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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE APOIO À PESQUISA - PAPq /UEMG


EDITAL 05/2020

CARLOS RENAN SAMUEL SANCHOTENE


LUCAS VILELA DE FARIA

A CIRCULAÇÃO DE FAKE NEWS SOBRE A COVID-19:


UM ESTUDO A PARTIR DA CONVERSAÇÃO NA REDE SOCIAL TWITTER

DIVINÓPOLIS
2022
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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS..............................................................................................................3

LISTA DE QUADROS............................................................................................................4

1 - INTRODUÇÃO...................................................................................................................5

2 - AS FAKES NEWS E AS DINÂMICAS DAS REDES SOCIAIS...................................7

4 – METODOLOGIA............................................................................................................13

5.1 #NAOVOUVACINAR...............................................................................................16

5.1.1 VOZ DOMINANTE..............................................................................................18

5.1.2 PREOCUPAÇÃO..................................................................................................21

5.1.3 COMPROMETIMENTO.....................................................................................21

5.1.5 ALINHAMENTO..................................................................................................22

5.2 #DERRUBAYOUTUBE...............................................................................................23

5.3.1 VOZ DOMINANTE..............................................................................................25

5.2.2 PREOCUPAÇÃO..................................................................................................29

5.2.3 COMPROMETIMENTO.....................................................................................31

5.2.4 POSICIONAMENTO............................................................................................33

5.2.5 ALINHAMENTO..................................................................................................33

5.3 #VACINAMATA..........................................................................................................35

5.3.1 VOZ DOMINANTE..............................................................................................37

5.3.2 PREOCUPAÇÃO..................................................................................................40

5.3.3 COMPROMETIMENTO.....................................................................................41

5.3.4 POSICIONAMENTO............................................................................................43

5.3.5 ALINHAMENTO..................................................................................................43

6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................45

7- REFERÊNCIAS.................................................................................................................46
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Como as pessoas podem ajudar a combater a infodemia de COVID-19?..............13


Figura 2 – “Bonde da Vacinação Sem Freio” .........................................................................16
Figura 3 – “Tweet com a primeira hashtag #naovouvacinar” .................................................17
Figura 4 – Usuário @nelsonJOAS ..........................................................................................17
Figura 5 – Usuário @paulocandango ......................................................................................18
Figura 6 – Interação usuário @silvanaappio ...........................................................................19
Figura 7 – Jair Bolsonaro durante live ....................................................................................23
Figura 8 – Primeira postagem da Hashtag ..............................................................................24
Figura 9 – Participação @ EDSONFILHO74 .........................................................................24
Figura 10 – Participação @brasildefato ..................................................................................26
Figura 11 – Participação @EmersonAnomia...........................................................................27
Figura 12 – Preocupação: Meme .............................................................................................30
Figura 13 – Solicitação de retirada do conteúdo .....................................................................30
Figura 14 – Participação @franciscobronze ...........................................................................32
Figura 15 – Participação @ T0ny_vcf ...................................................................................32
Figura 16 – Alinhamento #Bolsonaro .....................................................................................34
Figura 17 – Notícia Portal G1 Rio Grande do Sul...................................................................35
Figura 18 – Primeira postagem com hashtag #vacinamata .....................................................35
Figura 19 – Conversação @rcpedruzzi....................................................................................36
Figura 20 – Interação 1 @JohnMot62039918 .........................................................................38
Figura 21 – Interação 2 @JohnMot62039918..........................................................................38
Figura 22 – Preocupação: Vacinação em crianças ..................................................................40
Figura 23 – Preocupação: Voto impresso ...............................................................................40
Figura 24 – Interação com a cantora Maraisa..........................................................................42
Figura 25 – Interação 3 @BolsonaroFerro...............................................................................44
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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Ranking dos perfis com maior número de seguidores #naovouvacinar................18


Quadro 2 – Ranking dos perfis com maior número de retweets # naovouvacinar...................20
Quadro 3 – Ranking dos perfis com número de tweets #naovouvacinar.................................22
Quadro 4 – Ranking dos perfis com maior número de seguidores #DerrubaYoutube............25
Quadro 5 – Ranking dos perfis com maior número de curtidas #DerrubaYoutube.................27
Quadro 6 – Ranking dos perfis com maior número de retweets #DerrubaYoutube................28
Quadro 7 – Ranking dos perfis com número de tweets ##DerrubaYoutube............................31
Quadro 8 – Ranking dos perfis com maior número de seguidores #VacinaMata....................37
Quadro 9 – Ranking dos perfis com maior número de curtidas #vacinamata..........................39
Quadro 10 – Ranking dos perfis com número de tweets #vacinamata....................................41
Quadro 11 - Top hashtags utilizadas em paralelo....................................................................43
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1 - INTRODUÇÃO

Os meios digitais, como redes sociais e aplicativos têm transformado a forma de se


comunicar da sociedade, seja na comunicação, segurança e na área da saúde, oferecendo ao
usuário facilidade comunicacional de informações, notícias e serviços de forma rápida e nem
sempre confiável. Os últimos anos se destacaram pela quantidade de notícias falsas
envolvendo a pandemia mundial do novo coronavírus, se tornando frequente nos meios de
comunicação, nas redes sociais e nas conversas cotidianas. Observamos que devido a essa
facilidade de se comunicar modificaram a relação entre o que é verdadeiro ou não se tornou
motivo de pesquisas e análises.
Tendo em vista a temática de “Fake News”, o tema foi abordado por considerar que,
apesar de não ser um fenômeno recente, a informação falsa ou duvidosa só se torna boato
quando é passada de uma pessoa a outra, tornando-se um processo comunicacional. A
internet e as redes digitais têm a capacidade de potencializar esta propagação. Com isso, a
informação falsa pode ganhar novos meios de legitimação que são usados para dar
credibilidade às histórias contadas, como palavras e expressões apelativas, nomes de
autoridades ou instituições respeitadas (REULE, 2008, p. 64) e, no caso das fake news,
linguagens próprias dos meios de comunicação.
Pesquisas recentes têm demonstrado como as redes sociais contribuem para a
pluralização e a distribuição de debates sobre diversos temas polêmicos (JACKSON;
VALENTINE, 2014). Com destaque no ano de 2020, a questão das notícias falsas
envolvendo a pandemia mundial do novo coronavírus se tornou elemento presente nos meios
de comunicação, nas redes sociais e nas conversas cotidianas. Uma análise inicial revela a
existência de diversos debates sobre a temática no Twitter. Esses temas emergem, sobretudo,
diante do clima de instabilidade política observado ainda no começo de 2020 devido ao
embate político entre o presidente da República Jair Bolsonaro e o então ministro da saúde,
Henrique Mandetta.
Partindo desse contexto, interessa-nos saber como as notícias falsas a respeito da
pandemia do novo coronavírus são apropriadas pelos usuários do Twitter. Assim, essa
pesquisa busca responder a seguinte questão: como ocorre a circulação de boatos sobre a
COVID-19 e a conversação sobre o tema na rede social Twitter? O objetivo principal é
estudar a rede de conversação desenvolvida no Twitter por meio do compartilhamento de
hashtags sobre o tema COVID-19. Entre os objetivos específicos buscamos identificar quem
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são os protagonistas que atingiram uma maior audiência, quais temáticas estão relacionadas a
marca; que perfis mais colaboram para a discussão e propagação da marca; quais os
principais posicionamentos dos usuários e que discussões ocorrem em paralelo.
Estudar os meios de comunicação digitais está em processo de expansão e descoberta
de seu valor simbólico, isso tem desencadeado grandes mudanças nas formas em que nos
comunicamos, passando a criamos sentidos além das escolhas racionais. Esta pesquisa é
relevante porque os meios de comunicação estão em constantes processos de expansão, e isso
tem desencadeado diversas mudanças nas formas como nos comunicamos. A comunicação
nas redes sociais digitais vem se alterando com o tempo em função da facilidade na
transmissão de informações. É possível observar que os usuários buscam se informar através
de redes sociais e aplicativos de mensagens, criando uma rede de conversação daquilo que é
de interesse para cada.
Diante desse cenário e do interesse da pesquisa, acreditamos que existe uma produção
bibliográfica restrita sobre “hashtag studies” (BRUNS; BURGESS, 2016) no Brasil. Assim,
buscamos contribuir com estudos da área a partir de uma análise específica que envolve
conceitos fake news, redes sociais e hashtags. O tema de notícias Fake News foi escolhido
por ter ganhado grande destaque nas mídias sociais digitais desde as eleições presidenciais do
EUA em 2018. O Twitter foi escolhido por ser uma plataforma que não faz diferenciação
entre os perfis quando se diz respeito a pessoas físicas e jurídicas, diferente de outras redes,
como o Facebook, que traz uma formatação diferente nas fanpages e perfis pessoais.
Seguindo esta lógica, acresce-se que a estrutura do Twitter permite a construção de públicos
ilimitadas, sendo as narrativas de seus usuários espalhadas a partir de uma conversação de
massa. Essas características coligadas a variabilidade na organização das conexões,
transformaram o Twitter em uma plataforma bastante utilizada pelos na promoção de
campanhas a partir das hashtags.
Esta pesquisa enquadra-se na categoria de “hashtag studies”, de acordo com a
proposta de Bruns e Burgess (2016), ou seja, ações que procuram capturar um conjunto
abrangente de tweets contendo hashtags proeminentes para compreender um determinado
tema ou evento. Neste caso, trata-se do método de estudo de caso, visto que se pretende, a
partir da seleção de hashtags, reconstruir o contexto da rede de conversação estabelecida, não
sendo objetivo promover uma generalização dos resultados, mas sim fornecer em
profundidade reflexões sobre o fenômeno.
Para tanto, selecionamos três hashtags publicadas pelos usuários do Twitter, sendo
elas #naovouvacinar, #derrubayoutube #vacinamata. A metodologia foi elaborada a partir da
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Análise Crítica (ROGERS, 2018). O autor propõe uma classificação de hashtags em cinco
categorias que visam analisar modos de engajamento por parte daqueles usuários que
transmitem conteúdos na rede. As cinco categorias propostas pelo autor são: voz dominante,
preocupação, comprometimento, posicionamento e alinhamento.
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em que
apresentamos as definições de Pós-Verdade, Fake News e as dinâmicas das redes sociais. Em
seguida, apresentamos nossas observações sobre as fakes news no contexto da pandemia. Por
fim, apresentamos o percurso metodológico, a análise e as conclusões da pesquisa

