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OS PLANOS DE DEUS NÃO PODEM SER FRUSTRADOS

Atos 8.2-8
Uma das reações mais naturais do ser humano em momentos de profunda ameaça é paralisar. Certa
vez, quando ainda era criança, por volta dos meus 8 anos, uma cena me marcou. Minha mãe precisou sair
para comprar algo no centro da cidade e levou a mim e meu irmão com ela. Quando estávamos entrando na
loja, houve um tiroteio entre policiais e bandidos, em plena luz do dia. No meio do fogo cruzado, enquanto
muitos se escondiam, os meus músculos paralisaram e eu não conseguia me mover. Minha mãe, percebendo
o meu estado de paralisia, para me proteger, me puxou rapidamente para dentro da loja e me escondeu
debaixo de um balcão. Quando enfrentamos uma situação muito estressante e traumática podemos reagir
com paralisia, como aconteceu comigo.
Porém, frente a situações como essas, o ideal mesmo é enfrentar, como a minha mãe fez. A Bíblia
está cheia de exemplos importantes nessa direção. O que seria de Abraão se não tivesse obedecido a ordem
de Deus para ir para uma terra nova? O que seria de José se deixasse de acreditar em suas visões e nos
propósitos de Deus? O que seria de Moisés se tivesse paralisado em frente ao mar Vermelho? O que seria de
Josué se tivesse fugido diante das muralhas de Jericó? O que seria de Davi se não enfrentasse Golias e Saul?
O que seria da igreja, se esses homens e mulheres, não tivessem enfrentado a perseguição para continuarem
proclamando as boas novas do Evangelho?
Esse trecho da história do povo de Deus nos traz incentivo para sermos mais corajosos naquilo que
Deus nos ordenou. O medo faz parte do nosso organismo, mas não pode nos aprisionar e tomar conta das
nossas ações. Ele não pode ser “senhor” do nosso coração. O nosso coração já tem um Senhor, Jesus Cristo.
É na força dEle que devemos buscar exercer o nosso chamado. O capítulo 8 nos convoca, como igreja do
Senhor, a vencermos os obstáculos para que o Evangelho avance.
1. OS OBSTÁCULOS DEVEM NOS IMPULSIONAR NA EVANGELIZAÇÃO
Esse trecho de Atos 8 só pode ser lido a partir do contexto de Atos 1.8, que diz: “... mas recebereis
poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em
toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra”. Os quatro primeiros versículos nos apresentam o
cenário para o desenrolar da missão de Deus para outros povos que não só os judeus. O martírio de Estevão
provoca grande perseguição. Para demonstrar toda essa perseguição, Lucas nos apresenta a figura de Saulo,
que consentia na morte de Estevão. O texto bíblico nos diz que ele assolava a igreja, como uma fera
selvagem que corra atrás de sua presa. Ele entrava nas casas e não poupava nem as mulheres. Saulo era
símbolo da perseguição que houve em toda a Judeia, onde muitos cristãos foram martirizados.
A grande perseguição levou a uma grande dispersão, levando os cristãos para muitos lugares, bem
como o anúncio do Evangelho. Nesse exato momento se cumpria a promessa de Jesus, que o Evangelho
chegaria em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra. O Evangelho quebrava as fronteiras de
Jerusalém. Como assevera John Stott, “o martírio de Estevão causou a perseguição, e a perseguição a
diáspora, a diáspora agora resultou numa ampla evangelização”.1
É impressionante como Deus tem o poder de transformar o mal em bem. Assim como aconteceu na
história de José do Egito, Deus se utiliza de uma situação terrível para fazer com que o seu reino se expanda.
“Do ponto de vista humano, aquele foi um dia tenebroso para os crentes, mas do ponto de vista de Deus
foi o começo de uma grande revolução espiritual, quando a igreja alargou suas fronteiras em direção aos
confins da terra”.2 Precisamos crer nos designíos de Deus em nossas vidas.
2. CADA CRISTÃO UM EVANGELISTA
A perseguição não paralisou os cristãos. Mas, enquanto fugiam, não se mantiveram em silêncio, mas
por toda parte pregavam a palavra (v. 4). Perceba que não eram os apóstolos que saíram pregando por toda
parte, mas todos os cristãos. A evangelização alcança o mundo quando cada cristão se entende como um
evangelista.

1
STOTT, p. 163
2
LOPES, p. 168
A evangelização não pode ser uma programação em nossa vida, mas um estilo de vida. Os apóstolos
sozinhos não poderiam pregar o evangelho por todo o mundo. Mas, quando cada cristão se envolve com a
evangelização, tornando-se um missionário, o evangelho pode alcançar toda terra.
Lopes está certo em dizer que “quem não é um agente missionário é um campo missionário”.3
Precisamos entender que as adversidades que se levantam contra os cristãos não podem nos paralisar em
relação a missão de Deus. Onde Deus te colocou, o que você está fazendo para que as pessoas conheçam a
Jesus?
3. SAINDO DA PARALISIA
Para nós é difícil entender o passo gigante dado por Filipe ao pregar para os samaritanos. No
Evangelho de João, somos informados que os samaritanos não se davam com os judeus. Essa era uma briga
de mais de mil anos. Ela começou com o fim da monarquia unificada no século X a.C., quando as dez tribos
fundaram o reino do Norte, que tinha como capital a Samaria. A situação se agravou quando Samaria foi
tomada pela Assíria em 722 a.C. e milhares de estrangeiros povoaram o território das dez tribos, causando
grande miscigenação. Assim, os judeus viam os samaritanos como uma espécie de “judeu híbrido”, não eram
mais uma raça pura e não guardavam mais a lei como eles. Agora, em Atos 8, vemos que Filipe deixa esses
obstáculos de lado para que a promessa de Deus se cumpra na vida daquele povo.
Nem sempre Deus nos levará para falar as pessoas que nos sentimos mais confortáveis, mais seguros,
gente mais amigável. Deus nos coloca onde Ele quer, para alcançar quem Ele deseja. A adversidade fez com
que Filipe deixasse seu conforto, vencesse a paralisia e o comodismo, para falar para uma cidade inteira. Foi
a partir da ousadia de Filipe que Deus agiu em sua vida e por meio dela, e as barreiras físicas foram
rompidas. O lugar onde Deus te colocou é o teu grande campo missionário. Pode ser até que você não goste
desse lugar e tenha dificuldades com as pessoas de lá, mas são essas pessoas que Deus deseja alcançar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O texto termina dizendo que houve grande alegria naquela cidade. É assim que deve acontecer.
Quando chegarmos em algum lugar, precisamos produzir a alegria que vem de Deus. O Evangelho não torna
as pessoas mais tristes, mas mais felizes porque se veem libertas de seus pecados.

3
LOPES, p. 172

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