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O Diogo É Chato.2.0 .PT
O Diogo É Chato.2.0 .PT
NOTAS:
Tradicionalmente, considera-se o nacimento completo quando se faz
o corte do cordão umbilical. De acordo com o legislador do art.66, a separa-
ção da mãe e a consequente divisão em dois seres (visto que quando ainda
não nasceu, o bebé respira e come através da mãe, ao passo que quando
nasce começa a fazer estas duas coisas autonomamente) representa o nas-
cimento. Nós tínhamos antes 1 pessoa e, após o nascimento, tínhamos 2
pessoas.
Para o direito português, não é necessário que o ser humano nasça
com hipóteses de sobrevivência. Juridicamente, uma pessoa que nasça com
vida possui personalidade jurídica.
GÉMEOS SIAMESES
Se o bebé morrer durante o parto (antes de se cortar o cordão umbi-
lical) não adquire personalidade jurídica.
II
Asdrúbal é o vocalista de um popular grupo musical e foi contactado por
uma revista de música. Mediante o pagamento de uma quantia em di-
nheiro, Asdrúbal consentiu que a revista, dirigida por Birmínio, utilizasse
uma fotografia sua, na capa do número do mês seguinte.
Poucos dias depois, Asdrúbal arrependeu-se e contactou a revista, proi-
bindo a divulgação da fotografia. A direção da revista, porém, ignorou esse
contacto e procedeu à publicação. No interior da revista surgiu, ainda, um
texto sobre Asdrúbal, que incluía relatos sobre os antecedentes criminais
do cantor que a revista obtivera através de uma certidão do registo crimi-
nal com cerca de dois anos, altura em que Asdrúbal concorrera a um traba-
lho na revista e entregara a certidão com o seu curriculum.
Furioso, Asdrúbal deslocou-se às instalações da revista e agrediu o seu di-
rector, causando-lhe diversas fracturas.
(adaptado a partir de CARLOS LACERDA BARATA, Teoria geral do Direito ci-
vil – Casos práticos, AAFDL, Lisboa, 2012, 4.ª ed., p. 84)
CORREÇÃO
O Código Civil é infraconstitucional, logo tem-se de justificar por que ra-
zão a autonomia privada estaria acima da Igualdade visto que este se en-
contra consagrado na Constituição. A autonomia privada corresponde ao
exercício da capacidade civil, logo a autonomia privada encontra-se positi-
vada no artigo 26 da CRP.
VI
Irene saiu do país em Julho de 2017 e a sua família não recebeu qualquer
notícia sua desde então. Em 2018 faleceu a mãe de Irene e em 2019 o seu
pai. Irene era filha única e não veio ao funeral dos pais nem foi contactada,
pois ninguém sabe onde está.
Os primos de Irene, Alfredo, Celeste e José, em conjunto com os pais de
Irene tinham herdado um apartamento em Sacavém, que está arrendado.
A renda é muito baixa e os proprietários, entre condomínio, seguro e algu-
mas obras que têm sido feitas, têm de entregar algum dinheiro. Os 3 pri-
mos têm colocado a parte de Irene também. Em Setembro de 2023 rece-
beram uma excelente proposta para vender o apartamento e querem
aproveitar. O que devem fazer?
Resolução:
Nos termos do [art. 99º CC] o prazo mínimo para requerer a curadoria
definitiva, sendo estes prazos relativos à data das últimas notícias do au-
sente, é 2 anos se o ausente não tiver deixado representante legal nem
procurador. Justificada a ausência, pelo Ministério Público como se verifica
através do [artigo 99º CC] ou algum dos
interessados consagrados no [artigo 100º CC].
Tendo este pressupostos em conta, verifica-se que os primos podem pro-
ceder ao requerimento da declaração da curadoria definitiva visto que
Irene se encontra desaparecida há 6 anos, não tendo dado notícias durante
esse tempo, sem ter deixado um responsável pela administração dos seus
bens. Os primos encaixam na categoria de "todos os que tiverem sobre os
bens do ausente direito dependente da condição da sua morte", expressa
no [artigo 100º CC].
Nesse sentido, dá-se a abertura do testamento como consagrada no [ar-
tigo 101º CC], segue-se os pressupostos aplicados nos [art.102ºCC] e no
{art.103.ºCC] relativos à entrega dos bens. Os curadores definitivos encon-
tram-se consagrados no [art.104ºCC] sendo que estes são os herdeiros e
demais interessados a quem tenham sido entregues os bens do ausente,
neste caso os primos. Evidencia-se que os direitos e obrigações dos curado-
res definitivos se encontram positivados no [art.110º CC] que remete ao
[art.94º CC].
