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GPEHM JR.
2023.1
GRUPO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA - JUNIOR
CALENDÁRIO DE REUNIÕES 2023.1
Dia/Horário: Terça às 17h
Local: LABMATEN/UECE e Meet
CRONOGRAMA DE REUNIÕES
11.04
REMATEC, [S. l.], v. 8, n. 12, p. 07–21, 2013. [Baixe Aqui] Meet
D’AMBROSIO, U. Tendências e Perspectivas Historiográficas e Novos Desafios
UECE/
25.04 na História da Matemática e na Educação Matemática. Educ. Matem. Pesq,
Meet
São Paulo, v. 14, n. 3, p.336-347, 2012. [Baixe Aqui]
MIGUEL, A. Breve ensaio acerca da participação da história na apropriação do
saber matemático. In: SISTO, F. F.; DOBRÁNSZKY, E. A.; MONTEIRO, A. (Orgs.).
UECE/
02.05 Cotidiano escolar: questões de leitura, matemática e aprendizagem.
Meet
Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: USF, 2001, p. 100-117. [Disponível na
sede]
MAIO
Obs. Os textos estarão disponíveis na sede do GPEHM e/ou nos sites veiculados as
revistas e livros.
Maria Aparecida Viggiani Bicudo • Marcelo de Carvalho Borb,1
(Organizadores)
V ários autores.
Bibliografia. EDUCAÇAO
ISBN 85-249-0985-4
. 2 Pesquisa educacional
1. Matemática - Estud? e ensl~o Borba Marcelo de Carvalho.
L Bicudo, Maria Aparecida Vlgglam.. ,
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/MAtEMÁ TICA:
CDD-501.7
04-0802
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16~
EDUCAÇÃO MATE11ÁTICA 165
nossos bacharelado e licenciatura) tem sido intensificada e mesmo incenti- e) os estudantes podem entender que elementos como erros, incerte-
vada. Essa atitude tem um componente político forte, dado que zas, argumentos intuitivos, controvérsias e abordagens alternati-
vas a um problema são legítimos e fazem parte do desenvolvimen-
Muitas pessoas têm estudado, aprendido e usado matemática há mais de +000 to da Matemática;
anos. Sobre o que deve ser ensinado, e como, no fundo são decisões políticas, f) os alunos também podem identificar que, além dos conteúdos, a
influenciadas por vários fatores, como a experiência dos professores, expectativa Matemática possui forma, notação, terminologia, métodos compu-
dos pais e dirigt'ntes, e o contexto social de debates sobre o currículo.'
racionais, modos de expressão e representações;
g) os professores podem identificar, na História da Matemática, moti-
Assim, a inserção formal da História da Matemática no âmbito edUG1-
vações na introdução de um novo conceito;
cional concretiza e fortalece sua relação com a Educação Matemática, abrindo
h) os professores podem identificar que algumas dificuldades que sur-
perspectivas de pesquisas em varias frentes. Isso se revela importante, pois
gem em sala de aula hoje já apareceram no passado, além de cons-
ainda há escassez de pesquisas envolvendo diretamente a Educação Mate-
tatar que um resultado aparentemente simples pode ser fruto de
mática. Muitas tratam a\-~l'nas da própria História da Matemática ou de
uma evolução árdua e gradual;
relatos de professores interessados no uso da História em sala de aula, em
i) a História pode evidenciar que a Matemática não se limita a um
geral citando datas l' dados biográficos, ou abordando aspectos curiosos ou
sistema de regras e verdades rígidas, mas é algo humano e envol-
ancdóticos da História, estes, como sabemos, nem sempre comprovados.
vente;
.\1as que motivaçôcs sustentam investigações que relacionam a Histó- j) o estudo detalhado de exemplos históricos pode dar a oportunida-
ria e a Educação Matemática? Pudemos extrair vários argumentos que de- • de aos alunos de compreender que a Matemática é guiada não ape-
Icndern a introdução da História da Matemática no processo educacional nas por razões utilitárias, mas também por interesses intrínsecos à
como fator de melhoria no ensino de Matemática: própria Matemática;
a) o desenvolvimento histó;ico da Matemática mostra que as idéias, k) a História da Matemática fornece uma oportunidade a alunos e pro-
dúvidas e críticas que foram surgindo não devem ser ignoradas dian- fessores de entrar em contato com matemáticas de outras culturas,
te de uma organização linear da Matemática. Ele revela que esse além de conhecer seu desenvolvimento e o papel que desempenha-
tipo de organização axiomática surge apenas após as disciplinas ramo Essa visão mais ampla descaracteriza a falsa visão que passa a
adquirirem maturidade, de forma que a Matemática está em cons- Matemática em sua forma moderna, como fruto de uma cultura
tante reorganização; apenas, a ocidental.
b ) a História da Matemática levanta questões relevantes e fornece pro-
Contrapondo-se a esses argumentos, há outros desfavoráveis à incor-
blemas que podem motivar, estimular e atrair o aluno;
poração da História em sala de aula de Matemática:
c) a História fornece subsídios para articular diferentes domínios da
a) História não é Matemática;
Matemática, assim como expor inter-relações entre a Matemática e
b) a História pode se tornar um dificultador para a compreensão dos
outras disciplinas, a Física, por exemplo;
conceitos;
d) o envolvirnento dos alunos com projetos históricos pode desenvol-
c) uma visão distorcida do passado pode impossibilitar uma contex-
ver, além de sua capacidade matemática, o crescimento pessoal e
tualização eficaz da Matemática;
habilidades como a leitura, escrita, procura por fontes e documen-
d) a aversão que algum aluno possa ter à História implicaria uma aver-
tos, análise e argumentação;
são à História da Matemática e, conseqüentemente, à Matemática;
e) o estudo do passado é perda de tempo, dado que os avanços da Ma-
1. Fauvel & Maanen, 2001, p. 1, tradução nossa. temática ocorrem exatamente para resolver problemas complicados;
. ~
" .
169
168 BICUDO • BORBA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
;
3. Fauvel & Maanen, 2001, p. 39, tradução nossa. Maanen, 2001, p. 131.
10. Carvalho, Brazil: The Concepl oj Function in l,,-Service TrainiMg, in Fauvel & Maanen, 2001,
4. FauveJ &: Maanen, 2001, p. 40, tradução nossa.
5. Fauvel & Maanen, 2001, p. 110, tradução nossa. p.137.
..
_ _-_._--_._--_._----------------- .. .
173
172 . BICUDO • BORBA EDUCAÇÃO MATEMÃTICA
tória da Matemática a alunos de Ensinos Fundamental ou Médio. Uma das g) usar a dramatização ou produção de textos para sensibilizá-los so-
razões poderia ser o fato de que normalmente o professor que ensina His- bre as realidades do passado e presente, apresentando as dificulda-
tória da Matemática em instituições de nível superior não é o mesmo das des e diferenças de cada época.
instituições de ensino básico. E, quando encontramos algum professor se-
cundário ensinando História da Matemática, num viés pedagógico, geral- Outra questão que surge a partir disso é: Como fundamentar, ilustrar,
mente é por diletantismo, um trabalho amador, e não porque ele tivesse realizar ou implementar tais ações? Essa é a grande e mais polêmica ques-
sido treinado para tal. Embora lentamente, em alguns países isto está mu- tão. Até o momento não há consenso estabelecido. Embora tenhamos vá-
dando. E, para que essa mudança ocorra, é preciso, em primeiro lugar, que rios exemplos de experiências realizadas, as avaliações são excessivamente
os professores dos Ensinos Fundamental e Médio recebam capacitação que acanhadas, não permitindo, ainda, estabelecer parâmetros de conformida-
os torne aptos a entender sobre a História da Matemática e a conectá-la aos de. Vamos listar algumas formas de integrar a História da Matemática em
conteúdos trabalhados em sala de aula. sala de aula, mas observamos que qualquer uma delas apresenta dificulda-
Assim, as experiências que geram essas mudanças estão ocorrendo, des inerentes à própria atividade, além de requerer preparo e disposição
apesar dos diversos argumentos desfavoráveis à utilização da História em do professor que vai colocá-Ia em prática. Destacamos:
sala de aula. Acredita-se que a História da Matemática seja um instrumen- a) desenvolvimento de projetos inspirados pela História. Exemplos:
to que destaca o valor da Matemática em sala de aula e mostra aos alunos a • uma introdução heurística à análise inspirada pelo seu desenvolvi-
amplitude da mesma, fazendo-os perceber que a Matemática vai muito além
mento hístórico:"
dos cálculos. Além disso, acredita-se também que a História da Matemáti-
• como a História pode ajudar no ensino de conceitos probabilísticos:"
ca pode apoiar diversas necessidades educacionais e promover mudanças.
