Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Transversalidade Na Educação
Transversalidade Na Educação
Transversalidade na Educação
racionais, interativos, curiosos, questionadores e,
ainda, sociais, políticos e históricos, a educação
deve superar a transmissão de conteúdos
disciplinares. É necessário que escola e vida
caminhem juntas, pois estudar não é reproduzir os
conteúdos definidos apenas no currículo escolar.
A educação deve permitir a relação dialógica, a
interatividade, a troca e a visão multidimensional
das coisas e das pessoas, desenvolvendo no
estudante habilidades, competências e atitudes
para que possa exercer sua cidadania, bem
como aprender a viver em harmonia com as
demandas constituídas da relação sociedade,
indivíduo e natureza. Edna Liz Prigol
Com base nessas percepções e entendendo a
Transversalidade
necessidade de mudança paradigmática na vida e
na educação, esta obra se propõe a discutir temas
relacionados à transversalidade na educação.
Embora os temas aqui tratados não sejam novos,
ainda não foram incorporados no processo
educativo. Dessa maneira, a transversalidade,
a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade
na Educação
são bases epistemológicas e metodológicas
que devem compor os saberes docentes, para
lembrar que educar está relacionado com a
vida e envolve múltiplas dimensões para o
desenvolvimento do ser, fazer, conhecer e
conviver nesse mundo planetário.
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: wavebreakmedia/Halfpoint/ESB Professional/Halfpoint/Iakov Filimono/Olena Yakobchuk/
Rawpixel.com/maroke/Lightspring/ Shutterstock
4 Transversalidade e currículo 84
4.1 Evolução histórica do currículo 85
4.2 Currículo e transversalidade: desafios contemporâneos 91
4.3 Transversalidade no currículo e no planejamento pedagógico 95
4.4 O currículo organizado por projetos 100
Gabarito 147
APRESENTAÇÃO
A realidade atual do mundo e de nosso contexto brasileiro mostra
que vivemos em um tempo incerto, com contradições e desafios a serem
resolvidos. São tempos fluidos, sujeitos ao imprevisto, ao inesperado e com
problemas globais e locais. Essa é uma realidade complexa a qual aponta para
a necessidade de entender que os processos não se desenvolvem de maneira
linear, determinada e pautada em certezas. Então, qual é o papel da educação
diante dessa percepção?
A educação ainda está estruturada em um paradigma cartesiano
mecanicista, que incita um processo educativo pautado na disciplinaridade
e na racionalização; além disso, separou a razão do sentimento e a alma do
conhecimento. Esse modelo promove um processo de ensino e aprendizagem
no qual predomina a fragmentação dos conhecimentos e, consequentemente,
o fechamento das fronteiras disciplinares. Isso impede a interação entre as
diversas áreas e disciplinas e de se ver além delas, navegando por outros
níveis de realidade e percepção.
Se somos criativos, inovadores, afetivos, racionais, interativos, curiosos,
questionadores e, ainda, sociais, políticos e históricos, a educação deve
superar a transmissão de conteúdos disciplinares. É necessário que escola e
vida caminhem juntas, pois estudar não é reproduzir os conteúdos definidos
apenas no currículo escolar. A educação deve permitir a relação dialógica, a
interatividade, a troca e a visão multidimensional das coisas e das pessoas,
desenvolvendo no estudante habilidades, competências e atitudes para que
possa exercer sua cidadania, bem como aprender a viver em harmonia com
as demandas constituídas da relação sociedade, indivíduo e natureza.
Com base nessas percepções e entendendo a necessidade de mudança
paradigmática na vida e na educação, o primeiro capítulo possibilitará
recordar as concepções pedagógicas educacionais para entender como elas
influenciaram e ainda interferem na prática pedagógica. Serão apresentados
alguns temas fundamentais que estruturam o pensamento complexo de
Edgar Morin e auxiliam no desenvolvimento de uma educação integral.
O segundo capítulo buscará tecer conhecimentos para levar à compreensão
do significado da transversalidade, bem como dos temas transversais na
educação. Para isso, serão revisitados alguns marcos teóricos legais e autores
que discutem o tema, finalizando com a análise dos Temas Contemporâneos
Transversais da BNCC.
No Capítulo 3, propõe-se ampliar os conhecimentos acerca da
interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, entendendo como devem
ser usadas na construção do currículo e na prática pedagógica. Também,
serão tratadas as orientações da BNCC relacionadas às viões intradisciplinar,
interdisciplinar e transdisciplinar para organização do processo educativo.
O currículo e a transversalidade são propostos no Capítulo 4, sendo
realizada uma retrospectiva histórica para contextualizar os temas de maneira
que você possa reconhecer a importância da inovação curricular como forma de
atribuir significado às necessidades de aprendizagem na contemporaneidade.
Com o intuito de compreender a inserção da inter e da transdisciplinaridade
no processo educativo, busca-se trazer algumas informações sobre o currículo
organizado na proposta de projetos de trabalho.
No último capítulo, propõe-se navegar em cada um dos 15 Temas
Contemporâneos Transversais para ressignificar velhos conceitos e buscar
novas compreensões teórico-práticas, dando novos olhares para a construção
de propostas educativas.
Embora os temas aqui tratados não sejam novos, ainda não foram
incorporados no processo educativo. Dessa maneira, a transversalidade, a
interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são bases epistemológicas e
metodológicas que devem compor os saberes docentes, para lembrar que
educar está relacionado com a vida e envolve múltiplas dimensões para o
desenvolvimento do ser, fazer, conhecer e conviver nesse mundo planetário.
Bons estudos!
1
Educação do passado, do
presente e do futuro
Buscando fazer uma retrospectiva relacionada às abordagens
educacionais que fundamentaram a educação no Brasil desde a
década de 1920, este capítulo revisita conceitos já conhecidos para
repensar as ações pedagógicas da atualidade.
As inquietações e indagações em relação à prática peda-
gógica estão presentes no meio educacional, desencadeando
e impulsionando reflexões sobre o agir docente na busca de
alternativas para as incoerências presentes na atuação em sala
de aula na contemporaneidade.
O professor, hoje, precisa não apenas ter domínio de con-
teúdos específicos de sua área, mas também relacionados às
questões didático-pedagógicas e ligados ao contexto local no
qual atuará. Além disso, deve ter conhecimentos globais para
que os educandos apropriem-se do conteúdo, transformando-o
em saberes a fim de que possam se preparar para agir como
cidadãos do mundo, aptos a enfrentar os desafios da socieda-
de contemporânea. Dessa maneira, faremos uma introdução,
ou revisão, sobre o pensamento complexo de Edgar Morin. O
capítulo será finalizado com um texto cujo objetivo é estimular
a reflexão sobre a educação contemporânea.
Estudo de caso
Uma professora de uma turma do 3º ano do Ensino Fundamental propôs para seus alunos um desafio: Trabalhar
com a temática “reciclagem de lixo nas cidades”.
Para iniciar os estudos, ela propôs uma roda de conversa em sala de aula a fim de saber o que os alunos já
conheciam sobre o tema e, depois disso, eles fizeram uma lista de questionamentos sobre o assunto, surgindo as
seguintes perguntas: O que é lixo? Por que produzimos tanto lixo? Como funciona a coleta do lixo em seu bairro?
Curiosidade
O que é coleta seletiva? Quem é responsável pela coleta seletiva? Quanto tempo o lixo “dura”? O que é reciclagem
Com o início da Idade Moderna, de lixo? O que é reaproveitamento do lixo? Qual é a relação do lixo com o meio ambiente? Entre outras. Com esses
o conhecimento se tornou mais questionamentos, o professor solicitou aos alunos que pesquisassem sobre o assunto e coletassem informações
estruturado e voltado para a para que juntos pudessem buscar respostas.
técnica e ciência experimental,
alterando as formas de pensar Durante o bimestre, com a temática e material trazido pelos alunos, foi possível trabalhar diversos conteúdos disci-
e agir na ciência por meio de plinares. Por exemplo, durante as aulas de Português, pôde-se trabalhar com leitura, escrita, compreensão de texto,
comprovações empíricas. A par- leitura e interpretação iconográfica, tipos diferentes de textos, e sinônimo e antônimo. Na disciplina de Geografia,
tir das descobertas de Copérnico Matemática e Ciências, foram utilizados mapas, gráficos, dados quantitativos e qualitativos, imagens, infográficos,
(1473 -1543) com a Teoria do
e sites de prefeituras, de ONGs e do governo para coletar dados, dessa forma, trabalhando medidas do tempo e
Heliocentrismo; Galileu Galilei
(1546-1642) afirmando que a dinheiro, estatísticas, as quatro operações, passado, presente e futuro, fatos históricos, diferentes paisagens, noções
natureza é governada por leis de espaço, lateralidade, cidadania, reações e produtos químicos, e muitos outros conteúdos curriculares.
cujas fórmulas são matemática;
Francis Bacon (1561-1626)
Esse estudo de caso mostra uma prática docente transversal que
com o método empírico sobre o
procedimento da indução; René supera ações reducionistas, fragmentadas e lineares no processo de
Descartes (1596-1650) com o ensino e aprendizagem.
Discurso do Método e a ideia da
compartimentalização e Isaac Você já ouviu sobre a importância de superar o paradigma
Newton (1642-1727) com a Lei newtoniano-cartesiano na educação para podermos ter uma prática
da Gravidade, o conhecimento
precisou passar a ser explicado pedagógica inovadora que prepare os alunos para resolver os proble-
com exatidão por meio de mas da sociedade na contemporaneidade?
leis, sendo utilizadas técnicas
de maneira mais racional. A Esse paradigma influenciou a educação com ideias para o desenvol-
junção dessas teorias e métodos vimento de um currículo rígido com conteúdo predefinido, absoluto e
caracteriza o paradigma
inquestionável, instigou o pensamento linear e fragmentado, estimu-
newtoniano-cartesiano.
lou trabalhar com a racionalização, além do aprendizado passar a ser
10 Transversalidade na Educação
visto como um produto, priorizando a memorização dos conteúdos,
com metodologia fundamentada no “escute, leia, decore e repita”.
bioraven/Shutterstock
1
Para Paulo Freire, educação
bancária é quando o professor Escola Professor Aluno
conduz seus alunos à memo- É visto como espectador
rização mecânica do conteúdo, Tem um papel É o transmissor de passivo, subordinado
tornando-os recipientes que sistematizador e conteúdos. Coloca- a uma aprendizagem
serão enchidos pelo educador. a reprodução é -se como o dono da em que somente o
“Eis aí a concepção bancária identificada como um verdade irrefutável, é professor detém o saber
da educação, em que a única compromisso social que autoritário e rigoroso. A absoluto e transmite
margem de ação que se oferece prepara os alunos para relação professor-aluno o conteúdo a ser
aos educandos é a de receberem reproduzir modelos é vertical, o professor memorizado, surgindo
os depósitos e arquivá-los” prontos para viver na detém o poder de o conceito de educação
(FREIRE, 1975, p. 68). sociedade. decisão sobre o ensino. 1
bancária .
