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EDIÇÃO ESPECIAL
Editorial
Estimados colegas,
Boa leitura!
3
Diretoria SBOT-MG 2010
Presidente: Dr. Gilberto Francisco Brandão
Vice-presidente: Dr. Marco Antônio Castro Veado
Tesoureiro: Dr. Wilel Almeida Benevides
Tesoureiro Adjunto: Dr. Edson Barreto Paiva
O ESTADIAMENTO DOS TUMORES ÓSSEOS Secretário Geral: Ildeu Afonso Almeida Filho
Secretário Adjunto: Dr. Rodrigo Galinari Costa Faria
Luiz Eduardo Moreira Teixeira 1SFTJEFOUFTEBT4FDDJPOBJTt/PSUFDr. Eduardo Ramos
Marques Pina, Zona da Mata: Dra. Taís de Melo Neves,
Ricardo Horta Miranda -FTUF%S%FPEPSP(POÎBMWFTtSul: Dr. João Carlos
#FMPUUJtTriângulo: Dr. Fabiano Ricardo de Tavares Canto
8
tMetropolitana: Dr. Antônio Carlos de Melo, Vertentes:
Dra. Clarissa Dumont.
19
Ronaldo Percopi de Andrade e Dr. Wagner Nogueira da Silva.
Comissão Científica: Dr Afrânio Donato de Freitas, Dr.
Carlos César Vassalo, Dr. Fernando Araújo Silva Lopes, Dr.
Flávio Márcio Lago e Santos, Dr. Francisco Carlos Salles
Nogueira, Dr. Lúcio Honório de Carvalho Júnior, Dr.
TALALGIAS Luiz Cláudio Moreira França, Dr. Luiz Eduardo Moreira
Teixeira, Dr. Robinson Esteves Santos Pires, Dr. Rodrigo
Fernando Araújo Silva Lopes Campos de Pace Lasmar, Dr. Rodrigo de Andrada Gandra
Peixoto e Dr. Ronald Moura Vale Mota.
Comissão de Ética e Defesa Profissional: Dr. Ary Araújo
23
Américo , Dr. Jefferson Soares Leal e Dr. Kleber Elias Tavares
Comissão de Materias e Implantes: Dr. Bruno de Castro
Queiroz, Dr. Cláudio Beling Gonçalves Soares, Dr. Marco
TRATAMENTO CONSERVADOR Antônio Ferreira Junior, Dr. Mauríco Pagy de Calais
Oliveira e Dr. Roberto Bitarães de Carvalho Costa.
DA OSTEOARTROSE Comissão de Campanhas: Dr. Ildeu Afonso de Almeida
Filho, Dr. Robinson Esteves Santos Pires e Dr. Rodrigo
Marco Antonio Percope de Andrade Galinari da Costa Faria e Dr. Wilel Almeida Benevides.
Comissão de Ensino e Treinamento: Dr. Alessandro
Thiago Idelfonso Dornellas Ulhôa Rodrigues, Dr. Alexandre Dias de Souza, Dr. André
Galdêncio Ignácio Almeida, Dr. Francisco Carlos de Salles
Túlio Vinícius de Oliveira Campos Nogueira, Dr. Antônio Barbosa Chaves, Dr. Cláudio
Beling Gonçalves Soares, Dr. Elton Luiz Ribeiro Bueno,
27
Dr. Euler de Carvalho Guedes, Dr. Gustavo Pacheco,
Dr. Leonardo Peluci Machado, Dr.Lúcio Flávio Biondi
Pinheiro Jr, Dr. Juraci Rosa de Oliveira, Dr. Marcos
Henrique Cenni, Dr. Otaviano de Oliveira Jr, Dr. Ricardo
FRATURA E PSEUDOARTROSE DO Horta Miranda, Dr. Rodrigo D’Alessando de Macedo e Dr.
Wilel Almeida Benevides
ESCAFOIDE/REVISTA MINEIRA Conselho Fiscal: Dr. Antônio Tuffi Neder Filho. Dr.
Fernando de Araujo da Silva Lopes, Dr. Rdorigo D’Alessandro
DE ORTOPEDIA de Macedo, Dr. César Junqueira Torres, Dr. Luciano Martins
Alves da Rosa e Dr. Otaviano de Oliveira Junior.
José Alexandre Reale Pereira Editor Chefe: Dr. Marco Antônio Percope de Andrade
Corpo Editorial: Dr. Antônio César Mezêncio, Dr. Carlos
39
Antônio Garrido, Dr. Carlos Fontoura Filho, Dr. Eduardo
Nilo Vasconcelos Novais, Dr. Francisco Carlos de Salles
Nogueira, Dr. Jefferson Soares Leal, Dr. Lúcio Honório de
Carvalho Júnior, Dr. Luiz Eduardo Moreira Teixeira, Dr.
INSTABILIDADE ANTERIOR Ubiratan Brum de Castro.
Consultores: Dr. Enguer Beraldo Garcia, Dr. Glaydson
TRAUMÁTICA DO OMBRO: Gomes Godinho, Dr. Guydo Marques Horta Duarte, Dr.
José Alexandre Reale Pereira, Dr. Marcelo Back Sternick,
UMA ABORDAGEM PRÁTICA Dr. Marco Antônio de Castro Veado.
RESUMO
INTRODUÇÃO Saúde (OMS)4, de caráter apenas histoló- zado pelo American College of Radiology
Os tumores ósseos representam um gico, e o estadiamento da American Joint (ACR)4. A radiografia é um método sim-
grupo heterogêneo de lesões mesenqui- Comittee on Cancer (AJCC). Dentre esses, ples, de baixo custo, amplamente disponí-
mais, com grande diversidade de subtipos o estadiamento de Enneking et al. é o mais vel, que permite em muitos casos determi-
e comportamentos biológicos. Até os anos difundido entre os ortopedistas e o mais nar o diagnóstico e, na maioria das vezes,
de 1970, as condutas eram empíricas, com usado para guiar o tratamento cirúrgico. sugere a agressividade da lesão, orientando
resultados ruins e variavam de acordo com Portanto, foi adotado pela Musculoskeletal a propedêutica a ser seguida.
a preferência e experiência do cirurgião. Tumor Society (MSTS) como estadiamen- Após a realização da radiografia, a con-
Os resultados eram limitados, as amputa- to-padrão das neoplasias ósseas. duta irá variar de acordo com o aspecto
ções prevaleciam e as recidivas dos tumo- O objetivo deste artigo é descrever a radiográfico observado nesse exame inicial
res benignos eram frequentes. abordagem inicial dos tumores ósseos, de- e encontra-se resumida na figura 1.
