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Indice
Introdução .................................................................................................. 5
O contexto geral do livro ................................................................................. 6
Comparando Levítico e Deuteronômio............................................................................ 9
Contrastando Levítico e Deuteronômio......................................................................... 10
As divisões principais do livro ........................................................................................... 12
O contexto das solenidades ......................................................................... 19
Considerações gerais sobre as solenidades .............................................. 21
Três passagens .................................................................................................................... 23
Três palavras......................................................................................................................... 24
Três preposições ................................................................................................................. 26
Três propósitos .................................................................................................................... 27
Três princípios espirituais .................................................................................................. 28
Três formas de dividir esta lista......................................................................................... 29
Páscoa ...................................................................................................... 33
A cronologia — a prioridade da Páscoa ....................................................... 34
O Cordeiro — a perfeição de Cristo.............................................................. 37
O cumprimento — o poder de Deus............................................................. 39
Asmos ....................................................................................................... 42
Santidade ilustrada no VT ............................................................................. 43
Sem espera .......................................................................................................................... 43
Sem exceção (Êx 13:7) ...................................................................................................... 44
Sem esforço humano......................................................................................................... 46
Santidade explicada no NT ........................................................................... 47
Primícias ................................................................................................... 50
Ligação com Asmos e Pentecostes .............................................................. 53
Lições práticas do Velho Testamento .......................................................... 56
Primeiras menções em Levítico 23 .................................................................................. 56
Prioridade do Senhor......................................................................................................... 58
Paz com Deus ...................................................................................................................... 58
Lições do Novo Testamento ......................................................................... 59
Pentecostes ............................................................................................. 61
A ocasião — o caráter da Igreja (vs. 15-16) .................................................. 65
Os pães — a composição da Igreja (v. 17) ................................................... 67
As ofertas (vs. 18-20) ...................................................................................... 70
A sobra (v. 22) ................................................................................................. 72
Conclusão ........................................................................................................ 72
As sete solenidades do Senhor 3
Introdução
Levítico cap. 23 começa com as seguintes palavras ditas pelo Senhor: “As
solenidades do Senhor, que convocareis, serão santas convocações; estas são as
Minhas solenidades”. Em seguida, após uma breve menção do sábado semanal,
são mencionadas sete solenidades que deveriam ser repetidas todo ano pelo povo
de Israel. Pode parecer apenas uma lista de festividades e rituais religiosos anti-
gos, que não tem nada a nos ensinar — na realidade, porém, temos aqui um
tesouro de ensino para os salvos hoje em dia.
Este capítulo faz parte de uma tríade de listas de sete coisas na Bíblia que
fornecem um panorama profético de acontecimentos futuros: Levítico 23, Ma-
teus 13 e Apocalipse 2 e 3. Aqui, perto do começo da Bíblia, temos sete convo-
cações que apresentam um esboço da história da salvação desde o Calvário até
o Milênio, e nos mostram a sequência cronológica dos planos e propósitos de
Deus. No início do Novo Testamento temos sete comparações (as parábolas do
Reino) que apresentam um esboço da história do Reino dos Céus desde os dias
do Senhor na Terra até o dia do Senhor, e nos revelam a oposição do inimigo
aos planos de Deus (semeando joio, colocando fermento, etc.). E no último
livro da Bíblia temos sete cartas às sete igrejas da Ásia, que apresentam um es-
boço profético da época da Igreja, e destacam as falhas das pessoas envolvidas
nos propósitos de Deus (as cartas destacam os diversos problemas existentes
naquelas igrejas locais).
Cada uma destas listas é mais limitada no seu alcance do que a anterior. A
última trata apenas da época da Igreja; a central trata do Reino dos Céus, que
inclui a Igreja, mas não se limita a ela. Mas é na primeira, no texto que está
diante de nós neste estudo, que temos uma visão completa do plano de reden-
ção. Aqui não há espaço para as falhas dos homens (como em Apocalipse 2 e 3)
nem para a perseguição de Satanás (como em Mateus 13) — é a perfeição do
plano de Deus que está em vista. Pela riqueza dos detalhes associados a cada
uma destas sete solenidades, pela grandeza dos acontecimentos que estas sole-
nidades prefiguram, pela forma impressionante com que os detalhes prefigura-
dos se encaixam nas solenidades que já se cumpriram, e principalmente por es-
tarmos diante do calendário de Deus, e não dos homens, esta parte das
As sete solenidades do Senhor 6
Estudemos, então, este trecho, começando com alguns detalhes sobre o livro
de Levítico em geral, e sobre as partes do livro onde encontramos este esboço
profético tão interessante. O objetivo deste estudo não é apresentar tudo que as
Escrituras falam sobre cada uma destas solenidades, mas sim focalizar neste ca-
pítulo, e no esboço profético apresentado nele.
Egito);
• Êxodo — saindo (as doze tribos saem do Egito pelo poder de Deus);
Levítico e o Pentateuco
Gênesis Êxodo Levítico Números Deuteronômio
Descendo ao Subindo do Entrando no Caminhando Continuando
Egito Egito Santuário para a terra na terra
Israel e
Israel e o Egito Israel e a terra prometida
o Senhor
Deus em comu-
Deus agindo por Israel Deus exigindo de Israel
nhão com Israel
A solenidade da
A singularidade dos A seriedade dos
presença de
procedimentos de Deus procedimentos do povo
Deus
• Seu conteúdo — ele é praticamente todo composto das palavras que Deus
falou a Moisés. Sabemos que toda a Escritura é a Palavra de Deus; mas nor-
malmente esta Palavra é transmitida através da boca de servos de Deus, ou
através de narrativas históricas, etc. Levítico, porém, se assemelha mais aos
livros dos profetas. Só existem dois pequenos parênteses que são narrativos
(caps. 8 a 10, onde lemos da consagração de Arão e seus filhos e da morte de
Nadabe e Abiú, e quatorze versículos no cap. 24, onde lemos da morte do
filho de Selomite); todo o restante do livro contém as palavras que Deus
disse a Moisés (repare a repetição da expressão “Falou o Senhor”, e expres-
sões equivalentes1).
• Sua cronologia — tudo indica que o conteúdo deste livro foi ditado a Moisés
durante o espaço de um mês. O livro anterior termina no primeiro dia do
primeiro mês do segundo ano da saída do Egito (Êx 40:17), e o livro seguinte
começa no primeiro dia do segundo mês do segundo ano (Nm 1:1). Não há
nenhuma sugestão2 no livro que nos leve a duvidar que Levítico realmente
1
Na ACF a expressão “falou o Senhor” ocorre treze vezes (5:14; 7:22; 10:8; 11:1; 14:1;
16:1; 22:1; 23:1, 9, 23, 33; 24:1, 13); “falou mais o Senhor” ocorre vinte e uma vezes (4:1;
6:1, 8, 19, 24; 7:28; 8:1; 12:1; 13:1; 14:33; 15:1; 17:1; 18:1; 19:1; 20:1; 21:16; 22:17, 26;
23:26; 25:1; 27:1), num total de trinta e quatro ocorrências.
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É verdade que em Números cap. 7 temos o relato de um evento que ocorreu “no dia em
Moisés acabou de levantar o Tabernáculo”, que seria o mesmo dia do término de Êxodo.
Isto parece indicar que a sequência cronológica desta parte da Bíblia não é absoluta. Mas
As sete solenidades do Senhor 9
tenha sido transmitido a Moisés nestes trinta dias de intervalo entre Êxodo
e Números.
Nos dois detalhes vistos acima, temos uma comparação e um contraste entre
Levítico e Deuteronômio.
é coerente entender que o cap. 7 de Números foi incluído fora do seu contexto cronológico
(devido ao seu assunto), como também podemos entender a expressão “no dia em que
Moisés acabou” num sentido mais genérico, somente indicando que foi depois da conclu-
são do Tabernáculo (no comentário Ritchie sobre Números 7, J. Stubbs sugere isto).
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A Bíblia não relata o dia exato da morte de Moisés, mas alguns fatos mencionados em
Deuteronômio e Josué nos permitem calcular a data, com um ou dois dias de dúvida. Po-
demos começar com a travessia do Jordão, e ir contando para trás até chegar à morte de
Moisés. Sabemos a data da travessia do rio Jordão: o décimo dia do primeiro mês do qua-
dragésimo primeiro ano da saída do Egito (Js 4:19). Também sabemos que, antes de atra-
vessarem o rio Jordão, o povo ficou três dias acampado às margens do Jordão (Js 3:2);
portanto, devem ter chegado ao Jordão no dia 7 do primeiro mês, permanecido acampa-
dos os dias 7, 8 e 9, e no dia 10 atravessaram o rio. Antes disto, porém, houve a missão
dos espias, mencionada no cap. 2 de Josué. Não sabemos exatamente quantos dias eles
gastaram na sua missão, mas há pelo menos quatro dias mencionados na Bíblia: uma noite
que dormiram em Jericó, escondidos (Js 2:1), e três dias que passaram escondidos nos
montes (Js 2:22). Isto quer dizer que os espias devem ter saído do arraial do povo de Israel
no segundo dia daquele mês, passado aquele noite em Jericó, fugido para os montes du-
rante a madrugada do dia 3, passado os dias 3, 4 e 5 escondidos nos montes, e retornado
ao arraial (dou outro lado do Jordão) no dia 6. Na manhã seguinte o povo poderia então
levantar acampamento, e chegar às margens do Jordão no dia 7.
Precisamos também lembrar dos trinta dias que o povo de Israel lamentou a morte de
Moisés (Dt 34:8). Ora, se o espias partiram para Jericó no primeiro ou segundo dia do ano,
e antes disto o povo passou um mês inteiro lamentando a morte de Moisés, chegamos à
conclusão que Moisés morreu no primeiro ou segundo dia do último mês do quadragé-
simo ano da saída do Egito — que é exatamente um mês depois da data mencionada no
início do livro (Dt 1:3). Ele não pode ter morrido depois do segundo dia do duodécimo
mês (pois se isto aconteceu, não haveria tempo para trinta dias de luto, mais quatro dias
dos espias, mais três dias acampados, e tudo isto antes de atravessar o Jordão no dia 10
do próximo ano). Vemos uma confirmação destes cálculos em Josefo, que afirma que a
As sete solenidades do Senhor 10
depois, no primeiro dia do duodécimo mês daquele mesmo ano. Os dois livros,
portanto, ocupam um período igual (trinta dias), e entre eles temos o livro de
Números, que se ocupa em descrever os trinta e nove anos que separam Levítico
de Deuteronômio. Em Levítico vemos Deus falando ao povo durante trinta
dias, antes de iniciarem a peregrinação pelo deserto; em Deuteronômio vemos
Deus falando ao povo durante trinta dias ao final desta peregrinação, antes de
iniciarem a conquista da Terra Prometida. Ou seja, assim que o povo foi resga-
tado do Egito e construiu a tenda que seria a casa de Deus (o Tabernáculo),
Deus os manteve acampados aos pés do Sinai durante um mês, transmitindo a
eles as Suas exigências para que Ele habitasse no meio deles. Uma geração de-
pois, às margens da terra prometida, Deus os manteve acampados durante um
mês, lembrando-lhes pelo Seu servo Moisés das suas responsabilidades para
com Deus. A longa travessia do deserto começou e se encerrou com Deus trans-
mitindo ao Seu povo a Sua palavra, ensinando-os como se comportar na Sua
casa (Levítico) e na terra que Deus lhes daria (Deuteronômio). Isto nos lembra
da importância da Palavra de Deus para a nossa caminhada aqui na Terra. Seja
para sabermos “como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus
vivo” (prefigurada no Tabernáculo), seja para podermos apreciar a extensão das
bênçãos espirituais que são nossas hoje, e vivermos desfrutando delas (prefigu-
radas nas bênçãos da Terra Prometida), é fundamental pararmos um pouco e
ouvirmos o que Deus tem a nos falar pela Sua Palavra.
morte de Moisés foi no primeiro dia do último mês do último ano no deserto. Obviamente,
as palavras dele não são inspiradas, mas nos mostram o entendimento dos judeus antigos
(veja o último parágrafo do quarto livro das Antiguidades dos Judeus). Portanto, podemos
afirmar, com um ou dois dias de dúvida, que foi realmente esta a data da morte de Moisés.
4
Se em Levítico (na ACF) encontramos as expressões “Falou o Senhor” e “Falou mais o
As sete solenidades do Senhor 11
Senhor” trinta e quatro vezes, (veja nota anterior) em Deuteronômio estas expressões
ocorrem somente quatro vezes (na ACF — 1:21; 5:22; 27:3; 32:48), sendo que três destas
ocorrências são ocasiões em que Moisés simplesmente está dizendo ao povo o que Deus
falou em outra ocasião. A única vez que a expressão é usada diretamente é em 32:48,
quando Deus diz a Moisés que ele deve subir ao monte e morrer.
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Vemos outro exemplo desta diminuição do privilégio espiritual de Israel quando compa-
ramos as duas vezes em que Moisés desceu com as tábuas da Lei do Monte Sinai. Na pri-
meira ocasião, ele trouxe duas tábuas que Deus mesmo havia lavrado, e nas quais Deus
havia escrito com o Seu dedo (Êx 32:16), mas na segunda vez ele trouxe tábuas que, ape-
sar de conterem as mesmas palavras e de terem sido escritas pelo mesmo dedo de Deus,
eram tábuas que ele, Moisés, havia lavrado (Êx 34:1). Por causa do pecado vergonhoso
em torno do bezerro de ouro, Israel perdeu algo que nunca mais recuperou.
As sete solenidades do Senhor 12
Quero sugerir que podemos dividir o livro de Levítico em três partes princi-
pais, nas quais Deus trata dos três empecilhos à comunhão entre Ele e Seu povo.
Como vimos acima, neste livro lemos de Israel em relação ao Senhor (não ao
Egito nem à terra prometida). O livro anterior (Êxodo) terminou com o Taber-
náculo erguido, e a glória do Senhor enchendo aquele Tabernáculo. Deus está
entre eles — que privilégio! Sim — mas que responsabilidade! Não era pouca
coisa saber que o Deus eterno habitava entre eles. Nenhuma nação da Terra
(naquela época, ou em qualquer outra) tinha este privilégio.
Mas para que Deus habite entre eles, algumas coisas precisam ser corrigidas.
Destaquei acima que este livro irá enfatizar a solenidade da presença de Deus e
a soberania dos propósitos de Deus. Devido à solenidade da presença de Deus
certas coisas precisavam mudar, pois Deus é infinitamente mais santo que Seu
povo. Devido à soberania dos Seus propósitos, Deus exige que os israelitas mu-
dem, pois Deus é imutável. Não temos neste livro sugestões para serem avalia-
das pelo povo, mas mandamentos para serem obedecidos.
suas circunstâncias (eles vivem num mundo contaminado, por isso estão sujei-
tos à imundícia), e seu comportamento (eles têm a tendência de seguir o seu
próprio caminho, e profanar o nome do Senhor). Se fizermos uma análise das
palavras mais frequentemente usadas em cada parte do livro (veja algumas ta-
belas nos Apêndices), veremos como Levítico trata destes três problemas con-
secutivamente, dedicando os primeiros dez capítulos ao problema da sua con-
dição, os sete capítulos do meio às suas circunstâncias, enquanto os últimos dez
capítulos falam sobre o seu comportamento.
Nos capítulos 11 a 17, porém, será destacado outro problema — não mais o
pecado, mas agora a imundícia. Três palavras hebraicas traduzidas “imundo”,
6
Para ver como é impressionante a diferença entre a frequência do uso de algumas palavras
nas diversas partes de Levítico, consulte as várias tabelas no final deste estudo, que mos-
tram mais detalhes sobre as palavras mais usadas em cada parte do livro.
As sete solenidades do Senhor 14
que só ocorrem dez vezes nos primeiros dez capítulos e vinte e quatro vezes nos
últimos dez, ocorrem trinta e quatro vezes só no cap. 11, e ocorrerão mais ses-
senta e três vezes até chegarmos no final do cap. 17 (ou seja, noventa e sete vezes
nestes sete capítulos!). A questão tratada aqui não é tanto o pecado que todo ser
humano possui por natureza, mas a contaminação cerimonial a que o povo es-
tava sujeito, e que atrapalharia seu relacionamento com um Deus puro. Entre
as coisas que poderiam contaminá-los são mencionadas coisas que não são, em
si mesmas, pecaminosas (como alimentos imundos no cap. 11, e o parto7 no
cap. 12), e outras coisas nas quais o israelita muitas vezes não teria culpa (como
a lepra dos caps. 13 e 14). Aqui vemos que além do problema interno (o pecado
no coração) existia o problema externo: este povo vivia cercado por alimentos
imundos (cap. 11), sujeitos a doenças imundas (caps. 13 e 14) e outras conta-
minações. Por isto expressões relacionadas com a purificação da imundícia
(como “água”, “lavar”, “limpar”) serão mencionadas nestes capítulos centrais
mais vezes do que em todo o restante do livro. A palavra hebraica traduzida
“limpar”, por exemplo, não ocorre nenhuma vez nos primeiros dez capítulos, e
somente duas nos últimos dez; mas nestes sete capítulos centrais, ocorre qua-
renta e uma vezes! Considerando as palavras que são mais comuns nesta parte
do livro, percebemos qual é o assunto destacado aqui: um povo constantemente
sujeito a contaminação não pode se aproximar de Deus sem primeiro se lavar
(cerimonialmente).
Quanto chegamos nos últimos dez capítulos (18 a 27), novamente veremos
uma mudança nas palavras que são usadas com mais frequência. Lemos menos
do pecado e da imundícia, mas a palavra “profanar”, que não foi usada nenhuma
vez até este ponto do livro, é usada dezesseis vezes nestes dez capítulos! Não
está sendo apresentado tanto a condição essencial do israelita (contaminado
pelo pecado), nem a contaminação externa a que ele estava sujeito na sua vida
cotidiana, mas o comportamento errado do povo de Deus, deliberadamente de-
sobedecendo ao Senhor. E as palavras que apresentam a solução para um com-
portamento profano (como “juízos” e “estatutos”, que apresentam o caminho
7
Pode parecer estranho que uma mulher seria imunda após dar a luz, e precisasse de um
sacrifício para a sua purificação. É errado dar a luz? Certamente que não; mas desde a
Queda no jardim do Éden há uma maldição associada a este acontecimento tão lindo, pois
no parto é gerada uma vida (pela graça de Deus), mas uma vida pecadora (por causa da
Queda).
As sete solenidades do Senhor 15
Assim vemos que o povo pecador pode ser perdoado (caps. 1 a 10), o povo
imundo pode ser limpo (caps. 11 a 17), e o povo profano pode ser santo (caps.
