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O açúcar
O branco açúcar que adoçará meu café que não nascem por acaso
nesta manhã de Ipanema no regaço do vale.
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
Vejo-o puro homens que não sabem ler e morrem de fome
e afável ao paladar aos 27 anos
como beijo de moça, água plantaram e colheram a cana
na pele, flor que viraria açúcar.
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim. Em usinas escuras,
homens de vida amarga
Este açúcar veio e dura
da mercearia da esquina e tampouco o fez o produziram este açúcar
Oliveira, dono da mercearia. branco e puro
Este açúcar veio com que adoço meu café esta manhã em
de uma usina de açúcar em Pernambuco Ipanema.
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
fonte: “O açúcar” (Ferreira Gullar. Toda poesia.
Este açúcar era cana Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980,
e veio dos canaviais extensos pp.227-228)
A cana-de-açúcar