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Narrador

O narrador em Amor de Perdição está ausente da história que narra e é caracterizado


como narrador heterodiegético por não participar diretamente na ação, recorrendo à
terceira pessoa gramatical. Este é omnisciente, pois tem um conhecimento absoluto
sobre as situações e personagens, não só o que é exteriormente observável mas
também o que sucede no interior das personagens. É do tipo intruso, pois não se limita
apenas a revelar as características e comportamentos das personagens, mas interfere
para julgar, expressar opiniões e emoções sobre a vida, os costumes, o carácter e a
moral que influenciam a história narrada.
Existe, contudo, um outro narrador em primeira pessoa, que transita livremente em
todos os tempos, e estabelece um diálogo interpessoal com o leitor. Neste diálogo, o
narrador parece querer criar um efeito de real, afirmando-se como a voz da verdade,
condicionando o leitor a aceitar as situações e as teses que lhe dirige e, sobretudo,
sublinhando que os acontecimentos que narra fazem parte da história da sua própria
família.

Crónica da mudança social


• Os contrastes entre Lisboa, a capital moderna, e a província, espaço rural atrasado;
• A justiça e a sua respetiva aplicação condicionada pela influência de
personalidades ou grupos poderosos;
• A visão negativa do povo relativamente às instituições do estado;
• A sociedade onde a tradição familiar e a preocupação com a reputação prevalecem
sobre o indivíduo;
• A instituição familiar marcada por códigos fúteis e rivalidades;
• O patriarcalismo português guiado por um código de honra excessivo e obsessivo;
• A clausura de jovens em conventos como meio de castigo;
• A devassidão dos comportamentos da classe clerical, contrária aos preceitos
religiosos e aos votos assumidos;
• A influência dos ideais da revolução francesa - liberdade, igualdade e fraternidade -
prenúncio de mudança.

Mortes por amor


A morte de Teresa leva à morte de Simão, a morte de Simão conduz ao suicídio de
Mariana.
Teresa morre amando Simão, Simão morre amando Teresa e Mariana morre amando
Simão.
Todos morrem amando.

Espaço
Se analisarmos o espaço físico em Amor de Perdição, verificamos que a ação se
desenvolve em várias cidades e espaços.
• Coimbra - local onde Simão frequenta a academia;
• Viseu - local onde as famílias dos protagonistas vivem e onde se encontra o
convento para o qual Teresa é levada;
• Porto - local para onde Simão é levado e preso e onde se encontra o convento de
Monchique para o qual Teresa é levada;
• Casa da família da Teresa - local de opressão (onde esta fica presa antes de
ingressar no convento) e de liberdade (através da janela contacta com o mundo:
Simão);
• Prisão - local que inibe a realização amorosa, impedindo o encontro dos jovens e
limitando a visão do mundo e a expressão dos afetos;
• Convento - local de sofrimento e solidão. O mirante da torre é um espaço elevado
(entre a terra e o céu), já espiritualizado, n medida em que, só através da morte, o
amor poderá ser consumado;
• Navio - local que simboliza a separação, sendo que distancia os dois amados. O
mar adquire um estatuo de espaço de libertação e de renascimento, fazendo a
ligação ao céu.

Podemos, pois, constatar, que o espaço físico da novela se caracteriza por


um progressivo afunilamento à medida que a ação trágica se encaminha para o
seu desenlace, tornando os protagonistas prisioneiros da sua própria tragédia.

Tempo
Em Amor de Perdição, os acontecimentos sucedem-se de forma linear e em ordem
cronológica, privilegiando a ação em vez da descrição.
Na generalidade da novela o tempo é marcado com datas, o que pretende reforçar os
aspetos de verosimilhança introduzida pelo narrador.
Outro elemento que contribui para o registo da passagem do tempo é o recurso a
cartas, estas representam a realidade dos factos e servem de elo de ligação entre as
personagens.
• Simão morre num lindo dia depois de vários dias de tempestade - luz e pureza de
um tempo liberto de corrupção;
• No sétimo dia da viagem o tempo fica bom - o número sete simboliza a totalidade, a
perfeição, a espiritualidade e vontade;
• No nono dia, Simão delira pela última vez - o número nove simboliza o fim de um
ciclo e começo de outro, gestação da realização, da abundância e do potencial.

Personagens

Simão Botelho
É caracterizado como um herói romântico por:
• Se destacar na luta pela liberdade humana (assume publicamente ideais
jacobinos);
• Apresentar comportamentos de rebeldia na busca dos ideais;
• Se destacar na busca do absoluto através do amor;
• Manifestar força na superação das proibições familiares e sociais;
• Manifestar um egocentrismo na procura de soluções com a consequente destruição
física e moral e arrastamento de outros (Teresa e Mariana).
O amor regenera o seu carácter, pois é a partir dele que recupera a sua dignidade

Teresa
É caracterizada como heroína romântica por:
• Ser rica, bonita, bem-nascida e educada;
• Apresentar uma fragilidade que vem a ser contrariada no momento em que resiste
à vontade do pai da casar com Baltasar;
• Ter uma personalidade firme e resoluta;
• Preferir o enclausuramento e morte a ceder a um casamento forçado; • Criar uma
rutura entre a família e a sociedade pelo amor.
O seu amor é proibido devido à rivalidade existente entre as famílias.

Mariana
É caracterizada como a mulher romântica por:
• Ter uma personalidade firme e resoluta;
• Ser dedicada e renunciar a tudo pelo seu amado;
• Possuir um carácter nobre e força sobre-humana;
• Agir sem esperar nada em troca;
• Abdicar da sua felicidade pela do amado (quando ajuda a manter o contacto entre
Teresa e Simão).
O seu amor é proibido devido à sua condição social e ao facto de este não ser
correspondido

Domingos Botelho, D. Rita Preciosa e Tadeu de Albuquerque Representam:


• O preconceito da honra social;
• A defesa do sobrenome e da classificação social;
• A tirania e a insensibilidade pelo amor;
• A pouca autonomia das mulheres (mãe por obrigação, sem afeto).

Baltasar Coutinho Representa:


• Os valores sociais instituídos;
• A mesquinhez, a vingança e a vaidade.

João da Cruz Representa:


• O homem popular português, simples e castiço;
• O "bom bandido", em que os seus crimes são substituídos por honradez e bondade;
Sabedoria e lucidez, nos seus conselhos a Simão.

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