Somente no início dos anos de 1980 talhar o estadiamento e abordar suas limi- Quando o exame radiográfico é nor-
que se observaram, por meio dos trabalhos tações e perspectivas futuras. mal e os sintomas do paciente desapare-
de Lodwick et al.1, Enneking et al.2 e Rosen ceram, orientações e controle clínico são
et al.3, esforços para uniformizar o diagnós- ABORDAGEM INICIAL suficientes. Entretanto, se os sintomas
tico e criar protocolos para guiar o trata- O paciente com tumor ósseo se apre- permanecem, há necessidade de com-
mento e prever o prognóstico dos tumores senta de quatro formas: achado acidental plementar a propedêutica, sugerindo-se
ósseos, em especial dos tumores malignos. durante exames, história de dor, fratura ou ressonância nuclear magnética (RNM),
Atualmente, utilizam-se o estadiamen- o achado de uma tumoração. Nesse mo- que pode mostrar lesões ocultas ou an-
to proposto por Enneking et al.3, além da mento, o primeiro exame indicado é a ra- tecipar imagens ainda não visíveis à ra-
classificação da Organização Mundial da diografia convencional, conforme preconi- diografia5.
TRATAMENTO
CONTROLE RNM EXAMES EXAMES
ESPECÍFICO
Figura 1. Conduta a partir do resultado do exame radiográfico na avaliação dos tumores ósseos
A segunda possibilidade é observar uma doença sistêmica ou focal. Os exames de 50% dos casos chegam ao especialista
uma lesão de características benignas em que devem ser solicitados estão resumidos antes de qualquer manipulação prévia7, 8.
que a radiografia foi suficiente para in- na tabela 16. Nos casos manipulados antes do encami-
dicar a etiologia do tumor, como fibro- Com os resultados, pode-se definir nhamento, as complicações são seis vezes
ma não ossificante ou osteoma osteoide. se a lesão é neoplásica, osteometabólica, mais frequentes e responsáveis por vários
Nesses casos, o tratamento indicado pode infecciosa ou inflamatória. As lesões neo- casos de amputação do membro6-9. A bi-
ser instituído sem a necessidade de outros plásicas poderão ser benignas, malignas ou ópsia pode ser excisional, quando toda a
exames complementares. secundárias. Nesse momento, em caso de lesão é ressecada, ou incisional, quando
A terceira situação engloba as lesões incapacidade na definição da origem da apenas um fragmento é retirado e envia-
que se apresentam ao exame radiográfico lesão, indica-se biópsia. do para estudo histopatológico. A maio-
com caráter agressivo ou aspecto duvido- ria das biópsias ósseas é incisional e pode
so, não sendo possível definir a natureza BIÓPSIA ÓSSEA ser realizada por agulhas ou via aberta.
delas. Nesses casos, propedêuticas local e A biópsia é passo essencial na con- As realizadas por agulhas apresentam a
sistêmica estão indicadas e, na maioria das dução dos tumores ósseos, em especial vantagem de ser menos agressivas e disse-
vezes, o diagnóstico só será confirmado dos tumores primários malignos. Uma minar menos a lesão, enquanto as abertas
por meio de biópsia. técnica inadequada leva a consequências oferecem ao patologista uma quantidade
Esses exames devem sempre preceder a terapêuticas e prognósticas, inviabilizan- de tecido melhor, facilitando o diagnós-
biópsia e o tratamento definitivo, mesmo do a preservação de membro ou levan- tico (Figura 2A e B). Independentemente
nos casos em que exista fratura patológica, do à disseminação sistêmica da doença. do tipo de biópsia a ser realizada (aberta
que deve ser tratada inicialmente com mé- Embora a biópsia deva ser realizada em ou por agulha), alguns preceitos devem
todos conservadores até que o diagnóstico centros de referência e pelo cirurgião que ser seguidos para não prejudicar o trata-
seja firmado. fará o procedimento definitivo, menos mento definitivo (Tabela 2)10.
EXAMES COMPLEMENTARES
Tabela 1. Exames solicitados na propedêutica dos tumores ósseos em caso de
Quando há dúvidas quanto à origem lesões de origem incerta ou suspeita de malignidade
da lesão ou se suspeita de um tumor ma-
Exames laboratoriais Exames de imagem
ligno, deve-se utilizar exames comple-
Hemograma Radiografia do osso acometido
mentares laboratoriais e de imagem. O
objetivo deles é definir se a lesão é mo- VHS, PCR, LDH Radiografia de tórax
nostótica ou poliostótica, se é agressiva ou Eletroforese de proteínas Tomografia de abdome
indolente, se existe uma origem em outros Imunofixação Tomografia de tórax
órgãos que sugiram implante secundário Fosfatase alcalina Cintilografia óssea de corpo total
e se a doença, inicialmente localizada, Hidroxiprolina urinária
disseminou para outros órgãos. Portanto, Cálcio, fósforo
dois grupos de exames são solicitados: um Paratormônio
para avaliação local e outro para avaliação PSA
sistêmica. Isso inclui exames laboratoriais Urina de rotina
e de imagem que irão mapear a lesão ob- LDH: desidrogenase lactato; PCR: proteína C reativa; PSA: antígeno prostático específico; VHS: velocidade
servada na radiografia convencional como de hemossedimentação
ESTADIAMENTO
Após a realização da biópsia e a defini-
ção do diagnóstico, os tumores são estadia-
dos com o objetivo de orientar o tratamen-
to e o prognóstico dos tumores. Existem
dois sistemas usados para essa finalidade:
o de Enneking et al.2 e o da AJCC11. O
primeiro é o mais utilizado, sendo adotado
pela MSTS. O sistema da AJCC baseia-se
na utilização do T (tumor), N (linfonodos)
e M (metástases). Entretanto, essa classifi-
cação foi pouco aplicada aos tumores ósse-
os, já que estes raramente apresentam dis-
seminação metastática, pela variabilidade
Figura 2. A - Agulhas utilizadas nas biópsias percutâneas; B - Aspecto clínico de histológica e pelo comportamento bioló-
uma biópsia do antebraço por via aberta. gico diferente dos carcinomas. Assim, será
abordado o estadiamento proposto por
Enneking et al2. Esse sistema foi publicado
Na biópsia adequada, deve-se: mor e deve ser ressecado em bloco em 1980 e baseia-se em características clí-
t efetuar planejamento prévio adequa- com a lesão para garantir margens nicas, de imagem e histopatológicas, deter-
do, decidindo com o patologista e o adequadas; minando o comportamento biológico da
radiologista qual a melhor região do t em casos de difícil acesso, utilizar o lesão e orientando o tratamento adequado
tumor para coletar material de boa auxílio de radioscopia ou tomografia (Figura 3).
