Você está na página 1de 135

SUMÁRIO

BÍBLIA ..................................................................................................................................................................... 15

1. Bíblia – escritos sagrados e apócrifos – traduções e versões ................................................................ 15

2. Cânon Sagrado ............................................................................................................................................... 15

3. Apócrifos.......................................................................................................................................................... 16

4. Septuaginta ...................................................................................................................................................... 18

5. Concílios de Trento e Nicéia ....................................................................................................................... 18

6. Traduções e versões....................................................................................................................................... 19

7. Conclusão ........................................................................................................................................................ 20

8. Anotações......................................................................................................................................................... 20

SALVAÇÃO ............................................................................................................................................................ 21

1. Introdução ....................................................................................................................................................... 21

2. O que é a salvação? ........................................................................................................................................ 21

3. Salvação política de Israel? ........................................................................................................................... 22

4. Salvação (libertação) do pecado ................................................................................................................. 22

4.1. Expiação....................................................................................................................................................... 23

4.2. Justificação .................................................................................................................................................. 23

4.3. Regeneração ................................................................................................................................................ 24

4.4. Reconciliação .............................................................................................................................................. 24

5. Salvação eterna ............................................................................................................................................... 24

6. Podemos perder a salvação?......................................................................................................................... 25

7. Conclusão ........................................................................................................................................................ 25

8. Anotações......................................................................................................................................................... 26

FÉ .............................................................................................................................................................................. 27

1. Noções introdutórias ..................................................................................................................................... 27


2. Senso comum sobre a fé............................................................................................................................... 27

3. O que é a fé? ................................................................................................................................................... 28

4. Tipos de fé ...................................................................................................................................................... 30

4.1. Fé salvífica .................................................................................................................................................. 30

4.2. Fé como um dom ...................................................................................................................................... 31

4.3. Fé morta ...................................................................................................................................................... 31

5. Conclusão ........................................................................................................................................................ 32

6. Anotações ........................................................................................................................................................ 32

AMOR ..................................................................................................................................................................... 33

1. Considerações iniciais ................................................................................................................................... 33

2. Amar não é ter um sentimento ................................................................................................................... 33

3. O amor que vem de deus ............................................................................................................................. 34

4. Amor a Deus ................................................................................................................................................... 34

5. Amor ao próximo .......................................................................................................................................... 35

6. Amar a si mesmo ........................................................................................................................................... 36

7. Conclusão ........................................................................................................................................................ 36

8. Anotações ........................................................................................................................................................ 36

PERDÃO ................................................................................................................................................................. 37

1. Introdução ....................................................................................................................................................... 37

2. A cruz, expressão máxima do perdão vertical e perdão horizontal ..................................................... 37

3. Cancelamento de dívida - “cadastro positivo” ......................................................................................... 37

4. O coração enganoso ...................................................................................................................................... 38

5. A prática do perdão sobre 4 pontos .......................................................................................................... 38

5.1. Ser perdoado por Deus............................................................................................................................. 38

5.2. Perdoar a si mesmo ................................................................................................................................... 39

v
5.3. Liberar perdão ao próximo ...................................................................................................................... 39

5.4. A escolha certa: perdoar ........................................................................................................................... 39

5.5. Pedir perdão ao próximo ......................................................................................................................... 40

6. Conclusão ........................................................................................................................................................ 40

7. Anotações......................................................................................................................................................... 40

DISCÍPULO............................................................................................................................................................ 41

1. O que é um discípulo? O que é um talmid? ............................................................................................. 41

2. As diferenças entre os discípulos de Jesus e os discípulos de um rabino ........................................... 41

3. O processo de um discipulado .................................................................................................................... 42

4. Anotações......................................................................................................................................................... 42

PECADO ................................................................................................................................................................. 43

1. Introdução ....................................................................................................................................................... 43

2. O que é o pecado?.......................................................................................................................................... 43

3. Origem do pecado ......................................................................................................................................... 43

4. Então o homem pecou... ............................................................................................................................... 44

5. Consequências do pecado ............................................................................................................................. 44

5.1. Morte física ................................................................................................................................................. 44

5.2. Morte espiritual ......................................................................................................................................... 45

5.3. Morte eterna ............................................................................................................................................... 45

6. O cristão e o pecado...................................................................................................................................... 45

7. Conclusão ........................................................................................................................................................ 46

8. Anotações......................................................................................................................................................... 46

ANJOS...................................................................................................................................................................... 47

1. Considerações iniciais ................................................................................................................................... 47

2. As três tríades ................................................................................................................................................. 47

vi
2.1. Primeira tríade ........................................................................................................................................... 47

2.1.1. Serafins .................................................................................................................................................... 47

2.1.2. Querubins ............................................................................................................................................... 48

2.1.3. Tronos ou Ofanins ................................................................................................................................ 48

2.2. Segunda tríade ............................................................................................................................................ 48

2.2.1. Dominações ............................................................................................................................................ 48

2.2.2. Virtudes ................................................................................................................................................... 49

2.2.3. Potestades................................................................................................................................................ 49

2.3. Terceira tríade ............................................................................................................................................ 49

2.3.1. Principados ............................................................................................................................................. 49

2.3.2. Arcanjo .................................................................................................................................................... 50

2.3.3. Anjos ........................................................................................................................................................ 50

3. Anjos caídos .................................................................................................................................................... 50

3.1. Anjos caídos são o mesmo que demônios? ........................................................................................... 51

4. Demônios e suas teorias de origem ........................................................................................................... 51

4.1. Segunda queda – almas híbridas de humanos e anjos ....................................................................... 51

4.2. Raça pré-adâmica – intervalo temporal entre a primeira criação e a segunda ............................. 51

5. Anotações ........................................................................................................................................................ 51

SANTIDADE ......................................................................................................................................................... 52

1. Introdução ....................................................................................................................................................... 52

2. Um diagnóstico simples................................................................................................................................ 52

3. Uma concepção equivocada ......................................................................................................................... 53

4. Uma concepção mais clara........................................................................................................................... 55

4.1. A santidade se parece com uma vida marcada por virtude, e não por vício ................................. 55

4.2. A santidade se parece com uma consciência limpa ............................................................................ 57

vii
4.3. A santidade se parece com obediência aos mandamentos de Deus ................................................. 58

5. A nossa união com Cristo ............................................................................................................................ 58

6. Conclusão ........................................................................................................................................................ 59

7. Anotações......................................................................................................................................................... 60

OBRAS DA CARNE............................................................................................................................................. 61

1. Considerações iniciais ................................................................................................................................... 61

2. Significados de “carne” no Novo Testamento .......................................................................................... 61

3. O conceito de “carne” ................................................................................................................................... 61

3.1. Se ser carnal é ter um corpo, então Jesus foi carnal e pecou? .......................................................... 63

3.2. Se ser carnal é ter um corpo, então Satanás nunca pecou? ............................................................... 64

3.3. Se ser carnal não é ter um corpo, o que é ser carnal? ........................................................................ 64

4. As obras da carne são manifestas ............................................................................................................... 65

5. Conclusão ........................................................................................................................................................ 67

6. Anotações......................................................................................................................................................... 68

DONS DO ESPÍRITO ......................................................................................................................................... 69

1. Introdução ....................................................................................................................................................... 69

2. Dons concedidos por Deus e suas categorias ........................................................................................... 69

2.1. Os dons são presentes gratuitos de Deus .............................................................................................. 69

3. Propósitos dos dons: serviço, e não “ser visto” ........................................................................................ 69

4. A importância de se conhecer os dons ...................................................................................................... 70

5. A responsabilidade dos dons........................................................................................................................ 70

6. Dons e fruto do espírito (poder e caráter) .............................................................................................. 70

6.1. Diferenças entre Dons do Espírito e Fruto do Espírito ..................................................................... 70

7. Os grupos de dons: 1ª Coríntios 12 e Romanos 12 ............................................................................... 71

7.1. 1º grupo: dons verbais: ............................................................................................................................. 71

viii
7.1.1. Falar em línguas..................................................................................................................................... 71

7.1.2. Interpretação de línguas ....................................................................................................................... 72

7.1.3. Profecia.................................................................................................................................................... 72

7.2. 2º grupo: dons de revelação .................................................................................................................... 74

7.2.1. Palavra de sabedoria ............................................................................................................................. 74

7.2.2. Palavra de conhecimento ..................................................................................................................... 74

7.2.3. Discernimento de espíritos .................................................................................................................. 74

7.3. 3º grupo: dons de habilidade .................................................................................................................. 74

7.3.1. Dom da fé ............................................................................................................................................... 74

7.3.2. Dom de cura ........................................................................................................................................... 75

7.3.3. Dom de milagres ................................................................................................................................... 75

8. Todos os dons têm a sua devida importância .......................................................................................... 75

8.1. Dom do amor ............................................................................................................................................. 75

8.2. Dom de mestre ou dom de ensino ......................................................................................................... 75

8.3. Dom de liderança ...................................................................................................................................... 75

8.4. Dom de exortação ..................................................................................................................................... 76

8.5. Dom de libertação (ou exorcismo) ....................................................................................................... 76

8.6. Dom de misericórdia ................................................................................................................................ 76

8.7. Dom do celibato ........................................................................................................................................ 76

8.8. Dom da pobreza voluntária ..................................................................................................................... 77

8.9. Dom do martírio ....................................................................................................................................... 77

8.10. Dom da hospitalidade ........................................................................................................................... 77

8.11. Dom da administração ......................................................................................................................... 77

8.12. Dom da contribuição (mantenedor) ................................................................................................. 77

8.13. Dom de apóstolo ................................................................................................................................... 78

ix
8.14. Dom de pastor........................................................................................................................................ 78

8.15. Dom de evangelista ............................................................................................................................... 78

8.16. Dom do serviço ministerial ................................................................................................................. 78

8.17. Dom de intercessão ............................................................................................................................... 78

9. Como descobrir os dons? ............................................................................................................................. 79

10. Anotações .................................................................................................................................................... 79

FRUTO DO ESPÍRITO ....................................................................................................................................... 80

1. Considerações iniciais ................................................................................................................................... 80

2. Uma nova pessoa ........................................................................................................................................... 80

