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O direito transforma se a cada dia, pouco iínportantio se seus observadores Dessa forma. alguns dos temas de que passaremos a tratar não possuem sls
dão seconta ou não. Direitos fatossãoindissociáveisla tnudançade um implica a tematlcidade teórica facilmente identificável: aqui foram unidos apenas porque
transformação do outro. O direito. nunca será demais lembrar, é um nível clo todo incidem sobre a realidade do di Feitocomercial. ora dando sequência a fatos passa
social e. como tal, impacta e é iinpactado peia diTnensão que regula. "ÍOI direito dos, ora a eles mesclando se
clc nosso [empojá é outro. apesar da douLrinajuridica. apesar dos juristas: apesar
Cada um dessesargumentos demandada análise monográfica. Assutnlmos.
clo ensino ministrado nas Faculdadesde di reino.":
contacto. o risco de seu tratamento mais raso para obter xisto partorãtnica dos
2. MuitosauLores ignoram o novo contexto. comose vívêsscinos nos anos 70 B abalos sohidos pela matéria; impôs se o sacrifício da prorunclidade para obserx,ar.
ou mesmo no segundo pós guerra. "Descoberta" a empresa, estancou sc a teoria a uln só le lnpo. todo o horizonte que nos circunda
geral. Seguimos atribuindo à sua disciplina .jurídica ares de novidade. enquanto
Adverte-se que a opção pela exposição pontual nãn de\ e impedir o reconhe-
caíamos diante das m udançassocioeconómicas que se seguiram a 19q2. '
cimento de dois processosigualmente importantes paraa compreensãodo direito
A partirão final dadécadade70 vimosno primeiro capítulo osdoutrinadores mercantil contemporâneo, que se Fazemperceber neste capítulo: a superação cla
brasileiros perfilaram se, reconhecendo na emires« o cko do direito come'rric{/. Nesse antiga dicotomia clo direito privado -- e a função desempenhada pela empresa no
aspecto, o advento do CC/2002 não foi acompanhado do.»'íssortque costuma cercar contexto qtle daí advém -- e a consolidação do ciircito do consumidor.
novos diplomas geraisl praticamente todos os manuais. seguindo o pioneirismo cle
Por fi m , resta notar que algumas das modificações apontadas forçaram o direi to
Requião, haviam incorporado a teoria e não se levava mais tanto a .sério o ensino dos
mercantil a extrapolarsuas fronteiras tradiciona is.superando o viés excessivamente
aios de comércio.' O então novo Código Civil apenasconsolidou o que se tinha por
privatista de sua tradição e acentuando seu entremeio com a implementação de
óbvio: o di reino comercial é o di Feito das empresas nu: ao menos. delas tira sua uni(]ade.
políticas públicas. Revela-seseu papel determinante na configuração das feições
Mas será essavisão suficiente para explicar o direito comercial ou ela: frouxa do mercado. Indo além da mera disciplina da atuação dos agentes económicos.
c manca. não acode à realidade? Bastaria a empresa? Mudariam os mercadores ou
m udou o direito mercante l?
}Í.2 Superaçãoda elegante discu!;sãosobre a dicotomia entre direito ci
3. Na buscada respostaa essasindagações.trataremos de tópicos que, ao vil e direito comercial pela realidade
menos à primeira vista, pouca ou nenhuma i-ilação guardam entre si. Explica-se
assimo termo palimpsestoaqui empregado:tai como um pergaminho no qual se 4. Há mais de século reproduzem-se discussõessobre a conveniência da
escreve. apaga se, e se reescreva -- e que permite o reconhecirneilto dos primitivos unificação do direito privado, amalgamando as disciplinas civi l e comercial.'
caracteres-- o direito comercial mostra-se como tela contra a qual se projetain,
concomitantes. as modificações que o atingiram e que convi\em com as caracte-
rísticas provenientes do passado. 5 Se Teixelra de Frotas pocic scr considerado o arauto da unihcação. Ciovis Bevilaqua é
o alto defensor da scparação entre as disciplinas Para exposição da crítica ao pensa
iTlenLOde Feixetradc Frcilas. v. Código Civil dos [staclos t/rtido\ c]oBrasil mrttmen]ado~
vol. 1. p. 67 e ss. Desloque-seque (:covis indicava as seguintes razõesLleordem prática
2 Elos Roberto Grau: O dircíro possof: o dirá'iro prcssuposro. 1] 3. para a existência de regulação específica para as relações mercantis: lil o comerciante
3 [em o dever de manter sua escrita de acoi-do com as formalidades legais. pois sem a
lábio Kondcr Comparado. no inicio da décadade 70. referia se ao "irritante problema" da
natureza .jurídica da empresa: "Quase trinta anos iá lranscorreraln clcsclca promulgação devida escrituração"o commercio não offercccria garantias sufficientes ao publico,
do Código Civil italiano. que fêz da ftnpirsa o insLituLOchave clo scu livro cluinto. Det assim col-no Ihc faltaria. muitas vezes, dcfeza segura para actos praticados em boa IC
Lclvoro:e os juristas peninsulares ainda não se puseram de acordo cluanLOao sentido seria "vcxatório" impor essedever a todos os indivíduosl liil deve ser mantido o valor
do termo. ou t)s perfis do irlstiLuto. Tcm-sea Impressãode assistir. em plena era da probante dos livros comerciais, para que não sc.jaavultado o "segrcclo das transições
compuLacão elctrónica c das vittgcns interespaciais, à ressurreição da velha querela dos liiil sente se a necessidade da existência clo "instituto cia forma ou razão comercial. quc é
universais. que consumiu boa parte da ativlda(le intelc('tuas da l(lacreMédia"(,'\specfos o nome do negociante singular. no tráfico mercantil. ou da socleclade, em que há sócios
jur idicos dcl ma( lo-empréscl. 3) indefinida e solidariamente responsáveis": bvl peculiaridades das operaçõesbancáúas,
4 Em testemunho clcsscfato: relata Fabio Ulhoa Coelho (lue "o clirciln ('omcrcial brasileiro clo cheque. clo instituto das clcaring house.s:lvl peculiaridades tias leiras de câmbio e
filia-sc: clesdc o ultimo quarto do século XX: à teoria da cmpre'sa" (CLll'sedc clircifo co dos protestos: ]vi] peculiariclacles do clÊreiLOprivado marítimo (Código Civil dos Estados
mercía!, vo}. }, 26). Unidosdo Brasií commentado,vo!. 1. 75).
78 :\ EVOE.UCAO DO DIRE11'0 CON'íERCI/\l. BRASil.EIRA I'Rf\NSFORF«!/\ÇOE\GERAISNC)D[REITO CONiERCld\l
Na esteira dos estudossobre os limites da matéria dc comércio. desponta, aparte-se cla premissa geral para chegar se à conclusão individual) . .qdemais. apenas
no Brasil. o debate sobre a unificação do direito privado. "Não se pode separar o direito comercial assumeíndole cosmopolita, que decorre do próprio comércio.
itnpunemente as partes de um corpo, que (]eve ser homogéneo." Com essaco- Somente ao direito comercial toca a regulação dos negócios de massa. Por fim, há
nhecida frase. Teixeira cleFreiras defende a Fusãodos direitos civil e comercial na institutos típicos e exclusivos do direito comercial , tais como os títulos de crédito-
cada enviada ao Ministro Nabuco dc Araújo. em 185+. Ao se referir à influência No passado.o direito mercantil cra consideradodilectode classe,gerador
cladisciplina comercial sobre a civil. queixa se de que os redutores clo Código Co- de privilégios para os comerciantes -- não extensíveis aos fazendeiros. Explica-se
mercial Brasileiro, a exet-ópiodos espanhóis. "exorbitarão tainbem. exorbitarão dessa forma a reação por parte cla doutrina civilista brasileira. que pretendia. na
com demazia, -- inercantllizarão quase tudol"(Additattlcn(os ao Cocligo do Comer- verdade, não a supressão das regalias, imãs que elas passassem a assistir também a
c:lassoagrícola.'
cio, voE.1. xil). O direito comercial édireito de exceçãoe o Código Comercial. por
conta da deficiência cla legislação civil brasileira. diploma blue"contém muitas Pareceque poucosse deram conta cleque há muito desapareceram
as lazões
matériasde Direito Commum. quelha não pertencem"(Consolida(ão dasleis ( i- queembasavam ascrí(i«]sãdi comia. Em 19]0, na primeiraediçãodeseu tratado,
vis. xxxix). Não sejustlftca o tratamento apartado do direito comercial: "Minhas advertia Carvalho cle Mendonça: "As differenças que subsistem entre essesdois
icletassão outras, resistem invencivelmente a essa calamitosa duplicação de leis ramos do di retro pri''.'actonada têm de essencial".'
civis. não distinguem no todo das leis desta classealgutn ramo. que exija um Có- 5. A bem daverdade. a doutrina brasileira encontrava diliculdadeparaclas-
digo do Comércio" (carta enviadapor peixeira cie Freirasao Ministro Ribeiro de sificar os negócios entre civis e comerciaisl como admite Bulgarelli, "a distinção.
Andrada, em setembrode 18C)7,transcrita por Silvio Moira, Tcixeiradc Frei(as. O na prática, entre os contratos civis e mercantis perdeu muito da sua importância
juriscorisLllfo do /Fnpério,352). Posteriormente, no campo do direito comercial, a inicial, com aunificaçãoclaJustiça[...]".: Assim.a necessidadec]edistinção advinha
compreensão de Teixcira dc F Feitas será retomada porlnglezde Souza, que deixará das "diferenças no tratamento de certos contratos por ambos os códigos" ,qe não
claro o [/aço polfticoda busca pela eliminação dos favores c]ass]stas outorgados aos de questões materiais. Destaca claramente Fran Marfins. "jrjegem a matéria das
comerciantes. "A desigualdade de {raLamento de pessoasque exercerll runcções obrigações, de modo geral, as normas do direito civil"
sociais cleeviclentcanalogia é um dos principais inconvenientes da dichotomia N essalinha, I'lixeira de F Feitassustenta que as disposições gerais referentes
do direito privado 1...1. Nosso sistema agrícola. o trabalho dos estabelecimentos aos contratos mercantis, constantesdo Título V do Código Comercial. "forço só
mais importantes tem o feitio de uma especulaçãocommercial e só em pormenores moLivadas pela pobreza do nosso Dotei(oCivil Pült'ioi" 1...1.e não porque -- para os
se distingue clequalquer manufactura, sem affectar a essencia mercantel do acto, contractos emgel-al -- hajão, ou devão haver, disposições excepcionais no Direito
quc por preconceito sc Ihe nega"(Prole((o dc Código Commercia1,5 e ss.No mesmo Contmercictl.A prova esta.em que são do Difcifo (:ivll todas as disposições elos
sentido. Dita'ílo corttitlercia1. 29) ans. 12] á 139, impostas no Coca.como de Direito Comtnercialpelascostumadas
Mais adiante no tempo. vê-se a dicotomia do direito privado sob a ética cle exagerações dos aspectos parciais. 1...1 Dc tais cxagerações. aliás destlnaclas ao
Vivante exposta na aula inaugural proferida na Universidade de Bologna em 1892. bem das excepçõesdo Direito Commercial.resulta mal para as interpretações do
A dicotomia havia de ser superada porque: 111mantinha-se mais pela tradição do Direito Clivil. tirando-se-lhe o que Ihe-pertence, e minando-se-lhe as bases de sua
que pelas boas razões:Ílil causava danos de índole social ejurídica -- pessoas que constante applicação" . ' l
não são comerciantes ficavam sujeitas às suas regras, talhadas para os me rcadores;
liiil trazia prejuízos para o progresso científico. pois os comercialistas não estu-
6 Cf. Elos coberto Grau sobre ]c]xcira de Freiras: Do oJt(to c]f oladoí : ]08
dariam as regras gerais. Os "improvisados jurisconsultos" referem. a toda hora,
7 [?-atadode direito comlne ciat brazíieí70,vo}. 1, ]9
contratosstli geReI-is(Perun codice unico della obbligazioni, e também scu Trafafto
8 Contratos rtlc'r(anrís: 38. .Amesma observação é Feitapor Waldemar Ferrelra, ]tarado de
di dixit(o comlnticÍale, 3. ed.. g l.', sobre a unlclade do direito privado).
