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A concepção do espaço econômico polarizado

The concept of polarized economic space


La concepción del espacio económico polarizado
Jandir Ferrera de Lima
Universidade do Quebec em Chicoutimi (UQAC)

contato: jandir@unioeste.br
Resumo: Este artigo analisa a concepção de espaço econômico polarizado. A noção de pólo é ligada à noção de
dependência. O pólo reflete a concentração das atividades produtivas e da existência de um centro, com uma
pequena periferia composta de vários espaços que gravitam no seu campo de influência econômica e política.Portanto,
a questão principal na análise espacial e até mesmo na política territorial deve ser a busca pelo policentrismo das
atividades econômicas. Na realidade, uma das características do desenvolvimento capitalista é a exclusão social dos
espaços e das culturas que não se adaptam à sua lógica de produção. Por isso, o processo de polarização é um
elemento de conflito, pois vem reforçar as desigualdades regionais e o caráter excludente do sistema produtivo.
Palavras-chave: Economia Regional; Economia Espacial; Desenvolvimento Econômico.
Abstract: This article analyzes the conception of polarized economic space. The notion of a pole is connected with the
notion of dependence. The pole reflects the concentration of the productive activities and the existence of a center, with
a small periphery composed of some spaces that gravitate in its field of economic and political influence. The ultimate
issue in space analysis and even in territorial politics should be the search for the polycentrism of economic activities.
In reality, one of the characteristics of capitalist development is social exclusion from spaces and from cultures that
do not adapt to its logic of production. Therefore, the polarization process is an element of conflict, as it comes to
strengthen the regional inequalities and the excluding character of the productive system.
Key words: Regional Economy; Economic Development; Space Economy.
Resumen: Este artículo analisa la concepción de espacio económico polarizado. La noción de polo es relacionada a la
noción de dependencia. El polo reflite la concentración de las actividades productivas y la existencia de un centro, con
una pequeña periferia compuesta de varios espacios que gravitan en su campo de influencia económica y política. Por
lo tanto, la cuestión principal en el análisis espacial y hasta en la política territorial debe ser la búsqueda por el
policentrismo de las actividades económicas. En realidad una de las características del desarrollo capitalista es la
exclusión social, de los espacios y de la cultura que no se adaptan a su lógica de producción. Por eso, el proceso de
polarización es un elemento de conflicto, pues refuerza las desigualdades regionales y el carácter excluyente del
sistema productivo.
Palabras claves: Economía Regional; Economía Espacial; Desarrollo Económico.

1. Introdução no meio físico impostas pelo homem, a partir


dos condicionantes do próprio espaço e da
O objetivo desse artigo é analisar a sua eficiência.
concepção de espaço econômico polarizado. Além disso, para Ponsard (1988, p. 7-
Essa análise é importante porque no espaço 21) a grande omissão da ciência econômica
distribuem-se os fatores de produção (recur- foi ignorar o papel do espaço na localização
sos naturais, capital e trabalho) e a economia das atividades produtivas, sobre a demanda,
estuda sua exploração a partir da sua utilida- sobre a oferta de bens e serviços e na locali-
zação dos assentamentos humanos. A teoria
de na geração de riquezas. Mas, na evolução
econômica de tradição neoclássica é conce-
do pensamento econômico, a ciência econô-
bida segundo uma análise pontiforme, isto
mica passou a incorporar o espaço como va-
é, a economia é localizada sobre um ponto
riável importante nos estudos do desenvol-
onde os indivíduos, as residências e as ações
vimento econômico e no equilíbrio da firma, ficam sempre sobre um único espaço. A
a partir dos trabalhos de Alfred Marshall. A análise econômica espacial vem mudar essa
influência de conceitos desenvolvidos por percepção, no momento que introduz a
Marshall (1938), como externalidades, loca- noção de espaço como um elemento ativo
lização e estrutura de mercado, possibilita- na dinâmica do sistema produtivo.
ram a introdução do espaço, pelos geógrafos, Assim, a noção de espaço tem um lugar
como elemento ativo na análise do potencial importante na economia moderna. Sobre o
das regiões. Com isso, o estudo da geografia espaço geográfico das regiões, são produ-
econômica, na medida que se interessa pela zidos os bens de subsistência, os excedentes
utilidade das características físicas do espaço, para as trocas, assim como mudanças cientí-
para auferir o desenvolvimento econômico, ficas, culturais, políticas, biológicas, geográ-
avalia o uso dos recursos naturais, as possi- ficas e econômicas. Por isso, sobre o espaço
bilidades de produção e as transformações há várias relações entre os objetos e as ações.