3. Andar em espírito .......................................................................................................................................... 80

4. A qualidade do fruto revela a sua origem ................................................................................................. 81

5. Obras da carne ou fruto do espírito? ......................................................................................................... 82

6. O fruto e os dons se completam ................................................................................................................. 82

6.1. Amor (Caridade) Pv 10.12; Rm 5.5; 1Co 13; Ef 5.2; Cl 3.14 ........................................................ 83

6.2. Alegria (Gozo) Ne 8:10........................................................................................................................... 83

6.3. Paz Sl 34:14-15 ......................................................................................................................................... 83

6.4. Paciência (Longanimidade) Ef 4.2; 2Tm 3.10; Hb 12.1 .................................................................. 83

6.5. Benignidade Ef 4.32; Cl 3.12; 1Pe 2.3.................................................................................................. 84

6.6. Bondade ....................................................................................................................................................... 84

1.1. Fidelidade (Fé) Mt 23.23; Rm 3.3; 1Tm 6.12; 2Tm 2.2 – 4.7; Tt 2.10 ...................................... 85

6.7. Mansidão ..................................................................................................................................................... 85

6.8. Domínio Próprio (Temperança) ............................................................................................................ 85

7. Desenvolva diariamente o fruto .................................................................................................................. 85

8. Conclusão ........................................................................................................................................................ 86

9. Anotações......................................................................................................................................................... 86

x
CONTRIBUIÇÃO FINANCEIRA .................................................................................................................... 87

1. Considerações iniciais ................................................................................................................................... 87

2. Tipos de contribuição ................................................................................................................................... 87

3. Os dízimos ...................................................................................................................................................... 88

3.1. Os dízimos no Novo Testamento .......................................................................................................... 89

4. As ofertas ......................................................................................................................................................... 89

5. Anotações ........................................................................................................................................................ 90

ADORAÇÃO .......................................................................................................................................................... 91

1. Considerações iniciais ................................................................................................................................... 91

2. Significados de adoração .............................................................................................................................. 91

3. Adoração versus louvor ................................................................................................................................. 91

4. Por que devemos adorar? ............................................................................................................................. 92

5. Como devemos adorá-Lo? ........................................................................................................................... 92

6. Onde devemos adorá-Lo? ............................................................................................................................ 92

7. Adorando a Deus com as nossas finanças ................................................................................................. 93

8. Quando canto, estou adorando a Deus? .................................................................................................... 93

9. Os anjos adoram a Deus? ............................................................................................................................. 93

10. Paralelo entre louvor e adoração ............................................................................................................ 94

11. Anotações .................................................................................................................................................... 94

TRINDADE ............................................................................................................................................................ 95

1. A importância da Doutrina da Trindade .................................................................................................. 95

2. Conceito de transcendência ......................................................................................................................... 95

3. Trilha de estudo ............................................................................................................................................. 96

3.1. A Trindade na história ............................................................................................................................. 96

3.2. A Trindade na Escritura ........................................................................................................................... 99

xi
3.2.1. Antigo Testamento ................................................................................................................................ 99

3.2.2. Novo Testamento: ............................................................................................................................... 100

3.3. A Trindade sistematizada ....................................................................................................................... 103

3.4. Aplicação prática ...................................................................................................................................... 104

4. Anotações....................................................................................................................................................... 105

PRÁTICAS ESPIRITUAIS ................................................................................................................................ 106

1. Introdução ..................................................................................................................................................... 106

2. Oração ............................................................................................................................................................ 106

3. Jejum ............................................................................................................................................................... 107

4. Leitura da Bíblia ........................................................................................................................................... 108

5. Anotações....................................................................................................................................................... 109

MISSÃO................................................................................................................................................................. 110

1. A missão da Igreja ........................................................................................................................................ 110

2. O que ela representa? .................................................................................................................................. 110

3. Quatro pontos da missão............................................................................................................................ 110

3.1. Ir.................................................................................................................................................................. 110

3.2. Fazer Discípulos ....................................................................................................................................... 111

3.3. Batizar ........................................................................................................................................................ 112

3.4. Ensinar ....................................................................................................................................................... 112

4. “[...] entendes o que lês?” ........................................................................................................................... 113

5. “[...] um caminho ainda mais excelente” 1Co 12:31 ............................................................................ 114

6. Anotações....................................................................................................................................................... 115

CRENTE COMO CIDADÃO .......................................................................................................................... 116

1. Introdução ..................................................................................................................................................... 116

2. Cidadania celestial ....................................................................................................................................... 116

xii
3. Cristão cidadão ............................................................................................................................................ 117

4. “Nossa cidadania está somente nos céus!” Será? ......................................................................................... 118

5. “O reino de Deus não é deste mundo!” Mas, qual é o contexto?............................................................. 119

6. “Estamos buscando apenas as coisas que são de cima!” O que isso significa? ........................................ 120

7. Conclusão ...................................................................................................................................................... 120

8. Anotações ...................................................................................................................................................... 120

LEI E GRAÇA ..................................................................................................................................................... 121

1. Introdução ..................................................................................................................................................... 121

2. Lei ................................................................................................................................................................... 121

3. Graça .............................................................................................................................................................. 122

3.1. Jesus é esta Graça .................................................................................................................................... 123

3.2. A Graça aboliu a Lei? .............................................................................................................................. 123

3.3. Lei litúrgica na Graça (religiosa) ......................................................................................................... 123

3.4. Lei moral na Graça ................................................................................................................................. 123

3.5. Lei cívica na Graça .................................................................................................................................. 124

4. Diferença entre Lei e Graça....................................................................................................................... 124

5. Conclusão ...................................................................................................................................................... 125

6. Anotações ...................................................................................................................................................... 125

A ARTE E A BÍBLIA ......................................................................................................................................... 126

1. O Senhorio de Cristo .................................................................................................................................. 126

2. Nenhuma imagem de escultura................................................................................................................. 126

3. A arte e o tabernáculo ................................................................................................................................ 126

3.1. Sobre a arte no Santo dos Santos (Êx 25.18): ................................................................................. 126

4. O templo........................................................................................................................................................ 127

5. Arte secular ................................................................................................................................................... 128

xiii
6. O uso da arte por Jesus............................................................................................................................... 128

7. Poesia.............................................................................................................................................................. 128

8. Música ............................................................................................................................................................ 128

9. O teatro e a dança........................................................................................................................................ 129

10. Conclusão .................................................................................................................................................. 129

11. Anotações .................................................................................................................................................. 129

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA .............................................................................................................. 130

NO QUE CREMOS? .......................................................................................................................................... 131

I - Sobre as Escrituras Sagradas ........................................................................................................................ 131

II – Sobre Deus..................................................................................................................................................... 131

III - Sobre o Homem ........................................................................................................................................... 131

IV - Sobre o Pecado ............................................................................................................................................. 132

V - Sobre a Salvação ............................................................................................................................................ 132

VI - Sobre o Inferno ............................................................................................................................................ 133

VII - Sobre o Reino de Deus.............................................................................................................................. 133

VIII - Sobre os Dons do Espírito Santo........................................................................................................... 133

IX – Sobre o Batismo e a Ceia do Senhor ...................................................................................................... 133

X - Sobre a Disciplina ......................................................................................................................................... 134

XI - Sobre a Família ............................................................................................................................................ 134

XII - Sobre a Liberdade Cristã .......................................................................................................................... 134

XIII - Sobre o Bem-Estar Social ....................................................................................................................... 135

xiv
BÍBLIA

1. Bíblia – escritos sagrados e apócrifos – traduções e versões

A Bíblia é a Sagrada Escritura, o conjunto de livros do Antigo e do Novo Testamento, que


contém as doutrinas que orientam o comportamento dos cristãos. Do grego “biblion”, significa livro,
rolo. A palavra Testamento (em hebraico “berith”) significa aliança, contrato, pacto.

A Bíblia judaica é chamada de Velho Testamento pelos cristãos. A primeira Bíblia conhecida pelos
cristãos foi a judaica, na qual temos a profecia da vinda de Jesus. A Bíblia judaica era conhecida em
duas formas pelos cristãos antigos: a original em hebraico e a tradução grega, conhecida como
Septuaginta.

A Bíblia foi escrita em três línguas: hebraico, aramaico e grego. O Antigo Testamento foi escrito,
majoritariamente, em hebraico e algumas partes em aramaico, enquanto o Novo Testamento foi
escrito em grego.

O Antigo Testamento é composto pelo Pentateuco, Livros Históricos, Livros Poéticos e Livros
Proféticos. O Novo Testamento é formado pelos Evangelhos, Atos dos Apóstolos, Cartas, e o Apocalipse.

A Bíblia Sagrada é o livro mais vendido de todos os tempos e já foi traduzida em mais de 2.000
idiomas.

O primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, foi escrito por volta de 1.445 a.C. e o último livro, o
Apocalipse, foi escrito por volta de 90 a 96 d.C. A Bíblia foi escrita por, aproximadamente, 40 homens,
em um período que totalizou cerca de 1.600 anos.

Para os católicos, a Bíblia é composta por 73 livros, divididos em 46 do Antigo Testamento e 27 do


Novo Testamento. Para os protestantes, a Bíblia tem 66 livros, 39 do Antigo Testamento e 27 do Novo
Testamento.

2. Cânon Sagrado

Cânone bíblico ou cânone das Escrituras é a lista de textos (ou “livros”) religiosos que uma
determinada comunidade aceita como sendo inspirados por Deus e autoritativos.

A palavra “cânone” vem do termo grego “κανών” (“régua” ou “vara de medir”); os gregos usavam a
palavra para se referir a um padrão ou norma pela qual todas as coisas eram julgadas e avaliadas, seja
a forma perfeita a seguir na arquitetura ou o critério pelo qual as coisas devem ser apreciadas.

O termo era frequentemente empregado para denotar padrões de escultura, arquitetura, música,
gramática, arte, poesia, e mesmo filosofia, nesse caso servindo de critério para discernir verdadeiro ou
falso). Os cristãos foram os primeiros a utilizar o termo para fazer referência às suas Escrituras.