No [art.94º/1 CC] evidencia-se que a curadoria segue o regime do man-
dato geral, contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou
mais atos jurídicos por conta da outra, como consagrado no [art.1157ºCC],
sendo que este mandato só compreende os atos de administração ordiná-
ria como consagrado no [art.1159º/1 CC]. Conclui-se, portanto, que os cu-
radores apenas podem praticar atos de administração ordinária, não po-
dendo, regra geral, dispor nem alienar os bens do ausente pelo que, à par-
tida, os primos de Irene não poderiam vender a casa.
No entanto, verifica-se que a alineação pode ocorrer no âmbito do
[art.94º/3 CC} mediante autorização judicial, reservada, inclusivamente,
para casos em que seja necessário solver dividas do ausente [art.94º/4 CC]
algo que se verifica visto que os primos têm pagado a parte das despesas
de Irene. Desta forma, é possível, para os primos, vender o apartamento.
NOTAS
Curadoria Provisória – Em questões de legitimidade, os primos são clara-
mente interessados pois são coproprietários do imóvel.
Curadoria Definitiva – Em questões de legitimidade, os primos são herdei-
ros.
A diferença surge decorrente da intenção do interessado. Os primos que-
rem vender o imóvel para resolver o problema das dívidas, primordial-
mente, e ver se livre do mesmo, pelo que se podem aplicar os dois regimes.
VII
Raúl, filho de Pedro e Quitéria, nasceu em 10 de Março de 2005.
No Verão de 2020, Raúl doou um valioso anel à sua namorada Sara e
vendeu um computador ao seu vizinho Nuno, por um significativo valor, a
pagar no prazo de um mês.
Considere cada uma das sub-hipóteses seguintes com independência das
anteriores.
1.ª Hipótese: Sabendo da venda em Dezembro de 2020, Pedro, depois de
exigir, sem êxito, o pagamento do preço a Nuno, decide intentar uma ac-
ção com vista à invalidação do negócio. Quid iuris?
Raúl, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica, ou seja, a susceti-
bilidade de ser titular de direitos e de estar adstrito a deveres e obrigações,
desde o momento do seu nascimento completo e com vida [artigo 66º/1
CC]. Por outro lado, Raúl, enquanto menor [art.122º CC] embora detentor
de capacidade jurídica de gozo, carece de capacidade jurídica de exercício
dos seus direitos [art.123º CC]. A capacidade plena para exercer os seus di-
reitos e cumprir os seus deveres e obrigações só se obtém ao atingir a mai-
oridade, ou seja, ao completar 18 anos [art.122º CC].
A venda de um computador por parte de Raúl é um negócio jurídico anu-
lável, impróprio da vida corrente do jovem, visto que constitui um ato além
da sua capacidade natural, que implica a disposição de um bem de grande
valor e importância [art.127º/1 b) CC]. Um negócio jurídico anulável é um
negócio que, apesar do vício, é tratado como válido.
No entanto, a sua anulabilidade foi, aparentemente, sanada com a exigên-
cia do pagamento por parte de Pedro, o seu pai, a Nuno, o que representa
um consentimento negocial tácito [art.125/2 CC, art.217º/1 CC e 288º/3
CC].
Verifica-se, no entanto, que Nuno não realizou o pagamento devido a
Raúl, pelo que o contrato jurídico não foi completado e, por conseguinte, a
anulabilidade pode continuar a ser arguida [art.287º/2 CC]. Por outro lado,
a confirmação por parte de Nuno só se torna eficaz quando Raúl atingir a
maioridade, sendo esta a causa da anulabilidade do negócio jurídico
[art.288º/2].
Tendo, portanto, em conta que a venda do computador é um negócio jurí-
dico passível de ser anulado, Pedro pode intentar uma ação com vista á in-
validação do mesmo no prazo de 1 ano a contar do conhecimento do negó-
cio impugnado [art.125º/1 a) CC].
NOTA: Art.124.º CC
No DC quando alguém viole uma norma o seu ato é inválido, podendo a in-
validade ser de dois tipos: nulidade e anulabilidade. A nulidade é o vicio
mais gravoso, e é a regra geral.
A anulabilidade é diferente visto que existe a violação de uma norma que,
usualmente, se destina a proteger um interesse privado. Só essa pessoa
pode invocar a anulabilidade.
Todos os negócios estabelecidos por menores são inválidos exceto os esta-
belecidos no artigo 127.
Por exemplo, se uma menor for uma expert em computadores e for paga
para ir a uma loja e comprar um computador em representação de outrem,
verifica-se que, embora não tenha capacidade para efetuar esse negócio
para ela, pode agir enquanto procuradora de outrem. Como o dinheiro
gasto e património é da outra pessoa e não da menor, não se coloca a
questão da proteção do menor.
