0,33 - 0,44 - 0,46 -

Portas de madeira fechada 0,14 - 0,06 - 0,10 -

Janelas abertas 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Vidraça da janela - 0,04 0,03 0,02 - -

Fonte: Souza (2006).

De acordo com Ávila (2009), cada ambiente apresenta um tempo de reverberação


apropriado em relação ao seu volume e as freqüências sonoras das fontes. A figura 12
apresenta o tempo ótimo recomendado para ambientes com diferentes tipos de uso.

36
Figura 12 – Gráfico do tempo ótimo de reverberação.

Fonte: NBR 12179 (1992).

2.5 BOATES: PÚBLICO ALVO E O ESPAÇO FÍSICO

2.5.1 ENTREVISTA ARQUITETO JOEL LIMA

Para entender o funcionamento de uma boate foi realizada uma entrevista não
estruturada ao arquiteto Joel Lima, em Timóteo. O arquiteto participou de projetos de
algumas boates na região, projetos de requalificação do espaço, que atribuíram
acessibilidade, estética e conforto.

Segundo o arquiteto o primeiro passo para a realização de um projeto consiste em


conhecer as necessidades de lazer noturno na cidade e identificar o público alvo. Em
exemplo dado, Lima descreve as características do público de Timóteo. Os
estabelecimentos de lazer noturno nesta cidade não possuem clientela permanente, de
modo que este público flutua de estabelecimento em estabelecimento. Lima relata que
boates nesta cidade e região não permanecem muito tempo em funcionamento, em vista
desta mobilidade.

Mecanismos que permitem ao espaço a característica de ser mutável, de modo a


possuir uma flexibilidade no uso, na criação de novos cenários e principalmente que
oferecem uma variedade musical podem garantir a permanência desta tipologia em
funcionamento. Lima atenta para as múltiplas possibilidades de climas e situações criados a
partir da manipulação da luz.
37
Para Lima, uma boate na cidade de Timóteo deveria oferecer uma estrutura física capaz
de comportar desde quinhentas a seiscentas pessoas simultaneamente. Esta deveria
oferecer como programa de necessidades bares, pista de dança, lounge, banheiros bem
dimensionados e localizados em posições opostas, check in e check out. Lima alerta a
respeito da necessidade de separar os acessos de entrada e saída, de modo a dividir os
fluxos de usuários.

Os setores serviços oferecidos no estabelecimento precisam estar em comunicação


com o espaço onde serão distribuídos os pedidos. A circulação de serviço necessita ser
estudada para evitar cruzamentos de fluxos de garçons em espaços destinados a outros fins
que não seja de permanência.

2.6 SEGURANÇA E ACESSIBILIDADE

No projeto de edificação de uma boate deve-se levar em consideração a segurança


necessária para manter a integridade física dos usuários. Tal segurança pode ser refletida
principalmente nas saídas de emergências dispostas na edificação.

A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) regulamenta através da NBR


9077/01 01 - Saídas de emergência em edifícios – condições exigíveis para edifícios de
modo que a população usuária deste edifício possa abandoná-lo, em caso de incêndio,
completamente protegida e condições necessárias para permitir o fácil acesso de bombeiros
para o combate ao fogo e a retirada dos seus usuários.

Segundo a NBR 9077/01 - Saídas de emergência em edifícios – saídas de emergências


são constituídas por escadas, rampas, portas ou ao espaço livre exterior, nas edificações
térreas e descargas. As descargas podem ser representadas por corredor ou átrio
enclausurado, áreas em pilotis e corredor a céu aberto.

A largura das saídas deve ser dimensionada em função do número de pessoas que por
elas deva transitar e é dada pela seguinte fórmula:

N=P
C

Onde:
 N = número de unidades de passagem, arredondado para número inteiro;
 P = população; e
 C = capacidade da unidade de passagem.
38
A capacidade da unidade de passagem corresponde ao número de pessoas que passa
por esta unidade em 1 min. e varia com a tipologia do edifício e o tipo de saída a ser
dimensionada. No caso de uma boate, a capacidade da unidade de passagem é equivalente
a 100 para descargas, 75 para escadas e rampas e 100 para portas (NBR 9077, 2001).

A população a ser considerada no cálculo da largura das saídas de emergência para


uma boate deve ser igual a duas pessoas por metro quadrado. A cozinha e outras áreas de
apoio como estoque e depósitos, têm a sua ocupação admitida em uma pessoa por 7 m2 de
área.

Outro fator a ser considerado na edificação de uma boate é a acessibilidade. A utilização


deste ambiente de maneira autônoma e assegurada para a maior quantidade de pessoas,
mesmo com limitações de mobilidade e percepção, está regulamentada pela NBR 9050 –
acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Esta norma
estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados para as condições de
acessibilidade.

Segundo a NBR 9050, acessibilidade, por definição, consiste na possibilidade e condição


de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de
edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos.

