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63-Fonte da Penha - Lied para Orfeão

Uma das belezas naturais do monte de Santa Catarina, é a sua fonte, a brotar directamente da rocha.

O cronista-mor de Guimarães, João Lopes Faria, noticia a sua inauguração, a 13 de Junho de 1887 (e cito):

Foi benzida pelo padre António Afonso Carvalho e inaugurada uma bica de água que, a expensas de António Ferreira
Caldas, vem duma gruta próximo à capela de Sta Catarina e por baixo do monumento de Pio IX. Abriu a torneira Dona
Maria do Carmo e Silva, mãe do padre Carvalho e duas meninas ofereceram água nova em taças de prata à multidão…
Seguiu-se um Te Deum na gruta da ermida. Ferreira Caldas ofereceu abundante jantar aos membros da irmandade e da
comissão de melhoramentos, havendo alguns que se esqueciam com os copos e tornaram-se muito alegres…

Quase 50 anos depois, no último dia de Março de 1935, foi lá colocada uma lápide com um poema de Bráulio Caldas,
com o título, Murmura, fonte, murmura. Este poema data do longínquo ano de 1885, e inspirado por este ser um
dos locais favoritos por onde o poeta gostava de passear.

Um grupo de amigos seus, achou adequada esta forma de o homenagear.

Este lied para Orfeão foi composto pelo professor José Neves, em 1938, um conhecido professor de composição do
Conservatório de Música do Porto e professor no Círculo de Arte e Recreio, que o adoptou como patrono para a sua
escola de música. A dedicatória diz: «ao meu amigo Jerónimo Sampaio, grande amigo do poeta Dr. Bráulio Caldas».
Ou seja, homenagem a amigo de um amigo.

«Lied» é um termo adoptado do alemão para «Canção». É de uma Canção que se trata, arranjada para Coro misto e,
nesta versão, com uma ligeira modificação. As partes que o compositor previa para canto de boca fechada foram
substituídas e interpretadas por 2 flautas e dois clarinetes.

Porque o compositor lhe chamou Lied para um Orfeão, o excerto que vamos ouvir foi interpretado, naturalmente,
pelo Orfeão de Guimarães, em 24 de Março de 2017.

Deixo aqui a beleza do poema de Bráulio Caldas:


Murmura, fonte, murmura,
É brando o teu murmurar
Que meiguice, que ternura
Tu tens nesse soluçar
Cada gota do teu pranto
Que sobre esta penha cai,
É uma pérola de encanto
Que sobre a terra se esvai.
Murmura, fonte murmura
Geme transida de dor
Teu pranto, a própria doçura
Diz saudade, diz amor.

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