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GEORGE, de Maria Judite de Carvalho

1.1. Estrutura do conto

Divisão em 4
momentos 1º momento
(ll.1 a 61)

GI GEORGE GEORGINA

2º momento 4º momento 3º momento


(ll. 62 a 121) (ll.166 a 177) (ll. 122 a 165)

Os diferentes EU-PASSADO EU-PRESENTE EU-FUTURO


“EU”.

18 ANOS 45 ANOS 70 ANOS


IDADE

“dois olhos largos, “Fez loiros os cabelos, de “mãos enrugadas” (l.


semicerrados, uma boca todos os loiros, um dia 129), “Uma velha de
fina, cabelos escuros, ruivos por cansaço de si, cabelos pintados de
lisos, sobre um pescoço mais tarde castanhos, acaju, de rosto
alto de Modigliani” (ll. loiros de novo, pintado de vários tons
CARATERIZAÇÃO FÍSICA

20-21), “rapariguinha esverdeados, nunca de rosa, é certo que


frágil” (l. 70), “lindo escuros, quase pretos, discretamente mas
sorriso branco” (l. 110); como dantes eram.” (ll. sem grande perfeição.
33-35), “olhos de pupilas A boca, por exemplo,
escuras, semicirculares” está um pouco
(l. 125); esborratada.” (ll. 133-
135).

juventude idade adulta Velhice

As três idades da vida da protagonista

LM / junho de 2020 / In “Outras Expressões” – 12º ano


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• Explica como, ao longo do conto, se articulam realidade, memória e imaginação.

1.2.
George evoca o seu passado, materializado na figura de Gi, e perspetiva o seu futuro,
criando uma imagem mental de si própria na velhice, a Georgina.

• Comenta as mudanças físicas e de nome dos diversos “eus” da protagonista.

1.3

O “lindo sorriso” e os “cabelos escuros” de Gi são substituídos pelo sorriso alheado e os cabelos
pintados de Georgina. Os nomes da personagem coadunam-se com os diferentes momentos da
sua evolução:
• Gi é um nome constituído por apenas uma sílaba, uma abreviatura carinhosa usada até
à sua juventude;
• George transmite uma maior sobriedade; poderá tratar-se do nome artístico da pintora;

• Georgina é o nome mais longo, mais sério e pesado (também pelo número de sílabas),
condizendo com a idade.

------Análise de cada um dos momentos----

1º momento (ll. 1-61)

• Descreve as circunstâncias em que se encontra George, no começo da narrativa.

2. George encontra-se a caminhar numa “longa rua” (l. 3) num dia de muito calor.

• Destaca o efeito expressivo da utilização do plural nas formas verbais com que se
iniciam os dois parágrafos do texto.

3. A utilização do plural (“Andam”; “Caminham”) indicia a existência de duas personagens.

LM / junho de 2020 / In “Outras Expressões” – 12º ano


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• Relaciona a frase interrogativa “Perdeu ou largou?” caracterização psicológica da


protagonista esboçada nesta parte do conto.

4.

“ …perdeu a bússola não sabe onde nem quando, perdeu tanta coisa sem ser a bússola. Perdeu
ou largou?” (l.7) - caracterização psicológica da protagonista ao longo do conto

George aprecia a liberdade e, por isso, evita criar vínculos com objetos e lugares. Assim, a
pergunta reforça a ideia de que as perdas da personagem poderão ser deliberadas.

• Interpreta as referências às “malas”, a de cabedal riscado e as “caras”, leves, malas


de voar e com rodinhas”, no contexto em que ocorrem.

5.

“… por isso se foi um dia com uma velha mala de cabedal riscado, não havia outra lá em casa.
E as suas malas agora são caras, leves, malas de voar e com rodinhas.” (ll. 58 a 61)

As referências às “malas” mostram a evolução da personagem no que diz respeito ao seu


estatuto social. De origens humildes, George alcançou um bem-estar económico que lhe permite
adquirir artigos mais sofisticados.

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2º momento (ll. 62 a 121)

• Esclarece a decisão de George de “ter deixado a vila” (l.38) e ter partido “à descoberta
da cidade grande” (ll. 31 -32), considerando as convenções sociais expostas no diálogo
com GI.

6.

Na época em questão, não parece ser aceitável uma mulher partir sozinha para uma cidade
grande, já que esse seria um local de perdição. A mulher deve cumprir o seu papel, isto é,
casar, ter filhos e tomar conta da casa [Diálogo entre George e Gi:
- Ainda desenhas?
– Se não desenhasse dava em maluca. E eles acham que eu tenho muito jeitinho, que hei
de um dia ser uma senhora da vila, uma esposa exemplar; uma mãe perfeita, tudo isso com
muito jeito para o desenho. Até posso fazer retratos das crianças quando tiver tempo, não é
verdade?” ll. 92-95)].

• Reflete sobre o simbolismo da venda da casa.

7.

A venda da casa pode representar a rutura com o seu passado.

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3º momento ( ll. 122 a 165)

• Aponta duas referências incluídas no discurso da “mulher velha” (l.129) que permitam
associá-la à metamorfose futura de George.