13
Neste sentido, o uso da História da Matemática pode servir a diversas si- • trigonometria istórica:
na or d em histó
tuações, dentre as quais as seguintes:
b) Aspectos culturais da Matemática numa perspectiva histórica.
a) apresentar a História da Matemática como elemento mobilizador
em salas de aulas numerosas ou com alunos que apresentam difi- Exemplos:
culdades de aprendizagem; • sistemas numéricos e suas representações;l"
b) usar a História da Matemática na educação de adultos, promoven- • teorema de Pitágoras em diferentes culturas:"
do a oportunidade ao aluno de observar, ao longo da história, o
esforço de pessoas para superar dificuldades semelhantes àquelas c) Tratamento detalhado de exemplos particulares. Exemplos:
que eles próprios possam estar vivenciando; • como conceitos elementares de geometria euclidiana foram usados
c) apresentar as idéias da História da Matemática a alunos bem dota- para resolver problemas de sobrevivência em tempos passados:"
dos, que possam estar se sentindo desestimulados perante a classe,
satisfazendo ou dando respostas a questionamentos tais como "o
11. Schneider, A Heuristu: IlllroductiVllloAn/ysis IlIlp/icit/y Insl'ir"d /Jy its Historical De1,el°PIlle>lI,
quê?", "como?", "quando?";
in Fauvel & Maanen, 2001, p. a5.
d) utilizar a História da Matemática como estímulo ao uso da biblioteca; 12. Lakoma, Hot» ;>;Iay History Help the Teaching ofProbabilistic COIlC<,ptS?, in Fauve\ & Maanen,
• teoria da proporção e a geometria de áreas;" Assim, o uso desse recurso possibilita discutir vários aspectos:
• a relação entre Geometria e Física:" • o valor específico e a qualidade de fontes primárias;
• a compreensão da evolução das idéias;
d) Aperfeiçoando o conhecimento matemático, por meio da' História
da Matemática. Exemplos: • a relatividade da verdade e a dimensão humana da atividade mate-
mátíca;
• História da Educação Matemática:"
• as relações entre Matemática e Filosofia;
• ensinando Matemática no segundo grau numa perspectiva histórica:"
• as perspectivas em Educação Matemática;
• a História e a educação de adultos - ensinando sobre e por meio da
História e Etnomatemática." • a integração de fontes primárias em cursos de formação de professor;
• a integração de fontes primárias em sala de aula;
Também o uso de fontes originais como recurso tem sido observado, • as estratégias didáticas para integrar fontes.
mas dentre as várias atividades possíveis, para as quais os aspectos históri-
cos podem ser integrados ao ensino de Matemática, o estudo de uma fonte As dificuldades inerentes à utilização de fontes históricas podem se tor-
original é a mais exigente e que demanda mais tempo. Em muitos casos, nar mais amenas nos casos em que se pode lançar mão de recursos não-con-
uma fonte requer um entendimento detalhado e profundo da época em vencionais, tais como programas computacionais, www.dramatização.Es-
que foi escrita, do contexto geral de idéias, além do entendimento da lín- ses recursos, quando disponíveis, podem oferecer oportunidades de melho-
gua. Podemos destacar três idéias gerais que poderiam descrever melhor rar ou mesmo de que aconteçam experiências educacionais importantes. •
os efeitos de estudar uma fonte. Estas são as noções de:
• substituição: permite ver a Matemática como uma atividade intelec-
tual ao invés de apenas um corpo de conhecimento ou um conjunto
lAs Pesquisas Desenvolvidas pelo GPHM
de técnicas;
Em Rio Claro, desde os primórdios da implantação do Departamento
• reorientaçãb: a História nos lembra que alguns conceitos matemáti- de Matemática, a História da Matemática teve adeptos. Como exemplos,
cos foram criados e que isso não ocorreu por geração espontânea; podem ser citados os professores Ubiratan D' Ambrosio, Rubens Gouvea
• compreensão cultural: a História nos convida a colocar o desenvolvi- Lintz e Irineu Bicudo, que passaram pelo Departamento e, apesar de não
mento da Matemática no contexto científico e tecnológico de um terem a História da Matemática como suas principais linhas de pesquisa,
período particular e na história das idéias e sociedades, e também a sempre demonstraram grande interesse pela área. Há vários anos, a disci-
olhar a História do Ensino da Matemática a partir de perspectivas plina História da Matemática figura como disciplina obrigatória aos cursos
que se encontram fora das fronteiras estabelecidas pelos conteúdos de bacharelado e licenciatura deste departamento. A partir de meados da
das disciplinas. década de 90, foi formado o Grupo de Pesquisa em História da Matemática
(GPHM), registrado no CNPq. Este Grupo de Pesquisa, cujos professores
responsáveis são Marcos Vieira Teixeira, Rosa Sverzut Baroni e Sérgio No-
17. Correia de Sá, TIleory oj Proportion and the Geometry of Areas, in Fauve! & Maanen, 2001, P: 276, bre, foi, e continua sendo, o promotor de diversas atividades acadêmicas
18. Tzanakis, The Relation betuieen Geometry and Physics: An Example, in Fauvel & Maanen, 2001, voltadas à História da Matemática, que foram realizadas no campus. Den-
p.283.
tre estas atividades, destacam-se:
19. Cispert & Keung Siu, History of Mathematics Education, in Fauve! & Maanen, 2001, p. 286.
20. Katz, Teaching Secolldary Mathemaiics in a Historical Perspective, in Fauve! & Maanen, 2001,
• Simpósio sobre História das Ciências (1995);
p.288. . • II Encontro Luso-Brasileiro de História da Matemática e II Seminário Nacio- .
21. Cail FitzSirnons, Adult's Mathematics Educational Histories, in Fa';lvel & Maanen, 2001, p. 289. nal de História da Matemática (1997, realizado em Águas de São Pedro);
. ..
176 BICUDO· BORBA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 177
• Jornadas Unespianas de História da Matemática (6 encontros: Memória o tema relativo à investigação sobre a História da Matemática e da
X História, 1998; 1958-1998 - 40 anos de Departamento de Matemática Educação Matemática no Brasil é amplo e pode ser desenvolvido através
da FFCL Rio Claro, 1998; Matemática: Invenção ou Descoberta?, 1999; de diferentes subtemas. Em nosso Grupo de Pesquisa, abrimos algumas
David Hilbert e os Problemas Matemáticos para o Século XX .:..-Cem Anos frentes de investigação, e delas resultaram, ou ainda estão em andamento,
de História, 2000; 70 Anos de Vida - 50 anos de Matemática: Relatos alguns trabalhos científicos. Apresentamos abaixo os itens:
Pessoais sobre a História Recente da Matemática no Brasil, 2001; Colóquio
Mário Tourasse Teixeira, 2003);
• Seminários Avançados de História da Matemática; 3./. História /nstitucional - História de Personagens
• V Seminário Nacional de História da Matemática (2003).
o objetivo principal deste projeto de pesquisa é realizar estudos histó-
Ainda em termos de organização de atividades acadêmicas, membros ricos voltados às instituições educacionais que contribuíram para o desen-
do Grupo de Pesquisa em História da Matemática participam ativamente volvimento da Matemática no Brasil, com ênfase no Estado de São Paulo.
da organização dos eventos nacionais e de alguns eventos internacionais. Os primeiros trabalhos científicos realizados nesse sentido dizem respeito
Deve-se destacar que um dos coordenadores do GPHM é o representante às primeiras escolas de ensino superior em Matemática no interior do Esta-
brasileiro na Comissão Internacional de História da Matemática. Destaca- do de São Paulo. Foram pesquisadas as origens de três instituições de ensi-
se também a participação ativa de membros do GPHM na Sociedade Brasi- no superior do interior do Estado, que foram pioneiras no campo da Mate-
leira de História da Matemática - SBHMat - , que, por sinal, possui sua mática: o curso superior de Matemática da atual Pontifícia Universidade
sede nacional nas dependências do Departamento de Matemática da Católica de Campinas, criado em 1942, o curso de Engenharia da Escola de
UNESP-Rio Claro. O secretário-geral e o tesoureiro da SBHMat são docen- Engenharia da USP - São Cartas, criado em 1953 e o curso superior de
tes deste Departamento. O editor e uma das co-editoras da Revista Brasileira Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, atual
de História da Matelllátiéa: an Intern~tiol1al [ournal 0/1 the History of Mathematics Unesp-carnpus de Rio Claro, criado em 1958. Os resultados inicialmente
- ISSN 1519-955X -, publicação científica da Sociedade, também são mem- alcançados no desenvolvimento destas pesquisas abriram novos horizon-
bros do GPHM. As atividades científicas implementadas pelo GPHM se tes para que outras pesquisas específicas pudessem ser realizadas. Algu-
centralizam nas pesquisas realizadas por seus professores-coordenadores, mas pesquisas relativas a temas específicos decorrentes dessas primeiras
por alunos que freqüentam as reuniões do Grupo e por professores que, pesquisas realizadas também já foram concretizadas. Um exemplo é a pes-
embora não participem regularmente das atividades do Grupo, mantêm quisa realizada sobre um movimento de Educação Matemática organizado
vínculo através da afinidade nas pesquisas. na UNESP-Rio Claro. Este movimento, intitulado S.A.P.O. - Serviço
A História da Matemática no Brasil está intimamente ligada à Histó- Ativador em Pedagogia e Orientação - que esteve em atividade em mea-
ria da Educação Matemática no Brasil, pois, seja qual for o domínio do co- dos da década de 1970, pode-se dizer, serviu como mola propulsora para o
nhecimento matemático produzido no Brasil, de alguma forma, ele estará movimento acadêmico que culminou com a organização institucional do
vinculado a questões educacionais. Uma outra razão para tal vinculação Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática na mesma institui-
diz respeito ao fato de que, para se investigar a história do movimento de ção. Tanto o trabalho referente à história da Faculdade de Filosofia, Ciên-
Educação Matemática no Brasil, também deve ser levado em consideração cias e .Letras, como o trabalho referente ao S.A.P.O., são documentos histó-
o fato de que, juntamente com as questões educacionais, protagonistas des- ricos que se acrescentam à história do Programa de Pós-Graduação em Edu-
te movimento, sejam eles instituições ou indivíduos, tiveram participações cação Matemática, que no ano de 2004 completa 20 anos de existência.
