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I

Antónia encontra-se em trabalho de parto. Tudo parecia estar a correr


muito bem, quando o seu sistema cardíaco entra em colapso.
Considere, separadamente, as seguintes situações:
a) Antónia morre às 14.45 e os médicos, para salvarem o filho,
Bento, realizam uma cesariana e, às 15.05, declaram o parto
como concluído, certificando a morte de Antónia e o nascimento
de Bento. Diga se Bento é herdeiro de Antónia.
Bento, sendo um recém-nascido, é suscetível de ser titular de direitos e
destinatário de obrigações, entre eles o direito à herança, desde o mo-
mento do seu nascimento completo e com vida [artigo 66º/1 CC]. Bento
também é, efetivamente, filho de Antónia [artigo 1796º/1 CC].
Recorrendo ao artigo 2131 do Código Civil que afirma que “ se o falecido
não tiver disposto válida e eficazmente, no todo ou em parte, dos bens de
que podia dispor para depois da morte, são chamados à sucessão desses
bens os seus herdeiros legítimos” e ao artigo 2132 que afirma que “são
herdeiros legítimos o conjugue, os parentes e o Estado, pela ordem e se-
gundo as regras constantes do presente título”, podemos concluir que o
Bento, enquanto ser com personalidade jurídica, é um herdeiro de Antónia.
CORREÇÃO
Art. 2033 – já estava concebido à altura da sucessão
art. 66 – os direitos do bento ficam suspensos desde a morte da mãe até
ao seu nascimento – quando ganha personalidade jurídica

b) O pai de Bento, Carlos, era bastante abastado e falecera 15 dias


antes do dia do nascimento de Bento. Durante o trabalho de
parto, em momento em que Bento já se encontra com a cabeça e
parte do tronco fora do corpo de Antónia, Bento morre. Cerca de
30 minutos depois, morre Antónia. Antónia e o seu marido já ti-
nham outro filho, Daniel e Antónia, de outro casamento, tinha
mais um filho, Elias. Quem herda o património de Carlos?
De acordo com o artigo 2031 do Código Civil, percebe-se que a sucessão de
Carlos abre-se no dia da morte deste, ou seja, quinze dias antes da morte
de Antónia e de Bento.
Sendo Carlos uma pessoa abastada, verifica-se, de acordo com os artigos
2131 e 2032, que deverão ser chamados á sucessão desses bens os seus
herdeiros legítimos. De acordo com o artigo 2132, verifica-se que os
herdeiros legítimos de Carlos são Antónia, Daniel, o Estado e, comprovado
pelo artigo 2033, o Bento, que, na hora da morte do pai, era um nascituro.
No entanto, após a morte de Antónia e de Bento, que perdem a personali-
dade jurídica, resta-nos saber quem herda o património de Carlos: Daniel
ou Elias. Como já verificado, Daniel é um herdeiro legítimo de Carlos. Por
sua vez, Elias, sendo filho do conjugue de Carlos, não tem direito à herança
do mesmo. Poder-se-ia pensar que este poderia recorrer ao direito de re-
presentação (que consta no artigo 2039), no entanto verifica-se que este
direito opera apenas a favor de descendentes do filho do autor da sucessão
e de descendentes de irmão do autor da sucessão, em ambos os casos sem
limitação de grau. Ou seja, os descendentes do cônjuge nunca beneficiam
de direito de representação na sucessão legal.
Sendo assim, conclui-se que Daniel é o herdeiro do património de Carlos.

c) Antónia dá à luz Bento que, devido ao problema cardíaco da mãe,


nasce com um problema que implica que, para conseguir sobrevi-
ver, seja colocado numa incubadora durante 20 dias. Sabendo
que o parto ocorreu no dia 1 e a saída da incubadora no dia 21 de
Setembro, diga em que dia adquiriu Bento personalidade jurídica.

De acordo com o artigo 66 do Código Civil, pode-se concluir que


Bento adquiriu personalidade jurídica no dia em que nasceu, ou seja, no dia
1.

NOTAS:
Tradicionalmente, considera-se o nacimento completo quando se faz
o corte do cordão umbilical. De acordo com o legislador do art.66, a separa-
ção da mãe e a consequente divisão em dois seres (visto que quando ainda
não nasceu, o bebé respira e come através da mãe, ao passo que quando
nasce começa a fazer estas duas coisas autonomamente) representa o nas-
cimento. Nós tínhamos antes 1 pessoa e, após o nascimento, tínhamos 2
pessoas.
Para o direito português, não é necessário que o ser humano nasça
com hipóteses de sobrevivência. Juridicamente, uma pessoa que nasça com
vida possui personalidade jurídica.

GÉMEOS SIAMESES
Se o bebé morrer durante o parto (antes de se cortar o cordão umbi-
lical) não adquire personalidade jurídica.

II
Asdrúbal é o vocalista de um popular grupo musical e foi contactado por
uma revista de música. Mediante o pagamento de uma quantia em di-
nheiro, Asdrúbal consentiu que a revista, dirigida por Birmínio, utilizasse
uma fotografia sua, na capa do número do mês seguinte.
Poucos dias depois, Asdrúbal arrependeu-se e contactou a revista, proi-
bindo a divulgação da fotografia. A direção da revista, porém, ignorou esse
contacto e procedeu à publicação. No interior da revista surgiu, ainda, um
texto sobre Asdrúbal, que incluía relatos sobre os antecedentes criminais
do cantor que a revista obtivera através de uma certidão do registo crimi-
nal com cerca de dois anos, altura em que Asdrúbal concorrera a um traba-
lho na revista e entregara a certidão com o seu curriculum.
Furioso, Asdrúbal deslocou-se às instalações da revista e agrediu o seu di-
rector, causando-lhe diversas fracturas.
(adaptado a partir de CARLOS LACERDA BARATA, Teoria geral do Direito ci-
vil – Casos práticos, AAFDL, Lisboa, 2012, 4.ª ed., p. 84)

1. Que direitos assistem a Asdrúbal relativamente à revista?


Asdrúbal, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica desde o mo-
mento do seu nascimento com vida, tal como configurado nos termos do
número 1 do artigo 66 do Código Civil. Como Asdrúbal tem personalidade
jurídica, é titular de direitos de personalidade, que constituem situações ju-
rídicas absolutas. Os direitos de personalidade são tutelados, de modo ge-
ral, no artigo 70 do Código Civil.
Verifica-se que ocorreu, neste caso, uma violação, por parte da revista,
enquanto pessoa coletiva detentora de personalidade jurídica (artigo 158
do Código Civil), dos direitos à imagem e à integridade moral, configurados,
respetivamente, nos números 1 e 3 do artigo 79 e no artigo 70 do Código
Civil.
No caso do direito à imagem, o número 1 do artigo 79 consagra que que
a revista necessitaria do consentimento de Asdrúbal para captarem e re-
produzirem imagens suas. Verifica-se que se estabeleceu o consentimento
ao verificar o estabelecimento de um negócio jurídico entre Asdrúbal e a
revista, em que se atribuiu um pagamento ao primeiro. No entanto, Asdrú-
bal arrependeu-se desta decisão e decidiu voltar atrás. A desvinculação
unilateral do consentimento prestado ocorre nos termos do n.º 2 do artigo
81.º do C.C., sendo sempre revogável, sendo que, no entanto, surge um
dever de indemnização.
Verifica-se, no entanto, que a revista ignorou a vontade de Asdrúbal e
prosseguiu com a publicação da fotografia, violando o seu direito à ima-
gem.
Por outro lado, verifica-se uma violação do direito à integridade moral, à
honra e ao bom nome de Asdrúbal, no seguimento da publicação do artigo
referente ao seu histórico criminal.
Asdrúbal pode requerer as providências necessárias para evitar ou ate-
nuar os efeitos da ofensa ou ameaça, como referido no número 2 do artigo
70 do Código Civil. Nesse sentido, entramos no âmbito da responsabilidade
civil, e partindo da análise do artigo 483.º do C.C., percebe-se que violação
do direito à imagem pode originar a obrigação de indemnizar o titular
desse direito. Como nos encontramos perante uma ofensa ao bom nome,
temos ainda responsabilidade civil nos termos do artigo 484º CC.
NOTAS
Artigo 219 – Não é necessário um contrato estar escrito para ser válido.
Através de uma fotografia é possível violar o direito à imagem e à honra
Também é possível indiciar uma imagem ao texto.,
O mesmo comportamento pode violar vários direitos de personalidade e
várias coisas, em conjunto, podem violar um direito de personalidade.
Temos normas gerais e normas especiais. As normas especiais surgem no
mesmo âmbito das normas gerais, ou seja, se não existissem as normas es-
peciais, aplicavam-se as normas gerais. No entanto, se há uma norma espe-
cial para um determinada situação aplica-se essa norma.
Asdrúbal é um vocalista famoso, pelo que o surgimento da sua fotografia
no âmbito de uma famosa revista de música não é ilícito. A publicidade dos
músicos passa, exatamente, pelo aparecimento em revistas de música. A
notoriedade de Asdrubal justifica a publicação da fotografia.
Associando o número 1 do artigo 79 ao artigo 80 podemos falar nos casos
das pessoas que são conhecidas exatamente por serem as pessoas que são.
Nos termos do artigo 81 a pessoa pode retirar a qualquer momento a auto-
rização que deu.
A honra é construída a partir dos atos da pessoa. Falamos em honra subje-
tivo e honra objetiva. A honra tem que ver, numa perspetiva subjetiva, com
a autoestima da pessoa, ou seja, a forma como cada um se vê. Por sua vez,
a honra, na sua vertente objetiva, consiste na consideração social de que a
pessoa goza, algo muitíssimo importante.
A honra de cada pessoa depende das circunstâncias de vida de cada pes-
soa. Ofender uma pessoa com algo que é verdade é contraproducente. A
violação da honra existe na medida em que a pessoa se deixa afetar.
Excetio Veritatis – se eu divulgar um facto verdadeiro, não é verdadeira-
mente uma ofensa à honra de alguém. A excetiptio veritatis tem relevância
. No DC mesmo que esses factos sejam verdadeiros, não os podemos divul-
gar ao público porque estava a afetar negativamente a honra de asdrubal.
Portanto, AMC diz que a EV não ´re elevante para o DC mas há circunstân-
cia em que a divulgação de informações pode ser aceite e não ilícita.
A revista quer lucrar à custa da reputação de Asdrubal pelo que isso não
constitui um motivo razoável.
DIREITO À HONRA – art.70, n.º1 e art. 484 (indemnização)