O cânon “fechado” (ou seja, livros que não podem mais ser acrescentados ou removidos), é o
15
utilizado pelo cristianismo em relação à Bíblia e que reflete a crença de que a revelação divina está
encerrada e, portanto, uma pessoa ou grupo de pessoas foi capaz de juntar os textos inspirados
aprovados num cânone completo e autoritativo.

Por outro lado, um cânone “aberto” é aquele que permite a adição de novos livros através da
revelação contínua.

3. Apócrifos

Os livros apócrifos (grego: “απόκρυφος”; latim: “apócryphus”; português: “oculto”; hebraico:


“escondido ou secreto”, denotando qualquer livro de autoridade duvidosa), também conhecidos como
livros pseudocanônicos, são livros escritos com subscrição falsa ou pseudônimo; são os livros escritos
por comunidades cristãs e pré-cristãs (ou seja, há livros apócrifos do Antigo Testamento) nos quais os
pastores e a primeira comunidade cristã não reconheceram nem a pessoa e nem os ensinamentos de
Jesus, e por serem escritos após o I século, portanto, não foram incluídos no cânon bíblico.

Somente os cristãos protestantes usam o termo apócrifos para os escritos adicionais que constam
no Antigo Testamento da igreja católica romana e da Igreja ortodoxa. Alguns escritos pseudopigráficos
foram amplamente aceitos como escritura sagrada por alguns cristãos primitivos até meados dos séculos
III e IV (especialmente 1 Enoc, Salmos de Salomão e Testamento dos Doze Patriarcas). Entre os livros
apócrifos ou deuterocanônicos mais populares estavam o Eclesiástico, Sabedoria de Salomão e 1 e 2
Macabeus, além de outros, como Tobias e Baruc.

O termo “apócrifo” foi criado por Jerônimo, no quinto século, para designar basicamente antigos
documentos judaicos escritos no período entre o último livro das escrituras judaicas, Malaquias, e a
vinda de Jesus Cristo.

O Antigo Testamento menciona inúmeros livros perdidos que, sem dúvida, influenciaram alguns
escritores bíblicos. Embora esses livros não recebam o nome de Escritura e não tenham sobrevivido a
antigos processos de seleção e preservação, às vezes, são citados com relação à sua condição de livros
autorizados na nação.

Entre eles, incluem-se:

• Na Lei ou Torá: Livro das Guerras do Senhor (Nm 21,14);

• Em Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1-2 Reis:

▪ Livro do Justo (Js 10,12-13; 2Sm 1,18-27).

▪ Livro dos Anais dos Reis de Judá (1Rs 14.29; 15.7-23; 22.45; 2Rs 8.23; 12.18; 14.18;
15.6-36; 16.19; 20.20; 21.17-25; 23.28; 24.5).

▪ Livro dos Anais dos Reis de Israel (1Rs 14.19; 5.31; 16.5-14; 20.27; 22.39; 2Rs 1.18;

16
10.34; 13.8-12; 14.15-28; 15.11; 15.21; 26.31).

▪ Livro dos Atos de Salomão (1Rs 11.41) .

• Em Crônicas, Esdras e Neemias:

▪ Livro dos Reis de Israel (1Cr 9.21; 2Cr 20.34).

▪ Livro dos Reis de Judá e de Israel (2Cr 16.11).

▪ Livro dos Reis de Israel e de Judá (2Cr 27.7).

▪ Anais dos Reis de Israel (2Cr 33.18).

▪ Livro de Samuel, o vidente (1Cr 29.29).

▪ Livro de Gad, o vidente (1Cr 29.29).

▪ Livro de Natã, o vidente (1Cr 29.29).

▪ História do Profeta Natã (2Cr 9.29).

▪ Profecia de Aías de Silo (2Cr 9.29).

▪ Visão de Ido, o vidente (2Cr 9.29).

▪ Livro do Profeta Semeías e do vidente Ado (2Cr 12.15).

▪ Atos de Jeú, filho de Hanani (estão inseridos no Livro dos Reis de Israel, 2Cr 20.34).

▪ Palavras dos videntes ou Palavras/História de Hozai (2Cr 33.19).

▪ Midrash do Profeta Ado (2Cr 13.22).

▪ Midrash do Livro dos Reis (2Cr 24.27).

▪ Um livro escrito pelo profeta Isaías, filho de Amós, contendo a história de Ozias
(2Cr 26.22).

▪ Uma visão do profeta Isaías, filho de Amós, no Livro dos Reis de Judá e de Israel
(2Cr 32.32; cf. Is 1.1).

▪ Anais do Rei Davi (1Cr 27.24).

▪ Memórias de teus pais (Ed 4.15).

▪ Livro das Crônicas (Ne 12,23)

• Livro adicional: “Lamentações”, em 2Cr 35.25, não é uma referência a Lamentações, mas a
um livro evidentemente produzido por Josias ou para Josias, que está perdido. Os títulos de
alguns desses livros, como “vidente”, “profeta” e “visão/visões” sugerem um papel sagrado
que eles exerciam em um estágio inicial da história judaica.

17
• Paulo também dizia ter escritos cartas que não chegaram até nós. (ver 1Cor 5,9 e Cl 4,16).

4. Septuaginta

Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica, traduzida em etapas para o grego koiné, entre
o século III a.C. e o século I a.C., em Alexandria. Dentre outras tantas, é a mais antiga tradução da
Bíblia hebraica para o grego, língua franca do Mediterrâneo oriental pelo tempo de Alexandre, o
Grande.

A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa
setenta, ou ainda LXX), pois setenta e dois rabinos (seis de cada uma das doze tribos) trabalharam
nela e, segundo a tradição, teriam completado a tradução em setenta e dois dias. A Septuaginta, desde
o século I, é a versão clássica da Bíblia hebraica para os cristãos de língua grega e foi usada como base
para diversas traduções da Bíblia.

5. Concílios de Trento e Nicéia

No Concílio de Trento foi decidida a Bíblia cristã como a conhecemos hoje, século XVI, nos dias
de Lutero. Nesse encontro, na Itália, definiu-se, de uma vez por todas, a lista dos livros bíblicos, em
um processo que foi bem complexo e com uma história bem comprida.

Nesse período, definiu-se a diferença entre Bíblia católica e Bíblia protestante. Lutero decide
relativizar o valor dos 7 livros do Antigo Testamento que não constam na lista da Bíblia Hebraica, do
Antigo Testamento. Os católicos, ao invés, afirmaram definitivamente que aqueles livros faziam parte
da lista oficial dos livros bíblicos.

O Concílio de Niceia foi celebrado em 325. Alguns dizem que nessa reunião os bispos decidiram
quais os evangelhos que deviam fazer parte da Bíblia, mas não há provas disso. Os principais temas
desse Concílio foram a questão ariana, a celebração da páscoa, a profissão de fé, dentre outros.

Em qual base a Igreja se apoia para definir o cânon dos livros sagrados? Uma primeira resposta, do ponto
de vista católico, que precisa de uma reflexão, nos é dado pelo último Concílio Vaticano II, segundo o
qual é: “a mesma tradição que faz a Igreja conhecer o cânon dos livros sagrados”.

Porém, a tradição precisa, por sua vez, de critérios para ter certeza de qual tradição se trata. Por
exemplo, se o que está em jogo é a tradição apostólica, ou simplesmente uma tradição eclesiástica. Essa
é a questão dos critérios de canonicidade, que foi objeto de disputas, sobretudo a partir do século XVI,
com Erasmo e com os protestantes. Erasmo espalhou as dúvidas dos primeiros séculos sobre a origem
apostólica de Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse, e de algumas perícopes evangélicas, tais como Mc
16.9-20, Lc 22.43s e Jo 7.57-8.11.

Essas seções foram submetidas ao juízo do Concílio de Trento que, depois de ter exibido o elenco
definitivo da Bíblia, declarou: “Se alguém não aceitar como sagrados e canônicos estes livros inteiros com
18
todas as suas partes, assim como é de costume lê-los na Igreja católica e que se encontram na edição antiga da
Vulgata latina, e desprezar as preditas tradições, seja anátema” (DS, 1501). Lutero considerava secundárias
estas colocações, em relação ao testemunho dado a Cristo; os mesmos escritos rejeitados por Erasmo
os colocavam no fim de sua tradução em alemão da Bíblia.

6. Traduções e versões

Uma das maneiras de aprofundar o estudo e a meditação da Bíblia é ler várias traduções lado a lado.
Ao fazer isso, o leitor cedo ou tarde encontrará diferenças entre as traduções. Como explicar isso?

É possível que a diferença seja apenas aparente, porque o leitor não se deu conta de que a mesma
mensagem foi expressa através de palavras diferentes. Também é possível que a ordem dos termos
tenha sido invertida, para facilitar a compreensão do leitor ou ouvinte.

É possível – e até provável – que eventuais diferenças possam ser explicadas pelo fato de as traduções
terem sido feitas em épocas diferentes, por equipes de tradução distintas. É claro que, neste caso, está
implícito que um mesmo texto pode ser traduzido de formas ligeiramente diferentes, não porque os
tradutores são incompetentes, mas porque o original é mais rico do que se imagina.

Temos, atualmente, mais de 30 traduções da Bíblia em português. A Bíblia evangélica usada no Brasil
foi traduzida para o português por João Ferreira de Almeida, no século XVI. Ele era um português
católico que se converteu ao protestantismo em 1642 e, logo em seguida, iniciou o trabalho de tradução.
A versão de Almeida foi a primeira em língua portuguesa.

Como é bem conhecido, os idiomas originais da Bíblia são: o hebraico – para o Velho Testamento
– contendo algumas breves seções em aramaico – e o grego, para o Novo Testamento. Dentre as
traduções mais populares em circulação no Brasil, estão:

• ARA – Almeida Revista e Atualizada;

• ARC – Almeida Revista e Corrigida;

• FIEL – Almeida Corrigida Fiel;

• Almeida Século 21 – revisão da Almeida;

• Almeida Original;

• BLH – Bíblia na Linguagem de Hoje;

• TLH – Tradução na Linguagem de Hoje;

• NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje;

• NVI – Nova Versão Internacional;

• NVT – Nova Versão Transformadora;

19
• Bíblia de Jerusalém;

• Nova Bíblia de Jerusalém;

• Viva;

• Bíblia Pentecostal; e

• A Mensagem.