A menor está a agir como procuradora e não em nome próprio. É vulgar os
menores agirem enquanto procuradores dos pais: por exemplo, os pais ge-
ralmente pedem aos filhos para irem comprar pão, no entanto verifica-se
que o dinheiro gasto é dos pais e não dos menores.
AÇÕES PROPÕEM-SE
RECURSOS INTERMPÕEM-SE
2.ª Hipótese: Em Abril de 2022, Raúl, sem que os seus pais soubessem, ca-
sou com Teresa e, em Maio de 2022, pretende intentar uma acção com
vista à recuperação do anel que doara a Sara. Quid iuris?
Raúl, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica, ou seja, a susceti-
bilidade de ser titular de direitos e de estar adstrito a deveres e obrigações,
desde o momento do seu nascimento completo e com vida como consta
no [artigo 66º/1 CC]. Por outro lado, Raúl, enquanto menor, como consa-
grado no [art.122º CC], embora detentor de capacidade jurídica de gozo,
carece de capacidade jurídica de exercício dos seus direitos, como se veri-
fica no [art.123º CC]. A capacidade plena para exercer os seus direitos e
cumprir os seus deveres e obrigações só se obtém ao atingir a maioridade,
ou seja, ao completar 18 anos, como consagrado no [art.122º CC].
Verifica-se que, tendo já completado a idade núbil em abril de 2022,
como se verifica através do [art.1601º a) CC], Raúl se casou com Teresa,
permitindo a sua emancipação, como consagrada no [art.132º CC]. Veri-
fica-se que, para que a emancipação fosse plena, era necessário que os
pais de Raúl tivessem dado autorização para o casamento (artigo 1612.º,
n.º 1 do CC). Verifica-se, no entanto, que o casamento foi feito sem a auto-
rização dos pais de Raúl. Como também não se verifica a ocorrência de um
suprimento judicial por parte do conservador do registo civil, percebe-se
que Raúl não sofre os efeitos consagrados no [art.133º CC] mas sim os dis-
postos no [art.1649º], pelo que, desta forma, o menor não beneficia dos
efeitos da emancipação, nomeadamente da capacidade de gerir os seus
bens, pertencendo a responsabilidade da administração dos mesmos aos
seus pais.
Em maio de 2022, Raúl possui 17 anos e, embora casado, não é emanci-
pado pelo que, de acordo com o [art.125º/1b) CC], este pode requerer a
anulação do negócio jurídico contraído com Sara no prazo de 1 ano a con-
tar da sua maioridade, ou seja, até 10 de março de 2024.
Resolução
Nuno, enquanto pessoa, adquiriu personalidade jurídica, ou seja, a susce-
bilidade de ser tular de direitos e de estar adstrito a deveres e obriga-
ções, desde o momento do seu nascimento completo e com vida [ar go
66º/1 CC]. Por outro lado, Nuno, enquanto menor [art.122º CC] embora de-
tentor de capacidade jurídica de gozo [art.67.º CC], carece de capacidade
jurídica de exercício dos seus direitos [art.123º CC]. A capacidade plena
para exercer os seus direitos e cumprir os seus deveres e obrigações só se
obtém ao a ngir a maioridade, ou seja, ao completar 18 anos [art.130º CC].
No caso em questão, evidencia-se que Raúl vendeu um computador de
significa vo valor a Nuno, sendo que, na altura em que o negócio foi esta-
belecido, ambos possuíam 15 anos, sendo, por isso, menores. Atualmente,
após a ngir a maioridade, Nuno visa a anulabilidade do negócio estabele-
cido.
O esquema delineado pela lei é fixado no art.125.º do Código Civil onde
se consagra que os atos de menores são passíveis de ser anulados. Eviden-
cia-se, portanto, que até aos dezoito anos as pessoas não possuem capaci-
dade negocial; a par r desta idade, possuem. É, no entanto, evidente, que
este esquema rígido não corresponde à realidade da vida. Adquire-se capa-
cidade natural conforme o processo de crescimento se vai efetuando e,
nesse sen do, surge o art.127.º do Código Civil onde se estabelece uma sé-
rie de exceções à incapacidade de exercício do menor.
Á data do negócio jurídico, o negócio efetuado por Nuno era um negócio
válido nos termos do art.127.º/n.º1 b) do Código Civil evidenciando-se a ve-
rificação de todos os pressupostos para tal: negócio jurídico da vida cor-
rente, ao alcance da capacidade natural do menor e que implique despesas
de pequena importância. De facto, é de constar que Nuno é um rapaz ori-
undo de uma realidade económica avultada, sendo um milionário, pelo
que, decerto, a compra do computador não terá causado prejuízos no seu
património; por outro lado, percebe-se que Nuno terá a maturidade neces-
sária para efetuar tal negócio, que consiste num negócio rela vamente ha-
bitual para um menor da sua idade.