A seguir são descritos as condições gerais de acessibilidade necessárias para


adequação de uma boate, condicionados a esta Norma:

 Nas edificações, todas as entradas devem ser acessíveis, bem como a circulação
necessária para realizar as funções do edifício.
 Na adaptação de edificações deve ser previsto no mínimo um acesso, vinculado
através de rota acessível à circulação principal e às circulações de emergência,
quando existirem. Nestes casos a distância entre cada entrada acessível e as
demais não pode ser superior a 50 m.
 O percurso entre o estacionamento de veículos e a(s) entrada(s) principal(is)
deve compor uma rota acessível. Quando da impraticabilidade de se executar
rota acessível entre o estacionamento e as entradas acessíveis, devem ser
previstas vagas de estacionamento exclusivas para pessoas com deficiência,
interligadas à(s) entrada(s) através de rota(s) acessível(is).
 Deve ser prevista a sinalização informativa, indicativa e direcional da localização
das entradas acessíveis.

39
 Acessos de uso restrito, tais como carga e descarga, acesso a equipamentos de
medição, guarda e coleta de lixo e outras com funções similares, não necessitam
obrigatoriamente atender às condições de acessibilidade.

2.7 LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA

2.7.1 PLANO DIRETOR

O Plano Diretor da cidade de Timóteo, instituído pela Lei Municipal N.. 2.500, de maio
de 2004, está em processo de revisão, em vista que o município não possui uma lei
específica de uso e ocupação do solo.

O Decreto N. 4.192, de 07 de abril de 2011, que está em vigor, regulamenta leis


específicas para a produção de edificações verticais, em vista que o mercado imobiliário tem
intensificado a produção desta tipologia que compromete a qualidade ambiental e
urbanística do Município.

Os artigos presentes nesta lei referem-se aos afastamentos que as edificações


precisam ter em relação uma as outras e em relação às vias. A tabela 8 apresenta a relação
da altura da edificação com os afastamentos mínimos.

Tabela 8 - Afastamentos mínimos laterais e fundos.

Altura edificação Nº de pavimentos Afastamentos


(m) laterais e fundos

3,50 1 1,50

6,50 2 1,50

9,50 3 2,10

12,50 4 2,30

Fonte: Timóteo, Decreto 4.192, 2011.

2.7.2 LEIS DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

O Município de Timóteo não possui lei específica de uso e ocupação do solo. Porém,
uma Minuta de projeto da lei de uso e ocupação estabelece normas de ocupação e uso do
solo no município.
40
O art. 10 atribui às repercussões relacionadas a esta edificação, classificando as em I,
III, IV, V, VI1. O art. 13 descreve as medidas mitigadoras atribuídas às repercussões I, II e III:

I - Reserva de área de embarque/ desembarque para veículos leves;

II - Reserva de área de carga e descarga;


III - Previsão de número adicional de vagas de estacionamento;
IV - Reserva de área de estacionamento para portadores de deficiência física;
V - Alarme para estacionamento interno.
VI - Relocação ou recuo do controle de acesso de veículos à edificação;
VII - Implantação de sinalização ou equipamentos de controle de tráfego;

VII -. Reserva de área mínima compatível com o exercício da atividade;


IX - Aprovação de projeto arquitetônico específico.

As medidas mitigadoras da repercussão IV são desenvolvidas no art. 14:

I - atestado, para efeito de funcionamento da atividade, referente às instalações de


prevenção e combate a incêndios;

II - implantação de sistema de alarme e segurança;


III - autorização por parte do órgão de segurança específico;
IV - apresentação de seguro de Responsabilidade Civil;
V - aprovação de projeto arquitetônico específico.

Segundo o art. 15, as atividades que provoquem repercussões dos tipos V, VI ou VII
terão medidas mitigadoras definidas pelo órgão municipal responsável pelo meio ambiente,
de modo que atenda padrões e critérios estabelecidos na legislação ambiental em vigor
relativa a emissão de ruídos, radiações ou de efluentes em decorrência do exercício das
atividades.
A Minuta relaciona outras medidas à tipologia boate, tais como:
 Toda edificação comercial com área compreendida acima de 300 m2 deverá ter
duas instalações sanitárias para pessoas portadoras de deficiência física, 01
feminina e 01 masculina.
 Não será admitida a utilização de espaços públicos para o atendimento das
atividades relacionadas à boate.