diFcito cometcícii, vo1. 8, p.] 0
Vivante [oi incumbe(]o de e]aboraro anLeprojetode reformado Cóc]igoComer- 9 Contratos mercantis, 38
cial italiano e alterou sua convicção . Conforme expõe na 5.' edição de scu I'ratfafo, .4ddítamert(osclo Código do Commercio. pub]icado cm ]878, ou sc.la:muito antes da
há di ferenças de método que impedem a unificação: o direito comercial vale-se cle promulgaçãodo primeiro Código Civil brasileiro.
método indutivo(conclui-se a regra com basenos ratos e, portanto. a conclusão Addffamfntos ao Código cloCommcrcío.vo1. 1: 522. Para a visão global da obra de Teixeira
é mais geral do que a premissa 1,enquanto, no direito civil, o método é dedutivo de Frotas em relação a unificação do direito privado, v. Orlanclo de Carvalho, Telxeira
80 1 À UVOLLÍCAo i)O DiREiTo) COM[RCI.AL iIR.\SiLEiRn TRANSFQRMAÇQ[S GERAIS NO DIR'EITO COMERCi'.AL
Comparado chega a afirmar: " Itjemos, pois, que não há, propriatnente. con- trabalhadores.não pode oppõr a sua escripta ao commerciante com quem venha
traposição de dois sistemas.jurídicos distintos, em matéria de obrigações: o do a ter contestaçãojudiclal"
Código Civil e o do Código Comercia]. O que há é um só sistema, no qual os dis- l iil aoagricultor não assistiao direito de celebrar concordatacom seuscredo-
positivos do Código de Comércio apareceremcomo {nodificaçõesespecíficasdas res. Inglez cle Souza refere-se a esse fato como "odiosíssilno privilégio em relação
regrasgerais da legislação civil, relativamente às obrigações e contratos mercantis. ao fazendeiro" . Ao contrário do comerciante. a quem são facultados o acordo com
A duplicidade legislativa aparece, tão-só. no que tange a essasregras de exceção, os credores e a continuação dos negócios "como se não tivesse quebrado" . "o agri-
dentro do sistema global" . ' : cultor nem com amenor porcentagein de rebatese pôde quitar. qualquer que se.ja
Por fim. Waldemar Ferreiro: "não difere, com efeito, essencialme11te.a obri- a causa cleseu atrazo. e fica sempre: de pae a filho, responsável pela divida que foi
forçado a contrahir. e não ralo succede que o fazendeiro é apanhado pela fallencia
gação comercial da civil . Não se distingue a rclaçãojurídico-comercial dc qualquer
do commissario. que o obriga a soffrer rebate no seu credito . emquanlo Citeproprio
outra. .Aessência é sempre a mesma".''
é perseguido e executado por outro negociante que Ihe tira os últimos recursos,
Assim. a "elegante discussão" arrasta-seao longo de décadasmais por amor destruindo o patrirnonio clafamília" : e
ao debate do que por necessidade. Como veremos adiante, as poucas diferenças liiil sujeitava-se àjurisdlção comercial e às leis comerciais "quem quer que.
significativas entre as matérias permanecem, mesmo após a unificação operada sem a menor idéa de especulaçãomercantil. contracto com um negociante, ou
pelo novo Código Civil. '' pratica algum dessesactos da vida corrente que a legislação de todos os povos
considera de natureza mercantil
!$.3 A derrocada dos privilégios SegueInglez de Souzadestacandoo que Ripert denominada "commerciall-
6. A doutrina clássicadebruça sesobreospriviiégiosdoscomercàantesque, satlon du drolt"::' "E o direito civil que se funde, por assim dizer, no commercial.
no final do sécu]o X]X. eram sentidos de forma aguda. ]ng]ez de Souza. em 19] 3, influenciado pelo interessesocial que prima ao individual".i;
dá notícia dessecontexto ,revoltando-se contra a desigualdado de tratamento entre Resumindo as razões indicadas por [nglez de Souza. conclui-se que as prin-
o comerciante e o agricultor, "pessoas que exercem funções sociais de evidente cipais diferenças entre o regramento civil (identificado cota o selar agrícola) e
analogia" . "Emquanto as leis civis e as commerciaes forem ieisdistinctas. o di rato o comercial residiam nos privilégios: lil da oposição da escrita como prova em
processosjudiciais; liil dajurisdição especial; e liiil da concordata.
civil não poderá escapar ao formalismo estreito do Código Napo]eão e ás iniqui-
dades que são, por assim dizer. a sua base,por que etle assentaem preconceitos Analisemos a evolução que o tempo reservou a cada ul-nadessasprerrogativas.
burguezes e legisla mais para o patrirnonio do que para as pessoas."': Íi.4 Imposição de escrituração a terceiros
Colocam-se cm destaque as seguintes dilcrenças:
lil enquantoo menosimportante doscomerciantes"gozado privilégio de 7. A concessãoda primeira vantagemapontadapor Inglez de Souzatinha
em sua origem o escopo de simpZjrícaro [r(d"icomercarirfl '' e garantir o segredodos
fabricar prova a seu favor, valendo-sc da cscripturação dos seus próprios livros (tss rlt e tos (Íos c0}71ercÍanfês.t9
para demonstrar a responsabilidade alheia. o dono clo estabelecimento agrícola.
com o capital de centenas de contos de réis. utilizando o trabalho de centenas de
!6 'Le droit comlnercialva clominerla vie clvile": "Féjconomlquement.il rcmpLacele droit
civil. Norte droit se coinmercialise"(/lspeclsjLlridíqucs du mpifalísme modetne. 331)
de Freiras c a unificação do direito prlvado- }7 Projec(o detCocligo Coptimercial: vol. J. 6 10-
12 N'ovos ensaios e pareceres dc c]íteifo cmpresctría1. 25] . 18 Os livros mercantis. " lelstando revestidos das lormzilictacles legais extrínsecas e intrín-
13 ]ta ado dc di eito co?nercíai.vo{. 3. ] 2. secas ... l fazem prova em favor dos seus proprietários". Isso porque " [s limplicidacle na
Esclarece Leõesque a unificação não sc realizou nos mesmos moldes da italiana: en- Formae rapidez nas operações constituem, em suma, predicado do comércio. ]... ] Estaria
quanto lá teria ocorrido verdadeira unificação do direito privado. aqui teve lugar uma Forado comércio o negociante que imprimisse aos seus aros e contratos formalismo
unificaçãoclo direito comum em matéria de obrigações"(A disciplina do direito de de tabelião e não sentissea intcnsidacleda vida mercantil contemporânea" (Waldemar
empresano ROVO
Código Civil brasileiro, 73). Ferreira, IO'atadode:díteito mercantil bt-asíleí70,vo!.;1, 125)
ProÜecfode Código Commerciaf, vo1. 1, 4 5. 19 Cf. Clovis Bcvilaqua, CodígoCivil dos EstadosL'Rijos do Brasíl commertraclo.vo1. 1. 75
w' 'l'i: :!i:i?liig?!$?1$
Trajano de Miranda Valverde, na mais clássica obra brasileira sobre a Força Ou seja. no que diz respeito à força probante dos documentos em geral, tlá
probante dos livros mercantis: assevera:"Nas questões ou litígios com não- muito nada havia dc especial que protegesse os mercadores. A regalia antes con
comerciantes. os registros ou asscntamentos nos livros mercantis, regularmente cedida exciusivamenfe aos comerciantes sobre os iív ros mercantis esta abolida desde
arrumados, poderão. evidentemente, ser ilidiclos por qualquer género de prova 2974, com o írtício da vigência do Código de ProcessoCivil-
admitida nasleis civis e comerciais.Mas, desdeque não apareçamjustos motivos
para os repelir, hão de ser êles recebidos como exatos e verdadeiros. Dificilmente 11.5 Jurisdição especial
se compreenderia que um comerciante, por mais atilado que seja, fizesse Lançar
nos seus livros operações ou aros que se não verificaram , ou em manifesta clescon- 8. Ajurisdição es[)ecialpara os mercadores[oi uma c]asrazõesdetcrminantes
formidade co m o que realmente sc passou entre êle, no exercício de sua profissão, do nascimento do direito comercial , concretizando sua auLonolnia e reforçando o
e o não-comerciante''." poder da classe mercantil.
Ocorre que esse privilégio caf corri o código processual de 1973, que. em seu No Brasi[.o Regulamento 737/] 850" asseguravaajurisdição exc]usiva -- oque.
art. 379. passou a determinar provarem. os livros comerciais devidamente escri- na opinião de I'lixeira de Freiras. significava "grave calamidadepública, tortura
turados, "a favor cle seu autor rlo litígio enfie comerciantes".:;Ou seja, nas lides contínua do Foro. ninho funesto de questões innumeraveisl". Não eram poucas
com não comerciantes. os livros mercantis subsumem-se à regra geral do arL-368 as causas que discutiam a jurisdição competente: assumindo especial relevância
clo diploma processual,válida para todas as partes litigantes, de forma que " tais a interpretação do art. 4.' do Código Comercial e do art. 19 do Regulamento 737.
declaraçõesconstantesdo documento particular, escrito e assinado,ou somente ambos de 1850.:' Os debates sobre a competência arrastavam-se, prejudicando a
assinado, presumem-se verdadeiras em relação ao sígnafdlio' solL]Çãodas lides comerciais.
Os livros comerciais fazem prova contra o seuauÉot,sendo lícito aos mercadores
Em ] 875. com 2trevogação do Regulamento 738, deu-se a supressãodos Tri-
demonstrar, por todos os meios permitidos em direito. que os lançamentos não bunais de Comércio. de forma que sua funçãojudicante acumulou-se nosjuízes
correspondem à verdade dos fatos".::
de direito.:'' Em 1890. o Decreto 763, c]e] 9 de setembro: unificou os processos
Com algum esforço hermenêuLico, podemos concluir que o privilégio não civil e comercial. mandando "observar no processo das causas cíveis em geral o
renasce com o Código Civil anual. Dispõe seu art. 226: "Os livros e fichas dos regulamento 737" , uma vcz que não havia "fundamento de direito para que os in
empresários e sociedades provam contra as pessoasa quem pretendem, e, em seu [eresses,sujeitos á competência, do foro civil. não sejam igualmente resguardados
lavor, quando escriturados sem vício extrínseca ou intrínseco. forem con firmados pela garantia (le uma.justiça prompta eefficaz". Entretanto, embora uniformizados
po r outros subsídios' as regras processuais. as varas privativas de comércio continuavam a existir.': :' J"
Inexistente contradição entre seusdispositivos e os do Código de Processo
Civil, o art. 226 do primeiro:' deve scr posto a latcre do art. 379 do segundo, dc
forma que os livros comerciaisprovam a lavor do comerciantesomentenoslitígios 24 Entre nós, a .jurisdição comercial era í'sfcl(c1.ou sc.la,os Tribunais elos mercadores eram
entre (ometcian(ese, mesmo assim, "quando escriturados sem vício cxtrínseco ou organizadosc mantidos pelo Estado c não pela classemercarllil
25 Nessesentido, Allredo cle .qssisGonçalvcs Neto. l)ire'ilo dc e/nplcsci:6h
intrínseco" e " forem confirmados por outros subsídios'
26 Noticia dc S}'avio Mttrcondcs (AnÍeprlijcto de Código clc Obrigações, 8) e de Comparado
( A cessão clc controle acionário é negócio mercantil?, 2491
27 V preâmbulo ao Decreto 763/}890
2() A Jorccl pn)banhe dos li\'ros mc'rcartfis: 75.