2 - AS FAKES NEWS E AS DINÂMICAS DAS REDES SOCIAIS

O fazer jornalístico tem se transformado ao longo do último anos. As mudanças no


comportamento social, os surgimentos de novas plataformas e ferramentas de comunicação,
são os responsáveis por grande parte dessas mudanças e no fazer jornalístico, ainda que
continue a noticiar, narrar acontecimentos e fatos verídicos.
Para Rabaça et al (1998, p. 346) o jornalismo é uma “atividade profissional que tem
por objeto a apuração, o processamento e a transmissão periódica de informações da
atualidade, para o grande público ou para determinados segmentos desse público, através de
veículos de difusão coletiva”. Desta forma, o conteúdo é o principal diferencial do
jornalismo, e tem como intuito de informar com veracidade aos fatos.
Para manter o compromisso com fatos, os profissionais jornalistas devem ser éticos
durante toda a prática jornalística. De acordo com Lage (2013, p.21), um dos compromissos
dos jornalistas é levar a verdade dos fatos e fidelidade das narrativas do que é de interesse:

O jornalista deve saber selecionar o que interessa e é útil ao público (o seu


público, o público-alvo); buscar a associação entre essas duas qualidades,
dando à informação veiculada a forma mais atraente possível; ser verdadeiro
quanto aos fatos (verdade, aí, é a adequação perfeita do enunciado aos fatos,
adaequatio intellectus ad rem) e fiel quanto às ideias de outrem que
transmite ou interpreta; admitir a pluralidade de versões para o mesmo
conjunto de fatos, o que é um breve contra a intolerância; e manter
compromissos éticos com relação a prejuízos causados a pessoas,
coletividades e instituições por informação errada ou inadequada a
circunstâncias sensíveis. (LAGE, 2013, p. 21)

Podemos afirmar que a notícia é uma concepção da realidade, mas ela não reproduz
diretamente a realidade. Desta forma, para Xavier (2018) “Mesmo não sendo possível chegar
8

a uma verdade absoluta, os jornalistas precisam estar comprometidos com a ética e com o
interesse público”. Assim, o jornalista deve defender o objetivo principal da profissão: levar a
verdade dos fatos e fidelidade das narrativas.
Mesmo com essa preocupação em manter a fidelidade às informações, ainda existe
um fenômeno de fake news (em português, notícias falsas) devido ao aumento no fluxo de
informações, principalmente nos meios de comunicação digital, como as redes sociais,
aplicativos de troca de mensagens e blogs.
Nos últimos anos abriu se o debate sobre a “pós-verdade”, o termo pós-verdade foi
eleito a palavra do ano de 2016 pelo Dicionário Oxford, onde apresenta a seguinte definição
sobre: “relativo a uma situação ou circunstâncias em que as pessoas são mais propensas a
aceitar um argumento com base em suas emoções e a crenças pessoais”1.
Nesta situação, as pessoas passam a levar a emoção acima da razão, assim, não
importa saber se realmente aquilo é verdadeiro. Para Xavier (2018) se a sociedade não
consegue distinguir o que é verdadeiro, coloca-se em risco a atividade profissional cuja
principal função é relatar fatos reais. Desta maneira surge então uma preocupação quanto o
fazer jornalístico.

A pós-verdade é talvez o maior desafio para o jornalismo contemporâneo


porque ela afeta a relação de credibilidade entre nós e o público. A nossa
atividade está baseada na confiança das pessoas de que o que publicamos é
verdadeiro. Quando uma nova conjuntura informativa interfere nesta
confiabilidade, temos sérias razões para nos preocupar, e muito, sobre o
futuro da profissão. (CASTILHO, 2016)

Pode se dizer que um dos produtos da pós-verdade, são as fake News. O termo fake
news pode ser compreendido como a produção e propagação intensa e massiva de notícias
falsas, com propósito de distorcer fatos intencionalmente, de modo a atrair audiência,
enganar, desinformar, induzir a erros, manipular uma opinião, desprestigiar ou exaltar uma
instituição ou uma pessoa diante de um assunto específico, para obter vantagens econômicas
e até mesmo políticas.
As fakes news utilizam narrativas jornalísticas e componentes noticiosos, tomando
parte nas guerras informativas (GRUZD, RECUER, 2019). Desta forma, essas falsas notícias
ganham “credibilidade” por se assemelhar com notícias jornalísticas, e para isso se
estruturam em três elementos de acordo com Gruzd e Recuer (2019), sendo eles: a) o
componente de uso da narrativa jornalística e dos componentes noticiosos; b) o componente

1
Disponível em https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/post-truth. Acesso em 30 nov 2021.
9

da falsidade total ou parcial da narrativa e; c) a intencionalidade de enganar ou criar falsas


percepções através da propagação dessas informações na mídia social.
Desinformation, misinformation, mal-informtaion, fake news, não se referem a um
fenômeno recente da comunicação. A diferença do atual contexto é a capacidade de
circulação dessas chamadas fake news no ambiente digital, principalmente nas redes sociais
digitais, pois na contemporaneidade há uma forte ação do cidadão comum na produção e
distribuição em larga escala dessas informações.
Os produtores de fake news identificaram um ambiente ideal para propagação desses
conteúdos: as redes sociais digitais, onde os usuários, na maioria das vezes, baseiam suas
opiniões em influenciadores digitais. A maior parte das informações compartilhadas não são
abertas e lidas. Para Alzamora (2019) na maioria das vezes o compartilhamento ocorre
apenas para evidenciar uma crença. Desta forma, o consumo e compartilhamento dessas
informações falsas na atualidade, ocorre justamente para sustentar e influenciar um
posicionamento no ambiente midiático.
Historicamente qualquer notícia profissional ou não, pode estar sujeita a erros ou
enganos, por isso o jornalismo profissional ainda é um norteador de grande relevância para a
checagem e veracidade das informações que são compartilhadas nas redes, pois ele se
estrutura em instrumentos de checagem da informação e atua com compromisso ético com a
informação. Com o acesso facilitado ao ambiente digital, qualquer cidadão, portal ou site
pode disseminar e hospedar informações falsas para serem compartilhadas em larga escala,
dificultando o controle e aumentando a disseminação das fake news.
Nas redes sociais os usuários são responsáveis pela circulação e compartilhamento
das informações, e se utilizam dos recursos fornecidos pelas próprias plataformas de mídias
digitais (como botões de retweet e compartilhamento) para ampliar a visibilidade de
determinados conteúdos (RECUERO, SOARES, ZAGO, 2021). Em plataformas como por
exemplo o Twitter, existem funções, como o retweet e comentário com retweet, que tem
grande importância para a disseminação de informações, pois fazem com que as publicações
alcancem diferentes usuários. Desta forma uma mesma rede de usuários pode estar sujeita a
informações verdadeiras e falsas.
As fake News se utilizam de técnicas de redação jornalística e na maioria das vezes
multiplicadas em textos simples para as mídias sociais. O apelo emocional, sensações de
surpresa, aflição, receio, isso tudo de forma coletiva dos sujeitos. Acresce que esses mesmos
sujeitos estão propensos a serem enganados e manipulados por essas fake news, causando
10