1
A classificação, repercussão e artigos relacionados estão presentes em anexo V da Minuta.
41
2.7.3 CÓDIGO DE OBRAS

O Código de Obras da cidade de Timóteo foi instituído pela Lei N. 736/80 e estabelece
normas que disciplinam a elaboração de projetos e execução de obras e instalações, em
seus aspectos técnicos, estruturais e funcionais.
A partir deste instrumento é possível exercer o controle e a fiscalização do espaço
edificado e seu entorno por parte da administração Municipal, o que garante segurança e
saúde pública.
Na seção I, do capítulo II, do título V, que descreve sobre edifícios comerciais e de
serviços, destaca-se:
Art. 211. Os compartimentos destinados a fins comerciais deverão satisfazer às
seguintes condições especiais:
I – Terão o pé-direito mínimo de 3,50m (três metros e cinquenta centímetros);
II – Possuirão instalações sanitárias privativas, as quais serão separadas por sexo e
distinta para o público e empregados em número correspondente, no mínimo, a 1
(uma) para cada 100,00m² (cem metros quadrados) de área útil ou para cada grupo
de 10 (dez) empregados;

III – Os compartimentos de venda não poderão Ter comunicação direta com


compartimentos de permanência prolongada, nem com as instalações sanitárias,
banheiros ou vestiários;
IV – O piso será compatível com a natureza do comércio e, se forem usados
ladrilhos ou cerâmica, deverá ser provido de ralos para encaminhamento das águas
de lavagem;
V – Deverão possuir instalações de equipamentos contra incêndio.

2.7.4 CÓDIGOS DE POSTURAS

Através da Lei N. 496/74 o Código de Posturas da cidade de Timóteo foi instituído. Este
dispõe as medidas do poder de Polícia atribuído à administração municipal em matéria de
higiene, ordem pública, costumes e sobre o funcionamento dos estabelecimentos
comerciais, industriais e de prestação de serviços e de diversão.
No título II que dispõe da higiene publica, no capitulo II referente ao divertimento público
destaca-se:
Art. 67 – Nenhum divertimento público poderá ser realizado sem prévia licença da
Administração Municipal.
Parágrafo Único – O requerimento de licença para funcionamento de qualquer casa
de diversão será instruído com a prova de terem sido satisfeitas as exigências
regulamentares referentes à construção, higiene do edifício ou local e procedida a
vistoria policial respectiva.
Art. 68 – Em todas as casas de diversões públicas serão observadas as
seguintes disposições, além das estabelecidas pelo Código de Obras:

42
a) Tanto as salas de entrada como as de espetáculo serão mantidas
higienicamente limpas;
b) As portas e os corredores para o exterior, serão amplos e conservar-se-ão
sempre livre de grades, móveis ou quaisquer objetos que possa dificultar a
retirada rápida do público, em caso de emergência;

c) Todas as portas de saída serão encimadas com a inscrição “SAÍDA”, legível à


distância e luminosa de forma suave, quando se apagarem as luzes da sala;
d) Os aparelhos destinado à renovação do ar, deverão ser conservados e
mantidos em perfeito funcionamento;
e) Haverá instalações sanitárias independentes para homens e mulheres;

f) Serão tomadas todas as precauções para evitar incêndios, sendo obrigatória a


adoção de extintores de fogo em locais visíveis e de fácil acesso;
g) Possuirão bebedouro automático de água filtrada em perfeito estado de
funcionamento;
h) Durante os espetáculos e projeções deverão as portas conservar-se abertas,
vedadas apenas com reposteiros ou cortinas;

i) Deverão estar munidos de material de pulverização de inseticidas;


j) O mobiliário será munido em perfeito estado de conservação e limpeza.

43
ESTUDO DE CASO

3.1 ROXY, BELO HORIZONTE

Ficha técnica

Local Belo Horizonte, MG


Início do projeto 2006
Conclusão da obra 2007
Área do terreno 600 m²
Área construída 955 m²
Arquitetura Fred Mafra (autor); Dinah Verleun e Clara Fernandes (colaboradoras)
Construção Foco, Patamar
Design do papel de parede Dinah Verleun
Estrutura José Maria de Abreu
Elétrica e hidráulica CA
Ar condicionado Luiz Cláudio Costa
Luminotécnica Fred Mafra, Iluminar e Lonard Decomac
Paisagismo Lídio de Freitas Ramos Filho

A Roxy consiste em uma casa noturna localizada no bairro Savassi, na capital mineira,
Belo Horizonte. A região é tradicionalmente conhecida pela grande concentração de bares,
clubes e boates. A figura 13 apresenta a locação deste espaço e sua relação com o entorno.

44
Figura 12 - Relação edificação e entorno.

Fonte: Google Earth. Modificado pelo autor.

A casa noturna atende diferentes grupos sócio-culturais, uma vez que funciona como
Josefine para o público gay e como Roxy para o público heterossexual, além de oferecer
diversas festas temáticas tais como sertanejo, trance e outras.
Segundo estudos realizados por Ávila (2009), o projeto arquitetônico do espaço foi
dimensionado para 800 pessoas e em dias de lotação máxima, a expectativa da
administração é de receber 1200 pessoas devido à rotatividade.
A edificação criada para a Roxy/Josefine possui 955 m2, em dois pisos de plantas
retangulares compostos por duas pistas
Figura 14 - Fachada principal.
de dança, cinco bares, chapelaria e três
lounges. A fachada principal é definida
por um pano de vidro laminado recoberto
por película branca. O arquiteto
responsável pelo projeto, Fred Mafra,
classifica esta fachada como minimalista
(figura 14) e diz que ela foi elaborada
para facilitar o acesso dos portadores de
necessidades especiais (figura 15). Fonte: Fred Mafra.