2. Que pode Birmínio fazer na sequência da agressão de Asdrúbal?


Birminio, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica (suscetibili-
dade de ser titular de direitos e de estar adstrita a deveres e obrigações)
desde o momento do seu nascimento completo e com vida [artigo 66º/1
CC]. Portanto, Birminio é titular de direitos de personalidade (direitos ine-
rentes à sua qualidade enquanto pessoa), os quais constituem situações ju-
rídicas absolutas.
Um destes direitos é o direito à integridade física, o qual foi violado por
Asdrúbal através da agressão. Os direitos de personalidade são tutelados
de modo geral no artigo 70º C.C. Entramos no âmbito da responsabilidade
civil, e partindo da análise do artigo 483.º do C.C., percebe-se que violação
do direito à integridade física pode originar a obrigação de indemnizar o ti-
tular desse direito. Desta forma, Birminio tem o direito de exigir a Asdrúbal
uma indemnização pelos danos causados.
NOTA
Artigo 70, n.º2
Direito à honra de Birminio
Indemnização – Birminio fica psicologicamente afetado, pelo que possui
danos não patrimoniais
Art. 495
III
Carlos – responsável por um programa da rádio – encontrou Asdrúbal
num café e estabeleceu com ele uma longa conversa sobre música e sobre
a sua vida pessoal e familiar. A conversa foi gravada por Carlos, com re-
curso a um pequeno gravador de bolso, sem que Asdrúbal se tivesse aper-
cebido do facto.
Dias depois, a mesma conversa foi reproduzida no programa de rádio de
Carlos, “em rigoroso exclusivo” e com grande audiência.
(ligeiramente adaptado a partir de CARLOS LACERDA BARATA, Teoria geral
do Direito civil – Casos práticos, AAFDL, Lisboa, 2012, 4.ª ed., p. 83)
1. Admitindo que Asdrúbal não gostou da reprodução da conversa,
diga como poderá ele reagir.
Asdrúbal, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica (suscetibili-
dade de ser titular de direitos e de estar adstrita a deveres e obrigações)
desde o momento do seu nascimento completo e com vida [artigo 66º/1
CC]. Portanto, Asdrúbal é titular de direitos de personalidade (direitos ine-
rentes à sua qualidade enquanto pessoa), os quais constituem situações ju-
rídicas absolutas.
A reprodução da conversa por parte de Carlos é uma violação do direito à
reserva sobre a intimidade da vida privada de Asdrúbal, como demons-
trado nos termos do artigo 80 do C.C. Desta forma, de acordo com o nú-
mero 1 do artigo 483 do C.C, Asdrúbal tem o direito de exigir a Carlos uma
indemnização pelos danos causados.
NOTAS
Há problemas relativamente à voz e ao conteúdo
DIREITO À VOZ: Aplicar por analogia o artigo 79, n. º2 OU Artigo
Inteligência Artificial – artigo 79
DIREITO À RESERVA SOBRE A INTIMIDADE DA VIDA PRIVADA: Teoria das es-
feras é útil na compreensão do artigo 80/n2 e 81 ; Conteúdo – Reserva so-
bre a intimidade da vida privada; Recorrer á teoria das esferas, e dizer que,
como cionsta no art. 80/2, a extensão da reserva é definida conforme a na-
tureza do caso e a condição das pessoas. O Asdrúbal partilhou uma parte e
aspetos da sua vida privada ao Carlos que, á partida seria amigo dele. Se o
Carlos tivesse encontrado outro amigo que também era amigo de Asdrúbal
é legitimo que Carlos lhe conte os aspeto de Asdrúbal.
Podemos entender que a conversa é uma limitação tácita dos seus direi-
tos de personalidade visto que Asdrúbal contou livremente a Carlos os as-
petos da sua vida privada. Relativamente à informação sobre a sua vida pri-
vada, Asdrúbal limitou o seu direito. No entanto, uma pessoa que conversa
com um amigo sobre a sua vida privada limita o seu direito nesses termos,
pelo não se pode inferir que ocorreu uma autorização, por parte de
Asdrúbal, para Carlos divulgar a conversa na rádio. Na dúvida devemos pre-
sumir que a pessoa tentou sempre limitar ao máximo. Alguém que está a
conversar com o amigo, quão mais íntimos forem o detalhes da conversa
mais se espera que o respetivo amigo não conte nada a ninguém. Do ponto
de vista do que é normal. O facto de alguém partilhar uma informação ín-
tima com um amigo próximo, deve ser entendido por esse amigo, natural-
mente, com uma diretiva de que não pode contar essa informação a con-
textos desajustados.
2. Quid iuris se, em vez de reproduzir a conversa, a rádio tivesse pu-
blicado, no seu site, um artigo sobre Asdrúbal em que as informa-
ções recolhidas na conversa fossem utilizadas?
Asdrúbal, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica (suscetibili-
dade de ser titular de direitos e de estar adstrita a deveres e obrigações)
desde o momento do seu nascimento completo e com vida [artigo 66º/1
CC]. Portanto, Asdrúbal é titular de direitos de personalidade (direitos ine-
rentes à sua qualidade enquanto pessoa), os quais constituem situações ju-
rídicas absolutas.
A reprodução da conversa por parte de Carlos é uma violação do direito
à reserva sobre a intimidade da vida privada de Asdrúbal, como demons-
trado nos termos do artigo 80 do C.C. Desta forma, de acordo com o nú-
mero 1 do artigo 483 do C.C, Asdrúbal tem o direito de exigir a Carlos uma
indemnização pelos danos causados.

Asdrúbal, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica (suscetibili-


dade de ser titular de direitos e de estar adstrita a deveres e obrigações)
desde o momento do seu nascimento completo e com vida [artigo 66º/1
CC]. Portanto, Asdrúbal é titular de direitos de personalidade (direitos ine-
rentes à sua qualidade enquanto pessoa), os quais constituem situações ju-
rídicas absolutas.
No caso apresentado vemos efetuada uma violação dos direitos à palavra
e à reserva sobre a intimidade privada de Asdrúbal, por parte de Carlos.
Verifica-se que Carlos gravou, sem consentimento, a conversa que estabe-
leceu com Asdrúbal. Dada a inexistência de uma tipicidade dos direitos de
personalidade, pelo que se pode concluir que não existem apenas aqueles
que se encontram previstos pelo legislador, verifica-se que o “direito à pa-
lavra” se encontra consagrado no artigo 79, por analogia, visto que os valo-
res apontados em relação ao direito à imagem permitem autonomizar, em
bases semelhantes, o direito à palavra. Por outro lado, também se encon-
tra exposto no artigo 70, onde se consagra a tutela geral da personalidade.
Evidencia-se, através do [artigo 79º/1 CC] que ninguém pode ser retra-
tado sem o seu consentimento visto que toda as situações no âmbito dos
termos “exposição” e “reprodução”, mesmo a captura da própria imagem,
estão aqui pressupostas. Por analogia, pode-se fazer as mesmas conclusões
relativamente ao direito à palavra, pelo que a própria gravação constitui
uma violação aos direitos de personalidade de Asdrúbal. Esta violação en-
contra-se ainda consagrada no [artigo 199º/1 CP] onde se prevê o crime de
gravações ilícitas.
A utilização de gravações pode afrontar a privacidade, algo que se verifica
neste caso. Carlos redigiu um artigo sobre o lesado, onde existiam relatos
da sua vida pessoal e familiar, ou seja, da sua esfera privada, que, além do
mais, envolviam ainda relatos sobre terceiros.
Verifica-se que se o próprio indivíduo partilha voluntariamente informa-
ções que correspondem à esfera da sua vida íntima ou autoriza o conheci-
mento e divulgação de informações que integram a sua esfera da vida ín-
tima, não há qualquer violação deste direito, encontrando-se previsto no
art. 81.º do CC a possibilidade da sua limitação voluntária. No entanto, veri-
fica-se que o ato lesivo não pode nunca exceder o consentido, algo que se
verificou.
Desta forma, tendo se verificado violação destes dois direitos, entramos
no âmbito da responsabilidade civil tal como prevista no artigo 483 do CC,
pelo que é devida uma indemnização.
NÃO SE IMPÕE UMA QUESTÃO DE DIREITO À PALAVRA
Para haver direito civil/responsabilidade civil tem de existir dano, ou seja,
não existe indemnização para haver dano. Por exemplo, se A utilizar sem
consentimento o CC de B, sem prejudicar, no entanto, o mesmo, ou seja,
sem causar danos, verifica-se que A não está em situação de requisitar uma
indemnização.

Um direito é uma permissão normativa especifica de aproveitamento de


um bem, ao passo que uma liberdade é uma permissão normativa gené-
rica.
As liberdades existem na medida em que podem existir, ao passo que os di-
reitos existem sempre. As liberdades são como os princípios, ou seja, com-
primem-se. As liberdades param onde existem direitos.
Há pessoas que são conhecidas exatamente por serem quem são, ou seja,
“vendem-se a si próprias”, pelo que torna difícil a aplicação do artigo 80.
Big Brother – pessoas comuns que depois “comercializam” a sua personali-
dade.
IV
Admita que é aplicável o Direito português.
Nos EUA grupos de estudantes têm-se manifestado a favor da causa pales-
tiniana e, inclusivamente, a favor dos actos do Hamas de 7 de Outubro de
2023. Alguns através de associações académicas, escreveram cartas aber-
tas de apoio.
A 12 de Outubro, um veículo com pósteres contendo os nomes e as foto-
grafias de alguns desses estudantes circulou perto da Universidade de Har-
vard, apelando à não contratação desses alunos com fundamento nas opi-
niões que haviam expressado.
Em 19 de Outubro, a sociedade de advogados X escreveu a Daniela, uma
das estudantes que participou nas manifestações e assinou uma das cartas
de apoio ao Hamas, pondo fim a um processo de selecção como advogada
estagiária que se encontrava a decorrer (cfr. a notícia), informando-a de
que concluíra que os valores que o escritório defende e que espera que to-
dos os seus colaboradores e clientes partilhem são incompatíveis com os
de Daniela.
1. Pode a sociedade X não contratar Daniela com este fundamento?
Dois princípios particularmente relevantes no âmbito do Direito Civil são
o princípio da liberdade e o princípio da igualdade.
O princípio da igualdade, presente no artigo 13º da Constituição, impõe
aos poderes públicos um tratamento igual de todos os seres humanos pe-
rante a lei e uma proibição de discriminações infundadas, sem prejuízo de
impor diferenciações de tratamento entre pessoas, quando existam especi-
ficidades relevantes que careçam de proteção.
Percebe-se, portanto, que de acordo com o princípio da igualdade, a dis-
criminação perante Daniela devido às suas convicções políticas ou ideológi-
cas não se justifica e é ilícita.
Por outro lado, o princípio da autonomia privada enforma todo o Direito
Privado, com especial incidência no Direito das Obrigações, que aborda os
contratos. A generalidade das regras jurídicas estabelecidas tende assim a
assumir natureza supletiva, apenas se aplicando quando não forem afasta-
das pela vontade das partes.
A liberdade contratual encontra-se prevista no artigo 405º do Código Ci-
vil, abrangendo quer a possibilidade de celebrar ou não celebrar determi-
nado contrato, quer a possibilidade de fixação do conteúdo do contrato.
De acordo com o princípio da autonomia privada é, portanto, aceitável
que a sociedade X não aceite contratar Daniela.
No âmbito das relações privadas devemos procurar um equilíbrio entre li-
berdade e igualdade, pelo que dizer qual dos princípios prevalece depende
da análise casuística.
Verifica-se que o sistema jurídico aceita discriminações desde que sejam
fundamentas, deixando, portanto, de ser discriminações. Conclui-se ainda
que, do ponto de vista do Direito Civil, ninguém é obrigado a contratar
quem não quer, pelo que o princípio da autonomia privada prevalece.
Desta forma, é possível que a sociedade X não contrate Daniela com
base neste fundamento.

Discriminações – crp 9/d

CORREÇÃO
O Código Civil é infraconstitucional, logo tem-se de justificar por que ra-
zão a autonomia privada estaria acima da Igualdade visto que este se en-
contra consagrado na Constituição. A autonomia privada corresponde ao
exercício da capacidade civil, logo a autonomia privada encontra-se positi-
vada no artigo 26 da CRP.

Artigo 18 da CRP: Os preceitos constitucionais sobre os direitos, liberda-


des e garantias também se aplicam às entidades privadas.