essenciais para o desenvolvimento científico da Matemática no país. Neste Uma outra investigação científica, abordada pelo Grupo de Pesquisa
~5enl'ido, optamos por considerar estas duas áreas de investizacão
o
científica
>
em História da Matemática, referente ao tema Instituições, diz respeito a
como uma única. investigações históricas sobre a Academia Real Militar e à criação dos pri-
178 BICUDO • BORBA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
179
meiros cursos acadêmicos, ligados à Matemática, no Brasil. Assim como no de grande pertinência em nossas investigações científicas. A organização
item anterior, este também nos forneceu diferentes caminhos, que passam de imigrantes alemães no Brasil e suas contribuições para o desenvolvi-
pela análise histórica sobre o desenvolvimento curricular na instituição aci- mento da Matemática escolar em suas comunidades, o que possibilitou a
ma referida, e também em outras, onde são investigados os desenvolvi- transferência destas contribuições para o sistema educacional brasileiro,
mentos históricos de determinados conteúdos matemáticos e também de também ~ uma área de grande interesse para as pesquisas desenvolvidas
disciplinas presentes nos currículos de algumas instituições. Exemplos de pelo Grupo. Neste aspecto, destaca-se a relevância de editoras específicas,
temas de pesquisa desenvolvidos referentes a este assunto são: desenvolvi- algumas situadas na região sul do país, que atendiam o professorado ale-
mento histórico da Estatística no Estado de São Paulo; as primeiras disser- mão no Brasil, e suas publicações de materiais didáticos em Matemática.
tações de doutorado defendidas no Brasil; o desenvolvimento da discipli-
na Cálculo Diferencial e Integral na Escola Politécnica de São Paulo; o apa-
recimento do Teorema de L'Hospital no decorrer dos tempos em livros di- 3.2. História da Matemática Luso-Brasileira
dáticos de Cálculo Diferencial e Integral; a história da introdução da disci-
plina Cálculo Numérico em cursos superiores de Matemática no Brasil; a Classificamos o assunto História da Matemática Luso-Brasileira, como
história da introdução de conteúdos considerados como "matemática finita" um complemento ao tema geral História da Matemática e da Educação
em cursos dos Ensinos Fundamental e Médio no Brasil. Matemática no Brasil, pois, assim como não se pode desconectar a História
Diretamente ligado ao tema história de instituições, está a história de da Matemática da História da Educação Matemática, ambas têm também
fortes ligações com a História da Matemática em Portugal. Para implernen-
personagens que atuaram nessas instituições e deram grande contribuição
ao desenvolvimento da Matemática e da Educação Matemática no Brasil. tar este tema, como parte de nossas investigações histórico-científicas, foi
realizada uma pesquisa na Biblioteca Nacional, na cidade do Rio de Janei-
Uma pesquisa desenvolvida no Grupo de Pesquisas teve como tema" A
ro, com vistas a se ter uma noção sobre os títulos de Matemática ali existen-
Participação da Mulher no Movimento da Matemática e da Educação Ma-
tes. Desta pesquisa surgiram outras que culminaram em trabalhos científi-
temática no Brasil". Outras pesquisas estão começando a ser desenvolvi-
cos. O elo de ligação entre o desenvolvimento da Matemática em Portugal
das, através da pesquisa histórica sobre a vida e a contribuição à Matemáti-
e Brasil foi assunto de alguns trabalhos realizados em nosso Grupo de Pes-
ca de docentes que atuaram na fundação de algumas instituições no inte-
quisa. Trabalhos de Pedra Nunes, Manoel de Azevedo Fortes, José Fernan-
rior do Estado de São Paulo, com destaque ao Prof. Mário Tourasse Teixeira
des Pinto Alpoím, dos jesuítas Inácio Monteiro e Monteiro da Rocha e de
e Prof. Nelson Onuchic, que foram fundadores do Departamento de Mate-
Anastácio da Cunha foram temas de trabalhos científicos desenvolvidos.
mática da UNESP-Rio Claro, sendo que o Prof. Nelson Onuchic também
teve brilhante participação na Escola de Engenharia da USP de São Carlos.
Contribuições institucionais para o desenvolvimento da Matemática 3.3. História da Matemática e sua Incorporação em Sala de Aula
e da Educação Matemática no Brasil não se restringem somente aos institu-
tos superiores. Há também estabelecimentos educacionais de Ensino Fun- Este tema é considerado pelos coordenadores do GPHM como o mais
damental e Médio, estabelecimentos gráfico-editoriais, comunidades reli- delicado, pois requer aprofundamentos tanto na parte histórica do conhe-
giosas, associações de professores, enfim, esse tema toma grandes propor- cimento abordado, como na parte educacional. Apesar de ser um consenso
ções quando são consideradas outras instituições externas ao meio acadê- entre diversos pesquisadores de que a História da Matemática é um recur-
nuca. Em muitas das instituições acima citadas, encontra-se rico material so pedagógico a ser incorporado à sala da aula poucas são as pesquisas e
para a pesquisa em História da Matemática e Educação Matemática no Brasil. experiências realizadas em todo o mundo, e, como pudemos ver na primei-
Algumas pesquisas que apontam para este direcionamento foram realiza- ra parte deste texto, diversos são os argumentos favoráveis e contra essa
das em nosso Grupo de Pesquisa. A contribuição de jesuítas para o desen- incorporação. Levando em conta esses argumentos e questionamentos, po-
volvimento científico e da Matemática no Brasil, por exemplo, é um tema demos dizer que um trabalho dessa natureza requer a realização de pelo
. ..
180 BICUDO • BORBA EDUCAÇÂO MATEMÁTICA 181
menos as seguintes tarefas: fazer um levantamento, em livros de História e mática de um ponto de vista de Educação Matemática como História da
trabalhos de pesquisa, sobre a história do conteúdo a ser incorporada; re- Matemática ou, se desejarmos, de um ponto de vista da História da Mate-
fletir sobre como a história daquele conteúdo pode ser incorporada ao seu mática como Educação Matemática.
ensino; propor formas de trabalho que incorporem um conteúdo com a sua O Ensino de Matemática é apresentado como toda prática que procura
história; oferecer um material que possa ser utilizado pelos professores em se justificar por meio da existência de uma única Matemática de caráter
sua prática docente. Uma das exigências que temos feito para um aluno universal, e que atribui para si, como missão, a transmissão dessa Matemá-
realizar uma pesquisa, nesse tema, é que ele tenha experiência como pro- tica da forma mais precisa possível, tendo por principal tarefa o melhor
fessor no nível de ensino em que a pesquisa será realizada. Alguns traba- conhecimento da própria Matemática. Diante dessa concepção, o Ensino
lhos investigativos relativos a este tema foram desenvolvidos no Grupo de de Matemática acredita em uma História da Matemática que revele esta
Pesquisa. Os temas abordados são: um estudo relativo à concepção que Matemática. Os fatos históricos acabam conectados por uma lógica impos-
alguns professores de Matemática possuem sobre a História da Matemáti- ta de forma implícita que, em última análise, é a de uma concepção de
ca; propostas de trabalho com elementos históricos, visando a conteúdos Matemática.
matemáticos em instituições de nível superior - neste âmbito foram tra-
A Educação Matemática é apresentada como toda prática que consi-
balhados os temas de Geometria e Análise Matemática - que passaremos
dera determinar e ser determinada por uma concepção de Matemática. A
a descrever,
Educação Matemática considera suas práticas e a Matemática instituídas
de forma concomitante. Nesse caso, a Matemática abandona seu caráter
Dois Exemplos
absoluto e adquire um caráter de relatividade e subjetividade. Nessa
Algumas pesquisas realizadas pelo Grupo de Pesquisa relacionam concepção, a História da Matemática não necessita ocupar uma posição
História da Matemática e Educação Matemática, objetivando produzir re- auxiliar, objetivada exclusivamente para motivar um suposto Ensino de
flexos na sala de aula, quer de forma direta, quer indireta. Em arnbçs os Matemática. Aqui, a História da Matemática se justifica em si mesmo como
casos, a tentativa é responder a uma questão mais ampla: Como a História um espaço que considera a existência de distintas concepções-de Matemá-
da Matemática pode ser concebida e trabalhada no âmbito da Educação tica e, à medida que mostra a existência de uma variedade de Matemáticas,
Matemática de modo a provocar mudanças no ensino e aprendizagem da cada uma delas definida em um contexto histórico, relativiza o termo "Ma-
Matemática? temática".