28 Conforme se depreenclcdo teor do art. 2.' e do art. 3.' classedecreto: "Art. 2.' Peranteo
21 'Art. 379 0s livros cntnerciais. que preencham os requisitos exigidos por lci. provam
juiz queaccumular ajurisclicção civil e commercial. serão propostasas causasrespectivas
também a favor do seu autor no }itígÍo entre comerciantes.
22 scm discriminação clãsduas competências: seja qual [or a natureza do feito com relação
'Art. 378. Os !ivros comerciais provam contra o seu autor. E [ícito ao colnercianLe,to-
ás pessoas ou ao seu ob.lccLO. Onde. porém: houver vara privativa do commcrcio. a acção
davia: demonstrar. por todos os meios permitidos em direito. que os lançamentos não
será proposta perante o juízo cotnpetentc: com indicação especificadacla.jurisdicção
correspondem à verdade dos fatos.
.Art. 3.' A excepção ou alteração de incompetência: sob o Fundamento c]e ser a causa
23 'Art. 226. Parágrafo único. A prova resultante dos livros e achas não e l)astante nos casos civil ou commercial: não pôde ser opposta depois da contestação:e sendo omittida ou
cm que a lei exigc escritura pública: ou escrito particular rcvcsliclo tlc l-equisitos espe- julgada improcedente. não se annullará mais o feito por motivo dessaincompetência,
ciais: e pode ser ilidlda pela comprovação da falsidade ou inexalidão dos lançamentos. nem ex-ofício: nem a requerimento das partes.'
84 A. EVO'Lt.JÇÃODQ' DI.REITQ CoN[ERCI.AL BRASILEIRO TR/\.NSFiORMAÇOES GERAllS NO DIREITO CON/{ERCiAL
iÍ.7 A questão da agricultura a opção pelo regime comercial: bastando-lhe organizarseu empreendlmenro sob
a forma de sociedade anõniina. Por um lado, gozaria dos privilégios reservados
10. Afirmou-se que a principal revolta contra os privilégios concedidos aos
comerciantes derivava da sua não extensão ao setor agrícola. Como explicar que, aos comerciantes mas. por outro. deveria arcar com os deveres da legislação
nlercanti}
em sociedade emi nen temente agrária. fossem concedidos signo ficativos privilégios
a outros agentes económicos que não os fazendeiros? Somente a dimensão hiato rica C)que antes era privilégio dos comerciantes. a partirde 1940 passaa constituir
do problema pode delinear alguma resposta." vantagemdosgrandesagricultores, que poderiam decidir(]-e.,não lhes era imposto )
pelo regramento especial dos mercadores.*"
Nossa realidade agrícola não é composta exclusivamente pelos grandes agri-
cultores; a par do que hoje chamamos agroncgócioou agrobusirlesssempre houve O g [ .'do art. 2.' da Lei 6.404/] 976*' manteve a vedaçãodo arl. 2.'do antigo
pequenas propriedades. sem condições de suportar os deveres impostos aos co- Decreto-lei 2.627, concedendo ao fazendeiro a opção de organizar sua atividade
merciantes( p. ex. , a manutenção de escrituração aclequacla)." sob a forma acionária e, consequentemente, vê-la considerada comercial
O Decreto-lei 2.627/1940, que disciplinava associedades anónimas, tomou Essemesmo sistema de opçãofoi adorado e ampliado pelo art. 971 do
em consideração essarealidade cie agricultores com variado porte. Seu art. 2.' CC/2002: ao agricultor é /a(ul(ado assumir a condição de empresário e os deveres
dispunhasera companhia sempre mercantil: regendo sepelas leis e usos do co- correspondentes.*'
mércio, qLlalquerqueJosse o selaobÜe(o." ;' Dessa forma, Facultou-se ao fazenc]eiro
11.8 Unificação das obrigações
11 . Além dos protestoscleInglezdeSouza, outras clilcrençasexistentesentre
36 Segundo Gilberto Bercovtci. a promulgação do Cf)digo Comercio\l cle 1850 visou a comerciantes e não comerciantes foram paulatinamen [e superadas pela .jurispru-
l)roteger os investilncntos estrangcitos, principalnaentc ingleses. Essalição coaduna se
dência e pela prática mercantil . N esseprocesso dcerosão da dicotomia. importante
com o testemunho de Brasllio Machado: que: em 1907. cnsinavt\ aos seus alunos das
Arcadas: "Entre nós 1...1 quasetodo commercio é explore\do por estrangeiros" tO Código Funçãofoi desempenhada pe[o art. ] 2 1 do Código Comercial. que mandavaap]icar
Comrrtrr(ial do Brasíl crn sua /olha(do híslóri(a. 2ó8)
37 Dc acordo colhaS},leio Marconcles: haveria dc scr considcracla "a heLcrogellcidade das
concllçõesainda ocorrentes na extensãocontinental cle nosso tcrrltnrio"(Da aEividacle
negocial: empresários c sociedades. [42). O mesmo auLni' exp]]ca com inalar precisão dispunha sobre di\ farsascompanhias "assim civis como mercantis" (Corl4iiro dc inrítes.sí's
a opção dcixacla ao agricultor em scu escrito Direito mercantil e aLividaclc negocial no nasc[ssfmb]éícisdf S.A.: 68 9). En] ] 882, por força c]o Decreto 3.] 50. de 4 cle novemt)ro,
pioieLO de Código Civil. ll 2. seguiu sc adrnitij[do cxpressamcn[eassociedadesanónimas de obje[o civ]]: "/\rt.] .' As
38 Dispunha o Decrt'to ]ci 2.b27/] 940: "Arl. 2." Podescr objclo clasocieclacleanónima ou companhias ou sociedade's anonl'mas, q ucr o scu objcLOseja commercial. quer civil , se
companhia qualquer etTlprcsade fln} lucrativo. não conLrárin a lei: à orclcrn pública ou podcrn estabelecersem autorização clo governo". Inclcpendentcmentc do ol)feto, esta
aos bons costumes. Parágrafo único. Qualquer club seja o objeto: a socicdacle anónima vam sujeitas à .jurisdição comercial as questões referentes "á existência das companhias,
ou (ompanhia é mercantil c regesc pelas leis c usos do comércio." Comcntal)do o aos direitos e obrigações elos soclos entre si ou entre elles e a sociedade. á dissolução,
Dc(roto lei 2.027. afinua Salnpaio de Lacerda: "rlojc. tecla socicdaclc anõnirna é mercantil: liquidação c partilha" (arl. 2.'. g 3.') O art. 2.' do Decreto 43+/1891 dispunha quc o
qualquer quc se.jao seu objelo (arl. 2.'. i] .". cine dcrrogou o ar]. 136 do Cód. Civil). objclo da sociedade anõnirna poderia ser civil: "Art. 2 '. Podem ser objeLOda sociedade
mesmo quc se destine a opcraç(les sôbre imove'is" (Mclnucllclc{.s se(icdadrs por ac(}fç, anony'nlt\: todo género de commcrcio ou de industria: a.sfmprezasagrícolas. e todos c
21.). Ncslc ponto cspecíhco:o Decreto-lci 2.627 apresentairia 'ando,pois antes clelc as quaisquer serviços dc naturezacommercial ou civil. uma vez que não sc.jamcontrários
socicdaclcs agncoltls, [ncsmo constituídas sob a égide cla lci elassociedades anónimas. á [ei, á moral e aos bons costumes
permanccianl ci\ is e civil era scu ob.leio lcf. Achilles Bevílaqua: So(irclades cirtõrtimasc Sylvio Mar(oncles entende ser civil a sociedade destinada a objcto civil. embora rcvcsLida
cln comaridita pol a(õc.s, ] ] ). de forilla comer(hall "o quc demonstra. no caso:a prcponclerância do elemento substancial
39 C) Código (:omcrcial dc 1850. em sua redução original. não previa quc a sociedade sôbre n elemento formal" ( Da a]ividac]c emprcsaria]: empresários e sociedades, ] 68)
anónima poderia scr mercantil: independentementeclescu objcLO.Consclllciro aFIando ".\rt. 2." g ]." Qua]quer que seja o objcto, a companhia é mercantil c se rege pelas leis
faz referência ao eventual objcLOcivil: ".qs companhias ou sociedades anonlrnas: quer o e usos do comércio.
seu oblecLOseja commerclal, ([uet s('jcl( ivÍl: se podem estabelecerindcpendentenlentc 42 'Art. 971. O empresário, cuja arividade rural constitua sua principal profissão. pode.
de auLorisaçãodo governo: excepto as que enumera o g 2.'. do art.] da Lei 3150 cit. e observadasas formalidttclcs de quc traiam o arl. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição
Deck.882] ci].. art ] 30" (Código Colrimercialclo Impe'ríodo Blazi1. 137, dt'sLacamos). no Registro Públi(o cle Emprcs;ts Mercantis da respectiva sede. caso cm que: depois de
Em 1860,noticia ErasmoVaiiadãoAzevedoe NovaesFranca,o art. 2,' da Lei }.083 inscrito. hcará equiparado. para Ladosos efeitos. ao empresáriosujeito a regisLro
:::;ilí:;:i;:iiliEçiliW
a lei civil aos contratos comerciais desde que não houvesse conflito com a legis- 11.9 Locações comerciais
lação especial.'' Trata-se:no dizer de Sylvio Marcondes,de "traço de inspiração
13. Desc]eo Decreto 24.] 50/1934:'" protege-sco fundo clecomérciomecliantc
unitária"" e que poupou os brasileiros da sovada discussão sobre serem ou não as
a concessão de direito à renovação do co11trato de locação mercantil.i.e., que tem
leis civis fonte de direito comercial.
por objeto o "prédio. urbano ou rústico. destinado pelo locatário a uso comercial
Parte dos autores brasileiros sempl-esustentou que a superação da antiga ou industrial"." C) objetivo da lei. assenata C)scar carreto Filho, era resguardar, em
dicotomia resumia se. além da falência, à unificação da disciplina das obrigações. benefício do locatário comerciante. "o valor que a exploração do ftlndo de comércio
Essaconstatação não prejudica o fato de que muitas das diferenças no campo no imóvel trouxe ao local". Isso porque 'gajo local de negóciosse prende parti
obrigacional outrora existentes entre os dois sistemas haviam sido limadas pela cularmente a freguesia ou a(haZandagú'".''
jurisprudência ao longo das décadas.''
