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CENTRO UNIVERSITÁRIO IESB

EDNA DE FREITAS RABÊLO

EFEITOS PSICOLÓGICOS DECORRENTES DO USO DE


ANABOLIZANTES

BRASÍLIA, 2019
EDNA DE FREITAS RABÊLO

EFEITOS PSICOLÓGICOS DECORRENTES DO USO DE


ANABOLIZANTES

Este trabalho aborda a origem do uso de anabolizantes,


seus efeitos fisiológicos, mas especialmente os efeitos
psicológicos causados por essa substância.

BRASÍLIA, 2019
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 03
2. ANABOLIZANTES 04
2.1. Conceito e origem dos anabolizantes 04
2.2. Perfil dos consumidores de anabolizantes 04
2.3. Efeitos psicológicos do uso de esteroides anabolizantes androgênicos 05
2.4. Transtorno dismórfico corporal (TDC) 06
2.5. Dismorfia muscular 06
2.6. Tratamento da dismorfia muscular 07
3. CONCLUSÃO 08
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 09
1. INTRODUÇÃO

O uso indiscriminado e abusivo de anabolizantes deixou de ser uma prática exclusiva


de competidores fisiculturistas e levantadores de peso. A exigência com aparência física não é
mais uma preocupação apenas feminina, os homens estão cada vez mais auto exigentes nesse
quesito, o que levou ao aumento do uso de anabolizantes esteroides em busca do que é dito
como “o corpo ideal”. Porém, o uso dessas substâncias, sem que haja carências fisiológicas, e
sem supervisão médica, acarreta uma série de consequências, tanto para saúde fisiológica,
quanto para mental.

Segundo pesquisas que serão abordadas neste trabalho, o transtorno da dismorfia


corporal (TDC), e em maior parcela a dismorfia muscular, estão presentes em grande parte dos
praticantes de fisiculturismo e levantadores de peso. Estes atletas são grandes consumidores de
anabolizantes para alcançar os objetivos que vão além do que é possível atingir de forma
natural.

O objetivo desse trabalho é apresentar e ressaltar os efeitos psicológicos do uso de


anabolizantes.

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2. ANABOLIZANTES
2.1. Conceito e origem dos anabolizantes

“Os hormônios esteroides são produzidos pelo córtex da supra-renal, e pelas gônadas
(ovários e testículos). Os esteroides anabolizantes ou esteroides anabólico-androgênicos (EAA)
referem-se a hormônios esteroides da classe dos hormônios sexuais masculinos, promotores e
mantenedores de características sexuais associadas a masculinidade e do status anabólico dos
tecidos somáticos. Os esteroides anabólicos incluem a testosterona e seus derivados. Entretanto,
alguns autores referem os esteroides anabolizantes como os derivados sintéticos da testosterona
que possuem atividade anabólica (promoção do crescimento) superior a atividade androgênica
(masculinização).” (Czepielewski, Danielski, Silva, 2002).

Há histórico de uso de anabolizantes desde a Grécia Antiga, quando grandes campeões


olímpicos consumiam testículos de carneiro (fonte de testosterona), para obter melhor
desempenho nas batalhas.

Relatos do final do século XIX, de um fisiologista francês, Charles Eduard Brown-Séquard,


que aplicou em si a injeção de um líquido derivado de cães e porcos da índia. Charles relatou
que após o experimento, tanto sua força física, quanto a energia intelectual progrediram.

No século XX, por volta da Segunda Guerra Mundial, os andrógenos eram usados no
tratamento de doenças ligadas a debilidade crônica, na depressão e na recuperação de grandes
cirurgias.

Seu uso foi grandemente difundido em 1964, por atletas russos, porém foi proibido pelo
COI (Comitê Olímpico Internacional).

Atualmente essas drogas são usadas de forma abusiva, inclusive por não atletas, que tem o
interesse de aumentar a massa e adquirir mais força muscular.

2.2. Perfil dos consumidores de anabolizantes

Ao contrário de antigamente, que a preocupação com a aparência física era exclusiva das
mulheres, hoje os homens também demonstram maior exigência com a própria forma física.
Além de fisiculturistas, e atletas do levantamento de peso, essa maior exigência com a aparência
física aumentou o número de jovens que fazem uso de anabolizantes, para superar os ganhos de
hipertrofia e força que adquirem nos exercícios de musculação. Porém, maior parte desses
atletas e jovens faz uso indiscriminado, por conta própria, de substância como EAA,
popularmente conhecidos como bombas, que causam grandes efeitos colaterais, tanto
fisiológicos, quanto psicológicos.

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2.3. Efeitos psicológicos do uso de esteroides anabolizantes androgênicos

Além dos efeitos fisiológicos bem conhecidos como consequência do uso de tais
substâncias, tais como: pêlo facial, engrossamento da voz, aumento de pêlos no corpo,
amenorreia, aumento de apetite, crescimento do clítoris, atrofia dos testículos, impotência,
calvície, acne, distúrbios nas funções do fígado, tumores no fígado, coágulos de sangue,
retenção de líquidos, aumento na pressão arterial, dentre inúmeros outros, iremos nos ater, em
especial, aos efeitos psicológicos decorrentes do uso de tais substâncias.