18 a 27). Levítico está ensinando que, se Deus irá habitar entre eles, é necessário
que sejam perdoados, purificados e santificados.
Outra diferença interessante entre as três partes do livro é que nos primeiros
dez capítulos muito destaque é dado a Arão, que será mencionado por nome
cinquenta e seis vezes (e só quinze vezes na segunda parte, e nove na última). Já
na segunda parte, o nome de Arão é mencionado muito menos, mas a palavra
As sete solenidades do Senhor 16
Três relacionamentos
A expressão a que me refiro é: “Eu sou o Senhor … que vos tirei da terra do
Egito”. Esta expressão ocorre quatro vezes9 no livro, sempre na última parte, e
8
Gostaria de ressaltar que esta é uma divisão possível do livro. Dada, porém, a riqueza de
detalhes da Palavra de Deus, é possível dividir seus livros de diversas formas, dependendo
da maneira como nos aproximamos do livro. Tom Bentley sugere (comparando com Hb
10:19-25): A lei das ofertas — nossa apreciação de Cristo (caps. 1 a 7); A lei do sacerdócio
— nossa consagração a Cristo (caps. 8 a 10); A lei das purificações — nossa santificação a
Cristo (caps. 11 a 22); A lei dos períodos — nossa adoração de Cristo (caps. 23 a 27).
9
O Egito é mencionado onze vezes neste livro. Em 11:45 está associado com outra palavra
hebraica (“subir”, e não “tirei”); em 18:3 e 19:34 não lemos deles sendo tirados do Egito;
em 25:42 não temos a expressão “Eu sou o Senhor”; e em outras três referências (23:43,
25:55 e 26:45) o Senhor não fala diretamente a eles (“… vos tirei …”), mas fala de como
As sete solenidades do Senhor 17
i) 19:36 — “Eu sou o Senhor vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito” — o
fato da sua libertação;
ii) 22:32-33 — “Eu sou o Senhor que vos santifico, que vos tirei da terra do
Egito para ser o vosso Deus” — um novo Deus;
iii) 25:38 — “Eu sou o Senhor vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para
vos dar a terra de Canaã, para ser o vosso Deus” — uma nova pátria;
iv) 26:13 — “Eu sou o Senhor vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito [ape-
sar de ser traduzido “dos egípcios” por algumas versões, no hebraico é a
mesma palavra dos versículos acima], para que não fôsseis seus escravos; e
quebrei os timões do vosso jugo, e vos fiz andar eretos” — uma nova forma
de servir.
Na segunda vez vemos uma mudança espiritual que esta libertação provocou:
agora Deus é o Deus deles. Os primeiros dez capítulos de Levítico mostram o
meio de acesso a este Deus, e as responsabilidades específicas que o povo teria
pelo fato de agora estarem num relacionamento com Deus.
Na quarta referência, temos uma ilustração que resume de forma muito pre-
ciosa o conteúdo da última parte do livro (caps. 18 a 27). Antes de ser liberto
do Egito, Israel andava encurvado pelo peso do jugo, sem poder erguer a cabeça.
Mas Deus quebrou os timões do seu jugo, e os fez andar de cabeça erguida. A
última parte do livro trata justamente de como Israel, agora livre da escravidão
opressora do Egito, poderia andar dignamente diante de Deus na sua própria
geração futuras saberão que o Senhor tirou Israel do Egito. Restam as quatro referências
consideradas no texto, onde temos esta fórmula exata: “Eu sou o Senhor … que vos tirei
da terra do Egito”.
As sete solenidades do Senhor 18
terra.
Em 22:32 vemos o novo relacionamento deles com Deus; em 25:38, seu re-
lacionamento com uma terra nova; em 26:13 a ênfase recai no seu relaciona-
mento pessoal, não mais envergonhados pelos timões do jugo do Egito, mas
livres pela graça de Deus.
Três problemas
Tendo sido perdoados, ainda precisamos nos preocupar com as nossas cir-
cunstâncias. Temos a carne habitando em nós, e vivemos num mundo conta-
minado e contaminador. Estamos constantemente precisando da purificação da
Palavra de Deus, como o Senhor Jesus ensinou a Pedro na noite da Sua traição
(Jo 13:10). Tendo sido salvos, não precisamos mais do perdão dos pecados no
sentido judicial para remover nossa condenação, mas ainda precisamos confessar
os pecados para restaurar nossa comunhão com Deus (“Aquele que está lavado
[conversão dos salvos] não necessita de lavar senão os pés [confissão para co-
munhão], pois no mais todo está limpo”.
Oito vezes nestes capítulos o Senhor é apresentado como aquele que os tirou
do Egito10, e sete vezes como aquele que os santifica (nenhuma outra ocorrência
no livro), enfatizando assim a prioridade que Ele merece ter nas vidas deles, que
foram comprados e santificados por aquele que diz: “Eu sou o Senhor”.
É apenas nesta seção que encontramos a expressão exata: “Eu sou o Senhor
que vos tirei da terra do Egito”, que já consideramos acima (“Três relaciona-
mentos”). Também é apenas aqui que encontramos a expressão: “Eu sou o Se-
nhor que vos santifica” (sete vezes: 20:8; 21:8, 15, 23; 22:9, 16, 32). A expressão
“Eu sou o Senhor” (seguida ou não de algum qualificativo) só apareceu duas
vezes antes desta parte do livro, mas aqui é encontrada quarenta e sete vezes! A
palavra “andar”, que não foi usada nenhuma vez antes do cap. 18, é usada oito
vezes nestes últimos capítulos. Nesta parte do livro, portanto, o Senhor está
enfatizando a Sua autoridade sobre eles e a santidade que Ele espera no seu
andar. Deus quebrou os timões do jugo que os egípcios colocaram sobre eles e
os redimiu para serem o povo dEle, e agora espera que eles andem dignamente
diante dEle (26:13).
Este novo andar afetaria a vida do povo de Israel de uma forma completa,
abrangendo todas as áreas das suas vidas. Esta parte do livro se divide em quatro
partes menores, cada uma das quais contém, somente uma vez, aquela expressão
que destaquei anteriormente: “Eu sou o Senhor que vos tirei da terra do Egito”
(19:36, 22:33, 25:38, 26:13), e enfatizando a prioridade absoluta do Senhor so-
bre eles em tudo:
10
As ocorrências são: 19:36; 22:33; 23:43; 25:38, 42, 55; 26:13, 45. Destas oito, sete contém
também a expressão “Eu sou o Senhor” (menos 25:42). A única outra ocorrência a tirar do
Egito no livro é em 11:45, onde uma outra palavra hebraica é usada.
As sete solenidades do Senhor 20
É sobre este pano de fundo que devemos olhar para estas solenidades. Não
eram festas comuns que os gentios também celebravam — eram exclusividade
do povo de Deus. Foram estabelecidas por Deus, não por eles, e deveriam ser
uma demonstração da prioridade do Senhor na vida deles. Duas coisas são des-
tacadas:
11
A quantidade de dias no ano, e de dias no mês, está relacionado com o tempo que a Terra
leva para girar em torno do Sol (para o ano) e a Lua em torno da Terra (para o mês), mas
os dias da semana não tem nenhuma relação com o Sol ou com a Lua; foi o Senhor quem
decidiu criar a Terra em seis dias e descansar no sétimo, dividindo assim a semana em sete
dias.
As sete solenidades do Senhor 21
ano sabático, a cada sete vezes sete anos havia um ano de jubileu, havia sete
festas no ano (três delas no sétimo mês do calendário religioso12, e três no
sétimo mês do calendário civil), havia sete semanas entre Primícias e Pente-
costes, o sétimo mês do calendário civil era o primeiro do calendário religi-
oso, e o sétimo do religioso era o primeiro do civil, havia sete dias especial-
mente santos dentre as solenidades — dias que em Levítico 23 seriam con-
siderados como o sábado, onde nenhum trabalho poderia ser feito: o pri-
meiro (v. 7) e último (v. 8) dia dos Pães Asmos, Pentecostes (v. 21), Trom-
betas (v. 25), Expiação (vs. 28, 30, 31), e o primeiro (v. 35) e último (v. 36)
dos Tabernáculos — e assim por diante.
ii) Antes de falar sobre estas congregações do Seu povo, o Senhor ocupou muito
espaço neste livro falando sobre a necessidade de serem santos, enfatizando
assim o que veremos logo adiante: que aqueles que congregam na presença
de Deus precisam se preocupar com a sua condição. “Guarda o teu pé quando
entrares na casa de Deus”, disse alguém mais sábio do que eu e você (Ec 5:1),
e temos aqui uma ilustração deste princípio.
12
Israel hoje segue, oficialmente, dois calendários diferentes: o calendário gregoriano (o
mesmo que usamos no Brasil) e o calendário judaico (o mesmo apresentado na Bíblia). O
calendário judaico segue duas contagens diferentes dos meses, devido à mudança institu-
ída quando Deus os tirou do Egito. A saída do Egito ocorreu no sétimo mês do antigo
calendário judaico, mas Deus disse: “Este mês vos será o princípio dos meses; este vos será
o primeiro dos meses do ano” (Êx 12:2). Assim o sétimo mês do calendário civil passou a
ser o primeiro mês do calendário religioso, e os dois “calendários” (realmente, duas formas
diferentes de contar os meses no mesmo calendário) continuam sendo usados até o dia de
hoje. O calendário religioso é usado para as festas e as formalidades do Templo, e o ca-
lendário civil é usado para todas as outras finalidades (em termos gerais).
As sete solenidades do Senhor 22
que convocareis,
serão santas convocações;
são as Minhas datas agendadas.
Seis dias trabalho se fará, mas o sétimo dia será um sábado sabático,
santa convocação;
nenhum trabalho fareis; sábado do Senhor é em todas as vossas habitações.
Estas são as datas agendadas do Senhor,
as santas convocações
que convocareis
nas suas datas agendadas.
ii) Pães Asmos — a vida de santificação que resulta desta morte (uma semana
de duração);
Três passagens
Esta é a única passagem que menciona todas as sete solenidades com suas
datas, mas não é a única menção destas solenidades na Bíblia. Além de duas
referências resumidas e passageiras em Êxodo (onde somente são mencionadas
Asmos, Pentecostes e Tabernáculos, sem maiores detalhes — Êx 23:14-17 e
34:18 e 22), temos mais duas passagens que tratam detalhadamente destas so-
lenidades. Unindo-as com Levítico 23, temos o seguinte esboço:
ii) Em Números 28 e 29 temos uma lista quase completa (falta apenas Primí-
cias). A lista faz parte de uma série de instruções sobre ofertas: temos
13
A palavra mowed ocorre seis vezes nesse capítulo (duas vezes no v. 2, duas vezes no v. 4,
e uma vez cada nos vs. 37 e 44), apenas uma vez no trecho de Números (29:39 — ocorre
também em 28:2, mas referindo-se ao holocausto diário) e apenas uma vez no trecho de
Deuteronômio (16:6).
As sete solenidades do Senhor 24
detalhes sobre as ofertas diárias, as ofertas dos sábados, e as ofertas das sole-
nidades também são detalhadas. Ali é enfatizado que as solenidades não po-
deriam ser celebradas de qualquer forma — Deus deu detalhes bem especí-
ficos sobre o que deveria ser feito em cada uma delas. Se em Levítico 23
lemos das solenidades do Senhor, aqui o Senhor diz: “Da Minha oferta, do
Meu alimento para as minhas ofertas queimadas, do Meu cheiro suave, te-
reis cuidado” (Nm 28:2).
Três palavras
Temos três palavras diferentes em Levítico cap. 23 para descrever as soleni-
dades:
As sete solenidades do Senhor 25
i) Solenidades (04150, mowed), que traz a ideia de uma data agendada, algo
previamente determinado, um ajuntamento não casual ou acidental, mas for-
malmente combinado e marcado. A palavra ocorre seis vezes neste capítulo:
duas vezes no v. 2, duas vezes no v. 4 (a segunda traduzida “tempo determi-
nado”), e uma vez cada nos vs. 37 e 44. Este termo é usado apenas das sete
solenidades em geral; não é aplicado individualmente a nenhuma delas.
ii) Convocações (04744, miqra), que traz a ideia de uma reunião ou ajunta-
mento. É derivada de uma palavra que sugere um convite ou chamado. “So-
lenidade” enfatiza mais a data do ajuntamento, “convocação” o convite para
o ajuntamento. Ocorre onze vezes neste capítulo: v. 2, 3, 4, 7, 8, 21, 24, 27,
35, 36, 37. Este termo é aplicado individualmente a cinco das sete solenida-
des num quiasma interessante: duas vezes dos Asmos (vs. 7 e 8), depois Pen-
tecostes (v. 21), Trombetas (v. 24) e Expiação (v. 27), terminando como
começou, com uma referência dupla (duas vezes dos Tabernáculos: vs. 34 e
36). Somente as solenidades da Páscoa e das Primícias não são descritas por
este termo14.
iii) Festa (02282, chag), que traz a ideia de alegria e festividade (a raiz da palavra
está associada com danças e feriados). Esta palavra ocorre somente quatro
vezes neste capítulo, descrevendo apenas os Asmos (v. 6) e os Tabernáculos
(v. 34, 39, 41), as únicas duas festas que duravam uma semana. Nem todas
as solenidades eram ocasiões de alegria (v. 29).
Juntando os três títulos usados aqui, fica claro que o assunto deste capítulo
são datas especificamente agendadas pelo Senhor, onde Seu povo era convidado
(“convocado” seria melhor) para comparecer perante o Senhor. Algumas destas
datas seriam festivas, mas não todas; mas todas eram “solenidades do Senhor”.
14
Por quê? Talvez porque são as duas solenidades que descrevem acontecimentos onde o
Senhor é visto sozinho (Sua morte e Sua ressurreição), onde ninguém pode ser “convo-
cado” para auxiliá-lO.
As sete solenidades do Senhor 26
datas foram estabelecidas pelo Senhor (os dias e horários das reuniões numa
igreja são estabelecidas pelos presbíteros), e que não estamos mais debaixo da
Lei. Mas, guardadas as devidas proporções e distinções, devemos lembrar que o
Novo Testamento nos exorta a não deixarmos a nossa congregação, e que a
reunião da Ceia foi estabelecida pelo Senhor mesmo, para ser celebrada todo
primeiro dia da semana. O cristão que trata as reuniões da sua igreja local como
encontros opcionais não está contribuindo para o crescimento do corpo como
deveria.
Três preposições
Além de termos três títulos diferentes, o capítulo usa três preposições15 re-
lacionadas ao Senhor, destacando três relacionamentos dEle com estas soleni-
dades:
ii) O alvo — dezesseis vezes lemos “ao Senhor” (“… festa dos tabernáculos ao
Senhor”, v. 34, etc.), destacando o fato de que estas solenidades, mesmo que
trouxessem muitos benefícios ao povo, eram em primeiro lugar para Ele;
iii) O ambiente — Também lemos quatro vezes “perante o Senhor” (“ele mo-
verá o molho perante o Senhor”, v. 11, etc.), lembrando-nos que é na pre-
sença dEle que estas solenidades eram observadas.
15
Como não conheço a língua hebraica, e a questão das preposições no hebraico é com-
plexa, os comentários acima são baseados na tradução em português.
16
Na versão ACF.
As sete solenidades do Senhor 27
Procurando mais uma vez uma aplicação prática, seria conveniente pergun-
tar: temos esta atitude em relação às reuniões da igreja local? Teríamos coragem
de mudar o que o Novo Testamento instituiu, como se as reuniões fossem nossa
ideia, e não “do Senhor”? Seríamos tão carnais e egoístas a ponto de querer que
as reuniões sejam primeiramente para o nosso proveito, e não “ao Senhor”? E
seríamos tão loucos a ponto de chegarmos de qualquer forma, como se estivés-
semos apenas nos encontrando socialmente com outros cristãos, esquecendo
que nos reunimos “perante o Senhor”?
Três propósitos
Também seria proveitoso perguntar: por que Deus instituiu estas solenida-
des? Qual era a finalidade e propósito delas? Creio que podemos apresentar três
respostas a esta pergunta:
ii) Histórico. Além do aspecto prático, as solenidades tinham uma função his-
tórica também, de lembrar o povo de Israel de acontecimentos importantes
do seu passado. Em Êxodo caps. 12 e 13 é bem destacado que a Páscoa servia
para lembrar o povo de que haviam sido escravos no Egito. Também em Lv
23:43 lemos que a festa de Tabernáculos serviria para lembrá-los de que ha-
viam habitado em tendas. Como salvos, também precisamos estar sempre
As sete solenidades do Senhor 28
iii) Profético. Hoje, com a Bíblia completa, podemos ver que estas sete soleni-
dades apresentam um quadro profético da história da redenção. É este as-
pecto que pretendemos desenvolver neste estudo.
i) Presença obrigatória (Êx 23:17, 34:23; Dt 16:16) — todo varão capaz deve-
ria subir a Jerusalém para as solenidades do Senhor;
ii) Preparação para o Senhor (Êx 23:15; Dt 16:16) — “Ninguém apareça vazio
perante Mim”. Não apenas subir, mas subir com as mãos cheias de ofertas
para o Senhor.
Aqueles que valorizam as reuniões das igrejas locais hoje em dia sentem a
responsabilidade de estar presentes em todas as reuniões, e de irem às reuniões
preparados em seu espírito. E mesmo que precisem sacrificar alguma coisa para
estar presentes nas reuniões, confiam em Deus que Ele suprirá aquilo que lhes
falte, baseado nas Suas promessas (Mt 6:33, etc.).
As sete solenidades do Senhor 29
A ordem prática
Ela inicia com um par que tem, como ponto em comum, o assunto da re-
denção (a Páscoa apresenta o sacrifício pelo pecado, e Asmos a vida santa que é
consequência disto). Em seguida temos outro par, e o ponto em comum agora
é a questão de resultados, fruto (em Primícias havia gratidão pela colheita no
campo, e em Pentecostes gratidão pela colheita nos celeiros).
Vemos assim duas sequências distintas nesta divisão, a primeira ilustrada por
dois pares de festas, a segunda por três festas individuais. Na primeira temos:
redenção, depois resultado; na segunda: despertamento — expiação — des-
canso.
Chamei esta divisão de “ordem prática” pois ela apresenta verdades na ordem
As sete solenidades do Senhor 30
A ordem profética
A ordem dispensacional
a Israel17, mostrando como Deus irá despertar e reunir Israel na sua terra (Trom-
betas), trazendo arrependimento à nação no final da Tribulação (Expiação), e
estabelecendo o reino de paz e justiça do Milênio (Tabernáculos). Os aconteci-
mentos relacionados com isto afetam a Criação toda, seja no sofrimento da Tri-
bulação ou (principalmente) na paz mundial do Milênio.