A dissertação de mestrado Um Contexto Histórico para Análise Ivuüemá- Diante disso, é mostrado um contexto histórico para Análise Matemá-
tica para uma Educação Matemática, defendida em junho de 2003 por Marcelo tica como exemplo de considerações de História da Matemática, do ponto
Salles Batarce, caracteriza duas práticas educacionais distintas, mostra o de vista da Educação Matemática. Nesse aspecto, concebe-se a Análise
papel da História da Matemática em relação a cada uma delas, e exemplifica Matemática não apenas como uma tentativa de fornecer rigor e fundamen-
uma dessas caracterizações utilizando conceitos da Análise latemática. to ao Cálculo, mas como um conjunto de objetos histórico-matemáticos,
O procedimento, no caso, partiu da divisão da pesquisa em duas par- que criaram necessidades que não existiam, e para elas dispensaram esfor-
tes. Na primeira, apresenta suas concepções de Ensino de Matemática e de ços que culminaram em uma crise de fundamentos e no estabelecimento de
Educação Matemática, mostrando em que diferem, e como essa diferença novas concepções. Nesse caso, o exemplo se dá por meio de agrupamento
se reflete no uso da História da Matemática - a História da Matemática de objetos da História da Matemática, sugerindo elos que permitem tal
pode significar mais do que uma área essencialmente metodológica, agrupamento, de modo a formar uma História da Matemática para a Edu-
desenvolvedora de ferramentas para o Ensino de Matemática, significan- cação Matemática. Assim, a intenção não é contar a história de uma Análise
do, porém, ela própria, uma Educação l\;1atemática. Na segunda parte, apre- Matemática pré-concebida, mas sugerir uma caracterização da Análise
senta um exemplo de como se pode considerar um conteúdo matemático Matemática, através da História, que possa distingui-Ia de outros objetos
(Análise Matemática) diante desta concepção, ou seja, fala-se sobre Mate- matemáticos.
182 t1CUDO • BO RBA
EDUCAÇÃO MATEMA TlCA
183
. "
" .
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BICUDO • BORBA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 185
A Participação Feminina na Matemática e na Educação Matemática no Brasil Felix Klein: Uma Visão do Cálculo lnfinitesimal no Ensino Médio
Autora: Margarida Mendonça; Orientador: Sergio Nobre
Autora: Maria Eli Puga Beltrão; Orientadora: Rosa L. S. Baroni
Modelos Geocêntricos de Platão a Piolomeu: Uma Contribuição para o Ensino da o Doutorado em Matemática no Brasil: Um Estudo Histórico Documentado
Geometria
Autora: Célia Peitl Miller; Orientadora: Rosa L S. Baroni
Autor: Nelson Peruzzi; Orientador: Sergio Nobre
Um Contexto Histórico para Análise Matemática para uma Educação Matemática
Uma Abordagem Histórica do Desenvolvimento da Estatística no Estado de São
Paulo Autor: Marcelo SalIes Batarce; Orientadora: Rosa L. S. Baroni
A História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro e suas Contri- George Green e o Cálculo de Variações: Aspectos Epistemológicos numa Perspecti-
buições para o Movimento de Educação Matemática va Histórica.
Autora: Suzelí Mamo; Orientador: Sergio Nobre Autor: Marcos Vieira Teixeira: Orientador: Ubiratan D' Ambrósio
o Movimento do S.A.Po. - Serviço Ativador ení Pedagogia e Orientação _ e Aspectos do Desenvolvimento do Pensamento Geométrico em Algumas Civiliza-
Algumas de suas Contribuições para a Educação Matemática ções e Povos e a Formação de Professores
Autora: Nádia Regina Baccan; Orientador: Sergio Nobre Autora: Maria Terezinha Jesus Gaspar; Orientado r: Sergio Nobre
Ubiratan D’Ambrosio
Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN – Brasil
Resumo
Neste trabalho discuto a História da Matemática sob enfoque teórico que
considera a origem do pensamento matemático como estratégias desenvolvidas
por comunidades para sua sobrevivência e transcendência. Nesse enfoque, ouve-se
a população em geral, não somente os acadêmicos. Recorro à linha historiográfica
que vai ganhando importância que é sobre os chamados ”invisible actors”. A
partir daí, procura-se entender a evolução dos instrumentos materiais (artefatos)
e intelectuais (mentefatos) que se organizam como métodos e teorias que levam a
invenções e inovações. Dentre esses instrumentos destaca-se a Matemática, objeto
das reflexões deste trabalho.
Abstract
In this paper I discuss the History of Mathematics under an approach
that considers the origins of mathematical thought as strategies developed by
communities for their survival and transcendence. In this approach, we listen to
the population in general, not only to academics. The theoretical resource is the
“invisible actors”, an historiographic line that is gaining importance. This leads
to seeking to understand the evolution of material (artifacts) and intellectual
(mentefatos) instruments, organized as methods and theories that lead to inventions
and innovations. Among these instruments the role of Mathematics is the object of
the reflexions of this paper.
Á guisa de introdução
O tema é vasto e dá origem a inúmeros desencontros. Diversas correntes
historiográficas sugerem enfoques diferentes ao tema. O próprio conceito de
historiografia é muito controvertido. Basicamente, há dois grandes modos de
significar a palavra Historiografia: i) o conjunto de fontes e estudos de fatos e
eventos do passado; ii) o estudo de métodos e estilos de relatar e explicar,
2 Hans Freudenthal:”Should a mathematics teacher know something about the history of mathematics?”
For the Learning of Mathematics, vol. 2, n°1, July 1981.
3 Ver o trabalho, hoje clássico, de Dirk Struik: Por que estudar história da matemática?
História da Técnica e da Tecnologia (textos básicos) org. Ruy Gama, T. A. Queiroz,
Editor/Editora da USP, São Paulo; pp.191-215.
4 http://vello.sites.uol.com.br/entrevista.htm
5 Uma síntese interessante, com muita discussão, está no artigo de Christopher S. Henshilwood e
Curtis W. Marean: The Origin of Modern Human Behavior. Origins of the Models and Their Test
Implications, Current Anthropology, vol.44, n. 5, Dec. 2003, pp.627-651.
6 O historiador Arnold J. Toynbee, na sua monumental obra A Study of History, vols. I-XII, Oxford
University Press, Londres, 1934-61, reconhece 14 civilizações independentes, 17 satélites e 6
abortivas. Muitas de suas ideias influenciaram a importante obra de Helio Jaguaribe: Um Estudo
Crítico da História, 2 vols, Editora Paz e Terra, São Paulo, 2001. Essa é uma leitura recomendável,
eu diria mesmo necessária.
7 Para uma história da matemática pré-histórica, ver Manoel de Campos Almeida: Origens da
Matemática, Editora Champagnat, Curitiba, 1998.
8 As informações são captadas pelos sentidos e processadas. A memória é encarada, também, como
uma realidade expandida pela acumulação de experiências, que igualmente informa o indivíduo.
Como se dá esse processamento é o principal objetivo das chamadas “ciências da mente”, com a
contribuição essencial do que se chama “Inteligência Artificial”.
9 Veja a excelente obra de John Bowker: God. A brief history, Doring Kinderley, Londres, 2001, que
examina a espiritualidade em todas as regiões do mundo.
14 Uma introdução à etnomatemática está nos meus livros Etnomatemática. Arte ou Técnica de
Explicar e Conhecer, Editora Ática, São Paulo, SP, 1990, e Etnomatemática. Elo entre as tradições
e a modernidade, Editora Autêntica, Belo Horizonte, 2001, escritos com uma diferença de cerca de
10 anos, e que se complementam.
À guisa de conclusão
Todos hão de concordar que Matemática também é praticada e feita
pelo povo. Mas o que se vê é que o povo está, em geral, amedrontado com a
Matemática, julgando-a algo reservada aos deuses ou aos gênios, que são homens
próximos a deuses16. Será que a Matemática é inacessível ao homem comum e
deve, portanto, estar reservada a uns poucos? Sugiro ao leitor que meditem sobre
essa pergunta. Se responderem sim, achem uma justificativa para a inclusão da
Matemática nos currículos de uma educação para todos, indivíduos que são o
povo. Se responderem não, justifiquem como pode a população ser funcional com
cerca de 80% dos alunos sendo reprovados ou passando raspando por professores
que são tolerantes e os deixam passar.
A conclusão costuma ser que a culpa é desses 80% “incapazes” ou dos
professores que tem má formação -– o que é ainda mais injusto e perverso.
Propõem-se então provas modernizadas e aperfeiçoadas, dadas mês a mês
ou, mais cruelmente, no fim de graus, os chamados “provões”. E sugere-se
reciclagem para os professores. Não seria tempo de se pensar que o problema
poderá estar na matemática escolar e não nos alunos e professores? Não ocorrerá
a ninguém “desconfiar” que essa Matemática talvez esteja excluindo cidadãos
de muito sucesso na vida e na suas carreiras profissionais porque ela é obsoleta,
desinteressante e inútil?
Referências
16 Essa imagem é de Paulo Freire, na entrevista gravada para o ICME 8/8° Congresso Internacional
de Educação Matemática, realizado em Sevilha, Espanha, em 1996.
Ubiratan D’Ambrosio
Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN SP – Brasil
E-mail: ubi@usp.br
Resumo
Neste trabalho vou refletir sobre história e filosofia da matemática e suas implicações
na educação matemática com o enfoque do Programa Etnomatemática. Os conceitos e
as pesquisas sobre fatos e resultados na evolução do conhecimento são relatados não
como “história de uma disciplina” ou “filosofia de uma disciplina” ou “educação de
uma disciplina”, mas são de natureza transdisciplinar e transcultural, o que
caracteriza o Programa Etnomatemática. Muitas das idéias aqui expostas aparecem em
minhas publicações anteriores.
Palavras-chave: História da Matemática; Etnomatemática; Educação Matemática.
Abstract
In this paper I reflect on History and Philosophy of Mathematics and its Implications
for Mathematics Education within the focus of the Program Ethnomathematics. The
concepts and research about facts and results in the evolution of knowledge are related
not as the “history of a discipline” or the “philosophy of a discipline” or the
“education of a discipline”, but are of a transdiciplinary and transcultural nature,
which is a characteristic of the Program Ethnomathematics. Much of the ideas here
presented have appeared in my early publications.