.\ origem desse diploma é o art. ] 27 da CF/1934. que mandou regular "por
12. Tome-se.como exemplo, o instituto da mora. O arl. 205 do Código Co- lei ordinária o direito de preferência que assiste ao locatário para a renovação
mercial exigia a interpelaçãojudicial do devedor comcrcian [c para constituí-lo em dos arrendamentos de imóveis octlpados por estabelecimentos comercial ou
moi-a." O arl. 955 do CC/1916. por suavez. adoravao princípio do piesirlterpellaf induz ria
pto domine: ou sqa, asimples falta ciecumprimento da obrigação no tempo e modo
'Toma se como ponto dc pa!'tida o valor incorpóreo do funchode comércio.
devidos era suficiente para aquele fim." Ao longo do tempo. ajurisprudência co
marcial foi corroendo essadi ferença. concluindo que. em relação à necessidade cte
que se integra. em parte. no valor do imóvel: trazendo. descarte:pelo trabalho
alheio. benefícios ao proprietário."': Ou seja,para a proLeçãodos gastos realizados
ã.
interpelaçãojudicial "quando as partes contratantes expressamente não hajam con-
pelo comerciante. que de alguma forma cristallzam-se sobre o ponto comercial. é
vencionado em contrário: a citação para responclcr a ação supre essaexigência".*'
assegurodo o di recto de renovação do contrato, coiblndo o proprietário dearrebatar
essesinvestimentos. Ao resguardaro locatário cla expropriação. a lei estimula o
desenvolvimento das atividades económicas. reforçando a segurança da inversão
43 .'\rl. 121 . As regras e disposições do direito civil para os (onLratos em geral são aplicá~cis por eie efetuada.
aos contratos comerciais, cota as modificações c restrições esLabelcclclasneste Código Reconhece Cordeiro Guerra. ein] 977: "A ação remo\aLória 1...1 tem um fun
.:\dcnlais: o Regulamento 737 colocou as leis cl\ls colmo Fonte preferencial sobre os usos lamento económico. qual seja o de manter a estabilidade clãsetnpresas,assegu
comerciais, salvo nas questões cle sociedade e cin outras hipotescs expressamente prc'
\-iscas(arl 2.". 2.' alínea).O art. +28 do C(5cligoComer(ial adotaxaa mesmalinha do rando a continuidade dc empregosc a produtividade do país.[...] isto é. o que se
arl. 12] . dcclarancio quc se manléiTI os meios estar)elcciclosl)t'lo direito civil para cxLinção protege é o comércio ou a indústria. a coíltinuidaclc cla empresa. que é um conceito
c dissolução tias obrigações: cona as exceçóescxprcssamcrlECptcvistas no C(}digo. .\ esse consagrado hoje e que vem dos comercialistas italianos 1... 1. Por conseguinte. o
piopósiLo: Can alho cle Mcndonçtt observeique o clirciLOcomcrcial. no Brasil, coloca sc
como "cxcccão a regra". por Forcac]o c]isposto nos ;irás 12] e +28 do Cóc]tgo Conlcrcia],
[)cil] como do arl 2.' do Regulamento737/]850
44 Anleplojero dc Código cieObr igaçõcs. 8. mora civil e a comercial. aclmtle. com base nas lições dc Carvalho ctc Mendonca: que a
lobo Baptista Villcla entende que o novo Comigo Civil nem sequer unihcou as obrigações citação substitua a interpelaçãojudicial: corroborando ajurisprudêucia dc então. Em
civis e comerciais. pois permanecem apartados dois regimes dc capacidade targuição cm 1958. o mesmo tribunal c]ccidia: "Não seria imprescindível a interpc]ação como llasso
sessão pública de defesa cle tese de doutoramento. realizada\ na Faculdade dc Direito da l)relirninar claclemancla.Interpelar o réu, para qué? Paraque ficasseciente de quc devia
Universidade F;edera]c]e!viinasGerais, eln ] 9.03.2008) devolver as 1. . 1saca.scle(afé. indevidamente alicnaclos? Seria uma Ingenuidade. Para
+6 'Art. 205. alarao vendedor ou conlpraclorpoclcr scr conslcleradoem mora: é necessário a cmencla cla mora? Seria uma inutilidade 1...1.Aqui, pela vontade das partes. tinha
que proceda interpelação judicial da entrega da coisa vcndicla. ou do pagalncnLO do prcco plena aplicação a regra -- dica intet-pcriarpro homirtí'" (RE 34.029. j. 26.08 ]958. rc]
Miai. ValiasBoas)
Len\bre-se o teor do art 138 c]o Código cspecia]="Art. ] 38. Os efeitos da ]llora no cuíTlpH
mento das obrigaçõcs comerciais. não havendo estipulação no contrato. coilleçam a correr 49 Na esteira da Lei francesa de 30.06. ] 926
tlestlc o dia cm quc o credor. depois do vencimento. exigejudicialmente o scu pagalncnto :Art. ] ,' Não havendo acôrdo entre os interessados. a renovação dos contratos de arren-
47 'Art. 955. Considera se cm mora o clcvcdor que não cfetuar o pagamento. c o credor damento de prédio: urbano ou rústico, destinado. pelo locatário. ao uso comercial ou
quc o não quiser receber no tempo. lugar e Formacon\encionados (ar]. ] .058). itldusLrial: será sempre feita na conformidade clo disposto nesta lei.
48 Supremo Tribuna[ Federal. RE. 85.]4] . i. ]6.] 2. L976. re]. Mii} Moleira A]ves. Nesse lkoría do esÍabeiecilnentocowlerciaí,260.
acórdão. etnbora o relator expressamente reafirmo as diferenças existentes entre a 52 Waldemar Perfeita, ]taíado dedirei o mmerciaí. vo{. 6. } ] 6:
wwwliiil;
que sedefende nesta lei é a continuidade da unidade de produção dentro de uma C)conceito de empresa, ovacioiaado pela doutrina, quase nada serviria ao ho
sociedade burguesa" .' ' mean dc negócios e mesmo aojurista quc enxergasse além dajanela de seu gabinete.;'
3 5. Mas essa conclusão não seria de lodo verdadeira,
Assim , ajurisprudência. cm muito embalada na ideia de preservação da em
presa,desenvolveu-sede forma a ampliar a aplicaçãoda Lei de Luvas,garantindo A compreensão da empresaé (ttilà identificação dos entes cuja organização c
a proteção mesmo aos não comerciantes, desde que se orientassem pelo intuito interaÇãono Jnercadointegram o objeto de estudo do direito comercial. Irrefutá-
lucrativo .s* vel a lição cle Comparado: "Se se quiser indicar uma íltsti(unção social que. pela sua
Atua[mente,a Lei 8.245/199] seguea mesmalinha. garantindoo direito à inf] uência, dinamismo e poder dc transformação. sirva de elemento explicativo e
ação renovatória ao locatário de "imóveis destinados ao comércio" e que "esteja ex- definidor da civilização contemporânea. a escolhaéindubitável: essainstituição é a
plorando seu comércio. no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três empresa". ;" Desta feita, para se revcstii' de utilidade. a empresa há dc ser enxergacla
anos".'s Ademais, dispõe, em seu aít. 51, g 4.', que o direito à renovação do contrato como iristi lição social, superando as limitações formais que imobilizam aqueles
estende-se àsvocaçõescelebradas por indústrias e sociedades civis com fim íucrati que não a apreendem como a.gerir ecortõmico.
vo, regularmente constituídas, desde que ocorrentes os pressupostosneste artigo Se assimlor/eito. concluir-se-d que, sem a empresa, o direito comer(ictí e (oda a
sualógica não feriam razão deexís(ic pois, hcyc,ele aí estáFeita disciprfnac deacordo
11.10Aquevem a noção de empresa? coral sllí] !õgíca pe(Mijar; a (mprt:.sa e sua inletação com outras empresa.s no }ncrcado.
53 Supremo Tribunal l"edera],Rt 8ó.19S-RJ.j 06.]0.]977. rcl. Min. Cunha Pcixoto. LOdc deposito c o war'l-anf(de elTlissãoexclusiva das "empresas dc armazéns-gerais
54 Mesmo antes do inicio da vigência da nova Lei, advertia\ Ecluardo Ribeiro: "Não sc conforme os arES.].' e [5 da Lc] l] 02/1 903) co conhecimento de transporte aéreode
carga(emitido privativamcnte l)elo "empresáriotrarlsportador". segundo aras.222 e
ignora qttc grande controvérsia scnlprc existiu a propósito da abrangênciada chamada 235 da }.ei 7.1565/}986)
Lei cle Luvas . Aplicada no rigor dc sua letra. não comprct'ndcria mais que as vocações
destinadas ao excr(leio ciocomércio. [m vista da fina\cidadeda lei: enLreLanto.procccleu- 57 Essaimpressão VCHIconfirmada p(»lajurisprudência. l)ois a maioria dos casosem quc
se discute a existência e a caracterização da empresa(e não são muitos) cinge-se a essas
se a prudente construção. eLnconsideraçãoà circunstância cleque importa exista uma
clientela, quc se forma também cm atençãoao local em que situado o imóvel"(Superior duas hipóteses. Consiclcranclo sc que o direito comercial é indissociável da pratica dos
Tribunal dcJustiça. REspt2.S42-RJ,j. 09.03.]992. rcl. Min Nilson Naves).Ademais. conlcrciantes, olha conclusão possível embora um tanjo açodado seria quc a cona
admitia sc quc as partes, ainda club o locatário fossc sociedadecivil: poderiam prever lrução doutrinária sobre a empresase !-cvc'sairiadc p{)uc'autlliclade na vida do dIreitO
me rcanLãl.
no contrato a aplicação c]o Decreto 24.] 50/] 934.
55 'Art. 51. Nas locacõcs de imóveis destinados ao comércio: o locatário lerá direito a 58 .Areforma da empresa:3: dcstacatnos
reno\-ação clo contrato: por igual prazo. desde que. cumulativamente: l n contrato a Afirmava Bu[garc']]].cnl] 972: "Perlnanecc. portanto: difusamente inserto no Di-
renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado: li -- o prazo mínimo reito o conceito de empresa:snb os aspectosmais diversos c corri os objctivos
clo corllrato a renovar ou a soma elos prazos ininterruptos elos contratos escritos sela mais variados. Ora para responsabiliza-la pelos compromissos trabalhistas. [nclc
dc cinco anos: iJ] -- o locatário estejacxploranclo seu comércio. no mesmo ramo. pelo l)cnclcntelncntc clc qucrlt seja o empresário: ora para fixar sua posição dentro clo
prazo mínimo e ininterrupto de três anos enqua([ramcnto sindica]: ora para a concessão dc benefícios de natureza ]isca]t
56 Vale lembrar que alguns títulos de crédito permanecem relacionados, por/arca de leí, ao ora para a inserção em planos governamenlaisl ora. e não raro: como simples st
exercício da atividade etnpresãria: "endereçados estritamente a [legociosjurídlcos entre rlónimo de empresário ou dc esLabclecinleilto" CPcrspeclivas da empresa perante
empresase outros quc só podem scr emitidos por elas" (Bulgarelli: 7}a(adode dilcí(o o direito comercial, S71).Em L985, o autor novamentechama a atenção para a
crttprcsalirt1, 147 1 Entre essestiuu]os -- denominados por Bulgarelll títulos empresariais empresacomo centro de imputação. embora não sc valha! desta terminologia (A
- pode-seapontar. e.g., a dup]icata (cr. ans. ] .' e 20 da Lei 5.474/] 9b9), o conhecimcn- (corja jurídica da e'mpresa; 283 e ss.)
92 A EVO}'..LIÇÃO
DO DeitEI'l'O COMERCIAL.BRASil.E'!RO TRANSFORMAÇoES GER.ALSNo DIR Eil'o COh{ ERCIAI. 93
A empresa interessa ao mundo.jurídico:lm pactando-o independentemente cle 17. Advirta se, contudo, que não devem ser confundidos lil a geração de
seus ti tulares; há situações em que a mera existênciada atividade gera a co in posição direitos. deveres e obrigações pela mera existência da empresa com liil os critérios
de supor'tes [áticos e produz consequências.jurfd ices. usados para atribuição da responsabilidade por esses mesmos direitos: deveres e
obrigações. No primeiro caso.referimos a "empresa como centro de imputação"; no
Nessa linha. os ans. 10] e ]02 do Tratado sobre o Funcionamento da União
segundo. a 'imputação da atividade de empresa". As questões são bem diversas."