7. Conclusão

É importante saber que a tentativa de estudar e responder questões que compõem a construção do
cânon não deve abalar a fé que nós abraçamos e procuramos viver. A fé não depende dessas inquirições;
inclusive, o conhecimento das origens da Bíblia pode aumentar a nossa compreensão da fé.

É muito fácil enclausurar-nos em nossos dogmas tradicionais e não incentivar os membros das
nossas congregações a fazer perguntas legítimas sobre a origem e o desenvolvimento de sua Bíblia e de
sua fé.

É praticamente impossível reprimir mentes inquisitivas; porém, quando oferecemos oportunidades


para formulação de perguntas, podemos atrair alguns membros mais brilhantes e promissores das nossas
comunidades de fé.

Infelizmente, quando essas pessoas não dispõem dessas oportunidades ou, inclusive, são
desestimuladas a questionar, em geral, procuram outros lugares onde possam expor suas dúvidas.

8. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________

20
SALVAÇÃO

1. Introdução

Salvação, talvez, seja o tema mais discutido entre teólogos de linhas calvinista e arminiana. O fato é
que este conteúdo não tem por objetivo mostrar quem está certo, se as ideias de Calvino ou de Arminio.
Queremos, neste conteúdo, mostrar como Deus expôs sua salvação através do tempo.

Estudar sobre a salvação é muito gratificante, pois a nossa esperança é renovada e firmamos, ainda
mais, nossos pés sobre um caminho sólido e consistente. Ao longo das Escrituras podemos notar que
Deus sempre teve o cuidado de salvar sua criação.

2. O que é a salvação?

Dentro da teologia, o estudo da salvação é identificado como “soteriologia”, e o sentido etimológico


para o termo, no grego, é definido por dois termos: “soteria” e “logos”, em que ambos trazem o sentido
de “estudo acerca da salvação”.

O dicionário bíblico VINE define o termo “soteria” com o significado de libertação, preservação,
salvação. O dicionário formal define a palavra salvação com o significado de ação ou efeito de salvar,
de libertar.

Partindo disso, podemos concluir que quando Deus “libertou” o povo de Israel da escravidão do
Egito, na verdade, Ele estava “salvando” aquele povo. Quando Deus “preservou” Ló da condenação de
Sodoma e Gomorra, Ele estava “salvando” Ló.

Nos textos de Lucas 17.19, 18.42 e 7.50, o próprio Jesus usa a expressão “a tua fé te salvou”; podemos
interpretar que Jesus estava fazendo alusão à cura recebida por essas pessoas; poderia se ler “a tua fé te
curou”.

Entendendo o significado etimológico da salvação, percebemos, no decorrer da leitura bíblica, que


Deus, por várias vezes, trouxe salvação para sua criação; Ele é Pai e o Pai cuida do Filho.

“Que grande palavra é essa, a palavra salvação. Ela inclui a limpeza de nossa consciência de toda culpa do
passado e a libertação da nossa alma de toda aquela propensão ao mal que tão fortemente predominava em nós.
Ela se entende, na verdade, para a destruição de tudo o que Adão fez. Salvação é a total restauração do homem
de seu estado de caído. E ainda é algo a mais que isso, a Salvação de Deus determina uma condição mais segura
do que nós sentíamos antes – ela nos encontra quebrados em pedaços pelos pecados do nosso primeiro pai –
contaminados, sujos e amaldiçoados. Ela primeiro cura nossas feridas, ela remove nossas doenças, ela leva embora
nossa maldição; ela coloca nossos pés sobre a Rocha, Jesus Cristo, e tendo feito isso, ela levanta nossa cabeça
bem mais alto sobre todos os principados e potestades, para sermos coroados para sempre com Cristo, o Rei dos
Céus!” (Charles Spurgeon).

21
3. Salvação política de Israel?

Muitos dos seguidores de Jesus acreditavam que Ele era o Messias e também acreditavam na
“salvação” de Israel. Nos tempos de Jesus, Israel estava sob o comando político de Roma; quando Jesus
começa a realizar seus sinais, logo surge no povo a esperança da “salvação”, mas não a salvação da alma,
e sim uma libertação (salvação) política, para fazer de Israel uma nação independente, novamente.

Como sabemos, isso não aconteceu, pois Jesus veio para anunciar um Reino não pertencente a este
mundo, um Reino maior, um Reino e uma salvação eterna. Os judeus não acreditaram que Jesus era o
Messias enviado por Deus, pois não havia cumprido, segundo a interpretação deles, as profecias das
Escrituras e dos Profetas (até hoje, muitos judeus praticantes ainda aguardam a chegada do Messias).

4. Salvação (libertação) do pecado

Aconselho você, aluno e leitor, a ler a matéria “Doutrina do Pecado”, para que possa compreender,
com mais profundidade, a salvação eterna dada pelo Pai por meio de seu filho Jesus.

Conforme está escrito na matéria sobre o pecado, o pecado é um legado de Adão para humanidade,
e esta se encontra distante de um relacionamento com o Pai e, consequentemente, caminha sem
esperança de salvação.

Concluindo, da mesma forma como o pecado ingressou no mundo por meio de um homem, e pelo pecado a
morte, assim também a morte foi legada a todos os seres humanos, porquanto todos pecaram. (Rm 5.12)

Por um homem, o pecado ingressou na humanidade e, por um homem, a salvação foi concedida à
humanidade. Portanto, assim como uma só transgressão determinou a condenação de todos os seres
humanos, assim, igualmente, um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os
homens.

Sendo assim, como por meio da desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim
também, por intermédio da obediência de um único homem, muitos serão feitos justos. (Rm 5.18-19)

Jesus Cristo é esse homem, que anulou a maldição que nos habitava, nos tirou de um estado de
condenação e nos colocou em um estado de redenção.

Salvação vem de Deus, é um ato de amor de Deus para o ser humano; ao homem, é impossível, por
suas próprias forças e vontades, alcançar a salvação; ela é proporcionada por Jesus, a todos aqueles que,
pelo convencimento do Espírito Santo, aceitaram essa Graça maravilhosa.

Éramos escravos do pecado, e a salvação veio para nos libertar desta escravidão, pois, conforme nos
ensina João, “se pois o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” Estamos livres desta escravidão, e
agora o pecado não terá domínio sobre nós. Conforme o apóstolo Paulo escreveu, somos chamados a
uma nova vida, se fomos, de fato, libertos!

22
Tiago, em sua carta, no capítulo 4, versículo 4, afirma que a amizade do mundo (ser escravo de
atitudes que desagradam a Deus) consiste em inimizade com Deus, ou seja, é impossível ser amigo dos
prazeres do mundo e ser amigo de Deus. Conclui-se, então, que a humanidade caminha em inimizade
com Deus, e o pecado faz com que sejamos inimigos de Deus, irreconciliáveis, afastados do Pai.

O apóstolo Paulo afirma que Cristo veio trazer essa reconciliação; a salvação, antes de ser uma
libertação eterna da condenação, é um ato presente diário de libertação do pecado. Nos reconciliamos
com o Pai, acabando com a inimizade entre Deus e o homem, pois Deus estava em Cristo, reconciliando
consigo mesmo o mundo, não levando em conta as transgressões dos seres humanos, nos encarregando,
ainda, da mensagem da reconciliação (2Co 5.19).

A partir do momento que somos alcançados por essa Graça salvadora, somos convencidos e
confrontados pelo Espírito Santo a crer em Jesus e partir de uma resposta positiva a este chamado. Só
assim, vamos nos transformando dia após dia para a salvação eterna.

Em suma, nós fomos salvos (conversão), estamos sendo salvos (justificação diária) e seremos salvos
(eternidade).

4.1. Expiação

O sacrifício do bode e a aspersão de seu sangue sobre o propiciatório perpetravam a expiação, ou


seja, a purgação das imundícias, transgressões e dos pecados do povo de Israel. Deus, em sua plena
sabedoria, antevendo a queda do homem, deu início a este processo antes mesmo da fundação do
mundo, sacrificando Seu filho, para resgatar Sua criação. Ver Lv 16.5-16.

Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado. O qual, na
verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos
tempos por amor de vós. (1Pe 1.19-20)

Pode-se definir expiação como o processo de substituição sacrificial e providencial de um


(Cristo) em relação a outro (ser humano).

4.2. Justificação

Justificação é um termo que se refere ao julgamento judicial. A palavra “justificação” tem origem
no latim “justificare”, que significa “fazer justo”.

No Novo Testamento, o termo grego utilizado para expressar o ato de justificar é “dikaioo”, que
significa “vindicar”, “inocentar”, “declarar e tratar como justo”. Ver Rm 8:33.

Justificação é fazer justo aquele que não merecia ser justo; nós não merecíamos, nós não somos
justos. Ver Rm 3.10-23. Mas, Cristo, o Justo, aquele que não cometeu pecado algum, pelo ato de sua
expiação na cruz, justificou-nos, tirando-nos de uma posição de culpados para inocentes.

23
Jesus cumpriu plenamente a Lei, e derramou seu sangue em favor de homens pecadores. Então, pela
obediência de Cristo, muitos são constituídos como justos.

4.3. Regeneração

Como o próprio termo diz, regenerar é gerar novamente. Tornar algo novo de novo. Paulo, em sua
carta a Tito afirma:

Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem
da regeneração e da renovação do Espírito Santo. (Tito 3.5)

Infere-se, portanto, que no momento da conversão do indivíduo, o Espírito Santo gera uma nova
criatura:

Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez
novo. (2 Co 5.17-20)

No momento da conversão do indivíduo, o Espírito Santo gera uma nova criatura e remove a
imundícia, vivificando-o, ao invés.

Regeneração, portanto, é a habilidade do Espírito Santo de transformar o interior de um novo


convertido, tornando-o uma nova criatura, um novo ser.

4.4. Reconciliação

No Éden, Adão e Eva tinham uma relação bem próxima com Deus. Todas as tardes, o Senhor visitava
o Jardim e conversava com suas criações. Ver Gn 3:8. Ao pecarem, esse laço foi quebrado.