Tendo isto em conta, evidencia-se que, para todos os efeitos, o negócio
de Nuno era válido, pelo que não é passível de ser anulado, no âmbito do
ar go 125.º CC.
NOTAS
A menoridade é um ins tuo que se des na a proteger pessoas com pouca
experiência de vida. Limita as pessoas de forma a apoiar e promover o cres-
cimento dos menores num ambiente seguro. Desta forma, os pais têm a
possibilidade de anular os negócios feitos por menores. Na dúvida quanto á
pequena importância deve-se recorrer á medida mais protetora. Se permi-
rmos que o menor con nue a fazer negócios de muito dinheiro, este pode
desgastar o seu património. Desta forma, deve-se tratar todos os menores
da mesma forma, de forma obje va e protetora.
Na alínea b) do art.127.º CC o legislador contrabalança a rigidez do re-
gime da menoridade no sen do em é lícito ao menor pra car certos negó-
cios. A capacidade natural do menor é algo que evolui entre os 0 e os 18
anos. É a alínea que permite adaptar a vida jurídica do menor á sua vida
corrente. A vida que leva não tem só a ver com a sua idade mas também
com o seu ambiente familiar e económico. Diz MC que o elemento sistemá-
co, restringido ao 127 b), vai nos dizer que na duvida se deve interpretar
certas par cularidades rela vas ao menor.
(ligeiramente adaptado de CARLOS LACERDA BARATA, Teoria geral
do Direito civil – Casos práticos, AAFDL, Lisboa, 2012, 4.ª ed., pp. 89-
90)
VIII
Fernando é solteiro, tem 25 anos e gasta compulsivamente todo o
dinheiro que ganha em jogos de azar. Os seus pais solicitam ao tribunal o
acompanhamento de Fernando, pedindo que a celebração de negócios de
jogo e aposta, bem como de negócios de alienação de bens de valor supe-
rior a 400€ seja sujeita a autorização do acompanhante.
1. Quid iuris?
NOTAS
Os pais têm de solicitar ao tribunal o suprimento da autorização dos pais.
REPRESENTAÇÃO VS ACOMPANHAMENTO
O acompanhamento é um regime para resolver problemas de exercício jurí-
dico. Quando o acompanhado mata alguém estamos no âmbito da respon-
sabilidade jurídica e não da capacidade jurídica.
A representação tem que ver com o exercício jurídico de forma que a pessoa
A pratica um ato jurídico que se refletem na esfera jurídica da pessoa B.
Se A tem a sua capacidade de gozo limitada, nem os seus pais podem exer-
cer os seus direitos por A. Se admitirmos que as medidas dos maiores acom-
panhados permitem a limitação da capacidade de gozo incorre-se numa vi-
olação do art.13.º da CRP (visto que as sentenças são concretas e especifi-
cas), ou seja, numa inconstitucionalidade.
NOTA
Art.139.º/n.º2 –e se demonstrar a urgência da situação, o tribunal pode fi-
xar medidas urgentes e provisórias, de forma a atender á situação do bene-
ficiário
Art.154.º/b) “depois de anunciado”, ou seja, tem de existir publicidade do
processo, de forma que se saiba que Fernando usufrui deste regime. Se isto
não ocorrer não se pode aplicar este artigo.
Prejudicidade do negócio – O contrato de aposta é um negócio feito em
função da incerteza. A probabilidade de se ganhar é ínfima, no entanto, a
aposta é mesmo isso – gasto apenas 3€ mas posso ganhar milhares. Ocorre
o mesmo relativamente aos seguros. No caso de Fernando, não se pode
avaliar a prejudicidade da aposta se tivermos em conta que ele perdeu –
visto que isso é um pressuposto da aposta. Deve-se ter em conta, portanto,
outros critérios: o quanto ele apostou e as chances de ganhar.
NOTAS
Arrendamento pode ser considerado um negócio da vida corrente
Alienação – Dispor de bens que vão alterar o meu património
O dinheiro serve para ser trocado e, por conseguinte, comprar um café não
é um negócio de alienação, mas sim uma aquisição
IX
Gabriel sofre de uma doença mental que faz com que ele, apesar dos
seus 20 anos, tenha a maturidade de uma criança de 12 anos. Os seus pais,
ainda Gabriel tinha 17 anos, solicitaram e obtiveram a declaração de acom-
panhamento de Gabriel, ficando o pai, Hermínio, como acompanhante.
