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Curso de Direito

QUESTIONÁRIO 20

Londrina, 23 de fevereiro de 2024


Alunos: Camilla Eduarda Candido Miguel (N°15), Fabio Miguel Pineda de Rossi
(N°24), Geovanna Freire da Silva (N°28), Giovana Soares Russo (N°29) e Irineu
Barboza Neto (N°37)
Turma: 1000

SOBRE SUJEITOS DE DIREITO

Londrina
2024
SUMÁRIO

QUESTÃO 01. ................................................................................. 1


QUESTÃO 02. ................................................................................. 3
QUESTÃO 03. ................................................................................. 4
QUESTÃO 04. ................................................................................. 6
QUESTÃO 05. ................................................................................. 11
BIBLIOGRAFIA ............................................................................... 14
1

01. Analise e exponha as principais ideias contidas na reflexão que Sergio


Alves Gomes desenvolve no tópico intitulado “Situando-se diante da
questão “O que é o homem”” (n.2.2, p. 62 a 75).
As reflexões acerca da definição do ser humano são assuntos de grandes
ideias e indagações que atravessam os séculos, desde do berço da filosofia, na
Grécia com Aristóteles, que define o homem como “um animal social e político”
passando pela filosofia medieval com São Tomás de Aquino, expondo que a
singularidade da pessoa humana a distingue de todos os outros seres vivos pela
sua completude e racionalidade e Kant que destaca o caráter racional do ser
humano como o diferencial de todas as outras coisas(vivas e não vivas), sendo
seres racionais que tomam suas próprias decisões.
Com isso em mente, o trabalho presente busca sintetizar as reflexões
trazidas no tópico: “Situando-se diante da questão “O que é o homem””, da obra
“Hermenêutica Constitucional: Um contributo ao Estado Democrático de Direito”,
de Sergio Alves Gomes. Neste tópico, o autor trás reflexões acerca do fenômeno
homem, e como esta reflexão se faz necessária para o entendimento e o
contributo para o a construção do Estado Democrático de Direito.
Se faz mister salientar que o Professor Doutor Sergio Gomes, não busca
delimitar ou conceituar o homem, e sim busca uma reflexão acerca desta
enigmática pergunta. O homem, sendo um ser de possibilidades, apresenta
ainda característica arcanas sobre a sua ontologia. Assim sendo, Gomes aponta
a importância de provocar um questionamento acerca da posição central do
homem na construção do Estado Democrático de Direito.
Sendo assim, o autor destaca da importância do estudo do homem, em
falar sobre ele na tentativa de compreendê-lo. Gomes então delineia uma relação
entre o homem e a natureza que o comporta, trazendo a concepção de que o
homem é também, natureza, e que por essas razões se empenha em
compreendê-la, mesmo que essa relação não seja sempre de pleno respeito, já
que por ganância, acabe destruindo seu único e preciso habitat.
O autor também esclarece sobre a necessidade humana de sociabilidade
ao afirmar que “Homem algum é uma ilha” (2008, p. 65), o que demonstra que
uma das principais características do homem é a convivência com o outrem.
Essa necessidade de convívio abre portas para as indagações de como esse
convívio deve ser ordenado e estruturado para que, com as palavras de Gomes,
2

“melhor corresponder ao modo de ser do homem.”(2008, p. 65). Indagar e refletir


sobre o modo de ser do homem é essencial para descobrir sua humanidade,
revelando aspectos que possibilitam a realização plena e um desenvolvimento
com todo seu potencial e equilíbrio.
O equilíbrio, aqui entendido como harmonia, é essencial para os seres
humanos que necessitam de uma vida social equilibrada tanto interiormente
quanto no exterior, ou seja, relações para com outrem congêneres. Nesse
contexto, na conotação de Sergio Gomes, essa “percepção de alteridade”, em
que há a relação dos homens, é o tema central nas questões que correspondem
ao Direito. Aqui se vê a relação entre o compreender (ou tentar) o homem e a
construção do Direito em um Estado Democrático de Direito, no qual a percepção
da necessidade humana e da dignidade humana se apresenta como
preocupações centrais em uma democracia.
Sendo assim, o autor expõe que para uma democracia eficaz é necessário
o entendimento sobre o homem e todas suas nuances, o professor então
declara:
“Frise-se que a pretensão, aqui, é refletir sobre as possibilidades
de que a Hermenêutica (jurídica) Constitucional dispõe ou de
que dispor para atuar na concretização da vivência democrática,
mediante sua contribuição na construção do Estado
Democrático de Direito. Daí o imperativo de se pensar no ideário
democrático e nos modos de comportamento humano que
correspondem a seus princípios e regras jurídicas. Isso porque,
na democracia, tais princípios e regras são modelados em
correspondência com a “pessoa humana”, seu ser, suas
características, necessidades e possibilidades.” (2008, p. 66)