12 Transversalidade na Educação
É importante ressaltar que essa ação educacional estruturada
no escutar, ler, decorar e repetir mecânico do aluno é recriminada
por Morin (2008, p. 21), porque para ele “uma cabeça bem cheia
é óbvio: é uma cabeça onde o saber é acumulado, empilhado, e
não dispõe de um princípio de seleção e organização que lhe dê
sentido”. O autor defende uma cabeça bem feita, ou seja, um pro-
cesso educativo no qual o aluno é protagonista e tem autonomia
para construir seus conhecimentos.
cias educacionais que refutavam a abordagem tradicional. Dessa ma- O vídeo D-01 – Escola
Nova, publicado pelo
neira, surge o movimento da Escola Nova, em que vários autores se canal Univesp, faz uma
destacaram, como Jean-Jacques Rousseau, Johann Heinrich Pestalozzi, excelente síntese da
abordagem da Escola
John Dewey, Maria Montessori e Friedrich Froebel. A ideia fundamen- Nova. Vale a pena assistir!
tal é de que a ênfase da educação não está nos conteúdos e sim no
Disponível em:
processo da aprendizagem, o qual deve ser permeado pela experiên- https://www.youtube.com/
cia, sendo o aluno protagonista e ativo nesse processo, defendendo watch?v=Lr5xe2LXoqs. Acesso
uma escola pragmatista. em: 2 mar. 2020.
Figura 1
Características da Escola Nova
Adequar as Valorizar os
necessidades individuais
conhecimentos
ao meio social,
retratando a vida por do aluno.
meio de experiências.
Aprender
Pesquisa, método de
solução de problemas, e
Escola a aprender
e aprender
estudo do meio natural Nova fazendo.
e social.
O professor com
O aluno como ator principal,
papel secundário,
centro do processo de
facilitador da
ensino e aprendizagem, e
aprendizagem.
sujeito ativo.
14 Transversalidade na Educação
O desenvolvimento dessas abordagens, a partir da década 1980, Vídeo
proporcionou um repensar da prática pedagógica pautada na peda- O vídeo Desafios futuros,
publicado pelo canal
gogia racionalista, com predominância na transmissão, reprodução, SINPROSP, apresenta
fragmentação e disciplinaridade. A abordagem Progressista difundiu o uma fala do professor
José Carlos Libâneo
pensamento de que a instituição de ensino poderia auxiliar na trans- sobre a educação e a
formação da sociedade, uma vez que a educação deve contribuir para a função da escola.
formação de indivíduos cada vez mais humanizados, capazes, inclusive, Disponível em:
de modificar a realidade em que vivem. Observe a seguir características https://www.youtube.com/
da abordagem Progressista. watch?v=bERxLjM7G0I. Acesso
em: 2 mar. 2020.
Figura 2
Características da abordagem Progressista
Autonomia e
Autogestão
Transformação
Politicidade
Dialogicidade
Socialização
ck
rsto
do saber
Erro é um
te
hut
s/S
caminho
us
Prática
am
para o
se
emancipadora acerto
Esse caso permite fazer uma análise para identificar o que pode-
ria surgir de pensamentos nas pessoas a partir de alguns paradigmas.
16 Transversalidade na Educação
Dessa maneira, vamos olhar para isso sob perspectivas diferentes, se-
gundo o raciocínio feito por Moraes e Torre (2004):
a. Na visão do Paradigma Positivista, essa notícia seria descrita
em termos de fatos concretos, exaltando o objeto como única
realidade a ser investigada. Dessa maneira, seriam destacados:
hora e local do acidente; características da pessoa acidentada;
tipos de pessoas que se envolveram na situação; idade dos jovens
etc. A análise feita na perspectiva positivista seria de uma imagem
da situação que mostrasse concretamente o fato ocorrido, e os
itens que poderiam ser observáveis e mensurados.
b. Na visão do Paradigma Interpretativo, esse mesmo incidente
teria outra análise, avaliada com base no reflexo que a situação
produz nas pessoas afetadas, direta ou indiretamente. Aqui o
importante não é a questão quantitativa e concreta, mas o que
pensam e sentem as pessoas de acordo com o envolvimento
ou não na situação, logo, o que impera é a subjetividade. Dessa
forma, a análise seria relacionada aos sentimentos envolvidos
nos jovens que propuseram a brincadeira, o que sentem e
pensam os familiares, quais são as percepções das pessoas
que estavam no local e visualizaram o acidente, entre outros
questionamentos. Sendo assim, identificamos que podemos ter
respostas diversificadas a esses questionamentos, pois a situação
é examinada sob perspectivas e concepções pessoais.
c. Na visão do Paradigma Sociocrítico, diferentemente das
abordagens anteriores, seria feita uma análise sob o ponto
de vista do contexto sociocultural, tentando entender e
dar legitimidade ao ocorrido, identificando o impacto e
as consequências sociais do fato educativo. Logo, nesse
paradigma surgiriam os seguintes questionamentos: por que
ocorre esse tipo de situação? O que acontece para que jovens
não percebam as consequências de algumas atitudes? Qual é a
relação da sociedade com esse tipo de evento?
d. Na visão do Paradigma Complexo, a situação e suas
especificidades seriam analisadas como uma unidade global,
por ser uma ação complexa. A análise seria feita como um
sistema interativo e dinâmico, no qual as observações das
visões paradigmáticas anteriores seriam consideradas, porém
é necessária uma visão de inter-relação entre sujeito, objeto e
contexto, concebendo as relações, as conexões e as diversas
Figura 4
Paradigma
Complexidade
Observação
Contexto
e Subjetividade
sociocultural
Mensuração
18 Transversalidade na Educação
lidade. Para Morin (2000), isso seria a relação entre o diverso e o uno.
Em outras palavras, quando pensamos no ser humano, cada indivíduo
é único, uma unidade que vive com outros humanos na diversida-
de. Mas também devemos compreender a diversidade na unidade,
o que Morin (2000, p. 55) denominou de Unitas Multiplex, ou seja,
compreender que “é preciso conceber a unidade do múltiplo, a
multiplicidade do uno”.
Figura 5
Exemplo de contextualização
Figura 6
Princípio sistêmico ou organizacional
PARTES TODO
Salas de aula Escola
Vla
gpo
dim
in
ir N
tstu
e
nezic/S
dio/Shutterstock
hutterstock
Fonte: Elaborada pela autora.
3. Usando o mesmo exemplo anterior, podemos, ainda, dizer que
o que se faz em cada sala de aula é único, porém as ações ali
realizadas contêm a visão de educação da escola, bem como
os pressupostos teóricos metodológicos por ela definidos.
Isso foi denominado como princípio hologramático, pois em uma
organização complexa podemos identificar que não só a parte
está no todo, mas também o todo está na parte.
4. Ainda usando o exemplo da sala de aula, podemos identificar
o princípio de retroatividade, em que além da causa agir sobre
o efeito, o efeito também retroage sobre a causa de modo
informacional, possibilitando que o sistema tenha autonomia
20 Transversalidade na Educação
organizacional. Na prática seria dizer que as ações não são
lineares (causa efeito), mas sim circulares. Se o professor, por
exemplo, utiliza de uma metodologia para ensinar um conteúdo,
a resposta é a aprendizagem total, parcial ou a não aprendizagem
do conteúdo pelo aluno. Conforme a resposta do aluno/turma,
o professor poderá ou não alterar sua prática pedagógica para
alcançar o seu objetivo de ensinar o conteúdo.
Figura 7
Princípio da retroatividade
Professor
mantém
sua metodologia
Aprende
Professor Informação
Ensinar do resultado
Aluno
Uso de metodologia da ação
Não aprende
Aprende
parcialmente
Professor
modifica
sua metodologia
Figura 8
Princípio da recursividade
Professor
mantém sua
metodologia
Aprende
Não aprende
Aprende parcialmente
Professor
modifica sua
metodologia
22 Transversalidade na Educação
em relação ao plano inicial, porém, com algumas ações, o
professor consegue reorganizar e finalizá-la, apesar de ter tomado
novo rumo, fundamental para a compreensão do conteúdo pelos Figura 9
alunos. Podemos sintetizar que ocorreu uma ordem/desordem/ Para compreender o
princípio dialógico
organização, entidades opostas que podem colaborar e produzir a
organização de um fenômeno. Imagem do Yin Yang,
8. Outra ideia-chave do pensamento complexo é entender que toda representado pelo feijão e pelo
arroz, possibilitando ver que
ação pode ser modificada, invertida ou até retroceder de algo dois elementos opostos podem
previamente pensado ou delimitado, ou seja, escapar se complementar.
24 Transversalidade na Educação
pessoas a conviverem com a provisoriedade, a mudança e a de-
sordem. Tempos de incertezas que possibilitam o surgimento de
novas tendências pelo rompimento de paradigmas que se tornam
obsoletos. Além disso, identifica-se que esse cenário incita para a
superação de práticas pedagógicas voltadas à fragmentação e à
padronização, necessitando desenvolver uma educação que cor-
responda às necessidades contemporâneas e futuras.
(1) as cegueiras do
Figura 10
conhecimento: erro e ilusão,
Síntese dos sete saberes necessários
à educação do futuro para compreender o erro como
possibilidade a outros caminhos,
não deixando a ilusão cegar;
(2) os princípios do
conhecimento pertinente,
para superar a fragmentação
e rearticular as disciplinas de
modo a religar o conhecimento;
26 Transversalidade na Educação
O primeiro saber é denominado as cegueiras do conhecimento:
o erro e a ilusão. Esses elementos apontam que se deve compreen-
der a natureza do conhecimento, saber de onde ele vem e por quê.
Vídeo
Esse saber mostra que qualquer conhecimento apresenta risco do erro
No vídeo Sete Saberes
e da ilusão, para isso é reforçada a questão da importância relaciona-
Necessários para Educação
da ao conhecimento do ato de conhecer, esta deve ser a primeira ne- do Futuro Edgar Morin,
publicado pelo canal Pro-
cessidade da educação. Para Morin (2000, p. 20) “o conhecimento, sob
fessor Marcos L Souza, o
forma de palavra, de ideia, de teoria, é o fruto de uma tradução/recons- Prof. Edgar de Assis faz
um breve relato sobre os
trução por meio da linguagem e do pensamento e, por conseguinte,
sete saberes necessá-
está sujeito ao erro”. O autor acrescenta ainda que “este conhecimento, rios para a educação do
futuro, por meio de uma
ao mesmo tempo tradução e reconstrução, comporta a interpretação,
linguagem bem acessível
o que introduz o risco do erro na subjetividade do conhecedor, de sua e apresenta muitos
exemplos. Vale a pena
visão do mundo e de seus princípios de conhecimento”.
assitir!