Nós éramos inimigos de Deus, praticando todo tipo de obras más, mas Ele nos reconciliou consigo,
nos trazendo a paz.

E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da
reconciliação; Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus
pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como
se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus. (2 Co 5.18-
20).

5. Salvação eterna

O ato de Jesus, em se oferecer como sacrifício, trouxe sobre a humanidade a salvação como ato
presente de libertação do pecado e a reconciliação com Deus Pai.

“Algumas pessoas, quando elas usam a palavra “salvação”, não entendem nada mais que livramento do
Inferno e admissão no Céu. Agora, isso não é salvação – essas duas coisas são efeitos da salvação!” Charles
Spurgeon.

24
Esse Cristo que morreu em uma cruz para nos perdoar, ressuscitou para nos dar a salvação eterna.

No entanto, em realidade, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo Ele o primeiro dos frutos dentre
aqueles que dormiram. Porque, assim como a morte veio por um homem, da mesma forma, por um homem
veio a ressurreição dos mortos. (1Co 15.20-21)

Em verdade, em verdade vos asseguro: quem ouve a minha Palavra e crê naquele que me enviou tem a
vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. (Jo 5.24)

Por seu poder, Deus ressuscitou o Senhor e, igualmente, nos ressuscitará. (1Co 6.14)

O homem, por seus pecados, está condenado à perdição eterna (Ap 21.8) e Cristo veio nos trazer
salvação (livrar da perdição eterna), ou seja, todo aquele que crê, tem a vida eterna, passou da morte
eterna para a vida eterna.

6. Podemos perder a salvação?

Esta é uma pergunta que gera muita discussão entre o arminianismo e o calvinismo: um lado diz
que podemos perder a salvação, enquanto o outro diz que não podemos perder a salvação. E você, o
que pensa sobre o assunto?

A salvação não é algo para se jactar de que nunca poderá ser perdida e, também, não é algo para
que se viva em agonia, com medo de perdê-la. A salvação é um presente para ser usufruído com
humildade, paz e esperança. Nós fomos salvos na cruz - “Está consumado” (Jo 19.30).

Estamos desenvolvendo a salvação em nossas atitudes (Fp 2.12) e seremos salvos eternamente (1Co
15.50-55). Conclui-se que a salvação nos é dada de graça, e todo o mérito é de Jesus.

Porquanto, pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem por
intermédio das obras, a fim de que ninguém venha a se orgulhar por esse motivo. (Ef 2.8)

Devemos ser agradecidos ao nosso Abba, e vivermos dignamente diante do Pai. A salvação, por ser
um presente, não legitima minhas atitudes erradas. Não podemos viver ao nosso bel prazer, satisfazendo
nossos desejos carnais, vivendo para si próprio e esperar que Deus nos salve. Jesus disse, em Mateus
24.13: “Aquele, porém, que continuar firme até o final será salvo”. Não podemos ignorar o que está escrito:
existe um continuar firme até o fim.

7. Conclusão

Fomos alcançados por tão grande salvação; o Pai está nos salvando constantemente de várias formas,
e somos convidados a viver uma vida de pessoas salvas. Ao salvo, Ele pede: “Ame a Deus e ao próximo”.

Quem não alcançou a salvação, não vive como Jesus viveu, não ama; e quem não ama, não conhece
a Deus e o amor do Pai não está nele. Quem é salvo, ama, o amor do Pai está nele.

Queres saber se estás salvo? Olhe para suas atitudes, examine-se a si mesmo. O fato é claro: a
25
salvação nos ensina a viver como seres salvos. Viva a salvação!

8. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________

26

1. Noções introdutórias

A fé é um tema muito importante para se estudar, um dos temas teológicos que, sendo aprendido
na sua essência, vai gerar muitas desconstruções intelectuais, pois a maioria das pessoas já tem plantado
dentro do seu ser uma forma particular ou conjunta de pensar e agir sobre a fé.

Hoje temos uma quantidade enorme de construções equivocadas em relação à fé; na verdade, todo
mundo, o tempo todo, confessa que tem fé. Um exemplo simples é a torcida de um time no estádio,
todos exercendo “fé’ de que seu time irá ser o campeão do campeonato. Os que não creem na mística
religiosa ou em alguma forma de divindade são chamados de “ateus”, e se autodenominam como pessoas
que não têm fé.

Será que os que acreditam em alguma mística religiosa possuem, mesmo, fé? E será que aqueles que negam essa
mística religiosa não possuem fé? Fé é acreditar em algo? Fé é exercer pensamento positivo sobre situações,
variáveis e circunstâncias adversas? Fé é cumprir os atos, ritos da liturgia religiosa da qual fazemos parte? Fé é
operar milagres? Fé é ir aos cultos?

São tantas perguntas relacionadas à fé que ficaríamos escrevendo páginas e mais páginas acerca
dessas dúvidas.

Os chamados “ateus”, que não acreditam em Deus, de fato, não acreditam mesmo, ou será que essa conclusão
ateísta diz muito a nosso respeito, de como pensamos sobre a fé, de como nos apropriamos da fé, de como vivemos
essa Fé? Quando o filósofo Nietzsche declarou que Deus estava morto, será que essa afirmação não era resultado
de um viver equivocado de fé que ele enxergava nas pessoas?

2. Senso comum sobre a fé

No senso comum (ou seja, no modo de pensar da maioria das pessoas), o Brasil é um país laico, o que
em outras palavras, é dizer que todo mundo é livre para acreditar em qualquer coisa, pode ser adepto
a qualquer religião (desde que esta não atinja os valores da Constituição Brasileira). A pessoa é livre
até para não acreditar em nada, e podemos dar graças a Deus pela laicidade brasileira, pois, com isso,
temos a liberdade de expressar nossa fé em qualquer ambiente.

Em Hebreus 11:1, temos um dos textos mais conhecidos e que, comumente, é usado como resposta
para que tem dúvida sobre a fé: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das
coisas que se não veem.”.

A grande massa absorve esse texto fora do seu contexto e o aplica sobre várias situações, das mais
simples até as mais insanas! Quem nunca ouviu aquele jargão dos atendentes das loterias: “daí, vamos
fazer uma fezinha?”, ou seja, fazendo uma aposta, a pessoa ficará em pensamento positivo, esperando

27
alcançar algo que ainda não é palpável.

No senso comum sobre fé, podemos, com certeza, dizer que a fé está intrinsicamente ligada à palavra
“acreditar”, como por exemplos, “eu tenho fé (acredito) que sairei desta situação”, “eu tenho fé (acredito)
que meu time irá ser o campeão”, “eu tenho fé (acredito) que serei bem sucedido financeiramente”.

Geralmente, essa fé está totalmente associada a acreditar em si mesmo, que se é capaz de conquistar
coisas grandes e maravilhosas, muito parecido com o pensamento antropocêntrico, que coloca o homem
como sendo o centro de tudo, e que seu prazer e sua satisfação é o que realmente importa. Isso revela
uma fé egoísta e individualista, pois para alguém ganhar, alguém tem que perder.

A verdade é que a fé está banalizada em nossa sociedade; ela é usada e se apropriada de maneira
totalmente equivocada. Montamos nossos planos, nossos projetos, e que aquele que é nosso objeto de
“fé”, ah, que “se lasque” para cumprir nosso objetivo, afinal de contas, temos fé, e a “fé move montanhas”!
Hoje temos até palestras de coachs que ensinam a se apropriar dessa positividade, negando toda e
qualquer outra situação que não esteja de acordo com o seu objetivo e plano, geralmente fazendo usos
de várias frases de efeitos, como: “você é capaz”, “libera o leão que existe dentro de você”, “você nasceu para
vencer”, “a resposta está dentro de você” e “Acredite, tenha fé”.

Temos também, no senso comum, a fé como crença religiosa; então, surgem as perguntas: “será que
aqueles que acreditam em alguma mística religiosa, possuem mesmo fé?”, “será que os que negam essa mística
religiosa não possuem fé?”, “fé é cumprir os atos, ritos da liturgia religiosa da qual fazemos parte?”, “fé é ir aos
cultos ou reuniões da minha crença (religião)?”.

A maioria das pessoas tem a certeza de que tem fé porque participam de uma religião, tem uma
crença; isto é imposto, na maioria das vezes, no ensinamento familiar, tradição religiosa familiar. Enfim,
o mundo vive nessa mentalidade, cumprindo dos atos litúrgicos, não faltando aos cultos, reuniões de
sua religião, afirmando para si mesmo que tem fé.

Na verdade, o que vemos com muita frequência é, praticamente, uma fé baseada em “sua fé”, pois se
produz um ritual, na fé de que se tornará uma pessoa de fé, fé na fé, fé na crença. Mas, a fé não é fé em si
mesma, fé na fé é crença, não fé; fé na fé é magica, não fé.

3. O que é a fé?

Vale ressalta aqui, antes de expor nosso comentário, que é impossível explicar a fé, não dá para criar
a fé; até pode ser possível se criar a crença. Mas fé não é obra do homem, é graça de Deus, aceita pelo
coração sem resistência.

Para Orlando Boyer, a fé pode ser definida como a “confiança na lealdade, no saber, na veracidade de
alguém.”

A fé, no senso comum, projeta um futuro baseado na vontade própria da pessoa que diz possuir esta

28
fé. No entanto, Orlando Boyer, conforme a citação acima, nos mostra um sentido mais consistente em
relação a fé.

Podemos usar um exemplo simples: uma pessoa lhe promete algo, e você conhece a pessoa que lhe
prometeu algo, sabe inclusive que a pessoa é de boa índole, bom caráter e que cumpre todos os
compromissos firmados; automaticamente, a sua confiança naquela pessoa será estabelecida sobre um
fundamento muito sólido, pois a pessoa que lhe prometeu algo tem motivos suficientes para provar que
irá cumprir a promessa. Logo, podemos dizer que temos fé nessa pessoa, pois essa fé não está baseada
em uma coisa rasa ou em algum sonho inalcançável.