45
Segundo Ávila (2009), o acesso principal é feito Figura 15 – Acesso Principal.

pela rampa e por uma entrada lateral, uma vez que


em dias normais a rampa é o único acesso utilizado.
Esta rampa não apresenta a inclinação aceitável de
8,33% segundo a NBR 9050 – Acessibilidade a
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos. O acesso pode ocorrer também pelo check
out, caso a capacidade máxima da casa seja
atendida e/ou o segundo pavimento ou a cabine do
DJ sejam fechados para festas particulares (figura
16). A saída da casa noturna é feita pelo check out.
Em caso de muito movimento o check in também é
liberado para a saída (figura 17). Fonte: Fred Mafra.

Figura 16 - Mapa de acessos.

Fonte: Fred Mafra. Alterado pelo autor.

46
Figura 17 - Mapa das saídas.

Fonte: Fred Mafra. Alterado pelo autor.

Depois de percorrer a rampa de acesso, ingressa-se em um pequeno


jardim envidraçado, onde palmeiras direcionam o percurso. A seguir o túnel imprime ritmo
ao caminho para o centro da danceteria. Figura 18- Vista do lounge principal.
Da chegada tem-se visão simultânea do
lounge e do hall central. No primeiro,
paredes são revestidas com resina
esverdeada - elas se fundem com piso,
teto e mobiliário, num desenho ondulado
(figura 18). O lounge dos banheiros
possui papel de parede inspirados na
década de 70 e dá acesso aos banheiros
feminino, masculino e a cabine unissex
adaptada para portadores de
necessidades (figura 19). Fonte: Fred Mafra.

47
A parede onde se localizam
as cubas nos sanitários
masculinos e femininos é
revestida do mesmo papel de
parede utilizado no lounge de
acesso aos banheiros. Com a
umidade, o papel estufa e
desloca da parede, o que exige
constante troca de material
(ÁVILA, 2009). Figura 19 – Vista do lounge dos banheiros.
A chapelaria encontra-se ao Fonte: Fred Mafra.
lado do lounge dos banheiros e
da escada de acesso ao segundo piso. É neste espaço que os usuários podem deixar seus
pertences. A pista de dança de cem metros quadrados fica próximo ao fundo da edificação e
possui revestimento acústico. Nela foram instalados painéis de plasma de 6 x 2 metros, nos
quais o VJ interpreta “visualmente” o som (figura 20).

O setor de serviço da casa


está ao redor da pista de
dança, no primeiro pavimento.
O camarim e o vestiário são
utilizados normalmente pelos
go go boys e por
transformistas durante as
noites que a boate funciona
como Josefine.

Figura 20 - Vista da pista de dança.

Fonte: Fred Mafra

48
O segundo piso abriga a área
VIP. Esta é composta por uma
pista de dança menor (figura 21) e
dois bares, um junto à pista e outro
no lounge, que apresenta
mobiliário fixo. O setor
administrativo e a copa também
estão dispostos neste pavimento.
A copa existente é utilizada
Figura 21 - Vista da boate, bar e lounge no segundo piso.
apenas para lanches rápidos de
funcionários. Fonte: Fred Mafra.

Segundo Ávila (2009), a boate não oferece serviços de restaurante, restringindo suas
vendas a bebidas em geral e batata frita industrializada. Para oferecer serviços extras aos
oferecidos no espaço é contratado um Buffet, como o Japonese Food, que é responsável
por levar tudo previamente pronto. Durante a visitação da casa noturna em seu horário de
funcionamento foi realizado um estudo da intensidade do uso e permanência dos espaços,
de modo a entender os espaços mais utilizados em uma boate (figura 22 e 23).

Figura 22 - Mapeamento da concentração do público nos ambientes.

Fonte: Ávila (2009).

49
Figura 23 - Mapeamento da concentração do público nos ambientes.

Fonte: Ávila (2009).

Nesse sentido, é possível afirmar que nas proximidades dos bares existe uma maior
concentração de pessoas, tanto em estado de permanência quanto em estado de
movimentação. As pistas de dança também possuem esta característica, mas com estado
de permanência peculiar, uma vez que existem picos de utilização do usuário neste espaço,
ora as pistas de dança se encontram muito movimentadas ora se encontram vazias. A
tendência musical e as necessidades de utilização dos serviços da casa podem explicar
esse fato. Foi constatado também que o lounge que antecede os banheiros no primeiro
pavimento normalmente está concentrado de pessoas, devido aos assentos disponíveis
neste local.

50
3.2 PRIVILÈGE, JUIZ DE FORA

Ficha técnica

Local Juiz de fora, MG


Data de inicio do projeto 1999
Data da conclusão da obra 1999
Área do terreno 24.000 m2
Área construída 745 m2 (composta pelo antigo casarão e seus dois anexos)
Arquitetura Rogério Mascarenhas Aguiar
Paisagismo Niagara
Execução Morais & Cardoso Construtora LTDA
Estrutura PROCONSULT Consultoria e Projetos
Acústico André Ribeiro Costa

A Privilège é uma boate localizada no bairro de São Pedro, Juiz de Fora, MG. Está
inserida em um bairro residencial que é circundado por outros bairros residenciais, bairro
Parque Imperial e Bosque Imperial (figura 24).

