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O projeto foi desenvolvido em uma porção de terreno de beira-rio que havia sofrido inter-
venção com a construção de um muro de contenção e aterro que dividiu a área em dois
compartimentos: a área propriamente dita, transformada em um imenso capinzal, aquém do
muro; e, além do muro, junto ao rio, a vegetação típica de várzea fluvial, com predominância
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da aninga22, lutando contra os cortes sucessivos que reduziam o seu porte, provavelmente
justificados pela liberação da vista para o rio (Figura 149).
Fundada em 1616 pelos colonizadores portugueses, Belém se desenvolveu como uma típica
cidade portuária, com uma economia e uma cultura baseadas em sua condição geográfica
e recursos naturais.
Em 2003, autoridades da Marinha cederam dez acres (4,05 hectares) de uma área de sua
propriedade, então abandonada, ao governo do Estado do Pará, para que os recuperassem
através da construção de um parque público (Figuras 146 e 147).
Foi então projetado o Parque Mangal das Garças, integrante do plano de revitalização ur-
bana que operou significativas transformações na cidade, valorizando a importância de sua
história. A autoria do projeto paisagístico é do escritório de planejamento e arquitetura
paisagísticos Rosa Grena Kliass, sendo a meta criar um espaço de recreação que fosse capaz
de despertar a população local para a importância de seu patrimônio ambiental.
22 A aninga (Montrichardia arborescens) é uma espécie aquática nativa de florestas tropicais, com presença determi-
nante no local de intervenção.
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A relação entre as cidades e suas frentes de água, conforme explica Kliass (2006), deve ser
revista não apenas nos centros históricos tradicionais, mas estender-se às áreas de contato
entre as margens de rios, lagos e mares e os assentamentos urbanos. Sempre que possível,
a natural vocação paisagística e de lazer deve ser potencializada, tanto para a população
local como para o turismo, que vem se tornando progressivamente uma importante fonte
de renda.
Importante destacar que a proposta de um parque público para a cidade de Belém, iniciada
em 1999, não apenas pretendia converter o terreno abandonado de uma área naval em um
naturalístico espaço verde, mas recuperar, para a população local, a vitalidade do espaço,
propiciando a apropriação deste.
4.3.3 Atores
4.3.4 Objetivos
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4.3.5 Diretrizes
4.3.6 Propostas
4.3.7 Implementação
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A água foi reintroduzida, assumindo o papel de condutora da paisagem nas formas mais
variadas: fonte, cascata, rio sinuoso e, finalmente, o grande lago. Caminhos, passarelas e
pontes intercalados por recantos com pérgulas se sucedem para alcançar os pontos de inte-
resse: o borboletário, o viveiro de pássaros e a torre de observação.
A reintegração da área ao rio permitiu a recuperação do imenso aningal, que atingiu o porte
de 7 m de altura com folhas de 1,5 m. Valorizando essa vegetação, em vez de podá-la como
se fosse um obstáculo visual, lançou-se mão de uma passarela de madeira, que, saindo do
terraço de acesso ao restaurante e avançando sobre o aningal, alcança o pavilhão à borda
do rio e permite a visão da orla e dos elementos referenciais da cidade, como as torres do
Forte Feliz Lusitânia23.
A população natural de aningas foi recuperada nas margens do rio e incorporada ao Parque
Mangal das Garças. Além de derrubar a barreira física que “protegia” o tecido urbano das
águas do rio, o projeto reintegrou-o à vida da cidade. O Mangal das Garças encontra-se
totalmente implantado e passou a ser uma das principais atrações turísticas de Belém.
Sua peculiaridade é o fato de ter se tornado um ícone paraense, que reintroduziu o contato
da cidade com a água, a vegetação e a fauna amazônicas. O Mangal das Garças tem um sig-
nificativo potencial multiplicador de projetos em situações similares, já que uma das grandes
carências das cidades brasileiras é de espaços públicos de qualidade.
A leitura de todos esses casos evidencia uma série de semelhanças até o período de degra-
dação dos respectivos rios e as particularidades na mobilização que levou os atores à decisão
de propor intervenções para a reversão de um quadro de desequilíbrio.
Nota-se também a convergência, de modo geral, quanto à temática que norteia os planos
e propostas bastante específicas, que contemplam as singularidades peculiares de cada sítio
de intervenção, dos traços culturais e condicionamentos políticos e sociais de cada sistema
fluvial urbano.
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