Sergio Alves Gomes então traça uma íntima relação entre a hermenêutica
jurídica e a realização plena do Estado Democrático de Direito, haja visto a
necessidade da interpretação das ações humanas e de seu comportamento. É
necessário um conhecimento hermenêutico afinado para contribuir para a
construção da democracia, haja visto que a interpretação do texto jurídico
desempenha um papel fundamental na garantia dos direitos e na aplicação justa
das leis.
Compactuando com essas ideias, o professor Gomes chega à perspectiva
de que “O homem é um ser de incertezas possibilidades” (2008, p.68),
destacando que o ser humano está imerso em um ciclo contínuo de
3

aprendizagem e evolução, repleto de inúmeras possibilidades, o autor então


expressa:

“Trata-se de um horizonte com muitas possibilidades. Isso


porque o homem, visto por Heidegger como “ser-aí”, em verdade
não é um ser acabado, definido e nem estático. Em razão de ser
dinamismo criativo e também de sua finitude pode vir ser o que
ainda não é, bem como deixar de ser o que já é. É neste sentido
que se pretende vê-lo como um ser de possibilidades.”(2008, p.
73).

O ser humano, como um ser de possibilidades, alcança sua plenitude


apenas dentro de um contexto social, onde as interações são fundamentais e
intrínsecas à sua realização. Portanto, o estudo do homem e a busca por
compreendê-lo são imperativos para a construção de uma democracia não
utópica, mas sim dinâmica e eficaz. Nesse contexto, é essencial que a
singularidade humana seja não apenas reconhecida, mas também valorizada,
contribuindo para uma sociedade mais justa e inclusiva.
(Camilla E C Miguel)

02. Segundo Reale, o que significa ser sujeito de direito?


Antes de explorarmos o significado atribuído por Reale ao ser sujeito de
direito, é fundamental compreendermos o conceito em sua essência, para
apenas depois estudarmos os pensamentos do autor sobre o assunto. Ser
sujeito de direito refere-se à capacidade de uma pessoa física ou jurídica de ser
reconhecida como titular de direitos e deveres no contexto legal. Este conceito
está intrinsecamente ligado à noção de personalidade jurídica, que confere à
entidade a habilidade de participar ativamente de relações jurídicas, adquirindo
direitos e contraindo obrigações. Em outras palavras, ser sujeito de direito
implica na capacidade de agir e ser responsabilizado conforme as normas
estabelecidas pelo ordenamento jurídico. Assim, o reconhecimento como sujeito
de direito é fundamental para a proteção e garantia dos interesses individuais e
coletivos dentro da sociedade.
Para Miguel Reale, ser sujeito de direito implica na inserção do indivíduo
em um contexto social, histórico e cultural, no qual ele é reconhecido como um
ser dotado de personalidade jurídica. Segundo a visão tridimensional do Direito
4

de Reale, o sujeito de direito é entendido não apenas como um ser de vontade


(mundo do dever ser), mas também como um ser de fato (mundo do ser) e um
ser de valor (mundo do valor). Dessa forma, ser sujeito de direito vai além da
capacidade de adquirir direitos e contrair obrigações, envolvendo também a
compreensão de sua inserção na realidade social e a consideração de valores
éticos e morais que permeiam as relações jurídicas. Para Reale, o sujeito de
direito é um elemento essencial na construção e aplicação do Direito, pois sua
existência e atuação são fundamentais para a efetivação da justiça e da ordem
social.
(Irineu Barboza Neto)

03.No âmbito jurídico, qual o sentido das expressões personalidade


jurídica, capacidade de fato e capacidade de direito? Analise os textos em
que Reale e Paulo Nader discorrem sobre tal temática.
Ao examinar os conteúdos tratados por Miguel Reale e Paulo Nader se vê
que eles têm formas distintas de abordar e discorrer suas obras, tendo visões
diferentes, procurando mostrar seus conhecimentos a partir de seus estudos.
No texto de reale ele vai trazer o seguinte sentido para as expressões:
“No plano Jurídico a personalidade é isto: A capacidade genérica
de ser sujeito de Direitos, o que é expressão de sua autonomia
moral. (...) Costuma - se distinguir entre capacidade de fato e
capacidade de direito referindo-se a primeira às condições
materiais do exercício, enquanto que a segunda é concernente
à aptidão legal para a prática dos atos.” (Reale. Lições
preliminares de Direito; página 232; editora Saraiva 27° edição
2003.)