Europeia -- TFUE x-eem a empresa como cen(}o de imputação. Nossa Lei \ntitruste
(Lei ] 2.529/20] 1) também [az recair na einprcsaa responsabilidade peiasintrações
11.12Empresacomo agente económico e a importância dos contratos
à ordetn econõnlica.'" lgualmenLe. o art. 931 do Código Civil acolheu a empresa
como centro deimputação ao determinar que "[...] asempresasrespondem indepen- 18. Na economia contemporânea. não se podem-daisconceber a empresa de
dentemente de culpa pelos danos causadospelos produtos postos cm ci rculação' forma isolada.Essavisão, que a confl na nas próprias fronteiras. desliga-ado fun
Em ]943, essapostura havia sido pioneiramente assumidapelo art. 2.' da cionamento do mercado,reduzindo impropriamente a análise.
Consolidação das Leis clo Trabalho. que define o empregador como "a empresa,
individual ou coletiva, que. assumindo os riscos da atividade económica, admite.
assalaria e dirige a prestação l)essoal cte serviços".''' da rcsponsabllidade clo empreendedor anual pelas obrigações do emprecnclcdor passado.
uma vez mantida a empresa, com sua característica clc unidade económica da produção
( Dirá'ilo clotrabctlho í pcirri(ilação nos lucros. 1281.
[n] registro esclarecedor:Arna]do Süssek]nd.coautor do prnjeto que c]cuorigem a CLT
[rl (-róis: "Art. 32. /\s diversas formas de inrracão da ordem económica imp]icam a
informa quc. durar le os debatesque antecederam nossa legislação trabalhista: opuserana-se
responsablliclacleda empresac a responsal)ilidade individual de seusdirigentes ou acl-
contratualistas e instilucionalistas: estes buscando o reconhecinaenlo da empresa como
nltnistradores. soliclariamentc. .Art. 33. Serãosolidariamente responsáveisas empresas
cnlprcgador. .Aproposta cle Luiz .AugusLO
de Rêgo Morteiro cstatuinclo quc a empresa
ou entidades integrantes de grupo económico. de lato ou de direito. quando pelo menos
(instituição) participasse da relaçãode etnprcgo como sujeito dc clircito: acabou sagrando
uma delas praticar inrração à ordem econõinica'
se vencedora. após intensas discussões. "jEjm atenção à realidade caracterizada pelo
C) q 2.' do mesmo artigo csLalui: "q 2.' SctTlprcque uma ou mais einprcsas. tendo, estágio anualdas relaçõesentre empregados e empregadores. eln que. salvo nos pequenos
cmbort\. cada uma delas. personalicladcjuriclica l)rópria: estiverem sob a clircção, emprcendiincntos. é quase nula a interferência do eventual proprietário da cmprêsa.de
controle ott administraçãode outra, consEãtuindogrtlpo {1ldustria], colnercia] ou de veria a Consolidação adorar: a respeito. conceito capaz clercllctlr essasituação, atinente a
clualqucl oul ra alt\ idade econõlnica. serão. para os eleiL{)scla rclação de etTlprego.se clcspersonalizaçãoclo empregador. Í...l Havia: assim'n.
scm embargo da comETo\érsia elllrc
lidariaíilcnle icsl)onsávcis a empresa principal c cada uma das subordinadas". Sy-avio institucionalistas e conlratualistas, um reconhecimento comum do role\ante papel cla
N4aicot)dcsassinalaque a ctnpresa é toinadt\ como sujeito pelo art 2.' da CLT': ".A em empresacomo elemento do contrato de trabalho". .q cxpllcacão desseautor é definitiva
presa é enlprcgadoi: considera sc empregador a etnprcsa. Então \ ctnprcsa é sujeito' e afasta a opinião da(lucles que insistem quc a referência cia CLT à empresa seria Iruuo clc
t Qrt('srõfs cícdift'ifo tticlí:clr?fi1.8.). Octavln BuCHo Magano. após analisar a crilprcsa enl descuicln ou de falta dc lecnica: "Não preteíldcu a Consolidação: na solução realista quc
profundidade: expli('a qu(' t'la é "o arcabouçoda sociecladc":cle fauna quc "a socicdadc adorou, inovar o sistema legal atinente aos sujeitos clc direito das relações .jurídicas. para
constitui o revestimento da cn] )rosa. o scu cartão dc visita. UTílaespécie de atestado da classlhcar a empresa como pessoajurídica. independentemente da pessoaclo scu proprlc
sua aptidão para o coillFrciojundico" (Os gr uf)os df crltf)if.sas no dir(iEo clo [t'atalho. 8q).
Lírio (subjetivação da empresa.):êste continua a existir: sem embargo de ser a empresa
Porém. como anota lobo R('gis Fassbc'nclel Tcixcira cm relação ao ar1. 2.' da CL[. "]t]a] o elemento básico elos respectivos contratos dc trai)alho. O que ocorre é que os flirt idos
clehnicão se [cm prcstaclo a infinclávcis clcbatcs: l)rincipalmenLe por insistircrn alguns c obrigações pertinentes às relações de trabalho nascem cm função da emprêsal são ine-
autores na rcsc de quc o cíni)regador nãn é a cml)rosa. Diaso cmpl'esttt-lo"(DiFcilo clt} rentes a ela c não à pessoa natural oujunclica que. no inomenLO. detêm o seu clomtnio
[pabaiho.] 19). Muitos juristas da arca do dIreitO do trai)alho entendem que a CLT seria IColní'n(cítios a Consolidação dctsLeis do /i atalho e d lígisfacão coltlpltmt'total 62-3)
iinprccisa nesseponto: "lurtclicamenLC 1 . 1a empresa: empregando sc, ainda assim,
.âslições cleEvaristo cle MordesFilho mostram ser indubitável a adição: pelo direito lra
tal palavra em sentido impróprio. por(lu('. a rigor. empresasignifica ativtdadc. e objelo
banhista. da elttpresa como cenllo dc [mpufacão: "0 contrato dc trabalho: uma vcz celebrado:
dc clireiío. Logo não l)ode ser emprcgadoi-"( Délio Maranhão. "Sujeitos do (.onualo dc
leva mais em consideração a empresa do quc pròpriamente a pessoade quem o concluiu
trabalho". 2(l91. No 1nesmo scnliclo. W'ilson cle Souza Canil)os Batalha: "A crnprêsa
pelo lado paEroítal. l ...l [)o lado patronal: toma-se como ponto c]creferência ou dc conter
não [em personalidaclc jLLndica. apenas pc'lo simples facto de scr empresa. e dessartc
gência dos contratos cle trabalho: não mais a pessoa Físicaou jurídica do scu titular. e sim
não podeconstituir um dos polos do vínculo empregatício .'\ relação.luríclicasó pode
estabelecer-se entre pessoasc à empresa não loi ainda conferid« personal idade. cnlbora já o próprio organismo produtivo" (Do contra(o cle(labalho comofiemcnlo da empresa,239).
62 Sobrea imputação da atividadc de empresa,v. Tullio Ascarelli, O empresário. 185; Fran-
este.ladelineada a tendência no sentido da personlHcação ou, pelo me'nos.da aulononlia
patrimonial. Diz se comume'nte, em Direito do Traballao: que o \erdacleiro empregador cesco Ga[gano. LimpuLazione dc]]'attivita di empresa: ] 09 e ss.. c Vincenzo Buonocore,
é a empresa; lilás. css;\afl rmativa é puramente metafórica. usada para assinalar a criacão [;i?npresa, }8]
94 A EVC)LUTCf\O DO D[REi'[0 COWÍERCI.AL BRASii-ERRO TRANSFORMAÇÕES G[R,\]S NO DIR E]]'O COh]ERC]AI 95
A empresa não apenas "é": ela "agc", "agua" no mercado. c o faz principalmente reiacõesju t'ídicas. ''5que acabam por cansei tulr o suas trato do mercado . .Na clacçãode
por meio doscontratos. Não vive ensimesmada,tnetida comseusajusLesinternos; Roppo: "na economia moderna. éo contrato. acima ({etudo, quc criaa riqueza"."
ela revela-se nas (rcinsações.Sua abertura para o ambiente em que se encontra é
19. A doutrina. de certa Forma,atribuía menor importância à dimensão con
significativa a ponto de parte da doutrina afirmar que "loas modernos complexos
tratual do ente produtivo.[azendo repousar o foco de sua análise no empresário
produtivos não são tanto estoque de bens, mas feixes de relações contratuais".''} A
e em sua capacidade gerencia]. Não é por acaso que o Codice Civi]e de] 942. em
empresa cristaliza-se cm sua ativiclacle de interagir; a etnpresa c agcnfe econõrn ico.
seu arl, 2.082, define a empresa a partir do conceito individualista de empresário
É preciso adquirir insumos, distribuir produtos, associar-se para viabilizar o
colocando o foco não em sua interação com os outros agenteseconómicos. mas
desenvolvimento de nox as tecnologias, a abertura de mercados eLC.ltudo exige que se
em sua capacidade(isoladamente considerada) clcorganização dos favoresde pro
estabeleçam relações com terceiros. Essaação recíproca(empresa ++outros agen tcs)
dução." A empresa mostra-se colmo um desdobrarncnro dessa perspectiva monista
interessa ao direito na medida em que dá à luz a confrafos''' e. covis(quente'rtlcn(e,a
de maneira quc o centro da análise não recai em sua inLeraçãocom outros agentes.
como vimos ao final do primeiro capítulo
63 Vincenzo Roppo. rl «)ri raflo, 50. \«'..lama)tlm.Ronald C{)asc.Thc natura nf the finta. E recorrente. na doutrina comercialista. a referência à "ativiclade". Essa
opúsculo que deu origem aos cstuclos clacrnprcsa coíllo "feixe clr~contratos". Entretanto. menção. contudo, não visa a destacar a in(oração da empresa com outras, mas o
a empresa í\ão l)ode scr viste\apenas sobre esseprisma. pois. dessa forma, dcsconsiclera
sc a iinportâncla cla l)roprieclaclc dos l)ens de l)roclucão
desdobramento cla série de fitos praticados pelo empresdlio na organização dos
64 .Adotatnosa dcfitlição de Orlando Gomos,l)ara quem contrato é "o negocio jurídico falares de produção. Tanto assim que a própria definição de atividade: acolhida
bilateral. nu plurilateral que sujeita as partes a obscrvância clc conduta iclõnea à satisfação cle forma praticamente unânime, propugna que ela constitui uma "série de fitos
Lias interesses quc rcgularatrt". ou seja: o negócio "cujo efeito junclico pretendido l)elas
partes seja a criação de vmcu]o obrigaciona] de conteúdo patrimonial"(Coar/cl]os,] l)
'rccnicamcntc. o (ontrato é cspé(ic cle negócio .jurtcllco. que, na aulorlzada visãtl dc as firmas que clcílnem as relações entre agentes especializados na produção. bem como
Junqueila. traduz-se em "tacto rato juncllco consisLellLe cm c]ec]araçãnc]e vontac]e. a os arranjos externos às fintas que regulam as lransaçócs entre formas independentes.