Figura 24 - Localização da boate Privilège.

Fonte: Google Earth. Modificado pelo autor.

51
Implantada em um terreno de topografia irregular e circundada por uma mata, a boate é
composta por uma edificação principal correspondente ao antigo casarão, um bar e um café,
o café da Mata. Existem ainda, decks e bancos distribuídos por todo o terreno, de acordo
com a figura 25.

Figura 25 - Implantação da boate.

Fonte: Rogério Mascarenhas.

Existem dois espaços cobertos na entrada da boate onde geralmente é formada a fila de
acesso para o check in e para a entrada VIP. Um caminho coberto leva os usuários até a
edificação principal. O cadastro do check in é o mesmo para o check out.
O contraste entre o velho e o novo alimentou a idéia central do projeto para a conversão
de um antigo casarão de construção inglesa em casa noturna. O arquiteto aproveitou as
exigências de área para construir dois volumes em estrutura metálica e vidro nas
extremidades da antiga edificação (figura 26). Desta forma, estabeleceu seu eixo
longitudinal como circulação interna principal, enquanto que o acesso acontece pela entrada
principal do casarão.

52
Figura 26 - Fachada principal da edificação.

Fonte: Rogério Mascarenhas.

O corpo principal do casarão foi utilizado para o funcionamento do bar. Anexos voltados
para o fundo abrigam banheiros, cozinha e administração. O volume em estrutura metálica
que segue a volumetria do casarão abriga um bar e uma escada helicoidal. O acesso para o
segundo pavimento é feito por esta escada (figura 27 e 28).

Figura 27 - Planta baixa térreo.

Fonte: Rogério Mascarenhas.

53
Figura 28 - Planta baixa segundo pavimento.

Fonte: Rogério Mascarenhas.

Figura 29 - Vista interna da pista de dança.


Na outra extremidade com formato de
elipse está a pista de dança, com
camarotes em sua organização interna
(figura 29). O segundo pavimento
consiste em outra ambientação onde são
tocadas músicas diferentes das tocadas
na pista de dança (figura 30).

O café da Mata é outro ambiente


oferecido pela boate. Nele acontecem
Fonte: Rogério Mascarenhas.
apresentações ao vivo. Composto por
Figura 30 - Bar segundo pavimento.
mesas distribuídas em seu interior e nas
varandas que o circundam, este espaço
promove um ambiente mais tranqüilo em
relação ao outros encontrados no
programa desta casa noturna (figura 31).

Fonte: Rogério Mascarenhas.


54
O conceito atribuído ao Figura 31 - Café da Mata.

projeto demonstra não só a


relação do novo com o velho,
como também, a utilização de
panos de vidros, figuram a
interação do interior e exterior.
A relação da edificação com a
mata é fortemente incorporada
à implantação, em vista que
existem espaços de
permanência no exterior e
caminhos externos ligando as Fonte: Rogério Mascarenhas.

edificações (figura 32).

Figura 32 - Panos de vidro separam a pista de dançada área externa.

Fonte: Rogério Mascarenhas.

55
3.3 SALVADOR NORTE SHOPPING

Ficha técnica

Local Salvador, Bahia


Projeto 2005
Conclusão da obra maio de 2007
Área do terreno 120.000 m2
Área construída 111.000 m2 (primeira etapa)
Arquitetura - André Sá e Francisco Mota Arquitetos
Construção Andrade Mendonça - José Brim (engenheiro responsável)
Fachadas e coberturas - PCD (consultoria); Alumínio Brasil (sistema de fachadas); Algrad
(execução)
Fachada inclinada - Heloísa Maringoni (cálculo das estruturas metálicas); Engevidros
(construção)
Estruturas metálicas Enpro (cálculo); Codeme (execução)
Coberturas Pórtico Real (instalação das coberturas em arco); Princesa Vidros (outras
áreas)
Piso de vidro (passarelas e escadas) Rótula (estrutura); Tecmont (montagem)

Construído para atender à região Norte da Cidade de Salvador e às cidades


metropolitanas de Lauro de Freitas, Camaçari, Simões Filho e Litoral Norte, o Salvador
Norte Shopping localiza-se no bairro São Cristóvão, próximo ao Aeroporto Internacional Luís
Eduardo Magalhães e ao Hospital Sarah Kubitschek.

Foi feita uma grande intervenção viária no entorno do shopping para diminuir os
impactos de sua implantação. Construção de pista dupla na parte frontal da edificação,
pistas laterais de modo a facilitar o acesso, alargamento da via expressa já existente,
construção de dois viadutos, três pontilhões, três passarelas e duas passagens de nível
(figura 33). Projetos paisagísticos realizados pelo escritório de Benedito Abbud caracterizam
o entorno desta edificação.