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Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 4, N. 7, p. 7-14 , Set. 2003.
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Para Santos (1997), os objetos e as ações são 2. As três concepções do espaço


os elementos principais na definição de econômico
espaço. Com eles é possível analisar suas ca-
tegorias internas que são a paisagem, os ter- A noção de espaço econômico tem ele-
ritórios e os relevos. A paisagem é um conjun- mentos geográficos e características particu-
to de formas e ela exprime a ação do homem. lares que o definem. Mas para a região, há
O território é um conjunto de elementos todo um conjunto de relações econômicas e
naturais e artificiais que caracteriza um sociais que tem como lugar central de análise
espaço em particular. Os relevos são formas as cidades. Segundo Claval (1995, p. 7), o
da paisagem e a matéria sobre a qual se espaço econômico é organizado em áreas que
produzem as ações humanas. gravitam em torno de áreas urbanos. As áreas
Mas essas categorias ganham diferen- urbanas representam os centros de produção
tes interpretações, porque o espaço geográ- assim como as decisões econômicas e admi-
fico é uma imagem, um reflexo do desenvol- nistrativas de todo o conjunto regional. A
vimento de um grupo social num período da organização deste espaço em torno das cida-
história. Este espaço geográfico é um elemen- des e as relações que se produzem nas regiões
to, um produto da acumulação do capital e conduzem as transformações nas formas de
da reprodução social. Então, as concepções produção e na troca das mercadorias.
de espaço se intercalam entre os diversos Sendo assim, a economia regional se
conceitos da geografia, da economia e da apóia na classificação clássica dos espaços
sociologia. Assim, para Bailly (1983, p. 292- econômicos formulada por Boudeville (1972,
295), “o espaço é considerado como um p. 15-40). Para ele, o espaço econômico en-
território no qual os grupos (e as ideologias) volve três noções: o espaço homogêneo, o
agem e impõem seus objetivos e suas práticas espaço polarizado e o espaço de planificação.
[...]”. O território, em um momento preciso, 1) O espaço homogêneo: Ele é caracterizado
é um território onde se fazem a concentração, por zonas, territórios ou regiões com as
o estabelecimento, a dispersão humana e a mesmas características físicas, econômicas
localização das atividades produtivas dos e sociais. Suas características são visíveis em
indivíduos. todas as regiões e no conjunto elas formam
Assim, a concepção de território de- um espaço único. Assim, o espaço homo-
monstra que o espaço não é economicamente gêneo refere-se, ou corresponde, a um
neutro. Para Ponsard (1988, p. 7-21), as espaço contínuo com características seme-
transações, as residências, as distâncias e as lhantes de densidade, de estrutura de pro-
posições dos indivíduos não são as mesmas dução, do nível de renda e várias outras
todo o tempo. Eles habitam e exploram dife- similitudes.
rentes lugares onde produzem relações 2) O espaço polarizado: A concepção de
sociais de produção. Por isso, o espaço tem espaço polarizado tem em François Perroux
toda uma implicação na determinação na (1977, 1982) seu principal teórico. A noção
otimização da produção, na determinação de pólo é ligada à noção de dependência,
de preços de equilíbrio, na dispersão das de concentração e da existência de um
pessoas e recursos, nas possibilidades de ex- centro, com uma pequena periferia com-
ploração da natureza e na forma de produzir posta de vários espaços que gravitam no
o desenvolvimento entre diferentes locais. seu campo de influência econômica e polí-
Então, o espaço tem um efeito sobre o pro- tica. Desta maneira, o espaço polarizado é
cesso de crescimento econômico. Com isso, heterogêneo, pois as cidades ou espaços
a natureza econômica do espaço é a causa satélites não têm as mesmas características
de todo um conjunto de decisões que tem do desenvolvimento do centro, porém em
influência sobre a dinâmica do sistema de uma relação de dependência. Mas todas as
produção. Portanto, para visualizar a rela- cidades ou centros têm papéis específicos
ção direta entre o espaço e economia, é no espaço, na divisão social do trabalho
necessário conhecer a classificação que a como na produção de bens e serviços.
economia faz do espaço. 3) O espaço de planejamento (região plano):
A característica maior deste tipo de espaço