assim um ciclo em que a circulação desses temas pode aumentar consequentemente os


impactos que elas podem gerar, como a descredibilização das instituições jornalísticas.
Os perfis de usuários nas redes digitais, como o Twitter, possibilitam a publicação
desenfreada de conteúdos, sejam eles verdadeiros ou não. E é por meio desses conteúdos que
os indivíduos podem fortalecer ou enfraquecer a circulação de notícias falsas. As
características da internet, como a formação de redes, a velocidade de transmissão de
informações, e a possibilidade de inserir elementos de legitimação nos textos, potencializam a
propagação dos boatos.
Desta maneira, as tecnologias digitais proporcionaram que cidadãos possam produzir
e circular conteúdo, impondo ao campo do jornalismo, novos desafios para o exercício da
profissão que envolve uma série de mecanismos como o compromisso com a verdade, a
objetividade, a apuração dos fatos, entrevistas com fontes, e sobretudo checagem dos fatos.

Uma das maneiras que vem travando uma batalha contra a desinformação é o fact-
checking, ou checadores de notícias.

Surgido nos anos 1990, nos Estados Unidos, o fact-checking é um serviço


que consiste na checagem de discursos, normalmente proferidos por
políticos ou por pessoas públicas de alta relevância na sociedade em
noticiários ou em campanhas eleitorais. Resumidamente, os “checadores”
(como são chamados os profissionais que trabalham prestando esse serviço)
verificam a veracidade das informações divulgadas. (COSTA, 2019)

No mundo todo, foram criadas agências de checagem de notícias com o objetivo de


investigar notícias chave e realizar uma mias apuração profunda, que será apresentada ao
público após as investigações.

É papel das agências de fact-checking analisar os conteúdos publicados por


fontes suspeitas e apurar as informações até que estas sejam desvendadas e
classificadas conforme o seu nível de verdadeiro ou falso. Devem ser
publicadas junto com o resultado da checagem todo o caminho que foi
trilhado para chegar até ali. Está prática tem como principal compromisso a
transparência. (ALMEIDA e ARAÚJO, 2019)

A quantidade de informação que consumimos no dia a dia, nos leva a uma dificuldade
de discernir o que é verdadeiro ou falso. O objetivo das agências de fact-checking é realizar
uma apuração do material que vem sendo divulgado nas redes sociais, blogs e aplicativos de
mensagens e assim classificá-los como verdadeiros ou não. Desta forma, podemos afirmar
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que o fact-checking é um parceiro dos leitores e usuários das redes sociais para a
identificação dos verdadeiros.
3 – AS FAKES NEWS NO CONTEXTO DA PANDEMIA

Nos últimos meses do ano de 2019 o mundo foi surpreendido pela notícia que
disseminação de um vírus na China, estaria colocando em alerta as organizações
internacionais de saúde. Já no início de 2020 começou uma luta contra de contenção de
disseminação do novo Coronavírus, como fechamento das fronteiras, protocolos de
tratamentos, lockdow, fechamento de indústrias, entre outros.
Os últimos dois anos foram marcados pela pandemia no COVID-19. Ainda que a
pandemia consista em ser um problema de saúde pública, o assunto tem gerado grande
repercussão na mídia, principalmente nas redes sociais onde o acesso as informações
acontecem de maneira mais rápida e difusa.
Durante todo o período da pandemia do COVID-19, houve várias discordâncias entre
as autoridades brasileiras, tanto a nível nacional e federal. Destaca-se a atitude negacionista
do então Presidente da República Jair Bolsonaro no que dizia a respeito da capacidade do
poder do novo coronavírus. Além desse acontecimento, surgiu uma disputa entre os
governos estaduais em suas ações de enfrentamento do COVID-19, que buscaram manter
suas imagens públicas.
Por serem lugares onde as informações circulam em alta velocidade, governos tem
utilizados dessas plataformas divulgar dados oficiais, realizar pronunciamentos públicos
sobre a pandemia, entre outros.
Nas redes sociais, os debates acerca da pandemia do novo coronavírus ganharam
grande repercussão, principalmente nas plataformas como o Facebook e o Twitter, onde
existe uma possibilidade de ter engajamento e visibilidade sem terem muito esforço, pois
essas redes têm como objetivo de estreitar relações e gerar conteúdo. Em contrapartida, existe
uma produção desenfreada de conteúdo nessas redes, muitos desses sensacionalistas ou falsos
sobre o COVID-19, que se viraliza em uma velocidade muito alta.
Pesquisas recentes têm demonstrado como as redes sociais contribuem para a
pluralização e a distribuição de debates sobre diversos temas polêmicos (JACKSON;
VALENTINE, 2014). Com destaque no ano de 2020, a questão das notícias falsas
envolvendo a pandemia mundial do novo coronavírus se tornou elemento presente nos meios
de comunicação, nas redes sociais e nas conversas cotidianas.
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Uma análise inicial revela a existência de diversos debates sobre a temática no


Twitter. Esses temas emergem, sobretudo, diante do clima de instabilidade política observado
ainda no começo de 2020 devido ao embate político entre o presidente da República Jair
Bolsonaro e o então ministro da saúde, Henrique Mandetta.
Neste período, o número de infectados pela doença aumentou significativamente e o
contágio em diversos estados passou a ser local e comunitário. Assim, a maior parte dos
estados do Brasil passou a adotar medidas de restrição de contato social, como o fechamento
do comércio, redução de aglomerações, fechamento das escolas e solicitação para que as
pessoas ficassem em casa, sob orientação do Ministério da Saúde. Ao mesmo tempo, o
presidente Jair Bolsonaro fez diversos pronunciamentos, tanto em entrevistas para veículos
jornalísticos, quanto falas à nação ou lives na mídia social, com discursos contraditórios às
orientações do Ministério da Saúde e antagônicos aos posicionamentos dos governadores. Por
exemplo, o presidente defendeu que a COVID-19 tratava-se de “uma gripezinha” e que a
cloroquina seria uma “cura” para o coronavírus, embora os especialistas alertassem para a
falta de evidências sólidas da eficácia e os possíveis riscos do uso da droga.

No Brasil, as fake news contam com um aliado no mínimo curioso. Trata-se


do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, que desde o início da
pandemia vem tratando o assunto como apenas uma “gripezinha”. Mesmo
após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, Bolsonaro
disse que a pandemia era uma “fantasia” e, ignorando as recomendações dos
órgãos de saúde, o presidente cumprimentou apoiadores durante
manifestações, quando a orientação era evitar aglomerações. (FALCÃO e
SOUZA, 2021, p. 65)

Falas como essas podem agravar a pandemia e saúde de quem recebe essas
informações, principalmente por haver uma falta de confiabilidade por partes dessas
autoridades.

Essa epidemia da desinformação pode fazer com que as pessoas se sintam


ansiosas, deprimidas, sobrecarregadas, emocionalmente exaustas e
incapazes de atender a demandas importantes. Também pode afetar os
processos de tomada de decisões, quando se esperam respostas imediatas e
não se dedica tempo suficiente para analisar com cuidado as evidências,
afinal, não há controle de qualidade do que é publicado. (FALCÃO e
SOUZA, 2021,p 10)

No Brasil circulam várias fake News durante esse momento pandêmico. Algumas
temáticas das fake news relacionadas à Covid-19 estão associadas à sua origem; propagação;
diagnóstico e tratamento; impactos econômicos; impactos na sociedade; entre outras. As
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fakes News não são um fenômeno novo nas redes sociais, diferente das narrativas
verdadeiras, elas possuem distorção nas informações com o objetivo de mexer com sensações
emotivas dos receptores.

Segundo um estudo do Centro de Informática em Saúde da Universidade de Illinois,


no mês de março cerca de 550 milhões de tuítes tinham os termos coronavirus, corona virus,
covid19, covid-19, covid_19 ou pandemic (OPAS, 2021, p.2). A partir disso, a Organização
Pan-americana de Saúde (OPAS) criou uma cartilha digital explicando a infodemia que temos
passado e algumas situações e perguntas para evitarmos a combater as falsas notícias (Figura
1):

Figura 1 – Como as pessoas podem ajudar a combater a infodemia de COVID-19?