Keywords: History of Mathematics; Ethnomathematics; Mathematics Education.
Introdução
O interesse na história das ciências sempre esteve presente nas histórias em geral e em
outros tratados. Por exemplo, aprendemos das ciências no Egito com Heródoto. E
Vitruvius também nos dá importantes referências históricas. Há alguns tratamentos
especificamente históricos, como o de Eudemus (ca 330 a.C.) e o “Livro das Categorias
de Nações”, de Sa’id al-Andalusi, escrito em 1068, e que focaliza o conhecimento
científico das grandes civilizações da antiguidade (SALEM; KUMAR, 1991). A
historiografia crítica é mais recente (THOMPSON, 1967).
As ciências têm, como qualquer outra forma de conhecimento, a sua dimensão política e
não se pode negar que seu progresso tem tudo a ver com o contexto social, econômico,
político e ideológico. Isso é muitas vezes ignorado e mesmo negado. É muito
1
Educação Matemática, UNIBAN; História da Ciência, CESIMA/PUCSP – ubi@usp.br
Esse enfoque muda radicalmente em 1931, quando o historiador soviético Boris Hessen,
então Diretor do Instituto de Física de Moscou, apresentou um trabalho sobre “As
Raízes Sócio-Econômicas da Mecânica de Newton” no Segundo Congresso
Internacional de História da Ciência e da Tecnologia, realizado em Londres. Esse
trabalho é considerado um marco na historiografia da ciência, pois nele Hessen abre
novas perspectivas para a pesquisa em História da Ciência.
Uma das grandes dificuldades que encontramos é procurar ver o passado com os olhos
do presente e buscar fontes que satisfaçam nossas habilidades de análise do presente.
Assim, o problema das fontes se torna crucial no entender a história. No seu livro de
historiografia da ciência, Helge Kragh (1987) dá ênfase a fontes primárias escritas.
Concede ao que ele chama fontes primárias não simbólicas, como edifícios,
instrumentos, modelos concretos e tabletes, químicos, herbários.
Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.3, pp.336-347, 2012 337
O desenvolvimento de instrumentos de análise dessas fontes tem se mostrado de
crescente importância no estabelecimento de uma historiografia mais adequada aos
países e às culturas periféricas.
1. Ciência moderna
338 Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.3, pp.336-347, 2012
cedam lugar à busca de novos rumos para a humanidade, com a finalidade maior de
sobrevivência do planeta e da civilização.
O ponto de partida deve ser o que se entende por Matemática e qual o objeto de seu
estudo. Isto é, uma reflexão sobre a Filosofia da Matemática. E não se pode negar que a
História da Matemática está atrelada à Filosofia da Matemática
2. História
A história tem servido das mais diversas maneiras a grupos sociais, desde família, tribos
e comunidades, até nações e civilizações. Mas sobretudo tem servido como afirmação
de identidade. Em qualquer área do conhecimento, uma vez identificados os objetos do
seu estudo, a relação de fatos, datas e nomes depende de registros, que podem ser de
natureza muito diversa: memórias, práticas, monumentos e artefatos, escritos e
documentos. Essas são as chamadas fontes históricas. E a interpretação depende de
ideologia, na forma de uma filosofia da história. Esse depender é a essência do que se
chama historiografia.
Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.3, pp.336-347, 2012 339
matemáticas....Ela [a história da ciência] deve estar bem organizada
como parte da educação ideológica do estudantado e dos trabalhadores
científicos.
A última frase da citação deixa claro que não há como escapar do caráter ideológico da
História da Matemática, assim como de reconhecer que a ação educativa é uma ação
política.
Devemos reconhecer que as nações periféricas são não mais que afluentes do curso
principal do atual do desenvolvimento científico e tecnológico das nações centrais.
Refiro-me a nações periféricas e nações centrais como aquelas que participaram e
participam do processo de globalização do planeta que se iniciou no final do século XV
na condição de colônia ou nação politicamente independente, mas economicamente
dependente, e nações centrais aquelas que foram ou são metrópoles coloniais ou
detentoras dos meios e controle de produção e comércio. Em momentos variados as
nações periféricas foram chamadas Terceiro Mundo, subdesenvolvidas, em
desenvolvimento, emergentes e outros eufemismos.
340 Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.3, pp.336-347, 2012
contribuições dos locais tem sido quase nenhuma. Hoje, começa-se a reconhecer a
importância das contribuições locais e reflexões da contribuição local tem se
incorporado a um enfoque teórico denominado “glocalização” (ROBERTSON, 1994).
Embora a produção dos locais tenha sido muitas vezes insignificante, defasada e até
mesmo equivocada quando comparada com aquela dos países centrais e das classes
dominantes, é importante estimular pesquisa sobre fatos e personagens que tiveram, num
certo momento, grande importância e repercussão entre seus pares e sua comunidade.
Assim como as ações do presente, em particular a pesquisa científica e tecnológica,
devem focalizar prioridades locais, mesmo que muitas vezes essas prioridades não se
situem nas fronteiras do conhecimento, a pesquisa histórica também deve ser dirigida a
coisas de interesse local.
Reconheço quão perigosa é essa proposta e o risco de cair no ufanismo que, tanto do
ponto de vista histórico quanto para ações no presente, contribui para mascarar a
verdade histórica e pode abrir espaço para um desenvolvimento equivocado. Essa é a
razão do grande conflito que se manifesta hoje com relação ao “Afrocentrismo”, uma
proposta de revisão da história que privilegia a participação africana na construção do
conhecimento grego. Os historiadores Mary R. Lefkowitz and Guy MacLean Rogers
editaram uma coleção de artigos (LEFKOWITZ, 1996) que mostram muito bem a
intensidade dessas discussões. Mas risco não pode ser justificativa para inação.
Ao historiador das ciências e da tecnologia cabe, não apenas, o relato dos grandiosos
antecedentes e consequentes das grandes descobertas científicas e tecnológicas, mas
sobretudo a análise crítica que revelará acertos e distorções nas fases que prepararam os
elementos essenciais para essas descobertas e para sua expropriação e utilização pelo
poder estabelecido.
Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.3, pp.336-347, 2012 341
Sua eventual distilação como registro escrito ocorre muito tempo
depois de seu descobrimento inicial (MAZUR, 1997).
A História da Matemática, que se firmou como uma ciência somente no século passado,
tem como grande preocupação o rigor da identificação de fontes que permitem
identificar as etapas desse avanço. Isso afeta não só a história da matemática nas nações
e populações periféricas, mas igualmente causa distorções na visão de prioridades
científicas das nações dominantes.
A busca de alternativas historiográficas que conduzam a uma história que não venha
embebida de um determinismo eurocêntrico, favorecendo a manutenção do status quo e
desencorajando a superação da desvantagem atual, é essencial neste momento de
questionamento da atual ordem internacional.
3. O Programa Etnomatemática
342 Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.3, pp.336-347, 2012
todo esse ciclo, inclusive a dinâmica cultural de encontros [de indivíduos e de grupos].
Para uma discussão mais ampla sobre o Programa Etnomatemática, ver
(D’AMBROSIO, 1990) e (D’AMBROSIO, 2001).
Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.3, pp.336-347, 2012 343
fazer(es) e de saber(es) que lhes permitem sobreviver e transcender através de maneiras,
de modos, de técnicas ou mesmo de artes [techné ou tica] de explicar, de conhecer, de
entender, de lidar com, de conviver com [matema] a realidade natural e sociocultural
[etno] na qual ele, homem, está inserido. Ao utilizar, num verdadeiro abuso etimológico,
as raízes tica, matema e etno, dei origem à minha conceituação de etnomatemática.
À guisa de conclusão
344 Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.3, pp.336-347, 2012
indivíduos também encontra, na teleinformática, um grande potencial, ainda difícil de se
aquilatar, de gerar ações comuns. Nota-se em alguns casos o predomínio de uma forma
sobre outra, algumas vezes a substituição de uma forma por outra e mesmo a supressão
e a eliminação total de alguma forma, mas na maioria dos casos o resultado é a geração
de novas formas culturais, identificadas com a modernidade. Ainda dominadas pelas
tensões emocionais, as relações entre indivíduos de uma mesma cultura (intraculturais)
e, sobretudo, as relações entre indivíduos de culturas distintas (interculturais)
representam o potencial criativo da espécie. Assim como a biodiversidade representa o
caminho para o surgimento de novas espécies, na diversidade cultural reside o potencial
criativo da humanidade. As conseqüências dessas mudanças na formação de novas
gerações exige reconceituar a educação. Para uma discussão detalhada, ver
(D’AMBROSIO, 2011b).
Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.3, pp.336-347, 2012 345
sua plenitude.
Um modelo adequado para se facilitar esse novo estágio na evolução da nossa espécie é
a chamada Educação Multicultural, que vem se impondo nos sistemas educacionais de
todo o mundo.
Referências
346 Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.3, pp.336-347, 2012
ampliada. Natal: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
KRAGH, H. (1987). An Introduction to the Historiography of Science. Cambridge:
Cambridge University Press.
LEFKOWITZ, M. R. (1996). Black Athena Revisited. Ed. by Mary R. Lefkowitz and
Guy MacLean Rogers. Chapel Hill: The University of North Carolina Press.
MAZUR, B. (1997). Conjecture. In Synthese N.111.
MOMIGLIANO, A. (1975). The Fault of the Greeks. In Daedalus. N.2, v. 104.