O autor Paulo Nader trará os subsequentes pontos sobre as demais


expressões:
“Personalidade Jurídica, atributo essencial ao ser humano, é a
aptidão para direitos e deveres, que a ordem jurídica reconhece
a todas as pessoas(...). (...) Capacidade de fato consiste na
aptidão reconhecida à pessoa natural para exercitar os seus
direitos e deveres.” (Nader. introdução ao estudo dos Direitos;
págs. 287 e 291; editora forense 39° edição 2017.)

Por mais que tenham enfoque teórico, contexto histórico e influências


filosóficas diferentes, quando tratado das expressões “Personalidade Jurídica”,
”Capacidade de Fato” e ”Capacidade de Direito”, suas perspectivas
compreensões sobre essas interpretações podem chegar a um acordo, sendo
5

assim, os conceitos sobre essas expressões para o meio jurídico tem tais
significados:
Personalidade Jurídica: a capacidade de um sujeito ter direitos e
obrigações perante a lei, seja ela uma pessoa física ou uma pessoa jurídica. Isso
significa que esse indivíduo tem o amparo legal para participar ativamente das
relações legais, adquirir direitos e assumir responsabilidades conforme as leis
estabelecidas.
No caso das pessoas físicas, a personalidade jurídica é adquirida
automaticamente desde o nascimento até a morte. Já para as pessoas jurídicas,
como as empresas, essa personalidade é obtida por meio de sua criação e
registro de acordo com as normas legais vigentes. Esse reconhecimento legal
garante à entidade uma existência própria e independente de seus membros ou
proprietários, permitindo que ela atue de forma autônoma no contexto jurídico.
Essa capacidade de ser sujeito de direitos e obrigações são importantes para a
convivência em sociedade.
Capacidade de fato: habilidade reconhecida que uma pessoa possui
para exercer seus direitos e cumprir seus deveres na sociedade. Essa
capacidade está sujeita a diversas condições estipuladas pela lei, determinando
se a pessoa tem permissão para realizar atividades legais. É a garantia de que
as pessoas têm o direito de tomar decisões e agir legalmente, desde que
atendam aos requisitos legais estabelecidos para tal.
Capacidade de Direito: refere-se à capacidade legal de uma pessoa para
exercer seus direitos e cumprir suas responsabilidades conforme estabelecido
pela lei. Em outras palavras, além da capacidade física ou mental para realizar
determinadas ações, é crucial que a pessoa seja reconhecida pela lei como
habilitada a realizar esses atos de forma válida. Em resumo, a capacidade de
direito assegura que uma pessoa tenha permissão legal para agir dentro das
normas legais, garantindo a legitimidade de suas interações e transações
jurídicas.
(Geovanna Freire da Silva)
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04. a) Diferencie pessoa natural e pessoa jurídica, segundo Nader;