Outro saber são os princípios do conhecimento pertinente, que Disponível em: https://www.youtube.
deixa clara a importância do contexto, ou seja, de localizar e integrar as com/watch?v=Dc96Crh_wps. Acesso
em: 25 maio 2020.
partes com o todo. Esse princípio leva o professor a pensar simultanea-
mente sobre a superação da fragmentação dos conteúdos e dos conhe-
cimentos para poder preparar os alunos para enfrentar “as realidades
ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidi-
mensionais, transnacionais, globais e planetários” (MORIN, 2000, p. 36).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, a sociedade exige que os profissionais sejam autônomos,
tenham a capacidade de resolver os problemas com competência, con-
sigam trabalhar em grupo de maneira cooperativa e colaborativa, respei-
tando a individualidade, tenham a capacidade de ver o todo e as partes,
desenvolvendo a responsabilidade e a solidariedade, e ainda se aperfei-
çoem constantemente, pois o conhecimento é provisório e não está pronto
e acabado, mas sim em constante transformação. Para isso, é necessário
superar pensamentos e ações conservadoras, lineares, fragmentadas, ab-
solutas e autoritárias que impossibilitam a compreensão da complexidade
da realidade e de suas relações e inter-relações com o todo.
28 Transversalidade na Educação
Nosso estudo, neste capítulo, possibilitou compreender a impor-
tância de reformar o pensamento. Essa ação deverá superar o pen-
samento que fragmenta por um que une, possibilitando assim ter
visão e percepção ampliadas, corrigindo a rigidez da lógica linear e
unidirecional pela visão multidimensional, buscando trabalhar com
o diálogo, concebendo a diversidade, os antagonismos e as comple-
mentariedades, portanto, entendendo o todo e, também, as partes
para compreender o mundo no qual vivemos.
ATIVIDADES
1. Leia a descrição abaixo.
Mariana é uma professora formada na década de 1970 no curso
de Pedagogia. Hoje ela está aposentada do Estado e iniciando uma
nova jornada em uma escola da rede privada, em que atuará com
os primeiros anos do Ensino Fundamental. Ao chegar na escola, foi
orientada em relação à concepção educacional, que fundamenta o
processo de ensino e aprendizagem. A coordenadora explicou-lhe
que a metodologia utilizada é a Pedagogia de Projetos, que possibilita
aprender os conteúdos curriculares por meio da resolução de
problemas contemporâneos e que o uso das tecnologias é fundamental
para a realização do trabalho educativo. Mariana teve certa dificuldade,
pois sua formação tem base no paradigma newtoniano-cartesiano.
Atualmente, a professora está totalmente integrada e adaptada à
escola, desenvolvendo um excelente trabalho.
REFERÊNCIAS
BEHRENS, M. A. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2005.
CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
HARGREAVES, A. O ensino na sociedade do conhecimento: educação na era da insegurança.
Porto Alegre: Artmed, 1995.
JOVEM soterrado após brincadeira na praia tem quadro estável. R7, 2020. Disponível em:
https://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/jovem-soterrado-apos-brincadeira-na-praia-tem-
quadro-estavel-09012020. Acesso em: 3 mar. 2020.
LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública. A pedagogia crítico-social dos conteúdos.
São Paulo: Loyola, 1985.
MORAES, M. C. A formação do educador a partir da complexidade e da transdisciplinaridade.
Revista Diálogo Educacional, Curitiba: Champagnat, v. 7, n. 22, p.13-38, set./dez. 2007.
MORAES, M.C.; TORRE, S. Sentipensar: fundamentos e estratégias para reencantar a
educação. Petrópolis: Vozes, 2004.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2000.
MORIN, E. Educar na era planetária: O pensamento complexo como método da
aprendizagem no erro e na incerteza humana. São Paulo: Cortez, 2003.
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 3 ed. Porto Alegre: Sulina. 2007.
MORIN, E. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2008.
MORIN, E.; LE MOIGNE, J. L. A Inteligência da Complexidade. São Paulo: Peirópolis, 2000.
PETRAGLIA, I. Educação e complexidade: os sete saberes na prática pedagógica. In:
MORAES, M. C.; ALMEIDA, M.C. (org.). Os sete saberes necessários para a educação do
presente: Por uma educação transformadora. Rio de Janeiro: Wak, 2012.
POZO, J. I. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed,
2002.
SAVIANI, D. Pedagogia histórico crítica: primeiras aproximações. São Paulo: Autores
Associados, 1991.
30 Transversalidade na Educação
2
Caminhos da transversalidade
na educação
Transversalidade é um tema que a comunidade educativa tem
estudado há muitos anos e sobre o qual têm surgido muitas inquie-
tações, gerando dúvidas sobre como inseri-lo no currículo escolar e
trabalhá-lo na prática pedagógica.
Ao nos lembrarmos de John Dewey (1859-1952), identifica-
mos que a questão da transversalidade já era apontada nessa
época de maneira indireta, pois esse filósofo educador falava
sobre a importância da relação entre a educação, experiência e
história de vida, afinal a escola, como um espaço democrático,
possibilita o intercâmbio de pensamentos e situações de coo-
peração para o desenvolvimento integral do aluno.
John Dewey e outros educadores da Escola Nova foram muito
estudados pelos professores; suas ideias e princípios orientaram
ações pedagógicas, mas nunca se pensou que essas ideias esta-
vam relacionadas com a transversalidade.
Dessa maneira, não devemos temer, e sim buscar mais conhe-
cimentos com o objetivo de desenvolver competências para utilizar
a transversalidade e os temas transversais no processo de ensino
e aprendizagem. Assim, neste capítulo, buscamos trazer um pouco
de teoria e alguns exemplos para que você possa refletir sobre o
assunto e desenvolver sua própria concepção.
32 Transversalidade na Educação
resolvê-las” (2002, p. 31), nascendo, assim, a disciplina, com a necessi-
dade de especializar cada uma das áreas do conhecimento.
Figura 1 Conteúdo A
Representação do reducionismo; da fragmentação;
da simplificação
1º semestre Conteúdo B
Disciplina 1 ...
2º semestre
1º ano Disciplina 2
...
34 Transversalidade na Educação
Seguindo a análise, Gavídia (2002) nos faz entender que não existe
um conceito único de transversalidade, mas que o tempo e o contexto a
complementam e adequam conforme a necessidade.
A construção do conceito de transversalidade foi realiza-
da em pouco tempo, com contribuições diversas que foram
acrescentando significados novos ao termo. Esses significados
foram aceitos rapidamente, enriquecendo a representação
que temos hoje. Se antes transversal significava certos conteú-
dos a serem considerados nas diversas disciplinas escolares
– a higiene, o recibo de luz, a moradia, etc. –, agora representa
o conjunto de valores, atitudes e comportamentos mais im-
portantes que devem ser ensinados. (GAVÍDIA, 2002, p. 15-16)
36 Transversalidade na Educação
Os estatistas, de partidos de esquerda, defendiam que o Estado ti-
nha responsabilidade pela educação. Sendo assim, a escola privada só
poderia existir como uma concessão do poder público.
Saiba mais
Os liberalistas, de partidos de centro e direita, defendiam os
direitos naturais do indivíduo, bem como que o Estado deveria res- Acesse o link a seguir para
poder ler o texto da LDB Lei
peitar e não impor normas sobre a educação. Desse modo, a liber-
n. 4.024/1961.
dade de escolha na educação era da família.
Disponível em:
Em boa parte do texto dessa lei, predominaram as ideias dos http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/L4024.htm.
estatistas. Observe, a seguir, alguns pontos da lei, demonstrados
Acesso em: 6 abr. 2020.
também como comparação entre as ideias.
Quadro 1
Análise comparativa da Lei n. 4024/1961
Art. 1º. Domínio dos recursos científicos Art. 2º. Diversidade de métodos para
e tecnológicos como competências na o processo de ensino de acordo com
preparação do indivíduo para atuar na as especificidades de cada região ou
sociedade. grupo social; trata do aperfeiçoamento
da prática pedagógica por meio de
Art. 9º. Atribuições do Conselho Federal novas experiências.
de Educação sobre a incumbência dessa
área, indicando disciplinas obrigatórias Art. 22. Obrigatoriedade da educação
para o Ensino Médio e estabelecendo a física.
duração e o currículo mínimo dos cursos
do ensino superior. Art. 25. Referente à educação primária,
cuja finalidade é o desenvolvimento do
Art. 35. Refere-se ao ginasial e ao raciocínio, da expressão da criança e a
colegial, que deverão ter disciplinas sua integração nos meios físico e social.
e práticas educativas, obrigatórias e
optativas. Art. 97. Ensino religioso facultativo.
É relevante lembrar que essa lei foi usada tanto no final da Repú-
blica Populista como no período de ditadura militar; por isso, sabemos
que sua interpretação e sua execução consideram o contexto e as ideo-
logias de cada momento histórico.
Artigo
http://www.congressohistoriajatai.org/anais2014/Link%20(170).pdf
38 Transversalidade na Educação
Outro ponto a ser destacado nessa lei diz respeito à organização
do currículo voltado à preparação do estudante para que ele atue
no mercado de trabalho. O artigo 4º afirma que “a preparação para
o trabalho, como elemento de formação integral do aluno, será obri-
gatória no ensino de 1º e 2º graus e constará dos planos curricula-
res dos estabelecimentos de ensino” (BRASIL, 1971). A preocupação
com uma educação mais técnica e profissionalizante foi acentuada
nessa reforma do ensino com a finalidade de preparar mão de obra
qualificada para o trabalho. Desse modo, educação deveria ser mais
prática, pautada no aprender fazendo.
Figura 2
Organização do currículo
Ensino
religioso
40 Transversalidade na Educação
A Lei n. 9.394/1996, também conhecida Lei Darcy Ribeiro – em ho-
menagem ao educador político brasileiro que ajudou a elaborá-la –,
tem como pilar a Constituição Federal de 1988, que trouxe muitos
avanços aos direitos dos cidadãos brasileiros e, principalmente, à
educação. No capítulo da educação, a escolaridade é ampliada com
a incorporação da educação infantil e assegura o atendimento es-
pecializado para alunos com deficiência. Outro ponto importante é
que a educação, além de ser garantida como direito a todos, preci-
sa ser de qualidade (BRASIL, 1988).
42 Transversalidade na Educação
tas de conhecimento socialmente acumulado pela humanidade, mas
que sozinhas não conseguem trabalhar com o eixo estruturador da
educação escolar. Esse eixo foi definido, na Lei n. 9.394/1996, pela cida-
dania, tema que possibilita desenvolver, no indivíduo, as competências
essenciais a um cidadão atuante.
