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Mercado de

pagamentos
em dados Balanço 2021

O ano da digitalização: Pix e cartão


contactless ganham mercado
Sumário executivo
Para o mercado de pagamentos, 2021 foi o foi a perda de market share das ditas ‘adqui-
ano da digitalização. Uma parte desse impor- rentes incumbentes’, Cielo e Rede. No último
tante fenômeno deve-se ao Pix. Em 2021, o Pix trimestre de 2020, ambas tinham, somadas,
passou a ser o principal meio de transferência cerca de 56% do mercado de adquirência no
de recursos em termos de quantidade de tran- Brasil. Ao final de 2021, esse valor passou para
sações. O número de chaves cadastradas saiu cerca de 48,7%, caindo, portanto, para menos
de quase 134 milhões para cerca de 381 mi- da metade. Além disso, uma importante parte
lhões. Se em dez/20 foram feitas 144 milhões do mercado foi capturada por adquirentes me-
de transferências, em dez/21 foram 1,5 bilhão, nores, consolidando o cenário competitivo no
um crescimento de mais de 900%. Em volume setor (‘guerra das maquininhas’).
transacionado, o Pix movimentou cerca de R$
Já focando nos setores de varejo e servi-
700 bilhões, superando Boleto e Cheque. Em
ço, era esperado que 2021 fosse o ano ‘da
relação ao seu uso para fins de pagamento,
retomada’ após o complicado ano de 2020. A
fechou o ano representando cerca de 8% do
realidade mostra que, mesmo com o retorno
valor transacionado (~R$63 bilhões).
da mobilidade a níveis pré-pandêmicos, am-
Outro importante fomentador da digitali- bos não conseguiram se recuperar consis-
zação é o cartão. Nos últimos três meses de tentemente. Alguns setores jamais consegui-
2018, os gastos com cartões foram cerca de ram retomar o volume de vendas de fev/20 e,
37% do total do consumo da família brasilei- mesmo os que apresentam volume de vendas
ra. Apenas três anos depois, chegaram a 55%. superiores àqueles de fevereiro de 2020, não
As três modalidades de cartão apresentam, têm um cenário de crescimento consistente.
no período de dez/18 a dez/21, sólidas traje- Com a população cada vez mais consciente
tórias de crescimento anual médio: crédito de novas alternativas para fazer pagamen-
com 15,2%, débito 18% e pré-pago 102%. Um tos, além de um mercado de adquirência mais
outro fator que tornou 2021 o ano da digitali- competitivo e a circulação de pessoas resta-
zação foi o papel dos gastos não presenciais belecida, o ambiente para empreendedores
e pagamentos por aproximação. Entre o últi- nesses setores é promissor, ainda que não
mo trimestre de 2020 e o último de 2021, os tenha sido possível aproveitar todo esse po-
gastos não presenciais com cartões cresce- tencial devido à piora nos fundamentos ma-
ram 25,6%, chegando a um volume de R$ 168 croeconômicos do país.
bilhões. Já os pagamentos por aproximação
Nesse sentido, em 2022 será necessário
(contactless) continuaram seu forte ritmo de
ajustar as expectativas à atual conjuntura e
crescimento, crescendo cerca de 380% entre
acompanhar mudanças que possam permitir
o final de 2020 e o final de 2021.
o aproveitamento da nova configuração do
Além da digitalização, outro relevante as- mercado de pagamentos que se solidificou
pecto que acompanhamos ao longo de 2021 em 2021.
2
1. Mercado de Pagamentos
Para o mercado de pagamentos, o ano de 2021 nas o crescimento de transferências realizadas
pode ser resumido em uma palavra: digitalização. via Pix no segundo semestre de 2021, vemos
Uma parte desse importante fenômeno deve-se um crescimento de mais de 400% na quantida-
à criação do Pix pelo Banco Central em novembro de de transferências feitas via Pix entre jun/21
de 2020. Em 2021, após um ano de crescimento e dez/21. Em termos de volume transacionado,
estrondoso, o Pix passou a ser o principal meio o Pix movimentou cerca de R$ 700 bilhões, su-
de transferência de recursos do brasileiros em perando meios tradicionais de transferências de
termos de quantidade de transações (ainda fica recursos, como Boleto e Cheque.
atrás de TED em termos de volume transaciona-
A Figura 1 ainda sugere certo grau de substi-
do, mas isso se deve muito em função de que o
tuição de outros instrumentos de transferências
valor deste é bastante inflado por transferências
de recursos. Temos, por exemplo, que a quan-
entre empresas, governos e bancos).
tidade de transferências via TED caiu cerca de
A Figura 1 ilustra de forma clara esse fenô- 44% entre dez/21 e dez/22. Por outro lado, como
meno, ao passo que a Figura 2 abre um pouco a queda de transações através de formas mais
mais o impressionante crescimento do Pix. Entre tradicionais entre dez/20 e dez/21 é bastante in-
dez/20 e dez/21, o Pix deu um salto relevante ferior ao saldo nas quantidade de transferências
em importância dentro da vida dos brasileiros. O realizadas via Pix para o mesmo período2, temos
número de chaves Pix cadastradas saiu de qua- evidências de que o Pix não só substituiu meios
se 134 milhões para cerca de 381 milhões, com tradicionais de transferência de recursos, como
essas chaves realizando cerca de 144 milhões foi capaz de expandir consideravelmente o mer-
de transferências em dez/20 e 1,5 bilhão de cado eletrônico de transferência de recursos no
transferências realizadas em dez/211, um cres- Brasil, se apresentando como mais uma opção
cimento de mais de 900%. Mesmo olhando ape- para o consumidor dentre um leque de opções.