qualidade; comptadorizada;
t realizá-la preferencialmente em t nas localizações diafisárias, facilitar a TUMORES BENIGNOS
centros de referência e pelo cirur- perfuração inicial do osso cortical com Os tumores benignos são divididos
gião responsável pela cirurgia defi- uma broca, o que torna a biópsia me- em três grupos: latentes (B1), ativos (B2)
nitiva, já que o trajeto da biópsia é nos agressiva; e agressivos (B3). Os tumores benignos
considerado contaminado pelo tu- t ser o menos traumático possível; latentes são lesões que permanecem estáti-
BENIGNOS MALIGNOS
Tabela 2. Classificação dos tumores segundo a localização de acordo com divididos em intracompartimentais (A) e
Enneking et al.2 extracompartimentais (B). Compartimen-
INTRACOMPARTIMENTAL EXTRACOMPARTIMENTAL tos são regiões anatômicas que apresentam
Intracorticais Extensão extrafascial ou barreiras naturais para o crescimento do
Superficial à fáscia muscular intraóssea tumor. Quando essas barreiras são ultra-
Planos intra-fasciais Mediopé passadas ou as lesões localizam-se em re-
Raios da mão e do pé Retropé giões que não apresentam tais barreiras, os
Posterior da perna Fossa poplítea tumores são chamados de extracomparti-
Ânterolateral da perna Região inguinal mentais (Tabela 2).
Medial da coxa Extensão intrapélvica O segundo critério usado é a maligni-
Anterior da coxa Região carpal dade do tumor, que representa sua agres-
Posterior da coxa Fossa antecubital sividade histológica e seu risco de disse-
Glúteos Região periclavicular minação metastática. Os tumores foram
Face volar do antebraço Região axilar divididos em tumores de baixo grau (I),
Face dorsal do antebraço Região paraespinhal
que apresentam risco estimado de disse-
minação inferior a 25%, e tumores de alto
Anterior do braço Cabeça e pescoço
grau (II), em que o risco de metástases é
Posterior do braço Tumores inicialmente intracomparti-
Periosteais mentais, que extravasam as barreiras superior a 25%.
Periescapular anatômicas naturais O terceiro critério é a presença de me-
tástases ao diagnóstico. A metástase regio-
nal ou a distância foi utilizada no sistema
cas e apresentam cicatrização espontânea. tendem para tecidos moles. O tratamento por se tratar do principal fator prognós-
Usualmente são assintomáticas e diag- em geral é intralesional por meio de cure- tico dos tumores ósseos malignos, sendo
nosticadas acidentalmente após exames tagem (Figura 4B). separada em um grupo independente. O
realizados por outros motivos. O aspecto As lesões agressivas apresentam-se com sistema de Enneking et al.2 encontra-se
radiográfico é de uma lesão bem delimi- sintomas importantes, simulam tumores resumido na tabela 3.
tada, de padrão geográfico e esclerose ao malignos, são pouco definidas, estendem-se Apesar de o sistema de Enneking
redor. Não insuflam nem causam reação para tecidos moles e causam reação infla- ser amplamente difundido e utilizado
periosteal. Exceto se apresentarem risco matória importante. Necessitam de ressec- pela maioria dos ortopedistas há mais de
de fraturas, essas lesões não necessitam de ção marginal ou intralesional associada a duas décadas, apresenta várias limitações.
tratamento (Figura 4A). métodos adjuvantes (Figura 4C). Como foi criado antes da utilização da to-
As lesões ativas (B2) apresentam cres- mografia, da RNM e dos avanços nos mé-
cimento lento, mas progressivo, podem TUMORES MALIGNOS todos adjuvantes de tratamento, seu uso
apresentar sintomas leves ou serem diag- Enneking et al.2 utilizaram três parâ- tem se limitado à aplicação no tratamento
nosticadas por meio de uma fratura pato- metros para classificar os tumores malig- cirúrgico. O conhecimento atual de vários
lógica. Continuam bem delimitadas, mas nos: a localização, a agressividade da lesão e importantes fatores prognósticos exi-
com pouca esclerose, insuflam o osso, afi- (malignidade) e a presença de metástases. ge um estadiamento mais detalhado que
lam a cortical, mas não perfuram nem es- Quanto à localização, os tumores foram permita definir melhor o prognóstico e a
REFERÊNCIAS
RESUMO
ABSTRACT
Low back pain can be considered a public health problem that consumes a sig-
nificant portion of health resources and social security in most of Western in-
dustrialized countries. It affects up to 85% of people throughout their lives,
but the cause of pain is identified in only a small proportion of the population.
Complementary exams incorrectly indicated are expensive, can confuse the di-
agnosis and may lead to unnecessary treatment. The knowledge of the natural
history and of the mechanisms involved in the genesis of pain is fundamental to
rationale clinical management. The diagnosis of this painful syndrome is mainly
based on history and clinical examination. The key of treatment is education
and removing obstacles to functional recovery. The review presented below does
not represent standards of care, but rather evidence-based information.
pequeno benefício da manipulação quiro- Há indícios de que a manipulação da pode-se indicar antidepressivos e relaxan-
prática, mas também não há consenso a coluna na fase aguda da lesão pode acele- tes musculares. Os bloqueios facetários e
esse respeito 77. rar a recuperação, porém não há evidência epidurais podem ser úteis, mas há pouca
suficientemente forte para recomendar a evidência sobre o seu uso nessa fase.