Resumo
Ordem
Ordem moral Ordem profética
dispensacional
Páscoa Eliminação Cristo Antes
Asmos do pecado eo desta
Primícias Produção indivíduo dispensação
de fruto da graça
Pentecostes Cristo e a Igreja
Trombetas Despertamento Cristo Depois desta
Expiação Aflição e dispensação
Tabernáculos Descanso Israel da graça
Como foi dito acima, neste estudo estarei pensando principalmente na or-
dem profética. Deste ponto de vista, estas sete solenidades se dividem em dois
grupos, um com quatro e outro com três elementos (como é normal18 em grupos
de “sete” na Bíblia). As primeiras quatro festas falam de coisas que já foram
cumpridas em relação a Israel, as últimas três falam de acontecimentos ainda
futuros.
17
Podemos aplicá-los à Igreja também, mas parece que a ênfase principal é com o povo de
Deus aqui na Terra.
18
Por exemplo, as duas listas de sete coisas que complementam Levítico 23 (Mateus 13 e
Apocalipse 2 e 3) apresentam a mesma característica. Nas sete cartas de Apocalipse 2 e 3,
as primeiras três terminam com a promessa ao vencedor, as últimas quatro terminam com
a frase: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Nas sete parábolas do
Reino em Mateus 13, as primeiras quatro foram ditas à multidão, e a últimas três em parti-
cular.
As sete solenidades do Senhor 32
Com estas coisas como pano de fundo, olhemos mais de perto para cada uma
destas sete solenidades.
As sete solenidades do Senhor 33
Páscoa
A Páscoa era a primeira solenidade no ano, celebrada no meio do primeiro
mês. Tem como singularidade o fato de ser a única destas solenidades a ser ce-
lebrada no Egito.
Para Israel era, inicialmente, o sétimo mês; mas no calendário religioso, mo-
dificado pelo Senhor, tornou-se o primeiro dos meses. Em Êxodo 12:1 o Senhor
usa duas palavras diferentes para destacar esta mudança: “Este mês vos será o
princípio [rosh; “cabeça”, “topo”, “principal”] dos meses; este vos será o primeiro
[rishown, “começo”, “início”] dos meses do ano”.
No capítulo que serve de base para este estudo temos apenas a data da Páscoa
19
JOSEPHUS, Flavius. The complete Works of Josephus. Michigan: Kregel Publications,
1987. Pág. 588.
As sete solenidades do Senhor 34
(Lv 23:5). Os detalhes não são apresentados20 aqui, pois já haviam sido menci-
onados em Êxodo cap. 12, quando a Páscoa foi instituída. Apesar do nosso ob-
jetivo neste estudo ser uma consideração das Solenidades em Levítico 23, creio
ser necessário abrir uma exceção em relação à Páscoa e considerar alguns deta-
lhes de Êxodo 12, dada a importância da Páscoa nesta Agenda Divina.
A cronologia — a
prioridade da Páscoa
Lendo Levítico cap. 23 poderíamos pensar que a Páscoa é a menos impor-
tante destas solenidades — afinal, ela ocupa apenas um versículo!
20
Por que Deus omite os detalhes da Páscoa desta lista? Uma possível sugestão é que a Pás-
coa (que serve de base para todas as demais solenidades) precisava preceder (como pre-
cedeu) a própria publicação da Agenda Divina. Somente uma nação já resgatada do pe-
cado poderia entender sobre redenção. A Páscoa é parte deste Calendário, mas é também
a experiência anterior de quem aprecia as verdades aqui contidas. Além disto, ela foi ins-
tituída antes da instituição do sacerdócio levítico — veja abaixo em “vi) O sacrifício do cor-
deiro”.
As sete solenidades do Senhor 35
Para entender o que isto deve ter representado para Israel, precisamos lem-
brar do que já foi dito acima: o calendário civil de Israel é diferente do calendário
religioso. Quando Deus lhes disse: “Este vos será o primeiro dos meses do ano”,
Ele não estava simplesmente lembrando-os de que aquele era o primeiro mês
(era o sétimo), mas estava afirmando que aquele seria o primeiro mês do ano —
em outras palavras, Deus estava efetivamente mudando o calendário deles! O
mundo comemorava o Ano Novo no final do verão (quando o ano está mor-
rendo) — Israel esperava mais sete meses, e quando a Primavera anunciava o
ressurgimento da vida, então eles (e somente eles) iniciavam a contagem dos
meses!
ii) A separação dos salvos. Também é importante destacar que este novo ca-
lendário era só para o povo de Deus, tornando-os assim diferentes de todas
as nações ao seu redor (aliás, era apenas mais um detalhe que manifestava a
sua separação destas nações). Desde quando saíram do Egito, e até o dia de
As sete solenidades do Senhor 36
hoje, o povo de Israel usa dois calendários diferentes no seu dia a dia: o ca-
lendário civil começa em 1º de Tisri (set/out), e o calendário religioso co-
meça em 1º de Nisã (mar/abr). Eles contam os anos a partir de Tisri, mas
contam os meses a partir de Nisã. Até hoje a maioria dos países muçulmanos,
mesmo aqueles que oficialmente usam o calendário gregoriano, ainda se-
guem um calendário lunar para suas datas religiosas, e assim iniciam um
novo ano na mesma época (este ano, será 10 de setembro em Israel, e 12 de
setembro na Síria, por exemplo) mas Israel deve ser o único povo que inicia
uma nova contagem no sétimo mês do ano! E por que esta diferença? Porque
Deus mudou o calendário deles! Por que nós nos comportamos diferente-
mente daqueles que não são salvos? Porque Deus mudou a nossa vida — ela
tem um novo começo que eles desconhecem!
iii) A sublimidade do Calvário. Talvez a lição mais preciosa que esta mudança
do calendário ilustra é a prioridade sublime do Calvário na História do
mundo. Quando Deus mudou o calendário de Israel, o sétimo mês tornou-
se o primeiro. É interessante a ocorrência do número sete no calendário ju-
daico, como já destaquei na introdução — o número da perfeição está es-
tampado neste calendário. Em relação à Páscoa vemos que, ao iniciar o sé-
timo mês, Deus declara que aquele sétimo agora será o primeiro mês, e ainda
afirma que ele seria o principal (literalmente, “cabeça”), e logo em seguida
Ele institui a solenidade que prefigura a cruz de Cristo. Que forma linda de
dizer: “Parem tudo! Esqueçam tudo que já passou! O que acontecerá agora
é o mais importante acontecimento do ano! Neste sétimo mês, o mês da
perfeição, veremos a verdadeira perfeição, e começaremos a contar os meses
do começo novamente!” Isto nos faz lembrar de expressões no NT que des-
tacam a prioridade do Calvário: “Vindo a plenitude dos tempos, Deus en-
viou Seu Filho … para remir os que estavam debaixo da lei” (Gl 4:4); “Mas
agora, na consumação dos séculos, uma vez Se manifestou para aniquilar o
pecado pelo sacrifício de Si mesmo” (Hb 9:26). No sétimo mês, quando em
figura o tempo da perfeição chegou, Cristo foi enviado (Gálatas) e Se mani-
festou (Hebreus), cumprindo a solenidade da Páscoa. Como escreveu Jim
Flanigan: “A vinda do Salvador para tirar o pecado foi o clímax da História.
Os séculos passados e os séculos futuros se encontram na Sua cruz. Todos os
séculos passados aguardavam ansiosamente o Calvário — todo o futuro re-
lembra a cruz. Os séculos se encontram no Gólgota” (Comentário Ritchie
As sete solenidades do Senhor 37
vol. 13). Não é à toa que Paulo escreveu: “Longe esteja de mim gloriar-me,
a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6:14). A Sua ressurreição
é inacreditável (para a racionalidade humana); a Sua ascensão é gloriosa; mas
há glórias na cruz que superam todos estes eventos! “Na cruz eu vejo a prova
da compaixão de Deus, e vejo ali aberto caminho para os Céus!” (W. An-
glin).
ii) A suficiência do cordeiro (Êx 12:3). Está escrito: “… um cordeiro por famí-
lia. Mas se a família for pequena para um cordeiro …” Deus contempla a
possibilidade de uma família ser pequena para um cordeiro, mas não a pos-
sibilidade de um cordeiro ser pequeno para uma família.21 Desta forma a
suficiência do Senhor Jesus Cristo é ilustrada; Ele pode salvar perfeitamente
todos aqueles que nEle confiam. Existe a possibilidade da minha fé ser
21
Na prática, ambas as situações certamente ocorreriam, mas a Bíblia apenas apresenta a
primeira. Os judeus estabelecem um limite de 10 a 20 pessoas por cordeiro.
As sete solenidades do Senhor 38
pequena demais em relação ao que Ele merece, mas nunca existe a possibi-
lidade da minha fé superar o que Ele pode fazer por mim.
iii) A santidade do cordeiro (Êx 12:5). O cordeiro deveria ser “sem mácula”, um
lembrete muito claro da santidade absoluta do nosso Salvador, que nunca
pecou e nunca poderia pecar.
v) O sangue do cordeiro (Êx 12:7, 13, 23). Era o sangue aplicado nas portas
das casas que protegia o povo, lembrando-nos que não foram simplesmente
os sofrimentos do Senhor que nos salvaram, mas sim o Seu sangue derra-
mado por nós (I Pe 1:18-19). A perfeição do cordeiro não trazia segurança;
a morte do cordeiro não livrava da condenação; mas o sangue aplicado na
porta da casa era a garantia de vida! “Que preço amargo, ó meu Senhor,
pagaste em meu favor; Teu Filho amado, singular, deitaste sobre o altar!”
22
Josefo (Jewish Wars 6.9.3) afirma que 256,600 cordeiros pascais foram sacrificados num
determinado ano em Jerusalém — mas isso parece ser impossível de se realizar numa só
tarde. Realmente há detalhes difíceis de entender em relação a isso, mas devemos lembrar
que: (i) vários sacerdotes trabalhavam durantes os dias de festa; (ii) apesar das instruções
iniciais sobre a Páscoa determinarem que o cordeiro deveria ser sacrificado e comido no
Templo, e não em casa (Dt 16:5-7), sabemos que nos dias do Senhor o cordeiro era comido
nas casas, o que nos leva a supor que muitos também o matariam em particular (visto que
ele não era sacrificado sobre o altar). Sendo assim, é possível que apenas alguns escolhi-
dos teriam o privilégio de ter seus cordeiros pascais mortos no Templo; o restante do povo
teria que fazer tudo em casa.
As sete solenidades do Senhor 40
todos os poucos judeus privilegiados que foram ao Templo com seus cordeiros.
Por volta das 15:00, enquanto lá no Templo a primeira turma de devotos estava
cumprindo todo o ritual associado à Páscoa (certamente assustados e inseguros
devido às trevas que cobriam a cidade desde o meio dia), o Senhor bradou em
alta voz da cruz: “Está consumado!” (será que ouviram Seu brado lá no Tem-
plo?). Enquanto os primeiros cordeiros da Páscoa, escolhidos pelas famílias ali
representadas quatro dias antes, estavam sendo mortos no Templo, o verdadeiro
Cordeiro da páscoa, escolhido por Deus antes da fundação do mundo, era sa-
crificado naquele mesmo23 monte! Enquanto o sangue daqueles cordeiros re-
presentativos era derramado à base do altar, o véu do Templo se rasgou de alto
a baixo, um terremoto assustou ainda mais os devotos no Templo, e a Páscoa
foi finalmente cumprida, de uma vez por todas. “Cristo, a nossa páscoa, foi sa-
crificado por nós”.
Muitos irmãos que respeito seguem uma cronologia diferente para a morte
do Senhor (trato disto num dos Apêndices) — mas qualquer que fosse o dia e
horário exatos da morte do Senhor Jesus, certamente foi “por ocasião da Pás-
coa”; e pela preciosidade da figura da Páscoa, não me surpreenderia chegar na
eternidade e descobrir que foi exatamente na mesma hora! Esta cronologia dos
eventos é mais impressionante ainda quando lembramos de Mateus 26:2-5,
onde lemos que o Senhor afirmou claramente: “Daqui a dois dias é a Páscoa, e
o Filho do Homem será entregue para ser crucificado”. O mesmo trecho nos
informa que os príncipes dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos do povo,
reuniram-se e concluíram: “Vamos matá-lO, mas não durante a festa”. A Pás-
coa claramente apontava para a morte do Cordeiro, e Cristo veio cumprir a
Páscoa. Os líderes dos judeus claramente afirmaram que não iriam matá-lO
durante a festa (não porque entendiam sobre o cumprimento da festa, mas de-
vido ao grande número de pessoas que havia em Jerusalém naquela época do
ano — era mais sábio para eles esperar uma ou duas semanas, e depois agir). Os
homens deram o seu veredito, mas a data que Deus escolheu antes da fundação
do mundo, e que Ele revelou por intermédio de Moisés séculos antes, precisava
ser cumprida. Deus é pontual, e aquilo que Ele determinou será (e foi)
23
Não posso provar, mas tenho convicção que o Calvário ficava no Monte Moriá, o monte do
Templo, o mesmo monte onde Abraão ofereceu Isaque. Se não foi no mesmo monte, pelo
menos foi bem próximo a ele.
As sete solenidades do Senhor 41
Asmos
É importante enfatizar que a festa dos pães asmos era intimamente associada
com a festa da Páscoa. Em Ezequiel 45:21 a Páscoa é descrita como uma “festa
de sete dias” em que “pão ázimo se comerá”. Em Lucas 22:1 lemos: “Estava,
pois, perto a festa dos ázimos, chamada a Páscoa” (veja também Mt 26:13 e Mc
14:12). Com o passar do tempo, parece que a festa passou a ser considerada
pelos judeus como uma só, às vezes chamada de Páscoa, às vezes de Asmos. Em
Levítico 23, porém, vemos claramente que, aos olhos de Deus, eram duas sole-
nidades separadas: a Páscoa falando da morte do Senhor, e os Asmos das con-
sequências desta morte (tendo sido resgatados pelo Senhor, podemos viver sem
o fermento da maldade e do pecado). Pensando nisto, é interessante ver que,
naquilo que chamei de “Ordem prática” das festas, Páscoa e Asmos formam um
par, ambas tratando da questão da remoção do pecado: a Páscoa apresenta a
forma como o pecado seria removido, Asmos representa as consequências desta
remoção.
Sendo uma festa de uma semana, ela representa no calendário divino as ca-
racterísticas de um período mais do que um evento, e fala da santidade que deve
caracterizar aqueles que Deus redimiu. Historicamente, isto se refere ao povo
resgatado da corrupção do Egito, separado das nações ao seu redor — espiritu-
almente, refere-se a nós que somos salvos hoje. I Coríntios 5 deixa isto claro:
tendo Cristo, a nossa Páscoa, já sido sacrificado, nós então devemos guardar a
festa dos pães asmos.
Santidade ilustrada no VT
No VT há pelo menos três detalhes sobre a festa dos Asmos que ilustram
aspectos da nossa santidade que devem ser destacados.
Sem espera
Mas se na esfera terrestre é necessário um pequeno tempo até que a paz atinja
todas as nações após a sua libertação, na esfera espiritual não há intervalo entre
a salvação e a santificação. Tendo sido purificados posicionalmente, deveríamos
purificar nossa prática imediatamente.
todo o fermento que ainda resta. Este resultado da busca simbólica é guardado
cuidadosamente, e queimado no dia seguinte (dia 14), antes da hora em que
deveria ser sacrificado o cordeiro da Páscoa.
Repare que são usadas três palavras diferentes (“pães asmos”, “levedado”,
“fermento”) para descrever o que deveria ser evitado, e três palavras diferentes
descrevem três formas diferentes em que o fermento deveria ser evitado (“co-
merá”, “verá contigo”, “visto em todos os teus termos”) durante estes sete dias:
i) Comer. “Sete dias se comerá pães ázimos” — a palavra traduzida “pães ázi-
mos” é matstsa, “pão [ou bolo] sem fermento” — isto é o que poderia ser
comido. Vemos a mesma ênfase sobre o “comer” no cap. 12. Nos primeiros
quatorze versículos, que descrevem a Páscoa, sete vezes temos o verbo “co-
mer” associado à Páscoa. Nos vs. 13-20 novamente temos sete vezes o verbo
“comer”, mas agora relacionado à Festa dos Asmos: três vezes falando que
poderiam comer pães asmos, três vezes falando que não poderiam comer pão
levedado, e uma vez falando de comida em geral. A ênfase nesta primeira
parte do versículo é na assimilação — “comer” indica assimilação completa
do fermento, que entra no organismo de quem come.
ii) Carregar. “O levedado não se verá contigo” — aqui é usada outra palavra
hebraica (chametz), que indica o contrário da anterior: algo feito com fer-
mento. E a ação descrita não é mais “comer”, mas simplesmente “se verá
contigo”! Além de não poderem comer pão com fermento, nem poderiam
ter em sua posse um pão (ou outro alimento) com fermento! A ênfase aqui é
em associação.
iii) Possuir. “Nem ainda fermento será visto em todos os teus termos”. Nova-
mente outra palavra é usada — seore, que indica o fermento em si; não a
massa fermentada, mas aquilo que fermentará a massa — e outra exigência
é apresentada. Novamente está associado com o ato de “ser visto”, mas com
uma diferença: além de coisas fermentadas não poderem ser vistas na com-
panhia do Israelita, nenhum fermento (aquilo que poderia, potencialmente,
As sete solenidades do Senhor 46
causar fermentação) poderia ser visto “em todos os teus termos”, isto é, em
qualquer parte da(s) sua(s) propriedade(s)! A ênfase agora é apropriação.
Unindo estas três coisas, temos uma ideia de como era abrangente a instru-
ção do Senhor para estes sete dias. Era errado comer algo fermentado; era errado
carregar algo fermentado; era até errado ter o fermento (mesmo que ainda não
tivesse sido usado para a fermentação de nada) em qualquer parte da sua pro-
priedade, mesmo que trancado dentro do armário! Seu pão, suas pessoas e suas
propriedades deveriam estar completamente livres de qualquer forma de fer-
mento.
Alguém que pensa de forma prática poderá dizer: “Então preciso sair do
mundo, pois há contaminação em todo canto!” Sim, parece impossível — mas
Deus pode nos ajudar a viver de uma forma que O agrade, mesmo estando cer-
cados pelo mal!