Figura 1: Instrumentos de Transferência de Recursos

1.400 3.500
Quantidade de Transações (Em Milhões)

1.200 3.000
Valor Transacionado (Em Bilhões)

1.000 2.500

800 2.000

600 1.500

400 1.000

200 500

0 0

NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

2020 2021 2020 2021

Pix Boleto TED Outros (DOC + TEC + Cheque)


Fonte: Banco Central

1. Apesar do crescimento relevante e expressivo, este número está provavelmente inflado pela sazonalidade anual, pois tipicamente
se realizam mais transferências de recursos nos meses finais do ano.

2. Em dez/21, TED, Boletos, DOC, TEC e Cheques corresponderam a cerca de 462 milhões de transações, ou 120 milhões de transa-
ções a menos que em dez/20. Já o Pix teve um aumento de mais de 1 bilhão de transações no mesmo período.

3
M e rc ad o d e P ag a m entos

Figura 2: Evolução Número de Transações e Volume Financeiro Pix


1.500 1.500

1.350 1.350

1.200 1.200
Número de Transações (em MM)

Valor Transacionado (R$ Bi)


1.050 1.050

900 900

750 718 750


584 624
600 530 555 600
475
450 418 450
378
314
274
300 300
196
121 157
150 150
30
0 0

NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

2020 2021

Valor Transacionado Transações Fonte: Banco Central

Já a Figura 3 mostra o papel que o Pix passou semelhante ao Pix) também cresceu: saiu de
a desempenhar na economia brasileira com mais aproximadamente R$ 67 bilhões para R$ 77 bi-
relevância em 2021: ser um novo instrumento lhões, ou um crescimento próximo a 13%. Por fim,
de pagamento. Ao olharmos para o volume total vemos que, apesar de ter tido um crescimento de
transacionado através de Boleto, Cartões (Cré- 11% no mesmo período, o pagamento via boleto
dito, Débito e Pré-Pago) e Pix P2B3, vemos que viu sua importância diminuir, passando de cerca
o Pix P2B passou a corresponder, em dez/21, a de 57,5% de representatividade na soma entre
cerca de 8% deste valor, ou um total de apro- Boleto, Cartões e Pix P2B para cerca de 53% en-
ximadamente R$ 63 bilhões. Interessante notar tre dez/20 e dez/21, indicando mais uma vez cer-
que o valor transacionado especificamente com to grau de substituição para o pagamento através
cartões de débito (modalidade de cartão mais de Pix.