Atendendo à situação de Gabriel e ao seu património (muito vasto), o tri-
bunal decretou a representação geral e a administração total de bens pelo
acompanhante.
Dois anos depois, Hermínio arrenda por 10 anos um armazém de Ga-
briel a uma subsidiária da Google, com excelentes condições. Alguns dias
depois, Hermínio é surpreendido por uma carta de Ilda em que esta lhe co-
munica que casou com Gabriel e, por isso, irá solicitar ao tribunal a sua in-
vestidura, em lugar de Hermínio, como acompanhante de Gabriel.
1. Aprecie a validade dos negócios celebrado por Hermínio.
No caso em questão, evidencia-se que Gabriel pode beneficiar do regime
de acompanhamento, como surge consagrado no art.º138 CC, pois apre-
senta uma patologia mental grave que lhe confere uma maturidade própria
de uma criança de 12 anos, embora possua 20, o que implica limitações na
realização das atividades da sua vida diária, deixando-a totalmente depen-
dente de uma supervisão e cuidados permanentes na sua vida a cargo de
terceiros. Evidencia-se que lhe é impossível exercer de forma plena,
pessoal e consciente os seus direitos e, igualmente, de cumprir os seus de-
veres e obrigações.
Nesse sentido, procedeu-se ao requerimento de acompanhamento de
Gabriel, na altura menor, por anomalia psíquica, ao abrigo do art.º142 CC.
Desta forma, assim que Gabriel atingiu a maioridade, Hermínio, o seu pai,
foi consagrado seu acompanhante, sendo da sua responsabilidade a repre-
sentação geral e a administração total dos bens de Gabriel.
Gabriel é detentor de grande património e a par do acima consignado
pode-se concluir, igualmente, que o beneficiário terá dificuldades em ma-
nusear e gerir o mesmo devido aos seus condicionalismos clínicos. Perante
isto conclui-se que é premente alguém administrar os bens de que ele é ti-
tular, dado que ele não é capaz de o fazer.
A regra geral é de reconhecer a capacidade da pessoa humana para exer-
cer de forma livre os seus direitos pessoais (Art. 147.º n.º 2 do C.C.), sendo
as restrições ou limitações ao seu exercício a exceção, que sempre deverá
ser bem fundamentada.
Face à extensão da impossibilidade de Gabriel exercer os seus direitos e
cumprir os seus deveres, apenas a representação geral consegue suprir
essa falta. O poder de representação compreende o exercício de todos os
direitos e cumprimento de todas as obrigações da maior acompanhado.
Quanto aos direitos pessoais limita-se o direito pessoal de casar, testar, es-
colher profissão, fixar domicílio e residência (artigo 147.º, n.º 2, do Código
Civil) pois garantidamente o beneficiário não consegue devido a doença
exercer plena, pessoal e conscientemente esses direitos.
Evidencia-se, portanto, justificada a aplicação da medida de acompanha-
mento de representação geral, que seguirá o regime da tutela, como
consta no artigo 145.º/n.º 4 CC, com poderes de administração total de to-
dos os bens do maior acompanhado.
Consigna-se que os atos de disposição de bens imóveis que sejam da
propriedade do beneficiário carecem de autorização judicial prévia e espe-
cífica, como consta no artigo 145.º/n.º 3 CC, bem como para praticar os au-
tos mencionados no artigo 1938.º, do Código Civil (aplicado por força do
artigo 145.º, n.º 4, do mesmo diploma).
Evidencia-se, através, do art.1023.º CC, que o arrendamento consiste na
locação que versa sobre uma coisa imóvel, como um armazém. O artigo
1938.º CC remete para o artigo 1889.º/n. º1 do Código Civil, através do
qual se conclui que Hermínio não pode arrendar o armazém em questão
durante um prazo de 10 anos, sem autorização do tribunal, como se
verifica através da alínea m) do diploma mencionado. Ou seja, o negócio ju-
rídico realizado por Hermínio tem a sua validade dependente de autoriza-
ção do tribunal.
RESOLUÇÃO
As competências da Assembleia Geral da associação “Os amigos da natureza” surgem fixa-
das no âmbito do art.172.º/n.º1 do CC, onde se evidencia que apenas compete à assembleia
as deliberações que não são função do conselho fiscal e da direção. Desta forma, pode-se
concluir que se subtraem das mesmas, as competências fixadas no art.6.º/n.º2 do estatuto
enquanto responsabilidade da Direção: gerência social, administrativa e financeira da associ-
ação.