Na nossa luta por uma vida mais santificada, lutamos contra a nossa própria
carne. Se depender somente de nós, seremos completamente derrotados. Mas
temos o Espírito Santo em nós, e se nos submetermos a Ele, jamais satisfaremos
as concupiscências da carne. Quando Pedro confiou na sua coragem, ele foi avi-
sado pelo Senhor de que cairia — e caiu (Lc 22:33-34). Nas suas epístolas,
As sete solenidades do Senhor 47
Santidade explicada no NT
O VT, portanto, ilustra alguns detalhes sobre nossa atitude em relação à
santidade. Mas talvez ainda tenhamos dúvida sobre o que é que o fermento
representa. Representa o “mal”, sem dúvida — mas podemos ser mais específi-
cos?
Além das parábolas contadas pelo Senhor Jesus, temos referências ao fer-
mento em três contextos diferentes no NT:
faz levedar toda a massa” — isto é, uma prática errada cometida por uma
pessoa, e tolerada entre o povo de Deus, tem a tendência de se espalhar e
contaminar a igreja toda. Por isso Paulo é levado a exortá-los a tirar do seu
meio o fermento velho (provavelmente uma referência à imoralidade, às prá-
ticas da sua vida antes da conversão) e o fermento da maldade e da malícia.
Creio que estas duas palavras não descrevem dois tipos de fermento, mas
dois aspectos do mesmo problema (a primeira delas enfatizando o senti-
mento, a segunda o ato praticado). Em contraste com maldade e malícia,
eles deveriam usar aquilo que é descrito como “sem fermento”, os “asmos”
da sinceridade e verdade. A ênfase nesse trecho não é tanto sobre a argu-
mentação que justifica o erro, como no caso dos fariseus, mas sobre a prática
errada em si.
iii) Em Gálatas 5:7-12 novamente são citadas aquelas palavras que já encontra-
mos em I Coríntios: “Um pouco de fermento leveda toda a massa” (v. 9).
Examinando o contexto, porém, parece que aqui se refere a uma pessoa —
uma pessoa com práticas erradas baseadas numa pregação errada, é verdade,
mas o principal problema destacado neste contexto é o indivíduo. Lemos de
alguém que impediu os gálatas de obedecer a verdade (v. 7), que os persuadia
(v. 8), que os inquietava (v. 10), e que tinha alguns auxiliadores (v. 12: “aque-
les que vos andam inquietando”). Parece que alguns estavam querendo sub-
jugar os gálatas debaixo do jugo da circuncisão, e Paulo exorta os gálatas a
não darem ouvidos a essas pessoas.
Quero sugerir que estes três contextos não apresentam três problemas isola-
dos, mas um problema em três etapas: pessoas contaminadas apresentam dou-
trina (pregação) contaminada que produz comportamento (prática) contami-
nado. Como se fosse uma corrente com três elos, cada elo ligado ao anterior.
Quando pensamos em práticas erradas entre o povo de Deus (não simplesmente
as falhas individuais produzidas pela nossa carne, mas a conduta coletiva do
povo de Deus), percebemos que estas práticas não surgem do nada — são base-
ados em doutrinas falsas, em entendimentos deturpados das Escrituras. E estas
doutrinas não são carregadas pelo vento — são espalhadas entre as igrejas por
falsos ensinadores.
Creio que esta não é a única vez que encontramos esta figura de como o erro
As sete solenidades do Senhor 49
Convém pensar nesta corrente do erro e seus três elos. Há muita “doutrina
fermentada” sendo divulgada hoje em dia. Se permitirmos que “pessoas fermen-
tadas” ensinem estas doutrinas entre nós, logo perceberemos que, realmente,
um pouco de fermento leveda a massa toda. Precisamos estar preocupados com
quem nos influencia; precisamos estar preocupados com aquilo que nos influ-
encia; e precisamos estar preocupados com o que praticamos como consequên-
cia destas influências.
Primícias
A festa das Primícias somente poderia ser celebrada depois que o povo en-
trasse na terra prometida. Quando plantassem seus campos e a colheita estivesse
pronta, um molho das primícias (ou seja, a primeira parte) deveria ser oferecido
ao Senhor antes deles participarem da colheita. Assim eles reconheciam a prio-
ridade do Senhor nas suas vidas e consagravam a Ele as “primícias” (a primeira
parte) da sua colheita. Que princípio precioso para observarmos ainda hoje: a
primeira parte é do Senhor!
Lendo Levítico cap. 23 ficamos com um pouco de dúvida sobre o dia exato
em que esta festa deveria ser celebrada, devido ao sentido duplo da palavra “sá-
bado”. “Sábado” quer dizer, literalmente, “descanso”, e a palavra é usada de duas
formas na Bíblia: para descrever o sétimo dia da semana (que sempre era um
“descanso”), e também para descrever outros dias especialmente separados para
descanso (veja, por exemplo, Lv 23:32, onde o 10º dia do 10º mês é definido
como um “sábado de descanso”, independentemente do dia da semana em que
caísse). Sendo que o primeiro e o último dia dos Pães Asmos eram dias de des-
canso, fica um pouco de dúvida se o correto seria celebrar Primícias no primeiro
dia após o Sábado semanal durante os Pães Asmos, ou no 2º dia dos Pães Asmos
(já que o 1º dia era sempre um “sábado”). Nos dias do Senhor Jesus Cristo, os
saduceus defendiam que deveria ser sempre no primeiro dia da semana, inde-
pendentemente do dia do mês, enquanto os fariseus defendiam que deveria ser
sempre no dia 16, independentemente do dia da semana. Edersheim escreve
com convicção:
O testemunho de Josefo, de Philo, e da tradição judaica não deixam margem para
dúvidas de que, neste ponto, devemos entender por “Sábado” o dia 15 de Nisan,
As sete solenidades do Senhor 51
Visto que, nos dias do Senhor Jesus, eram os fariseus, e não os saduceus, que
tinham mais força política e controlavam as cerimônias de Israel, certamente
esta seria a prática do povo naqueles dias, celebrando a Festa das Primícias ofi-
cialmente no dia 16 do 1º mês, independentemente do dia da semana. De tem-
pos em tempos o dia 14 do 1º mês cairia numa sexta-feira, portanto o dia 15 (o
1º dia dos Asmos) seria um sábado e o dia 16, quando era celebrada a Festa das
Primícias, cairia num domingo, satisfazendo assim fariseus e saduceus. Nos de-
mais anos, a Festa seria celebrada em outro dia da semana, conforme a convicção
dos fariseus (e para desgosto dos saduceus).
24
EDERSHEIM, A. The Temple, it's ministry and services at the time of Jesus Christ. The Reli-
gious Tract Society, London, 1874. Pág. 223.
As sete solenidades do Senhor 52
ii) No dia seguinte (sexta-feira, dia 14) o Senhor foi crucificado, e antes do por
do Sol mãos carinhosas O puseram num sepulcro fora de Jerusalém. Não
sabemos a localização exata da crucificação nem do sepulcro, mas sabemos
que o sepulcro era perto do Calvário (Jo 18:42), e ambos estavam fora da
cidade de Jerusalém, como o campo de cevada. Se o Senhor foi crucificado
no Monte Moriá, como afirmei acima, provavelmente o campo com os feixes
de cevada amarrados poderia ser visto da cruz, do outro lado do ribeiro de
Cedrom.
iii) Ao por do Sol naquele dia começava, para os judeus, o sábado dia 15. Na-
quele ano aquele sábado foi um sábado especial, chamado em João 19:31 de
“grande”, pois o sábado semanal (que era um dia especial de descanso) coin-
cidiu com o 1º dia dos Asmos (que também era um dia de descanso). Na-
quele dia, portanto, o corpo do Senhor descansou no túmulo enquanto os
judeus celebravam o 1º dia dos Asmos.
iv) Pouco antes do Sol se por naquele sábado (isto é, pouco antes de começar o
domingo dia 16, o Dia das Primícias), uma multidão atravessou mais uma
vez o ribeiro de Cedrom, acompanhando os enviados do Sinédrio. Foram ao
mesmo campo onde estiveram na quinta-feira, e quando o Sol se pôs (isto é,
logo no início do domingo) eles cortaram os ramos que haviam sido previa-
mente escolhidos. Estes ramos ficariam25 no Templo até na manhã seguinte.
Poucas horas depois disto (não sabemos exatamente quanto tempo — mas
não deve ter sido muito) o Senhor saiu do sepulcro lacrado, vitorioso sobre
a morte. Deixou para trás os lençóis com que O envolveram, o lenço que
cobrira Sua cabeça dobrado ordeiramente à parte. A grande pedra
25
Segundo a instituição original de Deus os ramos inteiros seriam apresentados diante do
Senhor. Os judeus haviam trocado a cerimônia original, e nos dias do Senhor a cevada era
debulhada e a farinha resultante era apresentada ao Senhor.
As sete solenidades do Senhor 53
vi) Por volta das 09h00 da manhã naquele domingo, multidões chegavam no
Templo para a Festa das Primícias. Os Levitas entoavam26 naquela ocasião
o Salmo 30, um Salmo que fala da glória da ressurreição — e enquanto o
sacerdote apresentava o molho das Primícias perante o Senhor (figura de
ressurreição) e os Levitas cantavam: “Senhor, fizeste subir a minha alma da
sepultura”, as mulheres certamente já teriam voltado do sepulcro, e a notícia
já corria pelas ruas de Jerusalém: “O Senhor ressuscitou!” Provavelmente
nesta hora aqueles “santos que dormiam”, cujos sepulcros foram abertos
quando o Senhor morreu (Mt 27:52-53) “entraram na cidade santa e apare-
ceram a muitos.” Que sinal impressionante para o povo duro e incrédulo de
Jerusalém!
Séculos antes deste dia memorável, Deus instituiu esta Festa para indicar o
Seu compromisso de ressuscitar Seu Filho ao terceiro dia, no primeiro dia da
semana! Como é impressionante a autoridade e perfeição das Escrituras, cum-
pridas pelas próprias pessoas que crucificaram o Senhor! Nosso Senhor morreu
numa sexta-feira dia 14 (na hora em que o cordeiro da Páscoa estava sendo
sacrificado), e ressuscitou no domingo dia 16, cumprindo assim perfeitamente
a profecia do dia das Primícias.
26
Veja Mishna Bikurim 3:4.
As sete solenidades do Senhor 54
relatada em Levítico, é sua ligação íntima com as duas festas que a cercavam,
Asmos e Pentecostes.
ii) Indefinição quanto aos nomes. Neste capítulo, as primeiras duas festas do
ano (Páscoa e Asmos) e as últimas duas (Expiação e Tabernáculos) tem seu
título oficial claramente destacado no texto, mas as três 27 festas centrais
27
Creio que não é coincidência que estas três tenham uma indefinição neste capítulo quanto
ao seu nome e quanto à sua data. É verdade que a data da festa das Trombetas é apresen-
tada — sétimo mês, ao primeiro do mês — mas devido ao calendário judaico ser baseado
na Lua, o intervalo entre Pentecostes e Trombetas seria diferente a cada ano (mais detalhes
sobre isto na parte que trata da festa das Trombetas). Se Pentecostes marca o início do
período da Igreja, e Trombetas marca o seu fim (no Arrebatamento), a maneira como os
As sete solenidades do Senhor 55
É inegável a estreita ligação que estas duas festas, Asmos e Pentecostes, ti-
nham com a Festa das Primícias. Quando pensamos no significado espiritual
destas três festas é fácil entender o por quê disto.
Quanto aos Asmos, que falam da vida de santidade que Deus espera ver no
Seu povo, vemos claramente a sua ligação com Primícias, que fala da ressurrei-
ção de Cristo. Vários textos no NT (Romanos cap. 6, Colossenses cap. 3, etc.)
fatos são relatados aqui em Levítico indica que nós não temos condições de calcular o dia
do Arrebatamento.
28
Edersheim afirma: “A maior parte da colheita, em todas as partes do país, já havia sido
colhida” (The Temple, pág. 127).
29
Ibid., pág. 225-226.
30
Não o final de todo o serviço relacionado à colheita — todo o serviço de debulhar e estocar
a colheita ainda precisava ser feito — mas o final da colheita propriamente dita.
31
Mais detalhes abaixo, ao considerarmos a Festa de Pentecostes.
As sete solenidades do Senhor 56
32
Além destas, temos aqui a primeira menção da terra que o Senhor daria ao Seu povo, da
“sua” colheita, de uma oferta movida, etc.
As sete solenidades do Senhor 57
iii) “Dia seguinte ao sábado” — a primeira menção na Bíblia. Aliás, este capí-
tulo contém as únicas três menções desta expressão em todo o VT (v. 11, 15,
16 — há uma expressão semelhante em Neemias 13:19, mas diferente no
original). Esta Festa era celebrada no 1º dia da semana, mas o Senhor enfa-
tiza que era o dia seguinte ao sábado. Esta forma diferente de se referir a este
dia talvez seja uma indicação de que um dia o sábado, como dia santo a ser
observado, seria colocado de lado — e sabemos que a ressurreição de Cristo
deu ao primeiro dia da semana uma nova importância nesta presente dispen-
sação. Obviamente não podemos considerá-lo como um dia santo, como na
dispensação da Lei — mas convém lembrar que as únicas duas atividades das
igrejas locais associadas a algum dia da semana estão associadas ao primeiro
dia (At 20:7; I Co 16:1). O domingo, hoje, não é um dia santo, mas é um
dia especial — nele nosso Senhor ressuscitou, e nele celebramos a Ceia
As sete solenidades do Senhor 58
Prioridade do Senhor
O povo de Israel não poderia provar nada da colheita até que apresentassem
as primícias ao Senhor (Lv 23:14). Não é que jejuariam até a Festa das Primí-
cias, mas não podiam participar de nada daquela colheita até apresentar as pri-
mícias ao Senhor.
Foi Ele mesmo quem disse: “Buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua jus-
tiça” (Mt 6:33). Estamos vivendo assim? I Coríntios 16:1 enfatiza que no pri-
meiro dia da semana devemos contribuir para o Senhor por intermédio da igreja
local. O meu tempo, os meus recursos, o tempo da minha vida — o Senhor
merece as primícias.
iii) O fruto da ressurreição. Assim como o feixe movido perante o Senhor re-
presentava a colheita que viria, assim I Coríntios 15 ensina que a ressurreição
de Cristo é o penhor da nossa ressurreição: “… todos serão vivificados em
Cristo” (v. 22). O Senhor já havia indicado isto mesmo antes da Sua morte
(Jo 5:28-29), e na Sua ressurreição cumpriu-se a parábola do grão de trigo
As sete solenidades do Senhor 60
(Jo 12:24). Todos irão ressuscitar (nem todos na mesma ocasião) devido à
vitória de Cristo sobre a morte. Vemos isto aqui em Levítico: o molho das
primícias era movido perante o Senhor “para que sejais aceitos”.
Pentecostes
A festa de Pentecostes era celebrada cinquenta dias depois do dia das Primí-
cias, e era a única festa “avulsa” no calendário divino. O ano começava com três
festas da Primavera no primeiro mês (Páscoa, Asmos e Primícias), e terminava
com três festas do Outono no sétimo mês (Trombetas, Expiação e Tabernácu-
los). Entre elas (mais perto das primeiras três, e ligada a elas; também ocorria
durante a Primavera), havia a festa de Pentecostes.
Não pode haver dúvida que o dia de Pentecostes foi cumprido em Atos cap.
2, quando a Igreja foi batizada no Espírito Santo. Ali lemos: “Cumprindo-se33
o dia de pentecostes”. Naquele dia histórico uma promessa foi cumprida (At
1:4-5, etc.), uma Pessoa foi enviada (o Espírito Santo), poder foi demonstrado
(som, línguas como que de fogo, dom de línguas), e um projeto foi iniciado
(criação da Igreja). Ali a Igreja foi, posicionalmente, batizada no Espírito Santo
(não “com”, mas “no”: ela é quem foi batizada; Cristo é quem efetuou o batismo;
o Espírito é o elemento onde o batismo ocorreu).
33
A palavra grega traduzida “cumprindo-se” aparece só três vezes no NT, e indica algo ple-
namente completo — não é usada de nenhuma outra destas solenidades no NT.
34
Estou entendendo que os sacrifícios do Dia de Pentecostes relatados em Números 28 são
adicionais aos apresentados em Levítico 23. Aqueles eram sacrifícios especiais pelo dia
santo, enquanto que os de Levítico 23 eram sacrifícios especiais acompanhando o pão
santo. Creio que esta é a solução mais simples para as diferenças entre os dois trechos.
As sete solenidades do Senhor 62
ii) Parece que Moisés subiu logo em seguida ao monte (v. 3) — possivelmente
no 2º dia de Sivã;
iii) Moisés transmite ao povo o que Deus lhe falou, e sobe novamente ao monte
(provavelmente no 3º dia) com a resposta do povo ao Senhor (vs. 7-9);
iv) Durante os próximos dois dias (4º e 5º) o povo se santifica (vs. 10-11);
35
A área do Templo era enorme, e possuía muitos alpendres próprios para reuniões ao redor
da Corte dos Gentios, com espaço suficiente para os discípulos reunirem. Eles poderiam
estar na área comum (onde todos, inclusive gentios, poderiam entrar, e que media 480 x
300 metros, com alpendres em seu redor), ou na parte destinada exclusivamente aos ju-
deus. Sabemos que eles costumavam reunir ali depois de Pentecostes (At 2:46).
As sete solenidades do Senhor 63
v) No 6º dia de Sivã Moisés sobe ao monte novamente (vs. 16-20), e desce com
instruções para que o povo se mantenha distante (vs. 21-25);
vi) Finalmente, no 7º dia de Sivã, Deus lhe deu os dez mandamentos (cap. 20).
i) Mais quatorze ou quinze dias em Nisã (dependendo se aquele mês teve vinte
e nove ou trinta dias);
É interessante ver quantos nomes diferentes esta Festa recebe nas Escrituras:
Entre outros detalhes interessantes que a tradição judaica liga com o dia de
Pentecostes (mas que são difíceis de comprovar pelas Escrituras), menciono os
seguintes:
i) As alianças com Noé, Moisés e Abraão teriam sido ratificadas neste dia;
ii) Davi teria morrido neste dia;
iii) O tempo entre a Páscoa e Pentecostes era chamado por eles de “dias do noi-
vado de Israel com a Torá” (o Pentateuco). A aplicação a Cristo e Sua Noiva,
a Igreja, é interessante.
36
EDERSHEIM, A. The Temple, it's ministry and services at the time of Jesus Christ. The Reli-
gious Tract Society, London, 1874. Pág. 229.
