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Construindo

Bibliotecas Populares

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O que é uma biblioteca?
Há muito tempo temos a
compreensão que bibliotecas
são espaços em que os livros
são guardados e ficam ali para
nós, às vezes, pegarmos emprestado,
às vezes para fazermos consultas
lá mesmo.
O fato é que muitos de nós nunca fomos a uma
biblioteca a não ser por uma tarefa de escola.
Isso se, um dia, frequentamos a escola e se nela
havia uma biblioteca. Quando havia, muitas vezes,
este espaço se reduzia a um punhado de estantes
com livros empoeirados.
As bibliotecas se tornaram lugares distantes de nós.
Às vezes até as admiramos, mas nunca são espaços
frequentados pela maioria da população, ou por que
não temos o hábito da leitura, ou por que não achamos
atrativo frequentá-las, ou mesmo por que a gente
chega a achar que ela não é um lugar que a gente
tenha direito de entrar. Porém, talvez o principal motivo
seja pelas Bibliotecas geralmente estarem no centro
da cidade, o que faz com que as pessoas tenham que
gastar dinheiro com gasolina do carro ou com a tarifa
do transporte coletivo para chegar nelas.

Mas será mesmo?


Uma biblioteca não pode ser nem um lugar inacessível,
nem um “templo intocável de saber”, nem um espaço
desinteressante, casa de mofo, traça e barata. Ela
tem que ser um espaço vivo, cheio de conhecimentos
pra gente mudar o mundo. Já ouviu dizer que o
conhecimento liberta?

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Mas nós podemos criar
nossa própria Biblioteca?
A resposta é SIM!
Essas são as
Bibliotecas Populares.
Quer saber como criar a sua?

O que é uma biblioteca popular?


É aquela organizada pela própria comunidade, por
um grupo de jovens ou de mulheres, por exemplo,
pertinho de onde eu vivo. É um lugar onde qualquer
pessoa pode ir – criança, jovem, adulto, idoso – onde
a gente pode encontrar muitos conhecimentos e
muita gente interessante, onde pode rolar diversas
atividades bacanas, para além da leitura e do
empréstimo de livros.
Quando participamos da construção de uma biblioteca
popular, descobrimos a importância da leitura para
conhecer o mundo, as pessoas, as coisas, para saber
quem somos, para buscar aprender o que desejamos e,
por que não, lutar por um mundo melhor. Lembra que
falamos que o conhecimento liberta?
A biblioteca pode ser um espaço de encontro da
comunidade, pois nela podemos organizar:
saraus, slams, contação de história para
crianças, discussões sobre os problemas
do bairro, pode ser um espaço para
os moradores mais antigos contarem
a história do local, oficinas de
grafite, de pintura, música;
e tudo isso ainda pode virar
um livro da própria biblioteca.

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Como organizar uma
biblioteca popular?
Formando o Coletivo de organização da
Biblioteca Popular
Primeiro a gente precisa reunir quem se interessa
por esta ideia, formar um coletivo para pensar
nos passos que temos que dar. Bora reunir nossa
comunidade? Chamar o pessoal da associação
de moradores, das igrejas, ou da escola
e propor o desafio?

Local e Estrutura
Onde será que a gente consegue um espaço
para montar uma biblioteca? Quem disse que biblioteca
não pode funcionar na garagem desocupada de
uma vizinha, no fundo de uma igreja, na sede de uma
associação e até num bar?! Tá valendo qualquer espaço
que a comunidade possa frequentar.

Começamos com um mutirão de limpeza


O lugar tem que estar limpo e seco já que a umidade
pode estragar os livros; se possível, é bom que tenha
janelas para manter o local arejado. Depois vêm as
estantes, elas podem ser de madeira – será que tem
um marceneiro na comunidade que topa fazê-las? – de
caixotes ou de metal, que às vezes dá pra conseguir por
doação. Aliás, se tiver espaço para o pessoal sentar, vale
a pena também correr atrás de mesas, cadeiras, sofá,
puff, tapete, o que der. Não deu pra conseguir tudo?

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Que tal fazer um bingo ou uma rifa para arrecadar um
dinheiro e comprar o que falta?

Indo atrás dos livros


Conseguir os livros é sempre um desafio, mas tem
muita coisa que a gente pode fazer para estruturar
uma biblioteca bacana.