Figura 3: Transações P2B

PIX P2B vs TPV Total de Cartões vs Boletos PIX P2B vs TPV Total Débito
100%
100
90%
90
80%
80
Valor Total Transacionado (R$ Bi)
% do Valor Total Transferido

70%
70
60%
60
50%
50
40%
40
30% 30
20%
20
10% 10
0% 0
NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
2020 2021
2020 2021

PIX P2B Cartões Boleto PIX P2B Débito


TPV Total de Débito: Média Móvel Anual | Fonte: Banco Central, ABECS e CIP

3. Transações ‘P2B’ são aquelas de transferências de uma pessoa (CPF) para um estabelecimento comercial (CNPJ).

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M e rc ad o d e P ag a m entos

Como já introduzido pela Figura 3, o outro família brasileira. Nos últimos três meses de
importante fomentador da cada vez maior di- 2018, os gastos com cartões representaram
gitalização da economia brasileira além do Pix cerca de 37% do total do consumo da família
é o cartão em suas três modalidades: crédito, brasileira. Apenas três anos depois, no quarto
débito e pré-pago. A Figura 4 mostra o quão trimestre de 2021, tais gastos já corresponde-
importante esse meio de pagamento é para a ram a cerca de 55%.

Figura 4: Proporção dos Gastos em Cartões no Consumo da Família Brasileira

54.9%
51.5%
48.8% 48.7%
46.0% 45.0%
41.8%
39.8% 38.7%
37.1% 36.0% 37.0% 37.9%
34.2%
32.6% 33.2%

1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T

2018 2019 2020 2021


Fonte: ABECS e IBGE

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M e rc ad o d e P ag a m entos

A Figura 5, por sua vez, busca destrinchar um de débito começou a cair. Neste mês, a modali-
pouco mais esse expressivo aumento de gastos dade cresceu cerca de 30% quando compara-
com cartões. Vemos que as três modalidades de da com o valor de julho/20, mas, em dez/21, tal
cartão apresentam, no período de dez/18 a dez/21, crescimento foi de 13,4%, quando comparado
sólidas trajetórias de crescimento anual, com a com dez/20. Ainda assim, o resultado é um cres-
modalidade crédito tendo, em média no período, cimento na casa dos dois dígitos, sugerindo que
um crescimento anual de 15,2%, a de débito cer- está ocorrendo um processo de acomodação do
ca de 18% e a pré-pago, cerca de 102%. Assim, Pix P2B (cujos valores cresceram expressivamen-
em dez/21, temos que o total transacionado com te no período, como indicado anteriormente pela
cartões foi de R$ 221 bilhões, com a modalidade Figura 3), criando um novo equilíbrio entre as mo-
crédito representando cerca de 60% deste valor. dalidades de pagamento e aumentando o número
de opções para o cliente. Para entender melhor
Importante notar que, a partir de julho/21, o esse novo equilíbrio, será necessário analisar da-
crescimento do valor transacionado com cartões dos com uma janela temporal maior.

Figura 5: Mercado de Cartões: Total de Valor Transacionado (TPV)


Valor Transacionado Crescimento do Valor Transacionado (YoY)

200%
200
180%
180

160 160%
140%
140

120 120%
R$ Bilhões

100 100%

80 80%
60 60%
40 40%
20
20%
0
0%
DEZ ABR SET JAN JUN OUT MAR JUL DEZ DEZ ABR SET JAN JUN OUT MAR JUL DEZ

2018 2019 2020 2021 2018 2019 2020 2021

Crédito Débito Pré-Pago


Média Móvel Anual. | Linha vertical pontilha representa mar/20, onde se iniciou as medidas de restrição para conter a pandemia do COVID-19. | Fonte: ABECS.

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M e rc ad o d e P ag a m entos

