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2. Os temas devem ser decididos pelo bibliotecário. Os livros não devem jamais trazer no
colofão qualquer indicação acerca dos assuntos sob os quais devem ser classificados.
3. As siglas devem ser instrascrevíveis e de preferência muitas, de modo que nunca reste
a quem preencha a ficha espaço suficiente para incluir a última denominação,
considerada irrelevante, e assim o encarregado possa sempre restituir-lhe a referida
ficha para ser preenchida da maneira correta.
4. O tempo entre o pedido e a entrega do livro deve ser sempre muito longo.
6. Os livros entregues ao usuário porque foram solicitados por ficha não podem ser
levados para a sala de consultas, isto é, a vida do consulente deve ser dividida em dois
aspectos fundamentais: um dedicado à leitura e outro inteiramente votado à consulta.
A biblioteca deve desencorajar a leitura cruzada de vários livros, porque pode provocar
o estrabismo.
11. Os empréstimos entre bibliotecas deve ser impossível, ou pelo menos demandar
muitos meses. O melhor, neste caso talvez seja assegurar a impossibilidade de vir a
conhecer o que existe nas demais bibliotecas.
14. Não deve ser possível descansar no interior da biblioteca de modo algum, e em todo
caso não deve ser possível descansar sequer do lado de fora da biblioteca sem antes
ter devolvido todos os livros que se tinha pedido, de modo a ser obrigado a pedi-los
novamente depois de tomar um café.
15. Nunca deve ser possível reencontrar o mesmo livro no dia seguinte.
16. Nunca deve ser possível saber quem pegou emprestado o livro que está faltando.
18. Idealmente, o usuário não deveria poder entrar na biblioteca; admitindo-se que entre,
usufruindo obstinada e antipaticamente de um direito que lhe foi concedido com base
nos princípios da Revolução Francesa, mas que ainda não foi assimilado pela
sensibilidade coletiva, não deve e não deverá de modo algum, excetuando as rápidas
travessias da sala de consulta, ter acesso à penetrália das estantes.
Nota reservada: Todo o pessoal lotado nas bibliotecas públicas deve ser portador de defeitos
físicos, porque uma das coisas que se espera de um órgão público é que ofereça possibilidades
de emprego aos cidadãos vítimas de deficiências (está presentemente em estudos a extensão
deste requisito também ao Corpo de Bombeiros). O bibliotecário ideal deve ser, antes de mais
nada, manco, a fim de estender o tempo que transcorre entre o recebimento da ficha
preenchida, a descida aos subterrâneos e a volta com os livros pedidos. Para os servidores
destinados a subir em escadas para atingir as prateleiras de altura superior a oito metros,
recomenda-se que o braço que falta seja substituído por uma prótese em gancho, por
questões de segurança. Os funcionários totalmente desprovidos de membros superiores
devem pegar os livros pedidos com os dentes (disposição que tem como finalidade impedir a
entrega aos leitores de columes maiores que o formato in-oitavo).
Umberto Eco