Fonte: © Organización Panamericana de la Salud, 2020.

4 – METODOLOGIA

Esta pesquisa procura capturar um conjunto de tweets contendo hashtags


relacionadas à COVID-19 no Twitter. O objetivo principal é estudar a rede de conversação
desenvolvida no Twitter por meio do compartilhamento de hashtags e reconstruir o contexto
da rede de conversação estabelecida, não sendo objetivo promover uma generalização dos
resultados, mas sim fornecer em profundidade reflexões sobre o fenômeno.
14

Para isso foram analisadas hashtags através do aplicativo online Twitonomy 2, que
oferece dados específicos de engajamento. O estudo está na categoria “hashtag studies”
(BRUNS; BURGESS, 2016) e consiste em buscar um conjunto de tweets contendo hashtags
relevantes para compreender determinado tema ou acontecimento. Neste trabalho, trata-se do
método de estudo de Critical Analysis, que é proposto por Richard Rogers (2018).
Nesse tipo de análise os sites de redes sociais digitais são vistos como locais de ações
e engajamento e não apenas como um espaço para a representação ou espetacularização.
Neste sentido Rogers sugere as métricas de engajamento que se baseiam nas seguintes
categorias:

a) Voz dominante: As vozes dominantes estão relacionadas aos perfis que atingem maior
engajamento. Ou seja, qual é a voz que atinge a maior audiência? Quais são os tweets
mais replicados e favoritados? De acordo com Rogers (2018, p.456, tradução nossa),
“a voz dominante capta as fontes consideradas mais impactantes (embora não
necessariamente confiáveis) dentro desse espaço”.
b) Preocupação: A preocupação se refere a temática em debate. “A análise crítica aqui
apresentada são registros instantâneos relacionando-se não apenas a quem, mas
especificamente, a quem uma questão é motivo de preocupação em um dado
momento” (ROGERS, 2018, p.459, tradução nossa).
c) Comprometimento: O comprometimento refere-se aos usuários que estão mais
presentes em um determinado tempo colaborando para a discussão e propagação do
assunto em debate. “Por quanto tempo uma questão é motivo de preocupação para os
atores? [...] a questão relacionada para o assunto diz respeito à longevidade ou
perseverança das preocupações” (ROGERS, 2018, p.459, tradução nossa).
d) Posicionamento: Busca identificar qual a posição desses usuários em relação a
determinados temas em questão. “Uma análise de posicionamento começa localizando
e classificando as escolhas intencionais das palavras-chave utilizadas pelos atores [...]
detectando (e significativamente interpretando e traçando) temas que são emitidos
pelos atores” (ROGERS, 2018, p.461, tradução nossa).
e) Alinhamento: Busca identificar quais discussões ocorrem em paralelo. Segundo
Rogers (2018, p.466, tradução nossa), “são palavras-chave ou termos específicos que
os atores usam quando discutem uma questão. Quando vários atores usam a mesma
língua [...] eles se alinham”.
2
Disponível em: https://www.twitonomy.com
15

Desta forma, o autor propõe uma análise intercorrente para análise de métricas nas
mídias sociais digitais a partir desses cinco movimentos listados acima. “Análise crítica -
projeto de métricas alternativas para mídia social - procura medir o ‘envolvimento de outra
maneira’ ou modos de engajamento” (ROGERS, 2018, p.467, tradução nossa).
Para o autor, essa proposta metodológica busca ver a rede de conversação daqueles
que emitem conteúdo. Assim, a rede social é produtiva não apenas para si mesma, mas para a
análise de engajamento dos transmissores.
Diante do exposto, para nossa análise foram feitas escolha de três hashtags. Cada uma
delas foi analisada a partir das cinco categorias propostas por Richard Rogers (2018) e serão
descritas a seguir.

5 – ANÁLISE

Apresentamos as análises das hashtags escolhidas. A escolha se deu a partir de uma


análise e acompanhamento dos assuntos relacionados à COVID-19 no Twitter ao longo do
ano de 2021. Durante este período de análise, escolhemos aquelas que possuem um grande
potencial de veiculação de fakes news.

A primeira hashtag, #naovouvacinar, foi criada no 19 de outubro de 2020 após a


publicação de uma charge intitulada como “Bonde da Vacinação Sem Freio” do chargista
Amarildo Lima no perfil do portal de notícias A Gazeta ES @AgazetaES. A partir da
postagem foram gerados vários comentários, entre eles um tweet do perfil @IldomarPinto
onde o usuário se posiciona contra a vacinação contra a COVID-19.
Já a segunda hashtag, #derrubayoutube surgiu após o pronunciamento do presidente
Jair Bolsonaro em uma live no dia 21 de outubro de 2021, onde o mesmo se baseou em
“relatórios oficiais do Reino Unido” que não existe, e disse que as pessoas que foram
totalmente imunizadas contra a COVID-19 estão mais vulneráveis à síndrome da
imunodeficiência adquirida (AIDS). Após várias denúncias o conteúdo foi removido pela
plataforma YouTube no dia 25 de outubro de 2021. Nesta amostra houve um grande
número de tweets do com a hashtag #derrubayoutube, entrando para um dos assuntos mais
repercutidos na rede. Durante o pronunciamento Facebook e Instagram derrubaram a live, e
os internautas pediam o Youtube um posicionamento. A hashtag foi usa pela primeira vez
pelo perfil @desmentindobozo, perfil usado para desmentir as falas do presidente.
16

A terceira hashtag, #vacinamata, surgiu na rede após uma postagem feita pelo perfil
do portal de notícias G1 RS em 27 de dezembro de 2021, onde o portal trouxe a notícia que
o estado do Rio Grande do Sul não exigirá prescrição médica para vacinação de crianças de
5 a 11 anos contra a Covid. A partir dessa publicação, surgiu um comentário de um perfil
identificado como @rcpedruzzi, onde o usuário critica a decisão do Governador do Rio
Grande do Sul, Eduardo Leite, e lança a hashtag #vacinamata.

A partir da escolha das hashtags foi possível construir a análise a partir das cinco
categorias propostas por Richard Rogers (2018).

5.1 #NAOVOUVACINAR

Uma postagem feita pelo Portal De Notícias A Gazeta ES em 19 de out de 2020


com uma imagem de uma charge do chargista Amarildo Lima intitulada como “Bonde da
Vacinação Sem Freio” (Figura 1) gerou vários comentários de cunho político. A charge faz
uma crítica ao ritmo das negociações da vacinação do COVID-19 no Brasil por parte do
Governo Federal. A charge ilustra o então Presidente Jair Messias Bolsonaro e o Ex
Ministro da Saúde Eduardo Pazuello indo em direção contrária a vacinação.

Figura 2 – “Bonde da Vacinação Sem Freio” 3

3
Disponível em: https://twitter.com/AGazetaES/status/1336983858663862273. Acesso em 08 de nov 2021.
17

Na postagem um dos tweets de comentários se destacou pelo fato do usuário ser a


contra a vacinação do COVID-19. O perfil do usuário @IldomarPinto se posiciona contra a
vacinação com o tweet e afirma que o “Brasil é o país da desinformação” e completa seu
posicionamento com a hashtag #naovouvacinar conforme a figura abaixo.

Figura 3 – “Tweet com a primeira hashtag #naovouvacinar” 4

O tweet do perfil @IldomarPinto teve apenas 6 curtidas e nenhum outro comentário,


mas a ideia contra vacinação pode ser percebida através de outros tweets analisados a partir
da filtragem da hashtag #naovouvacinar. Para contextualizar separamos alguns tweets
conforme as figuras 4 e 5.

4
Disponível em: https://twitter.com/IldomarPinto/status/1337035523890745345. Acesso em 08 de nov de 2021.
18

Figura 4 – Usuário @nelsonJOAS 5

Figura 5 – Usuário @paulocandango 6

As imagens acima, apresentam alguns registros relacionados as vacinas contra a


covid-19 que foi proposto pela hashtag #naovouvacinar. Observamos o comprometimento
dos usuários com defesa da não vacinação, colaborando com discussão e propagação deste
tema.