Nader inicia sua análise contextualizando a palavra "pessoa", que
atualmente "identifica o portador de direitos e obrigações" (NADER, 2017, p.
289), cuja origem remete à Antiguidade Clássica, derivada do vocábulo latino
"persona", que inicialmente designava "máscara" e posteriormente a concepção
genérica de "homem". Em seguida, esclarece que a terminologia pessoa natural
e pessoa jurídica, presente no sistema brasileiro, é inadequada, uma vez que
ambas são pessoas jurídicas. Toda pessoa natural possui personalidade jurídica,
capacidade (ou incapacidade) de fato, registro, nome e domicílio civil.
Consoante à personalidade jurídica, consiste na aptidão para possuir
direitos e deveres, iniciando-se a partir do nascer com vida e respirar, como
indicado pelo Direito Brasileiro, preocupando-se também em proteger os
interesses do nascituro, conforme o estabelecido no Código Civil Brasileiro de
2002, em seu art. 2°: “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento
com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.
O cessar da personalidade jurídica ocorre com a morte ou a declaração
de ausência por ato do juiz, de acordo com o art. 6° do Código Civil Brasileiro de
2002. No caso de morte, além da evidência do corpo morto, pode-se estabelecer
a morte comoriente ou presumida. Quanto à morte presumida, esta pode ser
declarada sem a decretação de ausência, como previsto no art. 7° do Código
Civil Brasileiro de 2002, em casos como o de morte extremamente provável ou
o desaparecimento em campanha ou feito prisioneiro, desde que não encontrado
até dois anos após o término da guerra, pressupondo que as buscas e
averiguações tenham sido esgotadas. A morte comoriente, por sua vez, é a
morte simultânea, sendo necessário esclarecer as sequências de morte apenas
quando há questões de sucessão envolvidas. Quanto à declaração de ausência,
esta é caracterizada quando o juiz declara, após comprovação, “que uma pessoa
desapareceu de seu domicílio e dela não se tem notícia, decorrido determinado
lapso de tempo.” (NADER, 2017, p. 290)
Quanto à capacidade de fato, esta “consiste na aptidão reconhecida à
pessoa natural para exercitar os seus direitos e deveres” (NADER, 2017, p. 291),
enquanto a incapacidade de fato está dividida em absoluta e relativa.
Os relativamente incapazes estão autorizados a praticar atos da vida civil,
uma vez que assistidos por seus responsáveis, sendo que a incapacidade
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relativa desaparece com a emancipação. Eles são caracterizados conforme o


art. 4° do Código Civil Brasileiro de 2002: “I - os maiores de dezesseis e menores
de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que,
por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os
pródigos.” Já os absolutamente incapazes (menores de dezesseis anos de
idade), representados por seus responsáveis, são impedidos de realizar os atos
da vida civil, segundo o art. 3° do Código Civil Brasileiro de 2002.
Para fins de organização social, os eventos relevantes na vida das
pessoas devem ser inscritos em um registro público, conforme exigido pelo art.
9° do Código Civil Brasileiro de 2002: “I - os nascimentos, casamentos e óbitos;
II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz; III - a interdição
por incapacidade absoluta ou relativa; IV - a sentença declaratória de ausência
e de morte presumida.” Ademais, as sentenças que alteram o estado civil, os
atos de declarações judiciais ou extrajudiciais de declaração ou reconhecimento
de filiação e os atos de adoção devem ser averbados em registro público.
No que diz respeito ao nome civil, este possui o prenome e o cognome
(ou nome patronímico), sendo o primeiro de livre escolha dos pais e o segundo
relativo à vinculação da pessoa à família. Quanto à alteração desse nome civil,
a legislação preza pela imutabilidade do prenome, com exceções para situações
específicas, como exposição ao ridículo. Aos 18 anos, é possível solicitar a
alteração do prenome dentro de um ano. No caso de pessoas trans, o Superior
Tribunal de Justiça autoriza a mudança de nome desde 2015, mesmo sem a
cirurgia de alteração de sexo.
Nader destaca ainda a indispensabilidade da pessoa natural de ter um
domicílio, o qual corresponde ao lugar de residência definitiva. Caso tenha-se
mais de uma residência regular, é considerado quaisquer uma delas seu
domicílio, como dispõe o art. 71 do Código Civil Brasileiro de 2002. E em casos
nos quais a pessoa não possua residência habitual, será considerado domicílio
o lugar em que for encontrada.
Por fim, Nader explicita a regulação dos dados pessoais com base no art.
2° da Lei Geral de Proteção de Dados (Lei n° 13.709/2018), destacando
princípios como o respeito à privacidade, autodeterminação informativa,
liberdade de expressão, inviolabilidade da intimidade, dignidade, entre outros.
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Partindo do conceito de pessoa jurídica, Nader a define como uma