Trazendo essa definição para o meio cristão, nós pronunciamos que seguimos a Jesus, que Ele é
nosso Mestre, e sabemos que Jesus é a pessoa mais leal que alguém pode conhecer, é a pessoa mais
verdadeira que existe, pois Ele é a verdade absoluta. Assim, quando falamos que temos fé em Jesus,
estamos falando que nossa confiança está na lealdade Dele, na veracidade Dele, e que tudo o que Ele
prometeu nas Escrituras Sagradas irá se cumprir fielmente em nossas vidas.

Então, um discípulo de Jesus, quando diz que tem fé, traz consigo esta afirmação: “Tenho confiança
Nele, pois o que Ele falou ou Fez é digno de confiança, e caminhamos sobre esse chão; confiança de que Ele é o
provedor de toda a minha vida.” Percebe-se aí a grande diferença entre a fé do senso comum e a fé
genuína, conforme o Evangelho de Jesus.

A palavra hebraica usada para fé, no Antigo Testamento da Bíblia, é “emûnãh”, que significa
fidelidade, firmeza, segurança. O teólogo R. C. Sproul afirma que “Na Bíblia, a definição mais fundamental
da fé está em Hebreus. Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.”

No senso comum, esse versículo cai como uma “luva”: “a fé é a certeza de coisas que se esperam, a
convicção de fatos que se não veem”; então, a maioria das pessoas responde às questões levantadas na
nossa introdução, baseada nessa pequena afirmação, tirada de um contexto totalmente diferente.

Fé é acreditar em algo? Fé é exercer pensamento positivo sobre situações, variáveis e circunstâncias


adversas? O senso comum responde: “Sim, fé é acreditar que vou ganhar uma casa (algo), que vou ganhar
um carro (algo), que vou conquistar dinheiro (algo); sim, fé é exercer pensamento positivo, pois isso demonstra
convicção de que vou conquistar todas essas coisas que ainda não vejo, mas acredito que alcançarei.”

A fé exposta e aprendida, lendo os evangelhos e as cartas do Novo Testamento, trazem um


significado de vida para aquele que absorveu a essência do Evangelho de Jesus. No senso comum, a fé
é uma ferramenta usada como objeto de solução para uma situação adversa. Geralmente, a fé na mente
do povo está associada à tribulação, ou seja, “tenha fé, você irá sair desta situação difícil.”

Quem absorveu a essência do Evangelho sabe que não precisa de tribulação, situação adversa ou
perseguições, para que sua fé seja ativada; não, isso morre, essas convicções rasas caem por terra, porque
exercemos nossa fé por meio de um relacionamento diário com o Pai Eterno. A fé não é algo que se
29
ativa “apertando um botão”! Sabe-se que ela está presente, pois é a via por meio da qual encontramos
Deus.

O contexto desse versículo da carta aos Hebreus encerra falando de Jesus. O texto exposto do
capítulo 11 fala de várias pessoas que, por meio da fé, realizaram grandes coisas no Reino de Deus,
pois tinham o foco em Deus.

No versículo 39, o escritor de Hebreus relata que todas “essas pessoas receberam bom testemunho por
meio da fé, no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido”; aqui já se desmonta um jargão no
meio cristão, de que se não alcançamos algo é porque faltou a fé.

A Bíblia dá o testemunho da fé dessas pessoas no capítulo 11 e, ainda assim. elas não conseguiram
alcançar a promessa. E que promessa era essa? A promessa era Jesus; Jesus, de fato, era o que eles
esperavam (e é o que nós esperamos hoje). Essa esperança produzia no coração deles uma convicção
de fatos que ainda não se viam, mas que no decorrer da história nós lemos que aconteceu, que Jesus
veio, que Jesus, a promessa, chegou; ainda que alguns não alcançaram essa promessa e outros sim, todos
tiveram fé!

4. Tipos de fé

4.1. Fé salvífica

A palavra grega usada para fé no Novo Testamento da Bíblia é “pistis”, que significa persuasão,
crença, convicção. O significado de fé no Novo Testamento tem seu foco principal na salvação eterna
do indivíduo.

Conforme discorremos anteriormente, Jesus é o objeto da fé; no Comentário Bíblico (Novo


Testamento) de Champlin, ele usa o termo “fé subjetiva” para expor a fé salvífica. Champlin define que
a fé subjetiva é o “meio” da justificação (Rm 5. 1: “Portanto, havendo sido justificados pela fé, temos paz
com Deus, por meio do nosso Senhor Jesus Cristo.”).

O processo de salvação começa com a persuasão do Espírito Santo na vida do ser humano,
convencendo-o do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.7-11). Após esse convencimento, o homem
descobre que para ele é impossível ser salvo por suas próprias forças; que ele é incapaz de agradar a
Deus (Ef 2.8).

Então, o indivíduo decide caminhar, ou não, sobre este chão chamado Evangelho de Jesus; se houver
decisão dele em se entregar a esse convencimento do Espírito Santo, significa que, de fato, ele passou
a crer na obra de salvação feita por Cristo em sua vida, depois de justificado.

Champlin afirma, também, o início da obra de santificação, até findar na glorificação. A fé salvífica
é o homem crendo que Jesus, de fato, entregou-se pela humanidade perdida em seus próprios pecados.
Essa fé não nos pode faltar, pois é meio pelo qual encontramos Deus.
30
Quando a Bíblia afirma que sem fé é impossível agradar a Deus, está se referindo a esta fé; se você
não tiver a fé em Jesus, com certeza não agradaremos a Deus.

4.2. Fé como um dom

Depois que o homem, pela fé, começa o processo de salvação crescente; ele começa a desfrutar do
Reino de Deus. E, nesse Reino, temos dons (talentos, capacitações) que são distribuídos pelo Espírito
Santo conforme Ele quer (1Co 12. 11).

Em 1 Coríntios 12. 9, Paulo ensina que a fé também é dada como dom para cristãos que já têm a
fé salvífica em sua vida; a fé da salvação é para todos aqueles que creem, mas a fé como dom não é pra
todos; só terá essa fé quem o Espírito Santo decidir ter, pois se trata de um dom.

Então, poderíamos dizer que a fé opera milagres quando se trata de dom? Não necessariamente!
Temos o dom de curar e o dom de operar maravilhas; então, não podemos definir a fé como dom
(talento) apenas para operar milagres; seria um reducionismo fazer isso.

A fé como dom trata da possibilidade de discernir os propósitos de Deus para o futuro, mesmo que
as situações sejam desfavoráveis. Tem relação com a pessoa que persevera naquilo que acredita ser a
vontade de Deus para realizar.

Um exemplo bem simples dessa fé que podemos usar é a pessoa do nosso pastor Telmo Martinello;
podemos afirmar, com convicção, que ele possui esta fé como dom. Quem o acompanha desde o início
do Ministério Abba Pai, sabe de que tudo o que está acontecendo hoje, como realidade concreta, já
tinha acontecido no coração dele há muito tempo, acreditando ser esta a vontade de Deus.

Vale ressaltar que todo dom que o Espírito Santo concede aos cristãos é para edificação da igreja
(salvo o dom de línguas, quando não acompanhado de interpretação). Assim, o dom é para servir ao
próximo, ajudar os mais fracos; por meio dos dons, trazemos maturidade à igreja.

Então, essa fé também difere, em muito, da fé do senso comum, pois a fé do senso comum é egoísta,
tem a ver com si próprio, enquanto o dom da fé não é egoísta, antes é usado em prol do próximo, para
servir alguém. Se alguém disser que tem o dom da fé, ótimo! Sirva alguém por intermédio desse dom!

4.3. Fé morta

A fé. por si só, não é morta; a fé é, e ponto final! Mas alguém que diz a possuir, pode matá-la em
seu ser; pode-se dizer “tenho fé” (a fé relacionada à fé salvífica), mas essa fé pode não operar nada na
vida da pessoa que diz possuir tal fé.

Tiago, em sua carta, no capítulo 2, vai definir que a fé, se não vier acompanhada de boas obras, é
morta; ou seja, não basta verbalizar que se tem fé, a fé em Jesus deve estar acompanhada das mesmas
obras que Ele mesmo praticou.

31
O texto em destaque ainda questiona, dizendo que do que adianta despedirmos o próximo com
necessidade e não fazer nada para resolver essa necessidade? Tiago elenca isso como uma fé morta, sem
vida, que não produz nada na vida de ninguém.

Paulo ensina em Efésios 2.8-9 que a salvação é um dom de Deus, alcançado pela fé em Jesus, e ainda
afirma que esta salvação não veio de obras humanas. Mas Tiago afirma que é impossível dizer que
temos tal fé e ainda assim não produzirmos as boas obras do Evangelho. Em suma, as boas obras do
Evangelho só confirmam, de fato, que temos a fé genuína em Jesus.

5. Conclusão

Concluímos que qualquer pessoa pode obter e ter fé natural, afinal, segundo a Bíblia, até os demônios
creem que Deus existe. A fé no senso comum é banal, egoísta e individualista; a fé para a salvação não
se pode criar, pois vem de Deus; a fé, como dom, nem todos terão. Mas, aquiete seu coração, pois o
Espírito Santo dá a cada um como quer, e esse dom deve servir à comunidade cristã num todo. Que
possamos tomar cuidado para não estarmos hospedando uma fé morta, baseada simplesmente em
discursos.

6. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________

32
AMOR

1. Considerações iniciais

Muitos dizem que é possível reconhecer o amor como algo que oferece prazer e realização pessoal
para as pessoas. Para muitos o amor pode significar apenas afeição, compaixão, querer bem, desejo e
paixão. Mas, na verdade o que é amor? Será apenas um sentimento, que vai e vem, ou será algo mais?
A Bíblia diz que o amor é algo muito poderoso, que muda a forma como vivemos e nos relacionamos
com outras pessoas.

2. Amar não é ter um sentimento

Aquele que não ama não conhece a DEUS; porque DEUS é amor. (1Jo 4:8)

O amor é uma escolha e não um sentimento ou uma reação natural. Reações naturais são aquelas
praticadas como consequência natural de algum outro fato anterior.

Por exemplo: comer é uma reação natural (a pessoa come quando tem fome), dormir é uma reação
natural (a pessoa dorme quando tem sono), respirar é uma reação natural (os órgãos respiratórios
naturalmente funcionam objetivando a respiração, como uma espécie de auto defesa contra a falta de
ar), etc.