Lombalgia subaguda manipulação da coluna após a fase aguda A abordagem da lombalgia subaguda
Na lombalgia subaguda, a reabilitação da lombalgia nem na lombalgia recorrente deve incluir uma equipe multiprofissional,
é o ponto mais importante do tratamento. ou crônica70. pois contribuição multidisciplinar facilita
A reabilitação deve combinar orientações, A abordagem psicológica mediante uma melhor compreensão dos diferentes
terapia cognitiva e comportamental e exer- abordagem cognitivo-comportamental é fatores de risco envolvidos. A coerência de
cícios físicos individualizados11. Acredita- indicada quando há retardo na recupe- conceitos por diferentes profissionais tem
se que na fase subaguda os fatores de risco ração, apesar dos tratamentos médico e um papel crucial no resultado final do tra-
para a cronificação podem ser mais bem físico68. Há evidências de que essa abor- tamento.
abordados11 . dagem ajuda na recuperação e na redução
Exercícios físicos progressivos são do risco de cronificação84. Pacientes com Lombalgia crônica
benéficos na lombalgia subaguda e nos manifestações clínicas de disfunção psico- A história natural da lombalgia ines-
episódios recorrentes7. Há evidências in- lógica são considerados para intervenção pecífica mostra que, conforme o tempo
dicando que os exercícios recreacionais psicológica. Treinamento de relaxamento, passa, as chances de recuperação tornam-
ou terapêuticos são efetivos, mas não há de distração, de reinterpretação da dor e se progressivamente piores83. Dois anos
clareza da superioridade de um exercício de enfretamento podem auxiliar a redu- após o início da dor, a probabilidade de
sobre outro7. Exercícios de McKenzie, de zir comportamentos inadequados decor- um paciente retomar as atividades nor-
Williams, caminhada, corrida ou outras rentes do estresse de longa duração85 e da mais é quase nula82. A maioria dos estudos
atividades aeróbicas têm se mostrado úteis resposta negativa associada à dor85. Podem indica que as tentativas para reabilitar pa-
quando há engajamento do paciente82. também auxiliar na superação de obstácu- cientes crônicos não são geralmente muito
Recomenda-se que sejam inicialmente de los à recuperação e prover mudanças de bem-sucedidas83. No entanto, programas
intensidade leve, com progressão gradu- comportamento perante a doença85. Em multidisciplinares intensos podem aju-
al em intensidade, duração e frequência, alguns casos, a intervenção pode incluir dar alguns pacientes crônicos. Programas
sendo ajustados individualmente 14. terapia psicofarmacológica. de recondicionamento laboral podem ser
Modalidades fisioterápicas como es- Programas de recondicionamento aplicáveis ainda com algum grau de suces-
timulação elétrica nervosa transcutânea, laboral incluem exercícios, medidas cog- so no paciente crônico precoce (menos de
termoterapia e terapia manual podem ser nitivas, comportamentais, educacionais um ano)86.
úteis no controle da dor em curto prazo e e atividades com simulação do trabalho. Os analgésicos e os AINHs podem
contribuir para o retorno do paciente às São indicados a pacientes motivados em ser benéficos quando utilizados por curto
atividades do dia a dia e laborais. Apesar retornar ao trabalho nos estágios iniciais período. A eficácia dos antidepressivos e
de não haver evidências com relação à efe- das lombalgias subaguda ou crônica70. dos relaxantes musculares é desconheci-
tividade dessas modalidades sobre a me- Não há evidências suficientes sobre da. No entanto, na prática clínica, esses
lhora do estado funcional83, sua aplicação o uso de analgésicos e anti-inflamatórios medicamentos mostram-se benéficos em
em conjunto com um programa de exercí- na lombalgia subaguda. No entanto, na combinação com analgésicos ou anti-in-
cios e de recondicionamento ativo produz prática clínica diária, analgésicos e AINHs flamatórios. Os bloqueios facetários têm
melhores resultados funcionais70. mostram-se eficazes. Em alguns casos, se mostrado ineficazes ou mesmo prejudi-
As síndromes dolorosas do retropé, (windlass), que eleva o arco do pé sempre Os exames de imagem não são neces-
frequentemente crônicas, têm grande pre- que os artelhos se estendem na fase de sariamente úteis para o diagnóstico da
valência especialmente em mulheres adul- impulso da marcha. A tração repetitiva fasciíte plantar, mas podem auxiliar no
tas. Cerca de 10% das pessoas terão pelo provoca microrrupturas, com inflamação diagnóstico diferencial. O ultrassom pode
menos um episódio de talalgia durante a reativa e persistente, pela continuidade mostrar o espessamento da fáscia plantar,
vida. As causas e os sítios anatômicos da da ação mecânica na marcha; a inflama- as radiografias evidenciam a presença do
doença são variáveis e frequentemente ção crônica promove alterações degene- osteófito plantar (que não tem relevância
múltiplos, provocando quadros clínicos rativas que alimentam o ciclo de inflama- clínica) ou outras alterações como defor-
de longa evolução e difícil resolução. Den- ção e dor. midades ósseas e estreitamentos articula-
tre os motivos dessa dificuldade, estão os A evolução clínica típica da fasciíte res, decorrentes de traumas ou doenças
conceitos equivocados, como o estigma do plantar é a dor calcanear no “primeiro preexistentes. A cintilografia óssea tem
“esporão”, o inadequado entendimento da passo”, ao se levantar da cama pela manhã mais de 80% de sensibilidade para fasciíte
fisiopatologia, o que induz a diagnóstico e ou após estar sentado por algum tempo. A plantar e é útil no diagnóstico das fraturas
tratamento ineficientes, e a frequente não dor localizada na borda plantar e medial de estresse do calcâneo. Estas podem tam-
adesão do paciente ao trabalhoso e longo do calcanhar usualmente melhora com a bém ser diagnosticadas pela ressonância
processo de tratamento usualmente neces- movimentação, mas a persistência do qua- magnética (RM), indicada na pesquisa de
sário para a cura da lesão (dez meses em dro produz dor no final do dia, que pode possíveis lesões associadas às partes moles
90% dos casos). ser difusa e irradiada. O repouso alivia a do retropé, com indicação restrita.
Devido ao grande número de situa- dor até o início do novo ciclo de marcha.
