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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CAMPUS SENADOR HELVÍDIO NUNES DE BARROS


CURSO: LICENCIATURA PLENA EM LETRAS
DISCIPLINA: TEORIA DA LITERATURA II
PROFESSOR: DR. WELBERT FEITOSA PINHEIRO

ATIVIDADE DE TEORIA DA LITERATURA II

1) Leia:
O texto está, portanto, entretecido de espaços em branco, de
interstícios a encher, e quem o emitiu previa que eles fossem
preenchidos e deixou-os em branco por duas razões. Antes de
mais, porque um texto é um mecanismo preguiçoso (ou
econômico) que vive da mais-valia de sentido que o destinatário
lhe introduz, [...]. Em segundo lugar porque, à medida que se
passa, a pouco e pouco, da função didascálica à função estética,
um texto pretende deixar ao leitor a iniciativa interpretativa, ainda
que habitualmente deseje ser interpretado com uma margem
suficiente de univocidade. Um texto quer que alguém o ajude a
funcionar.
(Eco, Umberto. Leitura do texto literário. 2 ed. Lisboa, 1993)

Embasado nas leituras feitas em sala de aula, posicione-se criticamente


em torno do excerto acima.

2) Leia:
[...] qualquer passeio pelos mundos ficcionais tem a mesma função
de um brinquedo infantil. As crianças brincam com boneca,
cavalinho de madeira ou pipa a fim de se familiarizar com as leis
físicas do universo e com os atos que realizarão um dia. Da mesma
forma, ler ficção significa jogar um jogo através do qual damos
sentido à infinidade de coisas que aconteceram, estão acontecendo
ou vão acontecer no mundo real. Ao lermos uma narrativa,
fugimos da ansiedade que nos assalta quando tentamos dizer algo
de verdade a respeito do mundo.
(Eco, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. 2 reimpressão. Companhia
das Letras, São Paulo, 1994)

Com base nas leituras feitas no livro “Seis passeios pelos bosques da
ficção”, desenvolva o excerto acima.

3) Leia:

[...] um texto é um produto cujo destino interpretativo deve fazer


parte do seu próprio mecanismo generativo: gerar um texto
significa atuar segundo uma estratégia que inclui as previsões dos
movimentos do outro – tal como acontece em toda estratégia.
(Eco, Umberto. Leitura do texto literário. 2 ed. Lisboa, 1993)

Posicione-se frente ao excerto de autoria de Umberto Eco.


4) Leia:
Após a publicação de meu romance, O pêndulo de Foucault, um amigo de
infância, que não vejo há anos, escreveu-me o seguinte: “Caro Umberto,
não me lembro de ter lhe contado a história patética de meus tios, mas
acho que foi uma grande indiscrição de sua parte usá-la em seu romance”.
Bem, em meu livro conto alguns episódios relacionados com um “tio
Carlo” e uma “tia Catarina”, que vêm a ser os tios do protagonista, Jacopo
Belpo, e que de fato existiram na vida real: com algumas alterações conto
uma história de minha infância que envolve um tio e uma tia – os quais,
no entanto, tinham outros nomes. Respondi a meu amigo dizendo que tio
Carlo e tia Catarina eram parentes meus, não dele, e que, portanto, eu
detinha o copyright; eu nem sabia que ele tinha tios e tias. Meu amigo
pediu desculpas: ficou tão envolvido com a história que julgou reconhecer
alguns incidentes ligados a seus tios – o que não é impossível, pois em
épocas de guerra (e a uma delas remontavam minhas lembranças) coisas
parecidas acontecem com tios diferentes.
(Eco, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. 2 reimpressão. Companhia
das Letras, São Paulo, 1994)

Em conformidade com as leituras feitas no livro “Seis passeios pelos


bosques da ficção”, posicione-se sobre a passagem acima e aponte o tipo de leitor
que se enquadra no amigo de Umberto Eco.