O uso incorreto de anabolizantes acarreta alterações psicológicas, como mostra um amplo


estudo com usuários de EAA nos Estados Unidos, onde 25% desses indivíduos sofriam de
algum tipo de transtorno de humor (Pope e Katz, 1994).

Elevação do nível de agressividade, tal como mudanças súbitas de comportamento,


síndromes comportamentais, sentimento de invencibilidade, intolerância, ciúme patológico,
alterações de libido, e inclusive crimes contra propriedades também são citados (Silva e
Colaboradores, 2002).

Daigle (1990) encontrou relação do uso de EAA com decréscimo na tolerância à frustração,
especialmente em situações que envolvem provocação.

Corrigan (1996) apud Silva e colaboradores (2002), categoriza os efeitos colaterais do EAA
em três subdivisões.

Na primeira estão os efeitos imediatos após início do uso, onde podemos observar o
aumento de força, autoestima, disposição, início de insônia, raiva e irritação, resumindo, efeitos
ligados ao humor e euforia. Na segunda estão os efeitos do uso prolongado e exagerado. Pode-
se perceber perda de inibição, com alterações mais acentuadas de humor. Na terceira estão
efeitos mais graves, pois o nível de agressividade evolui, tornando frequentes agressões,
comportamentos provocativos e antissociais. Também é comum que nessa fase surja ideação
suicida, homicida, e abuso infantil.

Lise (1999) fez um estudo entre jovens atletas, demonstrando que o uso de EAA aumentou
a agressividade, diminuiu a cooperatividade, sendo observado também comportamento
narcisista e personalidade antissocial relacionados ao uso de EAA, que pode provocar tantos
outros distúrbios graves de humor.

Corrigan (1996) apud Silva e colaboradores (2002) formularam também a hipótese de que
casos de esquizofrenia aguda podem estar ligados ao uso de esteroides metandienona. Já o uso
de oxandrolona e oximetolona estariam ligados a casos de mania, hipomania, confusão mental,
paranoia e depressão.

Estudos revelam ainda que EAA pode causas dependência, levando também a crises de
abstinência, que desencadeiam crises comportamentais. Demonstram ainda que o uso da
metandiona provoca alterações da função serotoninérgica, que seria a causa das alterações
comportamentais (Silva et al, 2002).

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Brower (1992) e DuRant e colaboradores (1993), ressaltam que síndromes da abstinência
estão presentes em cerca de 14-57% dos casos (Brower, et al., 1991), sendo observados
sintomas como: fadiga, insônia, perda de apetite, decréscimo da libido e dores de cabeça. Lise
(1999) também observa sintomas adrenérgicos e fissura, bem como depressão.

De fato, as evidências são tão consistentes, que a APA (Associação Psicológica Americana,
1994) já codificou a síndrome da abstinência como “Transtorno da dependência do hormônio
esteroide sexual” (Kashkin e Kleber, 1999).

Cognitivamente falando, Silva e colaboradores (2002), encontraram maior frequência de


distração, esquecimento e confusão mental.

2.4. Transtorno dismórfico corporal (TDC)

Esse transtorno faz com que o paciente tenha uma visão distorcida de como seu corpo
realmente é, fazendo com que encontre “defeitos” que não existem. Pode apresentar
consequências pessoais, profissionais, sociais e familiares (Torres et al., 2005).

Tal transtorno tem características em comum com o TOC (transtorno obsessivo


compulsivo), pois “em ambos o paciente apresenta pensamentos desagradáveis, que
desencadeiam comportamento repetitivos compulsivos, priorizando impressões internas, e
desprezando as opiniões alheias” (Torres, et al., 2005). Como diferença os autores citam que
enquanto no TDC “os pacientes possuem um prejuízo alto quanto as críticas relacionadas a sua
obsessão, apresentando ideias supervalorizadas de caráter egossintônico, os pacientes de TOC
apresentam esse tipo de crítica bem menos prejudicada”. Outra diferença é que no TDC a
preocupação é exclusiva com o corpo, diferente do TOC, em que o paciente se preocupa com
diferentes conteúdos.

2.5. Dismorfia Musuclar

Enquanto na anorexia o paciente enxerga-se acima do peso, mesmo estando esquelético, na


desmorfia muscular o paciente enxerga-se magro, desnutrido, mesmo com uma hipertrofia
exagerada (Assunção, 2002). Tal transtorno pode levar o paciente a evitar locais onde há
exposição corporal, como piscinas e praias, usar várias camadas de roupa para esconder a
suposta magreza, enfim, comportamentos que visam esconder o próprio corpo (Pope et al.,
2000).