ções nas quais ocorre talalgia, desde O exame clínico adequado por meio Tratamento conservador
aquelas decorrentes de sobrecarga como de “Teste do Tinel”, “Teste da dorsiflexão- Embora a eficácia do tratamento con-
a epifisite calcanear do adolescente e as eversão” e compressão laterolateral do cal- servador na fasciíte plantar seja inques-
fraturas de estresse do adulto, até inflama- canhar auxilia no diagnóstico diferencial tionável, não se pode dizer isso quanto
ções sistêmicas e traumas, neste capítulo com as neuropatias, as vasculopatias, e a ao protocolo ou à padronização da mais
serão abordadas as talalgias mais comuns, fratura de estresse respectivamente. Em- adequada forma de tratar a doença, já que
que associam causas mecânicas e inflama- bora a sobrecarga mecânica seja o elemen- os trabalhos publicados informando resul-
tórias locais, usualmente no adulto. Serão to primário, a etiologia da fasciíte plantar tados com métodos específicos de trata-
abordadas as talalgias plantares, em que é multifatorial. Fatores intrínsecos como mento não encontram ainda sustentação
predomina a fasciíte plantar, e as talalgias a idade (acima da quarta ou quinta dé- quanto aos níveis de evidência I e II.
retrocalcaneares, já que, juntas, atingem cada), a obesidade e o encurtamento do Exercícios de alongamento – A im-
cerca de 90% dos casos. complexo gastrocnêmico/sóleo/tendão de portância desses exercícios no tratamento
Aquiles/fáscia plantar, associados a fatores da fasciíte plantar é notória, tanto aqueles
TALALGIA PLANTAR – extrínsecos como calçado sem salto e tra- voltados para o alongamento da pantur-
FASCIÍTE PLANTAR balho com permanência em ortostatismo, rilha e tendão de Aquiles como os seleti-
A principal causa da talalgia plantar todos podem se associar à gênese da do- vos para a fáscia plantar. Demonstrou-se
é a fasciíte plantar, processo inflamatório ença. Estudos com nível II de evidência ganho da dorsoflexão após oito a 12 se-
e degenerativo crônico, mais comum na demonstram que, entre esses fatores, três manas de exercícios. Não há, entretanto,
origem medial da fáscia plantar na tube- variáveis são as mais significativas: o tra- consenso em realção a frequência e inten-
rosidade medial do calcâneo. A etiologia balho em ortostatismo, a obesidade e a li- sidade dos alongamentos a serem prescri-
mecânica é a mais aceita, creditando-se mitação da dorsoflexão do pé por encurta- tos, mas o programa intermitente com
às forças de tração repetitiva decorrentes mento da panturrilha/tendão de Aquiles/ três sessões diárias de cinco alongamentos
do mecanismo passivo da fáscia plantar fáscia plantar. de 20 segundos ou dez alongamentos de
Tratamento cirúrgico
Os procedimentos cirúrgicos na fas-
ciíte plantar são raramente indicados. O
quadro crônico de dor moderada ou in-
tensa, com mais de seis meses de evolução,
sem melhora com o adequado tratamento
conservador e após a correta observação do
diagnóstico diferencial, poderá ter indica-
Figura 2. RM de fasciíte plantar traumática.
ção para fasciotomia plantar. Nas indica-
ções, a observação clínica da compressão
do ramo plantar lateral do nervo tibial re-
quer a neurólise e a fasciotomia do abdutor
dez segundos mostra-se eficaz. Embora tação adequada quanto aos alongamentos do hálux. A fasciotomia plantar parcial, da
seja um método simples, requer a adesão seriados, é absolutamente ineficaz. Entre- metade da borda medial da fáscia plantar,
do paciente e, para isso, é absolutamente tanto, a crioterapia após o alongamento evita o colapso do arco, que pode ocorrer
necessária a ação motivadora do médico, auxilia na fase inicial do tratamento. se realizada fasciotomia total. Não há ne-
que deve ensinar individualmente a cada Órtese dorsoflexora (dorsal night splint nhum benefício na retirada do osteófito
paciente a forma de alongar, reavaliando-o [DNS]) – o uso da órtese dorsoflexora du- plantar. Ainda assim, publicações de meta-
em períodos de quatro a oito semanas. A rante a noite combate a retração do tríceps nálise não recomendam tratamento cirúr-
fisioterapia convencional, realizada apenas sural e arco plantar decorrente da fisioló- gico da fasciíte plantar. Novos métodos de
algumas vezes na semana e sem a orien- gica posição em equino-cavo do pé duran- tratamento têm sido publicados, referindo
compromete o ramo calcanear medial. É reinserção in situ. Todo procedimento 6. Cavazos GJ, Khan KH, D’Antoni AV, Harkless
LB, Lopez D. Cryosurgery for the treatment of
necessário lembrar a labilidade da pele re- que requeira fixação com âncoras com ou heel pain. F A Int. 2009;30(6):500-5.
trocalcanear, que deve ser manuseada com sem reforço necessita de proteção de carga 7. Costa ML, Donnell ST, Tucker K. The long
todo cuidado, dada a facilidade com que e imobilização em posição neutra ou em term outcome of tendon lengthening for chronic
Achilles tendon pain. F A Int. 2006;27(9):672-6.
ocorrem as complicações de partes moles discreto equino por seis a oito semanas, 8. Wanger E, Gould JS, Kneidel M, Fleirig GS, Fo-
nessa região, especialmente nos fumantes, seguido de cuidadosa e prolongada reabili- wler R. Technique and results of Achilles tendon
idosos e diabéticos. tação fisioterápica, com exercícios corretos detachment and reconstruction for insertional
Achilles tendinosis. F A Int 2006;27(9):677-84.
Caso a propedêutica por RM indique de alongamento calçado com elevação do 9. Metcalfe D, Achten J, Costa ML. Glucocorti-
lesão mais extensa do tendão calcâneo e salto por pelo menos mais quatro sema- coid injections in lesions of the Achilles tendon.
provável necessidade de reforço por trans- nas. O paciente deverá ser alertado no pré- F A Int. 2009;30(7):661-5.
10. Will RE, Galey SM. Outcome of single incision
ferência do tendão flexor longo do hálux, operatório quanto ao prolongado tempo flexor hallucis longus transfer for chronic Achil-
o acesso mais indicado é o longitudinal para recuperação, necessitando-se cerca les tendinopathy. F A Int. 2009;30(4):315-17.
posterior. No desbridamento do ten- de seis meses para se observar o resultado 11. Donley BG, Moore T, Sferre J, Gozdenovic
J, Smith R. The efficacy of oral nonsteroidal
dão, sempre que a desinserção necessária definitivo. anti-inflammatory medication (NSAID) in
atingir 50% ou mais da sua largura, será the treatment of plantar fasciitis: a randomized
necessário utilizar âncoras na fixação do prospective placebo-controlled study. F A Int.