Uma campanha de doação na própria comunidade;

Dialogar com as escolas do bairro;

Fazer campanha de arrecadação nas


redes sociais;

Escrever carta fazendo pedido para as editoras;

Organizar atividades para levantar uma grana


para comprar livros que são de interesse do povo e
que a gente não conseguiu doação;

E aos poucos, a gente vai formando nosso acervo.

Selecionando os livros
Que tipo de livro nossa comunidade vai gostar mais de
ler? Que livros nós gostaríamos de ter na nossa biblioteca?
E essa já pode ser uma primeira atividade de construção
da biblioteca: reunir a comunidade para ouvir sugestões
de temas e assuntos de livros. É importante responder
essas perguntas para, a partir disso, selecionar o que foi
arrecadado nas doações. Aquilo que não estiver dentro do
nosso interesse pode ser repassado ou ainda trocado. Uma
coisa legal é conversar com os professores da escola mais
próxima, com a associação do bairro etc. e ouvir sugestões
de títulos para a biblioteca. Às vezes, chegam também
livros didáticos antigos ou livros em condições muito ruins
e o único jeito é mandá-los para reciclagem mesmo.

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Organizando nossa estante
Agora que já selecionamos os livros que queremos,
é hora de organizar nossa estante. Para facilitar as
pesquisas, o melhor é dividir os livros por gêneros
e tipos, por exemplo: Romance, Infantil, Ciências
Humanas, Ciências da Natureza etc. Mas isso vai
depender de quantos livros de cada tipo nós temos,
o espaço disponível, enfim, a estrutura da nossa
biblioteca. Uma coisa que é muito importante é
procurar mantê-los sempre organizado, ou seja,
sempre guardar os livros no local certo, não deixe esse
trabalho acumular, bagunça pode afastar os leitores.
Todos os livros devem ficar “de pé” nas prateleiras
que, como dissemos, pode ser de caixotes ou feitas
por um marceneiro, ou ainda de metal. Isso facilita a
identificação e a organização dos livros. Elas devem
ser resistentes o suficiente para comportar o peso dos
livros, o manuseio fácil e evitar acidentes (deve ser
fixada na parede ou em alguma estrutura resistente);

Catalogando os Livros
Enquanto estamos organizando os livros na estante, é
bom já ir catalogando, ou seja, preparando uma lista
de quais livros nós temos. Isso é muito importante
para ajudar na pesquisa e também para controle dos
empréstimos. Existem muitas formas de fazer isso,
veja algumas delas:

Se você não tiver um computador,


pode fazer fichas dos livros, com o nome
do livro, do autor, da editora e ano de publicação.
Essas fichas devem ser guardadas em ordem
alfabética e nelas mesmas será possível fazer
o controle dos empréstimos.

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Se tiver um computador, você pode fazer
uma planilha de Excel simples, com cinco
colunas, uma com o nome dos livros em
ordem alfabética, outra com nome do autor,
outra com nome da editora, outra com ano
de publicação e outra em branco para fazer
o controle de empréstimos.

Quais os cuidados
que temos que ter
com os livros e todo
o acervo da Biblioteca?

O que não pode:

1. umidade: ela estraga os livros, criando


mofo ou inutilizando o uso do livro;
2. muita poeira: deixam uma aparência
feia e degradam o papel, principalmente
a capa dos livros;
3. luz do sol direto nos livros: com o tempo
vai fazendo marcas que deterioram
sua aparência;
4. os livros não podem ficar acomodados
no chão. Sempre deixar ao menos
20 centímetros acima do piso para
facilitar a limpeza e zelo;
5. acomodar os livros dentro de caixas de
papelão ou plásticas. Isso dificulta o manuseio,
identificação, gera sobretrabalho para quem
é responsável pelo espaço.