MONTUCLA, J. F. (1796) Histoire des Mathématiques, Tome Second. Paris: Chez
Henri Agasse libraire.
RIBNIKOV, K. (1987). História de las Matemáticas. Moscou: Editorial Mir.
ROBERTSON, R. (1994). Globalisation or Glocalisation?. In Journal of International
Communication. N.1, v. 1.
ROUSE BALL, W. W. (1960). A Short Account of the History of Mathematics.
(reimpressão da ed. de 1908). New York: Dover Publications.
SALEM. S. I; KUMAR, A. (Ed.). (1991) Sa’id al-Andalusi, Science in the Medieval
World. Trad. & ed. Sema’an I. Salem e Alok Kumar. Austin: University of Texas Press,
Austin.
THOMPSON, J. W. (1967). A History of Historical Writing, 2 vols. Goucester: Peter
Smith, Gloucester.
Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.14, n.3, pp.336-347, 2012 347
Matemática
História & Educação Matemática, v. 1, n. 1, pp. 11-21, jan/jul 2001.
Matemática e História*
Autor: W. S. Anglin**
Tradução: Carlos Roberto Vianna***
Revisão: Maria Laura M. Gomes****
Começo com uma caricatura – na verdade uma paródia – do livro típico de História
da Matemática. Essa caricatura chamará a atenção para algumas das pressuposições
filosóficas que freqüentemente estão subjacentes nesses livros. Discutirei, também,
alternativas para essas pressuposições.
A matemática representa a síntese da Razão. Ela originou-se no Egito e na Meso-
potâmia. Contudo, começou realmente na Grécia, porque foi lá que surgiu a matemática
pura, e a matemática pura é melhor do que a matemática aplicada, porque a Razão pura é
melhor do que a Razão impura.
Os matemáticos gregos mais notáveis foram Eudoxo, Apolônio, Arquimedes, e
Hipácia. Hipácia fez muito pouco comparado a Arquimedes, porém foi a única mulher que
estudou matemática; assim, podemos ficar certos de que sua real importância foi ocultada
pelo chauvinismo machista.
Os gregos foram simplesmente esplêndidos, apesar de preferirem a geometria e
rejeitarem o movimento na matemática. Infelizmente, a superstição e a ignorância foram
responsáveis por um retrocesso quando Cirilo, o bispo cristão, mandou matar Hipácia (em
415 d. C.). Por cerca de mil anos, ninguém na Europa Ocidental produziu qualquer
matemática.
Enquanto isso, os árabes estavam desenvolvendo a álgebra. Embora Alkhwarizmi
não tivesse conseguido provar o teorema de Pitágoras para triângulos retângulos não-
isósceles, foi um algebrista magnífico. Uma vez, ele descobriu duas soluções para uma
equação quadrática, e usou três diferentes valores para π .
No século XVI, a Europa se rebelou contra a Igreja, e a Razão (e a felicidade)
voltaram. Continuando de onde Hipácia havia parado, Newton e Leibniz inventaram o
Cálculo e introduziram o movimento na matemática. O estranho foi que Newton e Leibniz
trabalharam independentemente um do outro. Por isso, ambos são merecedores do louvor e
da glória pela criação do Cálculo.
No século XIX, a Razão realmente atingiu o seu apogeu. Antes disso, o Cálculo não
era muito rigoroso (em parte, porque o Cálculo lida com movimento). Hoje, contudo, o
Cálculo é a coisa mais racional e rigorosa possível. Infelizmente, não podemos dizer-lhes
muito a respeito da matemática dessa época, porque ocuparíamos todo o nosso tempo e
*
A versão original em inglês deste artigo foi publicada na Revista "The Mathematical Intelligen-
cer", v. 14, n. 4, 1992, p. 6-12, sob o título Mathematics and History. Agradecemos a autorização
dada pelo Sr. Chandler Davis – diretor da Springer-Verlag, editora responsável pela publicação
deste periódico – para a realização desa tradução e publicação nesta revista.
**
Professor do Departamento de Matemática e Estatística da Universidade McGill – Montreal –
Canadá.
***
Professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Paraná e Doutor em
Educação Matemática pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
****
Professora do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais e
doutoranda em Educação Matemática pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
Campinas.
1
História & Educação Matemática, v. 1, n. 1, pp. 11-21, jan/jul 2001.
energia apenas para descobrir o que está acontecendo. Sabemos, contudo, que ela é
maravilhosa.
Nesse tempo havia o extraordinário matemático "X". Ele nasceu na Ruritânia e
todos os ruritanos verdadeiramente patriotas evidentemente estavam muito orgulhosos
dele. Um dos pais de "X" morreu quando ele era muito jovem, e "X" demonstrou
habilidades maravilhosas aos três anos de idade. O familiar de "X" que sobreviveu queria
que ele fosse um encanador, mas ele persistiu em suas pesquisas matemáticas até que ficou
arruinado e desempregado. Ninguém ofereceu a "X" um emprego em uma Universidade,
porque não havia quem fosse capaz de entender sua demonstração do teorema central que
diz não existir quadrado mágico 4x4 cujas entradas são os quadrados dos primeiros
dezesseis números inteiros positivos.
Assim termina a caricatura. O objetivo foi levantar algumas questões sobre a
natureza da história da matemática. No que vem a seguir, ocupamo-nos com dez dessas
questões, e sugerimos algumas novas maneiras de escrever uma história da matemática.
2
História & Educação Matemática, v. 1, n. 1, pp. 11-21, jan/jul 2001.
Hipácia (um tanto sem originalidade) sobre as equações de Diofanto foi mais importante
do que a necessidade dos alexandrinos de rejeitarem o paganismo, porém esse
“sentimento” não é um fato objetivo no que diz respeito ao século V.
Aqueles que depositam um alto valor na matemática são tentados a julgar uma
cultura em termos do número de teoremas que ela provou. Isso conduz a uma visão
irrealista das culturas, como por exemplo, a antiga cultura chinesa, que não produziu
muitos teoremas, mas que produziu algumas poesias e filosofias excelentes. Um livro-
texto sobre a História da Matemática, devidamente equilibrado, reconheceria a importância
das muitas formas de atividade intelectual – incluindo as investigações teológicas pró-
monoteísticas da Alexandria do século V .
A maioria das histórias da matemática são individualistas (as que se opõem a essa
perspectiva são ditas marxistas). O historiador organiza o material em termos de indivíduos
e enfrenta muitos problemas para garantir que a pessoa certa obtenha a quantidade exata de
elogios para o teorema correto. Historiadores individualistas tendem a se desestruturar
quando um teorema não possui um único e nomeável primeiro descobridor.
Contudo, é digno de nota que existam alternativas. Não há razão pela qual não se
possa escrever uma história da matemática de um ponto de vista exclusivamente comuni-
tário. Ao invés de selecionar um único indivíduo para o teorema, o historiador poderia
assinalar as capacidades tecnológicas ou as necessidades sociais que foram responsáveis
pelo fato. Ao invés de glorificar a pessoa de sorte que conseguiu ser a primeira a realizar a
descoberta, o historiador poderia exaltar as idéias éticas da comunidade que a conduziram
a educar as pessoas de modo que chegassem inevitavelmente a essa descoberta.
Os historiadores individualistas de matemática contarão uma anedota sobre
Euclides (veja o item 7) - apesar de saberem que não há praticamente qualquer base factual
para essa anedota. Eles não dirão a vocês se “Os Elementos” são uma expressão do
elitismo da aristocracia o qual podemos detectar nos diálogos de Platão, e não abordarão a
questão sobre se a pureza e a precisão das demonstrações de Euclides atestam um desprezo
pelo trabalho manual cotidiano (executado pelos escravos). Meu objetivo aqui não é o de
defender uma teoria particular a respeito do contexto social dos "Elementos", ou da
natureza da história. Eu simplesmente desejo sugerir que, em muitos casos, pode ser mais
esclarecedor relacionar um trabalho de matemática a seu ambiente social do que a uma
anedota fictícia sobre a vida particular do autor daquele trabalho de matemática.
3
História & Educação Matemática, v. 1, n. 1, pp. 11-21, jan/jul 2001.
3. DEVERIA UMA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA SER ORGANIZADA EM
TERMOS DE NAÇÕES OU DE RAÇAS?
"Embora seja evidente que nenhuma raça ou país tem qualquer tipo
de monopólio de gênio, e apesar de as fronteiras dos países vizinhos serem
apenas divisas artificiais, sem nenhum significado na criação das obras
primas da ciência, ainda assim as influências raciais e lingüísticas tendem
a desenvolver preferências na matemática, como fazem nas artes e nas
letras."
Ele continua:
"Nesta abordagem do assunto é feita uma tentativa de procurar as
causas do avanço ou do atraso da matemática em diferentes países e com
diferentes raças".
Deixo para o leitor decidir o que isso significa, se é que existe algum significado.
Existem duas razões para pedir aos historiadores que parem de organizar histórias
de matemática segundo linhas nacionalistas ou raciais. A primeira é ética. Patriotismo e
racismo geram a gerra. Não é benéfico aos leitores terem o sangue patriótico esquentado
com o fato de que, por exemplo, os alemães derrotaram os franceses “mais fracos” na
descoberta da geometria não-euclidiana.