Com base no excerto acima, observa-se que o tipo de leitor do amigo de


Umberto Eco é o leitor empírico, pois:

“O leitor empírico é você, eu, todos nós, quando lemos um


texto. Os leitores empíricos podem ler de várias formas, e não
existe lei que determine como devem ler, porque em geral
utilizam o texto como um receptáculo de suas próprias paixões”
(Eco, Umberto. Seis passeios pelo bosque da ficção, Campainha
de Letras, São Paulo).
Sendo assim, o leitor empírico é um leitor comum, aquele que pode ler a obra
de forma equivocada e utiliza-se dessa leitura para buscar soluções dentro do texto e
assim é influenciado por suas próprias paixões. Que é o caso do amigo de Umberto Eco
ao associar características dos personagens da obra as de seus tios, desse modo o mesmo
traz consigo experiências de sua vida pessoal.

Eco diz que “o que aconteceu com o seu amigo é que ele havia procurado no
bosque uma coisa que estava em sua memoria particular” (Eco, Umberto. Seis passeios
pelo bosque da ficção, Campainha de Letras, São Paulo). Pois, para Umberto Eco, nada
nos proíbe de usar um texto para devanear e viajar pelo bosque da narrativa no
momento da leitura de modo que possamos usar a nossa imaginação para uma
experiência além de nossas próprias paixões. Em suma, ao entrar no bosque o seu amigo
não consegue transcender, pois estava preso a suas emoções e experiências da vida real.
“Eco diz que cabe, portanto, observar as regras do jogo, e o leitor-modelo é alguém que
está ansioso para jogar. Meu amigo esqueceu as regras e sobrepôs suas próprias
expectativas de leitor empírico às expectativas que o autor queria que um leitor-modelo
tivesse” (Eco, Umberto. Seis passeios pelo bosque da ficção, Campainha de Letras, São
Paulo).

5) Leia:
Vamos a um bosque para passear. Se não somos obrigados a sair correndo
para fugir do lobo ou do ogro, é uma delícia nos demorarmos ali,
contemplando os raios do sol que brincam por entre as árvores e salpicam as
clareiras, examinando o musgo, os cogumelos, as plantas rasteiras. Demorar-
se não quer dizer perder tempo: com frequência, a gente para a fim de refletir
antes de tomar uma decisão.
(Eco, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. 2ª reimpressão. São Paulo: Cia
das Letras, 1994)

No fragmento acima, comente quais as mensagens textuais escritas para


o leitor de literatura.

Seu argumento é reforçado através do uso da metáfora do bosque que, segundo


Jorge Luis Borges, é um “jardim de caminhos que se bifurcam”, permitindo que, mesmo
quando não existam trilhas bem definidas, todos possam traçar sua própria trilha,
decidindo seus próprios caminhos. O leitor faz escolhas o tempo todo nos livros
literários e até mesmo nas frases individuais que contenham ao menos um verbo
transitivo, e sempre tenta, ainda que inconscientemente, prever o término das frases que
Segundo Eco, existem narradores que desejam que o leitor tenha a liberdade de
imaginar a continuação de sua história, é o caso de Poe na Narrativa de Arthur Gordon
Pym, por exemplo. No entanto, isso pode dificultar na desorientação do leitor, que se
torna incapaz de sair daquele bosque. Umberto Eco afirma que as narrativas de ficção
são necessariamente rápidas devido ao fato de que durante a construção de um mundo
que inclui uma grande quantidade de acontecimentos e personagens, não se pode dizer
tudo sobre ele.

O autor deixa uma série de lacunas no mundo, que o próprio leitor preenche.
Essa passagem permite uma boa exemplificação do autor-modelo e do leitor modelo.
Eco diz que os pronomes pessoais que contém não indicam uma personagem empírica
ou um leitor empírico, mas são apenas estratégias textuais, concebidas como uma forma
de atrativo, como no início de um diálogo. Ao mesmo tempo em que um sujeito falante
faz sua intervenção, é criado um leitor-modelo que sabe dar continuidade à investigação
da natureza dos jogos, e a disposição intelectual desse leitor é determinada apenas pelo
tipo de passos interpretativos que a voz lhe pede para dar, ou seja, os atos de ver, olhar,
considerar, encontrar relações e semelhanças.

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