Conjugando o artigo 13 com o artigo 18 conceber-se-ia que o princípio da


igualdade se aplicaria no caso e, por conseguinte, que Daniela não poderia
ser discriminada pela sociedade X.
Estes artigos não podem ser aplicados às relações privadas sem mais nem
menos. Isso é contra social.
MC afirma que quer os direitos fundamentais quer a autonomia privada
estão positivados a nível Constitucional. Temos de interpretar o princípio
da igualdade e tentar perceber se este pode aplicar tal como está na Cons-
tituição às relações privadas.
Temos de averiguar se aquilo que o legislador constitucional quis prote-
ger se reflete diretamente no caso concreto.
Os direitos fundamentais foram pensados para a situação entre o Estado
e os cidadãos mas mais ainda para relações em que existe uma grandes
desproporcionalidade de poderes entre partes. Nas relações de trabalho, o
empregador tem poder perante o empregado e, normalmente, têm um
grande desnível económico além de o empregado ser substituível. Esta é a
situação presente no artigo 18 da CRP onde se diz que os direitos devem
ser aplicados no âmbito das relações privados. Estamos, portanto, no
campo do artigo 18.
Por outro lado, quando falamos em decisões de casamento, por exemplo,
estamos no âmbito da autonomia privada. Pelo que não se podem aplicar
os artigos 13 e 18 da CRP mas sim o artigo 26.

DIREITO DE TRABALHO NÃO É APLICÁVEL VISTO QUE NÃO HÁ EXISTÊNCIA


DE CONTRATO

2. Aprecie o comportamento de Francisco, proprietário do veículo


que transportou os pósteres.
No âmbito da sua atuação, Francisco colocou em causa o direito à ima-
gem e o direito ao bom nome dos grupos de estudantes que se manifesta-
ram.
Os estudantes, enquanto pessoas, adquiriram personalidade jurídica (sus-
cetibilidade de ser titular de direitos e de estar adstrito a deveres e obriga-
ções) desde o momento do seu nascimento completo e com vida [artigo
66º/1 CC]. Portanto, são titulares de direitos de personalidade (direitos ine-
rentes à sua qualidade enquanto pessoa), os quais constituem situações ju-
rídicas absolutas. Três desses direitos são o direito à imagem e o direito ao
bom nome.
Evidencia-se, através do [artigo 79º CC], que consagra o direito à ima-
gem, que nenhuma pessoa pode ter o seu retrato exposto sem o consenti-
mento da mesma. Evidencia-se, portanto, aqui um dos atos ilícitos de Fran-
cisco que, de facto, sem o consentimento de Daniela e dos outros estudan-
tes, reproduziu os seus retratos em público.
Por outro lado, associada a esta violação do direito da imagem, está tam-
bém uma violação do direito ao bom nome. Verifica-se que, embora seja
verdade que Daniela e os outros estudante tenham participado nas mani-
festações e assinado a carta aberta, as fotos associadas aos comentários
depreciativos por parte de Francisco contribuem para a criação de uma
conceção negativa relativamente a estes alunos pelo que, nesse sentido, se
encontra uma violação do [artigo 70º/1 CC] que consagra a tutela geral dos
direitos civis e, por conseguinte, o direito ao bom nome.
Nesse sentido, entramos no âmbito da responsabilidade civil, consagrada
no [artigo 483º/1 CC], pelo que Francisco deve uma indemnização aos estu-
dantes.
CORREÇÃO
Francisco: individualizou as caras das pessoas na foto, investigou os nomes
das pessoas, e explicitou os mesmos, apelando a que ninguém os contra-
tasse
Direito á imagem: Se as imagens fossem da manifestação, aplicava-se no
âmbito do art.79º/2 CC, no entanto, se as imagens fossem tipo passe, teria
de se tentar perceber de onde Francisco retirou as fotografias – mesmo
que as pessoas tenham participado na manifestação, isso não lhes dá noto-
riedade o suficiente para terem a sua imagem no âmbito do conhecimento
público pelo que ocorre uma violação do seu direito à imagem.
Direito à honra: Embora a imagem e o comentário de Francisco prejudi-
quem a carreira dos estudantes,
Problema de base: Não estamos no caso em que existam 2 opiniões opos-
tas. A atitude que os jovens tomaram faz com que, no âmbito social, eles só
sejam encarados negativamente pelos pró-israelitas, por sua vez, serão en-
carados positivamente pelos pró-Hamas. Desta forma, não se pode dizer
que, obrigatoriamente, isto influenciou negativamente a honra dos mani-
festantes. As firmas de advogados podem ter quadros de valores que não
combinam com os valores dos estudantes.
Verifica-se uma situação de polarização e de falta de disponibilidade para
viver as consequências das suas opiniões. O Francisco, através da sua opi-
nião, levou até às últimas consequências as opiniões dos estudantes, acre-
ditando que as firmas de advogados partilhariam da sua opinião. No en-
tanto, isso não acontece visto que de certeza que existem firmas que não
concordam.
DIREITO AO NOME: O Francisco usou o nome para identificar a imagem á
pessoa, pelo que não o fez de forma ilícita, para outros fins que não a iden-
tificação.
V
Na noite do seu 77.º aniversário (1 de Abril de 2000), Asdrúbal saiu de casa,
para comprar cigarros, e não mais voltou, sem que alguém soubesse dele.
A sua mulher e o seu filho, Maria e Júlio, nada fizeram até meados de 2005,
altura em que requereram a declaração de morte presumida de Asdrúbal,
o que, por sentença transitada em julgado em Janeiro de 2006, veio a suce-
der, tendo o património de Asdrúbal sido repartido pelos requerentes.
O único imóvel existente foi atribuído a Maria, que, passados poucos me-
ses, o vendeu e casou com Manuel. A Júlio coube, nomeadamente, um au-
tomóvel quase novo, que, pouco tempo depois, ficou gravemente danifi-
cado, quando, por manifesta negligência, Júlio o fez embater num muro.
Em 2008 – depois de ter passado os últimos anos a viajar pelo Mundo –
Asdrúbal regressou, pretendendo retomar a vida de casado e recuperar to-
dos os seus bens.
Quid iuris?
(CARLOS LACERDA BARATA, Teoria geral do Direito civil – Casos prá-
ticos, AAFDL, Lisboa, 2012, 4.ª ed., p. 88)
Resolução
O caso em questão insere-se no âmbito do instituto da ausência cujos
pressupostos se encontram positivados no [artigo 89º/1 CC], sendo estes o
desaparecimento do sujeito, a necessidade de administrar os bens do au-
sente e a falta de representante legal ou procurador para esse efeito.
De facto, os pressupostos mencionados encontram-se verificados visto
que Asdrúbal se encontra desaparecido, sem dar notícias, há 5 anos à data
do requerimento da declaração de morte presumida, não deixando um res-
ponsável pela administração dos seus bens.
A declaração de morte presumida foi positivada nos termos do [artigo
114º/1 CC] ao evidenciar que se passaram cinco anos entre a data das últi-
mas notícias de Asdrúbal e a data do requerimento da declaração em ques-
tão, espaço de tempo este durante o qual Asdrúbal completou 80 anos, e
porque o conjugue não separado de Asdrúbal, Maria, e o herdeiro do
mesmo, Júlio, procederam ao requerimento da declaração de morte presu-
mida, como mencionado no [art.100º CC] ao qual o [artigo 114º/1 CC] re-
mete.
Evidencia-se, através do [art.115º CC] que a presunção da morte causa os
mesmos efeitos jurídicos que a morte, excetuando a dissolução do casa-
mento. Percebe-se, portanto, que ocorreu o termo da personalidade jurí-
dica de Asdrúbal como positivado no [art.68º/1 do CC] e se dá a abertura
da sucessão como consagrado no [art. 2024º CC e ss.].
Evidencia-se uma descrença da sobrevivência do ausente e, portanto, a
lei presume a sua morte e os seus bens serão entregues aos sucessores e
àqueles que a eles teriam direito por morte do ausente.
No que toca ao casamento entre Asdrúbal e Maria, percebe-se, recor-
rendo ao [art.116º CC] que é lícito que Maria contraia casamento com Ma-
nuel. Por outro lado, recorrendo ao [art.117ºCC] evidencia-se que a en-
trega dos bens ocorre de acordo com os dispostos no [art. 101º e ss.] não
havendo, porém, caução.
Em 2008, no entanto, Asdrúbal regressa, desejando retomar a vida de ca-
sado e todos os seus bens. De acordo com o [art.116 CC] isto não será pos-
sível visto que se considera que o casamento entre Maria e Asdrúbal foi
dissolvido por divórcio á data da declaração de morte presumida. No que
toca aos bens evidencia-se, de acordo com o [art. 119º/1 CC] que Asdrúbal
tem direito à devolução do seu património, no caso o carro, no estado em
que se encontrar e, também, aos bens adquiridos ou dinheiro com o di-
nheiro da casa.

O DIREITO CIVIL RECONHECE EFEITOS AO CASAMENTO CANÓNICO.

VI
Irene saiu do país em Julho de 2017 e a sua família não recebeu qualquer
notícia sua desde então. Em 2018 faleceu a mãe de Irene e em 2019 o seu
pai. Irene era filha única e não veio ao funeral dos pais nem foi contactada,
pois ninguém sabe onde está.
Os primos de Irene, Alfredo, Celeste e José, em conjunto com os pais de
Irene tinham herdado um apartamento em Sacavém, que está arrendado.
A renda é muito baixa e os proprietários, entre condomínio, seguro e algu-
mas obras que têm sido feitas, têm de entregar algum dinheiro. Os 3 pri-
mos têm colocado a parte de Irene também. Em Setembro de 2023 rece-
beram uma excelente proposta para vender o apartamento e querem
aproveitar. O que devem fazer?

Resolução:
Nos termos do [art. 99º CC] o prazo mínimo para requerer a curadoria
definitiva, sendo estes prazos relativos à data das últimas notícias do au-
sente, é 2 anos se o ausente não tiver deixado representante legal nem
procurador. Justificada a ausência, pelo Ministério Público como se verifica
através do [artigo 99º CC] ou algum dos
interessados consagrados no [artigo 100º CC].
Tendo este pressupostos em conta, verifica-se que os primos podem pro-
ceder ao requerimento da declaração da curadoria definitiva visto que
Irene se encontra desaparecida há 6 anos, não tendo dado notícias durante
esse tempo, sem ter deixado um responsável pela administração dos seus
bens. Os primos encaixam na categoria de "todos os que tiverem sobre os
bens do ausente direito dependente da condição da sua morte", expressa
no [artigo 100º CC].
Nesse sentido, dá-se a abertura do testamento como consagrada no [ar-
tigo 101º CC], segue-se os pressupostos aplicados nos [art.102ºCC] e no
{art.103.ºCC] relativos à entrega dos bens. Os curadores definitivos encon-
tram-se consagrados no [art.104ºCC] sendo que estes são os herdeiros e
demais interessados a quem tenham sido entregues os bens do ausente,
neste caso os primos. Evidencia-se que os direitos e obrigações dos curado-
res definitivos se encontram positivados no [art.110º CC] que remete ao
[art.94º CC].
No [art.94º/1 CC] evidencia-se que a curadoria segue o regime do man-
dato geral, contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou
mais atos jurídicos por conta da outra, como consagrado no [art.1157ºCC],
sendo que este mandato só compreende os atos de administração ordiná-
ria como consagrado no [art.1159º/1 CC]. Conclui-se, portanto, que os cu-
radores apenas podem praticar atos de administração ordinária, não po-
dendo, regra geral, dispor nem alienar os bens do ausente pelo que, à par-
tida, os primos de Irene não poderiam vender a casa.
No entanto, verifica-se que a alineação pode ocorrer no âmbito do
[art.94º/3 CC} mediante autorização judicial, reservada, inclusivamente,
para casos em que seja necessário solver dividas do ausente [art.94º/4 CC]
algo que se verifica visto que os primos têm pagado a parte das despesas
de Irene. Desta forma, é possível, para os primos, vender o apartamento.