5.1.1 VOZ DOMINANTE

Considerou-se como voz dominante os perfis com o maior número de seguidores e as


postagens que obtiveram maior números de retweets. Desta forma foi possível identificar os
5
Disponível em: https://twitter.com/nelsonJOAS/status/1339762559847706625. Acesso em 08 de nov de 2021.
6
Disponível. https://twitter.com/paulocandango/status/1339673296800002055. Acesso em 08 de nov de 2021.
19

perfis que protagonistas que atingiram uma maior audiência na filtragem da hashtag. Os
perfis que possuem maior quantidade de seguidores possuem maior alcance através de novos
tweets, retweets, retweets com comentários e respostas. No quadro abaixo relacionamos os
principais perfis, com maior número de seguidores durante a coleta dos dados:

Quadro 1 – Ranking dos perfis com maior número de seguidores #naovouvacinar

NÚMERO DE
PERFIL ORIGEM
SEGUIDORES

1 silvanaappio 7223 Novo tweet

2 nelsonJOAS 2807 Novo tweet

3 Lupita590362110 1410 Novo tweet

4 Consuel12545570 1031 Retweet

5 anachiminacio 163 Novo tweet

6 paulocandango 124 Novo tweet

7 Tatu_Basta 111 Novo tweet

Fonte: Elaboração a partir dos dados coletados.

Nota se que o perfil @silvanaappio possui alcance maior em relação aos outros perfis
da amostra. Seu maior alcance se deu a partir de um novo tweet feito pelo perfil em 16 de
20

dezembro de 2020, com a quantidade de três retewets. Nesta publicação percebe-se apenas o
uso da hashtag e uma imagem, onde a autora critica o uso das vacinas, dando a entender que a
vacinação em humanos seria feita para testes científicos.

Figura 6 – Interação usuário @silvanaappio 7

Além de possui o maior alcance, o perfil @silvanaappio possui dentre os perfis de


maior audiência a maior quantidade de números de seguidores. Outra amostra relevante
para identificação da voz dominante foram as postagens que tiveram maior número de
interações por retweetes ou por curtidas.
As mensagens que mais se destacaram também foram as do perfil @silvanaappio.
Na filtragem de tweets com o maior número de retweets houve predominante postagens do
7
Disponível em: https://twitter.com/silvanaappio/status/1339368596921753600. Acesso em 08 de nov 2021.
21

perfil, sendo 2 entre todos os tweets. Abaixo estão relacionadas as postagens com o maior
número de retweets:

Quadro 2 – Ranking dos perfis com maior número de retweets # naovouvacinar

PERFIL MENSAGEM ORIGEM CURTIDAS RETWEETS

1 silvanaappio #NaoVouVacinar + imagem Replying 2 3

Replying 1 1
2 silvanaappio #NaoVouVacinar + imagem

Concordo plenamente.
Vacina ao meu ver , já é
desnecessária. Sendo que a
Replying 1 0
3 Lupita590362110 doença tem cura e
tratamento. Desse jeito
então? Nem pensar.
#NãoVouVacinar

Fonte: Elaboração a partir dos dados coletados.

No ranking dos retweets percebe-se que 2 das 3 postagens com retweets são do
perfil @silvanaappio, onde ambas as postagens repetem o mesmo conteúdo da Figura 5,
sendo contra o uso de vacinas contra a covid-19.

5.1.2 PREOCUPAÇÃO

Para filtragem e classificação dos teweets é necessário a classificação em categorias


doas postagens. Na amostra da hashtag #naovouvacinar não houve a presença de tweets que
fugissem do sentido proposto hashtag. Em todos os casos houve uma preocupação em
emitir opiniões em desfavor a vacinação.
22

5.1.3 COMPROMETIMENTO

Observou se nesta categoria aqueles perfis que mais colaboraram para a discussão
e propagação da hashtag #naovouvacinar e, verificou se a participação dos usuários após
uma classificação de participação, onde foi levado em consideração a quantidade de
vezes que hashtag foi usada por um mesmo perfil. No quadro abaixo vemos que houve
uma grande participação do perfil da @Lupita590362110, totalizando três tweets, com a
hashtag em análise, seguido do perfil do usuário @silvanaappio, sendo esses os que mais
colaboraram:

Quadro 3 – Ranking dos perfis com número de tweets #naovouvacinar

TWEET MAIS
PERFIL PARTICIPAÇÃO CURTIDAS RETWEETS
RELEVANTE

Concordo plenamente.
Vacina ao meu ver , já é
desnecessária. Sendo
silvanaappio 4 que a doença tem cura e 1 0
tratamento. Desse jeito
então? Nem pensar.
#NãoVouVacinar

#NaoVouVacinar +
Lupita590362110 2 2 3
imagem

Fonte: Elaboração a partir dos dados coletados

Todos os outros perfis desta amostra, tiveram o mesmo posicionamento, mantendo as


postagens dentro da temática da hashtag. Em todos os casos, as postagens eram relacionadas
ao incentivo a não vacinação.

5.1.4 POSICIONAMENTO
23

Os tweets desta análise não apresentam temáticas divergentes a proposta da hashtag.


O conjunto de tweets analisados na filtragem, identificamos apenas perfis que eram contra
as vacinas contra a Covid-19, seja pela falta informações sobre os testes ou por acreditarem
em boatos que circulam na rede.

5.1.5 ALINHAMENTO

O alinhamento são palavra ou termos específicos que os usuários usam quando


discutem uma mesma questão e entram em com consenso. Nesta análise não houve
discussões que ocorreram em paralelo que fugissem da temática, acredita-se que isso ocorreu
devido à baixa participação de usuários nesta amostra.

5.2 #DERRUBAYOUTUBE

No dia 21 de outubro de 2021 o presidente Jair Bolsonaro mentiu sobre a vacina do


COVID-19 durante uma live. O presidente se baseou em “relatórios oficiais do Reino
Unido” que não existe, e disse que as pessoas que foram totalmente imunizadas contra a
COVID-19 estão mais vulneráveis à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Após
várias denúncias o conteúdo foi removido pela plataforma YouTube no dia 25 de outubro
de 2021.

Figura 7 – Jair Bolsonaro durante live 8

8
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/12/bolsonaro-atacou-imprensa-em-86-das-lives-de-
2021.shtml. Acesso em: 29 de out 2021.
24

Após o pronunciamento do presidente houve um grande número de tweets do com a


hashtag #derrubayoutube, entrando para um dos assuntos mais repercutidos na rede. Durante
o pronunciamento Facebook e Instagram derrubaram a live, e os internautas pediam o
Youtube um posicionamento. A hashtag foi usa pela primeira vez pelo perfil
@desmentindobozo, perfil usado para desmentir as falas do presidente.

Figura 8 – Primeira postagem da Hashtag 9

9
Disponível em: https://twitter.com/desmentindobozo/status/1452464903722315780. Acesso em 05 jan 2022.
25

A fala do presidente provocou repúdio em diversos cientistas e políticos, que


reagiram contra as informações falsas reproduzidas pelo presidente. Apesar hashtag ir
contra as falas de Jair Bolsonaro, percebemos também que houve usuários que estavam ao
lado do presidente e também houve a presença de memes.

Figura 9 – Participação @ EDSONFILHO74 10

5.3.1 VOZ DOMINANTE

As vozes dominantes são aqueles perfis que apresentam o maior número de


seguidores e tweet com maiores números de retweets. Diante disso foi possível identificar
aqueles perfis que foram protagonistas com maior audiência na amostra da hashtag. Abaixo
estão relacionados os principais perfis, com maior número de seguidores durante a coleta e
análise dos dados:

10
https://twitter.com/EDSONFILHO74/status/1453109419194077185
26

Quadro 4 – Ranking dos perfis com maior número de seguidores #DerrubaYoutube

PERFIL NÚMERO DE SEGUIDORES ORIGEM

1 desmentindobozo 272.235 Novo tweet

2 brasildefato 200.652 Novo tweet

3 EmersonAnomia 86.009 Novo tweet

4 UJSBRASIL 41.451 Novo tweet

5 contagemcorona1 33.913 Novo tweet

6 AlencarBraga13 22.836 Novo tweet

7 DINNERBORNE 19.753 Novo tweet

PradoEimar 13.157 Novo tweet

Fonte: Elaboração a partir dos dados coletados.

Através da análise dos dados, nota-se que o usuário @desmentindobozo teve o maior
em relação aos outros perfis da amostra, com 272.235 seguidores o usuário se destaca em
primeiro da lista. O perfil consegue atingir mais pessoas devido os mais de duzentos mil
seguidores.

Em seguida está o usuário @brasildefato que possui a segunda maior quantidade de


seguidores da amostra, com 200.652 seguidores. O perfil consegue atingir mais pessoas
devido os mais de duzentos mil seguidores.

Figura 10 – Participação @brasildefato 11

11
Disponível em: https://twitter.com/brasildefato/status/1452716773267148805. Acesso em: 13 jan 2022.
27

O perfil @brasildefato é portal de notícias com um número significativo de


seguidores em suas redes sociais, na postagem o portal faz uma postagem explicando o
surgimento da hashtag após a mesma ocupar destaque nas redes sociais por alguns dias.
Apesar dos mais de duzentos mil seguidores, o perfil não teve um número expressivo de
retweets.