As sete solenidades do Senhor 65
ii) Uma festa isolada — a Igreja é diferente de Israel. Já foi destacado acima
que a festa de Pentecostes era isolada das demais no calendário de Israel. Isto
ilustra o fato que, com o cumprimento de Pentecostes em Atos cap. 2, Deus
iniciou uma nova etapa do Seu plano de redenção. A Igreja não é a continu-
ação de Israel, mas é algo novo. Ao estudarmos a Bíblia, é fundamental dis-
tinguirmos entre estes dois povos divinos. Como vimos na divisão dispensa-
cional das sete solenidades, as três primeiras destacam o plano de Deus e
como ele afeta o indivíduo; as três últimas, o plano de Deus em relação a
Israel; mas nesta festa central vemos algo que, no VT, era ainda um mistério
não revelado: o plano de Deus em relação à Igreja. Em relação a isto, é inte-
ressante ver que não há nenhum relato do dia de Pentecostes sendo guardado
no VT (a festa deve ter sido celebrada, mas é interessante que Deus não
37
Mais detalhes sobre isto ao considerarmos a Festa das Trombetas.
As sete solenidades do Senhor 66
38
Por exemplo, o Tabernáculo foi levantado pela primeira vez aos pés do Sinai no 1º dia do
1º mês do 2º ano da saída no Egito, e permaneceu montado até o 20º dia do 2º mês do 2º
ano — exatamente cinquenta dias.
As sete solenidades do Senhor 67
iv) Uma nova oferta de alimentos — a Igreja é a Noiva do Cordeiro. Este capí-
tulo menciona apenas duas ofertas de alimentos: uma no Dia das Primícias,
e outra em Pentecostes. Em Números caps. 28 e 29 aprendemos que, com a
possível exceção do dia da Páscoa, havia ofertas de alimentos associadas a
todas as solenidades. Por que será que Levítico, então, só as menciona nestas
duas ocasiões? Possivelmente para realçar a ligação entre estas duas festas, e,
portanto, a estreita ligação que existe entre a vida do Noivo, Cristo (Primí-
cias) e a vida da Noiva, a Igreja (Pentecostes). Devemos lembrar que a oferta
de alimentos era normalmente oferecida juntamente com o holocausto: este
falava da morte perfeita do Senhor Jesus, enquanto que a oferta de alimentos
falava da Sua vida perfeita. Ou seja, estas duas ofertas de alimentos aqui em
Levítico 23 falam de vida, não de morte — mas duas vidas diferentes! A
oferta de alimentos do Dia das Primícias fala do “poder da vida incorruptí-
vel” de Cristo na Sua ressurreição (Hb 7:16); no dia de Pentecostes, a nova
oferta de alimentos fala da vida dEle manifestada na Sua Noiva, ou da nossa
vida desfrutada nEle. Ao usar a figura da Noiva para descrever a Igreja, Deus
está nos dando uma ideia de algo que realmente não conseguimos compre-
ender plenamente: a união íntima que existe entre Cristo e a Igreja, Sua
Noiva. Efésios, ao citar as palavras de Deus no primeiro casamento (“… se-
rão dois numa carne”), logo acrescenta: “Grande é este mistério; digo-o, po-
rém, a respeito de Cristo e da Igreja” (Ef 5:31-32). Será que percebemos
quão grande é o privilégio que temos nesta Dispensação? Unidos a Cristo
não só como servos a um Senhor, ou discípulos a um Mestre, mas como
Corpo a um Cabeça, e — mistério dos mistérios — como Noiva a um Noivo!
Preferiríamos voltar à Dispensação antiga? Mil vezes “Não!”
ii) “Trareis dois pães” — povos distintos. No dia das Primícias era trazido um
molho de cevada, mas agora eram dois pães. Independentemente do que Is-
rael entendia com isso, podemos ver aqui prefigurada a verdade de Efésios
2:14-16: “De ambos os povos fez um … para criar em si mesmo dos dois um
novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em
um corpo” — judeus e gentios unidos, não mais como judeus nem como
gentios, mas como filhos de Deus, um “novo homem”. Por isso lemos aqui
de dois pães, mas uma nova oferta de alimentos (v. 16), e “o pão” (vs. 18,
20). Como já vimos acima, a tradição dos judeus afirma que os dois pães
deveriam ser preparados completamente separados um do outro. Não sei de
onde tiraram esta ideia (não foi de Levítico 23!), mas a prática deles ilustra
perfeitamente o que é verdade da Igreja: dois povos distintos que antes eram
inimigos, mas agora são um corpo, um novo homem (Ef 2:15).
iii) “De duas dízimas de farinha” — pessoas exaltadas. Pelo contexto, sabemos
que esta farinha seria proveniente do trigo — o Dia das Primícias celebrava
a sega da cevada, mas Pentecostes é associado com a sega do trigo. Uma
diferença interessante entre os a cevada e o trigo é que a cevada está pronta
para ser colhida quando curva sua cabeça, mas o trigo permanece “em pé”.
Por isso, a cevada na Bíblia nos fala do Senhor na Sua encarnação e humi-
lhação, enquanto o trigo fala dEle na Sua exaltação, ressurreto. Veja, por
exemplo, a sétima praga no Egito, a saraiva: Deus Se preocupa em registrar
que a cevada foi ferida, mas o trigo não — ilustrando que Cristo padeceu
uma vez (cevada ferida), mas agora, já ressurreto, Ele nunca mais será afli-
gido ou maltratado pelos homens (trigo preservado). Estes dois pães, sendo
de trigo, destacam o caráter celestial e glorioso da Igreja, associada com
Cristo na Sua exaltação, composta de pessoas que já estão assentadas nos
lugares celestiais (Ef 2:6, etc.). Terrenos, sim, mas agora transportados para
o reino do Filho do Seu amor (Cl 1:13).
As sete solenidades do Senhor 69
iv) “Levedados se cozerão” — pessoas corrompidas. É uma surpresa ler que es-
tes dois pães eram levedados. Nenhuma oferta de alimentos queimada ao
Senhor poderia conter fermento (Lv 2:11), pois fermento representa o mal,
e as ofertas de alimento queimadas ao Senhor representam a vida perfeita do
nosso Senhor, em quem nunca houve defeito algum. Mas esta nova oferta
de alimentos, oferecida no dia de Pentecostes, não era queimada — era uma
oferta movida (por isso o fermento era permitido, sem ferir a proibição clara
de Levítico 2:11). E estes pães não representam a vida perfeita de Cristo,
mas a vida imperfeita da Sua Igreja — lembram-nos da nossa fraqueza e
condição indigna. A Igreja é gloriosa, mas é feita a partir de elementos fa-
lhos!
39
Reshiyth, 07225; ocorre cinquenta e uma vezes no VT, e é a palavra traduzida “princípio”
em Gênesis 1:1.
40
Bikkuwr, 01061; ocorre dezoito vezes no VT, e sempre é usada nas Escrituras para falar
dos primeiros frutos a amadurecerem; a raiz da palavra significa, literalmente, “que abre a
madre”.
As sete solenidades do Senhor 70
nascimento pode nos lembrar que aqueles que compõe a Igreja são, todos
eles, nascidos de novo41.
Esta diferença é interessante, e destaca mais uma vez aquilo que já vimos em
relação a esta Festa: há um elemento de fraqueza claramente destacado. Os dois
pães (que representam a Igreja) só podem ser aceitos pelo Senhor (movidos
41
Neste contexto, é interessante observar que no cumprimento de Pentecostes é aplicada à
ressurreição do Senhor Jesus uma palavra diferente das normalmente usadas: “Ao qual
Deus ressuscitou, desfazendo as ânsias da morte” (At 2:24). A palavra traduzida “ânsias”
ali é odin; só ocorre quatro vezes no NT, e quer dizer, literalmente, “dores de parto” (é
traduzida assim em I Ts 5:3 nas versões em português). Esta é a única vez que a palavra é
aplicada à ressurreição. Não pode ser coincidência que a ideia de “dar à luz” esteja asso-
ciada tanto com a palavra especialmente usada do pão de Pentecostes, quanto com a pa-
lavra que só é aplicada à ressurreição de Cristo no dia em que Pentecostes se cumpriu. É
mais uma confirmação que a Igreja é composta exclusivamente por pessoas que nasceram
de novo.
As sete solenidades do Senhor 71
42
Obviamente, este era o grande assunto do dia da expiação, mas neste capítulo lemos da-
quela festa como sendo um “dia de expiação, para fazer expiação por vós”, mas não lemos
de nenhum sacrifício para expiação do pecado relacionado com ela.
As sete solenidades do Senhor 72
E tudo isto, diz Levítico, será “para uso do sacerdote” (v. 20). O sacrifício
foi dEle — as bênçãos são nossas.
Pense na razão disto: porque esta descrição detalhada das ofertas somente
em relação a esta Festa? Lembrando que Pentecostes introduz a Igreja e a dis-
pensação em que vivemos, seria mais uma indicação divina da singularidade
desta dispensação? Uma indicação de que a Igreja tem condições de compreen-
der melhor as diferentes glórias de Cristo reveladas nas diferentes ofertas —
melhor até do que Israel compreendia? Eles entendiam os detalhes acerca das
ofertas, mas não apreciavam como estas ofertas se cumpriram em Cristo; este é
o nosso privilégio hoje, tendo o NT completo. Será que estamos procuramos
compreender mais destas preciosidades da Bíblia?
Conclusão
A Festa de Pentecostes, então, prefigura um acontecimento glorioso, mas
caracterizado por fraqueza. A Igreja (que foi formada no dia de Pentecostes) é
a mais gloriosa das criações de Deus, a Noiva do Seu amado Filho. Sua forma-
ção, porém, manifesta a graça de Deus em salvar pecadores fracos e indignos. A
ocasião da festa (sozinha no calendário, e marcada pelo número sete) destaca a
grandeza da Igreja — as ofertas especificamente relacionadas a ela destacam a
As sete solenidades do Senhor 73
43
Não ocorria uma fusão milagrosa dos dois pães em um só — mas aos olhos de Deus, os dois
eram um.
As sete solenidades do Senhor 74
Esta Festa das Trombetas era um despertamento para as últimas duas festas
(Expiação e Tabernáculos). Toda a colheita havia acabado: não só a sega dos
grãos feita na primavera (cevada e trigo), mas também a colheita das uvas, figos
e toda espécie de frutas. O inverno se aproximava, e o povo estava alegre pela
colheita feita, com seus celeiros e casas cheias de alimento. Tendo passado a
primavera e o verão no campo (primeiro na colheita dos grãos, depois das fru-
tas), estão agora prontos para voltar para suas casas para passarem o inverno
desfrutando daquilo que colheram.
Mas além de indicar o fim de um ciclo, esta data marca o início de outro,
pois o 1º dia de Tisri (o Dia das Trombetas) é o Ano Novo judaico (neste ano
de 2018 será celebrado em 10 de setembro). Como já vimos nestes estudos, os
judeus usam dois calendários: o religioso começa em Nisã (também chamado
Abibe) e o civil em Tisri (também chamado Etanim). O 7º mês do calendário
religioso é o 1º mês do calendário civil, e vice-versa. Esta festa, portanto, encerra
um ciclo (pois ela marca o início do sétimo mês deste calendário religioso com
suas sete solenidades) e inicia um ciclo (o ano civil). Aqui temos o primeiro
passo do fim do plano divino de redenção, e o início da futura restauração na-
cional de Israel como cabeça das nações, conforme descrito pelos profetas. O
futuro de Israel como nação começará quando esta festa for cumprida, pois Deus
estará finalizando aquilo que Ele começou quando a Páscoa foi cumprida na
As sete solenidades do Senhor 75
Em Levítico 23 aprendemos que este dia era um dia de descanso com sonido
de trombetas. O sonido das trombetas servia para avisar os judeus para que se
preparassem para o grande Dia da Expiação (10º dia do mês).
A Festa das Trombetas terá seu cumprimento quando este período da Igreja
chegar ao seu fim e a Igreja for retirada da Terra. Então Israel, como nação, será
despertada para voltar à sua pátria, em antecipação à vinda do Senhor Jesus no
final da Tribulação. Ao estudar as profecias que falam deste evento veremos
como este despertamento será tão necessário e tão impressionante como foi o
Êxodo do Egito, logo antes da formação da nação.
Os judeus consideram este dia como o dia em que Deus criou Adão, e o dia
em que Abraão ofereceu Isaque sobre o monte Moriá. São detalhes da tradição
deles, não revelados na Bíblia. Como o 1º dia de todo mês, este também era
determinado pela observação da Lua. Lemos desta data (além de Levítico e Nú-
meros) em dois outros contextos, ambos nos dias de Esdras: oferecendo holo-
caustos ao Senhor (Ed 3:6) e aprendendo da Palavra do Senhor (Ne 8:2).
Esta festa é a única das sete celebrada no primeiro dia de um mês. Todo
primeiro dia do mês era um dia especial, em que as trombetas eram tocadas
(Nm 10:10) e alguns sacrifícios especiais eram celebrados (dois novilhos, um
carneiro e sete cordeiros em holocausto, com suas ofertas de alimentos e liba-
ções, além de um bode para expiação do pecado; Nm 28:11-14). Mas o primeiro
dia do sétimo mês — a Festa das Trombetas — era ainda mais destacado. Além
das trombetas soarem em Jerusalém durante todo o dia (provavelmente em in-
tervalos regulares), também havia uma lista de sacrifícios quase idêntica à dos
outros primeiros dias (um novilho, um carneiro e sete cordeiros em holocausto,
com suas ofertas de alimentos e libações, além de um bode para expiação do
pecado), mas Números 29:6 enfatiza que esta lista de sacrifícios era “além do
holocausto do mês” (Nm 28:11-1444) e do holocausto contínuo (Nm 28:3-8).
Neste dia (somando o holocausto contínuo, o holocausto do mês e os sacrifícios
especiais do Dia das Trombetas) eram oferecidos mais de vinte animais:
44
Provavelmente não incluindo o bode oferecido todo primeiro dia do mês.
As sete solenidades do Senhor 76
As características do período
Precisamos destacar que, com a Festa das Trombetas, iniciamos uma nova
etapa no plano de redenção. As primeiras quatro festas, relacionadas ao início
do ano religioso de Israel, prefiguram eventos relacionados à vida espiritual do
indivíduo45, mas estas últimas três, ocorrendo todas no início do ano civil, falam
de acontecimentos que afetam a nação de Israel como nação. Estas duas etapas
deste calendário (a primeira na Primavera, a segunda no Outono) correspondem
às duas vindas de Cristo: Sua primeira vinda foi para resolver o problema do
pecado e mudar a vida individual de todos aqueles que nEle creem, em qualquer
dispensação, mas a Sua segunda vinda até a Terra está principalmente relacio-
nada com a situação da nação de Israel.
Devemos perguntar: quando é que estas três festas terão seu cumprimento?
Onde podemos encaixá-las nos planos proféticos de Deus? As primeiras quatro
não apresentam dificuldade alguma, pois a História mostra que Cristo morreu
no dia da Páscoa, ressuscitou no Dia das Primícias, e que a Igreja foi formada
no dia de Pentecostes. Tendo estes eventos acontecido exatamente nas datas em
que Israel celebrava estas festas, é impossível deixar de perceber que eles
45
A Páscoa fala da morte de Cristo (que traz salvação a todo indivíduo, independentemente
da dispensação em que vive), Primícias fala da Sua ressurreição (que garante a ressurreição
de todo indivíduo), e Pentecostes introduz o mistério da Igreja, algo oculto no VT.
As sete solenidades do Senhor 77
representam o cumprimento delas. Mas o que dizer destas últimas três festas?
Há três detalhes que nos ajudam a situar estas três festas cronologicamente:
i) Em primeiro lugar, elas estão situadas depois do intervalo longo entre Pen-
tecostes e Trombetas (o maior intervalo desde o começo das Festas, e um
intervalo que, como veremos adiante, é indeterminado). Se Pentecostes re-
presenta a formação da Igreja, o intervalo que segue deve representar o
tempo em que a Igreja está aqui na Terra. Como vimos ao estudar o Dia de
Pentecostes, esta época da Igreja é, na realidade, um mistério oculto no VT,
como se fosse um parêntese na história de Israel — o povo de Deus na Terra
hoje é a Igreja, e Israel está colocada de lado (como exposto em Romanos
caps. 9-11). Depois que a Igreja for arrebatada46 da Terra, porém, Deus vol-
tará a tratar com Israel, e estas últimas três festas terão então o seu cumpri-
mento. Vivemos hoje numa época em que profecias específicas não estão
sendo cumpridas. Como já foi dito, enquanto a Igreja está na Terra, o relógio
profético está parado.
ii) Outro detalhe é que estas três festas, como as três primeiras, estão juntas no
calendário divino, indicando que, assim como as primeiras três foram cum-
pridas em rápida sucessão, assim também estas três devem ter seu cumpri-
mento próximo um do outro. A ligação entre elas não é tão estreita quanto
com as primeiras quatro, principalmente em relação às datas. As primeiras
três eram praticamente uma festa só, sem intervalo, e a data da quarta de-
pendia da data da terceira, unindo-as cronologicamente. Já as últimas três
contém intervalos pequenos (dez dias entre Trombetas e Expiação, mais
cinco dias até Tabernáculos). São intervalos, mas são pequenos — fica muito
claro olhando o calendário anual que estas três últimas festas formam um
grupo, e o cumprimento de qualquer uma delas não deve ser considerado
isoladamente das demais.
iii) Além disto, estas três festas estão especialmente ligadas com a ideia de
46
É importante destacar que há um paralelo interessante entre estas últimas três festas e a
Igreja (Arrebatamento, Tribunal de Cristo e Milênio), e podemos estudá-las deste ponto
de vista também. Mas creio que o contexto de Levítico 23 sugere que esta é uma aplicação
secundária das Festas — uma aplicação interessante e proveitosa, mas secundária.
As sete solenidades do Senhor 78
Vemos, então, que estas últimas três festas estão concluindo aquilo que foi
iniciado na Primavera com os acontecimentos relacionados à primeira vinda de
Cristo, e introduzindo o descanso eterno. A última destas três (Tabernáculos)
prefigura o descanso pleno do Milênio e do Estado Eterno; as duas anteriores
(Trombetas e Expiação) apresentam dois passos que são pré-requisitos para este
descanso. Deus já estabeleceu, na primeira parte do Seu calendário, a base moral
sobre a qual Ele pode dar descanso ao Seu povo — a base sobre a qual os indi-
víduos que compõem Israel (ou a Igreja) podem ter direito a desfrutar do des-
canso divino. Mas para introduzir este descanso aqui na Terra, com Israel e a
Terra Prometida como o centro terrestre do governo divino, é necessário que (i)
os indivíduos israelitas que estão dispersos por todas as nações do mundo sejam
reunidos mais uma vez na terra que Deus lhes deu em herança, e que (ii) a nação
como um todo, rebelde e endurecida, se arrependa e volte a servir a Deus. O
primeiro destes problemas será resolvido quando se cumprir o Dia das Trom-
betas, e o segundo no Dia da Expiação.