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O que deve ter:

1. luminosidade, natural ou não, que permita


ler em qualquer período do dia ou à noite;
2. ventilação: o papel em ambiente seco e
fechado atrai traças e até cupins, deteriorando
os livros;
3. mesinhas que permitam sentar e servir de
apoio para a leitura; mesa com cadeiras que
permitam ler coletivamente, conversar sobre
o livro ou tema, fazer anotações;
4. tapete no chão para desenvolver atividades
com as crianças;
5. um caderno para anotar os temas, títulos
ou pedidos que a comunidade local vai fazendo
para compor o acervo da biblioteca. Isso permite
fazer campanhas direcionadas de títulos junto a
organizações ou editoras;
6. um quadro ou mural onde possamos divulgar
as atividades e também onde ficam anotados
nome, data, prazo de devolução, título do livro etc
emprestados para moradores da comunidade –
isso também pode ser feito num caderno;

Organizando o dia-a-dia
Tendo um local e os livros na mão, agora
é a hora de pensar como vamos organizar
o funcionamento da nossa biblioteca.
Isso vai depender de um bocado de coisas:
de onde ela vai funcionar, de quantas pessoas
estão no coletivo, das atividades que a gente
pensa em desenvolver nela etc.
Mas, mesmo tendo tantas possibilidades diferentes, a
gente não pode deixar de pensar sobre algumas coisas.
Se a gente está falando de uma biblioteca popular,
quem cuida dela é o povo, né? Então é preciso pensar:

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Quem serão os responsáveis pela biblioteca?

Temos que ter alguém por lá o tempo todo?

Qual vai ser o horário de funcionamento?

As pessoas vão poder levar os livros pra


casa, ou só podem ler lá?

Para frequentar a biblioteca vai ser preciso


se associar?

Que outras atividades queremos fazer


neste espaço?

E tem uma coisa muito importante:


nossa Biblioteca precisa ter um nome!
A escolha do nome da nossa biblioteca pode ser um
bom motivo para conversar com a comunidade.
Existem inúmeras possibilidades de fazer isso,
o importante é envolver muita gente para que no
momento da inauguração da biblioteca as pessoas
se identifiquem com aquele espaço, inclusive com o
nome que ele tem.

Pensando um pouco sobre as


atividades que podemos
desenvolver em nossa biblioteca
Uma biblioteca popular pode ser um espaço
para as leituras individuais, mas também para
uma roda ou clube de leitura coletiva pra gente
fazer debates sobre o que lemos; podemos organizar
sessões de filmes, oficinas de produção literária
(poesia, música, conto, repente); organizar slams para

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fazer uma batalha de poesia. Cabe um mundo numa
biblioteca popular, um mundo de resistência através
da arte!
Que tal fazer um grupo de leitura para ler e debater
um livro juntos?
As experiências de atividades que podem ser realizadas
em uma biblioteca, ou em torno de sua organização,
são muitas, o importante é o princípio de que podemos
ler, escrever, falar, cantar os aprendizados, a construção
do conhecimento, a partir das várias possibilidades de
expressões artísticas, lúdicas.

Espaço para jogos

Contação de história (para as


várias idades, ter programação para
vários níveis e idades)

Música (rodas de música,


de composição... etc.)

Teatro (formar grupos de teatro,


a partir de leituras etc.)

Fotografia / artes plásticas


(a partir de obras)

Grupos de estudo (leituras, temas


de grupos específicos com programação,
palestras, etc.)

Palestras, debates, rodas de conversa

Exposições

Feiras de linguagens / Festivais / Saraus / Slam

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Algumas alternativas da
Biblioteca ir até as pessoas!
Existem muitas experiências diferentes
para compartilhar a leitura. Vamos
compartilhar algumas dessas experiências
e quem sabe, a partir delas, podemos criar
outras novas, de acordo com a nossa realidade:

Fazer um levantamento de pessoas que não


tem condições de se locomover. Fazer uma visita e
combinar quem pode levar, em datas combinadas,
coisas que ela goste de ler e outras que você pode
sugerir: revista, jornais, livros, textos etc.

Bicicleta: que tal ter uma bicicleta adaptada


numa biblioteca sobre rodas, que anda por aí para
levar livros onde as pessoas estão? Moradoras
de rua, lugares que a juventude se aglomera,
na frente das escolas são uma alternativa para
incentivo à leitura. Aqui o que importa é que
as pessoas olhem os livros, conversem com o
bicicletero e tenham o incentivo para ler um livro…

Postos de retiradas/troca de livros: ter uma


caixa com livros organizados, e bem conservados,
em alguns pontos de referência da comunidade,
pode ser inclusive em lugares comerciais, públicos
etc. O importante é que no local tenha alguém de
referência para tomar conta e colocar a caixa no
momento em que o espaço estiver aberto
ao público.

Quais outras possibilidades podemos pensar?


Bora organizar nossa biblioteca popular

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