Evidencia-se, portanto, que, à partida, não é da responsabilidade da Assembleia Geral, mas
sim da Direção, a deliberação acerca da política salarial da associação e da progressão na
carreira dos trabalhadores da mesma, visto que se enquadra no âmbito da gestão social que
é parte da sua responsabilidade.
No entanto, de acordo com o estipulado no art.5.º/n.º2 do estatuto da associação “Os ami-
gos na Natureza”, a forma de funcionamento da assembleia geral surge fixada no art.173.º
do CC. De acordo com o art.173.º/n.º2, é possível realizar a convocação da assembleia, atra-
vés do requerimento de, pelo menos, 1/5 dos associados, se essa mesma convocação tiver
subjacente um fim legítimo. Tendo em conta a matéria de facto do caso, evidencia-se que
Xavier cumpriu o número mínimo de requerentes.
Por outro lado, surge a dúvida relativamente á legitimidade do assunto em causa. As ques-
tões que Xavier pretende discutir em âmbito de assembleia não fazem parte da competência
da mesma, pelo que se suscita se, de facto, o motivo é legítimo.
Evidencia-se, no entanto, que a assembleia deve ser sempre convocada sob pena de pôr em
crime a própria liberdade de associação. De acordo com o art.46.º CRP, as associações “pros-
seguem livremente os seus fins”, tendo, pois, o direito a gerir livremente a sua vida. Por outro
lado, também este artigo abrange a liberdade de auto-organização. Desta forma, é legítimo
que Xavier convoque uma assembleia para discutir estas questões.
NOTAS
OS ESTATUTOS TÊM PREFERÊNCIA RELATIVAMENTE AO CC.
Há situações em que as assembleias não possuem mesa, pelo que no dia da assembleia o que se costuma
fazer é eleger uma pessoa para presidir e outra para ser secretário.
Para efeitos do 173.º CC o fim pode ser tanto legítimo quanto ilegítimo. O fim é legitima na medida em
que a Assembleia da associação é o seu órgão principal, possui funções residuais e tem papel deliberativo.
A fronteira entre os poderes da Direção e da Assembleia é lata, na medida em que não existe um princípio
de separação de competências entre ambos.
Se por um lado se pode afirmar que a progressão de carreira e os salários aponta para uma questão de
gerência social, e, por conseguinte, para uma função própria da Gestão, defende-se que a Assembleia não
poderia deliberar acerca destes temas.
No entanto, não existindo um princípio de separação de poderes no âmbito do Código Civil, poder-se-ia
dizer que em rigor não havia sobreposição de competência porque o Xavier não quer que a Assembleia se
pronuncie relativamente a X trabalhador ou Y trabalhador, mas sim que adote uma filosofia trabalhista
diferente, ou seja, uma estratégia diferente relativamente aos contratos. Tenha-se, por outro lado, por
exemplo, que parte dos trabalhadores era particularmente poluente, Xavier pode afirmar e desejar que a
Associação tivesse uma ética que se estabelecesse em todas as esferas de atuação da Associação.
O Conselho Fiscal fiscaliza os atos dos restantes órgãos, ou seja, garante a legalidade da atuação da ad-
ministração. Entende-se que por vezes um dos titulares/membros do Conselho Fiscal é um terceiro (con-
tabilista, por exemplo) permitindo uma perspetiva imparcial e inteirada perante a atuação dos órgãos da
Associação.
2. Suponha que Daniela precisa de dinheiro. Como é ela quem faz os paga-
mentos aos trabalhadores, todos os meses paga menos 10 euros a cada
um, dizendo que se trata de uma medida destinada a criar um fundo co-
mum para apoio a situações de desemprego. Daniela fica com esse di-
nheiro para si. Seis meses depois desta prática se encontrar instituída,
Zulmira, recepcionista, morre e os seus herdeiros tomam conhecimento
dos “descontos” e pretendem propor uma acção para recuperar esse di-
nheiro.
RESOLUÇÃO
Através de uma pré-compreensão do caso, analisando a matéria de facto, evidencia-
se que a questão que importa apreciar consiste em saber se a imputação da responsabi-
lidade civil se deve dirigir a Daniela ou á associação em causa.
A conduta apurada pode, desde logo, submeter-se ao disposto no artigo 500.º do C.
Civil, por remissão do art.165.º CC.
O facto danoso resultou da conduta dolosa de Daniela que, aproveitando-se da sua fun-
ção, extorquiu dinheiro aos trabalhadores. Então a responsabilidade surge por força da
aparência social que, insiste-se, cria uma convicção de confiança do lesado na licitude da
conduta do agente, não obstante tratar-se de ato doloso em proveito pessoal.