construção do Direito destinada alcançar fins que a atividade individual isolada
não consegue. É caracterizada como o conjunto de pessoas ou bens designados
a realizar determinado fim, aos quais o Direito reconhece faculdade para serem
titulares de direitos e obrigações. Apesar de ter raízes no Direito Romano e ter
sido elaborada pelo Direito Canônico, é no Direito moderno que sua concepção
se consolida. Possui características distintas das pessoas naturais, como a
existência independente de seus membros, a capacidade de obrigações e
direitos próprios, a distinção de patrimônio e a administração por pessoas
naturais.
No que concerne a sua natureza jurídica, existem três principais
concepções:
1. Teoria da ficção: Desenvolvida principalmente por Savigny, sustenta que a
personalidade jurídica é própria dos seres dotados de vontade, considerando a
personalidade das pessoas jurídicas uma ficção jurídica, pois carecem de
vontade própria. Savigny define a pessoa jurídica como um ente artificial
capacitado para possuir bens. Há críticas a essa concepção, especialmente ao
considerar que pessoas naturais sem capacidade de vontade, como crianças e
deficientes mentais, não possuem personalidade jurídica. Além disso, é
apontado que as pessoas jurídicas têm fins e capacidades próprias, o que
justificaria sua existência legal.
2. Teoria dos direitos sem sujeitos: Proposta por Brinz, argumenta que a
essência da pessoa jurídica se localiza na distinção entre dois tipos de
patrimônio: pessoal e impessoal. Enquanto o patrimônio pessoal pertence a um
indivíduo determinado, o impessoal não tem dono e está ligado à realização de
um objetivo específico, protegido juridicamente. Críticos contestam essa
concepção, argumentando que é impossível haver direitos ou deveres sem um
titular, já que os direitos implicam poder de agir concedido a alguém e todo dever
pressupõe um obrigado.
3. Teorias realistas: Entendem que a pessoa jurídica não é uma ficção, mas uma
realidade. Desassociam a personalidade jurídica do elemento da vontade. Uma
das principais teorias é a de Otto Gierke, denominada "teoria do organismo
social", que argumenta que não há uma separação absoluta entre a pessoa
jurídica e seus membros, ela se distingue, mas ao mesmo tempo constitui uma
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unidade com eles, além de possuir vontade própria. Outra concepção, chamada
"teoria da realidade objetiva", defendida por Giorgi, Fadda e Bensa, sustenta que
a pessoa jurídica tem uma existência real, pois mostra semelhanças
significativas com a pessoa natural.
A classificação das pessoas jurídicas varia de acordo com os sistemas
jurídicos, sendo divididas entre pessoas jurídicas de Direito Público e pessoas
jurídicas de Direito Privado. As primeiras são setorizadas em Direito Público
externo, que contém os Estados e órgãos análogos, como a Organização das
Nações Unidas (ONU), e Direito Público interno, que abrangem os Estados-
membros, a União, Distrito Federal, Territórios, Municípios, autarquias e
associações públicas, conforme o art. 41 do Código Civil Brasileiro de 2002.
Já as pessoas jurídicas de Direito Privado englobam:
• Associações: entidades sem fins lucrativos, que visam objetivos culturais,
beneficentes, esportivos ou religiosos. Elas podem apresentar alguma
atividade econômica, desde que o lucro obtido se destine à consecução do
seu objeto e não à divisão entre os associados.
• Fundações: caracterizam-se pela existência de um acúmulo econômico
destinado à realização de um fim.
• Sociedades: visam o lucro e dividem-no entre seus membros. Podem ser
empresariais ou simples, com as primeiras dedicadas a atividade própria de
empresário, conforme o art. 982 do Código Civil Brasileiro de 2002, enquanto
as segundas abrangem profissões intelectuais, científicas, literárias ou
artísticas.
• Organizações religiosas e partidos políticos: podem se estruturar como
pessoas jurídicas de Direito Privado, independentemente de autorização ou
reconhecimento.
• Empresa individual de responsabilidade limitada: foi instituída pela Lei
12.441/2011 e é uma pessoa jurídica unipessoal, cujos bens particulares do
titular não respondem por suas dívidas, exceto em caso de má-fé. Sua
formação exige a plena integralização do capital, e que esse seja superior a
100 vezes o maior salário mínimo vigente no país.
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A supracitada Lei 12.441/2011 não se aplicava aos advogados, porém, a


Lei 13. 247/2016 criou a sociedade unipessoal ou individual de advogado,
alterando o Estatuto de Advocacia (Lei 8.906/1994).