Outro perfil com grande audiência é o @EmersonAnomia, com expressivos 86.009


(oitenta e seis mil e nove seguidores). O autor das postagens chama a atenção do Youtube
para que a live do presidente Jair Bolsonaro saia do ar, assim como foram feitos em outras
redes: Facebook e Instagram.

Figura 11 – Participação @EmersonAnomia 12

12
Disponível em: https://twitter.com/EmersonAnomia/status/1452576381544681479. Acesso em 13 jan 2022.
28

A postagens de o @EmersonAnomia, alcançou um alto número de curtidas, número


esse que ajuda na identificação da voz dominante, porém o usuário que mais se destacou
nesta amostra foi o usuário @desmentindobozo, que teve 3.932 curtidas em um único post.
O usuário aparece em segundo lugar com um tweet de 3.333.

Quadro 5 – Ranking dos perfis com maior número de curtidas #DerrubaYoutube

PERFIL MENSAGEM CURTIDAS

Lançamos aqui a tag #DerrubaYoutube O


@YouTubeBrasil também precisa derrubar a live do
presidente Bolsonaro do dia 21/10/21 por conteúdo
1 desmentindobozo 3.932
enganoso. Mas tem que remover a que é publicada no
Pingo Nos Is da Jovem Pan tbm, que inclusive tem
mais visualizações. #DerrubaYoutube
Mais cedo na Jovem Pan a @zoemartinez_05 e o
@AdrillesRJorge MENTIRAM sobre a fonte
Utilizada pelo presidente Bolsonaro pra espalhar a 3.333
2 desmentindobozo
FAKE NEWS associando vacinas contra Covid-19 à
AIDS. Dessa vez fizemos em vídeo pra ver se ficar
didático pra eles e os demais. #DerrubaYoutube
Olá @YouTubeBrasil . Por favor removam a live do
646
3 paoladcs presidente Jair Bolsonaro do dia 21/10/2021.
#DerrubaYoutube
Lançamos aqui a tag #DerrubaYoutube O
@YouTubeBrasil também precisa derrubar a live do
presidente Bolsonaro do dia 21/10 por conteúdo
191
4 EmersonAnomia enganoso. E tem que remover a que é publicada no
Pingo Nos Is da Jovem Pan, que tem mais
visualizações. (via @desmentindobozo )
#DerrubaYoutube
Facebook e Instagram já derrubaram essa live da
morte em que Bolsonaro associa a vacina com o vírus 120
5 EDSONFILHO74
da aids , o genocida quer matar mais de 1milhão.
#TomaEssa #DerrubaYoutube

Fonte: Elaboração a partir dos dados coletados

No ranking dos retweets percebe-se que apenas duas das postagens do perfil
@desmentindobozo se destacam, seguidas do perfil @paoladcs. Ambas as postagens são
do perfil @paoladcs, onde ambas as postagens fazem um apelo ao Youtube pela remoção
do conteúdo postado pelo Presidente Jair Bolsonaro.

Quadro 6 – Ranking dos perfis com maior número de retweets #DerrubaYoutube


29

PERFIL MENSAGEM RETWEETS

Lançamos aqui a tag #DerrubaYoutube O


1 @YouTubeBrasil também precisa derrubar a live do
presidente Bolsonaro do dia 21/10/21 por conteúdo
desmentindobozo 1.022
enganoso. Mas tem que remover a que é publicada no
Pingo Nos Is da Jovem Pan tbm, que inclusive tem
mais visualizações. #DerrubaYoutube
Mais cedo na Jovem Pan a @zoemartinez_05 e o
2 @AdrillesRJorge MENTIRAM sobre a fonte utilizada
pelo presidente Bolsonaro pra espalhar a FAKE 619
desmentindobozo
NEWS associando vacinas contra Covid-19 à AIDS.
Dessa vez fizemos em vídeo pra ver se ficar didático
pra eles e os demais. #DerrubaYoutube
Olá @YouTubeBrasil . Por favor removam a live do
3 112
paoladcs presidente Jair Bolsonaro do dia 21/10/2021.
#DerrubaYoutube
Lançamos aqui a tag #DerrubaYoutube O
4 @YouTubeBrasil também precisa derrubar a live do
presidente Bolsonaro do dia 21/10 por conteúdo
34
EmersonAnomia enganoso. E tem que remover a que é publicada no
Pingo Nos Is da Jovem Pan, que tem mais
visualizações. (via @desmentindobozo )
#DerrubaYoutube
Facebook e Instagram já derrubaram essa live da morte
5 em que Bolsonaro associa a vacina com o vírus da aids 27
EDSONFILHO74
, o genocida quer matar mais de 1milhão. #TomaEssa
#DerrubaYoutube

Fonte: Elaboração a partir dos dados coletados.

No ranking dos retweets percebe-se que apenas duas das postagens possuem essa
interação com curtidas, e nenhuma apresentou retweets. Ambas as postagens são do perfil
@paoladcs, onde ambas as postagens se apresentam conta a vacinação do covid-19.

5.2.2 PREOCUPAÇÃO

Para resultado desta categoria, classificamos os teweets desta amostra em temáticas


de abordagem. Na amostra da hashtag #DerrubaYoutube classificamos as em quatro
categorias:
30

a) Solicitação de retirada do conteúdo (assunto principal);

b) Impeachment do presidente;

c) Memes;

d) Pró Bolsonaro.

Houve a presença de tweets que fugissem do sentido proposto hashtag, mas todos as
postagens analisadas trazem conteúdos contra a vacinação, sem em crianças e ou adultos.
Abaixo separamos alguns dessas tweets para poder ilustrar nossa análise:

Figura 12 – Preocupação: Meme 13

13
Disponível em https://twitter.com/Dandarosa2021/status/1452625965142716423. Acesso em 13 jan 2022.
31

Figura 13 – Solicitação de retirada do conteúdo 14

5.2.3 COMPROMETIMENTO

Na categoria de comprometimento analisamos aqueles perfis que mais


colaboraram para a discussão e propagação da hashtag #vacinamata. verificou se a
participação dos usuários após uma classificação, onde se levou em consideração a
quantidade de vezes que hashtag foi usada por um mesmo perfil. Abaixo relacionamos os
perfis de maior participação:

Quadro 7 – Ranking dos perfis com número de tweets ##DerrubaYoutube

PERFIL PARTICIPAÇÃO TWEET MAIS RELEVANTE

Mais cedo na Jovem Pan a @zoemartinez_05 e o


@AdrillesRJorge MENTIRAM sobre a fonte utilizada pelo
presidente Bolsonaro pra espalhar a FAKE NEWS
desmentindobozo 8
associando vacinas contra Covid-19 à AIDS. Dessa vez
fizemos em vídeo pra ver se ficar didático pra eles e os
demais. #DerrubaYoutube

Navavrndadd 3 E aí @YouTubeBrasil como vai ser? #DerrubaYoutube

Demorou pra derrubar esse canal de mentiras mortais


sandra98231 3
#DerrubaYoutube

Desinformação e anti-ciência não podem ter palco. É um


absurdo que ainda tenham plataformas veiculando o vídeo de
UJSBRASIL 2
Bolsonaro associando Aids a vacina da Covid.
#Derrubayoutube

EDSONFILHO74 2 Facebook e Instagram já derrubaram essa live da morte em


que Bolsonaro associa a vacina com o vírus da aids , o
genocida quer matar mais de 1milhão. #TomaEssa

14
Disponível em: https://twitter.com/Lucas_Morais016/status/1452639241549275142. Acesso em: 14 jan 2022.
32

#DerrubaYoutube

Fonte: Elaboração a partir dos dados coletados

Nota-se que houve uma grande participação do perfil @desmentindobozo, criador


da hashtag. O grande número de postagens se dá pela vontade de derrubar o conteúdo
fake do Presidente, por ser um perfil com grande número de seguidores, a participação
nas interações é facilitada.

Figura 14 – Participação @franciscobronze 15

Nesta categoria, foi possível analisar que a grande parte da amostra dos tweets
tiveram o mesmo posicionamento dentro da temática da hashtag, onde o objetivo era
pressionar o Youtube a remover o conteúdo de fakes news com tempo ágil e eficiente,
sem precisar de grandes mobilizações para isso.