No caso em questão, três primos, Celeste, Alfredo e José, que possuem


um apartamento herdado com a sua prima Irene, da qual não recebem
no cias desde que saiu do país em 2017, pretendem averiguar se podem
proceder á venda deste mesmo imóvel que, aliás, tem causado despesas.
A par r de uma pré compreensão do caso, tendo em conta a matéria de
facto, aparentemente conclui-se que os primeiros devem proceder ao re-
querimento da ausência em fase de curadoria defini va. Nesse sen do é
preciso, primeiro, verificar se os pressupostos da ausência em fase de cura-
doria defini va se encontram verificados, tal como estes surgem no ar go
99.ºCC.
Nos termos do ar go supracitado evidencia-se que os pressupostos para
se proceder á jus ficação da ausência no âmbito da curadoria defini va
são:
 Ausência qualificada: pressuposto verificado visto que Irene saiu de
Portugal e, desde então, a sua família não consegue contactá-la ou
obter no cias da mesma;
 Certo período de duração da ausência: pressuposto verificado visto
que Irene está ausente há 6 anos, contando a par r do momento em
que se deixou de saber da mesma, ou seja, a par r de Julho de 2017;
 Existência de bens carecidos de administração: pressuposto verifi-
cado visto que no seguimento da morte dos pais, Irene tornou-se
herdeira, em conjunto com os primos, de um imóvel.
 Falta de representante legal ou voluntário: pressuposto verificado
visto que não consta que Irene, antes de se ausentar, tenha conferido
a alguém poderes necessários para a administração dos seus bens.
Verificam-se assim preenchidos os prossupostos para o requerimento da
jus ficação da ausência.
Por outro lado, nos termos do ar go 100.º CC evidencia-se que a lei atri-
bui legi midade para instaurar essa ação a certos interessados, entre eles
os herdeiros do ausente. Através do ar go 2133.º/1d) CC constata-se que
os primos de Irene são seus herdeiros pelo que estes têm legi midade para
o fazer.
Como consagrado no ar go 103.º CC, são dados aos herdeiros, ou seja, os
primos Celeste, Alfredo e José os bens de Irene pelo que, de acordo com o
ar go 104.º CC, os três são curadores defini vos dos bens de Irene.
Os direitos e obrigações dos curadores defini vos surgem no âmbito do
ar go 94.º CC ao qual o ar go 110.º CC remete, e no qual se evidencia, no
n.º3, que apenas com autorização judicial os primos poderão alienar este
imóvel.
No entanto, evidencia-se, no n.º4 do ar go supracitado, que a autorização
judicial será concedida quando a alienação do imóvel se jus fique para sol-
ver dívidas do ausente, algo que verifica ao constatar que,

NOTAS
Curadoria Provisória – Em questões de legitimidade, os primos são clara-
mente interessados pois são coproprietários do imóvel.
Curadoria Definitiva – Em questões de legitimidade, os primos são herdei-
ros.
A diferença surge decorrente da intenção do interessado. Os primos que-
rem vender o imóvel para resolver o problema das dívidas, primordial-
mente, e ver se livre do mesmo, pelo que se podem aplicar os dois regimes.

ATOS DE ADMIMINSTRAÇÃO DE BENS - Afeta-se um determinado bem de


forma superficial, isto é, estamos apenas a realizar um ato que vai manter a
função daquele bem.
ATOS DE DISPOPSIÇÃO DE BENS - Transformação do bem ou da composi-
ção do património de uma forma significativa.

Se eu vender um vestido meu a alguém, estou a realizar um negócio de dis-


posição de bens. Por sua vez, se eu, enquanto proprietário de uma loja de
roupa, vender este mesmo vestido estou a realizar um negócio de adminis-
tração de bens.

Na curadoria provisória, o curador pode praticar atos de administração mas


não atos de disposição, para os quais precisa de autorização judicial, visto
que o património não é do curador mas sim do ausente.

VII
Raúl, filho de Pedro e Quitéria, nasceu em 10 de Março de 2005.
No Verão de 2020, Raúl doou um valioso anel à sua namorada Sara e
vendeu um computador ao seu vizinho Nuno, por um significativo valor, a
pagar no prazo de um mês.
Considere cada uma das sub-hipóteses seguintes com independência das
anteriores.
1.ª Hipótese: Sabendo da venda em Dezembro de 2020, Pedro, depois de
exigir, sem êxito, o pagamento do preço a Nuno, decide intentar uma ac-
ção com vista à invalidação do negócio. Quid iuris?
Raúl, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica, ou seja, a susceti-
bilidade de ser titular de direitos e de estar adstrito a deveres e obrigações,
desde o momento do seu nascimento completo e com vida [artigo 66º/1
CC]. Por outro lado, Raúl, enquanto menor [art.122º CC] embora detentor
de capacidade jurídica de gozo, carece de capacidade jurídica de exercício
dos seus direitos [art.123º CC]. A capacidade plena para exercer os seus di-
reitos e cumprir os seus deveres e obrigações só se obtém ao atingir a mai-
oridade, ou seja, ao completar 18 anos [art.122º CC].
A venda de um computador por parte de Raúl é um negócio jurídico anu-
lável, impróprio da vida corrente do jovem, visto que constitui um ato além
da sua capacidade natural, que implica a disposição de um bem de grande
valor e importância [art.127º/1 b) CC]. Um negócio jurídico anulável é um
negócio que, apesar do vício, é tratado como válido.
No entanto, a sua anulabilidade foi, aparentemente, sanada com a exigên-
cia do pagamento por parte de Pedro, o seu pai, a Nuno, o que representa
um consentimento negocial tácito [art.125/2 CC, art.217º/1 CC e 288º/3
CC].
Verifica-se, no entanto, que Nuno não realizou o pagamento devido a
Raúl, pelo que o contrato jurídico não foi completado e, por conseguinte, a
anulabilidade pode continuar a ser arguida [art.287º/2 CC]. Por outro lado,
a confirmação por parte de Nuno só se torna eficaz quando Raúl atingir a
maioridade, sendo esta a causa da anulabilidade do negócio jurídico
[art.288º/2].
Tendo, portanto, em conta que a venda do computador é um negócio jurí-
dico passível de ser anulado, Pedro pode intentar uma ação com vista á in-
validação do mesmo no prazo de 1 ano a contar do conhecimento do negó-
cio impugnado [art.125º/1 a) CC].

NOTA: Art.124.º CC
No DC quando alguém viole uma norma o seu ato é inválido, podendo a in-
validade ser de dois tipos: nulidade e anulabilidade. A nulidade é o vicio
mais gravoso, e é a regra geral.
A anulabilidade é diferente visto que existe a violação de uma norma que,
usualmente, se destina a proteger um interesse privado. Só essa pessoa
pode invocar a anulabilidade.
Todos os negócios estabelecidos por menores são inválidos exceto os esta-
belecidos no artigo 127.

No negócio entre Raúl e Nuno, Pedro confirma o mesmo ao exigir o paga-


mento a Nuno. É uma afirmação tácita de que se concorda com o contrato.
A confirmação é, no âmbito do art.288.ºCC, um ato jurídico unilateral, pra-
ticando pela pessoa que tem legitimidade para anular. Desta forma, Pedro
sana o negócio.
Ao confirmar, o Pedro está a prescindir da anulação do mesmo.

Art.1889.º/1 a) CC – O pai não pode representar o filho na alienação de um


bem sem autorização do tribunal.
Logo, a sua confirmação não tem valor jurídico.
Logo, o negócio é anulável.
Logo, o pai pode intentar uma ação com vista á invalidação do negócio.

A forma de suprimento da incapacidade dos menores


Substituição dos filhos pelos pais no âmbito jurídico – Representação
Autorização (colaboração) – Assistência – apenas ocorre no caso do casa-
mento.

Por exemplo, se uma menor for uma expert em computadores e for paga
para ir a uma loja e comprar um computador em representação de outrem,
verifica-se que, embora não tenha capacidade para efetuar esse negócio
para ela, pode agir enquanto procuradora de outrem. Como o dinheiro
gasto e património é da outra pessoa e não da menor, não se coloca a
questão da proteção do menor.
A menor está a agir como procuradora e não em nome próprio. É vulgar os
menores agirem enquanto procuradores dos pais: por exemplo, os pais ge-
ralmente pedem aos filhos para irem comprar pão, no entanto verifica-se
que o dinheiro gasto é dos pais e não dos menores.

AÇÕES PROPÕEM-SE
RECURSOS INTERMPÕEM-SE
2.ª Hipótese: Em Abril de 2022, Raúl, sem que os seus pais soubessem, ca-
sou com Teresa e, em Maio de 2022, pretende intentar uma acção com
vista à recuperação do anel que doara a Sara. Quid iuris?
Raúl, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica, ou seja, a susceti-
bilidade de ser titular de direitos e de estar adstrito a deveres e obrigações,
desde o momento do seu nascimento completo e com vida como consta
no [artigo 66º/1 CC]. Por outro lado, Raúl, enquanto menor, como consa-
grado no [art.122º CC], embora detentor de capacidade jurídica de gozo,
carece de capacidade jurídica de exercício dos seus direitos, como se veri-
fica no [art.123º CC]. A capacidade plena para exercer os seus direitos e
cumprir os seus deveres e obrigações só se obtém ao atingir a maioridade,
ou seja, ao completar 18 anos, como consagrado no [art.122º CC].
Verifica-se que, tendo já completado a idade núbil em abril de 2022,
como se verifica através do [art.1601º a) CC], Raúl se casou com Teresa,
permitindo a sua emancipação, como consagrada no [art.132º CC]. Veri-
fica-se que, para que a emancipação fosse plena, era necessário que os
pais de Raúl tivessem dado autorização para o casamento (artigo 1612.º,
n.º 1 do CC). Verifica-se, no entanto, que o casamento foi feito sem a auto-
rização dos pais de Raúl. Como também não se verifica a ocorrência de um
suprimento judicial por parte do conservador do registo civil, percebe-se
que Raúl não sofre os efeitos consagrados no [art.133º CC] mas sim os dis-
postos no [art.1649º], pelo que, desta forma, o menor não beneficia dos
efeitos da emancipação, nomeadamente da capacidade de gerir os seus
bens, pertencendo a responsabilidade da administração dos mesmos aos
seus pais.
Em maio de 2022, Raúl possui 17 anos e, embora casado, não é emanci-
pado pelo que, de acordo com o [art.125º/1b) CC], este pode requerer a
anulação do negócio jurídico contraído com Sara no prazo de 1 ano a con-
tar da sua maioridade, ou seja, até 10 de março de 2024.