Como a modalidade crédito é mais representa- destaca três principais pontos que podem aju-
tiva dentro de cartões, vale a pena nos aprofun- dar a explicar este importante fenômeno: 1- me-
darmos um pouco mais e entender um importante nor uso das linhas de financiamento com juros no
fenômeno que a envolve. A Figura 6 apresenta a cartão – uso consciente por parte do consumidor;
divisão da carteira de cartão de crédito para pes- 2- avanços tecnológicos nas estruturas de análi-
soas físicas entre modalidades com juros e sem se de crédito do SFN e 3- trabalho dos emissores
juros4, bem como a taxa de inadimplência total nas renegociações de dívidas e em campanhas
desta mesma carteira5. Vemos que, em dez/21 a de educação financeira. De qualquer forma, car-
parte da carteira de cartão de crédito que não tão de crédito é, hoje, uma das modalidades mais
incide juros (compras à vista e parcelado pelos acessíveis e presentes na vida do brasileiro e, as-
lojistas) representou quase 80% do total da car- sim, esse expressivo resultado de queda de ina-
teira, ao passo que, no mesmo mês, a taxa de ina- dimplência e uso cada vez maior das opções sem
dimplência da modalidade ficou em torno de 5%. juros da modalidade são fatores importantes a se
Além disso, temos que, nos últimos dez anos, de acompanhar no futuro.
2011 para cá, a taxa de inadimplência de cartão de
Com relação ao aumento da taxa de inadim-
crédito saiu de uma média anual de 8,4% em 2011
plência no cartão de crédito a partir do segundo
para uma média anual de 4,3% em 2021, em um
semestre de 2021, o resultado tem associado à
importante indicativo que tanto os brasileiros pas-
piora da conjuntura econômica do país, com maio-
saram a usar melhor este tipo de crédito, quanto
res taxas de inflação e juros e perda de renda da
as instituições concedentes melhoraram sua atu-
população. Em 2021, o endividamento das famílias
ação. Além disso, nota-se uma trajetória bastan-
alcançou média recorde de 70,9% segundo da-
te favorável nesses dois sentidos - uso cada vez
dos da Câmara Nacional de Comércio. Tal resul-
maior das opções sem juros da modalidade e me-
tado foi 4,4 pontos percentuais acima de 20206.
nor taxa de inadimplência - de 2019 para cá, com
No entanto, a piora pontual não apaga os efeitos
exceção ao período imediatamente posterior às
da evolução positiva ao longo da última década,
medidas de restrição de mobilidade, no combate à
que trouxe a maturação do cartão de crédito como
pandemia da COVID-19.
instrumento de pagamento na vida do brasileiro.
A ABECS (Associação Brasileira das Empresas Ainda assim, é um fenômeno que deve ser acom-
de Cartões de Crédito e Serviços), em seu rela- panhado ao longo de 2022 e deve ser revertido
tório anual sobre o mercado de cartões em 2021, em eventual cenário de recuperação econômica.

Figura 6: Cartão de Crédito para PF: Composição da Carteira e Taxa de Inadimplência


Cartão de Crédito PF - Com Juros e Sem Juros Taxa de Inadimplência Total - Cartão de Crédito

100% 20%

90% 18%

80% 16%
70% 14%
60% 12%

50% 10%
%
%

40% 8%
30% 6%

20% 4%

10% 2%

0% 0%
JAN AGO MAR OUT MAI DEZ JAN AGO MAR OUT MAI DEZ

2019 2020 2021 2019 2020 2021

Com Juros Sem Juros Mensal Média anual


Apenas Pessoas Físicas. | Linha vertical pontilhada representa início dos impactos da pandemia do COVID-19. | 'Com Juros' = rotativo e parcelado com juros. | 'Sem Juros' = à vista e
parcelado sem juros. | Fonte: Banco Central.

4. ‘Com Juros’ engloba cartão de crédito rotativo e parcelamentos com juros. ‘Sem Juros’, por sua vez, engloba compras à vista e par-
celamentos sem juros (parcelado lojista).
5. Taxa de Inadimplência aqui definida como a soma das carteiras de cartão de crédito que possuem parcelas em atraso há mais de 90
dias sobre o total da carteira de cartão de crédito. 7
M e rc ad o d e P ag a m entos

Outro importante fator sobre digitalização que R$ 182,7 bilhões em vendas7.