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é que nele os diversos territórios ou regiões implicações. Segundo suas idéias, as ativi-
que o compõem são ligados às mesmas dades econômicas não são localizáveis com
decisões. Os territórios são orientados por precisão, por isso, o espaço não podia ter um
um mesmo plano de desenvolvimento sentido meramente físico. Não poderia tam-
econômico. As condições de planejamento bém ser definido como um território delimi-
e a ação dos instrumentos regulatórios tado pelos acidentes geográficos ou pelo livre
garantem o acesso aos recursos naturais arbítrio do homem, ao contrário, considerava
escassos, estabelecem as regras de locali- essas divisões vulgares e sem valor analítico
zação dos assentamentos humanos e das para a economia. Dessa forma, defendia que
diretrizes da exploração industrial e extra- os espaços são conjuntos abstratos, consti-
tiva. Com isso, as atividades de planejamen- tuídos de relações econômicas (monetárias,
to e gestão dos recursos, têm como delimita- investimento, poupança etc.), realizadas por
dor o espaço geográfico e a forma como este agentes econômicos (unidades familiares,
interage com o meio em que está inserido, empresas e governo).
tanto produtivo como improdutivo. Para Assim, Perroux (1982) conceitua o
Andrade (1987), isso implica levar em con- espaço econômico em duas perspectivas:
sideração os elementos físicos (estrutura, inicialmente, examinando e descrevendo o
relevo, hidrografia e clima), os elementos relacionamento e a distribuição das ativi-
biológicos (vegetação e fauna) e os elemen- dades econômicas no espaço geográfico,
tos sociais, ou seja, a organização feita pelo atividades que podem ser localizadas através
homem. Com isso, nota-se que o espaço não de suas coordenadas ou mapeamento; pos-
é um elemento isolado, mas interde- teriormente, analisando o espaço econômico
pendente, o que pode ser observado no que corresponde a relações conceituais mais
âmbito das regiões. Por outro lado, o espaço amplas – por exemplo, uma empresa ou
plano ou programa, segundo Silva (1996), indústria, ou um grupo delas, pode localizar
apesar de não coincidir com a região sua produção em uma determinada área,
polarizada, teria por vocação a criação de porém seu mercado de insumos, ou de
regiões polarizadas novas. O que implicaria produto, pode estar localizada dentro ou fora
na seleção de meios disponíveis no espaço do mesmo espaço geográfico.
geográfico para um determinado fim. Com isso, o espaço polarizado corres-
Apesar destas concepções de espaço, ponde a um campo de forças ou de relações
a teoria econômica, depois de 1950, dedica funcionais. Ele corresponde às interde-
uma atenção considerável sobre o espaço pendências ou intercâmbios entre os espaços
polarizado. Esta discussão teve uma influên- homogêneos, ou seja, consistem em centros
cia muito forte sobre a as analises do desen- (pólos ou nó) dos quais emanam forças cen-
volvimento econômico. De acordo com trípetas (de atração) e centrífugas (de repul-
Jacques Boudeville (1972, p. 25), a região tem são). Cada centro atuando forma um campo
uma oposição com o espaço “[…] porque ela de atuação próprio. Pode-se então definir o
se compõe de elementos geográficos necessa- espaço ou região polarizada; como o lugar
riamente contíguos, de elementos espaciais onde há intercâmbio de bens e serviços, do
que possuem fronteiras comuns”. A região qual a intensidade de intercâmbio interior é
é um espaço heterogêneo onde estão pre- superior, em cada um de seus pontos defi-
sentes as relações entre um pólo dominante, nidos, à intensidade exterior.
sua periferia e os pólos de outras regiões. Os espaços polarizados podem ser de
Assim, o espaço econômico tende à polari- crescimento ou de desenvolvimento. Os
zação. As possibilidades de um espaço pólos de desenvolvimento são aqueles que
homogêneo ocorrem mais em função das conduzem a modificações estruturais e que
características geográficas que econômicas. abrangem toda a população da região
polarizada. Já o pólo de crescimento corres-
3. O Espaço econômico polarizado ponde a certos pólos que, mesmo motivando
o crescimento do produto e da renda, não
François Perroux (1977) procurou dis- provocam transformações significativas das
tinguir as várias noções de espaço e suas estruturas regionais.

