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Construção do herói romântico

Para corresponder ao gosto literário da época, o escritor moldou o caráter de Simão,


atribuindo-lhe os traços do herói romântico:

 Temperamento ardente, impulsivo, apaixonado – “génio sanguinário”


 Orgulho e superior dignidade na defesa dos princípios – rege a sua vida por princípios
e ideias elevados, como a liberdade, a justiça (não aceita que os outros determinem o
caminho da sua vida nem que contrariem o seu amor) e a igualdade (trata João da Cruz
e Mariana como iguais).
 Rejeição das convenções e defesa de um código pessoal regido pelo sentimento –
Simão deixa-se governar e dominar pelos sentimentos, sejam eles o amor paixão, a
raiva (quando mata Baltasar), a gratidão (para com João da Cruz, pela proteção e
disponibilidade demonstradas, e para com Mariana, pela atenção e cuidados).
 Entrega total ao amor pelo qual está disposto a correr todos os riscos – Simão vive o
amor como um absoluto, como uma religião é algo de sagrado e por isso que está
disposto a sacrificar-se.
 Vivência do amor-paixão até autodestruição – apesar de Simão ter mudado
radicalmente de comportamento em virtude de ser ter perdido de amores por Teresa,
o amor-paixão provocar-lhe-á estados de raiva violência que o conduzirão ao crime
(assassinato de Baltazar), ao castigo (degredo), e em última instância à própria morte.
 Fatalidade – todos os que dele se aproximam terão o mesmo destino fatal, a morte
(Teresa, Mariana), e Simão tem bem consciência disso: “Tanta gente desgraçada que
eu fiz…”

Simão: em três fases distintas


Desconhece o amor, é… Conhece o amor, passa a Nada espera do amor,
ser… torna-se…
 Rebelde e marginal;  Sincero, fiel, amante  Revoltado contra a
 Mau estudante; dedicado; sociedade;
 Violento nas suas ações  Cumpridor;  Honrado e digno na
 Estudante exemplar; defesa dos seus
 Poético (nas cartas princípios e convicções;
escritas)  Individualista e egoísta
nas suas ações;
 Indiferente à morte;

Crónica da mudança social

Há dois códigos de honra antagónicos na luta pelo direito ao amor:

 De um lado a família, com os seus códigos de honra tradicionais, defendo o


casamento-contrato, o nome, a moral vigente, a propriedade;
 Do outro, os apaixonados, com o seu código de honra sentimental, defendem o
direito à escolha, ao amor e a fidelidade ao ser amado.

Opondo-se à autoridade paterna na escolha do casamento, os heróis camilianos estão a opor-


se às regras socias que os oprimem e os impedem de ser felizes. Reivindicam amar um ser da
sua escolha e não alguém imposto pelos interesses familiares.
Assim os apaixonados enfrentam a opressão, frequentemente configurada na prisão ou no
convento. Ao escolherem a morte, as protagonistas inviabilizam os projetos de continuidade
dos valores tradicionais que os seus progenitores lhe haviam traçado e, por isso, impõem uma
mudança que as famílias temem.

Outros aspetos que tornam esta obra uma crónica anunciadora da mudança social são:

 Uma sociedade retrógrada e feita de desigualdades, a começar pela insignificância


social da mulher.
 A corrupção da justiça, manietada pelos poderosos, como quando Domingos Botelho
interfere junto de um corregedor de forma a obter o perdão para o seu filho Manuel,
que tinha desertado do exército.

Relações entre as personagens

a) Simão e Teresa – Amor- paixão sincero, puro, excessivo, oposta às convenções


sociais e à ordem instituída.

Denuncia de uma sociedade repressiva que atua através de instituições:

 Instituição familiar (autoritarismo paterno, casamentos de conveniência, situação de


inferioridade da mulher);
 Igreja (clausura dos jovens em conventos para resolução dos conflitos);
 Justiça (prisão);

b) Famílias de Simão e Teresa – Ódio, rivalidade

Denuncia de uma sociedade governada por homens que só sabem atuar sob o signo da
violência.

c) Mariana e Simão – Amor- paixão (não correspondido)

Denúncia da autorrepressão relacionada com a classe social (povo) e com o sexo feminino

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