foi discutido nas últimas edições deste relató-
rio e é reforçado quando o ano de 2021 é ana- A Figura 7 atualiza os dados de gastos não
lisado por completo é o papel dos gastos não presenciais e pagamentos por aproximação até o
presenciais e pagamentos por aproximação. Tal final de 2021 e, novamente, destacam-se fortes
movimento ainda reforça que não só o cartão de crescimentos em ambos os parâmetros. Entre
crédito ajuda na digitalização da economia bra- o último trimestre de 2020 e o último trimestre
sileira por substituir o uso papel moeda, como de 2021, os gastos não presenciais com cartões
também é um importante canal para acelerar o cresceram cerca de 25,6%, chegando a um vo-
processo por ser a principal forma de pagamen- lume total de R$ 168 bilhões. Já os pagamentos
to em gastos não presenciais, como em compras por aproximação (contactless) continuaram seu
por e-commerce, que tem tido forte crescimen- forte ritmo de crescimento, crescendo cerca de
to no Brasil: 27% em relação a 2020 chegando a 380% entre o final de 2020 e o final de 2021.

Figura 7: Digitalização da Economia


Gastos Não Presenciais com Cartões Pagamento por Aproximação

R$90
R$160
R$80

R$140
R$70

R$120
R$60
R$ Bilhões

R$ Bilhões

R$100
R$50

R$80
R$40

R$60
R$30

R$40 R$20

R$20 R$10

R$0 R$0

1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T

2019 2020 2021 2019 2020 2021

Fonte: ABECS

Outro relevante aspecto que acompanhamos ao adquirência no Brasil. Ao final de 2021, esse va-
longo de 2021 foi a perda cada vez maior de market lor passou para cerca de 48,7%, caindo, portanto,
share das ditas ‘adquirentes incumbentes’, Cielo e para menos da metade. Tal mercado foi, em uma
Rede8, tanto para adquirentes não ligadas a ins- parte, capturado por Stone, PagSeguro e Getnet9
tituições financeiras tradicionais (Stone e PagSe- que, no mesmo período, saíram de quase 35% de
guro) quanto para a Getnet (ligada ao Santander, market share para cerca de 36,2% de market sha-
mas relativamente nova no mercado). No último re. Além disso, uma importante parte do mercado
trimestre de 2020, Cielo e Rede (respectivamente foi capturada por ‘adquirentes menores’, consoli-
ligadas ao Bradesco/Banco do Brasil/Caixa e Itaú) dando o cenário de ganho de competição no setor
tinham, somadas cerca de 56% do mercado de (‘guerra das maquininhas’).

6. ‘CNC (2022). Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) – Anual e dezembro de 2021.
Disponível em: https://www.portaldocomercio.org.br/publicacoes/pesquisa-de-endividamento-e-inadimplencia-do-consumidor-peic-
-anual-e-dezembro-de-2021/410541. Acesso em: 22 de março de 2022.
7. NielsenQ Ebit (2022). Webshoppers 45a edição. Disponível em: https://company.ebit.com.br/webshoppers/webshoppersfree.
Acesso em: 18 de março de 2022.
8. Primeiras adquirentes do Brasil.
9. Empresas que crescem consistentemente a taxas superiores à média do mercado.
8
M e rc ad o d e P ag a m entos

Figura 8: Market Share no Mercado de Adquirência


50%

45%

40%

35%

30%

25%

20%

15%

10%

5%

0%
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T

2019 2020 2021

Cielo Rede Getnet Stone


Vero PagSeguro Outras
'Outras' foi calculado como a diferença entre o TPV total fornecido pela ABECS e o TPV somado das adquirentes destacadas. | Fonte: ABECS e resultados trimestrais dos participantes.

Por fim, como um último dado relevante des- queda de cerca de 93% do valor transferido, che-
ta primeira seção, fazemos uma análise final do gando a R$ 337 milhões em dez/21. De qualquer
papel do auxílio emergencial e sua parcela paga forma, ao longo de 2021, foram transferidos digi-
através de meios digitais para sintetizar os resul- talmente R$ 7,9 bilhões provenientes do auxílio
tados descritos ao longo dos trimestres. Como emergencial, mostrando ainda o forte impacto
explorado mais a fundo na versão anterior deste que o programa possui.
relatório, o Auxílio Emergencial foi de fundamen- Com o fim do programa, substituído pelo Au-
tal importância no processo cada vez maior de xílio Brasil (que começou a ser pago em nov/21),
digitalização da economia brasileira. Como espe- será importante acompanhar se tal importante
rado, com a diminuição e encerramento do pro- mudança afetará, positiva ou negativamente, o
grama, os valores provenientes do Auxílio Emer- crescente processo de integração ao Sistema Fi-
gencial transferidos via meios digitais caíram ao nanceiro Nacional das camadas mais pobres da
longo de 2021. Entre dez/20 e dez/21, houve uma população brasileira.

