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1) Leia:
O texto está, portanto, entretecido de espaços em branco, de
interstícios a encher, e quem o emitiu previa que eles fossem
preenchidos e deixou-os em branco por duas razões. Antes de
mais, porque um texto é um mecanismo preguiçoso (ou
econômico) que vive da mais-valia de sentido que o destinatário
lhe introduz, [...]. Em segundo lugar porque, à medida que se
passa, a pouco e pouco, da função didascálica à função estética,
um texto pretende deixar ao leitor a iniciativa interpretativa, ainda
que habitualmente deseje ser interpretado com uma margem
suficiente de univocidade. Um texto quer que alguém o ajude a
funcionar.
(Eco, Umberto. Leitura do texto literário. 2 ed. Lisboa, 1993)
2) Leia:
[...] qualquer passeio pelos mundos ficcionais tem a mesma função
de um brinquedo infantil. As crianças brincam com boneca,
cavalinho de madeira ou pipa a fim de se familiarizar com as leis
físicas do universo e com os atos que realizarão um dia. Da mesma
forma, ler ficção significa jogar um jogo através do qual damos
sentido à infinidade de coisas que aconteceram, estão acontecendo
ou vão acontecer no mundo real. Ao lermos uma narrativa,
fugimos da ansiedade que nos assalta quando tentamos dizer algo
de verdade a respeito do mundo.
(Eco, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. 2 reimpressão. Companhia
das Letras, São Paulo, 1994)
Com base nas leituras feitas no livro “Seis passeios pelos bosques da
ficção”, desenvolva o excerto acima.
3) Leia:
Eco diz que “o que aconteceu com o seu amigo é que ele havia procurado no
bosque uma coisa que estava em sua memoria particular” (Eco, Umberto. Seis passeios
pelo bosque da ficção, Campainha de Letras, São Paulo). Pois, para Umberto Eco, nada
nos proíbe de usar um texto para devanear e viajar pelo bosque da narrativa no
momento da leitura de modo que possamos usar a nossa imaginação para uma
experiência além de nossas próprias paixões. Em suma, ao entrar no bosque o seu amigo
não consegue transcender, pois estava preso a suas emoções e experiências da vida real.
“Eco diz que cabe, portanto, observar as regras do jogo, e o leitor-modelo é alguém que
está ansioso para jogar. Meu amigo esqueceu as regras e sobrepôs suas próprias
expectativas de leitor empírico às expectativas que o autor queria que um leitor-modelo
tivesse” (Eco, Umberto. Seis passeios pelo bosque da ficção, Campainha de Letras, São
Paulo).
5) Leia:
Vamos a um bosque para passear. Se não somos obrigados a sair correndo
para fugir do lobo ou do ogro, é uma delícia nos demorarmos ali,
contemplando os raios do sol que brincam por entre as árvores e salpicam as
clareiras, examinando o musgo, os cogumelos, as plantas rasteiras. Demorar-
se não quer dizer perder tempo: com frequência, a gente para a fim de refletir
antes de tomar uma decisão.
(Eco, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. 2ª reimpressão. São Paulo: Cia
das Letras, 1994)
O autor deixa uma série de lacunas no mundo, que o próprio leitor preenche.
Essa passagem permite uma boa exemplificação do autor-modelo e do leitor modelo.
Eco diz que os pronomes pessoais que contém não indicam uma personagem empírica
ou um leitor empírico, mas são apenas estratégias textuais, concebidas como uma forma
de atrativo, como no início de um diálogo. Ao mesmo tempo em que um sujeito falante
faz sua intervenção, é criado um leitor-modelo que sabe dar continuidade à investigação
da natureza dos jogos, e a disposição intelectual desse leitor é determinada apenas pelo
tipo de passos interpretativos que a voz lhe pede para dar, ou seja, os atos de ver, olhar,
considerar, encontrar relações e semelhanças.