56
Figura 33 - Intervenção viária no entorno do Salvador Norte Shopping.

Fonte: Google Earth. Modificado pelo autor.

O Salvador Shopping é um megaempreendimento de 111 mil metros quadrados, com


263 lojas, quatro âncoras, megastores e cinemas, servidos por 21 escadas rolantes, o
mesmo número de elevadores e quatro esteiras rolantes, além de escadas monumentais,
produzidas com metal e vidro.

O conceito de sustentabilidade e eficiência energética esta presente na edificação. Um


dos destaques na estrutura do shopping é a iluminação natural do ambiente, conquistada
através de domus feito com vidros duplos que incorporam o low-E. Este vidro tem baixa
refletividade, alta transmissão luminosa e pequeno índice de fator solar e assim diminui a
irradiação do calor no interior do edifício (Figura 34).

57
Nas fachadas norte e oeste foram usados vidros Figura 34 – Vidro low-E de alta eficiência.
2
duplos serigrafados , com câmara de ar hermética
(VCH). A utilização de vidros laminados nas
fachadas leste e sul ocorreram devido à menor
incidência de radiação solar nestes setores.

Fonte:
<http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/a
Outras medidas que buscam a sustentabilidade ndre-sa-e-francisco-mota-arquitetos-
salvador-shopping-04-12-2007.html>.
foram incluídas no projeto:

 O reaproveitamento da água da chuva, com o seu armazenamento, filtração e


emprego nas descargas dos sanitários;

 Esgoto a vácuo, que possibilita redução de 90% no consumo de água


comparando com o sistema convencional;

 Produção e consumo da refrigeração em três patamares de temperatura o que


resulta em economia de energia elétrica, além da utilização de gás refrigerante de
baixo impacto ambiental;

 Uso do processo de vigas frias para tratamento de parcela do ar no próprio


ambiente, que reduz a temperatura sensitiva em até 2°C; e

 Automação predial, que controla os sistemas de refrigeração, iluminação,


incêndio e segurança possibilitando o uso racional de energia.

Estas medidas renderam a edificação uma certificação de eficiência energética pelo


Programa Brasileiro de Etiquetagem, de modo que o LABEE (Laboratório de Eficiência
Energética em Edificações) atribuiu classe de eficiência A e pontuação total de 5,1. A

2
O vidro serigrafado é produzido através da aplicação de esmalte cerâmico sobre a superfície do vidro, seguida
por tratamento térmico de têmpera ou semi-tempera.

58
economia obtida com o uso racional de energia elétrica, água e sistemas de telefonia foi
revertida para os lojistas, através
da redução dos custos
Figura 35 - Composição de vidro e estrutura metálica na escada
condominiais. principal.

Vidro e estruturas metálicas


foram utilizados para coberturas,
escadas, pisos e guarda-corpos
em diferentes composições
(figura 35). O edifício tem nove
clarabóias de vidro; nas
coberturas e respectivos
fechamentos foram utilizados
vidro insulado e laminado. Nos
lanternins empregou-se vidro
laminado refletivo. Nas Fonte:
coberturas curvas, os painéis de
<http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/andre-sa-e-francisco-
vidro plano são facetados nos mota-arquitetos-salvador-shopping-04-12-2007.html>.

segmentos.

A estrutura metálica da clarabóia


principal conta com pórtico espacial
e doze pilares, em vista que os
elementos principais e secundários
são constituídos de treliças de
seção triangular (figura 36).

Como o shopping é quase todo


em estrutura metálica, adotou-se
solução especial para as fachadas.
Segundo Paulo Duarte, arquiteto
responsável pela consultoria das
Figura 36 - Estrutura metálica da clarabóia principal.
fachadas e vidros da obra, não se
Fonte:
pode instalar o vidro diretamente no <http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/andre-sa-e-
francisco-mota-arquitetos-salvador-shopping-04-12-
aço, em função de suas ondulações 2007.html>.
e desalinhamentos. Desta forma, o

59
projeto de arquitetura concebeu uma fachada frontal inclinada em cerca de 18º e foi utilizado
um sistema de envidraçamento estrutural que dispõe de cabos de aço com ferragens de aço
inoxidável, para suportar os vidros, dispensando o uso de caixilhos (figura 37 e 38).

Figura 37 - Pano de vidro da fachada principal inclinada. Figura 38 - Detalhes do sistema de fixação dos
vidros na fachada inclinada.

Fonte:

<http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/andre-sa-e-
francisco-mota-arquitetos-salvador-shopping-04-12-
2007.html>.
Fonte:
<http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/an
dre-sa-e-francisco-mota-arquitetos-salvador-
shopping-04-12-2007.html>.

60
RESULTADOS

4.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto de uma boate energeticamente eficiente para a cidade de Timóteo segue as


diretrizes dos Requisitos Técnicos da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de
Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C). Deste modo, parâmetros que
garantem a eficiência energética deste espaço serão desenvolvidos no projeto.