Uma pesquisa desenvolvida por Pope, em 1993, demonstrou que cerca de 10% dos
fisiculturistas apresentam sintomas da dismorfia muscular, e que 4 entre 9 destes pacientes
desenvolveram a doença após começar a fazer uso de esteroides anabolizantes. Entre os
fisiculturistas que participam de competições, o índice sobe para 84%.

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Olivardia e colaboradores (2000) encontraram maior incidência de alterações de humor e
alimentares em pacientes com dismorfia muscular, do que em pacientes com TDC. A alteração
da percepção corporal é acompanhada de alterações na alimentação, passando ao consumo de
alimentos hiperproteicos, aliado ao consumo de suplementos alimentares a base de
aminoácidos. Os exercícios físicos podem também tomar muitas horas do dia do paciente, que
o leva a deixar atividades profissionais, românticas e recreativas de lado (Assunção, 2002).

2.6. Tratamento da dismorfia muscular

Assim como o tratamento ligado a outros vícios, o tratamento da dismorfia muscular, que
está diretamente ligada ao uso de anabolizantes, passa por estágios, onde o paciente transforma
a imagem que tem de si, e busca alternativas para desenvolver o físico, deixando assim o uso
da droga (Wroblewska, 1996).

No entanto, existe pouca descrição sistemática para o tratamento da distrofia muscular,


sendo assim, utiliza-se de técnicas empregadas nos tratamentos de TDC, assim como de
transtornos alimentares. E assim como indivíduos com anorexia nervosa, dificilmente pacientes
com distrofia muscular reconhecem o problema, e buscam tratamento (Assunção, 2002: 3).

A abordagem psicológica mais utilizada nesse tipo de tratamento é a terapia cognitivo


comportamental. Como estratégia utiliza-se a identificação de padrões distorcidos da percepção
da imagem corporal. Em seguida são identificados os aspectos positivos da aparência física, e
é feito o confronto com perfis que são possíveis ou não de se alcançar (Assunção, 2002).

O uso de fármacos não é muito aconselhável, uma vez que poderá gerar a substituição da
dependência dos esteroides, pelos medicamentos. Porém, em alguns casos os aspectos
obsessivos compulsivos podem ser minimizados com o uso de inibidores seletivos de
recaptação de serotonina (Almeida, Carijó, Martins, Mirailh, Peixoto, Ramalho, Sholl-Franco,
Silveira, 2005).

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2. CONCLUSÃO

Analisando as várias pesquisas apresentadas no decorrer do trabalho, podemos observar que


o uso de anabolizantes, por curto prazo, já causa danos à saúde, tanto fisiológicos quanto
psicológicos, sendo de mais fácil tratamento. Porém, seu uso por períodos mais longos, além
da dependência, e problemas fisiológicos mais graves, também é responsável pelo
desenvolvimento de personalidades agressivas, com maior incidência de ideação suicida,
homicida, comportamento antissocial, desenvolvimento do transtorno dismórfico corporal
(TDC), e com maior incidência a dismorfia muscular.

Como a eclosão do uso de anabolizantes por uma parcela maior da população ainda é
recente, existem poucas estatísticas sobre os efeitos psicológicos decorrentes do uso de
anabolizantes. Mesmo assim contamos com vários estudos, que apresentam todos efeitos
nocivos do uso indevido e indiscriminado de tais substâncias.

Com os estudos apresentados, pudemos observar que grande parte dos atletas fisiculturistas
que fazem uso de anabolizantes, apresentam dismorfia muscular.

A abordagem psicológica cognitivo comportamental tem sido bastante aplicada para o


tratamento da dismorfia muscular, a partir da identificação de aspectos positivos da aparência
física, e do confrontamento de padrões corporais possíveis e impossíveis de serem atingidos.
Os fármacos não são muito indicados para esse tratamento, pois existe o risco de dependência
por substituição, sendo que em alguns casos obsessivos compulsivos, são receitados inibidores
seletivos de recaptação de serotonina.

Em uma sociedade que impõe cada vez mais padrões estéticos, e os jovens estão expostos
a tais cobranças sociais, é altamente necessário a ampla divulgação de estudos como os
apresentados neste trabalho, para que haja uma conscientização dos jovens sobre as
consequências da busca desenfreada pela beleza, a todo custo.

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3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSUNCAO, Sheila Seleri Marques. Dismorfia muscular. Rev. Bras. Psiquiatr.,


São Paulo, v. 24, supl. 3, p. 80-84, dez. 2002. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151644462002000700018&
lng=pt&nrm=iso>.

MARTINS, Cristiane Mega et al. Efeitos psicológicos do abuso de


anabolizantes. Ciências & Cognição, [S.l.], v. 5, fev. 2011. ISSN 1806-5821.
Disponível em:
<http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/522/318>.

SILVA, Paulo Rodrigo Pedroso da; DANIELSKI, Ricardo; CZEPIELEWSKI, Mauro


Antônio. Esteróides anabolizantes no esporte. Rev Bras Med Esporte, Niterói, v. 8, n.
6, p. 235-243, dez. 2002. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151786922002000600005&
lng=pt&nrm=iso>.

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