A segunda razão para pedir aos historiadores que parem de descrever a atividade
matemática em termos de nações é que a matemática é uma iniciativa universal, com
intelectuais de todas as nações buscando uma meta em comum, uma meta que transcenda
os limites políticos e genéticos. Reconhecidamente algumas pesquisas matemáticas (por
exemplo: em criptanálise), estão atreladas às ambições militares de algumas nações em
particular; em tais casos pode ser historicamente importante se um país, ao invés de outro,
foi o primeiro a descobrir algum teorema; contudo, na maioria das vezes não é assim. Pelo
contrário, a pesquisa típica em matemática fornece um dos melhores exemplos de
cooperação internacional.
O tratamento dado por Smith a Fibonacci (1170-1250) é interessante para
exemplificar. A análise nacionalista de Smith o conduz a observar que o trabalho de Fibo-
nacci (um italiano) estava além da competência de qualquer professor em Paris.
O que deve ser dito, todavia, é totalmente diferente. Os estudiosos e pesquisadores
da Europa medieval não estavam presos a seus países de origem. Eles falavam uma língua
comum (latim), e viajavam por todo o continente. Naquele tempo, as fronteiras sociais
distinguíveis não eram de nacionalidades ou raciais, mas sim econômicas ou religiosas. O
ponto que o nacionalismo de Smith obscurece é que Fibonacci foi o melhor matemático,
não apenas na Itália ou na França, mas em toda a comunidade erudita européia.
4
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Nota do tradutor: Na língua inglesa a palavra “mathematician” não tem gênero.
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problema matemático? Ele poderia tê-lo resolvido se não tivesse uma mãe? Ele o teria
resolvido sem o apoio de sua esposa ou amante? A produção cultural de uma sociedade
depende do esforço e criatividade de toda a população, e é incorreto atribuir essa produção
aos poucos indivíduos que apenas adicionam os toques finais.
X + Y + Z + X² = W²
W² + Y² = U²
U² + Z² = V²
6
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leitor a concluir que os gregos foram os primeiros verdadeiros matemáticos, que os
medievais foram completamente ignorantes, e que nós, os modernos, somos simplesmente
perfeitos.
Por "Dispositivos de Cálculo", refiro-me aos algoritmos para cálculo, bem como às
máquinas usadas para implementá-los. Desse modo, os dispositivos de cálculo incluem o
ábaco, o método de Horner, os procedimentos da aritmética decimal, réguas de cálculo,
redes de computadores, e calculadoras de bolso.
Mesmo na matemática pura, o progresso está freqüentemente preso ao cálculo.
Muitas vezes, a razão pela qual um problema não pode ser resolvido é que o equipamento
de computação é demasiado primitivo. Historiadores de matemática às vezes negligenciam
essa característica prática do desenvolvimento matemático, e pode ser proveitoso listar
algumas formas em que os dispositivos de cálculo se provaram essenciais.
• Somente devido ao computador é que o teorema das quatro cores foi finalmente
demonstrado.
7
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chamou seu escravo e disse "Dê a ele uma moeda se ele tiver que lucrar sobre o que apren-
deu" [11, p. 25]. A idéia é que o matemático puro está acima do dinheiro.
Os historiadores de matemática às vezes levam essa anedota a sério. Se o
matemático famoso é pobre e desempregado, eles glorificam sua espiritualidade, mas se
ele é astuto e rico, os historiadores ficam embaraçados em mencioná-lo. Ouvimos a
respeito do pobre jovem Abel, mas não ouvimos sobre o rico e velho Gauss [5, p. 111]. Se
o matemático é devotado a algum tópico ultra-ocioso, os historiadores apressam-se em
revelar os detalhes, mas se o matemático tem um caráter sensível e trabalha em
contabilidade, então os historiadores o ignoram. A única matemática financeira alguma vez
mencionada consiste em alguns curiosos problemas medievais de herança.
A predileção de alguns historiadores pelo transcendente é demonstrada no
tratamento dado à cinemática. De acordo com Platão, o mundo transcendente é imutável, e
a matemática relacionada ao movimento não é a matemática real. Historiadores que
concordam com Platão apresentam a geometria mais do que a astronomia como o coração
da matemática grega (embora os próprios gregos possam não tê-la visto deste modo), e
explicam que Weierstrass e outros prestaram ao Cálculo um grande serviço ao purgá-lo do
conceito de movimento.
As duas posições extremas a respeito do rigor podem ser descritas como a seguir.
A primeira é que o rigor é a essência da matemática. Se a matemática não for
rigorosa, não é matemática verdadeira, e portanto não tem lugar na história da matemática -
a menos que ela, talvez, possa ser apresentada como uma confusa primeira aproximação a
alguma matemática real. Esta posição é defendida por Hollingdale em seu "Produtores da
Matemática", quando ele cita G.H.Hardy:
Para Hollingdale, assim como para Ball, o período grego é de fato o primeiro
período da matemática.
A outra posição extrema é que o rigor é a fossilização da verdadeira matemática. A
matemática progride não via dedução, mas via ciência experimental e "percepção"
artística. A matemática não é uma marcha em segurança através de uma auto-estrada bem
iluminada, mas uma jornada em uma estranha imensidão, onde os exploradores fre-
qüentemente se perdem. O rigor poderia ser um aviso ao historiador de que mapas têm sido
feitos, e de que verdadeiros exploradores têm ido a todos os lugares.
Os historiadores que se prendem a alguma dessas posições extremas podem ajudar
seus leitores avisando-os a respeito. Pode causar confusão ler que "A matemática começou
com os gregos" se não se estiver consciente do julgamento de valor referente ao rigor que
se esconde por trás dessa afirmação.
8
História & Educação Matemática, v. 1, n. 1, pp. 11-21, jan/jul 2001.
componente importante para a vitória global da Razão. Historiadores dessa família
raramente contam anedotas sobre o progresso da matemática.
No entanto, a História da Matemática é bastante humorística. Os matemáticos têm
reputação de inteligentes e racionais, mas seu trabalho está freqüentemente misturado ao
erro, à confusão, ou à superstição. Seria fácil escrever uma história da matemática que
fosse ao mesmo tempo exata e engraçada. A seguir estão alguns exemplos.
Em 1799, Gauss publicou uma prova do Teorema Fundamental da Álgebra. Ele
prefaciou essa prova com uma crítica penetrante às provas anteriores do mesmo teorema,
mostrando que todas elas estavam erradas. Alguns matemáticos anteriores, por exemplo,
tinham decidido chamar o Teorema Fundamental de "Teorema de D'Alembert" porque
enganosamente pensaram que D'Alembert o tinha provado em 1746. Evidentemente, esses
matemáticos mais antigos foram mais bem sucedidos em elogiar o trabalho de D'Alembert
do que em entendê-lo. (Ha! Ha!) A parte engraçada, contudo, é que a própria prova de
Gauss continha uma falha. [11, pp 195-200]
Os primeiros matemáticos a trabalhar com o Cálculo raciocinavam por analogia.
Eles tomavam princípios que eram aplicáveis a casos finitos, e aplicavam-nos em
exemplos que envolviam o infinito. George Berkeley (1685-1753) riu deles:
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Em uma disposição similar, E.T.Bell se mostra infeliz por Pascal desperdiçar seu
tempo trabalhando em filosofia da religião. Em "Homens da Matemática", Bell escreve:
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História & Educação Matemática, v. 1, n. 1, pp. 11-21, jan/jul 2001.
Agradecimentos
Bibliografia
1. Bell, E. T., Men of Mathematics, New York: Simon & Schuster (1937)
2. Boyer, C. B., and U. C. Merzbach, A History of Mathematics, 2nd edition, New
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3. Burton, D. M., The History of Mathematics, Dubuque: Wm. C. Brown (1988)
4. Dunham, W., Journey through Genius, New York: John Wiley (1990)
5. Ebbinghaus, H-D., et al, Numbers, trans. H. L. S. Orde, New York: Springer
Verlag (1990)
6. Fibonacci, The Book of Squares, trans. L. E. Sigler, Boston: Academic Press
(1987), 107
7. Hilbert, D. Foundations of geometry, La Salle: Open Court (1950), 25
8. Hollingdale, S, Makers of mathematics, London: Penguin Books (1989)
9. Schattschneider, D., “In Praise of Amateurs”, The Mathematical Gardner (D, A,
Klarner, ed.), Boston: Prindle, Weber & Schmidt (1981)
10. Smith, D. E., History of Mathematics, vol I, New York: Dover (1958)
11. Stillwell, J., Mathematics and its History, New York: Springer Verlag (1989)
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Matemática
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Ana Carolina Costa Pereira e Fumikazu Saito
Os instrumentos matemáticos na interface entre história e ensino de matemática: compreendendo o
cenário nacional nos últimos 10 anos
Resumo
Pesquisas pautadas no diálogo entre a história e o ensino de matemática estão em
expansão no Brasil, principalmente focalizando atividades didáticas, em particular, na
formação do professor de matemática. Dentre os diversos objetos que ajudam na
construção dessa interface, podem-se encontrar os instrumentos matemáticos antigos,
que proporcionam uma conexão entre a teoria e a prática da experimentação. Nesse
trabalho será apresentado um levantamento inicial de estudos envolvendo a construção
de interface entre história e ensino de matemática nos últimos 10 anos, cujo principal
foco é o instrumento matemático como articulador dos dois campos de conhecimentos
(história da matemática e educação matemática). Dessa maneira, realizou-se uma busca
no banco de teses da Capes, anais de eventos da área, livros e artigos em periódicos a
fim de compreender o cenário nacional e vislumbrar possíveis desdobramentos
didáticos do tema. Entretanto, nessa busca, apontou-se para diversos trabalhos cujos
autores faziam ou fizeram parte do Grupo de Estudo e Pesquisa, HEEMa (História e
Epistemologia na Educação Matemática) da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUCSP), criado 2008. Assim, optou-se por realizar uma breve análise dos 12
trabalhos produzidos no HEEMa, que versavam sobre a temática. Após a leitura,
percebeu-se que muitas publicações fazem somente o estudo do contexto no qual os
conhecimentos são mobilizados, deixando o movimento do pensamento, a elaboração
das atividades e a aplicação para uma próxima etapa.