que o ordcnamento .jurídico atribui os efeitos dcslgnaclos coillo clueridos. respeiteelos os podendo ser estcncllclos para as [ransações entre o Estado e o setor privado( regulação)"
pressupostos cleexiste'ncia.validade c eficácia impostos l)ela norma jundica que sobre cl(' (Z} ]berstajn e Sztajn, ]Dilfi]o f ca)nomía. ]O+). Para certos economistas: "a empresa
incide" (N'egofio jut idi(o ('.risrért( ia. \alÍdcldt' r fficd(fct, 16). ("firm") e \ isca como um con.lunlo de ronlra(os (mire oslarores clc plodLt(do: sendo cada
No CTltâDto,na tradição do direito conlercia], o termo "ílegócio" vem muitas vezes um dessesfalares inotivaclo pelo auloiutercssc"(Eugenc l:dirá: Agencl' problcms and
cnlrlrcgaclo no senLiclocle "lransação" ou "negociação". Trata sc. para Fcrreira Borgas. the theory' of lhe hrm: 289, clcstacamosl
de "termo clc (onceito prático". ligado a "qualquer operação mcrcz\rILil" (Di«tonario En\ suma. economistas tencletn a identificar a palavra "conlraLo" com qualquer
jurídico ( onif'f( iai: 327). Nesse sentido. os ans. ] 40. ]65, 314 e 33 1 clo Código Colilcr maneira de coorclcnaras transições" ou "todas as relaçõ('sclub criam vínculos de
cia] de ] 850 e o art. ] .' do Decreto-lei 737, do }lleslno ano.
interdependência entre dois ou mais sujeitos" (Bcllantuono. l wnrratfi íncompleií nel
Neste trabalho: seguimos a linha coinercialista. identi ficando o "negócio n\ercat]til " cona dirillo c tíell'economia. 57). adotanclo terminologia não coincidente com a jurídica. Essa
as OÍ)craçõcsfeitas pelos comerciante's e que sc corporiflcam em contratos. Elnprcgamos disparidade. por vezes,gera grande confusão.
a palavra "rlcgócio" no sentido de clürarcem língua italiana ou c!/Rlfr na francesa. E importante ressaltar que. alénscle contratos: a empresa pratica alo.çjurídicos unílatírais
Outra precisão terminológica que se [az necessária c]iz respeito ao sentido que a pa]avra ( para clcflnição de alo jurídico. v Marcos Bernardes de Mcllo: teor ia do./aro jurídt«). plano
contrato' assume hoje para os cconolnistas, principalrnentc aqueles ligados à Nova da cMsfêrl(ici. 1591. São exemplo desses alas os voltes prover'idos pela pessoa jurídica cl l
Economia industrial. De acordo con! a noçãotrarlscrita por Wr i ]anlson: contrato e assembleias dc sociecladcsnas quais clcLenhaparticipação (\.. a esse respeito. Giuseppe
an arragement bc'tu-ecnLuo nr more aclors supported b} rcciprocal expectatlons cena. fi voto ttclla ctssfínblc'a df'lla socifta per azioni. L3 c s. e Pinto Furtado, Deliberações
and behaviour"(I'he Hrm as a llexus of {reaties: âíl illtroduction, 3) Na definição de dos sócios: 98 e ss. >. Outros exemplos são a fixação cle sua sede em determinado enclereçc)
marinael al. contrato e "lultTI acordo entre olerlante(s) c demandantc(sl. no qual ou a divulgação cíe Fatore]evanLe ao mercado.
os lenhos da troca são dctlniclos" (Compítili\-idade. }net('tido; E.çtacloc orgarlíz:cicõcs, 66 Roppo- ll conrraffo; 56
283) 67 [n verbas: "t imprenditore chi exercita profess]ona]mcnte un'attività economíc2\ erga
Muitas \ czes.os economistas referi rão como contrato algo que, para ns.juristas: estabelece nizzata al fine clelia produzione o della scambio cll bem o di ser\izi". Essa llnlla foi
outro tipo cle vínculo. Por exemplo. na literatura económicac comum denominar-se seguida pelo art. 966 de nosso Código Civil. que estabelece: "Considera se empresário
contrato" a relação entre administt'odores e acionistas das companhias -- algo in(on quem exerce profissionalmente atividade económica organizada para a produção ou a
cebivcl para os.juristas. ".Assim. são considerados arranjos contratuais aqueles internos circulação cle bens ou de sef'aços
96 : À E\,C)i UC.\O DO DIREI iO CC)NíLRCI XL BR.'\SILEIRC) rK'tNsroKNtrxcors( ni. IS uo DIREI [o coNír:Rc:i.XL 97
(praticados pela enapresa) unificados por um escopo comum"." Se, à época em que
da relação, com o ser humano sujeito ao poder da empresa.não se desenvolveu
com a mesma velocidade da econotnia de massa."
foi falhada, essavisão erajustlricável pelas razões que analisamos no primeiro ca-
pítulo , hoje podeser consideradareducionista, pois não atribui o devido destaque 21 . Costuma-se apontar como marco inicial da tendência à proteção dos
ao indispensável redil contra(uai do ente prodtltivo c muito menos ao fato de que consumidores a mensagem enviada pelo presidente.John Kcnnedy ao Congresso
a empresa somente existe porque inserida no mercado. estaduniclense,no ano de 1962. clamando pelos direitos de segurança,de infor-
mação. de escolha e de ser ouvido."
11.130 surgimento do direito do consumidor Em pioneiro artigo publicado em 1974. lábio Konder Conlparato deslocava
20. Embora as di [erenças entre compras e vendas celebradas exclusivamente a necessidadeclese proteger o consumidor, deixando claro que " l cll ecididamente.
o Brasil ainda não entrou na era dos direitos individuais do consumidor"."
por comerciantes e aquelas das quais participa um consumidor sempre tenham
sido notadas pela doutrina." a força atrativa do direito comercial trazia, para si. a É bem verdade quc: há muito, existem entre nós normas de proLeçãoà econo-
disciplina do vale.lo. Nessesentido. era a interpretação dominante do art. 19] do mia popular, esboçando certa tutela consumcrlsta.zz Entretanto, essassão regras
Código Comercial,'" que tipiricava como mercantil a compra e fenda "de efeitos esparsasque, clescoordenadasentre si. não formam um microssistemajurídico
móveis ou semovenLes,para os revender por grosso ou a retalho. na mesma espé- Aresiando essefato. em ] 983. Walclírio Bulgarelll relata as pressõescontrárias à
cie ou manufaturados. ou para alugar o seu uso [...] contento que nas referidas concessãode maior protcção aos adquirentes c os entraves à modernização da
transaçõeso comprador ou vendedor" fosse"comerciante".'' ': legislação brasileira.'ü
Consumidores -- esclareceAntonio Herman Benjamin -- sempre existiram. 22. Paulatinamente, foi-se admitindo a necessidadede disciplina especial
Apenas o Direito 1...1não tinha uma percepção clara clesua moldura. como sujeito para esseaspecto do comércio, aumentando o grau de con fiança dos consumidores
diferenciado de categorias tradicionais."" A preocupação com a parte vulnerável em prol do tráfico mercantil
Em 1987, é publicada tese com a qual Luiz Gastão Pãesde Barras Leões
conquistou a titularidade de Direito Comercial. denominada '\ responsabiZlclade
do./abricantepelo fato do produto. C)professor das Arcadas propôs a superação da
68 Nico[a Rondinone. Caffiviiã ne] mdíce cívile, ] 3. clássica abordagem dos contratos, alterando-se a disciplina da responsabilidade
69 Nas vendascle retalho ao povo: alHeIaquc raras vezesse proponha causacle lesão,ella civil. Referindo-seao "consumidor enquanto coletividade": adverteque "o ante
colntuclo Frequentementeacontece nos Paizespobres. e immorigcraclos. com terrível nessedo consumidor não éapenasum interesseprivado em colisão com um outro
encargo clc conscicn('ia do \encleclor.que sc prevalece da sinceridade. bõa te. inexpc
interesse privado" , mas vai além e atinge interesses dí$,usos.29
ricncia. ou sltnpleza: rusticidade. ou precisãodo comprador" IVisconcledc Cairá(rosé
da Salva l.isboa}. Princípios clc clirfiro nler(a?ilit. S0+1 Na décadade 80. alguns acórdãos voltam-se à proteção dos consumidores
70 Cf. Carvalho de Mendonça, ltatacío: vol. 1, p. 476. Exemplo dessamudança de visão ocorre nos julgados sobre ftlrto de veículos
7} [n vetbis: "Art. 191. O contrato de compra e venda mercantil é perfeito e acabado estacionados em casascomerciais. De início, a.jurisprudência tende a considerar
logo quc o comprador e o vendedor se acordam na coisa: no preço e nas condições: e
que o comerciante não seria responsávelpelos claros, pois "não sendo cobrado elos
desde essemomento nenhuma tias partes pode arrepender-se sem consentimento cla
outra, ainda que a coisa se não ache entregue nem o preço pago. f ica entendido que
nas vendas condicionais não se reputa o contrato perfeiLO senão depois de verificada
a condição. É unicamente considerada mercantil a compra e venda cle efeitos móveis 74 Newton dc Lucca alarma, baseado na doutrina consumerista, que não obstante a longa
ou semoventes,para os revcnclerpor grosso ou a retalho. na mesmaespécieou ma história dc preocupaçãocom o consumidor. "sua proteção.na verdade:possulüa apenas
nufaturados. ou para alugar o seu uso: comprcenclendo-se na classe tios primeiros a origens recentes" ( l?aria geral da relaçãojul ídíca de cona {mo. 31 )-
moeda metálica c o papel moccla: títulos cle lunetas pllblicos: ações de companhias c 75 Nesse sentido: NewLon dcl-ucca(Teoria geral da relacãojur ídica de consumo, 32) e lábio
papéis de crédito comerciais. contacto que nas referidas [ransaçõeso comprador ou Konc[cr Comparado(.Aprotcção do consumidor na Constituição brasileira de ] 988. 66)
vendedor seja comcrcianLe' 76
72. V., para o contexto histórico do nascimento e do clcscnvoLvimentodo direito do con
.'\ protcção do consumidor: importante capitu]o do direito económico. 103.
77 A título cxeinp]ificativo, Leis ] .521 e 1.522, de]95L.
sumidor. com ênfase para a realidade brasileira. o Importante estudo de Ronaldo Porto
78 A tutela do consumidor na .jurisprudência brasileira e de [egelerenda,43 e ss.
Macedo Jr.. Contratos rclclcionais e clelcsa do constLmidor, 2 15 e ss.