Em rigor, o anel não pertence ao património de Raúl, no entanto, Raúl le-


vou para o casamento o direito de reaver esse anel (bem imaterial). Um di-
reito adormecido que pode exercer assim que atingir a maioridade. Outra
solução seria que os pais de Raúl administrassem essa ação.
3.ª Hipótese: Em Junho de 2022, Raúl morreu. Em Maio de 2023, Pedro e
Quitéria pretendem anular os negócios feitos pelo filho. Quid iuris?
Raúl, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica, ou seja, a susce-
bilidade de ser tular de direitos e de estar adstrito a deveres e obriga-
ções, desde o momento do seu nascimento completo e com vida [ar go
66º/1 CC]. Por outro lado, Raúl, enquanto menor [art.122º CC] embora de-
tentor de capacidade jurídica de gozo [art.67.º CC], carece de capacidade
jurídica de exercício dos seus direitos [art.123º CC]. A capacidade plena
para exercer os seus direitos e cumprir os seus deveres e obrigações só se
obtém ao a ngir a maioridade, ou seja, ao completar 18 anos [art.130º CC].
Os negócios jurídicos estabelecidos por Raúl, ou seja, a venda de um com-
putador e a casa de um anel, cons tuem negócios jurídicos anuláveis, não
se incluindo em nenhuma das exceções previstas no [art.127.º CC], sobre-
tudo por se tratarem de negócios impróprios da vida corrente do jovem de
15 anos, cons tuindo atos além da sua capacidade natural, que implicam a
disposição de bens de grande valor e importância [art.127º/1 b) CC].
Raúl faleceu com 17 anos e, nesse sen do, a sua personalidade jurídica
cessa [art.68.º/n. º1 CC]. Verifica-se que os pais de Raúl, ou seja, Pedro e
Quitéria são seus herdeiros [art.2133.º/1b) CC]. Evidencia-se que Pedro e
Quitéria, sendo herdeiros de Raúl, podem proceder ao requerimento da
anulação dos negócios jurídicos de Raúl no prazo de um ano a contar da
morte deste [art.125.º/n.º1 b) CC ], tendo em conta que o prazo para o pró-
prio menor a poder invocar ainda não nha expirado [art.125.º/n.º1 c) CC].
Ou seja, os pais de Raúl podem solicitar a anulação da venda do computa-
dor e da doação do anel até Junho de 2023. Verificando-se que Raúl e Qui-
téria solicitaram esta anulação em Maio de 2023, dentro do prazo es pu-
lado, conclui-se que os negócios efetuados por Raúl são anuláveis.
NOTA
Existe uma dúvida na doutrina sobre como devemos conjugar a alínea c)
com a alínea a) do ar go 125.º: o que é normal é que os herdeiros dos me-
nores sejam os seus pais/os tulares do poder paternal.
Estamos a submeter o terceiro duas vezes ao mesmo risco.
Na opinião da MRR – os pais adquirem duas vezes o direito de anular o ne-
gócio mas não o mesmo direito porque primeiro são tulares do poder pa-
ternal e, depois, são sucessores do filho, ou seja, trata-se de um direito pró-
prio.
PODER PATERNAL: rata-se de uma permissão mas que não é livre – os pais
educam os filhos como quiserem mas têm de educar – é o seu dever.
Ex: Raúl celebrou um contrato parvo, que é anulável (pensamento no inte-
resse do filho), no entanto os pais não anulam de forma a ensinar o filho.
Entretanto Raúl falece, e os pais entendem que já não vai exis r educação
do filho, pelo que vão recorrer á anulação do negócio (pensamento no seu
interesse). Se os pais, por ventura, vessem confirmado o negócio, o di-
reito dos herdeiros a anular o negócio ex nguia-se.
4.ª Hipótese: Nuno, que à data da compra era um jovem multimilionário,
de 15 anos, ao perfazer 18 anos pretende obter a anulação do contrato.
Quid iuris?

Resolução
Nuno, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica, ou seja, a susce-
bilidade de ser tular de direitos e de estar adstrito a deveres e obriga-
ções, desde o momento do seu nascimento completo e com vida [ar go
66º/1 CC]. Por outro lado, Nuno, enquanto menor [art.122º CC] embora de-
tentor de capacidade jurídica de gozo [art.67.º CC], carece de capacidade
jurídica de exercício dos seus direitos [art.123º CC]. A capacidade plena
para exercer os seus direitos e cumprir os seus deveres e obrigações só se
obtém ao a ngir a maioridade, ou seja, ao completar 18 anos [art.130º CC].
No caso em questão, evidencia-se que Raúl vendeu um computador de
significa vo valor a Nuno, sendo que, na altura em que o negócio foi esta-
belecido, ambos possuíam 15 anos, sendo, por isso, menores. Atualmente,
após a ngir a maioridade, Nuno visa a anulabilidade do negócio estabele-
cido.
O esquema delineado pela lei é fixado no art.125.º do Código Civil onde
se consagra que os atos de menores são passíveis de ser anulados. Eviden-
cia-se, portanto, que até aos dezoito anos as pessoas não possuem capaci-
dade negocial; a par r desta idade, possuem. É, no entanto, evidente, que
este esquema rígido não corresponde à realidade da vida. Adquire-se capa-
cidade natural conforme o processo de crescimento se vai efetuando e,
nesse sen do, surge o art.127.º do Código Civil onde se estabelece uma sé-
rie de exceções à incapacidade de exercício do menor.
Á data do negócio jurídico, o negócio efetuado por Nuno era um negócio
válido nos termos do art.127.º/n.º1 b) do Código Civil evidenciando-se a ve-
rificação de todos os pressupostos para tal: negócio jurídico da vida cor-
rente, ao alcance da capacidade natural do menor e que implique despesas
de pequena importância. De facto, é de constar que Nuno é um rapaz ori-
undo de uma realidade económica avultada, sendo um milionário, pelo
que, decerto, a compra do computador não terá causado prejuízos no seu
património; por outro lado, percebe-se que Nuno terá a maturidade neces-
sária para efetuar tal negócio, que consiste num negócio rela vamente ha-
bitual para um menor da sua idade.
Tendo isto em conta, evidencia-se que, para todos os efeitos, o negócio
de Nuno era válido, pelo que não é passível de ser anulado, no âmbito do
ar go 125.º CC.

NOTAS
A menoridade é um ins tuo que se des na a proteger pessoas com pouca
experiência de vida. Limita as pessoas de forma a apoiar e promover o cres-
cimento dos menores num ambiente seguro. Desta forma, os pais têm a
possibilidade de anular os negócios feitos por menores. Na dúvida quanto á
pequena importância deve-se recorrer á medida mais protetora. Se permi-
rmos que o menor con nue a fazer negócios de muito dinheiro, este pode
desgastar o seu património. Desta forma, deve-se tratar todos os menores
da mesma forma, de forma obje va e protetora.
Na alínea b) do art.127.º CC o legislador contrabalança a rigidez do re-
gime da menoridade no sen do em é lícito ao menor pra car certos negó-
cios. A capacidade natural do menor é algo que evolui entre os 0 e os 18
anos. É a alínea que permite adaptar a vida jurídica do menor á sua vida
corrente. A vida que leva não tem só a ver com a sua idade mas também
com o seu ambiente familiar e económico. Diz MC que o elemento sistemá-
co, restringido ao 127 b), vai nos dizer que na duvida se deve interpretar
certas par cularidades rela vas ao menor.
(ligeiramente adaptado de CARLOS LACERDA BARATA, Teoria geral
do Direito civil – Casos práticos, AAFDL, Lisboa, 2012, 4.ª ed., pp. 89-
90)

VIII
Fernando é solteiro, tem 25 anos e gasta compulsivamente todo o
dinheiro que ganha em jogos de azar. Os seus pais solicitam ao tribunal o
acompanhamento de Fernando, pedindo que a celebração de negócios de
jogo e aposta, bem como de negócios de alienação de bens de valor supe-
rior a 400€ seja sujeita a autorização do acompanhante.
1. Quid iuris?

No caso em questão, evidencia-se que Fernando pode beneficiar do re-


gime de acompanhamento, como surge consagrado no art.º138 CC, pois
apresenta um desvio comportamental: vício em jogos de azar .
Trata-se de uma situação em que o indivíduo tem uma compulsão para de-
terminado tipo de comportamento que coarta a sua liberdade e capacidade
de gerir, de forma plena, o seu capital.
Fernando é viciado em jogo, condicionando a gestão dos seus interesses
patrimoniais por causa dessa adição. O comportamento concreto repercute
na impossibilidade de exercer direitos e cumprir deveres, levando a que,
num domínio específico da vida, se faça sentir uma falta de autodetermina-
ção na sua pessoa.
As medidas de acompanhamento visam, nesse sentido, assegurar o bem-
estar e a recuperação do maior, garantir o pleno exercício dos seus direitos
e o cumprimento dos seus deveres, como se fixa nos termos do art.138.º do
Código Civil.
No que toca á legitimidade para requerer o acompanhamento, procura-se
salvaguardar a vontade do sujeito, de tal modo que, consoante prescreve o
art. 141º/1, CC, o acompanhamento de Fernando tem de ser requerido pelo
próprio maior carecido de proteção ou, mediante autorização deste, pelos
seus pais.
No que toca ao âmbito e conteúdo do acompanhamento, evidencia-se
que este se rege por um princípio de proporcionalidade, assente no mínimo
possível, como se consagra no art.145.º/n.º1 CC, sendo que o tribunal é livre
para, em função do caso apresentado, aplicar o regime que entender aplicar-
se melhor às necessidades do beneficiário, como se evidencia nos termos do
art.145.º/n.º2 CC.
O comportamento de Fernando, decorrente do uso imoderado dos jogos
de azar, é marcado pela prática reiterada de gastos avultados, injustificados
e desproporcionais aos rendimentos e património do inabilitado, levando a
uma delapidação do seu capital. Verifica-se uma certa incapacidade para ge-
rir, de forma plena, as suas finanças. Desta forma, verifica-se que o exami-
nando apresenta os condicionalismos comportamentais para que lhe seja
aplicado o estatuto de maior acompanhado, em regime de acometimento
ao acompanhante da autorização para efetuar negócios de jogos e apostas,
bem como negócios de alienação de bens de valor superior a 400€.
Desta forma, a possibilidade de agir autonomamente por parte do acom-
panhado fica, assim, dependente deste específico recorte que o juiz defina
para a medida adotada.
É ainda de acrescentar que o regime dos maiores acompanhados se rege
pelo princípio da necessidade que justifica, ademais, que o acompanha-
mento cesse quando cessarem as causas que o justificaram. Exige-se, igual-
mente, nos termos do art. 155.º, CC, que haja uma revisão periódica da situ-
ação de acompanhamento, sobretudo se tivermos em conta que o condici-
onalismo de Fernando não é permanente, sendo passível de recuperação.

NOTAS
Os pais têm de solicitar ao tribunal o suprimento da autorização dos pais.

LEGITIMIDADE PARA O REQUERIMENTO


MP – Investigação dos crimes e condução dos processos criminais; Advo-
gado do Estado; Defensor de desvalidos (menores, incapazes, trabalhadores
– pessoas frágeis do ponto de vista social).
Quando alguém precisa de ser acompanhado e já se sabe que o sujeito não
vai conceder a autorização, os pais, por exemplo, podem explicar a situação
ao MP e este promove o processo.
JOGO, ALCÓOL E DROGAS - PROBLEMAS
As pessoas entendem que está tudo bem e, por conseguinte, não querem
resolver o problema, visto que acham que o mesmo é apenas um “modo de
vida”.
INTERDIÇÃO – ANOMALIA PSÍQUICA QUE CONDUZISSE Á INCAPACIDADE DE
REGER A SUA PESSOA E O SEU PATRIMÓNIO
INABILITAÇÃO -
CONDIÇÃO PARA APLICAÇÃO DE MAIOR ACOMPANHADO
ART. 138.º - Leva a uma incapacidade de autodeterminação.
CONTEÚDO E ÂMBITO DO ACOMPANHAMENTO

REPRESENTAÇÃO VS ACOMPANHAMENTO
O acompanhamento é um regime para resolver problemas de exercício jurí-
dico. Quando o acompanhado mata alguém estamos no âmbito da respon-
sabilidade jurídica e não da capacidade jurídica.
A representação tem que ver com o exercício jurídico de forma que a pessoa
A pratica um ato jurídico que se refletem na esfera jurídica da pessoa B.