Em face do exposto, resulta a responsabilidade da Associação, nos termos dos artigos
165.º e 500.º, nos 1 e 2 do C. Civil, sendo que a associação é, portanto, obrigada a pagar
uma indemnização. Nos termos do art.500.º, n.º3 do CC, evidencia-se que por exigir de
Daniela um reembolso.
Trata-se de uma associação que fez um contrato de trabalho com a Zulmira. Todos os
meses, a Zulmira era credora do seu salário, ao passo que a Associação era devedora
desse salário. Dessa forma, nos termos do art.798,º CC, a ação deve ser proposta contra
a Associação.
XI
António, estrela rock, começa a namorar com Benedita. Nesse dia,
pretendendo que o fio de ouro que usa ao pescoço fosse lembrete dessa sua
paixão, mandou gravar no fecho (composto de um elemento circular enca-
deado numa das extremidades do fio e uma terminação encadeada na outra
extremidade – cfr. imagem) “Amo-te, Benedita. António”. Aquando da co-
memoração do 1.º mês de namoro, António oferece a Benedita esse fio de-
pois de ter enrolado e atado ao fecho uma madeixa do seu cabelo como
forma de, simbolicamente, sempre acompanhar Benedita. Fio e madeixa fo-
ram, com igual deleite, recebidos pela sua namorada.
Passados 2 meses, Benedita morre. Os herdeiros de Benedita, encon-
trando o presente de António no seu espólio, organizam um leilão para
venda do fio, descrevendo-o como “o fio usado pelo rocker António”.
O preço do fio chega aos 25.000 € – oferecidos por Carlos, grande
amigo de António e de Benedita (e conhecedor do dito fio). Ao receber o fio,
Carlos verifica que este lhe é entregue sem o fecho e sem a madeixa. E exige-
os. Dizendo que o fecho é parte integrante do fio e que a madeixa é parte
integrante do fecho. Os herdeiros recusam a entrega, sustentando que o fe-
cho é mera coisa acessória do fio, e que a madeixa não é coisa para o Direito.
Quid iuris?
RESOLUÇÃO
PARA SABER SE ALGO É UMA PARTE COMPORNENTE OU PARTE INTEGRANTE DEVE-SE
PARTIR DO CONCEITO DE COISA.
As partes integrantes acrescentam valor á coisa, no entanto, não é isso que a distingue
da parte componente: um colar sem fecho não consegue ser usado, pelo que o fecho é
uma parte componente – faz parte do colar. Por sua vez, no caso da madeixa, falamos
em duas coisas diferentes – madeixa e colar – não há nem uma ligação funcional nem
material entre as duas coisas. Quando se suscita a necessidade de proceder a definições
evidencia-se que se tem de averiguar se estamos perante várias coisas: universalidade de
facto, partes integrantes, partes coletivas, partes componentes, etc.
Dessa forma, o fecho faz parte do negócio na medida em que é parte componente do fio,
ao passo que a madeixa não faz.
INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO – Não temos matéria de facto suficiente para concluir que
partia da
NOTAS
Ter atenção às definições das coisas e à fundamentação/argumentação e aos regimes
jurídicos.
EXPETATIVA DO CARLOS – NÃO RECEBOU O QUE ESPERAVA – FEIXO E MADEIXA – PARTES
INTEGRANTES DO COLAR –
O fecho caracteriza-se como sendo uma parte integrante visto que sem o mesmo o fio
perde a sua finalidade primeira – se existir a falta do fecho, o fio perde a sua finalidade.
PARTE COMPONENTE/CONSTITUTIVA – algo que constitui a coisa como ela é em
termos essenciais (as pernas da mesa, por exemplo, visto que, sem elas, a mesa
cai);
PARTE INTEGRANTE – algo que neste momento não é uma coisa visto que está
ligada materialmente a outra coisa, mas que pode voltar a ser coisa se separada
da coisa principal – tenha-se o exemplo do quadro, preso na parede de um edifí-
cio. Não tem de ser útil e não tem de ser imprescindível. Ligação material a uma
coisa sem que a parte integrante não seja uma parte componente da coisa prin-
cipal.
COISA ACESSÓRIA: Coisas que têm autonomia, mas estão ao serviço da coisa prin-
cipal – tenha-se o exemplo da bolsinha dos óculos, que está ao serviço dos óculos,
na medida em que os protege. Trata-se de um conceito funcional.
210.º, n.º2 CA = Não seguem o regime da coisa principal quando haja um negócio jurídica
que afete a coisa principal. As coisas acessórias são muitas diversas e muitas delas são
necessárias para o funcionamento da coisa principal. Tenha-se o exemplo da caneta e da
tampa, dos sapatos e dos atacadores e da porta e da chave. Dessa forma, há certas coisas
que necessitam da coisa acessória para funcionar, pelo que, se aplicarmos o regime do
202.º CC, sem atender a este facto, surgem problemas – não faz sentido a venda de sa-
patos sem atacadores!