8.

À sua frente uma senhora de idade, primeiro esboçada, finalmente completa, olha-a
atentamente. De idade não, George detesta eufemismos, mesmo só pensados, uma mulher
velha… (ll.127 a 129)

[…]

- Também tenho muitos encontros, eu. Não quero tê-los mas sou obrigada a isso, vivo tão só.
Cheguei à ignomínia de pedir a pessoas conhecidas retratos da minha família. Não tinha
nenhum. Não tinha nenhum, só um retrato meu, de rapariguinha…[…]

- Como sabe que…

- E verá que está só e olhará para o espelho com amais atenção e verá que está velha.
Irremediavelmente velha.

- Tenho um trabalho que me agrada.

- Não seja tonta, menina. Outro dia vai reparar, ou talvez já tenha dado por isso, que está a ver
pior, e outro ainda que as mãos lhe tremem […]

Trata-se da metamorfose de George pela referência ao retrato (“um retrato meu, de


rapariguinha”, l. 149), que corresponde à fotografia mencionada no início do conto (ll. 13-15), e
pela indicação de que “está a ver pior” (l. 158), anteriormente referenciada (“Está novamente
esfumado. A proximidade destrói ultimamente as imagens de George, por isso a vai vendo pior à
medida que ela se aproxima. É certo que podia pôr os óculos, mas sabe que não vale apena o
trabalho - ll. 62-64).

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• Refere o(s) efeito(s) de sentido produzido(s) com o recurso à interrogação “porque havia
de ter?”

9.

À sua frente uma senhora de idade, primeiro esboçada, finalmente completa, olha-
a atentamente. De idade não, George detesta eufemismos, mesmo só pensados, uma
mulher velha. Tem as mãos enrugadas sobre uma carteira preta, cara, talvez italiana,
italiana, sim, tem a certeza. A velha sorri de si para consigo, ou então partiu para qualquer
lugar e deixou o sorriso com quem deixa o guarda-chuva esquecido numa sala ade espera.
O seu sorriso nada tem a ver com o de Gi – por que havia de ter? – são como odia e a
noite.

A interrogação reforça a ideia de metamorfose da figura feminina, salientando a evolução e


transformação da personagem.

• Explicita a intenção subjacente ao diálogo entre George e a senhora de idade com


quem se encontra no comboio (ll. 137 a 165)

10.

A senhora de idade simboliza a voz da experiência, o saber empírico que alerta George para
os problemas com que se deparará no futuro.
Esta figura, fruto da sua imaginação, pode ser vista como a representação de um medo
inconsciente da personagem.

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4º momento (ll. 166 a 177)

• Justifica o facto, apenas na parte final do conto, se conhecer o nome de Georgina.

11.

Trata-se de uma estratégia narrativa. O narrador desvela, agora totalmente, a dinâmica do


conto, entre a realidade da personagem (GEORGE), a sua memória (GI) e a sua imaginação
(GEORGINA).

• Indica o(s) motivo(s) que permite(m) a George sentir-se “tranquilizada” (l.176), no


final do conto.

12.

Depois das suas digressões ao passado e ao futuro, George tranquiliza-se por poder voltar a
casa e por se convencer de que, graças ao seu dinheiro, na velhice, não será uma pessoa só,
contrariamente ao prognóstico de Georgina.

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• Reflete sobre as potencialidades significativas do nome da protagonista,


relacionando-o com o tema da complexidade da natureza humana, explorado no
conto.

13.

A evolução da sua vida reflete naturalmente a complexidade humana, também


espelhada no nome:

• a abreviatura Gi, decorrente de um tratamento carinhoso de infância que se


prolonga até à juventude, será também imagem de submissão aos ditames
familiares e sociais;
• George, o nome do presente do conto, indicia a rutura que a personagem
pretendia, procurando voar em liberdade – o nome não é português, o que
denota o cosmopolitismo procurado, sugerindo ainda alguma ambiguidade de
género (o nome é masculino);
• Georgina será o nome de registo da personagem, assumido pelo narrador na
imaginação da figura da velhice, como numa atitude de resignação, de
assunção de uma identidade inteira e final.

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GRAMÁTICA

1. (REPRODUÇÃO DO DISCURSO NO DISCURSO)

DD

- Ainda desenhas? [George]

– Se não desenhasse dava em maluca. E eles acham que eu tenho muito jeitinho, que
hei de um dia ser uma senhora da vila, uma esposa exemplar; uma mãe perfeita, tudo
isso com muito jeito para o desenho. Até posso fazer retratos das crianças quando tiver
tempo, não é verdade?” [GI]

DI

George perguntou a Gi se ainda desenhava ao que ela respondeu afirmativamente,


referindo que se não desenhasse daria em maluca. Acrescentou ainda que eles
achavam que ela tinha muito jeitinho, que um dia havia de ser uma boa senhora da
vila, uma esposa exemplar, uma mãe perfeita, tudo aquilo com muito jeito para o
desenho. Finalmente, disse que até poderia fazer retratos das crianças quando tivesse
tempo.

LM / junho de 2020 / In “Outras Expressões” – 12º ano

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