73 O direito do consumidor, 49. 79 A tesponsabílfdclde dolabricc /lte pelolato do procluro:L95
W
98 A E\'O].L <:AO DO DiREL]'O Co»ÍERCEA].BRASILEIRO iR.\ SrORM.
CO[SCR iS 0nlRLIVOC:0M
PCÍ.A] 99
proprietários de veículos o estacionamento no espaçodestinado a essefim, fora do cotaceitos.instruillentos e {nétodode interpretaçãopróprios".''' it)da umamassa
prédio do supermercado. não há cuidado do deverde vigilância, em ordem-n a carac- de (orit clfos elretirada clo dileír(} comercial por ./or ça dci ct-loção dt: riste na especUícn,
terizar a responsabilidade civil da firma proprietária do estabclecilnento. em caso rttais adequado ãs r(loções de (OHSLltHO.n'
de Furto".8" Postcr]ormente, admitiu se a cu]pa da empresa quando caracterizado
Essatalvez se.jauma das translorn-raçõesmais prorunclas sofridas pelo direito
o contrato de depósito: a "gratuidade não afasta o dever de guarda".''
comercial nas últimas décadas: ampla gama de (-oflrra(os passou a sublncfer-seã
Em 1990,julgado doSuperior Tribunal deJusLiça.com relatoria de Waldemar la(ioriaZidcldc diversa daquela do direito metca[t(il. dc/or }na club c] elc vai restando a
Z\enter, estabelece itnportante precedente e con fi rnla o cntendimcll LOdo Tribunal disc-lplína das relações entre empresas
deJustiça de SãoPaulo: impondo o clevcr de ressarcimento ao titular do estai)fale-
24. Parelhaao direito do consumidor. coloca-senova perspectivasobre os
cimento. A base da decisão segue. contudo, sendo o dever de guarda inerente ao
interesses di fusos. C) M mistério Público brasileiro passa a agir na defesa da colete
controlo de dep(5sito.e não a tutela do consumidor.*:
cidade. atl [es dcsalnparada peia indeterminação da legitimidade alava para pleitear
23. Dando concreção ao disposto no ar1. 5.', XXXll, da Constituição do a efetivação dc certos comandos legais. Atende-se, assim. aos reclamos dc autores
Brasil, bem como ao comando do au. 170. \( em 1990,*:entra em vigora Lei 8.078, atentos à realidade, que apontavam a necessidade da criação de "nova inodalidadc
introduzindo o Código de Defesa do Consumidor.
de ação popular para a defesa de bens ou valores coletivos"."
â partir de então, os contratos estabelecidos entre empresase consumidores A doutrina brasileira consumerista se dcsenvolxcu rapidamente.:" Em tes-
passam a se sujeitar ao sistema consuinerista. regidos por princípios peculiares, temunho cleseu tempo. relata um dos expoentes dessacorrente: no ano cleit)93:
diversos daqueles do direito mercantil. Reconhece sc a existência do direito do 'Multiplicam-se as obras -livrnse artigos -- (lueanalisam o contrato moderno sobre
consumidor'* " dotado cle"estrutura jquel gira em torno cleum núcleo particular os mais diversos prismas. Sucedem se os cursos c seminários sobre a nlatêrla. E.
uni forme e coerente -- que Ihe dá um regime especial, com pri ncípios, institutos,
finalmente. a.lurlsprudência. d uranLeafins prisioneira dc concepçõesultrapassa
das.dá sinais de que acorda para as novas realicladcs económica. social cjuridica
- que moldam a contratação anual.No rastro do contrato de trabalho. é o contrato
80 Supremo Tribuna[ Fcc[crt\[: RE 1]4.671 ] R]. i. 20.]0.]987: re]. Min. Car]os Mac]cira. de consumo. com existência própria no ambito do universo conlraLual. quc ganha
81 Tribunal de justiça do Estac[oc]eSão Pau]o: Ape]açãoCível 103.2+8 ] . i. 02.] [. 1988, destaque e regramento específicos".''"
re}. Souza Limo. V {atnbém Pritlleiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São lí'nulo,
Assim como ocorreu com várias regras dc direito comercial noinício do século
.Apc]açãoCível 426.67] 7. i. 06. 12.L989. rcl Tolcdo Silvo.
82 XX. os institutos (onsunlcristas tencleín a espraiar se por todo o direito."i Com
REsp 4.S82-Snj. ] 6.] 0.] c990.Enl dezembro do mesmo 8ilo~ o ST] continuou o entendimen-
1:
to, adx-erLindnquc náo sc vcrihcaria a rcsponsabiliclade clo supermercado se houvesse. no
local, "aviso explicito" cine " isenLassca proprietária (la área de cslacionamenLO cle qualquer
responsabilidadepor [urLOou danosaos automoxeisa]] csLacionac]os"(REsp. 5.905 RJ.l.
04.] 2.1990: rel. Min. Alhos Carneiro). Não sc podedeixar dc destacaro voto vencido de o caratcr peculiar que ostenta: não sendo assltn exagerada\a aflrjllacão ctc que sc traia
Eduardo Ribeiro. no REsp 6.517 (j. 19.02.] 991: rcl Min. Waldemar Zveitcr). enLcndcnclo de ujl] cllreito cspecial"(É?uesrõcs rnnfPaluais no Cocei.gn(/( Díl/t'scí do Con.surtiiclor. 22)
que Q mero oferecimento de local para estacionamento não geraria o dever de indcnizar. 86 .Antonio[lcrEnan[3enjanlin:
Odilcifo c]ocon.sultttdo]
. 55
8:3 O art. 48 elasdisposições lransi lérias dispunha (lue "o Congresso Nacional. dcnt ro dc cento 87 O Código do (-.{)nsumiciorabril)ulu juriclicicladc às (hamadtts "rclaçõc'scle consumo
c \ante dias da promulgação da Constituição. elaborará Contigo dc Defesa do Consumidor' cotnn cxp]ictl Luiz Gaslão ])acs de Barras l cães. /Xs r(lct(õrs df (Ofiscllno (' o (lcclilo ao
84 Ou seja. "a disclplinajundica que se propõe a tutelar o consumidor nas suas relações co?lsumidol: 25} e ss
com Fornecedores":ou "o conjunto c]e pi-incípiosc normas.jurídicasque protegemo 88 lábio Konc[cr Comparado: A reforma c]a empresa, ] 3
consumlclor na relaçãojurídica de consumo" (Antonio Herman Benjamin. O clircílo do 89 Nesse contexto. indispensa\:el a rereré'netaa obra cle Cláuclia [.inl \ fdarqucs. Comi(raros
consumídot: 50 e 54).
no código cl( cle/(scido comi.itttidor. Pubiicacla cm 1992. as edições postcriorcs loranl
85 Sobreo processode reconhecimentodo direito do consumidor como ramo autónomo, v. incorporando e cstuclando a "bela .jurisprudência brasileira\" sobre a matéria: dando
Newton cle Lucca: Tenticígí'ral da rí/acdojurídica dt (-orl.turno.56 c ss. v.. ainda. Albcrto {esLemulaho de sua evolução.
clo AmaramJúnior. Profecãodo consumidor rzocon]rciLOcrccortlpra t' vfrtda. ] 07 e ss. Ao 9(} Antonio Herínan BcnjalTlin ntt apresentação à obra clc Alberto do AmaraIJúnior. ProÍecão
comentar o então novo Código do Consumidor: Bulgarelli asseverava:"L ma nortna com do c{)rtstlrntclol no ( orttrato clf ('olnpt'ct c v'(tecla.
tal extensão,decorrente de uma nova visão do mundo empresarial, llaveria dc ente.jara 9] Na [ncslna toada. Vincenzo Ropl)o: "Nato nel campo dci contratei del consumalore. il
ideia dc clubse [rala o clircito do consumidor. de u]n direito espccia] [...]" "É ]ncgávc] nuovo paradigma conta'attualemanifesta una força espansi\a che lo proietta al di là di
''- :": I'i::'::::i::
illiiii : ii:
] 00 1 A E\'01 t,rÇÃ0 DO DaREi'T'0COMERCIAL ARAS!].EITO In.XN51 C)}iM \IÕES GER.âiS NO DiREll O CC)NíLRCi'\l ] 01
eles, os princípios peculiares do direito do consumidor expandem-se para além 'os Comtnerciantes são. ou sempre se presumem: hábeis: atolados. e perspi
de sua linha circunférica cazesetr] seus negc5cios.]...] Por tanto os que exercem a profissão de mercancia.
não devem ser menos prudentes e circumspectos em seus tratos.(...)".'5 9'
Aolongo desseprocesso,o direito comercial ficou relegadoa segundoplano,
visto como um direito egoísta, subserviente à implacável lógica clo mercado. vas- 26. .Apósinfindáveisdiscussões. os operadoresdo direito têm razoavelmente
salo dos grandes interesses económicos.qz A qualidade e a quantidade da produção delineadasasdiferentes pautas de funcionamento do direito civil e do direito co
doutrinária e.jurisprudencial em matéria mercantil, salvo honrosas exceções, não mercial. Bem ou mal, dominam-se asáreasde intersecção: bem como os princípios
se comparam àquelasdo direito do consumidor. peculiares do direito mercantei, que o di ferenciam daqueles que moldam o direito
civj}
l
11.14A novadicotomia:direito do consumidore direito comercio! O mesmo ainda não ocorreu em relaçãoao diteiro do consumidor.Anuncia-
-se sua existência apartada dos demais ramos do direito privado. t-naspolacos
25. No quadro que se firma a partir dos anos 80, acima delineado. o direito efetivamente são capazes de desenhar confins entre as matérlasl o pouco tempo
mercantil deparou-se com nova e marcada dicotomia: a separação entre direito co- transcorrida desde a afirmação dos vetores do consumerislno impede que seus
mercial e direito do consumidor.ç'
limites apareçamsuficientemente decantadosaosolhos de todos-
A autonomia entre as matérias evidencia se tanto no plano formal quanto
27. Nada haveria a gemernão Fossea profunda diversidade entre as re]ações
naquele material. Sua disposição em diplomas distintos finaliza a independência
interempresariais e as relações com o consumidor. Funcionam corlÜ'tme lógica
formal. Entretanto. quanto às disparidades materiais, a questão não se apresenta diversa; existem cm cortlextos sociais ejurídicos direrenEes.Novamente: cada qual
tão simples. demandando a observação mais aten Lados princípios consumeristas.
possui princípios peculiares, informadores da própria matéria. C) baralhamento
O "direito de não ser explorado"," a buscado lucro a orientar o compor- dessespontos cardeais não leva à modernização. mas ao comprometimento da
tamento de apenasum dos polos cla relação,a premissade hipossuliciência, mecânicado direito comercial e. consequentemente.do adequadofluxo cle rela-
enfim, a lógica do sistema consumerista aparta-se daquela típica do direito çoes economlcas.
mercantil, Se,no direito do consumidor, a presunçãoé a vulnerabilidade de uma Nesse contexto. a necessidade de marcar as diferenças entre os dois regimes
das partes, no direito comercial parte se necessariamente da assunção oposta.
.lurídicos faz com que a consolidação do di Feito do consta micior traga a " redescober
Na dicção de Cairá:
ta" dos contratos comerciais como m(egoria atltõrtoma, merecedora de tratamento
peculiar e distinto das regrasgerais clodireito civil e do direito consumerista.
11.15 A redescoberta dos contratos mercantis: um efeito da consolidação 29. Essapostura doutrinária pouco tem cleclesidiosa. relleilndo a realidade
do direito do consumidor que circundava nossos autores: as regras especiais dos contratos mercantis con
tidas nos ans. 121 a ] 39 Foramsendo sombreac]asnão apenas peia supressão c]e
28. A maioria dos autores não dedicava grande esforço ao estudo dos contratos institutos como o "arbitramento" ou pelo advento do Código Civil. mas também
coíncrciais'' como categoria realmente autónoma. regida por princípios peculia- pela edição clc regras que supla1ltaram a dicotomia dc jurisdições e as diferenças
res. adaptados e esculpidos conforme a lógica dc funcionamento do mercado. No entre os processos civis e comerciais. Além disso, as clirerenças específicas entre
máximo. algumas referências às óbvias especificidades dos negócios mercantis, contratos civis e comerciais Foramsendo limadas. restando poucas dissonâncias.
c[csprezanc[ose talvez sua principal característica moderna: no.sconftatos epnpre de i mporlância mitigada. colmovisto anteriormente.
sariais: ambas(ou (orlas) as l)ar cs fêln tio it,toro o escapo de sua afl\-idade. 30. Ocorre que essaaproximação dos regimes trouxe consigo o descasol)ela
A doutrina habituou-seapenasa comentarcadaun] dos tipos contratuais teoria geral dos contratos mercantis.'o' Uma vez que coincidiam os regimes das
mencionados nos aras.1+0 a 286 do Código de ] 850 e. coílaas décadas.foi-lhes obrigações civis e comerciais, não haveria mesmo razão para estudar separada-
acrescentando outros quc passaram-n
a ser previstos na lcgislação esparsaou talhados mente os dois grupos de contratos, l)uscando singularidades no funcionamento
pela prática eloscoinerclantcs. e na disciplina de cadaunl dclcs.Justificava-sc. lão somente. o esEucloindividual
dos aipos contratuais.