Figura 3
Representação da transversalidade e interdisciplinaridade
Temas Transversais
Língua
Portuguesa Plu
ral
Língua
ida
Matemática
Estrangeira
de
Cu
ca
ltu
Éti
ral
e
io
úd
Am
História
Sa
Arte
bie
nte
Geografia
Orientação Sexual
44 Transversalidade na Educação
A Figura 3 ilustra que o tema transversal envolve todas as disciplinas
curriculares e mostra como a interdisciplinaridade tem o papel de fazer
a interação entre as disciplinas de modo que possam ser trabalhados
os conteúdos e os temas transversais.
Figura 4
Ilustração do exemplo do tema Saúde
qvist/Shutterstock
Questões de A leitura e a
saúde são temas compreensão
de debates na de tabelas e dados
imprensa, informações estatísticos são essenciais
importantes são veiculadas na percepção da situação
por meio de folhetos: da saúde pública:
conhecimentos de conhecimentos da
Língua Portuguesa. Matemática também
Qualidade do
comparecem.
meio em que vive:
conhecimentos sobre
Meio Ambiente.
Corpo humano:
anttoniart/Shutterstock
matéria da área de TaLaNoVa/Shutterstock
Ciências.
Man As Thep/Shutterstock
Figura 5
Nuvem de palavras referentes às finalidades da educação de acordo com as legislações
nacionais brasileiras
Essa nuvem de palavras elaborada com base nos textos das legis-
lações anteriormente citadas permite identificar que o conjunto dos
vocábulos aponta para questões sociais, princípios que têm orientado
o currículo escolar ao longo dos anos.
46 Transversalidade na Educação
proposta pedagógica inédita, mas, com a homologação da BNCC em
dezembro de 2017 para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental –
complementada em dezembro de 2018 para o Ensino Médio –, trouxe
uma nova abordagem para esse tema, alinhando-se aos desafios do
mundo moderno por meio dos TCTs.
48 Transversalidade na Educação
Entre os PCNs (1997) e os TCTs da BNCC (2017), temos resoluções
que estabeleceram orientações para alguns temas contemporâneos,
como mostra o quadro a seguir.
Quadro 2
Resumo das resoluções voltadas para os Temas Contemporâneos
•• Ciência e tecnologia
•• Economia
•• Trabalho
•• Educação financeira
•• Educação fiscal
•• Meio ambiente
•• Educação ambiental
•• Educação para o consumo
•• Multiculturalismo e saúde
•• Diversidade cultural
•• Educação para a valorização do multiculturalismo nas matrizes
históricas e culturais brasileiras
•• Saúde
•• Saúde
•• Educação alimentar e nutricional
É importante ressaltar as mudanças entre os PCNs (1997) e os TCTs
da BNCC (2017):
50 Transversalidade na Educação
A escola tem autonomia para trabalhar com os TCTs, e muitos
são os caminhos metodológicos que podem orientar a prática pe-
dagógica do professor, pois eles devem ser vistos como eixos inte-
gradores que darão mais significado aos conteúdos disciplinares. O
documento chama atenção para:
a orientação de que os TCTs não devem ser trabalhados em blo-
cos rígidos, em estruturas fechadas de áreas de conhecimento,
mas, sim, que eles sejam desenvolvidos de um modo contextua-
lizado e transversalmente, por meio de uma abordagem intradis-
ciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar (preferencialmente).
(BRASIL, 2017, p. 19)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo permitiu compreender que a concepção de transversa-
lidade e a forma como ela é aplicada na educação têm se modificado ao
longo do tempo para superar o paradigma tradicional, que conduz para
a disciplinaridade no processo educativo, descontextualizando os conteú-
dos e promovendo o distanciamento social.
A transversalidade vai além de ser uma ponte entre o conhecimen-
to científico acadêmico e o senso comum; ela é uma maneira de ajudar
a compreender e conectar as realidades natural e social e os interesses
dos alunos, uma vez que os Temas Transversais no currículo escolar pro-
porcionam o entendimento da realidade e a instrumentalização dos estu-
dantes para que eles estejam aptos a enfrentar e resolver os problemas
emergentes da contemporaneidade.
Uma breve retrospectiva histórica sobre a legislação nacional brasileira
permitiu identificar que a transversalidade é um tema que tem mais de 50
anos e que, ainda hoje, busca-se adaptar essa ideia ao processo educativo
na Educação Básica.
Os temas transversais possibilitam o desenvolvimento integral do
estudante, buscando conectar a escola com a vida, em uma educação
pautada por valores e com o fomento de um espírito crítico para en-
tender a sociedade, bem como possibilitando analisar e solucionar os
problemas locais e globais. A interdisciplinaridade e a transdisciplina-
ridade ajudam a formar o tripé do processo educativo como maneiras
de estabelecer relações e interações entre as diversas disciplinas, su-
perando a fragmentação do conhecimento.
Tema Transversal:
Nível:
Ano:
Disciplina:
Conteúdo da disciplina:
Explique a relação do tema transversal escolhido com o conteúdo
da disciplina:
Descrição da atividade:
Citação
Referência
52 Transversalidade na Educação
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição de 1934. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 16
jul. 1934. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.
htm. Acesso em: 7 abr. 2020.
BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5
out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
htm. Acesso em: 8 maio 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2017. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79611-
anexo-texto-bncc-aprovado-em-15-12-17-pdf&category_slug=dezembro-2017-
pdf&Itemid=30192. Acesso em: 8 maio 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 8 maio 2020.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Base Nacional Comum Curricular: Temas
Contemporâneos Transversais. Brasília, DF: MEC/SEF, 2019.
BRASIL. Lei de Bases e Diretrizes da Educação Nacional. Brasília, DF: MEC/SEB, 1961. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4024.htm. Acesso em: 7 abr. 2020.
BRASIL. Lei de Bases e Diretrizes da Educação Nacional. Brasília, DF: MEC/SEB, 1971. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5692.htm. Acesso em: 7 abr. 2020.
BRASIL. Lei de Bases e Diretrizes da Educação Nacional. Brasília, DF: MEC/SEB, 1996.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 7
abr. 2020.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
apresentação dos temas transversais, ética. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997. (vol. 8).
BRASIL. Ministério da Educação. Parecer n. 7, de 14 de dezembro de 2010. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 15 dez. 2010 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/
rceb007_10.pdf. Acesso em: 8 maio 2020.
BRASIL. Resolução n. 8, de 1º de dezembro de 1971. Rev. Bras. Enferm., Brasília , v. 25,
n. 1-2, p. 176-179, abr. 1972. Disponivel em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v25n1-
2/0034-7167-reben-25-02-0176.pdf. Acesso em: 17 abr. 2020.
BUSQUETS, M. D. et al. Temas transversais na educação: bases para uma formação integral.
6. ed. São Paulo: Ática, 2000.
DESCARTES, R. Discurso do método: regras para a direção do espírito. São Paulo: Martin
Claret, 2002.
GAVÍDIA, V. A Construção do Conceito de Transversalidade. In: ÁLVAREZ, M. N. et al. Valores
e temas transversais no currículo. Porto Alegre: Artmed, 2002.
MORAES, M. C. Transdisciplinaridade e educação. In: MAGALHÃES, S. M. O.; SOUZA, R. C.
C. R. Formação de professores: elos da dimensão complexa e transdisciplinar. Goiana: PUC-
GO, 2012.
MORENO, M. L. Temas transversais em educação. São Paulo: Ática, 1998.
MORIN, E. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2008.
YUS, R. Temas transversais: em busca de uma nova escola. Porto Alegre: Artmed, 1998.
54 Transversalidade na Educação
3.1 A interdisciplinaridade
Vídeo Abordaremos esse tema fazendo, primeiramente, uma análise.
Para isso, leia a atividade proposta para os alunos do oitavo ano do
Ensino Fundamental:
56 Transversalidade na Educação
próprias. Exatamente em 1968, em Paris, os estudantes universitários
fizeram protestos demandando reformas no setor educacional, con-
centradas, principalmente, em cursos nos quais os docentes eram con-
servadores ou reacionários, conforme estudo de Thiollent (1998, p. 72),
que assim descreveu:
era necessário superar qualquer didática centrada na transmis-
são de um conhecimento preestabelecido. Nas universidades,
o curso magistral e o ensino centrado na leitura apareceram
como métodos de transmissão oral ou livresca, insuficientes
para desencadear uma verdadeira comunicação pedagógica.
[...] Além disso, houve, naquela época, um movimento favorável
a uma pedagogia de abertura ao mundo exterior. Tratava-se de
sair da sala de aula para mostrar as situações no mundo real,
os ghettos, por exemplo.
Quadro 1
Diferentes terminologias da interdisciplinaridade
58 Transversalidade na Educação
Com base nesse quadro e no que vimos nessa seção, podemos in-
ferir que não existe um conceito único para as relações disciplinares.
3.1.2 Terminologias
Como observamos, dos autores selecionados (Quadro 1), muitas são
as terminologias criadas, pois as pesquisas realizadas em contextos e
tempos diferenciados produzem compreensões diversas. Vamos expli-
car, agora, um pouco sobre essas terminologias.
Figura 1
Representação da disciplinaridade
Disciplina B Disciplina A
Disciplina C Disciplina D
Disciplina B
pode ser
Tema
complementado
Conteúdo referente a Disciplina A Disciplina C
com fragmentos
Assunto
de estudos na
Disciplina D
Figura 3
Representação da pluridisciplinaridade
Disciplina B
Tema que
é analisado pelo
Conteúdo referente a Disciplina A Disciplina C complementam
ângulo da o estudo
Assunto
Disciplina D
60 Transversalidade na Educação
quais disciplinas podem auxiliar a compreender melhor esse tema e
os conteúdos que o envolvem. Sendo assim, nem todas as disciplinas
poderão ser usadas, mas somente aquelas que realmente complemen-
tam os objetivos do ensino do tema em questão. Se fizermos um recor-
te, observaremos que um dos povos habitantes antigos do Brasil são
os indígenas, desse modo, a Geografia poderia ser usada no sentido de
mostrar a localização das tribos, para que se possa compreender as di-
ferenças culturais de cada uma, outra disciplina que complementaria a
História e a Geografia seria a Ciência, evidenciando que cada tribo tem
seu modo de vida, de acordo com a natureza que a envolve.