15
Disponível em: https://twitter.com/franciscobronze/status/1452470299874713603. Acesso em 15 jan 202
33

Figura 15 – Participação @ T0ny_vcf 16

5.2.4 POSICIONAMENTO

Os tweets analisados apresentam vários assuntos diferentes, mas de forma geral


apresentam a temáticas proposta pela hashtag. Identificamos que a maioria tweets analisados
fazem uma denúncia e apelo pela retirada de retirada do conteúdo das mentiras ditas pelo
presidente Jair Bolsonaro. Além disso, identificamos amostras quase irrelevantes de tweets a
favor do presidente, além de memes contra e a favor do governo.

5.2.5 ALINHAMENTO

16
Disponível em: https://twitter.com/T0ny_vcf/status/1452635844444098574. Acesso em: 14 jan 2022.
34

O alinhamento pode ser compreendido como palavra e ou termos específicos que os


usuários usam quando discutem uma mesma questão e entram em com consenso. Nesta
análise observamos a presença de outras hashtags nas discussões, discussões essas que
ocorreram em paralelo. Abaixo listamos outras hashtags utilizadas nas conversações:

#ForaBolsonaro
#TemUmShortsDisso
#ForaBolsonaroGenocida
#VacinaSim
#VacinasSalvamVidas
#Bolsonaro

Podemos exemplificar essas discussões que ocorrem em paralelo com a postagem


feita pelo perfil @locutorjonatas, perfil com a segunda maior participação para promoção da
hashtag. Conforme imagem abaixo, vemos o autor do tweet foge totalmente da temática da
hashtag, na tentativa de “provocar” a oposição.

Figura 16 – Alinhamento #Bolsonaro 17

17
Disponível em: https://twitter.com/locutorjonatas/status/1452619872215646208. Acesso em 05 jan 2022.
35

5.3 #VACINAMATA

A postagem feita pelo perfil do portal de notícias G1 RS em 27 de dezembro de 2021


trouxe a notícia que o estado do Rio Grande do Sul não exigirá prescrição médica para
vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid, a decisão segue orientação da Anvisa
que autoriza o uso da Pfizer para esta faixa etária.

Figura 17 – Notícia Portal G1 Rio Grande do Sul18

18
Disponível em: https://twitter.com/g1rs/status/1475589720948318209. Acesso em: 02 jan 2022
36

A partir dessa publicação, surgiu um comentário de um perfil identificado como


@rcpedruzzi, onde o usuário critica a decisão do Governador do Rio Grande do Sul,
Eduardo Leite, e lança a hashtag #vacinamata.

Figura 18 – Primeira postagem com hashtag #vacinamata 19

Apesar do tweet do perfil @rcpedruzzi, não ter tido um número significativo de


interações, o autor participou como engajador da hashtag em outras postagens. Uma delas se
destaca pela conversação desenvolvida na rede, sendo contra a vacinação.

Figura 19 – Conversação @rcpedruzzi20

19
Disponível em: https://twitter.com/rcpedruzzi/status/1475591714542952448. Acesso em: 02 jan 2022
20
Disponível em: https://twitter.com/rcpedruzzi/status/1478022013499457536. Acesso em: 02 jan 2022
37

Os registros apontam o comprometimento do usuário com defesa da não vacinação,


colaborando com a propagação de notícias falsas sobre a eficácia das vacinas.

5.3.1 VOZ DOMINANTE

As vozes dominantes são os perfis que apresentam o maior número de seguidores e


tweet com maiores números de retweets. Assim, é possível identificar os perfis protagonistas
com maior audiência na análise da hashtag. Acresce que perfis que possuem uma quantidade
maior de seguidores alcançam mais perfis e usuários através de novos tweets, retweets,
retweets com comentários e respostas. Abaixo relacionamos os principais perfis, com maior
número de seguidores durante a coleta dos dados:

Quadro 8 – Ranking dos perfis com maior número de seguidores #VacinaMata


38

NÚMERO DE
PERFIL ORIGEM
SEGUIDORES

531
1 JohnMot62039918 Novo tweet

2 BolsonaroFerro 440 Novo tweet

3 JohnMot12459045 421 Novo tweet

4 reyssu 51 Novo tweet

5 rcpedruzzi 16 Novo tweet

6 Marcelo17br 14 Novo tweet

7 Tarcisio_49 4 Novo tweet

Fonte: Elaboração a partir dos dados coletados.

A partir da análise dos dados, nota-se que o usuário @JohnMot62039918 têm alcance
maior em relação aos outros perfis da amostra. Seu destaque no alcance se deu devido a sua
quantidade de seguidores e não por uma quantidade de interações em suas publicações.

O autor das postagens faz um posicionamento contra a vacinação das crianças e a


quantidade de doses de vacinas já foram aplicadas. Nas figuras abaixo é possível ver também
ofensas contra o Governador do estado do Rio de Janeiro Eduardo Paes, por defender o
passaporte institucional, o chamado “passaporte da vacinação”.

Figura 20 – Interação 1 @JohnMot62039918 21

21
Disponível em: https://twitter.com/JohnMot62039918/status/1477401884294094851. Acesso em 08 jan 2022.
39

Figura 21 – Interação 2 @JohnMot6203991822

Outra amostra relevante para identificação da voz dominante foram as postagens


que tiveram maior número de interações por retweetes ou por curtidas. O usuário que mais
se destacou nesta amostra foi o usuário @rcpedruzzi. Na filtragem de tweets não houve
retweets, apenas curtidas. Abaixo relacionamos as postagens com o maior número de
curtidas:

Quadro 9 – Ranking dos perfis com maior número de curtidas #vacinamata

PERFIL MENSAGEM ORIGEM CURTIDAS

22
Disponível em: https://twitter.com/JohnMot62039918/status/1477971294922674176. Acesso em 04 jan 2022.
40

@g1rs É o desgoverno do síndico @EduardoLeite_


1 rcpedruzzi passando por cima de uma determinação federal. Só Replying 3
aqui os postes mijam nós cachorros. #vacinamata

@CezarMirandaNet @claudiocastroRJ
@reinaldosalgado "Tamo junto" Cézar. Não vou
ficar arriscando minha vida como cobaia da Replying 1
2 rcpedruzzi
#EsquerdaCriminosa . E se alguém achar que estou
contaminando alguém é só ficar longe de mim.
#vacinamata

Fonte: Elaboração a partir dos dados coletados.

No ranking dos retweets percebe-se que apenas duas das postagens possuem essa
interação com curtidas, e nenhuma apresentou retweets. Ambas as postagens são do perfil
@rcpedruzzi, onde ambas as postagens se apresentam conta a vacinação do covid-19.

5.3.2 PREOCUPAÇÃO

Para filtragem e classificação dos teweets é necessário a classificação em categorias


doas postagens. Na amostra da hashtag #vacinamata classificamos as em quatro categorias:

e) Passaporte vacina;
f) Antivacina
g) Vacinação em crianças
h) Voto impresso

Houve a presença de tweets que fugissem do sentido proposto hashtag, mas todos as
postagens analisadas trazem conteúdos contra a vacinação, sem em crianças e ou adultos.
Abaixo separamos alguns dessas tweets para poder ilustrar nossa análise:

Figura 22 – Preocupação: Vacinação em crianças 23

23
Disponível em: https://twitter.com/Marcelo17br/status/1476294621391171585. Acesso 28 dez 2021
41

Figura 23 – Preocupação: Voto impresso 24

5.3.3 COMPROMETIMENTO

Na categoria de comprometimento analisamos aqueles perfis que mais


colaboraram para a discussão e propagação da hashtag #vacinamata. verificou se a
participação dos usuários após uma classificação, onde se levou em consideração a
24
Disponível em: https://twitter.com/BolsonaroFerro/status/1477070733943656454. Acesso 28 dez 2021
42

quantidade de vezes que hashtag foi usada por um mesmo perfil. Abaixo relacionamos os
perfis de maior participação:

Quadro 10 – Ranking dos perfis com número de tweets #vacinamata

PERFIL PARTICIPAÇÃO TWEET MAIS RELEVANTE CURTIDAS

É o desgoverno do síndico
@EduardoLeite_ passando por cima de
rcpedruzzi 4 uma determinação federal. Só aqui os
4
postes mijam nós cachorros. #vacinamata

@GloboJN @GloboNews pensa no


imbecil/idiota vacinação de crianças de 5
anos várias pessoas morrendo várias
pessoas contraindo a #VÍRUS com 3°dose
BolsonaroFerro 4 #VACINAMATA @eduardopaes
0
ASSASSINO GENOCIDA passaporte
inconstitucional é crime. colocou lá
porque é amigo @tcm_rj contas aprovadas

Postar isso agr fácil.quero ver ter coragem


bJohnMot6203991 de dizer foi sequela da vacina..qdo vcs vão
2 0
8 se opor a essa desgraça. Que estão nos
impondo.#vacinamata

Fonte: Elaboração a partir dos dados coletados

Podemos notar que houve uma grande participação dos perfis @rcpedruzzi
@BolsonaroFerro, totalizando cada um quatro tweets, com a hashtag #vacinamata, logo
em seguido temo o perfil do usuário @JohnMot62039918, com colaboração de dois
tweets.
A postagem do perfil @JohnMot62039918 nos chamou atenção pelo fato do
usuário ter associado a morte de do cantor Murilo 25 a vacina do covid-19. O usuário fez
um comentário a partir de um tweet da cantora Maraisa 26, onde ela lamentava a perda de
seu amigo.