As sete solenidades do Senhor 79
As características da festa
Pensando no que vimos acima, entendemos que a Festa das Trombetas se
cumprirá após o Arrebatamento da Igreja, quando Deus agirá, através do Espí-
rito Santo, para trazer o remanescente de Israel de volta à sua terra. Isso é ne-
cessário para que quando Cristo voltar no final da Tribulação, Israel esteja na
sua terra para receber o seu Rei.
47
Existe alguma dúvida sobre o tipo de instrumento tocado nesta festa. Edersheim (The Tem-
ple, it’s Ministry and Services,p. 259) afirma que não eram as trombetas (02689) de prata
de Números 10, mas aquela feita do chifre de carneiro (shofar, 07782). Esta segunda pa-
lavra é muito usada nos profetas em relação ao cumprimento do Dia das Trombetas, mas
baseado em Números 10:10 me parece mais provável que as trombetas eram tocadas pe-
los sacerdotes no Templo, e os shofares repetiriam o sonido por toda a terra de Israel. As
trombetas de prata são símbolo de redenção.
As sete solenidades do Senhor 80
ii) Memorial — Esta é a única das sete festas que, neste capítulo, é descrito pela
palavra “memorial” — algo feito para se lembrar de um evento, pessoa ou
compromisso. Convém perguntar: “A Festa das Trombetas era um memorial
de quê?” Talvez as instruções sobre o toque das trombetas em Números cap.
10 podem conter a resposta. Lá lemos que, quando o povo fosse à guerra,
deveriam tocar “as trombetas retinindo, e perante o Senhor haverá lem-
brança de vós, e sereis salvos de vossos inimigos” (Nm 10:9). A palavra tra-
duzida “retinindo” é a mesma usada em Levítico 23 sobre o Dia das Trom-
betas, e a palavra traduzida “lembrança” é a forma verbal da palavra “memo-
rial” usada em Levítico 23:24. Ou seja, Deus está dizendo para Seu povo que
quando eles tocassem as trombetas retinindo ao saírem para a guerra, Deus
se lembraria deles e os salvaria dos seus inimigos. Creio que é o mesmo que
temos aqui: o sonido das trombetas foi chamado de “memorial” não tanto
porque servia para despertar o povo quanto à solenidade do Dia da Expiação
que se aproximava (apesar de ter esta finalidade também), mas principal-
mente para indicar que Deus estava lembrando deles, e que estava aproxi-
mando-se o dia em que Deus iria agir a favor deles (o Dia da Expiação).
Reunindo tudo o que vimos até aqui, creio que podemos ver que a Festa das
Trombetas dava início ao último ciclo de festas do ano — era o começo do fim.
A repetição da palavra mais forte para “descanso” em relação a estas últimas três
festas destaca que o trabalho já foi feito, agora está para se iniciar a hora do
descanso (o que combinaria também com a época do ano em que estas festas
eram celebradas). Ao descrevê-la como um “memorial com sonido”, Deus está
afirmando que Ele não esquecerá de congregar Seu povo dos quatro cantos da
Terra, quando chegar a hora apropriada para isto.
E isto nos leva a outra pergunta: exatamente quando será esta hora?
A cronologia do cumprimento
A data do Dia das Trombetas é claramente assinalada no calendário de Le-
vítico 23: o 1º dia do 7º mês. Devido às peculiaridades de um calendário luniso-
lar, porém, nem tudo é tão claro como parece.
As sete solenidades do Senhor 81
48
O que eles entendiam por Lua Nova (a aparição do primeiro crescente luminoso da Lua) é
um pouco diferente do significado que o termo tem hoje (a fase em que a Lua se encontra
entre a Terra e o Sol, invisível para quem está na Terra). Na prática, isto não significa muito,
pois a diferença é de poucas horas.
49
Além disto, havia outra questão — o ano judaico é chamado lunissolar porque depende
tanto da Lua quando do Sol. Doze meses lunares correspondem somente a trezentos e
cinquenta e quatro dias, onze dias (e mais algumas horas) a menos que um ano solar. Se
Israel seguisse um ano rigidamente lunar, haveria problemas práticos muito sérios em re-
lação à celebração das Festas. Se hoje a Páscoa fosse celebrada na Primavera, daqui a dois
anos (seguindo o ano lunar de doze meses) esta mesma festa cairia no inverno. E como
apresentar o primeiro feixe da sega das cevadas em pleno inverno? Sendo assim, a cada
dois ou três anos era acrescentado um 13º mês no final do ano religioso (logo antes de
Nisã). Nós acrescentamos um dia a fevereiro de quatro em quatro anos — eles acrescenta-
vam um mês inteiro, a cada dois ou três anos. Este mês extra (Ve-Adar, ou “Segundo Adar”)
era acrescentado no final do ano religioso, entre Adar e Nisã, sempre que fosse necessário
sincronizar a Páscoa com a colheita das cevadas. Mesmo que a inclusão deste mês não
afetava o cálculo do intervalo entre Pentecostes e Trombetas, é mais um detalhe da incer-
teza do calendário judaico, que afetaria cálculos para anos futuros.
As sete solenidades do Senhor 82
Isto deixa claro que não é possível estabelecermos uma data para o Arreba-
tamento, ou para o início da Tribulação — a Festa das Trombetas está clara-
mente assinalada no calendário divino, mas está oculta ao nosso entendimento.
Devemos aprender a não tentar estabelecer datas para a Vinda de Cristo, pois
as profecias da Bíblia não nos foram dadas para que profetizemos!
Podemos definir que a Festa das Trombetas será cumprida durante o período
da Tribulação (e poderíamos sugerir que será durante a Grande Tribulação, os
últimos três anos e meio daqueles sete anos), mas não podemos ser mais espe-
cíficos do que isto.
As características do cumprimento
Quanto à data do cumprimento desta Festa não temos detalhes muito espe-
cíficos. Quanto à forma e finalidade do seu cumprimento, porém, há muitas
profecias no VT que falam sobre este acontecimento. Uma pequena seleção des-
tas profecias, tiradas só de Isaías e Ezequiel, apresentam alguns aspectos relaci-
onados ao cumprimento do Dia das Trombetas, mostrando-nos como será o
retorno de Israel à sua terra:
i) O povo — quem virá? Quem é que será trazido de volta à Terra Prometida?
Logo depois da morte de Salomão o povo de Israel se dividiu em dois: Judá
e Benjamin (além dos Levitas) ficaram com a casa de Davi, e as outras dez
tribos passaram a ser chamadas de “Efraim” (pois esta era a tribo dominante
entre estas dez). Hoje conhecemos o povo de Israel pelo nome “judeu” (da
tribo de Judá), e muito se fala sobre as dez tribos perdidas de Israel. Quando
As sete solenidades do Senhor 83
Deus cumprir o Dia das Trombetas, porém, Judá e Efraim serão trazidas de
volta como um povo só, sem divisão: “E deles farei uma nação … nunca mais
serão duas nações” (Ez 37:22).
ii) A paz — em que condição virão? Quando José mandou seus irmãos busca-
rem seu pai, ele despediu-os com este recado: “Não contendais pelo cami-
nho” (Gn 45:24). A triste realidade é que o povo de Deus sempre foi carac-
terizado por contendas e inveja (seja José com seus irmãos, Saul com Davi,
Judá com Efraim, ou a Igreja hoje). Quando Deus juntar o Seu povo nova-
mente, porém, a união externa será o reflexo de uma plena harmonia interna:
“Efraim não invejará Judá, e Judá não oprimirá a Efraim” (Is 11:13).
iv) O propósito — para que virão? Por que Deus os trará de volta à sua terra?
Em primeiro lugar, como já foi destacado, para aguardar a vinda do seu Rei
dos Céus; num sentido espiritual, porém, será para que eles possam adorar
ao Senhor. “E será naquele dia que se tocará uma grande trombeta, e os que
andavam perdidos pela terra da Assíria, e os que foram desterrados para a
terra do Egito, tornarão a vir, e adorarão ao Senhor no monte santo em Je-
rusalém” (Is 27:13). Este é o propósito final da reunião de Israel — um povo
unido, adorando a Deus em Jerusalém.
v) O período — por quanto tempo durará esta reunião? Israel já esteve na sua
terra antes, e já perdeu este direito — mais de uma vez. Desta vez, porém,
será para sempre! “E habitarão na terra que dei a Meu servo Jacó, em que
habitaram vossos pais; e habitarão nela, eles e seus filhos, e os filhos de seus
filhos, para sempre, e Davi, Meu servo, será seu príncipe eternamente” (Ez
37:25).
nações como castigo pela rebeldia deles, e Ele cumpriu Sua promessa. Mas Ele
também prometeu trazê-los de volta à sua terra quando chegasse a ocasião opor-
tuna — e quando esta ocasião chegar, Ele certamente cumprirá Sua promessa.
Como Deus fará isto, na prática? Não sabemos — talvez Ele usará a perse-
guição da Besta para forçar muitos a fugir para Israel — talvez Ele colocará no
coração de muitos o desejo ardente de retornar à sua pátria. Não sabemos os
meios que Ele utilizará, mas sabemos que de todos os cantos da Terra eles virão.
Nem todos chegarão lá, porém, como veremos ao pensar sobre o Dia da
Expiação. Mas o cumprimento do Dia das Trombetas será este evento glorioso.
Ninguém ouvirá o som da trombeta, mas o mundo inteiro perceberá o resultado
disto naquele dia memorável.
sabedoria de Deus” (Ef 3:10). Agora o Dia das Trombetas nos desperta para
pensarmos na fidelidade absoluta do Senhor — Ele prometeu trazer Seu povo
de volta à terra que Ele lhes deu, e apesar de todas as falhas e faltas deles, Ele
cumprirá Sua promessa. “Deus não é homem, para que minta; nem filho do
homem, para que Se arrependa; porventura diria Ele, e não o faria? Ou falaria,
e não o confirmaria?” (Nm 23:19).
As sete solenidades do Senhor 86
O Dia da Expiação
Como já tenho enfatizado neste pequeno estudo, estamos considerando estas
solenidades principalmente no seu caráter profético e dispensacional visto em
Levítico 23 — não estamos fazendo um estudo completo delas, e isto ficará mais
evidente ao estudarmos sobre o Dia da Expiação. Há muita informação sobre o
ritual deste dia em Levítico cap. 16, e sobre o significado espiritual deste ritual
em Hebreus cap. 9, que não teremos espaço para considerar aqui50. Estes trechos
deixam claro que o ritual do Dia da Expiação está mais relacionado com comu-
nhão do que com salvação.
Aqui em Levítico 23, porém, todo o ritual associado à expiação do povo não
é apresentado — e isto não é por acaso. Quando um bom fotógrafo trabalha,
ele se preocupa com luz, enquadramento e ângulo para que alguns detalhes da
50
Mas veja um resumo do ritual de Levítico cap. 16 nos Apêndices.
As sete solenidades do Senhor 87
cena fiquem escondidos enquanto outros sejam destacados. Por quê? Porque ele
não deseja simplesmente tirar um retrato de tudo que está à sua frente — ele
quer contar uma história com sua foto. Ao analisar esta foto não devemos ser
atraídos ao que o fotógrafo escondeu, mas sim admirar os detalhes que ele quis
captar.
Peculiaridades em Levítico 23
Olhando para a descrição desta festa neste capítulo, percebemos alguns de-
talhes interessantes sobre o Dia da Expiação no calendário divino.
As sete solenidades do Senhor 88
O nome da festa
Esta é a única destas sete solenidades descrita pela expressão “dia de”. A
palavra “dia” ocorre trinta e duas vezes neste capítulo, mas não encontramos
aqui as expressões “Dia da Páscoa”, “Dias dos Pães Asmos”, “Dia das Primícias”,
“Dia de Pentecostes”, “Dia das Trombetas”, “Dias dos Tabernáculos” — porém
duas vezes esta festa é chamada “Dia da Expiação” (vs. 27 e 28 — esta mesma
expressão ocorre também em 25:9). A questão do nome das solenidades aqui
em Levítico 23 é interessante:
• As três festas centrais são anônimas, porque descrevem eventos onde Deus
agiu de forma mais oculta: ninguém viu a ressurreição de Cristo no Dia das
Primícias; ninguém viu a descida do Espírito Santo em Pentecostes; nin-
guém ouvirá a trombeta quando a Festa das Trombetas se cumprir. Os efei-
tos destes eventos são notórios, mas os eventos em si são feitos longe da visão
humana;
• As duas festas de uma semana são as únicas duas que recebem o nome de
“Festa” neste capítulo: “Festa dos Pães Ázimos” (v. 6) e “Festa dos Taberná-
culos” (v. 34). Como a palavra traduzida “festa” sugere a ideia de festividade
e alegria, e estas duas festas, por durarem uma semana, indicam mais efeitos
e resultados do que um evento específico no calendário divino, destaca-se
assim o alvo de Deus com estas sete solenidades: trazer verdadeira alegria e
gozo para o Seu povo;
• Estas duas festas semanais são precedidas pela “Páscoa do Senhor” e pelo
“Dia da Expiação”. As duas festas que falam mais diretamente sobre a morte
de Cristo recebem nomes diferentes das demais neste capítulo. A Páscoa do
Senhor fala da provisão de Deus para os nossos pecados, o Dia da Expiação
fala do dia no calendário profético quando Israel, como nação, provará dos
benefícios desta provisão.
Três tríades
Também encontramos neste trecho três expressões que se repetem três vezes
As sete solenidades do Senhor 89
cada uma:
ii) Aflição. Se três vezes lemos de expiação neste trecho, também lemos três
vezes de aflição de alma. Em todo o livro de Levítico esta palavra é usada
somente cinco51 vezes, e sempre se referindo a este dia. Ao contrário dos sete
dias da Festa dos Tabernáculos, onde o povo foi instruído a se alegrar por
sete dias (v. 40), o Dia da Expiação era um dia de aflição e tristeza. O con-
ceito é tão importante que Deus afirma que “toda a alma que naquele mesmo
dia se não afligir será extirpada do seu povo”. Era um dia separado para la-
mentarem pelos seus pecados, prefigurando o dia solene quando a nação, em
arrependimento, será salva. Sentimos esta tristeza pelo pecado hoje? Deve-
ríamos lamentar e chorar pelo pecado na igreja local (I Co 5:2), na nossa
própria vida (I Co 11:28-34), e até na vida dos nossos irmãos e irmãs (II Co
12:20-21).
iii) Descanso. O Dia da Expiação é a única destas Sete Solenidades a ser cha-
mada de “sábado de descanso” (literalmente, “um sábado sabático” — shabat
shabaton). Esta expressão enfática ocorre sete vezes no VT: em quatro delas
refere-se ao sábado semanal (Êx 16:23; 31:15; 35:2 e Lv 23:3), uma vez
51
As outras duas ocorrências estão no cap. 16, onde o Dia da Expiação é descrito em mais
detalhes.
As sete solenidades do Senhor 90
refere-se ao ano sabático (Lv 25:4), e duas vezes refere-se ao dia da Expiação
(Lv 16:31 e 23:32). Se as últimas três festas estão especialmente ligadas à
ideia de descanso (pois somente elas neste capítulo são descritas pela palavra
mais intensa shabaton, como vimos ao considerar o Dia das Trombetas), este
Dia da Expiação é, de todo o calendário divino, aquele em que a ideia de
descanso é mais enfatizada — não é só um shabaton, é um shabat shabaton.
E para reforçar isto, Moisés foi inspirado pelo Espírito Santo a falar três
vezes sobre a proibição de trabalho neste dia (v. 28, 30, 31). Este capítulo
contém duas proibições diferentes em relação ao trabalho: “nenhum trabalho
servil fareis” (vs. 7, 8, 21, 25, 35, 36) indica abstinência de trabalho mais
pesado (mas o básico, como preparar alimentos, era permitido; Êx 12:16), e
“nenhum trabalho fareis” (até alimentos deveriam ser preparados anterior-
mente — vs. 3, 28, 30, 31). Lemos sobre proibição de trabalho servil em
relação aos Asmos, Pentecostes, Trombetas e Tabernáculos, mas somente
em relação ao Dia da Expiação (e ao sábado semanal) encontramos aqui a
proibição mais intensa de qualquer tipo de trabalho. Assim como vimos em
relação à aflição, este conceito de descanso neste dia também era tão impor-
tante que Deus afirma: “toda a alma que naquele mesmo dia fizer algum
trabalho, Eu destruirei aquela alma do meio do Meu povo”.
O que temos aqui não é ritualismo barato ou retórica boba, mas a perfeição
das Escrituras revelada nos pequenos detalhes. Três vezes este parágrafo fala de
“expiação” — o assunto deste dia era o problema do pecado. Três vezes ele fala
de “aflição” — tratar do pecado nunca é algo leve ou agradável. Três vezes o
parágrafo proíbe qualquer tipo de trabalho — o esforço humano nunca pode, e
nunca poderá, tratar a questão do pecado. De forma bem prática, temos aqui
uma ilustração do ensino claro do NT: expiação é o privilégio somente daqueles
que se arrependem dos seus pecados em verdadeira aflição de alma, e deixam de
lado a confiança nas suas obras de justiça, crendo no Senhor Jesus Cristo.
Num sentido profético e dispensacional Deus está mostrando uma obra fu-
tura que Ele fará — uma obra que hoje parece impossível, mas que Ele fará
sozinho, sem a participação humana. Durante séculos a história de Israel tem
mostrado que todo o seu zelo em tentar cumprir a Lei de Moisés é inútil, e Deus
diz deles: “Todo o dia estendi as Minhas mãos a um povo rebelde e contradi-
zente” (Rm 10:21). Por isso foram julgados tão severamente depois da morte de
As sete solenidades do Senhor 91
Cristo, e espalhados pelos quatro cantos da Terra. Isto quer dizer, pergunta
Paulo, que Deus então desistiu de ter um povo terrestre, e concentra todas as
Suas atenções agora no povo celestial, a Igreja (Rm 11:1)? De forma alguma:
“Não quero, irmãos, que ignoreis este segredo … que o endurecimento veio em
parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o
Israel será salvo” (Rm 11:25-26). Os caps. 9 a 11 de Romanos deixam claro que,
após o Arrebatamento da Igreja, Deus voltará mais uma vez a tratar com Israel,
e fará com eles uma nova aliança — uma aliança espiritual com um povo terres-
tre. Esta nação pecadora e rebelde será convertida, e Deus nunca mais Se lem-
brará dos seus pecados (Jr 31:34). E a Bíblia mostra que não será uma conversão
gradual e lenta, mas num só dia (quando o Dia da Expiação se cumprir) “todo
o Israel será salvo” (Rm 11:26).