Figura 4
Exemplo de interdisciplinaridade no grau de aplicação
levam
ao aparecimento
Os métodos da de novos
para a medicina
física nuclear tratamentos para
o câncer.
transferidos
Figura 5
Exemplo de interdisciplinaridade no grau epistemológico
produzem
análises
Os métodos da para o campo interessantes na
lógica formal do direito epistemologia do
direito.
transferidos
62 Transversalidade na Educação
Figura 6
Exemplo de interdisciplinaridade no grau de geração de novas disciplinas
Disciplina A
+ Nova disciplina
Disciplina B
Figura 7
Nuvem de palavras retirada das citações dos autores
Por fim, D’Ambrosio (2005, p. 72) faz uma analogia para explicar a
interdisciplinaridade. Ele afirma que as disciplinas:
64 Transversalidade na Educação
são verdadeiras gaiolas epistemológicas: quem está dentro da
gaiola só voa dentro da gaiola, e não mais do que isso. Somos
pássaros tentando voar em gaiolas disciplinares. Surgem, obvia-
mente, as deficiências desse conhecimento, e começamos a per-
ceber fenômenos e fatos que não se encaixam em nenhuma das
gaiolas. [...] Aí estamos dando um passo para a interdisciplinari-
dade, onde encontramos com outros e, nesse encontro, juntos,
misturando nossos métodos, misturando nossos objetivos, mes-
clando tudo isso, acabamos criando um modo próprio de voar.
E nascem as interdisciplinas. Essas interdisciplinas acabam crian-
do suas próprias gaiolas. [...] As disciplinas vão se amarrando,
criando padrões epistemológicos próprios, e a gaiola vai ficando
muito maior. Podemos voar mais, mas continua sendo gaiola.
Acho que não é demais querermos voar mais, fora das gaiolas,
sermos totalmente livres na busca do conhecimento. [...] A inter-
disciplinaridade é um passo muito difícil, sem o qual não se pode
dar qualquer passo seguinte.
Professor:
•• Conhecer muito bem sua disciplina para que possa fazer a articula-
ção com os saberes de outras disciplinas/áreas.
•• Estar aberto para inovar, buscando conhecer novos métodos, estra-
tégias pedagógicas e usos das tecnologias.
•• Ter postura de diálogo, cooperação e colaboração, trabalhando em
parceria com outros professores.
•• Ser pesquisador.
•• Ser criativo e buscar conhecer novas experiências didático-pedagógicas.
Aluno:
•• Ter autonomia e ser ativo no processo de ensino e aprendizagem.
•• Aprender a aprender.
•• Ser corresponsável pela aprendizagem.
•• Ser parceiro, participativo e não ouvinte domesticado.
(Continua)
66 Transversalidade na Educação
que a disciplina é muito importante, pois possibilita o conhecimento
especializado de uma determinada área. O que devemos superar é a
disciplinaridade, pois uma única disciplina não consegue responder à
complexidade do mundo.
68 Transversalidade na Educação
fundamento no tema. Dessa maneira, observe a linha do tempo a
seguir, a qual aponta alguns aspectos de cada um dos documentos
que surgiram a partir de eventos sobre a transdisciplinaridade.
Figura 8
Resumo dos principais eventos e documentos sobre a transdisciplinaridade
1970
Resultou na obra clássica:
I Seminário
L’interdiciplinarité: problemes
Internacional sobre a
Pluridisciplinaridade e
d’enseignement et de recherche 1986
dans les universités (Interdiscipli-
Interdisciplinaridade
naridade: problemas de ensino e Originou a Declaração de Veneza.
Colóquio A Ciência
pesquisa nas universidades). Esse documento aponta que a trans-
das Fronteiras do
Nesse evento, Jean Piaget fala disciplinaridade pode ser a passagem
Conhecimento, organizado
da interdisciplinaridade como para superar a visão mecanicista e
pela Unesco, com apoio da
caminho para se alcançar a trans- cartesiana, e aponta para novas ma-
Fundação Giorgio Cini.
disciplinaridade. neiras de produzir o conhecimento,
por meio do diálogo e da interação
Fonte: Elaborada pela autora com base em Alvarenga, Sommerman e Alvarez, 2005.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902005000300003
1
Há, na natureza e no nosso
conhecimento da natureza,
diferentes níveis de realidade e,
correspondentemente, diferentes níveis
de percepção.
Axioma lógico
A passagem de um nível de realidade
para outro é assegurada pela lógica do
terceiro incluído. 2
Axioma da complexidade
3
A totalidade dos níveis de realidade ou
percepção é uma estrutura complexa:
cada nível é o que é, porque todos os
níveis existem ao mesmo tempo.
70 Transversalidade na Educação
O axioma ontológico trata de níveis de realidade e de percepção. Para
explicar esse pilar, vamos fazer o exercício de olhar a imagem a seguir.
Figura 10
Exemplo de axioma ontológico
Quadro 2
Comparação entre a lógica clássica e a transdisciplinar
Lógicas
Axiomas
Clássica Transdisciplinaridade
1º Axioma da identidade AéA AéA
2º Axioma da não contradição A não é não A A não é não A
Excluído: não existe um ter- Incluído: existe um terceiro
3º Axioma do terceiro termo T ceiro termo T que é ao mes- termo T que é ao mesmo tem-
mo tempo A e não A. po A e não A.
NR2 T2outra cor (branco A2 preto N-A2) NP2 T2outra cor (branco A2 preto N-A2)
NR1 T1outra cor (branco A1 preto N-A1) NP1 T1outra cor (branco A1 preto N-A1)
72 Transversalidade na Educação
É importante ressaltar que a lógica do terceiro incluído não anula
a lógica do terceiro excluído, ela busca estabelecer sua área de va-
lidade para situações simples, por exemplo, “a circulação de veícu-
los em uma estrada: ninguém pensa em introduzir, em uma estrada,
um terceiro sentido em relação ao sentido permitido e ao proibido”
(NICOLESCU, 1999, p. 40). Entretanto, em situações complexas essa
percepção pode ser prejudicial tomando como verdadeira apenas
uma lógica, como analisar uma manifestação política utilizando so-
mente uma única lógica e um único nível de realidade e percepção.
74 Transversalidade na Educação
3.3 Prática pedagógica intradisciplinar,
interdisciplinar e transdisciplinar
Vídeo
O documento dos Temas Contemporâneos na BNCC (2019) tem como
principal finalidade recomendar o desenvolvimento de procedimentos
metodológicos no processo educativo, proporcionando ao estudante uma
aprendizagem significativa dos conteúdos disciplinares e transversais,
possibilitando, assim, um desenvolvimento integral. Esse documento evi-
dencia alguns meios de organização dos componentes curriculares, para
que professores e demais profissionais da escola possam planejar a práti-
ca pedagógica fundamentada nos princípios de uma educação contempo-
rânea: colaboração, criatividade, inovação, interação, interconexão.
76 Transversalidade na Educação
Figura 12
Representação da intradisciplinaridade no plano de aula
componente 1 componente 2
selecionar 1 ou mais
habilidades de cada
componente.
Fonte: Elaborado pela autora e com base em Brasil, 2018 e Brasil, 2019.
Figura 13
Representação da interdisciplinaridade no plano de aula
para para
verificar o
aproveitamento identificação dos
dos estudantes no conhecimentos
desenvolver da atividade, prévios dos
utilizando diferentes estudantes.
Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2019. instrumentos.
Quadro 5
Exemplo prático da transdisciplinaridade em um plano de aula para o terceiro ano do
Ensino Fundamental
80 Transversalidade na Educação
Componentes Habilidades Atividades
(EF03MA27) Ler, interpretar e comparar dados apresen-
tados em tabelas de dupla entrada, gráficos de barras
Fazer pesquisas sobre os principais
ou de colunas, envolvendo resultados de pesquisas sig-
motivos de acidentes no trânsito, e
Matemática nificativas, utilizando termos como maior e menor fre-
elaborar e produzir tabelas e gráficos
quência, apropriando-se desse tipo de linguagem para
para representá-los.
compreender aspectos da realidade sociocultural signi-
ficativos.
(EF03CI01) Produzir diferentes sons por meio da vibra- Fazer um levantamento do barulho
Ciências ção de variados objetos e identificar variáveis que in- no trânsito e sua influência no res-
fluem nesse fenômeno. peito às normas.
(EF03GE01) Identificar e comparar aspectos culturais Identificar questões sobre o trânsito
Geografia dos grupos sociais de seus lugares de vivência, seja na em diferentes locais, também na ci-
cidade, seja no campo. dade e no campo.
Fazer pesquisas e realizar entrevis-
(EF03HI02) Selecionar, por meio da consulta de fontes de
tas para identificar o que as pessoas,
História diferentes naturezas, e registrar acontecimentos ocorri-
ao longo do tempo, pensam sobre o
dos ao longo do tempo na cidade ou região em que vive.
trânsito.
(EF35EF01) Experimentar e fruir brincadeiras e jogos
Realizar brincadeiras e jogos sobre o
populares do Brasil e do mundo, incluindo aqueles de
Educação física trânsito, relacionado a regras, com-
matriz indígena e africana, e recriá-los, valorizando a im-
portamentos e acidentes.
portância desse patrimônio histórico cultural.
(EF15AR04) Experimentar diferentes formas de expres-
são artística (desenho, pintura, colagem, quadrinhos,
dobradura, escultura, modelagem, instalação, vídeo, Produzir materiais diversificados
fotografia etc.), fazendo uso sustentável de materiais, usando as diferentes formas de ex-
Artes instrumentos, recursos e técnicas convencionais e não pressão artística, para apresentar os
convencionais. resultados dos estudos e pesquisas
(EF15AR24) Caracterizar e experimentar brinquedos, realizadas sobre o trânsito.
brincadeiras, jogos, danças, canções e histórias de dife-
rentes matrizes estéticas e culturais.
ATIVIDADES
1. Você deverá criar sua frase sobre a interdisciplinaridade escolar.
Primeiro, selecione um artigo científico e retire dele duas citações
sobre interdisciplinaridade. Depois, com base nas citações e em seus
conhecimentos, crie sua própria frase.
82 Transversalidade na Educação
3. Elabore um plano intradisciplinar, para isso, utilize o modelo a seguir.
Componentes Habilidades
1-
2-
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, A. T.; SOMMERMAN, A.; ALVAREZ, A. M. S. Congressos internacionais sobre
transdisciplinaridade: reflexões sobre emergências e convergências de idéias e ideais na
direção de uma nova ciência moderna. Saude soc., São Paulo, v. 14, n. 3, p. 9-29, dez.
2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
12902005000300003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 7 abr. 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 7 abr. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Temas Contemporâneos transversais na BNCC –
Contexto histórico e pressupostos pedagógicos, DF: MEC/SEB, 2019. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_
temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 7 abr. 2020.
D’AMBROSIO, U. Knowledge and human values. In: 2° CONGRESSO MUNDIAL SOBRE
TRANSDISCIPLINARIDADE. Anais [...] Vitória/Vila Velha, set. 2005.
FURLANETTO, E. C. Interdisciplinaridade: um conhecimento construído nas fronteiras.
International Studies on Law and Education, CEMOrOc-Feusp/IJI-Univ. do Porto, v. 8, p. 47-54,
maio/ago. 2011. Disponível em: http://www.hottopos.com/isle8/47-54Ecl.pdf. Acesso em:
7 abr. 2020.
GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. Os vínculos e os conhecimentos: pensando o sujeito da
pesquisa trans-disciplinar. 5º, ENANCIB. Anais [...] Belo Horizonte: UFMG, 2003.
JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
MORAES. M. C.; NAVAS, J. M. B. Transdisciplinaridade, criatividade e educação – Fundamentos
ontológicos e epistemológicos. Campinas: Papirus, 2015.
MORIN, E. A Religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2001.
MORIN, E. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2008.
NICOLESCU, B. O manifesto da transdisciplinaridade. São Paulo: Triom, 1999.
THIOLLENT, M. Maio de 1968 em Paris – testemunho de um estudante. Tempo Social; Rev.
Sociol. USP, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 63-100, out. 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/
pdf/ts/v10n2/v10n2a06. Acesso em: 7 abr. 2020.
ZABALA, A. Enfoque globalizador e pensamento complexo. Porto Alegre: Artmed, 2002.
84 Transversalidade na Educação
4.1 Evolução histórica do currículo
Vídeo Na atualidade, pensar o conceito de currículo é superar a visão de
que ele é composto apenas por uma lista de disciplinas e conteúdos a
serem ensinados para o estudante. Esse momento é complexo e neces-
sita de pessoas preparadas para enfrentar os desafios do presente, o
qual se encontra globalizado e caracterizado por profundas mudanças
em diferentes níveis e aspectos. Com isso, é fundamental ampliar a
concepção de currículo. Sacristán (1999, p. 61) nos conduz a uma re-
flexão quando afirma que o currículo deve ser visto como uma “ligação
entre a cultura e a sociedade exterior à escola e à educação; entre o
conhecimento e cultura herdados e a aprendizagem dos alunos; entre
a teoria (ideias, suposições e aspirações) e a prática possível, dadas de-
terminadas condições”.
Transversalidade e currículo 85
Para a construção de uma sociedade, é fundamental que os cidadãos
tenham acesso ao conhecimento. Sendo assim, os governantes sempre
tiveram a preocupação de definir o que deveria ser ensinado ao povo, e
as decisões sobre o que e como seria ensinado envolviam diferentes con-
cepções de mundo e sociedade, bem como teorias sobre o conhecimento.
Artigo
https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/135/115
86 Transversalidade na Educação
industrialização e das tecnologias. A partir daí surge um processo de mas-
sificação da escolarização, com a finalidade de capacitar muitas pessoas
gerando mão de obra qualificada, circunstância que resultou na organiza-
ção sistemática do processo educativo.
Figura 1
Teorias do Currículo e seus pressupostos
Transversalidade e currículo 87
As teorias críticas buscaram superar a visão das teorias tradicio-
nais, por meio das concepções da sociologia crítica de Pierre Bourdieu,
da filosofia marxista de Louis Althusser, dos ideários dos autores da
Escola de Frankfurt, como Max Horkheimer e Theodor Adorno; ainda
na sociologia, temos Michael Apple e Henry Giroux, e não poderíamos
deixar de citar, no Brasil, a influência de Paulo Freire nas concepções
emancipadora e libertadora do conhecimento.
88 Transversalidade na Educação
A formação da identidade e as questões relacionadas à subjetivida-
de são princípios estruturantes da teoria pós-crítica, que busca o cons-
tante questionamento e não a certeza absoluta, que procura articular
as diferenças, trabalhar com as complementaridades e superar a visão
de um conhecimento único e inquestionável, uma vez que este deve
considerar a contextualização histórica para sua construção.
Transversalidade e currículo 89
la, o planejamento do professor e a prática do ensino, possibili-
tando a real aprendizagem.
Figura 2
Representação do currículo real
Interação entre
Disciplina x conteúdo
professor e alunos
Relação
tetralógica que
ocorre em sala
de aula para o
desenvolvimento
do currículo real.
90 Transversalidade na Educação
O currículo em sala de aula ganha vida, a interação entre professo- Glossário
res, alunos e comunidade, os conhecimentos tácitos, as experiências, Conhecimentos tácitos:
conhecimentos adquiridos pelo
as necessidades e a interpretação são movimentos que possibilitam
aluno durante sua vida e suas
recursividades e retroações que permitem a ampliação, a modificação vivências específicos dele.
e complementaridades na construção do conhecimento.
Transversalidade e currículo 91
Com essa contextualização, podemos listar alguns fatos, benéficos e
maléficos, que têm ocorrido na contemporaneidade em consequência
da internacionalização do mundo capitalista:
92 Transversalidade na Educação
Figura 3
Nuvem de palavras sobre a tecnologia
ImageFlow/Shutterstock
Transversalidade e currículo 93
Além dessas revoluções, existe aquela referente às relações sociais,
econômicas e políticas realizadas nas redes, no mundo virtual, de ma-
neira síncrona e assíncrona, que rompem fronteiras e apontam para
uma nova maneira de socialização. Cria-se o espaço cibernético – o
ciberespaço –, o qual possibilita a comunicação, a expressão e a intera-
ção entre pessoas e rompe com a barreira da territorialidade física para
acontecer de maneira virtual. A internet aproximou pessoas e nações,
e acelerou as relações comerciais – e-commerce –, uma realidade que
mudou a relação entre consumidor, produto e fornecedor. As relações
1
políticas também foram afetadas, permitindo a conexão direta entre as
Fake news são notícias ou
conteúdos falsos, mentiras que
pessoas e os políticos.
são divulgadas como verdades,
Surgem novas relações com o conhecimento, possibilidades de ob-
como se fossem informações
reais, utilizando veículos de co- ter dados e informações em abundância e a qualquer momento, desde
municação e tecnologias digitais. que se tenha acesso à internet. No entanto, com essa proliferação de
informações, surgem também usos negativos da tecnologia, como as
1 2
2 fake news e o cyberbullying .
Cyberbullying é uma espécie de Diante de todo esse cenário, é possível entender a necessidade da
ação violenta praticada contra transversalidade no currículo escolar, uma vez que a proposta curricular,
alguém, de maneira a intimidar,
hostilizar, difamar, insultar ou a pratica pedagógica e o professor não podem mais deixar de reconhe-
atacar covardemente, utilizando cer que os adventos sociais, econômicos, políticos, culturais e o desen-
a internet ou outras tecnologias
relacionadas ao mundo virtual. volvimento tecnológico geram, em grande velocidade e quantidade,
informações e dados que precisam fazer parte do processo educativo.
O currículo deve ser aberto e flexível para que possa facilitar o fluxo
de ideias e informações, permitindo a construção e desconstrução de
conceitos e teorias, de modo que se possa instrumentalizar o estudan-
te a melhor observar a realidade, a refletir e a se posicionar diante dela.
94 Transversalidade na Educação
4.3 Transversalidade no currículo e no
planejamento pedagógico
Vídeo A proposta pedagógica da escola, na atualidade, deve propor um
processo educativo para que se possa construir o conhecimento de ma-
neira interativa e colaborativa entre os sujeitos envolvidos, promovendo
a educação para a cidadania planetária. Entendendo, em linhas gerais,
que o currículo escolar é um documento que contém informações sobre
os conteúdos, objetivos e avaliação, relacionados às diferentes áreas de
conhecimento, que devem ser aprendidos pelos estudantes ao longo do
seu percurso educativo e têm como finalidade o desenvolvimento inte-
gral do aluno, devemos considerar que, na educação formal, a proposta
pedagógica e o currículo refletem as políticas educacionais e, portanto,
devem se orientar pelas diretrizes da legislação e do planejamento edu-
cacional nos níveis nacional, estadual e/ou municipal.
Toda instituição de ensino faz o seu planejamento escolar, o qual
abrange as dimensões administrativas, financeiras, de recursos huma-
nos e pedagógicos, com a finalidade de definir a organização e o fun-
cionamento da escola para assegurar a excelência do ensino ofertado.
Na dimensão do planejamento pedagogico, é elaborado o Projeto
Politico Pedagógico (PPP), que é diretamente influenciado pelas demais
dimesnsões, auxiliando na elaboração e na estrutura do documento de
maneira sistêmica. Pela especificidade do aspecto projeto, entende-se
que são elaboradas propostas de ação concreta que serão realizadas
em um determinado tempo. Político é a parte do documento que asse-
gura a formação de cidadãos para atuarem na sociedade e no mundo,
bem como a participação da comunidade escolar e da comunidade ex-
terna na reflexão e construção da educação escola. E o pedagógico defi-
ne a abordagem e a concepção educacional e filosófica, que servirão de
base para orientar a metodologia, as atividades e o processo avaliativo
tanto do ensino quanto da aprendizagem.
O PPP é a base para a construção do planejamento curricular, um
processo que permite, aos profissionais da escola, tomar decisões para
a elaboração do currículo, documento que tem todas as informações e
orientações para a efetivação da ação educativa da escola, contendo a
proposta geral das experiências de aprendizagem que a escola ofertará
ao estudante ao longo de sua vida escolar.
Transversalidade e currículo 95
96
Figura 5
Transversalidade na Educação
Planejamento do Sistema
Planejamento da Educacional
Escola ou Escolar
Caminho para a construção do currículo
Transversalidade e currículo 97
Em nível estadual e ou municipal, cada instância tem seus próprios
departamentos que elaboram documentos orientadores ou reguladores
para a elaboração da proposta pedagógica e para o currículo escolar.
Figura 6
Explicação do currículo intradisciplinar
define a prática
contextualizada
para depois
escolher
um ou mais
TCT
98 Transversalidade na Educação
Figura 7
Explicação do currículo interdisciplinar
do
relacionado a
componente
escolhido
relação
define a prática interdisciplinar
contextualizada
para
escolher um ou
mais TCT
Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2019.
Figura 8
Explicação do currículo transdisciplinar
Quais outros
Quais TCT podem Prática contextualizada Definir as
componentes/disciplinas
serem trabalhados Realizar habilidades de
podem auxiliar na prática
transversalmente? Perguntas – Questões Problemas cada componente/
contextualizada?
disciplina
Escolher as Competências
Transversalidade e currículo 99
A intra, a inter e a transdisciplinaridade, como princípios epistemo-
lógicos e metodológicos, possibilitam a construção e a aplicação do
currículo, de maneira a superar a fragmentação, a linearidade e a não
contextualização do pensamento do paradigma cartesiano mecanicis-
ta, que, por muitos anos, orientou o processo educativo. São caminhos
que rompem com as barreiras disciplinares, possibilitando construir
conhecimentos de maneira mais profunda e global.
rias: selecionar, organizar, comparar, analisar, correlacionar da- O vídeo Educar pela
pesquisa Prof Pedro
dos e informações; Demo, publicado pelo
canal Laboratorio
•• fazer inferências, levantar hipóteses, comprová-las, reformulá-las
Bioprocessos, fala sobre
e chegar a conclusões mesmo que provisórias; educar pela pesquisa,
explorando o papel do
•• produzir documento próprio; professor e do aluno.