A relação eficiência energética, RTQ-C e o projeto de uma boate pode ser explorado
através das questões abordadas a seguir.

O que considerar em termos de eficiência energética no projeto pode ser respondido


através da adequação da envoltória (paredes e cobertura da edificação) aos níveis
satisfatórios de eficiência. Para isso, os índices de transmitância térmica e absortância de
superfícies, juntamente com a utilização e análise da iluminação zenital e proteções solares
devem atender ao projeto.

Painéis fotovoltaicos e um sistema solar de aquecimento de água podem incorporar


eficiência à edificação. O sistema de painéis fotovoltaicos conectados a rede apresenta-se
ser mais viável que painéis fotovoltaicos a base de bateria, mesmo que ainda não seja
regulamentada no Brasil. A vida útil das baterias é muito curta em relação ao custo que o
sistema apresenta e diversas iniciativas estão em processo com o objetivo de legislar o
sistema de painéis conectados a rede.

O emprego do sistema solar de aquecimento de água e o uso racional da água podem


reduzir o consumo de água e energia em uma boate, em vista que a utilização de água em
horários de funcionamento chega a níveis elevados.

Outra questão que também pode ser respondida é como considerar estes requisitos
no projeto. A eficiência da envoltória está relacionada às aberturas existentes no projeto;
aos ângulos de sombreamento destas aberturas; e o dimensionamento destas aberturas nas
respectivas fachadas. O dimensionamento e a eficiência das tecnologias usadas nos
sistemas de energias solar também respondem esta questão.

A respeito de como os atender os limites de certificação, os limites de eficiência


energética podem ser atendidos através do método adotado e do nível de eficiência
apresentado pelo projeto. O método utilizado na análise da eficiência energética desta boate
será o método prescritivo que estabelece o nível de certificação através de formulas pré-
61
definidas relacionadas à zona bioclimática em que a edificação está inserida. O nível de
eficiência trabalhado no projeto será o nível A (mais eficiente).

A seguir são descritos os meios de como calcular o nível de eficiência requerido:

 Indicação da zona bioclimática a qual o projeto pertence;

 Definir a área de projeção do edifício se é maior ou menor que 500 m2;

 Definir o percentual de abertura na fachada;

 Definir os ângulos de sombreamento;

 Calcular o fator forma e o fator altura;

 Calcular o índice de consumo da envoltória; e

 Calcular as economias dos sistemas solares que funcionam como bonificações.

A questão em que o projeto pode se basear em termos de boas práticas está


relacionada aos estudos de casos. No Brasil existem algumas edificações que receberam a
certificação de eficiência energética pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem. O Salvador
Norte Shopping está presente a este grupo. Utilizando de iluminação zenital, clarabóias e
tecnologias em vidro de elevado desempenho, este edifício promoveu iluminação natural
abundante e eficiente.

Outras medidas foram realizadas neste espaço, tais como o reaproveitamento da água
da chuva e o seu emprego nas descargas dos sanitários; esgoto a vácuo e o uso do
processo de vigas frias para tratamento de parcela do ar no próprio ambiente, que reduz a
temperatura sensitiva em até 2°C.

Quanto a que aspecto estético o edifício terá em termos de eficiência que serve de
parâmetros para a produção deste projeto, pode-se atribuir a integração entre
tecnologias eficientes e edificação. Nesse sentido, o projeto de uma boate eficiente explora
algumas condicionantes existentes em outros projetos eficientes, sem descaracterizar ou
atribuir menos importância ao aspecto estético, em vista que mecanismos e tecnologias de
eficiência energética acompanhem e contribuem para a linguagem volumétrica da
edificação.

Outra questão explorada neste estudo refere-se a: quais as recomendações


específicas para boates eficientes. A resposta para esta questão foi desenvolvida através
das análises realizadas em relação às outras questões. Pode-se complementar
62
questionando por que o aproveitamento de luz natural pode ser relevante para uma boate
que normalmente funciona à noite. Fora de seu horário de funcionamento uma boate pode
funcionar de dia. Sua administração e serviços de limpeza antes e depois de se uso
conferem necessidade da exploração da iluminação natural nesta tipologia.

4.2 PROPOSTA

A proposta é o desenvolvimento de uma boate energeticamente eficiente na região


central da cidade de Timóteo. Esta deve estar de acordo com as tendências estruturais de
espaço físico, considerando que a maioria das boates hoje oferece mais de um ambiente
para os usuários. Outra condicionante da proposta é que esta edificação possua uma
certificação de avaliação da eficiência energética pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem,
de modo que para tal, mecanismos, tecnologias e conceitos de eficiência energética sejam
incorporados ao edifício.

Nesse sentido, a proposta consiste em uma boate que apresente um núcleo principal,
formado pelos espaços de pista de dança, camarotes e palco de apresentações e um
ambiente externo que funcione como bar e restaurante. Espaços destinados a apoio, como
banheiros, depósitos, cozinha, serão dispostos de modo a facilitar a circulação tanto do
público quanto dos funcionários.