b) Eduardo C.B. BITTAR analisa “Pessoa do Direito” como pessoa física e


“Pessoa do Direito” como pessoa jurídica. Destaque os principais pontos
de distinção apresentados pelo referido autor.
O autor inicia esclarecendo que todos os indivíduos são reconhecidos
como sujeitos de direito, em razão da luta pela universalização dos direitos
humanos. Também ressalta que para perceber esse direito como conquista é
preciso relembrar eventos históricos marcantes que evidenciam a importância
desses direitos, como a escravidão de africanos e indígenas, bem como o
sofrimento dos judeus, apátridas e refugiados após a Segunda Guerra Mundial.
A partir disso, define-se com mais precisão o conceito de pessoa física ou
natural, cujos direitos são reconhecidos desde o nascimento (com vida) até a
morte, conforme garantido pelo art. 2° e o art. 6° do Código Civil de 2002.
Bittar ainda menciona que a pessoa física é dotada de capacidade para o
exercer direitos e deveres. Por um lado, ela detém a capacidade de direito, que
é a capacidade de ser reconhecida como “pessoa do Direito”, segundo o art. 1°
do Código Civil de 2002: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem
civil”. Por outro lado, é considerada a capacidade de fato, ou seja:
“capacidade de exercer factualmente direitos e deveres
diante das limitações que são próprias da existência
humana, tais como a idade, o estado de saúde, a
condição de deficiência.” (BITTAR, 2018, p. 108)

Dessa forma, surgem restrições no exercício pleno dos direitos e deveres,


resultando na condição de incapacidade civil de fato absoluta ou relativa,
previstas nos artigos 3° e 4° do Código Civil de 2002.
Além disso, o conceito “pessoa física” sofreu alterações significativas ao
longo da história. Com os debates provenientes das teorias pós-modernas,
feministas, do multiculturalismo e das teorias étnico-raciais e de gênero,
demonstrou-se que a igualdade jurídica não reflete necessariamente a igualdade
real. Isso possibilitou o reconhecimento de diversos sujeitos e movimentos
sociais, revelando a necessidade de uma legalidade pluralista e inclusiva.
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Por fim, são atribuídos direitos à pessoa física, destacando-se os direitos


da pessoa e os direitos da personalidade, com ênfase nos últimos, os quais
elaboram a transposição dos direitos humanos à esfera privada.
Enquanto isso, a pessoa jurídica é reconhecida como entidade artificial,
com direitos e deveres próprios. Atualmente, são atribuídos até mesmo direitos
de personalidade às pessoas jurídicas, que são classificadas em pessoa jurídica
de direito público (interno e externo) e pessoa jurídica de direito privado (civis e
empresariais), conforme estabelecido no art. 40 do Código Civil de 2002.
A pessoa jurídica funciona como um invólucro (revestimento, sobre-
máscara) que atribui responsabilidade jurídica ao ente artificial, diferenciando
claramente a pessoa física, que opera por trás dessa estrutura. Assim, é
transferido da pessoa física para a pessoa jurídica os direitos e deveres
decorrentes de suas atividades e funções estatutárias, com exceções para
atividades ilícitas que permitem a perseguição dos bens pessoais da pessoa
física. Dessa forma, surge a teoria da “disregard of legal entity” para
responsabilizar a pessoa física por práticas de atos ilícitos realizados através da
pessoa jurídica.
(Giovana Soares Russo)

05.Fale sobre as teorias: a) da ficção; b) organicista; e c) institucional da


pessoa jurídica, com base nos textos de Reale e Nader.
As teorias dispostas são formas utilizadas no ramo da filosofia do direito
para explanar a natureza jurídica, de criações tal como a Pessoa Jurídica,
criadas por diversos renomados juristas. Dentre elas, temos a:
a. Teoria da ficção
Tem como principal defensor Friedrich von Savigny, importante jurista
alemão. Segundo o seu pensamento, a Personalidade jurídica é um atributo dos
seres dotados de Vontade, e a Pessoa Jurídica é uma fictio iuris, ou seja, uma
ficção jurídica, logo, é uma criação fictícia do ordenamento jurídico para suprir
uma necessidade, a necessidade sendo dos jurisconsultos romanos. Com isso,
Reale dita que Savigny definiu a Pessoa Jurídica como “ente criado
artificialmente capaz de possuir patrimônio”, porém sem arbítrio próprio.
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Esta teoria e explicação, contudo, sofreu de fortes críticas, como de que