Aborda, também, a prá-
•• socializar resultados obtidos por meio de estratégias diferencia-
tica pedagógica e o que
das, que contemplem os estilos, ritmos e preferências de apren- realmente é a pesquisa
dizagem dos alunos, bem como as inteligências múltiplas. escolar.
Disponível em:
Demo (2004) afirma que o uso da pesquisa na escola, além de dar https://www.youtube.com/
um caráter científico às atividades de aprendizagem, é altamente edu- watch?v=IRhoBE_ZrC0. Acesso
em: 27 abr. 2020.
cativo, pois o aluno torna-se corresponsável pelo seu aprendizado,
definir o
pergunta que deverá ser
problema
respondida ao final do projeto
fazer a
chuva de
ideias – trocar conhecimentos sobre o problema.
relacionar os
brainstorming Momento para a realização da avaliação
componentes
diagnóstica.
e disciplinas e
definir os
seus objetivos
e habilidades
da BNCC objetivos Definir o que será pesquisado.
que serão
envolvidos na Pode ser individual Ações que
estrutura a momento de
pesquisa ou coletiva Fazer envolvem as
pesquisa/ cronograma aquisição e
investigação dimensões inter
Identificar e definir elaboração de novos
e transdisciplinar
as fontes para a conhecimentos.
para a
coleta de dados construção do
fazer a
discussão momento de identificar as conhecimento.
dos dados convergências, complementaridades, Momentos para
coletados ser realizada
antagonismos dos materiais coletados.
a avaliação
fazer a processual
resolução do
síntese dos conhecimentos.
Problema
produzir o
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta pedagógica e o plano curricular são bases fundamentais
para o desenvolvimento do processo educativo em uma instituição es-
colar, dessa maneira sua base epistemológica e metodológica necessita
superar o paradigma que orienta o processo de ensino e aprendizagem
fechado nos princípios da linearidade, fragmentação, reprodução, discipli-
naridade, visão unidimensional, dualismos, racionalização etc.
A transversalidade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são
conceitos desafiadores para a organização da proposta pedagógica e do
currículo, os quais necessitam responder aos desafios do mundo contem-
porâneo. A escola precisa se abrir para a vida, reconhecer a importância
de interação entre o conhecimento escolar e os conhecimentos adquiri-
dos espontaneamente pelos alunos, por meio de suas experiências na
realidade em que vivem, obtidos de maneira assistemática e relacionados
diretamente com a sociedade e mundo.
Outro ponto estudado, neste capítulo, é que a escola precisa romper
com o distanciamento entre áreas, disciplinas e conhecimentos, pois eles
devem ser fundidos em um mesmo processo de aprendizagem, para que
se possa dar novos significados ao currículo escolar.
A transversalidade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são
temas polêmicos e ainda não bem resolvidos no âmbito educacional, uma
vez que prevalece a visão compartimentada da cultura por meio das dis-
ciplinas. A renovação pedagógica permite refletir sobre a quebra de para-
digma e a busca de uma reforma do pensamento que possibilite a todos
os profissionais da educação pensar em um processo educativo que incite
para a humanização escolar.
Perguntas Respostas
Ano
Cite dois Componentes/Disciplinas que
podem ser envolvidos
Tema(s) Contemporâneo Transversal
Título da reportagem
Síntese da reportagem
Link da reportagem
Justifique por que ela pode ser usada de
maneira transversal em uma aula
Perguntas Respostas
Qual Tema Contemporâneo Transversal, na sua opi-
nião, foi usado nesse projeto?
Qual disciplina foi base para o projeto?
Selecione uma Unidade Temática dessa disciplina.
Selecione pelo menos uma Habilidade dessa temá-
tica que corresponda ao projeto.
Qual outra disciplina você acha que auxiliou no de-
senvolvimento do projeto?
Selecione uma Unidade Temática dessa disciplina.
Selecione pelo menos um Habilidade dessa temáti-
ca que corresponda ao projeto.
Identifique, nas atividades realizadas no projeto, a
que corresponde a essa segunda Disciplina/Unida-
de Temática e Habilidade.
Você acha que foi usado a interdisciplinaridade nes-
se projeto? Justifique sua resposta.
Você acha que foi usado a transdisciplinaridade
nesse projeto? Justifique sua resposta.
Cidadania e Civismo
Ciência e Tecnologia Economia
• Vida Familiar e Social;
• Ciência e Tecnologia. • Trabalho;
• Educação para o
• Educação Financeira;
Trânsito;
• Educação Fiscal.
• Educação em Direitos
Humanos;
• Direitos da Criança e do
Adolescente;
• Processo de
envelhecimento, respeito
e valorização ao Idoso.
Todo cidadão idoso deve ser respeitado e, para isso, devemos su-
perar a visão de que em uma “sociedade em que o mito é a juventude,
a beleza e a força física, ser velho é, contrastivamente, ser feio, fraco
e, principalmente, improdutivo” (MEDEIROS, 1998, p. 7). Entendemos
a necessidade de estudar o tema processo de envelhecimento, respeito
e valorização do idoso no currículo escolar, para que os estudantes te-
nham embasamento teórico para entender e respeitar os mais velhos,
É importante entender que já existem muitos marcos legais que dão Leitura
suporte ao idoso e que devem ser de conhecimento de quem ensina e Confira o documento “A
pessoa idosa: educação
de quem aprende, sendo eles: e cidadania” para saber
mais sobre alguns mar-
•• Lei n. 8.842, de 4 de janeiro de 1994: dispõe sobre a Política Nacio- cos legais relacionados
nal do Idoso (PNI), cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras ao idoso.
providências. É um conjunto de normas e diretrizes que compõem Disponível em: http://www.
as políticas do idoso. Foi regulamentada pelo Decreto n. 1.948, de desenvolvimentosocial.sp.gov.br/
a2sitebox/arquivos/documentos/
3 de julho de 1996, com o objetivo de garantir os direitos sociais do biblioteca/publicacoes/volume7_
idoso – pessoa maior de 60 anos de idade –, buscando desenvolver Educacao_e_cidadania.pdf . Acesso
em: 6 maio 2020.
autonomia, integração e participação na sociedade.
•• Portaria n. 2.528, de 19 de outubro de 2006: aprova a Política Na-
cional de Saúde da Pessoa Idosa, documento que define e regu-
lamenta serviços e ações para a organização da saúde de acordo
com as necessidades dos idosos.
•• Lei n. 10.741, de 1 de outubro de 2003: considerada Estatuto do
Idoso, é o documento que consolida os direitos das pessoas ido-
sas para que a família, o Poder Público e a sociedade garantam a
cidadania, isto é, para que possam ser respeitados e protegidos
de toda e qualquer forma de discriminação ou preconceito.
•• Decreto n. 9.893, de 27 de junho de 2019: Dispõe sobre o Conse-
lho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (CNDI), órgão que tem
a finalidade de auxiliar nas questões relacionadas com a política
nacional do idoso.
Ryan DeBerardinis/Shutterstock
Seja na zona rural ou urbana, na cidade grande ou pequena, as pes-
soas se locomovem o tempo todo – necessidade intrínseca do homem.
Dessa maneira, é fundamental que isso seja feito de modo seguro, tan-
to para o pedestre quanto para o motorista, o carona, o passageiro e,
ainda, para qualquer pessoa que esteja usando outro tipo de recurso
para se locomover, além do veículo motorizado.
Podemos elencar alguns princípios, porém nunca serão suficientes Disponível em:
http://www.educacaotransito.
para responder a essa questão; por isso a necessidade de trabalhar, pr.gov.br/arquivos/File/arquivos/
no processo educativo, a Educação para o Trânsito. Seguem algumas Comunidade/Educar%20para%20
o%20Transito.pdf. Acesso em: 6
ideias importantes: mai. 2020.
•• entender sobre conduta e circulação;
•• perceber as semelhanças e diferenças entre a individualidade e
a coletividade;
•• ter bom relacionamento interpessoal para entender sobre situa-
ções conflitantes e harmoniosas;
•• compreender sobre a coletividade e convivência;
•• ter atitudes de tolerância, paciência, respeito, cooperação e
solidariedade;
•• dominar a linguagem visual, gestual e sonora.
Práticas transversais
Em Portugal, as escolas participaram do Projeto “A maior lição do mundo”, realizado pela Unicef, que tinha
como objetivo desenvolver uma proposta para o ODS4, a de educação de qualidade, e para o ODS16, que
consistia em paz, justiça e instituições eficazes. As escolas foram desafiadas a desenvolver projetos para uma
educação de qualidade e a promoção da paz e da justiça. O documento apresenta 15 projetos, que foram
realizados no ano letivo de 2018/2019, da Educação Infantil ao Ensino Médio, expondo uma síntese e os
resultados alcançados.
5.4.1 Trabalho
Quando o estudante está cursando a Educação Básica – Educação In-
fantil ao Ensino Médio – geralmente não está inserido no mundo do traba-
lho, mas o aprendizado que está adquirindo e construindo nesse período
é fundamental para o seu futuro profissional e também como cidadão.
processos no trabalho cada vez mais serão automatizados, exigindo Disponível em:
menos intervenção humana. http://www.ipea.gov.br/portal/
index.php?option=com_
Esse perfil do profissional de hoje será alterado em breve, no en- content&view=article&id=24233.
Acesso em: 12 maio 2020.
tanto é difícil determinar, com exatidão, quais serão as profissões do
futuro e como exatamente ele deverá ser. Mas os novos e futuros de-
safios apontam para a necessidade de um processo educacional que
prepare os estudantes hoje para entender a complexidade do mundo
futuro, cada vez mais conectado, com mais comunicação e informação
gerada a cada segundo, dando um salto qualitativo e quantitativo no
desenvolvimento social, político, cultural e econômico, influenciando a
nossa maneira de ver, analisar e proceder.
Práticas transversais
no seu art. 1º, define Educação Ambiental como “processos por meio dos Disponível em:
https://www.educamaisbrasil.com.br/
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimen- enem/biologia/educacao-ambiental.
tos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do Acesso em: 12 maio 2020.
Práticas transversais
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) tem a plataforma virtual EducaRES, a qual
apresenta mais de 200 experiências sobre educação ambiental.
5.6 Multiculturalismo
Vídeo Quando olhamos para o contexto no qual vivemos, identificamos
uma heterogeneidade nas pessoas relacionada a gênero, raça, padrões
culturais e políticos, religião, identidade e classe social, mas a não com-
preensão dessa diversidade pode gerar muitos conflitos sociais, de-
senvolvimentos de preconceitos e discriminações que não contribuem
para a aproximação entre os povos.
