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Ficha de Educação Literária 8

Contos: «George», de Maria Judite de Carvalho

Nome___________________________________ N.o _____ 12.o _____ Data ____/ ____/ ____

Avaliação ____________________ E. de Educação _____________ Professor/a ____________

Unidade 2

Lê o excerto textual seguinte e responde às questões.

A George
O rosto da jovem que se aproxima é vago e sem
contornos, uma pintura clara, e, quando os tiver, a
esses contornos, ele será o rosto de uma fotografia
que tem corrido mundo numa mala qualquer, que
5 tem morado no fundo de muitas gavetas, o único
fetiche de George. As suas feições ainda são in-
certas, salpicando a mancha pálida, como acontece
com o rosto das pessoas mortas. Mas, tal como
essas pessoas, tem, vai ter, uma voz muito real e
10 viva, uma voz que a cal e as pás de terra, e a pedra
e o tempo, e ainda a distância e a confusão da vida
de George, não prejudicaram. Quando falar não
criará espanto, um simples mal-estar.
[…]
A outra está perto. Se houve um momento de
15 nitidez no seu rosto, ele já passou, George não deu
por isso. Está novamente esfumado. A proximida-
de destrói ultimamente as imagens de George, por
isso a vai vendo pior à medida que ela se aproxi-
ma. […] Gi fá-la [a pergunta] por fazer e sorri o
20 seu lindo sorriso branco de 18 anos. Depois ambas
dão um beijo rápido, breve, no ar, não se tocam,
nem tal seria possível, começam a mover-se ao
mesmo tempo, devagar, como quem anda na água
ou contra o vento. Vão ficando longe, mais longe.
25 E nenhuma delas olha para trás. O esquecimento
desceu sobre ambas.

Agora está à janela a ver o comboio fugir de dantes, perder para todo o sempre árvores e
casas da sua juventude, perder mesmo a mulher gorda, da passagem de nível, será a mesma ou
uma filha ou neta igual a ela? Árvores, casas e mulher acabam agora mesmo de morrer, deram o
30 último suspiro, adeus. Uma lágrima que não tem nada a ver com isto mas com o que se passou
antes – que terá sido que já não se lembra?, uma simples lágrima no seu olho direito, o outro,
que esquisito, sempre se recusa a chorar. É como se se negasse a compartilhar os seus proble-
mas, não e não.

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A figura vai-se formando aos poucos como um puzzle gasoso, inquieto, informe. Vê-se um
35 pedacinho bem nítido e colorido mas que logo se esvai para aparecer daí a pouco, nítido ainda,
mas esfumado. […]
À sua frente uma senhora de idade, primeiro esboçada, finalmente completa, olha-a aten-
tamente. De idade não, George detesta eufemismos, mesmo só pensados, uma mulher velha.
Tem as mãos enrugadas sobre uma carteira preta, cara, talvez italiana, italiana, sim, tem a certe-
40 za. A velha sorri de si para consigo, ou então partiu para qualquer lugar e deixou o sorriso como
quem deixa um guarda-chuva esquecido numa sala de espera. O seu sorriso não tem nada a ver
com o de Gi – porque havia de ter? –, são como o dia e a noite.

Maria Judite de Carvalho, «George», in Seta despedida – Obras completas – vol. V,


Lisboa, Minotauro, Almedina, 2019, pp. 219-224.

1. Identifica as três figuras femininas presentes nos excertos e explica de que forma se
relacionam.
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2. Explica o simbolismo destes encontros, tendo em conta a globalidade do conto.


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3. Refere três aspetos linguísticos ou estilísticos típicos da prosa de Maria Judite de Carvalho.
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4. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.


Nos excertos apresentados, são referidas transformações a) _________ da personagem
George. Para além da mudança constante de b) _________ , George muda também a sua
aparência regularmente. Interiormente, há evidências de diversas metamorfoses, evidenciadas
pela
c) _________ , ou pelo desapego aos bens materiais, que lhe permitiam a liberdade necessária
para mudar.

a) b) c)

1. interiores 1. residência 1. alteração da cor do cabelo

2. exteriores 2. nacionalidade 2. inconstância amorosa

3. interiores e exteriores 3. nome 3. mudança de profissão

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