o conceito de Personalidade Jurídica seria equívoco, dado que sendo a vontade
o embasamento para a existência de uma personalidade jurídica, não explica a
existência de personalidade jurídica para infantes e incapazes, ou da definição
de pessoa jurídica, que para os opositores, seriam “entes que possuem
determinados fins e possuem capacidade para realizá-los”.
Maria Helena Diniz também pontua a inconsistência de que, se a Pessoa
Jurídica for fictícia, o estado (também uma pessoa jurídica) seria ficção legal, e
suas determinações e direito que exerce também o seria, perdendo sua força e
criando um paradoxo.
b. Teoria Organicista ou Teoria Real
Segundo Nader, é parte de teorias que ele considera como “Teorias
Realistas”. É defendida principalmente pelo jurista Otto von Gierke, opositor da
Teoria da ficção, dado que esta deixava muitas dúvidas aos juízes e tribunais
que a utilizavam.
Segundo o jurista, há um vínculo inconfundível entre a pessoa jurídica e
os membros que a integram. Como metáfora para explicar o fenômeno, Gierke
utiliza a química, em específico, a constituição de uma molécula. As pessoas
pertencentes são os elementos que constituem a molécula, por exemplo, as
moléculas de Hidrogênio e Oxigênio na constituição da água. Os elementos são
únicos, ambos gasosos em temperatura ambiente, porém, ao se unirem para
constituir a água (h2o), criam um líquido completamente diferente de seus
constituintes.
Considerando os “elementos químicos” como os indivíduos que formam a
pessoa jurídica e o “subproduto da reação” a pessoa jurídica, temos que os
indivíduos são únicos e independentes, porém unidos em um propósito, formam
um “outro” (a personalidade jurídica). Este, possui vontade própria, que nada
mais é do que a vontade de seus integrantes.
Reale determina que essa teoria, apesar de solucionar alguns aspectos
do problema, falha ao conceder à pessoa jurídica uma natureza real, substancial,
ontológica. Diniz, em seu pensamento, diz que há a teoria falha quando retoma
um aspecto ficcional, ao dizer que a pessoa jurídica é dona de uma vontade
própria, uma vez que o efeito volitivo é exclusivo do ser humano, e não do
coletivo.
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c. Teoria Institucional da Pessoa jurídica


Segundo a obra de Miguel Reale, a teoria institucional se encontra como
um dos meio termos entre os extremos da teoria da ficção (pessoa jurídica como
fictícia) e da teoria organicista (da pessoa jurídica como real).
O renomado escritor de direito civil e jurista Flávio Tartuce chama a teoria
de “teoria da realidade técnica”, e conta que foi a adotada pelo código civil de
2002, representando-a como a soma entre as teorias, mencionadas
anteriormente, de Savigny e de Gierke. Segundo ele, ela soma o aspecto que
defende que a pessoa jurídica é criada por uma ficção legal ao fato que ela
também possui identidade organizacional própria que deve ser defendida.
A doutrina, baseada na obra de Maurice Hauriou, também contribuída por
Santi Romano, determina que as Pessoas Jurídicas são Instituições. Para
explicar a palavra Instituição, Reale retoma o termo Unidade do pensamento
tomista.
Segundo os pensadores, Unidade pode se caracterizar como unidade
física ou unidade de fim. A unidade de fim é a união de partes diferentes com o
intuito de um objetivo final. Assim, a instituição é como uma unidade de fim, uma
reunião de homens diferentes com um objetivo (ideia diretora) que a confere
unidade. Com isso, é determinado que a pessoa jurídica é uma existente, porém
no mundo teleológico (das ideias), logo, intangível, porém ainda existente,
segundo a teoria geral das Realidades, estudada na filosofia do direito, invocada
como explicação não intencional dos autores da teoria institucional por Reale
Segundo a Teoria das Realidades, que tem como juristas principais Frank
Brentano e Edmund Husserl, objetos podem ser naturais (objetos como uma
mesa), naturais psíquicos (emoções) ou naturais ideais (formas matemáticas,
como quadrado). A união desses componentes gera objetos culturais, como
normas ou até mesmo pessoas jurídicas, e dá contornos precisos à existência
da pessoa jurídica, assim, consolidando a teoria para o pensamento de Reale.
(Fabio Miguel Pineda de Rossi)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BITTAR, Eduardo C. B. Introdução ao estudo do direito: humanismo,


democracia e justiça. São Paulo: Saraiva, 2018.
BRASIL. Lei n. 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso
em: 20 fev. 2024.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à ciência do direito. 20. ed.
São Paulo: Saraiva, 2009.
GOMES, Sergio Alves. Hermenêutica constitucional: um contributo à
constituição do Estado Democrático de Direito. Curitiba: Juruá, 2008.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. 39. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2017.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva,
2013.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil, Volume único. 11. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2021.

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