REGIME DE ACOMPANHAMENTO - SUPRIMENTO DE INCAPACIDADE DE


EXERCÍCIO
O ACOMPANHAMENTO SÓ EXISTE QUANDO O TRIBUNAL O DECRETA

ADEQUAÇÃO DAS MEDIDAS


Princípio da supletividade/necessidade – o tribunal deve estipular as regras
estritamente necessárias para as circunstâncias do beneficiário e princípio
de adequação

O essencial é impedir o jogo, no entanto, o impedimento do jogo é fácil de


fazer no que toca a casinos mas não em jogos de computador, etc. Desta
forma, a sentença não consegue controlar o comportamento e impedir o
rapaz de jogar. Desta forma, a medida da alienação é necessária no sentido
em que impede o rapaz de gastar todo o seu dinheiro no jogo, visto que
impedir o mesmo de jogar é relativamente idealista e pouco provável de ser
eficiente.

Se A tem a sua capacidade de gozo limitada, nem os seus pais podem exer-
cer os seus direitos por A. Se admitirmos que as medidas dos maiores acom-
panhados permitem a limitação da capacidade de gozo incorre-se numa vi-
olação do art.13.º da CRP (visto que as sentenças são concretas e especifi-
cas), ou seja, numa inconstitucionalidade.

2. Admitindo que o processo de acompanhamento está já a meio,


pode Fernando, enquanto o processo estiver pendente, celebrar
negócios de jogo e aposta?
Nos termos do art.154.º/ n.º1 b) CC evidencia-se que atos praticados
pelo maior acompanhado que não observem as medidas de acompanha-
mento decretadas ou a decretar são anuláveis quando praticados depois
de anunciado o início do processo, mas apenas após a decisão final e caso
se mostrem prejudiciais ao acompanhado.
Desta forma, conclui-se que a celebração de negócios de jogo e aposta
por parte de Fernando, tendo já sido anunciado o início do processo de
acompanhamento, é um ato passível de ser anulado visto que tal ato causa,
indiscutivelmente, prejuízos a Fernando (foi uma medida que o tribunal
proibiu). Como comentado, Fernando possui um vício em jogos de azar que
o faz gastar todo o seu dinheiro nos mesmos, pelo que a celebração de ne-
gócios deste tipo, quando desautorizada, pode contribuir, através dos gas-
tos avultados, para a delapidação do seu capital. É ainda de acrescentar
que a anulação destes negócios pode ser proposta aquando da sentença fi-
nal, no prazo de 1 ano a partir desta data, como se evidencia nos termos
do art. 154.º/n.º2 CC.

NOTA
Art.139.º/n.º2 –e se demonstrar a urgência da situação, o tribunal pode fi-
xar medidas urgentes e provisórias, de forma a atender á situação do bene-
ficiário
Art.154.º/b) “depois de anunciado”, ou seja, tem de existir publicidade do
processo, de forma que se saiba que Fernando usufrui deste regime. Se isto
não ocorrer não se pode aplicar este artigo.
Prejudicidade do negócio – O contrato de aposta é um negócio feito em
função da incerteza. A probabilidade de se ganhar é ínfima, no entanto, a
aposta é mesmo isso – gasto apenas 3€ mas posso ganhar milhares. Ocorre
o mesmo relativamente aos seguros. No caso de Fernando, não se pode
avaliar a prejudicidade da aposta se tivermos em conta que ele perdeu –
visto que isso é um pressuposto da aposta. Deve-se ter em conta, portanto,
outros critérios: o quanto ele apostou e as chances de ganhar.

3. Suponha que Fernando é declarado maior acompanhado, nos ter-


mos solicitados. Pode Fernando celebrar, como inquilino, um con-
trato de arrendamento de um apartamento com a renda mensal
de 500€?
Nos termos dos artigos 1022.º e 1023.º CC evidencia-se que o arrenda-
mento constitui a locação de um bem imóvel, ou seja, o contrato pelo qual
uma das partes se obriga a proporcionar á outra o gozo temporário de um
imóvel, mediante retribuição. Fernando surge como arrendatário que, para
usufruir do apartamento, deve pagar uma renda de 500€ ao senhorio.
Evidencia-se que uma das intervenções que consta no regime de maior
acompanhado de Fernando consiste no requerimento de uma autorização
para a efetivação de negócios de alienação de bens de valor superior a
400€. Entende-se que esta medida se refere, portanto, á cessão ou trans-
missão de bens ou direitos de propriedade com valores superior ao menci-
onado.
Tendo em conta que o arrendamento não envolve transmissão de direi-
tos, pode-se concluir que Fernando pode celebrar tal negócio.

NOTAS
Arrendamento pode ser considerado um negócio da vida corrente
Alienação – Dispor de bens que vão alterar o meu património
O dinheiro serve para ser trocado e, por conseguinte, comprar um café não
é um negócio de alienação, mas sim uma aquisição
IX
Gabriel sofre de uma doença mental que faz com que ele, apesar dos
seus 20 anos, tenha a maturidade de uma criança de 12 anos. Os seus pais,
ainda Gabriel tinha 17 anos, solicitaram e obtiveram a declaração de acom-
panhamento de Gabriel, ficando o pai, Hermínio, como acompanhante.
Atendendo à situação de Gabriel e ao seu património (muito vasto), o tri-
bunal decretou a representação geral e a administração total de bens pelo
acompanhante.
Dois anos depois, Hermínio arrenda por 10 anos um armazém de Ga-
briel a uma subsidiária da Google, com excelentes condições. Alguns dias
depois, Hermínio é surpreendido por uma carta de Ilda em que esta lhe co-
munica que casou com Gabriel e, por isso, irá solicitar ao tribunal a sua in-
vestidura, em lugar de Hermínio, como acompanhante de Gabriel.
1. Aprecie a validade dos negócios celebrado por Hermínio.
No caso em questão, evidencia-se que Gabriel pode beneficiar do regime
de acompanhamento, como surge consagrado no art.º138 CC, pois apre-
senta uma patologia mental grave que lhe confere uma maturidade própria
de uma criança de 12 anos, embora possua 20, o que implica limitações na
realização das atividades da sua vida diária, deixando-a totalmente depen-
dente de uma supervisão e cuidados permanentes na sua vida a cargo de
terceiros. Evidencia-se que lhe é impossível exercer de forma plena,
pessoal e consciente os seus direitos e, igualmente, de cumprir os seus de-
veres e obrigações.
Nesse sentido, procedeu-se ao requerimento de acompanhamento de
Gabriel, na altura menor, por anomalia psíquica, ao abrigo do art.º142 CC.
Desta forma, assim que Gabriel atingiu a maioridade, Hermínio, o seu pai,
foi consagrado seu acompanhante, sendo da sua responsabilidade a repre-
sentação geral e a administração total dos bens de Gabriel.
Gabriel é detentor de grande património e a par do acima consignado
pode-se concluir, igualmente, que o beneficiário terá dificuldades em ma-
nusear e gerir o mesmo devido aos seus condicionalismos clínicos. Perante
isto conclui-se que é premente alguém administrar os bens de que ele é ti-
tular, dado que ele não é capaz de o fazer.
A regra geral é de reconhecer a capacidade da pessoa humana para exer-
cer de forma livre os seus direitos pessoais (Art. 147.º n.º 2 do C.C.), sendo
as restrições ou limitações ao seu exercício a exceção, que sempre deverá
ser bem fundamentada.
Face à extensão da impossibilidade de Gabriel exercer os seus direitos e
cumprir os seus deveres, apenas a representação geral consegue suprir
essa falta. O poder de representação compreende o exercício de todos os
direitos e cumprimento de todas as obrigações da maior acompanhado.
Quanto aos direitos pessoais limita-se o direito pessoal de casar, testar, es-
colher profissão, fixar domicílio e residência (artigo 147.º, n.º 2, do Código
Civil) pois garantidamente o beneficiário não consegue devido a doença
exercer plena, pessoal e conscientemente esses direitos.
Evidencia-se, portanto, justificada a aplicação da medida de acompanha-
mento de representação geral, que seguirá o regime da tutela, como
consta no artigo 145.º/n.º 4 CC, com poderes de administração total de to-
dos os bens do maior acompanhado.
Consigna-se que os atos de disposição de bens imóveis que sejam da
propriedade do beneficiário carecem de autorização judicial prévia e espe-
cífica, como consta no artigo 145.º/n.º 3 CC, bem como para praticar os au-
tos mencionados no artigo 1938.º, do Código Civil (aplicado por força do
artigo 145.º, n.º 4, do mesmo diploma).
Evidencia-se, através, do art.1023.º CC, que o arrendamento consiste na
locação que versa sobre uma coisa imóvel, como um armazém. O artigo
1938.º CC remete para o artigo 1889.º/n. º1 do Código Civil, através do
qual se conclui que Hermínio não pode arrendar o armazém em questão
durante um prazo de 10 anos, sem autorização do tribunal, como se
verifica através da alínea m) do diploma mencionado. Ou seja, o negócio ju-
rídico realizado por Hermínio tem a sua validade dependente de autoriza-
ção do tribunal.

2. Aprecie a validade do casamento entre Gabriel e Ilda.


No caso em questão, evidencia-se que Gabriel beneficia de uma medida
de acompanhamento de representação geral, que segue o regime da tu-
tela, como consta no artigo 145.º/n.º 4 CC, com poderes de administração
total de todos os bens do maior acompanhado.
O poder de representação compreende o exercício de todos os direitos e
cumprimento de todas as obrigações do maior acompanhado. Quanto aos
direitos pessoais limita-se o direito pessoal de casar (artigo 147.º, n.º 2, do
Código Civil). Gabriel, devido a uma patologia mental grave que lhe confere
uma maturidade própria de uma criança de 12 anos, embora possua 20,
não tem capacidade de entendimento suficiente para, desde logo, escolher
um cônjuge, mas sobretudo para entender os direitos que para ele deriva-
riam do casamento bem como os deveres correspondentes, e capacidade
alguma teria de cumprir estes e de exigir a satisfação dos seus direitos.
Desta forma, conclui-se que Gabriel não consegue exercer plena, pessoal
e conscientemente esse direito.
Nos termos do art.1601.ª b) do Código Civil, evidencia-se que, quanto ao
casamento, o estatuto de maior acompanhado de Gabriel é determinado
como impedimento dirimente do casamento, levando á proibição absoluta
do casamento. A anomalia psíquica notória determina, pois, a invalidade do
casamento, como se entende através do art.1631.ºCC. E a notoriedade
para estes efeitos significa evidência, suscetibilidade de reconhecimento
comum algo que efetivamente se verifica relativamente a Gabriel.
3. Admitindo que o casamento é válido, pode Ilda solicitar a substi-
tuição de Hermínio como acompanhante?
Admitindo que o casamento entre Gabriel e Ilda é válido, de acordo com o
artigo 149.ºCC, evidencia-se que Ilda pode pedir a modificação do acompa-
nhamento e que o tribunal irá analisar as razões apresentadas para a subs-
tituição de acompanhante e decidir se estas a justificam, tendo como crité-
rio determinante a dignidade e o bem-estar do maior, como consta no ar-
tigo 140.º, n.º 1, do CC.
X
Analise os estatutos da Associação Amigos da Natureza e pronuncie-
se quanto às seguintes questões:
1. Xavier ingressou na associação há 2 meses e discorda totalmente da po-
lítica salarial da associação e do modo de progressão na carreira dos tra-
balhadores. Resolve recolher assinaturas e solicitar a convocação de uma
assembleia geral para discutir essas matérias. Recolhe a assinatura de 2
quintos dos associados e solicita a convocação. Passados 5 dias recebe
uma carta da Direcção a dizer que não irá convocar a assembleia por
aquele não ser um assunto susceptível de deliberação em assembleia ge-
ral. Quid iuris?