Já o amor esperado por Deus é uma escolha que independe de circunstâncias ou do que outras
pessoas façam. Gostar, porém, é muito diferente de amar, pois amar é dar-se, doar-se, é despender
tempo com alguém: quanto mais tempo você empregar em algo, mais amor terá por isso o gostar, por
sua vez, tem uma conotação de julgamento e semelhança, sendo uma relação baseada em trocas e
conveniências. O grande desafio do homem é viver a sua vida em amor, ou seja, amar até quem não
lhe ama.

No grego antigo, existiam sete palavras para expressar amor. Destacaremos as três mais utilizadas:

• Amor Philéo: é o amor-amizade. Esse amor é aquele que demonstramos aos nossos irmãos
e pais.

• Amor Eros: é o desejo sexual entre um homem e uma mulher.

• Amor Ágape: é o amor que caracteriza Deus. Trata-se do amor que Deus tem por nós, um
amor leal, firme e fiel. Não importa o que o homem faça, o amor de Deus não aumentará e
não diminuirá, simplesmente continuará o mesmo, ou seja, eterno, infinito e imensurável. É
um amor tão grande a ponto de ser sacrificial:

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele
crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (Jo 3:16)

33
3. O amor que vem de deus

Ao falarmos do amor de Deus, estamos nos referindo a um amor santo e, para cumprirmos o grande
mandamento de amar nossos inimigos, precisamos viver na ação do Espírito Santo e não na da carne.
Ver 1Co 13.

Esse amor não vem naturalmente após a nossa conversão a Jesus Cristo, mas precisa ser conquistado
com luta e perseverança durante a nossa caminhada com Deus. A nossa vida aqui na Terra é passageira
e toda profecia, palavra, cura, milagre, embora sejam tremendos, um dia desaparecerão, pois são armas
atuais que Deus nos dá. Contudo, o amor é maior que todos os outros dons e somente ele permanecerá,
pois quando chegar o dia veremos ao Senhor face a face. Isso faz-nos concluir que assim como Deus,
o amor também será eterno.

O amor é tão importante em nossas vidas que Jesus resumiu todos os mandamentos em apenas dois:
conforme Mateus 22:34-40.

O amor leva-nos automaticamente ao cumprimento de todos os demais mandamentos e leis do


SENHOR. Nós temos de amar a todas as pessoas, mas JESUS estabeleceu uma sequência (um ranking):

• 1º lugar - Deus

• 2º lugar - Próximo

Ver 1Jo 4:7-21

4. Amor a Deus

Precisamos amar a Deus em primeiro lugar porque é Dele que vem o nosso suprimento e capacitação.
Se amarmos as pessoas acima de Deus, poderemos tropeçar, decepcionar-nos a qualquer momento, pois
todos nós, sem exceção, somos falhos.

Quando amamos ao Senhor acima de todos e de tudo, recebemos grande proteção e livramento,
além de sermos cheios pelo Espírito Santo. O amor é uma atitude que constrange as pessoas, pois o
mundo não está acostumado a isso; o amor de Deus, então, constrange-nos a tal ponto de não mais
suportarmos a sujeira em nossa vida.

Se um dia suportarmos viver sem Deus, algo estará errado e o melhor será revermos os nossos
valores. Sem doação de tempo não existe amor verdadeiro e essa doação pode ser feita através de uma
oração, leitura da Palavra, escrevendo uma carta para quem se ama, telefonando etc. O homem precisa
criar uma determinada disciplina em seu relacionamento com Deus, investindo e administrando o
tempo que tem, para que consiga crescer em amor com Ele.

Doar tempo para Deus é diferente de fazer a obra Dele, pois podemos trabalhar para Deus sem,
contudo, estarmos efetivamente com Ele, o que nos torna pessoas frias, duras e secas. Maior é a obra

34
que Deus vai fazer na nossa vida do que a obra que Deus vai fazer Através de nossas vidas. Esse tempo
que Deus quer de nós é algo íntimo e pessoal; momento em que seremos cheios, em que Ele encherá
nossos copos e jarras, para que possamos distribuir esse mesmo amor ao mundo.

Deus entregou os mandamentos ao homem para que fossem cumpridos e eles são Ordens de Deus;
o primeiro deles é para que amemos a Deus acima de todas as coisas.

Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. (Dt
6:5)

Amar a Deus nos faz:

• Corresponder ao seu amor: o amor passa a fazer parte de ambos os lados do relacionamento.
O homem passa a corresponder o amor transmitido originalmente por Deus. Pelo fato de
Deus ter nos amado primeiro, somos capazes de amar a Deus e também as pessoas.

Nós amamos porque Ele nos amou primeiro. (1Jo 4:19)

• Ser conhecido por Ele: quando o cristão expressa o seu amor a Deus, ele desfruta de uma
intimidade profunda com Ele.

Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele. (1Co 8:3)

• Receber livramento: há uma promessa de livramento para aqueles que amam a Deus.

Porque a Mim se apegou com amor, Eu o livrarei; pô-lo-ei a salvo, porque conhece o meu nome. (Sl
91:14)

• Viver o propósito de Deus: quando amamos ao Senhor acima de todas as coisas, qualquer
que seja a situação que estivermos enfrentando, teremos a convicção de que ele está no
controle de tudo.

Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito. (Rm 8:28)

• Ser obediente: como resultado do nosso amor a Deus, desenvolvemos uma profunda
obediência a Ele.

Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. (Jo 14.15)

Aqui está um versículo chave para o entendimento do que é amar a Deus: aquele que
verdadeiramente o ama, coloca-o sobre tudo e todos, fazendo exatamente o que Ele deseja e isso sempre
com obediência e humildade.

5. Amor ao próximo

Amar o próximo é o segundo mandamento que Deus deu ao homem, sendo igualmente necessário

35
destinar-lhe tempo e demonstrar a importância deste em sua vida.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Mt 22:39)

6. Amar a si mesmo

Ver Mc 12:31 e Lc 6:31.

Muitas vezes não conseguimos amar o nosso próximo e nem a Deus porque não temos amor por
nós mesmos.

Só podemos dar o que temos: se não temos amor por nossa própria vida, não podemos amar os
outros. O primeiro passo é receber o grande amor de Deus e a cura para toda enfermidade da alma.

Não existem condições para o amor de Deus. Todo cristão é um pecador incondicionalmente amado
por Deus. Não se deve condicionar o amor de Deus às ações humanas, mas quando o cristão reconhece
e aceita esse fato como real, entra na esfera do amor de Deus, tornando-se igualmente amoroso.

O amor a Deus, ao próximo e a si mesmo, são derivados do próprio amor de Deus. O amor de Jesus
deve ser nossa motivação de vida e principal característica, para que possamos realmente seguir a
Cristo, pois é incrível o que Deus fez por nós, a prova de amor que Ele nos deu: você ofereceria a vida
de seu filho por outro homem?

Motivado por amor, Deus, mesmo sem ter obrigação nenhuma, optou em ofertar o Seu Filho para
nos salvar, oferecendo-o a todas as pessoas, quer elas aceitem esse

Sacrifício ou não. Que em nossas vidas manifeste-se o amor a Deus, ao próximo e a nós mesmos.

7. Conclusão

Aprendemos que o amor, em Deus é a mola propulsora de todas as decisões. Deus nos ama de forma
profunda, intensa, calorosa e demonstrou isso no nascimento, na vida, no ensino, na morte e na
ressurreição de Jesus. Qual a importância desse amor na sua vida? Que lugar ele ocupa? Como ele tem
impactado você?

8. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
36
PERDÃO

1. Introdução

Ao SENHOR, nosso DEUS, pertence a misericórdia e o perdão. (Dn 9:9)

A capacidade de perdoar e ser perdoado vem de Deus, e não de nós. É por meio da força de Deus,
e não da nossa, que conseguimos viver o perdão.

O perdão é algo obrigatório na vida de todo cristão e, para caminharmos com Jesus, devemos passar
pelas experiências de sermos perdoados e de perdoar. Esse processo ocorre em nosso dia a dia, dentro
e fora da igreja; talvez ocorra, principalmente, dentro dela. Justamente por isso. precisamos viver o
perdão, pois, caso contrário, correremos o risco de sermos como ciganos de denominações, pulando de
igreja em igreja, permanecendo em uma até que alguém nos fira.

2. A cruz, expressão máxima do perdão vertical e perdão horizontal

Para andarmos com Deus, precisamos ter os pecados e erros perdoados por Ele, o que chamamos
de perdão vertical, entre Deus e o homem; é onde o perdão se inicia.

Ao sermos perdoados por Ele, temos de perdoar ao próximo, como uma extensão do perdão
recebido, quer sejam nossos filhos, amigos, parentes, inimigos, conhecidos ou não; isso é o que Deus
espera que façamos e ao que denominamos perdão horizontal, entre nós e o próximo.

Já imaginou se Deus nos perdoasse uma vez por ano? Isso geraria um distanciamento entre Ele e
nós por 364 dias e um único dia em sua presença. Dessa forma, o perdão deve ser um costume, um
hábito nas nossas vidas; afinal, Deus nos perdoou para que perdoemos ao próximo e vice-versa. Ver Cl
2:13-15.

3. Cancelamento de dívida - “cadastro positivo”

O texto anterior, em Colossenses, diz que os nossos pecados nos mataram espiritualmente, até que
Jesus se ofereceu para quitar a nossa dívida, pegando nossa ficha criminal com toda a relação de nossos
pecados, usando Seu sangue como moeda espiritual, rasgando o escrito de dívida contrário a nós,
tornando-nos inocentados por meio do seu sacrifício de sangue.

Tudo isso, claro, por meio do perdão de Deus. Jesus perdoou todos os nossos delitos ao colocá-los
diante do único juiz e assumindo a sentença de morte que merecíamos. Ele não cumpriu uma pena de
serviços sociais, pois isso deixou para que Sua Igreja faça; antes, cumpriu a pior pena possível: a de
morte, com tortura física, mental e espiritual. A pena que caberia a nós foi a que Ele assumiu ao resolver
nos perdoar.