Figura 9: Auxílio Emergencial: Pagamento Digital

12

10

6
R$ Bilhões

MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

2020 2021
Apenas parte do Auxílio Emergencial movimentada via meios de pagamento digitais. | Fonte: ABECS
9
2. Vendas em Varejo e em Serviços
Era esperado que o ano de 2021 fosse o ano forte queda de 2020.
‘da retomada’ nos setores de varejo e serviços.
Após o complicado ano de 2020, estes dois se- A Figura 10 atualiza os dados exibidos no últi-
tores que são profundamente dependentes do mo relatório de pagamentos e mostra a trajetória
encontro e circulação de pessoas e, portanto, al- da mobilidade em locais ligados ao varejo e lazer
tamente impactados pelas medidas de restrição entre fev/20 e dez/21. Nota-se que, a partir de
de mobilidade, esperavam ver o volume de suas mar/21, a mobilidade desses locais começou a
vendas aumentar ou, pelo menos, se recuperar crescer de forma consistente, chegando a valo-
de forma definitiva dos impactos da pandemia. A res muito próximos aos pré-pandêmicos (e flutu-
realidade mostra que, mesmo com o retorno da ando ao redor deles) a partir de set/21, com o es-
mobilidade a níveis pré-pandêmicos, ambos não perado pico de compras perto do Natal e a queda
conseguiram se recuperar consistentemente da durante as festas na última semana de 2021.

Figura 10: Tendência de Mobilidade em Varejo e Lazer

30%

20%
Tendência de Mobilidade em Varejo e Lazer

10%

0%

-10%

-20%

-30%

-40%

-50%

-60%

-70%
FEV MAI SET DEZ MAR JUN SET DEZ

2020 2021

Média móvel semanal da mudança percentual de mobilidade em relação ao valor base. | Tendências de mobilidade de lugares como restaurantes, cafés, shopping centers, parques
temáticos, museus, bibliotecas e cinemas. | O valor base é a mediana do dia da semana correspondente, durante o período de cinco semanas entre 3 de janeiro e 6 de fevereiro de 2020.
Fonte: Google.

Era de se esperar, portanto, que as atividades A Figura 11 traz os volumes de vendas dos mais
tanto no Varejo quanto em Serviços seguissem diversos segmentos dentro do comércio varejis-
trajetórias semelhantes de crescimento. O que no- ta, com fevereiro de 2020 (último mês antes dos
tamos ao longo de 2021, porém, foi um crescimen- impactos da pandemia passarem a fazer efeito)
to após os piores momentos em termos de mobili- como mês base e, portanto, igual a 100 e já ajus-
dade social ocorridos em 2020, mas longe de ser tadas sazonalmente.
algo consistente e que se sustentou no tempo.

10
Ve n d as e m Vare j o e e m Ser viços

Figura 11: Volume de Vendas no Comércio Varejista, por setores

Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos Combustíveis e lubrificantes

120

100

80

60

40

Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação Hipermercados e supermercados

120

100

80

60

40

Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo Livros, jornais, revistas e papelaria