A implantação de um bar/ restaurante externo consiste em aumentar as opções de


ambientes pertencentes ao programa de uma boate e a tentativa de garantir o
funcionamento do empreendimento em outros horários e dias em que a boate não funcione.

A capacidade de usuários desta edificação será de 600 pessoas. O núcleo principal


deverá abrigar 480 pessoas e o ambiente externo será dimensionado para 120 pessoas.

4.3 O TERRENO

A área de implantação da boate está localizada na extremidade nordeste do bairro


Centro Acesita em Timóteo, próximo ao bairro residencial Vila dos Técnicos. No entorno
imediato ao terreno existe apenas um conjunto multifamiliar, de modo que os demais
espaços são preenchidos por construções institucionais, comerciais, praças e por uma mata
nativa (figura 39).

63
Figura 39 - Relação do terreno com seu entorno.

Fonte: Google Earth. Modificado pelo autor.

O terreno é caracterizado pela facilidade de acesso, pois além de ser cortado por uma
avenida e ruas de fluxo rápido, se encontra próximo à rodoviária da cidade, de dois pontos
de taxi e de três pontos de ônibus (figura 40).
Figura 40 - Serviços de acessos ao terreno.

Fonte: Google Earth. Modificado pelo autor.


64
A escolha deste local está Figura 41 - Corredor de atividades de lazer noturno.

relacionada à depreciação do
centro de Timóteo no período
noturno. Poucas são as opções
de atividades de lazer noturno
nesta região e as existentes
estão dispostas na outra
extremidade da área central. A
criação desta edificação pode
acarretar em um corredor de
atividades noturnas, ligado de
um extremo ao outro e assim
revitalizar a vida noturna nesta
região (figura 41).

Atualmente o espaço é
utilizado como estacionamento
do Escritório Central da
Siderúrgica existente na cidade.
Possui considerável vegetação,
marcada essencialmente por Fonte: Google Earth. Modificado pelo autor.
árvores de grande porte (figura
42). A direção predominante do vento corresponde ao sentido nordeste – sudoeste,
influenciada pelos vales dos córregos. Apesar da proximidade ao bairro residencial Vila dos
técnicos, o impacto que a boate apresenta sobre as residências pode ser desconsiderado,
uma vez que o espaço delimitado possui cerca de 5.577 m2 e a ocupação acontecerá na
face oposta ao bairro (figura 43).

Figura 42 – Vista do terreno, vegetação composta por


árvore de grande porte.

Fonte: Autor.

65
Figura 43 - Análise climática e relação com entorno.

Fonte: Google Earth. Modificado pelo autor.

4.4 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

O programa de necessidades e o pré-dimensionamento apresentado fundamentam-


se na análise do estudo de casos, assim como na entrevista realizada e na legislação
pertinente.

2
AMBIENTES ÁREA (M ) OBSERVAÇÕES

Check in 15,00

Hall de distribuição 30,00

Bar interno 40,00

Bebidas, material de limpeza e


Estoque 15,00
material para banheiros.

Lounge 30,00 Ambiente de estar.

66
Banheiros 70,00

Deposito de lixo 8,00

Pista de dança 80,00

Cabine DJ 9,00

Cabine técnico de som 6,00

Ambulatório 8,00

Sala de segurança 6,00 Vídeos de segurança.

Sala pra contar e guardar o


Sala administração 8,00
dinheiro.

Palco 20,00

Camarim de apoio ao palco 20,00 Sala e banheiro.

Vestiário funcionários 25,00

Unidades de camarotes, bar e


Camarotes 80,00
banheiros.

Bar/restaurante externo 180,00 Bar, banheiros e mesas.

Estoque 15,00 Bebidas.

Cozinha 30,00 Apoio ao bar/restaurante

Chapelaria 10,00

Check out 20,00

Área de fumantes 20,00

30% circulação e paredes 223,5

TOTAL 968,50

Estacionamento 700,00 1 para cada 5 pessoas.

67
4.5 CONCEITO

O conceito deste projeto está relacionado à integração da eficiência energética ao


edifício. Deste modo, as tecnologias utilizadas na obtenção da eficiência energética fazem
parte da concepção do projeto.

Para atender a flexibilidade do público existente na cidade de Timóteo, a proposição


de um espaço neutro e mutável torna-se necessária.

68
4.6 FLUXOGRAMA E SETORIZAÇÃO

Figura 44 – Fluxograma e setorização de funcionamento da


boate

Fonte: Autor.

69
4.7 CRONOGRAMA

II - 2011
ATIVIDADES
AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO

Revisão do programa de
necessidades e pré-
dimensionamento

Desenvolvimento do
partido

Desenvolvimento do
estudo preliminar

Desenvolvimento do
anteprojeto

Detalhamento

Desenvolvimento do
memorial descritivo

Revisão

Apresentação

70
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