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Bom dia, amigos do Estação Cultura, bom dia Teca Lima.

Olá, amigos do Estudio 77, salve Alexandre Ingrevallo.

Em 1656, os rabinos da Sinagoga de Amsterdã emitiram uma condenação


contra o filósofo holandês Baruch de Spinoza. Dizia assim:

“Por decreto dos anjos e mandamentos dos santos homens, nós


excomungamos, expelimos, amaldiçoamos Baruch de Spinoza. Que seja ele
maldito de dia e de noite, no seu deitar e no seu levantar. Maldito seja ele ao ir
e ao retornar. Que a ira do Senhor arda contra esse homem, e todas as
maldições caiam sobre ele, e que o Senhor risque o seu nome sob os céus.
Que ninguém a ele dirija a palavra nem ouça o que ele diz. Quem com ele
conviver sob o mesmo teto também será igualmente maldito . Que ninguém
fale com ele ou sobre ele. Nem leia o que ele escreve”

Forte, não? O que terá feito Spinoza para receber tão pesada condenação?
Por que foi ele afastado do convívio de quaisquer pessoas, até mesmo da
família? Por que tanto ódio e tanta discriminação contra um filósofo, em plena
era do Iluminismo, que trazia luzes cientificas e filosóficas contra o
obscurantismo que reinara até então em tantas partes do mundo?

O que aconteceu é que Spinoza ousou levantar questões que iam contra os
dogmas da religião judaica, e que ainda hoje nos fazem refletir: Deus existe?
Não existe? Se existe quem ele é? É um ser que vive lá em cima nos vigiando,
nos premiando ou nos castigando? Ou são energias? Ou simplesmente, como
disse Spinoza, é a natureza? A natureza, tudo que a gente vê, o que a gente
toca, e que se transforma no dia a dia? Essa idéia do Deus-Natureza abalou a
comunidade judaica na época. E daí a punição. Mais tarde, Einstein diria: se
acredito num Deus, é no Deus de Spinoza, um Deus que se manifesta na
harmonia de tudo o que existe, e não num Deus que se preocupa com o
destino e as ações dos homens".

Para além da discussão filosófica e da beleza dos pensamentos e palavras de


Spinoza, as idéias desse filósofo que se recusou a renegar os seus escritos,
incluídos na imensa relação de livros proibidos pela Igreja, ainda ecoam nestes
tempos em que o conceito de um Deus controlador dos destinos dos homens e
das nações continua sendo utilizado por governantes de várias partes do
mundo, por politicos inescrupulosos e até mesmo por gente que se diz “homem
de Deus”. São os implantadores do temor, os demagogos da religião, os
desavergonhados populistas da fé, para quem Deus é um instrumento a ser
manipulado em favor dos seus próprios interesses. É o Deus-mercadoria, o
Deus-panfleto, o Deus-partidário. Justamente o que Spinoza dizia que não é
Deus.

Fernando Pessoa, com a caligrafia do seu heterônimo Alberto Caeiro, escreveu


que Deus nem devia ser chamado de Deus, no final de um poema que diz:

Se Deus é as árvores e as flores / E os montes e o luar e o sol, /


Para que o chamo de Deus? / Se ele me aparece como sendo árvores e
montes / E luar e sol e flores, / É porque ele quer que eu o conheça /
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

Olha o Spinoza aí, na caneta do Fernando Pessoa. O Deus de Spinoza, além


de um conceito que até hoje continua sendo discutido, é também o nome de
uma peça em cartaz na cidade, que trata sobre tudo isso que estamos falando,
e mais, bem mais. Parece árido, mas é encantador, porque as idéias e a
inteligência sempre terão o dom de nos encantar. O texto de Spinoza foi
cuidadosamente tratado por Régis de Oliveira, a direção meticulosa é de Luiz
Amorim, e o elenco é encabeçado por Bruno Pirillo, numa atuação envolvente.
O Deus de Spinoza está no Teatro Itália Bandeirantes aos sábados e
domingos, até o final de abril.

Esta semana no programa Persona, na TV Cultura, a nossa convidada é a


atriz, compositora, roteirista, Patricya Travassos, que começou a sua carreira
no histórico grupo Asdrubal Trouxe o Trombone, depois passou com mala e
cuia para a banda Blitz. Mais tarde, foi uma das criadoras da também histórica
série Armação Ilimitada, e aí a sua carreira tomou rumos variados, com
novelas, filmes, peças, livros, musicas. Patricya Travassos é várias numa só, e
estará nos falando das suas multiplicidades no Persona de domingo às 9 da
noite, na TV Cultura. Garanto que é uma boa pedida.

Por hoje é só. Tenham todos uma boa semana na companhia da Teca Lima e
do Estação Cultura, um programa realmente divino. Até quarta-feira que vem.

Por hoje é só. Tenham todos uma boa semana na companhia do Alexandre
Ingrevallo e do Estudio 77, um programa realmente divino. Até quarta-feira que
vem.

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