120

100
Fev/20 = 100

80

60

40

Móveis e eletrodomésticos Outros artigos de uso pessoal e doméstico

120

100

80

60

40
JAN MAI OUT FEV JUL DEZ
Tecidos, vestuário e calçados
2020 2021
120

100

80

60

40
JAN MAI OUT FEV JUL DEZ
Média móvel trimestral ajustada sazonalmente.
Fonte: IBGE.
2020 2021

Chama a atenção o fato de que alguns setores Como destacado em outros relatórios, os seto-
jamais conseguiram, ao longo de 2021, retomar o res ligados ao supermercado mostraram-se bem
volume de vendas de fev/20, em especial os se- mais resilientes à crise, mantendo patamares de
tores de Combustíveis, Materiais para Escritório e volume de venda sempre um pouco maiores do
Livros/Papelaria. Com este último, inclusive, man- que aqueles observados em fev/20. Por exemplo,
tendo-se em um volume de vendas cerca de 40% em dez/21, o setor de “Hipermercados e super-
menor do que aquele de fev/2020, inclusive em mercados” atingiu um valor de cerca de 2% maior
dez/21. Já o setor de “Combustíveis e lubrifican- do que fev/20. Já o setor de “Hipermercados, su-
tes” também nunca conseguiu recuperar patama- permercados, produtos alimentícios, bebidas e
res de volumes de vendas iguais a fev/20, ficando fumo” atingiu um valor de cerca de 1% maior. Ob-
sempre em torno de 10% abaixo, com um volume serva-se que, mesmo nestes setores, parece não
de vendas em dez/21 cerca de 12% menor do que haver uma trajetória consistente de crescimento
aquele de fez/20. no volume de vendas, ficando em valores estáveis

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Ve n d as e m Vare j o e e m Ser viços

A Figura 12, por sua vez, apresenta os volumes em fev/20, ao passo que em dez/21, o setor atin-
de vendas entre jan/20 e dez/21 para segmentos giu um volume de vendas cerca de 12% abaixo de
ligados ao setor de Serviços, também com feve- fev/20, melhor resultado encontrado pós-pande-
reiro de 2020 como mês base e com os valores mia. No entanto, apesar deste crescimento con-
ajustados sazonalmente. Os segmentos ligados sistente ao longo de 2021, o segmento ainda se
à "prestação de serviços às famílias” foram os encontra consideravelmente abaixo do patamar
mais afetados pela pandemia. Como citamos em pré-pandêmico.
edição anterior deste relatório de pagamentos, o Dois segmentos de Serviços que parecem apre-
segmento de “alojamento e alimentação” (inclui sentar trajetórias mais sólidas de crescimento são
hotéis, restaurantes etc) chegou a ver seu volume os segmentos relacionados à transporte e à infor-
de vendas reduzido em 60% no auge das medidas mação. O primeiro viu seu volume de vendas au-
restritivas no combate à pandemia. Ao longo de mentar cerca de 11% ao longo do ano, atingindo
2021, observamos uma trajetória de crescimento um patamar cerca de 10% superior àquele de fe-
de volume de vendas um pouco mais consistente vereiro de 2020. Já o segundo, cresceu cerca de
para este segmento. Em jan/21, o volume de ven- 10% ao longo de 2021, atingindo um patamar cerca
das estava cerca de 30% abaixo daquele obtido de 12% maior do que aquele pré-pandemia.

Figura 12: Volume de Vendas em Serviços, por setores


Serviços de alojamento e alimentação Outros serviços prestados às famílias

120

100

80

60

40

Serviços de informação e comunicação Serviços profissionais, administrativos e complementares

120

100
Fev/20 = 100

80

60

40

Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio Outros serviços

120

100

80

60

40
JAN MAI OUT FEV JUL DEZ JAN MAI OUT FEV JUL DEZ

2020 2021 2020 2021

Média móvel trimestral ajustada sazonalmente.


Fonte: IBGE.

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Ve n d as e m Vare j o e e m Ser viços