5.7 Saúde
Vídeo O ensino de Saúde para que se desenvolvam atitudes para uma vida
saudável e sustentável é um desafio a ser superado no processo edu-
cacional, uma vez que envolve a questão de hábitos e atitudes de cada
indivíduo e está relacionado, também, com as questões sociais, políti-
cas, econômicas e culturais.
5.7.2 Saúde
O Decreto n. 6.286, de 5 de dezembro de 2007, institui o Programa
Saúde na Escola (PSE). Entre suas orientações, destaca-se a promoção
da saúde e o desenvolvimento da cultura para a paz, de maneira que
se possa assegurar a formação integral dos educandos, a cidadania
e os diretos humanos. Ele aborda a interação da escola com as uni-
dades de saúde como meio de assegurar e monitorar o bem-estar
do estudante, e indica a inserção do tema saúde no projeto político
pedagógico das escolas.
Ainda com relação ao ambiente, ele deve incitar para que ocorra a
interação entre os indivíduos permeada de respeito, generosidade, co-
laboração, companheirismo, compreensão e entendimento sobre as di-
ferenças de ideias e opiniões. A relação entre professor e aluno deve ser
horizontal, de modo que possam dialogar, compartilhar ideias, e deve
ser permeada pela escuta sensível, pela afetividade e pela amorosidade;
também, permitir a expressão, a criticidade, a curiosidade, a criatividade
e o fluxo de ideias a fim de que os alunos exercitem sua autonomia.
Figura 3
Dicas para o planejamento
Identifique qual(ais) disciplina(s)/
Selecione um ou mais Temas
conteúdo(s) pode(m) ser
Contemporâneos Transversais
trabalhado(s) conjuntamente
Com essas
Importante: essa etapa informações Planeje também como será o
tem que ser flexível, se for desenhe os acompanhamento da aprendizagem
necessário, revise. passos/etapas pelos alunos e pelo grupo.
para serem Nessa etapa é fundamental usar
realizados(as) das metodologias ativas e das
tecnologias.
Pense como os conhecimentos
construídos podem ser sistematizados e
comunicados em sala de aula, na escola e
para a comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudar sobre os TCTs e sua inserção na prática pedagógica é um
grande desafio para os profissionais da educação, pois ainda há al-
gumas dificuldades epistemológicas e metodológicas que impedem
o rompimento com o paradigma cartesiano mecanicista que ainda
fundamenta a elaboração e muitos processos educativos nas escolas.
Planejar e executar exatamente o que foi pensado é um alívio, pois
proporciona a certeza de que o conteúdo será ministrado no tempo defi-
nido e o planejamento será executado.
Mas essa não é a realidade da educação e da sociedade atual. A ideia
é desenvolver alunos críticos e autônomos capazes de produzir seus pró-
prios conhecimentos, ter habilidades, conhecimentos e atitudes para en-
frentar os desafios propostos pela sociedade globalizada e exercer seu
papel como cidadão planetário.
Com os temas aqui abordados e a maneira como foram apresenta-
dos, buscou-se, além de trazer informações teóricas práticas, instigar o
leitor a buscar mais informações para que possa ter autonomia didáti-
ca pedagógica para inserir os TCTs na sua prática pedagógica.
ATIVIDADES
1. Assista ao vídeo O Idoso.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SfXx597JQyA&t=2s.
Acesso em: 12 maio 2020.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out.
1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm.
Acesso em: 14 maio 2020.
BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF, 28 abr. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9795.htm.
Acesso em: 13 maio 2020.
BRASIL. Programa Nacional de Educação Fiscal. Educação fiscal no contexto social. 3.
ed. Brasília: ESAF, 2008. (Série Educação Fiscal. Caderno 1). Disponível em: http://www.
gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/def_caderno_1.pdf. Acesso em: 13 maio
2020.
BRASIL. Saúde na escola. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. (Cadernos de Atenção Básica)
BRASIL. Ministério da Educação. Temas contemporâneos transversais na BNCC – contexto
histórico e pressupostos pedagógicos, DF: MEC/SEB, 2019. Disponível em: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_temas_
contemporaneos.pdf. Acesso em: 14 maio 2020.
CORDEIRO, N. V. Temas contemporâneos e transversais na BNCC: as contribuições da
transdisciplinaridade. Brasília, 2019. Dissertação (mestrado em Educação) – Universidade
Católica de Brasília.
CARREIRO, J. Má alimentação prejudica a saúde de milhões de crianças em todo o mundo.
Estadão, 2019. Disponível em: https://emais.estadao.com.br/blogs/comida-de-verdade/
ma-alimentacao-prejudica-a-saude-de-milhoes-de-criancas-em-todo-o-mundo/. Acesso
em: 13 maio 2020.
FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3. ed. Curitiba: Positivo,
2004.
FERREIRA, R. Educação financeira das crianças e adolescentes. Portugal, Lisboa: Escolar
Editora, 2013.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
IPEA. Fusão de programas sociais vai incluir 17 milhões de crianças sem proteção no Brasil.
IPEA, 2 set. 2019. Dsiponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_
content&view=article&id=35010&catid=10&Itemid=9. Acesso em 14 maio 2020.
MEDEIROS, S. A. R. Editorial. Revista Kairós: gerontologia, v. 1, n. 1, 1998.
MORIN, E. Os Sete Saberes necessários à educação do futuro. Cortez, 2000.
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Porto Alegre: Sulina. 2007.
OMS. 2018. Relatório de status global sobre segurança rodoviária 2018. Disponível em: https://
translate.google.com/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=https://www.who.int/publications-
detail/global-status-report-on-road-safety-2018&prev=search. Acesso em: 13 maio 2020.
PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. C. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2005.
SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2. ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2005.
Gabarito 147
2 Caminhos da transversalidade na educação
1. Resposta pessoal. O aluno deve criar algo inédito, não podendo buscar
nada pronto. Uma sugestão de resposta é elaborar um mapa conceitual
explicando sobre a transversalidade e os Temas Transversais.
Ano: 5º ano
Disciplina: Ciências
Gabarito 149
3 Transversalidade: metodologia de trabalho
1.
OLIVEIRA, E. B.; SANTOS, F. N. 5 Pressupostos e de-
finições em interdisciplinaridade: diálogo com al-
Referência guns autores. Interdisc., São Paulo, n. 11, p. 01-151,
out. 2017.
Minha frase:
Evidenciamos que Japiassu (1976) se opõe ao
A interdisciplinaridade é um caminho
estudo compartimentalizado e defende que o
para a superação da prática pedagógica
Citação 1 conhecimento não acontece de forma isolada na
cartesiana, mas para isso é fundamental
qual exista a necessidade de sintetizar em partes
que o professor acredite nessa aborda-
cada vez menores o objeto de estudo. (p.75)
gem para colocá-la em prática.
Evoca, ainda, que não poderá acontecer por imposi-
ção ou por forma de Lei, mas por atitude, postura, ou
Citação 2 seja, esse posicionamento da autora aponta para a
necessidade de transformação do sujeito. (p.77)
2.
3.
(EF06GE11) Analisar distintas interações das sociedades com a natureza, com base na distri-
Geografia buição dos componentes físico-naturais, incluindo as transformações da biodiversidade local
e do mundo.
4 Transversalidade e currículo
1.
Perguntas Respostas
Ano 5º ano
Componente /Disciplina Geografia
Escolha uma Unidade Temática Mundo do trabalho
(EF05GE06) Identificar e comparar transformações dos meios
Escolha uma Habilidade
de transporte e de comunicação.
Durante uma conversa com os alunos em sala de aula, sobre
as transformações dos meios de transporte, uma aluna rela-
Descreva a ação de sala de aula que
tou que, com todas as mudanças ocorridas na cidade onde a
caracterize a inserção do currículo
avó dela mora, não existe metrô como em São Paulo, lá as coi-
oculto
sas ainda andam meio devagar e é muito comum a utilização
de carroças como meio de transporte.
2.
Perguntas Respostas
Ano 9º ano
Cite dois Componentes / Disciplinas que
Ciências e Matemática.
podem ser envolvidos
Tema(s) Contemporâneo(s) Transversal(is) Saúde e Gestão Financeira.
Título da reportagem Como o avanço da tecnologia beneficia a Medicina?
Reportagem que trata do uso da tecnologia para ser usada na saúde
Síntese da reportagem
para melhorar a vida das pessoas.
https://exame.abril.com.br/negocios/dino_old/como-o-avanco-da-
Link da reportagem
-tecnologia-beneficia-a-medicina/. Acesso em: 24 abr. 2020.
Porque a reportagem trata da tecnologia e da saúde, e as rela-
Justifique por que ela pode ser usada de ciona com dados quantitativos na recuperação dos pacientes e
maneira transversal em uma aula na eficiência da gestão administrativa mostrando os benefícios para
gestor e paciente.
Gabarito 151
3.
Perguntas Respostas
Qual Tema Contemporâneo Transversal, na sua opinião,
Meio Ambiente – Educação Ambiental
foi usado nesse projeto?
Qual disciplina foi base para o projeto? Ciências
Selecione uma Unidade Temática dessa disciplina. Matéria e energia
(EF04CI02) Testar e relatar transformações nos materiais
Selecione pelo menos uma Habilidade dessa temática
do dia a dia quando expostos a diferentes condições
que corresponda ao projeto.
(aquecimento, resfriamento, luz e umidade).
Qual outra disciplina você acha que auxiliou no
Matemática
desenvolvimento do projeto?
Selecione uma Unidade Temática dessa disciplina Probabilidade e estatística
(EF04MA27) Analisar dados apresentados em tabelas
simples ou de dupla entrada e em gráficos de colunas
Selecione pelo menos uma Habilidade dessa temática
ou pictóricos, com base em informações das diferentes
que corresponda ao projeto.
áreas do conhecimento, e produzir texto com a síntese
de sua análise.
Identifique, nas atividades realizadas, qual delas corres-
Confecção de gráficos e relatórios com o resultado das
ponde a essa segunda Disciplina/Unidade Temática e
entrevistas.
Habilidade.
Sim, pois houve necessidade de interagir com outras
Você acha que foi usado a interdisciplinaridade nesse áreas para resolver algumas questões, como utilizar os
projeto? Justifique sua resposta. conteúdos da Matemática para elaborar dados quantita-
tivos das entrevistas.
Sim, em muitos momentos. Um exemplo é nas descober-
tas relacionadas com o valorizar e resgatar a memória
Você acha que foi usado a transdisciplinaridade nesse
cultural/ambiental dos alunos e de suas famílias, nesse
projeto? Justifique sua resposta.
momento foi além das disciplinas e resgatou as questões
emocionais.
Gabarito 153
Transversalidade na Educação
Edna Liz Prigol
Transversalidade
na Educação