REFERÊNCIAS 2007;28(1):20-3.
tendão desbridado. Caso se verifique que 12. Levy JC, Mizel MS, Clifford PD, Temple HT.
a extensão do desbridamento resultou em 1. Deorio MJ, Easley ME. Surgical strategies: Value of radiographs in the initial evaluation
fragilidade do tecido insersional restante, insertional achilles tendinopathy. F A Int. of nontraumatic adult heel pain. .
2008;29(5):542-9. 2006;27(6):427-30.
deve-se reforçar o reparo, sendo a forma 13. Ross E, Engstrom M, Soderberg D. Foot ortho-
2. League AC. Current concepts review: plantar
mais utilizada a transferência do tendão fasciitis. F A Int. 2008;29(3):358-66. sis for the treatment of plantar fasciitis. F A Int.
flexor longo do hálux para o calcâneo. 3. Cheung JT, An KN, Zhang M, Phil M. 2006;27(8):606-11.
Consequences of partial and total fascial 14. Meyer BF, Thober E, Meyer M. Terapia por on-
Esse procedimento pode ser realizado pelo das de choque extra-corpórea (ESWT) aplicada
release: a finite element study. F A Int.
mesmo acesso posterior alargado, exceto 2006;27(2):125-32. na fasciíte plantar crônica (FPC). Revista ABTPé
quando for necessário um tendão mais 4. Ortmann FW, McBryde AM. Endoscopic 2008;2(1):55-60.
longo; neste caso, uma segunda incisão bone and soft tissue decompression of the re-
trocalcaneal space for treatment of Haglund
na borda medial do pé permitirá ter um deformity and retrocalcaneal bursitis. F A Int.
tendão cerca de 3 cm maior. Outra opção 2007;28(2):149-53. Agradecimento
de reforço é por meio do avanço do ten- 5. Nicholson CW, Berlet GC, Lee TH. Prediction A Dr. Rodrigo Simões Castilho, R3 do
of the success of non operative treatment of in-
dão por alongamento do gastrocnêmio, sertional Achilles Tendinosis based on MRI. F A Serviço de Ortopedia e Traumatologia do
que pode permitir 2 a 3 cm a mais para Int. 2007;28(4):472-7. Hospital Mater Dei, pela edição do texto.
INTRODUÇÃO pelos ossos do carpo e como o escafoide avaliar o alinhamento dos ossos do carpo.
A fratura do escafoide é a mais co- encontra-se hiperextendido e bloqueando A cintilografia óssea é pouco específica,
mum entre as fraturas do carpo; ocorre a mediocarpal, com a extensão exagerada mas a tomografia computadorizada é de
com maior frequência em adultos jovens da radiocarpal, sua crista dorsal tocará a grande valor para o diagnóstico precoce e
do sexo masculino praticantes de esportes. reborda posterior do rádio que, servindo avaliação do alinhamento dos fragmentos
Comumente está associada a lesões liga- de fulcro, levará fratura, com o estresse e entre os ossos do carpo, além de iden-
mentares ou fratura de outros ossos do tensil na cortical palmar do osso, onde a tificar fratura em outros ossos. Nesse
punho. Tem grande potencial para com- fratura se inicia. A direção e localização caso, necessita-se dos cortes nos planos
plicações por fatores intrínsecos do osso e do traço da fratura variarão com o grau axial, coronal e sagital (Figura 3). A TC
principalmente, porque com frequência, da extensão e do desvio radial do punho. está sempre indicada nos casos em que há
não é diagnosticada no serviço de urgên- Assim, as fraturas do escafoide ocorrem dúvida quanto ao desvio dos fragmentos
cia. A localização e disposição do escafoi- quando o punho encontra-se estendido e também para determinar se a consolida-
de no punho o tornam mais vulnerável às acima de 90o. ção ocorreu, particularmente em pacien-
fraturas, pois além de um formato oblí- tes com fratura cominutiva1. A ressonân-
quo longo é o único osso do carpo que QUADRO CLÍNICO cia magnética auxilia na identificação de
está funcionalmente presente em ambas O quadro clínico mostra dor dorso- lesões condrais e dos ligamentos do carpo,
as fileiras carpais. Isso é especialmen- radial do punho, edema, que é o reflexo sendo fundamental ao diagnóstico de ne-
te notado na extensão ou hiperextensão da hemartrose, com incapacidade para crose óssea (Figura 4) e à identificação de
do punho, onde o escafoide encontra-se a flexoextensão ampla e perda de força. fraturas ocultas do polo proximal.
verticalizado e bloqueia por completo os Quando não diagnosticada, os sintomas
movimentos da articulação mediocarpal. amenizam com o tempo, mas estão sem- CLASSIFICAÇÃO
Durante a queda com trauma na face pal- pre presentes às solicitações mecânicas. A A classificação das fraturas do escafói-
mar do punho hiperextendido e em desvio palpação da tabaqueira anatômica e do de pode levar em consideração a topogra-
radial, a dissipação da energia é absorvida polo proximal pelo dorso com o punho fia desta, a direção do traço da fratura ou a
pela contração da musculatura flexora, fletido é quase sempre dolorosa e a sino- presença ou não de estabilidade, além do
pelo tensionamento dos ligamentos pal- vite está presente nos casos diagnosticados tempo de sua existência. Ainda não existe
mares intrínsecos e extrínsecos do carpo e, tardiamente. uma classificação ideal, pois fatores como
por último, pelos ossos do punho (carpo lesões concomitantes, necrose óssea e ava-
e rádio distal). A intensidade da energia DIAGNÓSTICO liação tridimensional do escafoide fratu-
cinética liberada dependerá diretamente O diagnóstico é feito com a confir- rado não são levados em consideração.