25
Notícia do falecimento do Canto Murilo está disponível em:
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2021/12/29/cantor-maurilio-morre-em-hospital-de-goiania.ghtml. Acesso
em 02 jan 2022.
26
Postagem de lamento da cantora Maraisa está disponível em
https://twitter.com/Maraisa/status/1476296426938408965. Acesso em 02 jan 2022
43

Figura 24 – Interação com a cantora Maraisa27

Nesta categoria, foi possível analisar que todos os usuários, tiveram o mesmo
posicionamento dentro da temática da hashtag, onde em ambas as postagens os
envolvidos eram contra a vacinação do covid-19.

5.3.4 POSICIONAMENTO

Os tweets analisados apresentam diversos posicionamentos diferentes, mas de


forma geral apresentam a temáticas proposta na primeira hashtag. Identificamos nos tweets
analisados apenas perfis e mensagem que eram contra as vacinas contra a Covid-19, seja na
aplicação de crianças, pelo passaporte de vacina ser obrigatório ou falta informações sobre
os casos de curados que não é mostrado nas mídias, como a televisão.

5.3.5 ALINHAMENTO

O alinhamento pode ser compreendido como palavra e ou termos específicos que os


usuários usam quando discutem uma mesma questão e entram em com consenso. Nesta
análise observamos a presença de outras hashtags nas discussões, discussões essas que
ocorreram em paralelo. Abaixo listamos as

27
Disponível em: https://twitter.com/reyssu/status/1476399213474988034. Acesso em 02 jan 2022
44

Quadro 11 - Top hashtags utilizadas em paralelo

HASHTAG UTILIZADA NÚMERO DE VEZES UTILIZADAS

#globolixo 2

#distanciamento 2

#ômicron 1

#víruschinês 1

#vírus 1

#máscara 1

#esquerdacriminosa 1

#vacinanunca 1

Fonte: Elaboração a partir dos dados coletados

Um dos exemplos dessas discussões que ocorrem em paralelo, o do perfil


@BolsonaroFerro, perfil com a segunda maior participação para promoção da hashtag.
Conforme imagem abaixo, vemos o autor do tweet indo contra os jornais do Grupo Globo de
comunicação, dizendo que a emissora emite dados de recuperados sobre a covid-19.

Figura 25 – Interação 3 @BolsonaroFerro28

28
Disponível em: https://twitter.com/BolsonaroFerro/status/1476891254843752448. Acesso em 10 de jan 2022.
45

6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o processo de construção desta pesquisa foi possível aprofundar os conceitos


de fact-checking, fake news e o papel de ambos na rede social, em especifico o Twitter. Neste
contexto foi possível observar o modo em que a disseminação as fakes news são
compartilhadas, sem serem checadas até a discussão que essas postagens trazem para as redes
sociais. Além disso, os tipos de interações e linguagem, analisados na rede digital Twitter,
foram fundamentais para compreender o produto das fakes news.
O recorte da análise foi feito a partir da escolha de três hashtags. Durante o período de
sete dias foram coletados todos os novos tweets de cada amostra, identificado aqueles que
possuem maior quantidade de reteweets e os participantes da amostra com maior número de
seguidores pelo Twitonomy. O método de escolha de cada hashtag se deu durante as
observações de notícias que geravam buzz nas redes sociais e estavam associadas ao
pensamento contrário do Presidente Jair Bolsonaro, assim buscou-se aquelas que pudessem
possuir informações falsas sobre o assunto.
Para entender as métricas de engajamento analisou-se as três hashtags, onde foram
identificadas as vozes dominantes de cada hashtag, assim como as principais problemáticas
apontadas dentro de cada amostra, o posicionamento dos usuários, os perfis que mais se
comprometeram no decorrer de cada período e as temáticas que ocorreram em paralelo. Em
todos os três os casos, percebemos que existe uma grande desinformação sobre o COVID-19.
Observou-se também que o alinhamento das hashtags podem apresentar associações e
temáticas que ocorrer em paralelo, fugindo do sentido proposto pelas hashtag.
Ressalta-se que este estudo teve como objetivo fornecer pistas sobre a rede de
conversação de usuários do Twitter através do compartilhamento de hashtags, e trabalhar
esses dados coletados a partir da Critical Analysis.
46

As fake News podem ser consideradas uma ferramenta contra a democracia, visto que
em sua maioria são ligadas a temáticas sobre política, ciência e saúde, indo na contramão da
verdade, trazendo em seu contexto a descredibilização aos meios de comunicação, aos
cientistas ou até mesmo a políticos da oposição. Em nossa análise, percebeu-se que notícias
vinculadas ao vírus possui uma narrativa não fundamentada no saber científico.
Desta maneira cabe aos profissionais do jornalismo e produtores de notícias mais
atenção na checagem dos fatos, fontes que são recebidas, processadas e transmitidas durante
o processo de produção e transmissão de notícias.

7- REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Gabriela, ARAÚJO, Gabriela. XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região


Sul - INTERCOM, 2019. Métodos de Fact-Checking Utilizados pelas Agências Lupa e Aos Fatos em
Matérias. Porto Alegre. Intercom, 2019.

BRUNS, Axel; BURGES, Jean. The Use of Twitter Hashtags in the Formation of Ad Hoc Publics.
Disponível em: https://eprints.qut.edu.au/46515/. Acesso em 02 Jan. 2022.

CASTILHO, Carlos. Apertem os cintos: estamos entrando na era da pós-verdade. Observatório da


Imprensa. São Paulo, ed. 921, 28 set. 2016. Disponível em:
<http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/apertem-os-cintos-estamos-entrando-
naera-da-pos-verdade/> Acesso em: 28 de nov. de 2021.

COSTA, Ana Cristina. 42º Congresso Brasileiro De Ciências Da Comunicação - INTERCOM, 2019.
Credibilidade e jornalismo: “fact-checking” e as mudanças no mercado de notícias brasileiro. Belém:
Intercom, 2019. Disponível em: <http://portalintercom.org.br/anais/nacional2019>. Acesso em: 28
nov 2021.

FALCÃO, Paula. SOUZA, Aline Batista. Pandemia de desinformação: as fake news no contexto da
Covid-19 no Brasil. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, 15(1).
doi:https://doi.org/10.29397/reciis.v15i1.2219. Acesso em: 18 de dez. de 2021.

GUIMARÃES, J. A. C.; DALESSANDRO, R. C. As fake news em um contexto de pandemia pelo


coronavírus. Informação em Pauta, v. 6, n. especial, p. 24-44, 29 dez. 2021.

GRUZD, A. & RECUERO, R. Cascatas de Fake News Políticas: um estudo de caso no Twitter.
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0031.pdf>. Acesso em 28 de set 2021.

JACKSON, L., VALENTINE, G. Emotion & politics in a mediated public sphere: Questioning
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LAGE, Nilson. Conceitos de jornalismo e papéis sociais atribuídos aos jornalistas. Pauta Geral,
Estudos em Jornalismo, v. 1, n. 1, p. 20-25, 2013
47

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Departamento de Evidência e


Inteligência para Ação em Saúde. Entenda a infodemia e a desinformação na luta contra a Covid-19.
[Brasília, DF]: OPAS, 2020. E-book. Disponível em:
https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52054/ Factsheet-Infodemic_por.pdf. Acesso em: 25
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RECUERO, Raquel; SOARES, Felipe; ZAGO, Gabriela. Polarização, hiperpartidarismo e câmaras


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2008. 131p. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Informação) – Universidade Federal do Rio
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INTERCOM, 2018, Joinville. Jornalismo em tempos de fake news: a (re)construção do real e os riscos
à credibilidade. São Paulo: Intercom, 2018. Disponível em:
<http://portalintercom.org.br/anais/nacional2018>. Acesso em: 02 jan 2022.

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