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Segundo Silva (1996), o pólo de cresci- mercado. Estes efeitos seriam sobre a estru-
mento é ativo, pois produz a expansão indus- tura da produção (aglomeração, efeitos
trial, mantendo o ritmo crescente das suas técnicos para frente e para trás, transporte),
atividades, em contraste ao pólo de desenvol- sobre o mercado (impactos de inovações,
vimento, que apenas produziria a expansão mudanças nas variáveis macroeconômicas,
da indústria mediante condições especiais. mudanças institucionais e demográficas).
Assim, os pólos exercem um efeito de domi- Analisando os efeitos econômicos-
nação sobre os outros espaços. Essa domi- funcionais sobre a estrutura de produção,
nação se dá através da ação de uma unidade ocorre o efeito de aglomeração quando a in-
motriz. A unidade motriz pode ser uma dústria ou grupo de indústrias opera a um nível
unidade simples ou complexa, composta por de escala ótima. Uma redução de custo causa
empresas ou indústrias, ou uma combinação economias de escala, externa e de localização
delas que exercem um efeito de atração espalhando-se pelo conjunto da região.
(dominação) sobre as demais unidades a ela Apesar de os efeitos de aglomeração
relacionada. Sua atuação num espaço sócio- envolverem as relações de uma cadeia pro-
econômico gera efeitos positivos. dutiva, os efeitos técnicos de encadeamento
Uma empresa motriz pode estar são os que dizem respeito à função de produ-
geograficamente situada em um local de ção, ou seja, as relações de compra de insu-
exploração da matéria-prima e seu mercado mos e fornecimento de produtos. Os efeitos
de bens e serviços estar localizado em outras para trás (fornecimento de insumos), com as
regiões, dessa forma a empresa ou indústria indústrias complementares, são geralmente
estará completamente deslocalizada em mais importantes que os efeitos para frente
relação ao seu mercado de bens e serviços (fornecimento de produtos) com as empresas
(ex.: indústria de mineração). satélites, porque o valor adicionado pela
Assim, segundo Lima, Silva e Piffer empresa motriz é comparativamente ao da
(1999), a empresa motriz compõe um espaço indústria satélite bem maior.
econômico polarizado. Ela está inter-relacio- Os efeitos de junção ou transporte
nada com as demais indústrias através de envolvem investimentos para expandir a
um sistema de relações econômicas – preços, capacidade da rede de transporte como
fluxos, investimentos etc. Diferentes indús- resposta à atuação da indústria motriz, já
trias crescem a taxas diferenciadas. Dessa que o transporte é um componente expres-
forma, dois fatos condicionam, basicamente, sivo do custo. A rede de transporte torna-se
o crescimento regional: o fluxo de rendas pes- dessa forma parte do eixo de desenvol-
soais e as relações técnicas e comerciais entre vimento, que além do tráfego de produtos
empresas localizadas na região, que tem inclui a orientação principal e durável do
maior influência no desencadeamento do tráfego de serviços e capitais.
crescimento regional. Dessas empresas, a Já os efeitos sobre a demanda ou
unidade motriz geralmente tem a maior mercado basicamente dizem respeito às
influência, pois é de grande porte. A sua pro- mudanças nas propensões keynesianas, ou
dução representa uma grande parcela da seja, o crescimento da indústria motriz afeta
produção regional. Ela gera economias a estrutura de população através da expan-
externas, tem um grande volume de transa- são da renda regional. Do mesmo modo, as
ções com o pólo, caracterizando dessa forma instituições se modificam a fim de se ajusta-
uma grande interdependência técnica rem à elevação do nível de bem-estar geral.
(linkagens). Apresenta um crescimento Aumentos persistentes na renda causam,
normalmente superior a média regional e segundo Keynes (1985), uma diminuição na
utiliza técnicas intensivas de capital. propensão a consumir e em contrapartida
Nesse sentido, pode-se classificar, uma elevação na propensão a poupar.
segundo Lima, Silva e Piffer (1999), num Da mesma forma, ocorrem mudanças
sentido econômico e funcional, a influência na relação trabalho/lazer devido ao efeito
da unidade ou indústria motriz em relação demonstração – tentativa de alcançar status
aos efeitos que ela engendra sobre a estrutura de estrato social superior – e as variações de
de produção, e efeitos sobre a demanda ou produtividade.