da altura da queda e a localização da falha mação radiológica da fratura, que muitas Como exemplo, pode-se citar a fratura do
na estrutura do punho, principalmente vezes não é vista nas radiografias iniciais polo proximal do escafoide associada à le-
do grau da extensão do punho em relação (Figura 1). Estas devem incluir radiogra- são do ligamento escafolunar, ou até mes-
ao solo ou objeto durante o trauma. Se a fias oblíquas e na incidência em PA com mo a fratura da porção posterior do polo
energia liberada não for intensa, será dissi- o punho estendido 45o e desviado ulnar proximal com inclusão neste da origem da
pada pela contração muscular reflexa e ab- 20o, pois nessa posição o escafoide esta- porção dorsal do ligamento escafolunar,
sorvida pelo estiramento dos ligamentos rá verticalizado e perpendicular aos raios que teria um prognóstico muito pior que
e cápsula anterior do punho, mas se for (Figura 2). A incidência em perfil muitas o daquela do polo proximal anterior sem
mais intensa que a capacidade de absorção vezes não auxilia na visualização da fratura comprometimento da origem da porção
dessas estruturas, será também dissipada do polo proximal ou do colo, mas permite dorsal desse ligamento. Na radiografia
TRATAMENTO CONSERVADOR
em AP é muito simples visualizar toda a RM poderia mostrar traços de fratura não O tratamento das fraturas do polo
face lunar do escafoide proximal (Figura vistos na TC, além de diagnosticar lesões distal é feito com gesso curto, incluindo o
5), verificando-se a exata localização do ligamentares associadas e possíveis frag- polegar, por quatro a seis semanas. As fra-
traço da fratura (quando visível) ou da mentos ósseos desvacularizados. Assim turas do colo podem ser tratadas com gesso
pseudoartrose e se inclui ou não a origem sendo, constata-se a ausência de uma clas- longo, incluindo o polegar, por oito a 16
do ligamento escafolunar (porção palmar sificação mais completa que inclua outras semanas, com o punho em posição neutra
ou dorsal) no fragmento fraturário ou variáveis. De qualquer forma, as classifica- e incluindo todo o polegar, o tempo de
pseudoartrósico. A TC com cortes axiais ções mais usadas são a de Russe, Herbert e imobilização poderá chegar a 16 semanas.
facilita sobremaneira essa avaliação, e a da Clínica Mayo (Tabela I)2. Felizmente, É importante salientar que o gesso deve-
rá ser bem moldado ao nível do punho e As principais indicações são as fraturas ce de pseudoartrose chega a 55% para
palma da mão. Se após esse período não desviadas ou anguladas, a presença de ins- as fraturas desviadas mais que 1 mm e a
houver consolidação ou se mesmo com tabilidade (lesões ligamentares associadas, 33% para as fraturas anguladas tratadas
o auxílio da TC houver dúvidas quanto como nas fraturas-luxações do carpo) (Fi- conservadoramente3,4.
à consolidação da fratura, considera-se gura 6), as fraturas cominutivas ou asso- Para efeito conceitual, definem-se o
como retardo de consolidação e indica-se ciadas a outras fraturas ao nível do punho retardo de consolidação como a falta de
tratamento cirúrgico. e para os pacientes que não poderiam per- consolidação após quatro meses de trata-
Apesar do tratamento adequado com manecer tanto tempo com a imobilização. mento e pseudoartrose, após seis meses de
gesso, as chances de pseudoartrose variam Recomenda-se também que todas as fra- tratamento sem sucesso.
de 5% a 55%, dependendo do tipo de fra- turas do polo proximal devam ser fixadas, Para efeito didático, má adotada a clas-
tura. Outro problema é a dor e artrose se- bem como aquelas envolvendo a metade sificação topográfica para estabelecer um
cundárias à consolidação viciosa3,4. Muitos proximal do escafoide. Relatos recentes de protocolo para o tratamento cirúrgico.
dos pacientes preferem tratamento cirúr- fixação imediata das fraturas do escafoide
gico objetivando despender menos tempo apontam para índice de consolidação de Fraturas do polo proximal
com o período prolongado de permanência 100%5-7. Esta fratura é por definição instável,
com gesso1. As fraturas instáveis, ou seja, aque- desviada e com limitada nutrição sanguí-
las que têm qualquer dos fatores de mau nea para o fragmento proximal9. Devido
TRATAMENTO CIRÚRGICO prognóstico já citados, deverão ser opera- ao fato de requerer tempo prolongado de
O tratamento cirúrgico das fraturas das (Tabela I). Para os pacientes que não imobilização, bem como ser muito difícil
do escafoide é tema de grande controvér- puderem aderir ao tratamento conser- estabelecer critérios de consolidação por
sia, mas a cada dia tem se tornado mais vador por qualquer causa, também será meio de radiografia ou TC, essa fratura
popular entre os cirurgiões da mão. A ci- indicado o tratamento cirúrgico. Como deve ser fixada, embora se saiba que o
rurgia precoce das fraturas do escafoide é mencionado anteriormente, não há es- procedimento cirúrgico coloque em risco
impulsionada pela melhoria constante dos paço para o tratamento conservador nas a vascularização do osso. Esse risco é mi-
meios de fixação, que, além de proporcio- fraturas do polo proximal, pois são con- nimizado com o uso da fixação percutâ-
nar estabilidade, permitem redução ana- sideradas fraturas instáveis e evoluem nea guiada por intensificador de imagens
tômica e menor tempo de imobilização, com pseudoartrose em 30% dos casos (Figura 7) ou monitorada por artroscopia.
ou até mesmo movimentação imediata. tratados conservadoramente4,5,8. O índi- A abordagem aberta assegura redução e
Figura 6. Síndrome de Fenton. Abordagem posterior com osteossíntese rígida do capitato e escafoide.
D E
fixação adequada do pequeno fragmento. parafusos (Figura 9), de acordo com a fa- balho e preferência do paciente. É de suma
Deve ser abordada pelo dorso do punho, cilidade de cada profissional, e o método importância que o parafuso seja o mais
onde a visualização da fratura é quase de escolha é o parafuso autocompressivo, longo e mais bem centrado possível no
sempre possível. A fixação é feita de forma de preferência dois parafusos canulados, escafoide, pois assim promoverá maior ri-
anterógrada e deve-se preferir o uso de pa- sem cabeça, percutâneos, com monitora- gidez à fixação. Trabalhos prospectivos12,13
rafusos autocompressivos canulados sem ção artroscópica e fluoroscópica1,10,11. Em e retrospectivos5-7,14-18 comprovam 100%
cabeça por proporcionarem maior estabi- pacientes com fratura do colo do escafoide de consolidação em fraturas fixadas per-
lidade à osteossíntese. Caso comporte, o não desviada, a escolha do tratamento é cutaneamente com parafusos canulados.
uso de dois parafusos proporcionará mais baseada na idade, dominância, tipo de tra- A compressão no foco promove a conso-
estabilidade, terá efeito antirrotacional no
fragmento e aumentará a chance de con-
solidação. A fixação do polo proximal para
o distal assegura maior resistência devido
à capacidade de travar melhor o pequeno
fragmento proximal5. A fixação retrógrada
também pode ser usada, mas não permite
um controle tão rigoroso da redução nem
assegura a centralização do parafuso no
fragmento proximal, que muitas vezes é
menor que o comprimento da rosca das
extremidades do parafuso. A mobilização
deve ser retardada nesses casos. Para as
fraturas do polo proximal com fragmento
anterior é necessária flexão exagerada da
radiocarpal para que o fragmento seja al-
cançado via anterógrada.