Assim, vemos que até em setores ligados ao da taxa básica de juros, criaram um cenário bas-
comércio e ao serviço e que apresentam pata- tante adverso ao comerciante e prestador de ser-
mares de volume de vendas superiores àqueles viços brasileiro: juros e inflação altos contraem,
de fevereiro de 2020, não temos um cenário de ao mesmo tempo, a demanda por crédito (devi-
crescimento consistente no período após o fim do ao aumento de juros, o preço do crédito), o
das medidas mais restritivas à circulação de pes- que consequentemente diminui a quantidade de
soas. O motivo pelo qual tais setores tão vitais investimentos, e a demanda por produtos (devi-
para a economia brasileira não se recuperaram do ao aumento da inflação). O resultado dessa
totalmente está intimamente ligado a alguma das combinação é uma queda importante no poder
trajetórias das principais variáveis macroeconô- de compra do brasileiro, fator essencial para um
micas do país. A Figura 13 traz luz novamente a crescimento sustentável dos setores de Comércio
esta questão. e Serviços, ainda mais quando a taxa de desocu-
pação da população brasileira está em patamares
Ao longo de 2021, um dos principais proble- bastante elevados.
mas para a retomada do crescimento dos setores
de varejo e serviços sem dúvida foi a forte onda A Figura 13 também apresenta a taxa de de-
inflacionária que atingiu o país ao longo do ano. semprego trimestral obtida da PNAD contínua,
Vemos, na Figura 13, que o IPCA, principal medi- computada pelo IBGE. Vemos que, ao longo de
dor de inflação do país, saiu, no valor acumula- 2021, saímos de uma taxa de desemprego de
do de 12 meses, de 4,56% em jan/21 para 10,06% 14,5% para o trimestre nov/20-dez/20-jan/20 para
em dez/21, com um pico de 10,67% em out/21. Tal uma taxa de desemprego de 11,2% no trimestre
crescimento preocupante da inflação10 fez com nov/21-dez/21-jan/22, uma queda de 3,3 pontos
que o Banco Central aumentasse de forma signi- percentuais. Apesar desse importante movimento
ficativa e rápida a taxa SELIC, taxa básica de ju- de queda, o ritmo da retomada do emprego pós-
ros da economia brasileira, com o intuito de tentar -pandemia ainda é bastante lento, com o desem-
amenizar a trajetória de crescimento da inflação. prego ainda atingindo picos de mais de 14% ao
longo de 2021. Em termos de quantidade de pes-
A alta geral no índice de preços e consequente soas, ao final de 2021, havia cerca de 12 milhões
resposta da autoridade monetária com o aumento de brasileiros desempregados.

Figura 13: Juros, Desemprego e Inflação

SELIC Anual e IPCA Acumulado em 12 Meses Taxa de Desemprego

15.0% 15.0%

13.5% 13.5%

12.0% 12.0%

10.5% 10.5%

9.0% 9.0%

7.5% 7.5%

6.0% 6.0%

4.5% 4.5%

3.0% 3.0%

1.5% 1.5%

0.0% 0.0%
JAN MAI OUT FEV JUL DEZ JAN MAI OUT FEV JUL DEZ

2020 2021 2020 2021

SELIC Anual IPCA Acumulado em 12 Meses


Fonte: Banco Central e IBGE.

10. Os principais motivos do aumento geral de preços ao longo de 2021 foram explorados na versão anterior do relatório.

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M e rc ad o d e P ag a m entos

3. Considerações finais
Se em 2020 havia dúvida se os pagamentos di- Em um cenário cada vez mais digital com a po-
gitais seriam restritos ao contexto de maior restri- pulação cada vez mais consciente de novas al-
ção da pandemia, ou uma tendência que veio para ternativas para fazer pagamentos, além de um
ficar, 2021 confirmou a aposta na digitalização mercado de adquirência cada vez mais compe-
contínua da economia brasileira. O crescimento titivo e a circulação de pessoas restabelecida, o
do Pix e do uso de cartões não presencialmente ambiente para empreendedores nos setores de
e por aproximação refletem o futuro do mercado varejo e serviço se mostra promissor. No entan-
de pagamentos no país, com uma população cada to, ainda não tem sido possível aproveitar todo o
vez mais acostumada a utilizar meios digitais de potencial dessa nova configuração do mercado
pagamento. Mais da metade do consumo das fa- de pagamentos devido à piora nos fundamentos
mílias sendo feito por meio de cartões, a melhora macroeconômicos do país. Para 2022, portanto,
ao longo da década no perfil do uso do cartão de será necessário ajustar as expectativas à atual
crédito e a adesão massiva ao Pix junto do impac- conjuntura econômica e acompanhar eventuais
to do Auxílio Emergencial indicam que o fenôme- mudanças que possam permitir o aproveitamento
no deve continuar crescendo nos próximos anos de todo o potencial das transformações que se
após o pontapé de 2021. solidificaram em 2021.

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M e rc ad o d e P ag a m entos

Contribuíram para este documento:


Bruna Cataldo Guilherme Vergara
Gabriel Madeira Rômulo Carvalho

Mais informações: contato@institutopropague.org

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