Mas como é possível que isto aconteça? Isaías perguntou: “Poder-se-ia fazer
nascer uma terra num só dia? Nasceria uma nação de uma só vez?” (Is 66:8).
Parece impossível — mas Deus prometeu a Zacarias: “Tirarei a iniquidade desta
terra num só dia” (Zc 3:9), e Ele cumprirá a Sua promessa. Com grande aflição
de alma para Israel, mas sem nenhuma participação deles, Deus fará expiação
pelas suas almas, e eles serão salvos num só dia.
Aflição
Há pelo menos dois motivos destacados na Bíblia para esta aflição que
As sete solenidades do Senhor 92
Retribuição
Deus precisa julgar a humanidade pelo crime que cometeram contra Seu Fi-
lho ao crucificá-lO — a Sua justiça exige isto. Durante o período da Tribulação
isto será feito, culminando com a terrível batalha de Armagedom. Deus reunirá
todas as nações do mundo no grande vale de Jezreel, na região central de Israel.
Conta-se que Napoleão Bonaparte, ao tentar expandir seu império para o ori-
ente, chegou pela primeira vez a este vale, e exclamou: “Este é o mais perfeito
campo de batalha em todo o mundo”. Independentemente da veracidade ou
exatidão dos comentários de Napoleão, certamente haverá aqui a maior batalha
que este mundo já viu! Deus fará com que todas as nações da Terra enviem seus
exércitos para lá, e Ele julgará estas nações pelos seus crimes contra Israel (Jl
3:2). Antes disto Ele já terá congregado os judeus de todo o mundo em Jerusa-
lém, ao sul de Jezreel (no cumprimento do Dia das Trombetas). No Dia da
Expiação todos — judeus e gentios — estarão em Jerusalém e nos seus arredo-
res, e Deus os julgará.
Remorso
famílias remanescentes, cada família à parte, e suas mulheres à parte” (Zc 12:10-
14).
Descanso
Aquela aflição fará com que toda a confiança deles nas suas boas obras acabe
de uma vez por todas. Este povo orgulhoso dos seus privilégios espirituais confia
na sua posição como povo escolhido, como receptores da Lei e filhos de Abraão.
Josefo conta que quando Jerusalém foi destruída pelos romanos, a autoconfiança
dos judeus permaneceu firme até o fim durante os longos meses em que Jerusa-
lém esteve sitiada.
Expiação
Como resultado de tudo isto, Israel será salva naquele dia memorável. A
pergunta de Isaías (“Nasceria uma nação de uma só vez?”) será respondida, e
“todo o Israel será salvo” (Rm 11:26). Naquele grande dia veremos o cumpri-
mento do Dia da Expiação.
b) Em Gn 32:20, Jacó está tentando acalmar a suposta ira do seu irmão Esaú.
Para isso ele envia diversos presentes, e diz: “Eu o aplacarei com o presente”.
Ou seja, antes de Arão e seus filhos poderem servir diante de Deus, eles
precisavam comer do carneiro da consagração. Repare que esta não era uma
cerimônia para ser repetida, mas algo feito de uma vez por todas, somente na
sua consagração. E este sacrifício teria duas finalidades: em relação a eles, pre-
servá-los do juízo divino contra os seus pecados (como ilustrado em Gn 6), e
em relação a Deus, aplacar a justa ira de Deus contra os seus pecados (como
ilustrado em Gn 32).
do juízo de Deus.
Tabernáculos
O cumprimento da Festa dos Tabernáculos será o Milênio, com uma indi-
cação clara do Estado Eterno: após o reagrupamento de Israel na sua terra
(Trombetas) e sua conversão em um dia (Dia da Expiação), haverá um tempo
de alegria e paz durante mil anos, cujas características principais continuarão
para sempre no Estado Eterno.
Como os meses judaicos eram baseados na Lua, podemos saber como estaria
este astro em cada uma das solenidades. As três primeiras festas acompanhavam
a semana da primeira Lua cheia do ano (de 14 de Nisan em diante); Pentecostes,
cinquenta dias depois, coincidiria com o primeiro quarto crescente da Lua (me-
tade dela estaria visível no Céu); Trombetas, no 1º dia do mês, era marcada pela
Lua nova (escondida); o Dia da Expiação, no 10º dia do mês, estaria entre o
primeiro quarto e a Lua cheia (três quartos da Lua visíveis no Céu); a Festa dos
Tabernáculos começaria como o ano começou: com a Lua cheia iluminando o
Céu, totalmente visível.
i) Sobre as datas, ambos os trechos mencionam que a festa deve ser celebrada
aos quinze dias do mês sétimo por sete dias. No segundo trecho, porém, é
acrescentado que isto seria “quando tiverdes recolhido do fruto da terra”, si-
tuando a Festa não só no calendário, mas na vida cotidiana do povo — a
Festa seria celebrada quando terminasse o trabalho anual na lavoura.
ii) Quanto à denominação, o primeiro trecho chama a festa de “Festa dos Ta-
bernáculos ao Senhor”, enquanto o segundo trecho usa o título simples, po-
rém majestoso, “a Festa do Senhor”.
Talvez Deus esteja indicando, com esta repetição, que o cumprimento desta
Festa será em duas etapas: primeiro o Milênio, depois o Estado Eterno.
Portanto, Tabernáculos é a única festa com descrição dupla. Não duas festas,
mas duas descrições apresentados dois aspectos da mesma festa: um afetando a
sua vida espiritual, outro sua vida cotidiana (até onde é possível separarmos estes
dois aspectos das nossas vidas).
52
A palavra mais intensa para “sábado”, que já destacamos ao estudar sobre o Dia das Trom-
betas.
As sete solenidades do Senhor 100
ii) O meio — em ambas, Deus exigiu que fossem oferecidas ofertas queimadas
ao Senhor durante os sete dias da Festa;
iii) O fim — ambas terminavam com mais uma santa convocação, com proibi-
ção de trabalho servil.
Compare isto com o que vimos na parte anterior: a Festa dos Tabernáculos
é a única destas sete solenidades que tem duas descrições distintas, e é também
a única delas que tem duas durações diferentes! O primeiro trecho afirma cla-
ramente: “Aos quinze dias deste mês sétimo será a Festa dos Tabernáculos ao
Senhor por sete dias … Sete dias oferecereis oferta queimada ao Senhor”. O
segundo trecho também destaca o número sete: “… celebrareis a Festa do
53
Esta mesma palavra é usada em Deuteronômio 16:8 para descrever o 7º dia dos Asmos,
mas aqui em Levítico 23 somente este último dia dos Tabernáculos é descrito desta forma.
As sete solenidades do Senhor 101
Senhor por sete dias … e vos alegrareis perante o Senhor vosso Deus por sete
dias. E celebrareis esta festa ao Senhor por sete dias cada ano … Sete dias ha-
bitareis em tendas”. Por seis vezes é repetido que a festa duraria sete dias —
porém uma vez em cada uma das duas descrições da Festa lemos do oitavo dia!
Afinal, a Festa dos Tabernáculos durava sete ou oito dias? Na verdade, am-
bas as respostas estão corretas! Quando destaca os sete dias de duração Deus
está estabelecendo um paralelo entre a Festa dos Pães Asmos e esta. Assim
como aquela indicava que cada salvo, individualmente, deve procurar viver sua
vida inteira (ilustrado pelo ciclo perfeito de uma semana) sem a contaminação
do pecado (ilustrado pelos pães asmos), esta prefigura aquele período perfeito
quando Deus permitirá que a Criação toda experimente o que é viver livre54 da
escravidão do pecado durante o ciclo completo do Milênio. Mas quando destaca
o oitavo dia, Deus está nos lembrando que aquilo que será iniciado com a Festa
dos Tabernáculos continuará para sempre. O número oito na Bíblia representa
um novo começo — após o término do ciclo completo desta festa (sete dias), o
povo tinha ainda uma “assembleia solene” a ser observada, com as mesmas ca-
racterísticas básicas dos dias anteriores (mas algumas diferenças importantes).
Deus está indicando que o término do Seu plano de redenção iniciará um novo
período — o Estado Eterno. A Festa dos Pães Asmos indica um ciclo finito
(cada um de nós tem apenas uma vida durante a qual podemos buscar a santifi-
cação), mas a Festa dos Tabernáculos prefigura um ciclo finito (o Milênio) que
dará início a um período infinito, uma eternidade de alegria.
54
O Milênio começa só com indivíduos salvos, mas aqueles que nascem durante os mil anos
nascem como nós nascemos hoje — pecadores. Portanto a liberdade que menciono aqui
não é no sentido individual, mas no sentido coletivo. A humanidade verá como é um go-
verno sem um mínimo de corrupção ou injustiça, e experimentará (pela primeira vez na
sua história) a liberdade de ser governada em perfeita justiça e santidade.
As sete solenidades do Senhor 102
Assim também será seu cumprimento, pois tanto a prévia no Milênio quanto
a bendita realidade no Estado Eterno representarão a consumação deste plano
de redenção. Por que Deus enviou Seu Filho para morrer em nosso lugar, como
o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Páscoa)? Por que a ressurrei-
ção de Cristo (Primícias) e a formação da Igreja (Pentecostes)? Por que, num
dia futuro, Deus Se preocupará em reunir Israel de todos os cantos da Terra
(Trombetas) e conduzi-los ao arrependimento e fé (Expiação) no Senhor Jesus
como o Messias prometido há séculos? Tudo que Deus Se comprometeu a fazer
neste Calendário Divino conduzia a este ponto55, e no Milênio Deus mostrará
55
Convém enfatizar que estou considerando apenas um aspecto deste maravilhoso plano de
As sete solenidades do Senhor 103
uma prévia da paz, justiça e alegria que existem quando o pecado é contido.
Então se cumprirá aquilo que foi profetizado no Velho Testamento, e resumido
tão bem em Romanos 8:19-22, onde lemos da ardente expectativa da Criação
de que será liberta da servidão da corrupção. Os espinhos e abrolhos associados
com a maldição do pecado (Gn 3:18), a “lei do mais forte” que impera na Cri-
ação desde os dias do Dilúvio56, as doenças e morte — tudo isto será removido
da Terra. É assim que termina a Agenda divina.
Quão glorioso pensar que os efeitos da morte de Cristo vão muito além da
salvação da minha alma. É correto dizer que o Senhor Jesus Cristo morreu para
me salvar — não é correto dizer que Ele morreu só para isto. Não podemos ser
mesquinhos ou egoístas em relação às nossas bênçãos, como se eu fosse o centro
e alvo dos planos de Deus. Isto diminui a glória que Cristo deveria receber, e
coloca o foco da atenção em nós, que menos merecemos atenção. Eu precisava
de um redentor, e Ele me amou a ponto de morrer por mim, sim — mas houve
muito mais na Sua morte! O pecado trouxe consequências terríveis para a raça
humana inteira, afetou a Criação como um todo, e fez com que as próprias coi-
sas celestiais precisassem de purificação57 (Hb 9:23). Mesmo que nem um pe-
cador fosse aceitar a salvação oferecida gratuitamente por Deus, ainda assim a
justiça perfeita de Deus exigia que todos os efeitos do pecado fossem tratados.
Quando o pecado entrou na Criação, Deus poderia simplesmente ter destruído
tudo que criou anteriormente (inclusive Suas criaturas), e fazer novos Céus e
nova Terra com criaturas sem livre-arbítrio. Mas o plano de redenção dEle é
mais glorioso do que isto — é redimir as criaturas e restaurar a Criação! O qua-
dro idílico apresentado nos profetas (por exemplo, Isaías 11:6-10) será
redenção. Uma obra tão grande e gloriosa quanto esta não pode ser plenamente compre-
endida por nós (pelo menos neste corpo). Quando soubermos todos os efeitos que o pe-
cado causou, teremos condições de definir todos os objetivos do plano de redenção.
56
Em Gênesis 1:30 lemos que toda a Criação alimentava-se de “erva verde”, inclusive o ho-
mem (mas este recebeu também o privilégio de alimentar-se do fruto das árvores; Gn
1:29), mas depois do Dilúvio o homem foi autorizado por Deus a comer carne (Gn 9:3), e
provavelmente esta mudança foi estendida aos animais também. As mudanças climáticas
produzidas pelo Dilúvio necessitavam (ou, pelo menos, permitiam) uma nova dieta.
57
Como entender isto? Será uma indicação de que a entrada de Satanás na presença de
Deus traz alguma contaminação àquele lugar? Mesmo sem sabermos os detalhes, este
versículo mostra que o resultado do pecado vai muito além daquilo que normalmente pen-
samos.
As sete solenidades do Senhor 104
E como tudo isto será possível? Será feito num passe de mágica? Não — as
condições tão gloriosas do Milênio serão o resultado de tudo que foi feito ante-
riormente durante o ano religioso de Israel.
A felicidade do Milênio
Há dois detalhes nesta segunda descrição que destacam a felicidade que de-
veria caracterizar esta festa, e que caracterizará o seu cumprimento. O primeiro
é a declaração do Senhor: “Vos alegrareis perante o Senhor vosso Deus por sete
dias”. Aqui temos a única ocorrência desta palavra em todo o livro de Levítico,
e um contraste com o Dia da Expiação (onde todos deveriam, obrigatoriamente,
se afligir). Além disto, o Senhor disse: “E celebrareis esta festa ao Senhor por
sete dias … no mês sétimo a celebrareis” — literalmente, “festejareis esta festa”,
ou “celebrareis esta celebração”. O verbo traduzido “celebrar” aqui (a forma ver-
bal da palavra traduzida “festa”) só ocorre três vezes neste livro, todas referindo-
se à Festa dos Tabernáculos (23:39, e duas vezes no v. 41). Também traz a ideia
de alegria.
O fim do Milênio
Infelizmente, precisamos destacar que este período terminará, e seu fim
mostrará que o ser humano é mesmo incorrigível. Vemos isto ilustrado na Festa
dos Tabernáculos quando percebemos a natureza transitória das habitações ca-
racterísticas daquela festa: “No primeiro dia tomareis para vós ramos de formo-
sas árvores, ramos de palmeiras, ramos de árvores frondosas, e salgueiros de ri-
beiras … Sete dias [não oito] habitareis em tendas; todos os naturais em Israel
habitarão em tendas, para que saibam as vossas gerações que Eu fiz habitar os
filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito”. Durante os sete
dias iniciais da Festa dos Tabernáculos todo o povo deveria habitar nestes ta-
bernáculos58 — estruturas rústicas feitas de ramos frondosos59. Há um contraste
interessante na primeira menção desta palavra no VT, onde lemos que Jacó
“edificou para si uma casa, e fez cabanas [tabernáculos, sucote] para o seu gado;
por isso chamou aquele lugar Sucote” (Gn 33:17). A durabilidade e a dignidade
das duas construções são contrastadas: para Jacó e sua família, uma casa (con-
fortável e durável) — para o gado, tabernáculos (rústicos e temporários).
58
É bom enfatizar que a palavra traduzida “tendas” três vezes nos vs.42 e 43 é sucote —a
mesma palavra traduzida “Tabernáculos” no titulo da festa (v. 34), e é diferente da palavra
usada no VT para descrever o Tabernáculo construído por Moisés e as tendas onde o povo
habitava (ohel).
59
Hoje em dia os tabernáculos (sucote) usados pelos israelitas são mais modernos (existem
até empresas que comercializam sucotes pré-fabricados). Pelos regulamentos atuais dos
judeus, os lados podem ser feitos de vários tipos de material, mas a cobertura precisa ser
de ramos frescos. A estrutura pode até permanecer de um ano para o outro, mas a cober-
tura precisa ser trocada para a Festa dos Tabernáculos.
As sete solenidades do Senhor 106
Mas ramos cortados logo murcham, e por mais belos, grandes ou espessos
que fossem, logo murchariam quando levados para longe da água e da árvore à
qual pertenciam. Após os sete dias iniciais da Festa dos Tabernáculos eles já não
teriam o mesmo frescor e exuberância do começo da Festa, deixando claro para
o povo o caráter transitório e passageiro daquelas habitações.
Finalmente, o fim
Graças a Deus, porém, pelo oitavo dia! Pela misericórdia dEle este Calen-
dário não termina com tabernáculos murchando, mas com uma reunião solene
— um dia extra, que pertence à Festa dos Tabernáculos (é apresentada como
parte dela nas duas descrições de Levítico 23, e na descrição dos sacrifícios em
Números 29:35-38), mas que tem um característica singular: é o único dia em
todo este calendário que é descrito como uma “reunião solene”.
Creio que podemos identificar este oitavo dia com aquilo que segue o Milê-
nio: o Estado Eterno. Há um pequeno intervalo entre os dois, pois alguns de-
talhes precisarão ser resolvidos antes, mas a Bíblia sugere que tudo acontecerá
rapidamente. Naquele ponto da história da redenção os planos de Deus estão
sendo finalizados, e não há motivos para demoras. A revolta de Satanás no final
do Milênio será esmagada sem demora e sem oposição, com o diabo sendo lan-
çado no Lago de Fogo (Ap 20:9-10). Acontecerá então o julgamento do Grande
Trono Branco, selando o destino eterno dos não salvos, e logo em seguida, diz
As sete solenidades do Senhor 108
Conclusão
Que trecho maravilhoso das Sagradas Escrituras!
Deus tirou Seu povo do Egito e trouxe-os até o monte Sinai, onde diversas
coisas aconteceram:
Assim que tudo isto foi feito, Deus rapidamente apresentou aos homens a
Sua agenda — os compromissos que Ele assumiu tendo em vista a redenção do
homem (e de toda a Criação). É verdade que já haviam passado dois milênios e
meio — mas ainda haveria aproximadamente mil e quinhentos anos antes de
chegar o tempo estabelecido desde a eternidade para dar início ao cumprimento
deste plano.
Assim, com bastante antecedência, Deus separou um povo que, ano após
ano, representavam uma parábola viva do plano de redenção. Obedeciam ao que
Deus lhes ordenara, mas não entendiam tudo que estavam representando.
O dia da Páscoa introduzia a semana da Festa dos Pães Asmos, uma indica-
ção da santidade de vida que caracteriza todos aqueles que Deus resgatou.
As sete solenidades do Senhor 110
Durante aquela semana era celebrado o Dia das Primícias, que apontava para
a ressurreição de Cristo, as Primícias, e a ressurreição de todos nós. Não é sur-
presa descobrirmos que Deus também cumpriu este dia literalmente — nosso
Senhor saiu do túmulo e Se apresentou aos Seus discípulos no mesmo dia em
que a nação celebrava esta solenidade.