Fraturas do colo
As indicações cirúrgicas para esta
fratura foram citadas anteriormente e a
abordagem poderá ser palmar ou dorsal Figura 8. Fixações retrógrada e anterógrada das fraturas do colo do escafoide.
(Figura 8), sendo feita com um ou dois Indicações conforme o texto.
Figura 12: Osteossíntese de pseudoartrose do colo do escafoide com interposição de enxerto corticoesponjoso em cunha e
fixação com parafuso de Herbert retrógrado.
Correspondência para:
Ronaldo Percopi de Andrade
Av. Bernardo Monteiro, 1440
CEP 30150281
Belo Horizonte MG
e-mail: percopi@yahoo.com.br
RESUMO
Figura 5. A - Lesão em ALPSA mostrando a cicatrização medial do complexo capsulolabral. B - Após seu descolamento
e C - Reconstrução cirúrgica com a criação de um anteparo anterior.
91%. Sachs et al. correlacionaram os re- Os autores consideraram que rotação sejam adequadamente esclarecidos e
sultados de pós-operatório de cirurgia externa do ombro maior que 85º e hipe- a decisão seja a melhor para cada pa-
aberta com a função do subescapular. Em rabdução acima de 90º são fortemente ciente (Tabela 1).
30 pacientes seguidos por quatro anos, indicativos de hiperfrouxidão anteroinfe-
27% tinham disfunção do subescapular e, rior do ombro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
na avaliação funcional, apenas 57% deles Dividiram os pacientes em três grupos
foram avaliados como bons e excelentes. diferentes e criaram um sistema de ava- 1. Hovelius L. Incidence of shoulder dislocation in
Nos 77% sem disfunção do subescapular, liação, que estabeleceu o prognóstico da Sweden. Clin Orthop Relat Res 1982;166:127-
31.
na avaliação funcional 91% foram consi- reconstrução artroscópica. 2. Rowe CR. Prognosis in dislocation of the shoul-
derados bons ou excelentes. Há também der. J Bone Joint Surg Am 1956;38:957-77.
maior tendência de maior perda de rota- SISTEMA DE AVALIAÇÃO 3. Lippit SB, Vanderhooft J, Harris SL, Sidles J,
Harryman DT, Matsen F III. Glenohumeral sta-
ção externa nas reconstruções abertas que DA COMPLEXIDADE DA bility from concavity-compression: a quantitative
nas artroscópica37. INSTABILIDADE analysis. J Shoulder Elbow Surg 1993;2:27-34.
Se a cirurgia artroscópica tem hoje Grupo I: total de pontos inferior ou igual 4. Saha AK. Dynamic stability of glenohumeral
joint. Acta Orthop Scand 1971;42:491-505.
resultados correspondentes aos da cirur- a 3 – índice de recorrência igual a 5%. 5. O Brien SJ, Arnoczsky SP, Warren RF, Rozbru-
gia aberta, com a vantagem de ser menos Grupo II: total de pontos inferior ou igual ch SR. Developmental anatomy of the shoulder
traumática, respeitar de maneira mais ade- a 6 – índice de recorrência igual a 10%. anatomy of glenohumeral joint. In: Matsen F,
Rockwood C (eds). The shoulder. – Philadel-
quada a anatomia e poder tratar as lesões Grupo III: total de pontos inferior ou phia, Saunders, 1990. pp 1-33.
associadas, fica a pergunta: maior que 6 pontos – índice de recorrên- 6. Itoi E, Hsu HC, An KN. Biomechanical inves-
cia igual a 70%. tigation of glenohumeral joint. J Shoulder Elbow
Surg 1996;5:407-24.
É POSSÍVEL PREVER OS RISCOS As razões para a recorrência em cirur- 7. Williams MM, Snyder SJ, Bufford D. The Bu-
DE UMA RECONSTRUÇÃO gia artroscópica são, portanto, multifato- fford complex: the corlike middle glenohume-
ARTROSCÓPICA? riais, mas as causas mais previsíveis de ris- ral ligament and absent anterosuperior labrum
complex. A normal anatomic capsulolabral va-
Os riscos da cirurgia artroscópica, co continuam sendo a idade, a perda óssea riant. Arthroscopy 1994;10:241-47.
quando da presença de falha óssea da da glenoide e a hiperelasticidade20,39,40. 8. Itoi E, Motzkin NE, Browne AO, Hoffmeyer P,
glenoide, foram extensamente discutidos Os pontos anteriores devem ser Morrey BF, An KN. Intrarticular pressure of the
shoulder. Arthroscopy 1993;9:406-13.
neste trabalho, mas existem outras condi- vastamente discutidos para que os ris- 9. Hunt SA, Kwon YW, Zuckerman JD. The ro-
ções quando associadas que podem levar cos e benefícios de cada procedimento tator interval: anatomy, pathology and stra-
a um prognóstico reservado desse proce-
dimento. Balg e Boileam38 avaliaram um
grupo de pacientes tratados por artrosco- Tabela 1. Escala de avaliação
pia com recidiva da instabilidade e, após
Fatores prognósticos Pontuação
correlacionar as possíveis causas de falha,
Idade à cirurgia d 20 anos 2
estabeleceram as condições pré-operatórias > 20 anos 0
que poderiam ser consideradas de risco: Prática esportiva Competição 2
idade inferior ou igual a 20 anos, prática Recreação 0
esportiva de competição, atividade espor- Tipo de esporte Contato ou ABER 1
tiva de contato e/ou que exige movimen- Outros 0
tos de abdução/rotação externa, presença Frouxidão do ombro Hiperfrouxidão 1
de hiperfrouxidão, percepção da lesão de Normal 0
Hill-Sachs no RX em rotação externa e Hill-Sachs no RX em AP Em rotação externa (RE) 2
perda do contorno da glenoide visível no Não visto em RE 0
RX. Com esses fatores prognósticos, criou Perda do contorno glenoide visível no RX Visível 2
uma escala de avaliação. Sem lesão 0