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4. Espaço polarizado como um local de espacial entre as regiões que o compõem,


conflitos criando possibilidades de comércio e de
exploração dos recursos naturais. Essas
O espaço interage com relações sociais possibilidades, no ambiente excludente do
específicas no aproveitamento dos fatores de capitalismo, coloca em desvantagem as
produção, dando forma às relações econômi- áreas mais afastadas e sem um amplo
cas e históricas que surgem entre e intracomu- progresso industrial.
nidades. Assim, o espaço polarizado funda- Essa desvantagem é visível ao observar-
menta-se a partir de um conjunto de variáveis se uma relação inversa entre a quantidade
econômicas localizadas ou não, já que a e/ou qualidade dos fatores de produção e a
unidade do espaço é dada pelas suas carac- ocupação do espaço pelo homem. Além
terísticas e a natureza das relações de inter- disso, a tecnologia tem um papel importante
dependência entre os seres que o habitam. no acesso à exploração dos recursos e dos
Esta interdependência coloca fatores meios mais eficientes de transforma-los. O
geográficos como linhas de ligação entre os que leva, dentro da órbita política, à hegemo-
ambientes físicos e naturais que acomodam nia de algumas regiões, que detém tecnologia
os povos. É a linha de conjunção entre as eficaz de exploração e no aproveitamento
regiões e a viabilidade das suas atividades das potencialidades naturais dos espaços sem
produtivas. Com isso, a análise do espaço que estão efetivamente assentados.
polarizado e a forma de exploração dos Por isso, ressalte-se mais uma vez, a
recursos naturais tornam-se pertinente na polarização e a concentração das atividades
compreensão do papel concreto das regiões produtivas em pólos é uma postura de
no desenvolvimento econômico. conflito, frente às unidades territoriais e polí-
Assim, a polarização no espaço econô- ticas constituídas, pois no espaço convergem
mico é um elemento de conflito. As relações umas séries de interesses sobre o direito de
entre as regiões economicamente ativas e decidir e administrar as riquezas.
distintas politicamente, com um sistema pro- Nota-se então que além do Estado-
dutivo ou modo de produção comum, pode nação, cabe também à sociedade civil e aos
dar-se aleatoriamente ao papel político das agentes econômicos a tomada de decisões
mesmas, principalmente das regiões pólos. para a preservação e gerenciamento das
Isso ocorre quando as regiões não estão atividades produtivas. Além disso, a locali-
integradas efetivamente ou pela proximidade zação das empresas muda no decorrer da
e divisão de fatores de produção comuns, mas história, na medida que muda o poder
estratégicos ao seu desenvolvimento econô- político local ou a necessidade de exploração
mico. Neste caso, as relações entre as regiões do espaço. Isso ocorre porque a ocupação
pólos e as regiões periféricas exprimem uma do espaço é acarretada essencialmente por
intensidade de atividades e padrões que são três fatores: Políticos, econômicos ou pelas
independentes da estrutura das fronteiras. condições naturais de existência.
Por isso, o aproveitamento espacial dos Estes três fatores se interagem, o que
fatores de produção, a favor de uma acumu- representa a dissociabilidade entre os fatores
lação do capital menos desigual, requer a políticos e econômicos. Já as condições
formação de um espaço de planejamento e naturais de existência levam em conside-
a gestão eficaz da sua exploração. Isto se ração, num primeiro plano, a subsistência
torna patente em ambientes de fronteira, dos assentamentos humanos. No momento
onde as linhas que definem as regiões que a sociedade passa a produzir excedentes
autônomas politicamente estão assentadas comercializáveis, o processo de mercanti-
em recursos de cunho internacional. lização começa a transformar as relações
Deve-se ressaltar que a linha de apro- sociais no espaço e a estabelecer novos
veitamento econômico dos fatores de produ- padrões de produção.
ção no espaço e na evolução dos modos de Pode-se tomar como exemplo os
produção tende, com o tempo, a se sobrepor assentamentos humanos na América do Sul,
às fronteiras políticas. Com isso, condiciona- e especialmente no Brasil, cuja ocupação dá-
se a integração dos mercados à integração se sobre a exploração da terra e a extração