As coisas acessórias lato sensu são pertenças (art.210.º, n.º1 CC) e coisas acessórias
strictu senso (art.210.º, n.º2 CC).
MC entende que esta classificação não é correta porque no art.210.º, n.º1 CC, coisas
acessórias = pertenças. Dessa forma, o mesmo
Desta forma não se tem de aplicar apenas o art.210.º CC mas várias outras normas jurí-
dicas. Tenha-se o exemplo do costume. Uma pessoa quando compra sapatos, espera os
atacadores. Dessa forma, o homem médio exigiria os atacadores visto que a função dos
sapatos é não caírem dos pés e, dessa forma, precisa dos atacadores. Por outro lado, as
regras de defesa do consumidor também ajudam!
O conceito de parte integrante deve ser interpretado não exatamente como o art. 203.º,
aceitando que existam coisas integrantes que não estão ligadas material à coisa principal.
Tenha-se o exemplo das canetas - as canetas têm uma nervura que permite que as cane-
tas se mantenham presas à tampa. Desta forma, embora não exista uma ligação perma-
nente entre a porta e a chave, esta possuem uma ligação material.
É necessário analisar os negócios mediante uma perspetiva cultural e social!
204.º, n.º 3 – as partes móveis também podem ter partes integrantes - 210.º
CC –
XII
António tem 61 anos e padece de uma doença degenerativa. Como é uma
pessoa muito organizada, celebra um contrato com Bento, pelo qual atribui
poderes ao seu amigo para que este, em nome de António, administre o seu
património, venda os bens que Bento considere necessário para acorrer às
necessidades de António, incluindo bens imóveis, e tome todas as decisões
que vierem a ser necessárias quanto à saúde de António – incluindo a deci-
são de submeter António a operações cirúrgicas, a tratamentos inovadores
ou arriscados, a transfusões de sangue, a internamentos em hospitais ou em
casas de repouso, etc. Bento, por seu turno, obriga-se a exercer os poderes
que lhe foram conferidos. No contrato fixa-se a remuneração de Bento em
4.500€ anuais, a pagar em Dezembro de cada um dos anos em que Bento
tenha de exercer os poderes conferidos. Atendendo ao parecer de César,
neurologista de António, António irá precisar de apoio dali a cerca de 18 me-
ses. Por segurança, no contrato celebrado, estabeleceu-se que os poderes
eram conferidos a partir do dia do 62.º aniversário de António, isto é, a 14
de Dezembro de 2018.
1. No dia 29 de Dezembro de 2017, Bento foi a Viseu, onde se situa um
dos imóveis de António. Verificando que o imóvel estava vazio, resol-
ver invocar os poderes representativos conferidos por António e ar-
rendar o imóvel, por uma excelente renda. Ao saber do sucedido, An-
tónio não quer aceitar o contrato porque estava a negociar a venda
do imóvel devoluto. O inquilino, porém, pretende manter-se no imó-
vel ou que Bento lhe arranje outro. Quid iuris?
Resolução
As procurações são negócios unilaterais, que a pessoa faz consigo própria,
atribuindo a terceiro poderes de representação. Nessa medida, mesmo que
o terceiro não queira a titularidade desses poderes, ele pode simplesmente
não os exercer.
Dessa forma, entre A e B existe um negócio em que o procurador se obriga
a concluir atos em nome do principal – chama-se mandato – art.1157.º CC –
que podem ser:
Com representação - tem que ter um mandato;
Sem representação.
O mandato com vista ao acompanhamento é algo que responsabiliza bas-
tante o procurador/mandatário – pelo que neste caso quer o mandante quer
o mandatário devem ter ambos o objetivo e fim de assinar um mandato que
se destine a aplicar em situação de fragilidade do mandante.
Olhando para o conteúdo do contrato, não há dúvidas que aquelas duas pes-
soas quiseram evitar uma situação de fragilidade.
Este mandato produzia efeito a partir de 14/12/2018 – o mandatário come-
çou a exerceu os poderes antes dessa data – Bento não possui poderes de
representação nessa altura, pelo que não podia celebrar contratos em nome
de António – art.268.º CC – o negócio que é celebrado por alguém que não
possui poderes de representação é ineficaz -
XIV
Distinga direitos de personalidade de direitos fundamentais e comente:
“A capacidade de gozo das pessoas colectivas não inclui a titularidade de
direitos de personalidade”.