RESOLUÇÃO
As competências da Assembleia Geral da associação “Os amigos da natureza” surgem fixa-
das no âmbito do art.172.º/n.º1 do CC, onde se evidencia que apenas compete à assembleia
as deliberações que não são função do conselho fiscal e da direção. Desta forma, pode-se
concluir que se subtraem das mesmas, as competências fixadas no art.6.º/n.º2 do estatuto
enquanto responsabilidade da Direção: gerência social, administrativa e financeira da associ-
ação.
Evidencia-se, portanto, que, à partida, não é da responsabilidade da Assembleia Geral, mas
sim da Direção, a deliberação acerca da política salarial da associação e da progressão na
carreira dos trabalhadores da mesma, visto que se enquadra no âmbito da gestão social que
é parte da sua responsabilidade.
No entanto, de acordo com o estipulado no art.5.º/n.º2 do estatuto da associação “Os ami-
gos na Natureza”, a forma de funcionamento da assembleia geral surge fixada no art.173.º
do CC. De acordo com o art.173.º/n.º2, é possível realizar a convocação da assembleia, atra-
vés do requerimento de, pelo menos, 1/5 dos associados, se essa mesma convocação tiver
subjacente um fim legítimo. Tendo em conta a matéria de facto do caso, evidencia-se que
Xavier cumpriu o número mínimo de requerentes.
Por outro lado, surge a dúvida relativamente á legitimidade do assunto em causa. As ques-
tões que Xavier pretende discutir em âmbito de assembleia não fazem parte da competência
da mesma, pelo que se suscita se, de facto, o motivo é legítimo.
Evidencia-se, no entanto, que a assembleia deve ser sempre convocada sob pena de pôr em
crime a própria liberdade de associação. De acordo com o art.46.º CRP, as associações “pros-
seguem livremente os seus fins”, tendo, pois, o direito a gerir livremente a sua vida. Por outro
lado, também este artigo abrange a liberdade de auto-organização. Desta forma, é legítimo
que Xavier convoque uma assembleia para discutir estas questões.

NOTAS
OS ESTATUTOS TÊM PREFERÊNCIA RELATIVAMENTE AO CC.
Há situações em que as assembleias não possuem mesa, pelo que no dia da assembleia o que se costuma
fazer é eleger uma pessoa para presidir e outra para ser secretário.

Para efeitos do 173.º CC o fim pode ser tanto legítimo quanto ilegítimo. O fim é legitima na medida em
que a Assembleia da associação é o seu órgão principal, possui funções residuais e tem papel deliberativo.
A fronteira entre os poderes da Direção e da Assembleia é lata, na medida em que não existe um princípio
de separação de competências entre ambos.

Se por um lado se pode afirmar que a progressão de carreira e os salários aponta para uma questão de
gerência social, e, por conseguinte, para uma função própria da Gestão, defende-se que a Assembleia não
poderia deliberar acerca destes temas.
No entanto, não existindo um princípio de separação de poderes no âmbito do Código Civil, poder-se-ia
dizer que em rigor não havia sobreposição de competência porque o Xavier não quer que a Assembleia se
pronuncie relativamente a X trabalhador ou Y trabalhador, mas sim que adote uma filosofia trabalhista
diferente, ou seja, uma estratégia diferente relativamente aos contratos. Tenha-se, por outro lado, por
exemplo, que parte dos trabalhadores era particularmente poluente, Xavier pode afirmar e desejar que a
Associação tivesse uma ética que se estabelecesse em todas as esferas de atuação da Associação.

O Conselho Fiscal fiscaliza os atos dos restantes órgãos, ou seja, garante a legalidade da atuação da ad-
ministração. Entende-se que por vezes um dos titulares/membros do Conselho Fiscal é um terceiro (con-
tabilista, por exemplo) permitindo uma perspetiva imparcial e inteirada perante a atuação dos órgãos da
Associação.

2. Suponha que Daniela precisa de dinheiro. Como é ela quem faz os paga-
mentos aos trabalhadores, todos os meses paga menos 10 euros a cada
um, dizendo que se trata de uma medida destinada a criar um fundo co-
mum para apoio a situações de desemprego. Daniela fica com esse di-
nheiro para si. Seis meses depois desta prática se encontrar instituída,
Zulmira, recepcionista, morre e os seus herdeiros tomam conhecimento
dos “descontos” e pretendem propor uma acção para recuperar esse di-
nheiro.

2.1. Contra quem deve a acção ser proposta?

RESOLUÇÃO
Através de uma pré-compreensão do caso, analisando a matéria de facto, evidencia-
se que a questão que importa apreciar consiste em saber se a imputação da responsabi-
lidade civil se deve dirigir a Daniela ou á associação em causa.
A conduta apurada pode, desde logo, submeter-se ao disposto no artigo 500.º do C.
Civil, por remissão do art.165.º CC.
O facto danoso resultou da conduta dolosa de Daniela que, aproveitando-se da sua fun-
ção, extorquiu dinheiro aos trabalhadores. Então a responsabilidade surge por força da
aparência social que, insiste-se, cria uma convicção de confiança do lesado na licitude da
conduta do agente, não obstante tratar-se de ato doloso em proveito pessoal.
Em face do exposto, resulta a responsabilidade da Associação, nos termos dos artigos
165.º e 500.º, nos 1 e 2 do C. Civil, sendo que a associação é, portanto, obrigada a pagar
uma indemnização. Nos termos do art.500.º, n.º3 do CC, evidencia-se que por exigir de
Daniela um reembolso.

PERSONALIDADE JURÍDICA = PATRIMÓNIO AUTÓNOMO


As sociedades civis não têm autonomia patrimonial perfeita.
Por sua vez, as associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais não têm
autonomia patrimonial.

Trata-se de uma associação que fez um contrato de trabalho com a Zulmira. Todos os
meses, a Zulmira era credora do seu salário, ao passo que a Associação era devedora
desse salário. Dessa forma, nos termos do art.798,º CC, a ação deve ser proposta contra
a Associação.

O sistema jurídico civil tem o domínio contratual e o domínio extracontratual.


As PC não têm no seu objeto praticar atos ilícitos, na medida em que a Daniela, em vez
de subtrair dinheiro dos salários, traficava droga e esconde-a na estrutura da Associação,
a responsável é a Daniela. A Daniela não está a agir enquanto representante da associa-
ção.
Há casos em que o representante da pessoa coletiva atuou ilicitamente, mas ao serviço
da pessoa coletiva.
No âmbito dos contratos é apenas necessário referir o art. 798.ºCC.
PMC -------------- art. 165.º - Representantes voluntários – procuradores e não aos
membros da administração, pelo que se a Daniela cometesse um ato ilícito, respondia
individualmente no âmbito do art. 483.º CC.

2.2. Suponha que Xavier pretende reagir a esta “escandaleira”. O que o


aconselharia a fazer?
NOTA
O objetivo do Xavier pode passar por investigar, sendo que, nesse caso, a
Assembleia é diferente. Por outro lado, Xavier pode ainda ter o objetivo de
demitir a Daniela (por má-fé e aproveitamento indevido da sua posição).
MEDIDAS
 Deve destituir Daniela – administradora que rouba – resolve o pro-
blema para o futuro – convocação de uma assembleia para atingir tal
fim – art.172.º, n.º2 CC;
 A associação deveria recuperar o dinheiro que Daniela ganhou – deve-
se responsabilizar a Daniela – não se aplicam o 483.º CC nem o 165.º-
500.º CC (a maneira de a associação ser responsabilizada perante a
Zulmira é a obrigacional, e esta dupla faz parte da obrigação extra-
obrigacional, pelo que não é aplicável – a Zulmira tinham contrato
com a Associação e aquilo que aconteceu foi uma violação do con-
trato, causando danos à Associação).

A Daniela violou o contrato de Mandato com a Associação pelo que deve


indemnizá-la – aplicação dos art.164.º e art.798.º CC (ao aplicar este artigo,
responsabiliza-se a Daniela pela violação do contrato do mandato que, por
outro lado, causou danos na reputação e bom nome da Associação por parte
de Daniela, pelo que também ocorre violação do bom nome nos termos do
art.484.º CC).
Possibilidade de praticar atos cujos efeitos jurídicos se repercutem na esfera
jurídica de outrem – REPRESENTAÇÃO
Instrumento que confere poderes de representação – PROCURAÇÃO
Praticar atos para outrem que, no entanto, podem, ou não, envolver repre-
sentação – MANDATO
A relação entre os titulares da associação e a associação é o mandato –
art.164.º CC – art. 1161.º CC.
Uma pessoa se obriga no interesse e por conta de outrem – quando alguém
é encarregada de fazer algum ato jurídico para outra pessoa
Se eu me obrigar a fazer um jantar – Empreitada
Se eu obrigar a fazer um contrato por minha conta – Mandato.

XI
António, estrela rock, começa a namorar com Benedita. Nesse dia,
pretendendo que o fio de ouro que usa ao pescoço fosse lembrete dessa sua
paixão, mandou gravar no fecho (composto de um elemento circular enca-
deado numa das extremidades do fio e uma terminação encadeada na outra
extremidade – cfr. imagem) “Amo-te, Benedita. António”. Aquando da co-
memoração do 1.º mês de namoro, António oferece a Benedita esse fio de-
pois de ter enrolado e atado ao fecho uma madeixa do seu cabelo como
forma de, simbolicamente, sempre acompanhar Benedita. Fio e madeixa fo-
ram, com igual deleite, recebidos pela sua namorada.
Passados 2 meses, Benedita morre. Os herdeiros de Benedita, encon-
trando o presente de António no seu espólio, organizam um leilão para
venda do fio, descrevendo-o como “o fio usado pelo rocker António”.
O preço do fio chega aos 25.000 € – oferecidos por Carlos, grande
amigo de António e de Benedita (e conhecedor do dito fio). Ao receber o fio,
Carlos verifica que este lhe é entregue sem o fecho e sem a madeixa. E exige-
os. Dizendo que o fecho é parte integrante do fio e que a madeixa é parte
integrante do fecho. Os herdeiros recusam a entrega, sustentando que o fe-
cho é mera coisa acessória do fio, e que a madeixa não é coisa para o Direito.
Quid iuris?
RESOLUÇÃO
PARA SABER SE ALGO É UMA PARTE COMPORNENTE OU PARTE INTEGRANTE DEVE-SE
PARTIR DO CONCEITO DE COISA.
As partes integrantes acrescentam valor á coisa, no entanto, não é isso que a distingue
da parte componente: um colar sem fecho não consegue ser usado, pelo que o fecho é
uma parte componente – faz parte do colar. Por sua vez, no caso da madeixa, falamos
em duas coisas diferentes – madeixa e colar – não há nem uma ligação funcional nem
material entre as duas coisas. Quando se suscita a necessidade de proceder a definições
evidencia-se que se tem de averiguar se estamos perante várias coisas: universalidade de
facto, partes integrantes, partes coletivas, partes componentes, etc.

Dessa forma, o fecho faz parte do negócio na medida em que é parte componente do fio,
ao passo que a madeixa não faz.

INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO – Não temos matéria de facto suficiente para concluir que
partia da

NOTAS
Ter atenção às definições das coisas e à fundamentação/argumentação e aos regimes
jurídicos.
EXPETATIVA DO CARLOS – NÃO RECEBOU O QUE ESPERAVA – FEIXO E MADEIXA – PARTES
INTEGRANTES DO COLAR –

O fecho caracteriza-se como sendo uma parte integrante visto que sem o mesmo o fio
perde a sua finalidade primeira – se existir a falta do fecho, o fio perde a sua finalidade.
 PARTE COMPONENTE/CONSTITUTIVA – algo que constitui a coisa como ela é em
termos essenciais (as pernas da mesa, por exemplo, visto que, sem elas, a mesa
cai);
 PARTE INTEGRANTE – algo que neste momento não é uma coisa visto que está
ligada materialmente a outra coisa, mas que pode voltar a ser coisa se separada
da coisa principal – tenha-se o exemplo do quadro, preso na parede de um edifí-
cio. Não tem de ser útil e não tem de ser imprescindível. Ligação material a uma
coisa sem que a parte integrante não seja uma parte componente da coisa prin-
cipal.
 COISA ACESSÓRIA: Coisas que têm autonomia, mas estão ao serviço da coisa prin-
cipal – tenha-se o exemplo da bolsinha dos óculos, que está ao serviço dos óculos,
na medida em que os protege. Trata-se de um conceito funcional.
210.º, n.º2 CA = Não seguem o regime da coisa principal quando haja um negócio jurídica
que afete a coisa principal. As coisas acessórias são muitas diversas e muitas delas são
necessárias para o funcionamento da coisa principal. Tenha-se o exemplo da caneta e da
tampa, dos sapatos e dos atacadores e da porta e da chave. Dessa forma, há certas coisas
que necessitam da coisa acessória para funcionar, pelo que, se aplicarmos o regime do
202.º CC, sem atender a este facto, surgem problemas – não faz sentido a venda de sa-
patos sem atacadores!
As coisas acessórias lato sensu são pertenças (art.210.º, n.º1 CC) e coisas acessórias
strictu senso (art.210.º, n.º2 CC).
MC entende que esta classificação não é correta porque no art.210.º, n.º1 CC, coisas
acessórias = pertenças. Dessa forma, o mesmo
Desta forma não se tem de aplicar apenas o art.210.º CC mas várias outras normas jurí-
dicas. Tenha-se o exemplo do costume. Uma pessoa quando compra sapatos, espera os
atacadores. Dessa forma, o homem médio exigiria os atacadores visto que a função dos
sapatos é não caírem dos pés e, dessa forma, precisa dos atacadores. Por outro lado, as
regras de defesa do consumidor também ajudam!
O conceito de parte integrante deve ser interpretado não exatamente como o art. 203.º,
aceitando que existam coisas integrantes que não estão ligadas material à coisa principal.
Tenha-se o exemplo das canetas - as canetas têm uma nervura que permite que as cane-
tas se mantenham presas à tampa. Desta forma, embora não exista uma ligação perma-
nente entre a porta e a chave, esta possuem uma ligação material.
É necessário analisar os negócios mediante uma perspetiva cultural e social!

Há 50 anos, a casa tinha de ter eletricidade e água e, atualmente, tem tam-


bém de ter telecomunicações. Os componentes da coisa dependem da con-
cetualização que temos da coisa, sendo que esta concetualização também
pode ser subjetiva, dependendo dos negócios que vamos fazer.

204.º, n.º 3 – as partes móveis também podem ter partes integrantes - 210.º
CC –

XII
António tem 61 anos e padece de uma doença degenerativa. Como é uma
pessoa muito organizada, celebra um contrato com Bento, pelo qual atribui
poderes ao seu amigo para que este, em nome de António, administre o seu
património, venda os bens que Bento considere necessário para acorrer às
necessidades de António, incluindo bens imóveis, e tome todas as decisões
que vierem a ser necessárias quanto à saúde de António – incluindo a deci-
são de submeter António a operações cirúrgicas, a tratamentos inovadores
ou arriscados, a transfusões de sangue, a internamentos em hospitais ou em
casas de repouso, etc. Bento, por seu turno, obriga-se a exercer os poderes
que lhe foram conferidos. No contrato fixa-se a remuneração de Bento em
4.500€ anuais, a pagar em Dezembro de cada um dos anos em que Bento
tenha de exercer os poderes conferidos. Atendendo ao parecer de César,
neurologista de António, António irá precisar de apoio dali a cerca de 18 me-
ses. Por segurança, no contrato celebrado, estabeleceu-se que os poderes
eram conferidos a partir do dia do 62.º aniversário de António, isto é, a 14
de Dezembro de 2018.
1. No dia 29 de Dezembro de 2017, Bento foi a Viseu, onde se situa um
dos imóveis de António. Verificando que o imóvel estava vazio, resol-
ver invocar os poderes representativos conferidos por António e ar-
rendar o imóvel, por uma excelente renda. Ao saber do sucedido, An-
tónio não quer aceitar o contrato porque estava a negociar a venda
do imóvel devoluto. O inquilino, porém, pretende manter-se no imó-
vel ou que Bento lhe arranje outro. Quid iuris?
Resolução
As procurações são negócios unilaterais, que a pessoa faz consigo própria,
atribuindo a terceiro poderes de representação. Nessa medida, mesmo que
o terceiro não queira a titularidade desses poderes, ele pode simplesmente
não os exercer.
Dessa forma, entre A e B existe um negócio em que o procurador se obriga
a concluir atos em nome do principal – chama-se mandato – art.1157.º CC –
que podem ser:
 Com representação - tem que ter um mandato;
 Sem representação.
O mandato com vista ao acompanhamento é algo que responsabiliza bas-
tante o procurador/mandatário – pelo que neste caso quer o mandante quer
o mandatário devem ter ambos o objetivo e fim de assinar um mandato que
se destine a aplicar em situação de fragilidade do mandante.
Olhando para o conteúdo do contrato, não há dúvidas que aquelas duas pes-
soas quiseram evitar uma situação de fragilidade.
Este mandato produzia efeito a partir de 14/12/2018 – o mandatário come-
çou a exerceu os poderes antes dessa data – Bento não possui poderes de
representação nessa altura, pelo que não podia celebrar contratos em nome
de António – art.268.º CC – o negócio que é celebrado por alguém que não
possui poderes de representação é ineficaz -

2. Em Dezembro de 2020, Bento considerou conveniente submeter An-


tónio a um tratamento no estrangeiro e colocou à venda um valioso
imóvel de António. Débora, filha única de António, não concorda com
as opções de Bento nem com a venda do imóvel. Débora é de opinião
que um estranho não pode tomar decisões que, numa situação nor-
mal, teriam de ser autorizadas pelo tribunal, nem aceita que Bento
receba 4.500€ por ano. Como o seu pai já não consegue tomar deci-
sões por si próprio, Débora requer o acompanhamento de António e
a sua nomeação como acompanhante. Bento opõe-se, afirmando que
não é necessário qualquer acompanhamento devido ao contrato ce-
lebrado e que, em qualquer caso, ele é a pessoa mais indicada para
acompanhante. Pronunciando-se, designadamente, sobre os argu-
mentos de Bento e de Débora, diga a qual dos dois deve o tribunal dar
razão.
O mandato com vista ao acompanhamento pode ser um forma de pessoas
pouco escrupulosas se aproveitarem de pessoas frágeis pelo que deve ser
admitido mas com muitas cautelas.
Há sistemas em que o mandato, para ser válido, tem de ser chancelado pelo
tribunal, ou seja, este tem de analisar o mandato e constatar que ninguém
se está a aproveitar do mandante.
Por outro lado, em Portugal isto não se verifica – o único regime que temos
para o mandato com vista ao acompanhamento é o art.156.º e alguns artigos
especiais no âmbito do regime do mandato. Para saber se a filha pode soli-
citar
A filha não tem legitimidade para requerer o acompanhamento, pelo que
teria de pedir autorização ao tribunal – decisão fácil pelo tribunal, se não
existisse mandato, visto que o pai não está em condições de titular os seus
direitos e deveres autonomamente.
Por outro lado, o facto de existir mandato suscitam-se dificuldades. No âm-
bito do art.140.º, n.º2 CC – deveres gerais de proteção existem no âmbito
da família, no entanto, estes deveres não resolvem todos os problemas.
É possível que uma neta ajude uma avó debilitada, do ponto de vista mate-
rial, para ir às compras, ou ao banco. No entanto, neste caso é a própria
senhora que exerce os direitos e deveres (movimentos nas contas, por
exemplo). Se a senhora não puder exercer os seus direitos e deveres é ne-
cessário o acompanhamento na medida em que este supre capacidades ju-
rídicas e os deveres gerais de cooperação não servem.
Por um lado, no caso sub judice poder-se-ia dizer, nos termos do art.140.º,
n.º2 CC, que o problema já estava resolvido. Por outro, entenda-se que, em-
bora atualmente António não esteja bem, anteriormente, enquanto ainda
estava, precaveu-se no sentido de, no futuro, não ter de beneficiar do acom-
panhamento- art.156.º CC. Desta forma, só se pode prescindir do mandato,
que foi destinado para o exercício dos atos A, B e C, se se verificar a necessi-
dade do exercício dos atos D, E e F. Nesse sentido, suscita-se a possibilidade
de recorrer ao acompanhamento. Ou seja, só se decreta o acompanha-
mento se o mandato for insuficiente.
Se o acompanhamento for decretado, este pode ser conjugado com o man-
dato – art.156.º CC. Conjugar pode significar a nomeação do Bento enquanto
acompanhamento, ou não, podendo existir um mandatário e um acompa-
nhamento, na medida em que se controlam um ao outro, possuindo funções
diferentes.
Se, eventualmente, se decretasse o acompanhamento, Bento poderia ser
escolhido, algo particularmente provável na medida em que ele foi desig-
nado enquanto mandatário por António.
Será que o mandato deve estar sujeito às mesmas regras do acompanha-
mento? O António, quando celebrou o mandato, ele podia ter agido como
quisesse na medida em que estava perfeitamente bem. As limitações do re-
gime do acompanhamento dizem respeito ao momento em que a pessoa já
não está bem e quem toma as decisões é o tribunal. No entanto, no man-
dato, o mandante escolheu o mandatário, uma pessoa da sua confiança, e
deu-lhe os poderes que entendeu. Por sua vez, é diferente para um juíz que
vai decidir relativamente a pessoas que não conhece: dessa forma, é natural
que o regime do acompanhante seja mais restritivo que o regime do man-
datário. Se Bento for designado acompanhante, revogando o mandato,
surgem limitações próprias deste regime. Por sua vez, se Bento simples-
mente se manter enquanto mandatário, não está sujeito aos limites próprios
do regime do acompanhamento.
XIII
Eduardo tem 15 anos e joga xadrez desde os 7 anos. Eduardo e os seus
amigos Fernando, de 16 anos, Guilherme, de 18, e Helena, de 18 anos, deci-
dem constituir um clube, de modo a poderem participar em torneios oficiais.
Como a mãe de Guilherme é advogada, ela encarrega-se de marcar a escri-
tura e duas semanas depois nasce o Clube X Xadrez, formado pelos 4 amigos
e dedicado à promoção do xadrez e à participação em competições dessa
área. O CXX é um sucesso e dois meses depois já conta com 300 associados,
pagando cada um uma quota anual de 15€.
Eduardo, Guilherme e Helena são os membros do conselho de administra-
ção e contratam Iordanov para proferir uma palestra. Infelizmente, com a
pandemia, houve poucas inscrições e o CXX não tem o dinheiro necessário
para pagar os 2.000€ combinados com Iordanov. A quota de cada associado
é necessária para as despesas correntes, pelo que, sem as inscrições na pa-
lestra (20€ cada), o CXX não consegue pagar a Iordanov.
1. Pronuncie-se sobre a capacidade de exercício de Eduardo para cele-
brar o contrato de constituição do CXX.
2. Pode Iordanov exigir o pagamento dos 2.000€ de Eduardo, Guilherme
e Helena?

XIV
Distinga direitos de personalidade de direitos fundamentais e comente:
“A capacidade de gozo das pessoas colectivas não inclui a titularidade de
direitos de personalidade”.

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