Para comprovar essaassertiva, basta correr os olhos na estrutura das obras
que versam sobre contratos (omerciais editadas no Brasil q8Poucas páginas deitam- Eito caminho naturalmente trilhado pela doutrina. Com o passardo tempo,
se soba'euma tcona geral visto quc. normaltncnte. estaé idcnLilicadacom a à medida que eram desgastadasas poucas di ferenças que ainda restavam entre os
clvilística --. como se pouco houvesse dc comum entre aqueles tipos contratuais, regramentos, menor se jazia a preocupação com a sistematização de uma teoria
a não ser queEll estavam previstos no Código Colncrcial ou liil tinham surgido geral dos contratos mercantis.
da prática dos comerciantes.q"
31 Essefenómeno não é exclusivamente brasileiro epicentrismo da empresa, e tambétn certa preocupação com a perda de importância
Na Itália, por longo período. a teoria geral dos contratos comerciais restou da matéria, talvez ajudem a explicar a tentativa peninsular de atrair para a órbita
estagnada. chegando a ser contestada a própria existência dos contratos mercan- do direito comercial contratos que: a toda evidência, dele despregavamse.'''' lo;
tis.'"' A edição do Código de 1942 "fez com que, por longo tempo, a doutrina Na trança, sem prejuízo da existência do Código Comercial, a situação não
dominante tenha entendido não ser coi-rtpatívclcom a nova disciplina do código sc mostra muito diferente daquela brasileira. Embora não se negue a existência
uma distinção entre contratos civis e contratos comerciais".'": Até ho.je: assinala da categoria tios "contrata comnlerciaux" , para explica-la, os autores, no mais das
Salvatore Monticelli: os contratos empresariais não costumam ser reconhecidos vezes. limitam-se a fazer uso da doutrina dos alas de comércio ou a lançar mão dos
como categoria autónoma'"' por boa parte dos autores peninsulares. argumentos que tradicionalmcn [cjustillcam a autonomia do direito comercial.:'*
ArEuro Da[marre[[o. em pioneira obra editada em ] 958: guiava para compro- Diz se quc oscontratos mercantis estãosujeitos a regrainento divcrsoporcontadas
var que os conLraEoscomerciais continuavam a exIstIr. não obstante a ulaíficação exigências desimplicidade, celeridade e cle crédito , típicasdo di reinoempresarial.i'"'
cle1942.''' Sobreessaobrafoi dito recentemente
que "desafioutoda a doutrina 32. Como resultado dessa visão geral: seja no Brasil. seja cla [uropa. de duas
privatista" . quc. ap(5sa unificação. havia "sepultactoos contratos comerciais".'"' uma: ]i] ou se edifica teoria que confunde c embaralhaas fronteiras dc institutos
Somente nos últimos anos a Itália vê renascero infere.sscpelos contratos marcadamentediversos:'io oullil recorre-se novamente à dogmática civilista -- en-
mercantis
Mas o funcionamento do mercado iibera] gera disfunções(efeitos autodes- De início. no Brasil. as relações entre capital e trabalho eram disciplinadas
Lrutíveis). que levam à desestabilização do sistema. Daí o inteligente arranjo im- pelo Código Civil de 1916 como locaçãode serviços (arl. 1.216 e seguintes).::' A
plementado pelo direito. intervindo para neutralizar e evitar crises. A proteção dos ideia basecalca-se nos pressupostos liberais, assumindo que as partes.inclusive o
direitos sociais" dos trabalhadores mostra-se imperativo para perpetuar o tráfico empregado, disporiam cle liberdade para negociar/aceitar os termos con traLuais. ' : '
mercantil. O "irttelesse geral do comércio" exige que o fatos trabalho corifínue desem- Em ] 938, ainda se noticiava aincipiência da proteção da classetrabalhista no Brasil
pen hcirtdo seu pape/ no processo produtivo, dando seguir7ierito à acumulação de capífal. ea ausênciado reconhecimento do "contrato de trabalho".i2z
A relação entre patrão e empregado i.e.. entre empresae empregado deve Aospoucos se estabelece entre nós a ideia da "hipossuficiência" d o trabalhado r.
ser isolada e tratada de maneira especial.arrefecendo. de certa forma . os pri ncípios na expressãoque se acredita cunhada por CesarinoJúnior. ':' A legislação especial
liberais do tráfico. ' 1*Exige-se que os neg(lciosjuricl icos com empregados passem assiste, a partir dosanos 30, a uma "intensificação febril" e à adoção da regulamen
a obedecer a princípios peculiares, que reconheçam e lidem com a hipossld"íciéncia caçãointernacional do trabalho, sob os auspícios da C)rganização Internacional do
do trabalhador. Há um "particularismo do negócio.jurídico básico regulado pela I'rabalho(OIT).i ;' A influência da obra de Hauriou, com sua teoria das instituições,
[egisiação (]o traba]ho lqucl .lustiftca as inovações nos métodos, nos critérios e na é marcante.' :; Merece incontestável destaque entre nós a promulgação da CLT, em
prC)peiatécnica que disLiílguemo Direito do Trabalho do direito comuill". Ê:o 1943 . quando a empresa é identificada com o empregador.
1}8 ParaAscarclli: "ll superaínentodel liberalismoe dcll'individualismo cconomicoà garantidas etn Loclaa sua plenitude pela i ..l Constituição O pt\pcl clo Estado nns regimes
oggi ovunque Della realLà deite cose. Ncl diriLto privado é slaLOnaturalmente innanzi livres é assistir como sli \pies espcctaclorà formação dos contratos e só Intervir para asse
tacto neí diritto de} }avoro che, fin dana hne de} secoÍo XIX, ia concezione }iberaie e
gorar os efeitos e as consequências dos (onLratos livrcmctaLe realizados. Por essa lornla. o
Individualista e stata sottoposta a una critica serradaed a [rasrormazioni profonde Estado não limita. não cllminui. mas amplia a ação cla liberdade e da ativjclacleincliviclual.
(La [unzLonc del diritto speciaLee ]e Lrasforlnazioni dc] diritlo commerciale. 8). No
garantidos os seus efeitos. 1...1 0 trabalho humano foge sempre à regulamentação, pro-
mesTnosenLiclo.Ccsarino Júnior: "É lugar comum nas obrasde direito clo trabalho
curando pontos onde ele pode exercer-selivremente"(Arnaldo Stissekind. Délio Maranhãn
a ahrint\ção de que o in(lividuaiismo- proprlo da Revolução francesa. proclamando a e cegadas \-'ianna. ín.sfitui(õe.s de direi(o do [rcibalho. 57 81
igualdacte. a liberdade (oiarratual entre o patrão e o operário. havia apenas garantido a ] 2{) Havia poucas leis prntetivas. relatadas por Arnaldo Stlssekind: DéLloMaranhão e
êste [ .. ] o c]ircilo de... morrer c]e fome. .\ desiguaÍdac]c das condicões económicas dos
Segactas Vianna. [tl.s]i]uía)fs dí dir(í]o c]o trabalho. 58 e ss.
dois contratantes. se traduzia semllrc ou quase. na aceitação pela parte mais fraca. o
C)FiandoGomos c Élson Gottschalk afirmam que a matéria recebeu. no Código Civil,
operário. d:ts condições danosascine Ihe eram inlposlas f)clo mais Forte,o patrão. que
um tratamento no puro estilo clássico rornanista" ((ul.se clf diltito do [/atalho: 7) No
podia esl)ctttr o empregado que s(' sujeiLasseás suas i mposicõcs. enquanto o operário, mesmo sentido, CcsarinoJúnior destaca que a propria expressão "locação dc serviços
nãn dispondo de outros re(ursos quc não a sua loiça de Lratla]ho. devia sujeitar-se a
aceitar as concllçõcs propostas, por mais bronzcas (lue fossctn. Dai. naturalinenLe a e mera lraclução da lomfio ou conductío opc'larum do direito romano (NclrLlrezajurí(Zim
do co?ltratoindivídi a! de {labaiho, ] 8)
necessiclaclede uma legislaçãoespecial, it anual legislaçãosocial. feita. como acentuou
notável civilista. com a preocupação de proteger a parte mais Fraca" (N'ature a jut [di
] 22 CesarinoJúnior. Natulezajurlclica do corllra(o indivicZtlaid( rlabalho. 23 c ss
do confrcllo índivicltlal cletrabalho: 30). Sobre a separação clo direito clo trabalho. \-. Kart ] 23 .'\os não proprietários, quc só possuem sua fôrça de trabalho, denominamos aipos
l.arenz. l)nec/lo civil. pczrfegt'ReFaZ:
65 e ss. No início do século XX. Paul Pic advertia suÚcicntes..'\os proprietários. de capitais imóveis, mercadorias.maquinaria. terras.
que o antagonismo entre o capital c o trabalho leva ao risco elasgreves: da violência. chamamos clu(ossuÜcientes.Os hipossuhcienLes estão, em relacão aos autossuficienles.
que a legislação poderia evitar. colocando entre as duas Forçasfatos conciliador e ar numa situação de hipossuficiência absoluta, pois dependem, para viver c Fazersua família.
vitral. ittelllol-ando as condições dos traballlaclorcs: com algum sacrifício dos patrões do pj-adula de scu trabalho. 1...1Há uma troca entre os bens excedentesdos ricos e os
( /rairí; élémenraite dÉ legisla(íon inda.s(lielle Le.sloiç ouvliéte.s, 8) serviços dos pobres. O lugar em que gera]menrc se opera esta troca é a empresa ]...].
}]9 No Brasií: o apartar das relações lrabalhisras assume traços característicos. derivados cla ...l A htpossuficiênciaabsolutase caracterizapelo rarodc o indivíduo dependerdo
resistência liberal. Relatam autores especializados o acto presidencial a leis que. no início produto do seu trabalho para ntanter se e à sua Família" (Direito se(ia] brasi]eito, 25-6)
] 24 Os diplomas mais relevantes desse período e sua disciplina constitucional são anotados
da República, procuraram garantir alguns direitos aos trabalhadores: "Segtmdo o princípio
de igualdade perante a lei. tt locação de serxdçoagncola deve scr regulada pelos princípios por afiando Games c Elson Gottschalk. Curso df cliff:ifo do trabalho. 7.
clcdireito comum e não por um regimeprocessuale penal dc exceção.Nas sociecladcsci- ]25 " âs grandes linhas dessa nova teoria são as seguintes: uma instituição é uma ideia de obra
\ilizadas a aEiviclaciehumana se exerce em quase toldas as formas sob o regime do contrato ou cmprcsa que se realiza e dura juridicamente em um meio social: para a realização dessa
Intenlr o Estado na formação dos contratos é restringir a liberclaclee a atividacle inda\ Ideal Ideia, organiza se um poclcr quc avia os órgãos necessários:dc outra parte, entre os membros
nas suas mais elevadas c constantes nlanlfestaçõcs. é limitar o l ivre exercício das prohssões: do grupo social Interessado na realização cÍa ideia, produzetn-se manáfestaçõesde comunhão
110 4 F\OLtr(..\o DO DiRUllc) COhlE:RCI.\l nR.\slt E[RC)
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