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”: UMA
LEITURA DE UM LIVRO DIDÁTICO SOB A
PERSPECTIVA DO MODELO DOS CAMPOS
SEMÂNTICOS
Viviane Cristina Almada de Oliveira
Sobre frações
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Ao longo do texto, destacaremos a palavra significado(s) entre aspas para marcar que a compreensão do(s)
autor(es) que a utilizaram é distinta da que temos segundo o MCS.
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ficado é aquilo que o sujeito pode e efetivamente diz sobre o objeto numa
dada atividade15” (LINS; GIMÉNEZ, 1997, p. 145); o significado não é o
conjunto do que poderia ser dito sobre fração, mas o que é dito sobre fração.
Entendemos que o objeto, aquilo sobre o que o sujeito fala, não está
previamente constituído; ele é exatamente aquilo que se constitui durante a
fala do sujeito a partir de um resíduo de uma enunciação. Portanto, o que é
fração para o aluno não está dado a priori; é aquilo que ele fala sobre fração
no interior de uma atividade.
A partir de um mesmo resíduo de enunciação – por exemplo, “2/3 de
72 é 24” – podem ser produzidos diferentes significados. Essa consideração
vale também para um mesmo trecho de um livro didático, apartir do qual
podem ser produzidos diferentes significados. Assim, acreditamos que não
exista, para aquele trecho do livro, uma essência e diversas interpretações
possíveis; entendemos, como Lins (1999; 2012), existirem, sim, possíveis e,
eventualmente, distintos significados produzidos a partir daquele trecho.
Tendo em vista nossa compreensão de significado, vale aqui ressaltar-
mos que, mesmo acreditando na impossibilidade de se dar conta de todos os
possíveis significados produzidos para frações, apresentar e discutir alguns
deles constitui um fazer importante em contextos de formação de profes-
sores, pois, desse modo, são criadas oportunidades de se ampliar nossos
repertórios de leitura de situações de sala de aula; nesse caso, daquelas que
envolvem frações.
Voltemos ao livro didático. Falamos dele nessa discussão sobre sig-
nificados produzidos a partir de um texto por entendermos que ele exerce
influência na prática pedagógica de um considerável grupo de professores;
tanto de professores polivalentes, que geralmente lecionam nos anos iniciais
do ensino fundamental, quanto de professores de Matemática dos anos
finais do ensino fundamental e do ensino médio. Particularmente, no que
diz respeito ao tratamento das frações, muitas vezes, o livro didático chega
a ser o direcionador das ações do professor em sala de aula.
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Segundo Leontiev (1978): “Nem todo processo é uma atividade. Nós designamos apenas por este termo os
processos que, realizando tal ou tal relação do homem com o mundo, respondem a uma necessidade particular
que lhes é própria. [...] Designamos pelo termo de atividade os processos que são psicologicamente caracterizados
pelo fato de aquilo para que tendem no seu conjunto (o seu objeto) coincidir sempre com o elemento objetivo
que incita o paciente a uma dada atividade, isto é, com o motivo” (p. 296). Quanto a motivo:
“d
esigna aquilo em que a necessidade se concretiza de objetivo nas condições consideradas e para as quais a ati-
vidade se orienta, o que a estimula” (p. 97). Para Lampreia (1999), a atividade está ligada a um motivo, se realiza
em termos de ações relacionadas a um objetivo (o que fazer), e envolve o como realizar tais ações.
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Constitui parte do trabalho de monografia do Curso de Especialização em Educação para Ciência, oferecido
pelo NEC/Faced/UFJF, em 1998-1999. Na ocasião, a escolha do tema frações foi motivada tanto pelo seu apelo
prático quanto pelas dificuldades no seu ensino e aprendizagem (OLIVEIRA, 1999).
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Quantidades contínuas [áreas e comprimentos, por exemplo] referem-se ao modelo que podem ser subdivididas
de várias formas, repetidas e infinitas; o modelo de quantidades discretas [só permite divisão e contagem com
uma menor ênfase em relação ao todo] (PITKETHLY; HUNTING, 1996 apud MACIEL; CÂMARA, 2007, p. 165,
grifos do autor, comentários nosso).
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O segundo problema consta apenas na primeira edição do livro Vivência e construção (volume 3); o primeiro,
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Quadro 1
Coloque X nas adições de soma 1.
Quadro 2
A distância entre São Paulo e Porto Alegre é 1.120 quilômetros. Um ônibus parou
no posto depois de percorrer 3 dessa distância. Quantos quilômetros ele ainda irá
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percorrer?
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Em Silva (2003) encontramos uma investigação sobre a dinâmica do processo de produção de significados
para a matemática.
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caso ela tenha sido um dos alunos que não o resolveu, tal situação caracte-
rizaria um obstáculo epistemológico.
Ressalvamos aqui que, ao apresentarmos campos semânticos, não
temos a intenção de estabelecê-los, fixá-los e, a partir disso, localizar alunos
dentro de um ou de outro. O que queremos mostrar é como eles constituem
diferentes maneiras de produzir significado a partir de um mesmo resíduo
de enunciação; e que cada uma dessas maneiras pode ou não corresponder
à direção desejada pelo professor. Por isso, a importância de entender a
forma de operar do aluno, para, então, chamá-lo a falar de outra maneira,
se preciso for.
Para lidar com uma dificuldade – seja ela um limite ou um obstáculo
epistemológico – é preciso “fazer que os alunos discutam explicitamente
as justificações que têm para suas crenças-afirmações, quer dizer, que
discutam e examinem os Campos Semânticos nos quais está operando”
(LINS, 1994, p. 52).
Os campos semânticos apresentados anteriormente foram meramente
ilustrativos e inspirados na leitura do livro didático de Dante (1997). Esses
e muitos outros tantos significados poderiam ter sido aqui colocados ou
aparecerem em nossas salas de aula.
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Referências
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