Abstract
Research based on the dialogue between history and the teaching of mathematics is
expanding in Brazil, mainly focusing on didactic activities, in particular, on the training
of the mathematics teacher. Among the various objects that help in the construction of
1
Endereço eletrônico: carolina.pereira@uece.br
2
Endereço eletrônico: fsaito@pucsp.br
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cenário nacional nos últimos 10 anos
this interface, it is possible find the ancient mathematical instruments that provide a
connection between the theory and practice of experimentation. In this paper, it will be
presented an initial survey of studies involving the construction of an interface between
history and mathematics teaching in the last 10 years, whose main focus is the
mathematical instrument as an articulator of the two fields of knowledge (history of
mathematics and mathematics education). In this way, a search was made at the Capes
thesis bank, annals of events in the area, books and articles in periodicals in order to
understand the national scenario and to glimpse possible didactic developments of the
theme. However, in this search, it was pointed out to several papers whose authors were
or had been part of the Study Group and Research, HEEMa (History and Epistemology
in Mathematical Education) of the Pontifical Catholic University of São Paulo
(PUCSP), created in 2008. Thus, a brief analysis of the 12 works produced in HEEMa,
which dealt with the theme, was carried out. After reading, it was noticed that many
publications only study the context in which the knowledge is mobilized, leaving the
movement in thought, the elaboration of activities and the application to a next stage.
Introdução
Propostas que articulam a história e o ensino de matemática podem ser
encontradas em trabalhos de pesquisadores nacionais e internacionais (TZANAKIS et
al, 2002, MIGUEL; MIORIN, 2004, BARONI; TEIXEIRA; NOBRE, 2004; MENDES,
2006, 2009)3, contudo, a viabilidade da construção de uma interface entre essas duas
áreas de conhecimento (história da matemática e educação matemática) remete a
considerar questões de natureza epistemológica e metodológica.
A incorporação da história da matemática no ensino, pode proporcionar um
entendimento que a Matemática não está pronta e acabada, assim como a sua história,
pois ela “é reinterpretada e rescrita de tempos em tempos” (SAITO, 2015, p.21). Isso
ocorre a medida que os “historiadores da matemática” descobrem novos documentos,
novas teorias, novos caminhos metodológicos em que os paradigmas vigentes são
transpostos.
Miguel e Miorim (2002, p. 186) ressalta a história da matemática como um
campo de investigação que inclui “todo estudo de natureza histórica que investiga,
diacrônica ou sincronicamente, todas as dimensões da atividade matemática na história
em todas as práticas sociais que participam e/ou participaram do processo de produção
3
Esses autores também fazem uma ampla discussão sobre os argumentos a favor e contra a incorporação
da História da Matemática no ensino, elencando potencialidades pedagógicas para seu uso em sala de
aula.
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Na vertente historiográfica tradicional, “o passado é visto com os olhos de hoje. Admite-se que a ciência
e a matemática teriam se desenvolvido progressivamente e linearmente” (SAITO, 2015, p. 22), ou seja, o
pensamento matemático é entendido como uma sucessão de descobertas que beneficiam exclusivamente
concepções internas a própria matemática. Dessa forma, o pesquisador está interessado nas narrativas do
presente.
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A ideia de interface voltada para a história da ciência e o ensino pode ser encontrada em Beltran (2009)
que apresenta diferentes tendências pedagógicas.
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essa proposta tem por base uma historiográfica atualizada6, que articulada às atuais
tendências da didática matemática, busca entender o processo de formação dos
conceitos matemáticos por meio de atividades focalizando não só conteúdo e método,
mas também os critérios e as razões, devidamente contextualizados, que estão por traz
da sua elaboração, por meio do estudo de documentos da época.
Ressalta-se que essa concepção tem que ser atrelada as propostas atuais que
estão relacionadas ao ensino e a aprendizagem da matemática. Dias e Saito (2014)
mencionam que o intuito não é desenvolver uma pesquisa histórica utilizando
documentos originais em que os discentes tenham que manipulá-los, mas revisá-los e
adaptá-los seguindo a proposta de articulação mantendo aspectos básicos que estão
vinculados a prática matemática de um determinado período.
Para a construção da interface é necessário que o pesquisador faça dois
movimentos. O primeiro está relacionado com o pensamento na formação do conceito
matemático. Trata-se de buscar no processo histórico o movimento do pensamento da
apreensão do objeto e, portanto, do desenvolvimento do conceito. Esse movimento, que
tem por pressuposto o objeto matemático em formação, permite que a formação de
ideias componha a lógica do movimento do pensamento. Contudo, para que o lógico
não prevaleça sobre o epistemológico e os fundamentos da matemática sobre a própria
matemática e suas aplicações, prima-se na construção da interface a busca pelo contexto
de formação desses objetos, evitando-se anacronismos e a sobreposição de temas
históricas aos propósitos do ensino.
Assim, o segundo movimento se refere ao contexto no qual os conhecimentos
matemáticos foram desenvolvidos, isto é, procura observar agora o conteúdo
matemático, método e os motivos por trás da escrita do documento, contextualizando na
época em que foi elaborado e, portanto, considerando todas as características de ordem
matemática, técnica e epistemológica como propõe uma historiografia contemporânea.
Dessa forma, na medida em que esse diálogo é promovido, propicia uma
reflexão do processo histórico da construção do conhecimento matemático e a
6
Na perspectiva historiográfica atualizada, a compreensão do processo de formação de conceitos
matemáticos é uma necessidade real. Nesse caso, não evidencia somente a técnica e o conteúdo interno à
própria matemática, mas também as causas pelas quais tais conceitos foram concebidos, privilegiando os
documentos da época e o contexto histórico, que não é necessariamente matemático, em que foram
desenvolvidos (PEREIRA; MARTINS, 2017).
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Os estudos do HEEMa utilizam as tendências historiográficas atualizadas para a construção da interface
entre história da matemática e ensino, diferindo de outros grupos que realizam pesquisas cujo tema
principal é a incorporação da história no ensino, entretanto direcionadas a vertentes tradicionais.
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início junto com a criação do grupo. Durante esses 10 anos, o HEEMa publicou
diversos trabalhos sobre a interface entre história e ensino de matemática e instrumentos
matemáticos (Quadro 1). Nesse período, foi encontrado 13 trabalhos que versão sobre o
assunto estudado, sendo categorizado a partir da leitura dos artigos e/ou análise dos
resumos e sumários (dissertações e teses).
8
Outras publicações de cunho mais teóricas também abordam essas fontes, contudo não apresentam como
proposta a construção de interface.
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Foi encontrado um trabalho de Moraes e Dias (2017) relacionado a um produto educacional
desenvolvido como parte do mestrado profissional da primeira autora. Como o material já está contido na
dissertação de Moraes (2017), não contabilizamos para essa análise.
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Percebe-se que outros trabalhos da autora e trabalhos teóricos publicados sobre o instrumento, fazem o
contexto histórico.
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Notas finais
Pesquisas que priorizam a incorporação da história da matemática no ensino têm
ganhado força no cenário nacional, principalmente atrelado ao uso de recursos didáticos
nas salas de aulas (educação básica e formação de professores). Nesse movimento, a
construção de uma interface se faz necessário à medida que, por meio do diálogo entre o
historiador e o educador matemático, surge possibilidades de atividades didáticas a
partir das três esferas: epistemológica, historiográfica e contextual, vislumbrando no
instrumento matemático um meio dessa inserção.
Estudos com instrumentos matemáticos estão em expansão, principalmente
voltado para seu uso didático na formação do professor de matemática, fato esse já
comprovado11. Entretanto, sua vinculação com a interface e a atual vertente
historiografia ainda precisa ser aprofundada e socializada no país, visto que sua
importância “pedagógica” está ligada principalmente em fornecer atividades
relacionadas ao conhecimento matemático incorporado no instrumento, em particular na
construção e utilização.
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Ver Pereira (2016).
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Cortez, p. 164-185.
BEO, Naci di. O estudo do Trattato del Radio Latino: Possíveis contribuições para
a articulação entre História da Matemática e ensino. 2015. 115 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Mestrado em Educação Matemática, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2015.
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Educación Matemática. Lima: Fondo Editorial PUCP, 2016, pp. 237-251 [ISBN: 978-
612-317-201-5].
DIAS, Marisa da Silva; MORAES, Michele de Souza; MORAES, Edvaldo Alves de. O
instrumento setor trigonal no ensino da matemática: ângulos e triângulos. In:
ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 10., 2016, São Paulo.
Anais... . São Paulo: Sbem, 2016. p. 1 - 8.
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SAITO, Fumikazu. Número e grandeza: discutindo sobre a noção de medida por meio
de um instrumento matemático do século XVI. Ciência & Educação (Bauru), [s.l.], v.
23, n. 4, p.917-940, dez. 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1516-
731320170040012.
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