Ficamos maravilhados com o plano que só Deus poderia ter preparado; ana-
lisamos, impressionados, a perfeição dos detalhes que Ele quis nos revelar an-
tecipadamente; e adoramos, reverentes, ao ver a Sua fidelidade em cumprir
aquilo que Ele planejou e revelou.
As sete solenidades do Senhor 111
Apêndices
i) A Páscoa se destaca pelo pouco espaço que ocupa neste capítulo — é a única
das festas sobre a qual não lemos de nenhum detalhe, a não ser a data. Isto
porque a Páscoa, como já vimos, realmente pertence ao livro de Êxodo, e já
foi descrita bem detalhadamente em Êxodo cap. 12. Ela é apresentada aqui
quase como se fosse uma introdução, pois ela forma a base de tudo que virá
depois. Ela não é descrita em detalhes neste capítulo, pois ela precisava ser
instituída e celebrada antes de Israel receber as demais solenidades, já que
somente um povo redimido poderia receber a revelação do calendário divino.
Assim também sabemos que se não houvesse o Calvário, nada do que vem
depois neste capítulo tão notável seria possível. Esta festa destaca a miseri-
córdia de Deus em preparar um meio de salvação.
ii) A Festa dos Pães Asmos era a única festa com uma restrição alimentar, en-
fatizando a questão da santidade que é característica desta solenidade. Fica
aqui destacada a santidade de Deus, que deve ser refletida em nós.
iii) A Festa das Primícias se destaca (aqui em Levítico 23) por diversos detalhes
singulares, que mencionei ao estudar esta solenidade. O poder de Deus em
ressuscitar Seu Filho vem à nossa mente quando pensamos no cumprimento
dela.
vi) O Dia da Expiação apresenta-nos a justiça de Deus, que precisa levar Seu
povo à aflição para que possa haver expiação.
vii) A Festa dos Tabernáculos resume tudo, e de certa forma destaca a sobe-
rania de Deus. O Seu calendário será cumprido, e o Seu plano será consu-
mado.
Mas o evangelho de João deixa claro que na manhã seguinte à primeira Ceia
(na manhã em que o Senhor foi crucificado) os judeus ainda não haviam comido
a Páscoa (Jo 18:28) — pela cronologia de João, o Senhor teria sido crucificado
na tarde do dia 14, e a Ceia do Senhor teria sido instituída na noite anterior, 14
de Nisan. Como entender isto?
Antes de pensar nos detalhes desta questão, talvez seria bom enfatizar duas
coisas:
i) Não creio, de forma alguma, que um dos lados (nem João, nem os três si-
nópticos) esteja enganado. Entendo que há uma aparente contradição, mas
creio que é apenas aparente — principalmente porque creio na inspiração
As sete solenidades do Senhor 113
ii) Não vou entrar em todos os detalhes deste assunto neste estudo, nem tenho
pretensão de resolver a questão — páginas e páginas já foram escritas, por
pessoas bem mais eruditas e capacitadas do que eu, e ainda não há consenso
entre os estudantes da Bíblia quanto a este assunto. Apensa apresento os
argumentos que parecem ser mais convincentes para mim — cada um deve
procurar compreender este assunto à luz das Escrituras. O mais importante
é ter certeza que Cristo morreu para cumprir a Páscoa, e ressurgiu para cum-
prir Primícias. Os detalhes cronológicos, e seu significado, serão compreen-
didos plenamente quando estivermos com Ele, e qualquer dificuldade que
temos com estes detalhes hoje não nos impede de apreciar as verdades espi-
rituais por trás deles.
Isto posto, temos três opções quanto tentamos harmonizar o relato dos qua-
tro evangelhos:
i) A Ceia foi instituída durante uma refeição comum nas primeiras horas do
14º dia, cerca de 24 horas antes dos judeus comerem a ceia da Páscoa. Sendo
assim, o Senhor foi crucificado no dia 14, e as afirmações dos três sinópticos
devem ser interpretadas à luz de João;
ii) A Ceia foi instituída enquanto o Senhor e Seus discípulos celebravam a ceia
da Páscoa nas primeiras horas do 14º dia, cerca de 24 horas antes dos judeus
comerem a ceia da Páscoa “oficial” (isto é, o Senhor e os discípulos celebra-
ram a ceia da Páscoa antes dos judeus). Há evidências histórias confirmando
que diferentes calendários eram observados por diferentes grupos dentro do
60
BROWN, David. Comentário conhecido como JFB, vol. V, pág 324 (comentário sobre Lucas
22).
As sete solenidades do Senhor 114
iii) A Ceia foi instituída durante a celebração tradicional da ceia da Páscoa, nas
primeiras horas do 15º dia (o cordeiro teria sido morto na tarde do dia 14, e
a ceia da Páscoa seria ao entardecer). Sendo assim, o Senhor foi crucificado
no dia 15, e as afirmações em João devem ser interpretadas à luz dos sinóp-
ticos.
ii) Se aceitarmos a última sugestão (que Ele foi morto durante o 15º dia) tere-
mos muita dificuldade para explicar a atividade dos judeus durante a prisão
e morte do Senhor. Como reunir tanta gente na casa do sumo-sacerdote na
noite em que deveriam estar em casa comendo o cordeiro pascal? Como os
judeus teriam incentivado a morte do Senhor e dos dois malfeitores no pri-
meiro dia dos Pães Asmos, um dia de “santa convocação” em que “nenhum
trabalho servil” poderia ser feito (Lv 23:7)? Como José de Arimateia poderia
As sete solenidades do Senhor 115
ter achado algum comércio aberto para comprar o linho fino para sepultar o
Senhor (Mc 15:46)?
iii) Até os sinópticos (que a princípio parecem indicar que a Ceia e a Páscoa
foram na mesma noite) incluem algumas afirmações que sugerem que o Se-
nhor foi crucificado antes da ceia da Páscoa — por exemplo, se Pilatos tinha
o costume de soltar um preso por ocasião da Páscoa, seria de se esperar que
esse preso fosse solto em tempo de poder participar da ceia da Páscoa, o
grande símbolo do livramento de Israel da prisão do Egito. Soltá-lo no dia
seguinte, e fazer com que ele permanecesse preso durante aquela celebração,
tiraria deste gesto político toda a importância simbólica que tinha.
iv) Se a ceia da noite da traição foi a ceia pascal, é impressionante que nenhum
dos evangelistas menciona o cordeiro da páscoa, nem outros elementos tão
comuns àquela ceia (as ervas amargas, os rituais dos vários cálices, etc.).
vi) A literatura antiga secular e judaica também confirma que a morte do Senhor
foi na tarde do 14º dia — Bejon cita o Evangelho de Pedro e o Talmude
como fontes, e Farar cita Sanh. vi. 2., Salvador e Sepher Jesuah Hannotseri
(pág. 559).
Mas algumas afirmações dos sinópticos não combinam com essa sequência
de eventos. O que fazer então? Creio que a única solução é reconhecer que a
interpretação prima facie — aquilo que parece ser verdadeiro à primeira vista —
está errada, e tentarmos interpretar as afirmações dos sinópticos dentro desta
As sete solenidades do Senhor 116
sequência cronológica. Visto que o relato deles é muito resumido e não sabemos
todos os detalhes, talvez seja difícil explicar todas as suas afirmações — mas
creio que é possível entender as afirmações deles sobre a Ceia e sobre a Páscoa
de forma a combinar com o relato de João.
Tudo isto são apenas tentativas de resolver uma dificuldade que é real. Creio,
porém, que se soubéssemos todos os detalhes da tradição dos judeus, e do que
aconteceu naqueles dias, tudo se encaixaria perfeitamente. Por hora, temos que
As sete solenidades do Senhor 118
tentar entender os fatos com as informações que temos, e creio que o que melhor
satisfaz todas as informações disponíveis é o que tenho defendido neste estudo:
que o Senhor foi crucificado na sexta-feira quando os cordeiros pascais estavam
sendo mortos, e ressuscitou no domingo bem cedo, quando o dia das Primícias
era celebrado.
iii) Oferecer novilho para expiação por ele e sua casa — “Depois Arão oferecerá
o novilho da expiação, que será para ele; e fará expiação por si e pela sua
casa.”
iv) Colocar brasas do altar de holocausto sobre o incensário e encher a mão com
incenso — “Tomará também o incensário cheio de brasas de fogo do altar,
de diante do SENHOR, e os seus punhos cheios de incenso aromático mo-
ído”;
vi) Criar uma nuvem de incenso para esconder a arca — “E porá o incenso sobre
o fogo perante o SENHOR, e a nuvem do incenso cobrirá o propiciatório,
que está sobre o testemunho, para que não morra.”
vi) Sair do Santo dos Santos, pegar o sangue do novilho, entrar novamente no
Santo dos Santos e espargir sangue sobre o propiciatório — “E tomará do
sangue do novilho, e com o seu dedo espargirá sobre a face do propiciatório,
para o lado oriental; e perante o propiciatório espargirá sete vezes do sangue
com o seu dedo.”
As sete solenidades do Senhor 119
v) Oferecer bode por expiação — “Então Arão fará chegar o bode, sobre o qual
cair a sorte pelo SENHOR, e o oferecerá para expiação do pecado.”
vi) Entrar novamente no Santo dos Santos e espargir sangue do bode no propi-
ciatório — “… trará o seu sangue para dentro do véu; e fará com o seu sangue
como fez com o sangue do novilho, e o espargirá sobre o propiciatório, e
perante a face do propiciatório.”
vii) “Assim fará expiação pelo santuário por causa das imundícias dos filhos
de Israel e das suas transgressões, e de todos os seus pecados; e assim fará
para a tenda da congregação que reside com eles no meio das suas imundí-
cias.”
viii) Espargir sangue do novilho (por Arão) e do bode (pela nação) e o aspergir
sobre as pontas do altar — “Então sairá ao altar, que está perante o SE-
NHOR, e fará expiação por ele; e tomará do sangue do novilho, e do sangue
do bode, e o porá sobre as pontas do altar ao redor. E daquele sangue espar-
girá sobre o altar, com o seu dedo, sete vezes, e o purificará das imundícias
dos filhos de Israel, e o santificará.”
ix) Confessar pecados de Israel sobre o bode vivo — “Havendo, pois, acabado
de fazer expiação pelo santuário, e pela tenda da congregação, e pelo altar,
então fará chegar o bode vivo. E Arão porá ambas as suas mãos sobre a ca-
beça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de
Israel, e todas as suas transgressões, e todos os seus pecados; e os porá sobre
a cabeça do bode”.
xi) Tirar vestes de linho, banhar-se, e vestir vestes sacerdotais — “Depois Arão
virá à tenda da congregação, e despirá as vestes de linho, que havia vestido
quando entrara no santuário, e ali as deixará. E banhará a sua carne em água
no lugar santo, e vestirá as suas vestes”
xiii) Enviar para fora do arraial os restos dos holocaustos — “Mas o novilho da
expiação, e o bode da expiação do pecado, cujo sangue foi trazido para fazer
expiação no santuário, serão levados fora do arraial; porém as suas peles, a
sua carne, e o seu esterco queimarão com fogo.”
d. O calendário de Israel
Mês Corresponde a Referências
1 Abibe (ou Nisã) Março-Abril Êx 13:4; Et 3:7
2 Zive (ou Iyyar) Abril-Maio I Rs 6:1, 37
3 Sivã Maio-Junho Et 8:9
4 Tamuz Junho-Julho
5 Abe Julho-Agosto
6 Elul Agosto-Setembro Ne 6:15
7 Etanim (ou Tisri) Setembro-Outubro I Rs 8:2
Outubro-Novem-
8 Bul (ou Marchesvan) I Rs 6:38
bro
Novembro-Dezem-
9 Quisleu Ne 1:1
bro
10 Tebete Dezembro-Janeiro Et 2:16
11 Sebate Janeiro-Fevereiro Zc 1:7
12 Adar Fevereiro-Março Et 3:7
Os quatro inícios do ano [Rosh Hashanah] são: no primeiro de Nisã, Rosh Hashanah
para os reis e os festivais; no primeiro de Elul, Rosh Hashanah para os dízimos de animais;
no primeiro de Tisri, Rosh Hashanah para anos, para os anos sabáticos e os anos de Jubileu,
e para o plantio e vegetais; no primeiro de Sebate, Rosh Hashanah para as árvores”
(Mishna, Seder Moed, Tractate Rosh Hashanah: Chapter 1, Mishnah 1).
O ano judaico era lunar, e não solar (tecnicamente, lunissolar; veja a seguir);
isto é, um ano era considerado equivalente ao tempo levado pela Lua para com-
pletar doze ciclos em torno da Terra (o que equivale a pouco menos que 354
dias e 9 horas). As estações do ano, no entanto, dependem mais da posição da
Terra em relação ao Sol, e o tempo que a Terra leva para completar um ciclo
em torno do Sol é de quase 365 dias e 6 horas (uma diferença de cerca de 11
dias). Após três anos a contagem dos meses estaria defasada em 33 dias, e o ano
iniciaria quando a Terra já estivesse em outra posição na sua órbita, completa-
mente fora de sincronia em relação às estações. Ou seja, o calendário lunar pre-
cisava de algum mecanismo de correção para que as estações do ano (e as co-
lheitas) caíssem sempre na mesma época do ano. Por isso, a cada dois ou três
anos acrescentava-se um 13º mês, chamado de Ve-Adar (“segundo Adar”). A
decisão de quando acrescentar ou não este 13º mês era feita para que a Páscoa
sempre coincidisse com o início da colheita da cevada. Devido a esta correção
do calendário, talvez seja mais correto descrever o ano judaico como lunissolar
(pois os meses eram baseados no ciclo da Lua, mas os anos eram adaptados de
acordo com o ciclo solar). Desde o século IV os judeus usam um sistema fixo
para cálculo de datas futuras, mas na época da Bíblia (Velho e Novo Testa-
mento) o início do mês dependia da observação a olho nu da Lua Nova (real-
mente, do primeiro crescente luminoso que segue a Lua Nova).
As sete solenidades do Senhor 122
Páscoa
No Velho Testamento, encontramos a palavra hebraica traduzida “páscoa”
quarenta e nove vezes em quarenta e seis versículos: Êx 12:11, 21, 27, 43, 48;
34:25; Lv 23:5; Nm 9:2, 4, 5, 6, 10, 12, 13, 14; 28:16; 33:3; Dt 16:1, 2, 5, 6; Js
5:10, 11; II Rs 23:21, 22, 23; II Cr 30:1, 2, 5, 15, 17, 18; 35:1, 6, 7, 8, 9, 11,
13, 16, 17, 18, 19; Ed 6:19, 20; Ez 45:21. A tabela abaixo apresenta estas refe-
rências agrupadas cronologicamente.
“Páscoa” no VT
Referência Assunto
Êx 12:11-48 Instituição e primeira celebração
Êx 34:25 Um mandamento sobre a Páscoa
Lv 23:5 A Páscoa como parte das sete solenidades do Senhor
Nm 9:2-14 Segunda celebração na Bíblia, um ano após a primeira
Nm 28:16 Descrição das ofertas da Páscoa
Nm 33:3 Referência à primeira Páscoa
Dt 16:1-5 Mandamentos sobre a Páscoa
Js 5:10-11 Terceira celebração na Bíblia, nos dias de Josué
II Cr 30:1-18 Quarta celebração na Bíblia, nos dias de Ezequias
II Rs 23:21-23 e
Quinta celebração na Bíblia, nos dias de Josias
II Cr 35:1-19
Ed 6:19-20 Sexta celebração na Bíblia, nos dias de Zorobabel
Ez 45:21 A Páscoa será celebrada no Milênio
2:41; 22:1, 7, 8, 11, 13, 15; Jo 2:13, 23; 6:4; 11:55; 12:1; 13:1, 18:28, 39; 19:14;
At 12:4; I Co 5:7; Hb 11:28. Agrupando estas referências por assunto, temos:
“Páscoa” no NT
Referência Assunto
Lc 2:41 Páscoa celebrada na infância do Senhor
Páscoa celebrada no começo do ministé-
Jo 2:13-23
rio público do Senhor Jesus
Segunda (ou terceira) Páscoa do ministé-
Jo 6:4
rio público do Senhor Jesus
Terceira (ou quarta) Páscoa do ministério
Mt 26:2-19; Mc 14:1-16; Lc 22:1-15; Jo
público do Senhor Jesus, coincidindo
11:55; 12:1; 13:1, 18:28-39; 19:14;
com o dia da Sua morte
Páscoa em 44 a.D., cerca de quinze anos
At 12:4
após a morte do Senhor Jesus
I Co 5:7 Cristo é chamado “nossa páscoa”
Hb 11:28 Referência à primeira Páscoa, no Egito
Pães Asmos
A palavra hebraica traduzida “pães asmos” ocorre cinquenta e três vezes em
quarenta e dois versículos no VT. Destes, dezenove referem-se à festa: Êx 12:15,
17, 18, 20, 39; 13:6, 7; 23:15; 34:18; Lv 23:6; Nm 28:17; Dt 16:3, 8, 16; II Cr
8:13; 30:13, 21; 35:17; Ed 6:22; Ez 45:21. A tabela abaixo organiza estas refe-
rências por assunto.
A palavra grega traduzida “pães asmos” ocorre nove vezes no NT: Mt 26:17;
Mc 14:1, 12; Lc 22:1, 7; At 12:3; 20:6; I Co 5:7, 8. Ordenando por assunto,
temos a seguinte tabela:
61
Abrindo um parênteses, este detalhe é um dos principais meios usados para calcular o
tempo do Seu ministério público. Calculando as referências às solenidades que ocorreram
durante o Seu ministério público, chegamos à conclusão que Seu ministério público deve
ter durado em torno de três anos, mais ou menos.
As sete solenidades do Senhor 125
Primícias
A palavra hebraica traduzida “primícias” ocorre 51 vezes em 49 versículos no
VT. Destes, somente três referem-se claramente à festa: Êxodo 23:19; 34:26;
Levítico 23:10.
Pentecostes
As referências a seguir, no VT, referem-se à Festa de Pentecostes usando
diferentes nomes: Êx 34:22; Nm 28:26; Dt 16:9-16; II Cr 8:13. A palavra “pen-
tecostes” só é usada no NT, apenas três vezes: At 2:1; 20:16; I Co 16:8.
Trombetas
Expiação
O dia da expiação é descrito pela forma plural da palavra “expiação”. Esta
forma ocorre nos seguintes versículos: Êx 29:36; 30:10, 16; Lv 23:27, 28; 25:9;
Nm 5:8; 29:11.
As sete solenidades do Senhor 126
Tabernáculos
g. Palavras em Levítico
As sete solenidades do Senhor 129