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de produtos silvícolas e agrícolas exportá- zação estabeleceram características peculiares


veis, no princípio do seu processo de coloni- de ocupação. Independente disto, a interação
zação. A ocupação do espaço pelos portu- dos níveis de comércio e a exploração do meio
gueses, com nítidos interesses econômicos, ambiente parece ser mais comum na história
estabeleceu as transformações do ambiente mundial, principalmente em países com uma
físico e social, culminando numa organiza- nítida fronteira agrícola móvel, como o Brasil.
ção política de exploração da terra, calcada De acordo com Gutierrez (1997), esta é uma
nas capitanias hereditárias, nas imensas tendência quando a terra é passível de gerar
sesmarias e no estabelecimento de grandes excedentes comercializáveis, principalmente
latifúndios com um mando político centrali- no mercado internacional. Tanto que, histo-
zado. A forma desta ocupação do espaço ricamente, o crescimento econômico tem
tornou-se um elemento marcante na posse demonstrado uma degradação latente no
da terra pelos portugueses, além de condi- espaço físico e biológico e a concentração
cionantes históricos para as transformações crescente das atividades produtivas.
que suas colônias passaram.
Por outro lado, na América do Norte 5. À guisa de conclusão
houve um processo diferente de coloni-
zação. Num primeiro momento, o povoa- O objetivo desse artigo é analisar a
mento tornou-se a peça-chave para gerir a concepção de espaço econômico Nota-se que
terra e as relações sociais, calcadas nitida- análise econômica espacial é um elemento
mente em aspectos religiosos e políticos. importante no estudo da concentração das
Uma boa parte dos colonizadores buscavam atividades produtivas e dos efeitos de domi-
uma nova pátria, fugindo de perseguições nação entre regiões polarizadoras e polari-
na Europa. Além disso, a distribuição da zadas. Na realidade, o estudo da economia
terra levou em consideração a ocupação dos espacial é recente na teoria econômica. Aná-
territórios em linhas de fronteira ou zonas lises mais concretas do papel espaço na loca-
até então despovoadas. lização das atividades produtivas e na orga-
Essa distribuição foi, na maioria dos nização das regiões tiveram origem no século
casos, de forma aleatória sem preocupar-se XX. Essas análises tentam transcender o
com o credo, exigindo apenas a capacidade caráter pontiforme do espaço, característica
de produzir nas áreas ocupadas. Evidente- principal da análise econômica neoclássica.
mente, para efetivar esta ocupação, os grupos Nesse aspecto, a concepção do espaço
nativos foram expropriados. Tanto que os econômico ganhou três formas: o espaço
movimentos migratórios das comunidades homogêneo, de planejamento e o polarizado.
indígenas, em alguns casos dos próprios Desses, o espaço polarizado representa um
colonizadores para o interior de determinadas campo de análise muito profícuo em econo-
regiões ou áreas insalubres, foi uma constante mia regional. A natureza da concentração e
na evolução histórica dos Estados Unidos e aglomeração das atividades produtivas tem
Canadá. Isto se apresenta mais preeminente nos pólos um ambiente de estudo para a
com os grupos nativos, os negros e a popu- compreensão do processo de desenvolvimento
lação miscigenada, além de algumas minorias. econômico regional e local. Tanto que a partir
Assim, nota-se que o interesse econômico no de 1950, alguns estudos tentam explicar o
espaço deriva-se de dois aspectos peculiares: funcionamento das economias regionais
Facilidades no âmbito do comércio e da através da análise da geografia econômica.
acumulação de capital e o aproveitamento Portanto, a questão principal na aná-
rentável dos fatores de produção. lise espacial e até mesmo na política territorial
A facilidades de comércio, sem o apro- deve ser a busca pelo policentrismo das
veitamento rentável dos fatores de produção, atividades econômicas. Na realidade, uma
ocorrem em áreas consideradas de livre das características do desenvolvimento capi-
comércio ou de processamento de expor- talista é a exclusão social, dos espaços e das
tações. Essas áreas são tradicionalmente culturas que não se adaptam à sua lógica de
polarizadas, pois a localização geográfica produção. Por isso, o processo de polarização
dos fatores e até mesmo os subsídios à coloni- é um elemento de conflito, pois vem reforçar

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