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UNES, Wolney. A estética da recepção – Hans-Robert Jauss e Wolfgang Iser.

Revista Estudos (Universidade Católica de Goiás), Goiânia, v. 30, n.4, p. 753-


766, 2003.

Ponto central desse modelo teórico [chamado Estética da Recepção] é o


enfoque centrado no leitor e na sua experiência estética na leitura da obra de
arte. Por leitura e leitor, entenda-se o ato de fruição e o fruidor de qualquer
categoria de obra de arte: o ouvinte de música, o passante a admirar a
arquitetura de um edifício, o apreciador de uma escultura. (UNES, 2003. p.
754-755)

“a estética da recepção se preocupa com o que acontece com o leitor após a


fruição da obra de arte” (UNES, 2003. p. 755)

Outro aspecto que é objeto de preocupação da estética da recepção é a


experiência estética como experiência do mundo: de que maneira estaria o
leitor, ao passar pela experiência estética na ficção, transpondo essa
experiência para a experiência real, para o mundo real. Decorre daí a
preocupação, por assim dizer, psicanalítica com a experiência do leitor. (UNES,
2003. p. 755)

De acordo com Iser, todo texto proporia um tema, a partir de cujos vazios e
omissões o leitor desenvolveria seu horizonte próprio. Como mecanismo
controlador, o texto logo depois propõe ainda outro tema, com o que o leitor
deve encaixar seu horizonte nas limitações desse novo tema, e assim por
diante, como num jogo de adivinhação: no decorrer da leitura, o leitor formula
várias idéias e aguarda o desenrolar do texto para verificar sua validade.
(UNES, 2003. p. 762)

Ao preencher os vazios mencionados por Iser, o leitor estaria usufruindo de


uma condição de co-autor (o co-autor de Pareyson). Essa concepção, não
obstante estar contida num pensamento deste século, já fora bastante
explorada na concepção clássica. O estabelecimento de um modelo de
composição – que se preste à reprodução infinita – serve para tornar o leitor
familiarizado com toda obra criada a partir desse modelo. E essa familiaridade
dá ao leitor, no decorrer de cada nova leitura de uma nova obra, a sensação de
poder prever seu desenvolvimento. (UNES, 2003. p. 763)

Nota pessoal: no best-seller de ficção, o autor parece se preocupar em não


romper com esta “familiaridade” mantendo o máximo de repetição formal e
conteudística (não necessariamente em termo de enredo, mas principalmente
em termos de método – repetição de estruturas e modelos narrativos).
[Relacionar isso com os pressupostos da Industria Cultural]

“essa motivação da leitura estaria ausente na fruição de obras frutos de


movimentos que visaram justamente a ausência de modelos. [...] Por negarem
modelos, obras compostas dentro dessa concepção se fazem herméticas.
Mas essa categoria de obras falha em sua premissa estética: a composição de
qualquer obra que negue total e absolutamente qualquer paradigma tende a
produzir o abstrato par excellence. [...] O que se obtém, portanto, não é uma
não-obra. É apenas nada.” (UNES, 2003. p. 763-764)

Nota pessoal: aqui, esse “nada” se configura, obviamente, na perspectiva do


leitor comum, por assim dizer. O “leitor” acadêmico vem cada vez mais
torcendo o olhar para as obras mais vendidas e consequentemente mais lidar
pelo que estou chamando aqui de leitor comum. Obs: o leitor comum, em sua
maioria, não se obriga a ser letrado em matérias mais complexas da sociologia,
antropologia, psicanálise. Na maioria dos casos, ele é apenas o cara ou a
garota que quer se divertir lendo um livro “qualquer”.

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