Quando Jesus derrotou Satanás na cruz, automaticamente lançou nas profundezas do mar toda a
nossa dívida de pecados, além de triunfar e ridicularizar Satanás por todas as gerações. Ver Mq 7:19.
37
4. O coração enganoso

(Salmo 139:23-24) O verbo sondar não se refere a algo superficial; a sonda, na verdade, vai até
aonde os olhos não conseguem enxergar, penetrar. Por isso, o rei Davi, o homem segundo o coração
de Deus, pedia constantemente para que o Senhor o sondasse, a fim de verificar o mais profundo do
coração, aquela região extremamente escondida, oculta, que nem ele mesmo imaginava existir.

Nossa oração também precisa ser assim; e, além disso, deve ser detalhada, dando-se nomes aos
pecados: letra A: adultério; letra B: brigas; letra C: ciúmes; letra D: desobediência, etc., pois quando
damos nomes aos pecados e pedimos perdão a Deus, conseguimos ver a gravidade deles e o
arrependimento genuíno vem sobre nós. Isso gera mudança de atitude; assim, conseguimos resistir o
cometimento dos mesmos erros.

Davi era conhecido como o homem segundo o coração de Deus, pois suas motivações O agradavam.
Jó era outro exemplo disso.

5. A prática do perdão sobre 4 pontos

O cristão precisa viver diariamente o perdão em sua vida. Viver o perdão consiste em quatro pontos:

1. Ser perdoado por Deus;

2. Perdoar a si mesmo;

3. Liberar perdão ao próximo;

4. Pedir perdão ao próximo.

5.1. Ser perdoado por Deus

Deus anseia nos perdoar; muitas vezes, porém, não conseguimos aceitar. Jesus não escondeu nossos
pecados ou deixou-os em algum lugar secreto para um dia trazê-los à tona, mesmo porque Ele não
oculta, ameniza ou os adia; Ele, simplesmente, removeu todos os nossos pecados e cravou-os na cruz
através do seu sacrifício, tirando-os em definitivo de nossas vidas. Ver Jo 1:29.

Confessando ou não um pecado, Deus sempre sabe de tudo que fizemos ou fazemos; portanto, a
decisão é nossa: se quisermos ser perdoados, vivermos e sermos curados, precisamos confessar os
pecados; se não o fizermos, porém, continuaremos escravos do inimigo e não receberemos perdão. O
homem até consegue, por algum tempo, esconder seus pecados não confessados dos outros, seja de seus
líderes, pastores, irmãos ou ovelhas. Devemos saber, no entanto, que esse tempo um dia termina. Deus
conhece cada uma de nossas falhas e limitações e é por isso que Ele tem tido paciência e misericórdia
conosco. Ver Tg 5:15-16.

38
5.2. Perdoar a si mesmo

Muitas pessoas, mesmo reconhecendo seus erros e sabendo que Deus perdoa, por não conseguirem
se perdoar, carregam fardos pesadíssimos, ao cobrarem de si mesmas uma perfeição absurda. Se Deus
já nos perdoou, precisamos aceitar isso como um presente, e não ficar nos culpando pelos erros
passados. Ver At 17:30.

Se Cristo já nos perdoou e pagou o salário de morte pelo nosso pecado, não temos o direito de não
nos perdoarmos, afinal, quem somos nós? Se Jesus, que teria motivos coerentes e suficientes para não
nos perdoar, escolheu fazê-lo, isentando-nos da culpa, então nossa obrigação como cristãos passa a ser
a de cooperar com Deus e, assim, nos perdoarmos também. Quando não aceitamos o perdão dado por
Deus, desprezamos o sacrifício de Jesus.

5.3. Liberar perdão ao próximo

Mateus 6:12-15

Acumulamos experiências que vivemos ao longo de nossa vida, sejam elas boas ou ruins. As boas
devem ser guardadas, desfrutadas e relembradas, a fim de gerarem motivação. As ruins, por sua vez,
devem ser entregues urgentemente a Deus, acompanhadas de um pedido para que Ele ensine o que, de
bom, poderá ser aprendido com elas; não podemos, jamais, guardá-las no coração. Contudo, há pessoas
que vão acumulando mágoas, guardando cada frustração vivida e cada ferida causada em sua alma.

Nosso corpo é o tabernáculo; é a casa onde Deus habita por meio de seu Espírito. Dessa forma,
podemos comparar nosso corpo a uma casa, composta por vários cômodos, em que os olhos podem ser
a entrada dela, por exemplo, e o coração, um lugar secreto da casa, aquele quarto da bagunça que só o
dono tem a chave.

Concluímos, então, que o coração não é uma área comum da nossa casa, onde todos têm livre acesso;
é, porém, um cômodo secreto e profundo que temos. Apenas Deus sonda e conhece o meu e o seu
coração e, se o Espírito Santo não nos alertar, nosso coração tende a nos enganar.

5.4. A escolha certa: perdoar

Há uma diferença enorme em dizer “se eu consigo perdoar” ou dizer “se eu quero perdoar”. Deus
não quer saber se conseguimos, pois a resposta Ele já conhece; na verdade, Ele quer saber se nós
queremos e estamos interessados em perdoar, porque é somente na força Dele que torna isso
verdadeiramente possível. Ao abrirmos nosso coração para a transformação, Deus imediatamente nos
ajuda, pois Dele vem o perdão e a misericórdia. Já vimos em Daniel 9:9 que a misericórdia e o perdão
pertencem a Deus. Ver Mt 18: 23-35.

Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem.
Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós. (Cl 3:13)
39
Ter compaixão é se colocar no lugar da pessoa, é sentir sua dor, angústia e dificuldades. Quando
Jesus morreu na cruz, Ele tomou o nosso lugar, pois éramos nós quem merecíamos a morte, e não Ele.

De nada adianta dizermos que perdoamos e que está tudo bem, quando, na verdade, não podemos
nem ouvir falar da outra pessoa; dissemos querer distância e ainda que Deus vai pesar a mão sobre ela;
isso não representa o perdão, uma vez que a motivação do perdão deve ser o amor e a misericórdia.

O perdão começa no coração; por isso, se ele estiver com amargura, devemos aceitar que isso é um
problema real e confessar a Deus; em seguida, temos de querer a cura, pedir perdão a Deus, e liberar o
perdão à outra pessoa envolvida.

5.5. Pedir perdão ao próximo

Mateus 5:23-26

Se você sabe que existe algo que seu irmão tenha contra você, alguma coisa que tenha feito que o
feriu ou magoou, você deve ir até ele e pedir perdão, pois Jesus nos ensina isso e não pode haver
diferença entre irmãos. As diferenças existentes entre seu próximo e você podem ser usadas como uma
brecha no mundo espiritual, retendo as bênçãos e causando danos contra ambos.

6. Conclusão

O perdão começa no coração e dá-se através das seguintes etapas:

• Aceitar a existência de um problema real;

• Arrepender-se e confessar esse problema a Deus;

• Querer a cura e pedir perdão a Deus por esse problema;

• Receber o perdão de Deus;

• Liberar o perdão ao próximo e/ou pedir perdão ao próximo.

7. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
40
DISCÍPULO

1. O que é um discípulo? O que é um talmid?

Na Galileia do tempo de Jesus, os meninos em Israel iniciavam seus estudos da “Torah” aos 6 anos
de idade. Aos 10 anos, já tinham a “Torah” decorada.

O ensino era, geralmente, oferecido por um rabino na sinagoga. Após os 13 anos, somente os
melhores entre os melhores permaneciam estudando, geralmente aos pés de um rabino famoso e
respeitado. Os outros seguiam a profissão das famílias. Esses pouquíssimos meninos da elite intelectual
de Israel eram chamados “talmid”, que traduzido significa “discípulo”.

Os rabinos daquela época se distinguiam na maneira de interpretar e ensinar como aplicar a Lei de
Moisés. Cada rabino possuía seu conjunto de regras e interpretações. Por exemplo, discutiam o que
poderia ou não ser feito para guardar o shabat. Esse conjunto de regras e interpretações era chamado
de “o jugo do rabino”.

Hillel e Shamai, por exemplo, eram dois rabinos famosos no tempo de Jesus. Cada um deles tinha
seus “talmidim” (discípulos) e muitos seguidores que se colocavam sob seu jugo, sua interpretação. A
relação entre um rabino e seus talmidim era intensa e pessoal.

Em Israel havia uma recomendação aos talmidim: “Cubra-se com a poeira dos pés do seu Rabi”. Ele
andaria tão perto do seu mestre que a poeira que saia das sandálias dos seus pés o cobriria. Isso
significava que um talmid deveria observar tudo quanto o seu rabino dizia, fazia e a maneira como
vivia, pois sua grande ambição não era meramente saber o que seu rabino sabia, mas principalmente se
tornar semelhante ao seu rabino.

A relação rabino-talmid era intensa e pessoal, e enquanto o rabino ensinava sua interpretação da Lei
e vivia como modelo aos olhos de seus talmidim, cada talmid fazia todo o possível para, em tudo, imitar
seu rabino de tal maneira a que se tornasse igual a ele.

2. As diferenças entre os discípulos de Jesus e os discípulos de um rabino

O conceito de talmidim é um dos mais fundamentais do Novo Testamento. Jesus, o Cristo de Deus,
escolheu o sistema rabino/talmid para se relacionar com os seus seguidores. Assim como os rabinos de
sua época, Jesus também chamou seus talmidim. No entanto, com duas diferenças. Vejamos.

A primeira é que Jesus criticou os rabinos contemporâneos de sua época, afirmando que colocavam
um jugo pesado demais sobre seus seguidores, e que eles mesmos não conseguiam suportar. Eram
rabinos do tipo “faça o que digo, mas não faça o que eu faço” (Mt 23). Jesus, além de viver de modo
absolutamente coerente com seu ensino, oferece descanso aos talmidim dos outros rabinos, que viviam
cansados e sobrecarregados, e promete aos seus talmidim “um jugo suave e um fardo leve”. Mt 11:28-30.

41
A segunda diferença é que os talmidim em Israel eram meninos extraordinários, uma elite intelectual
e privilegiada. Mas Jesus convida a todos, indistintamente, para que se tornem seus talmidim.

Mateus, coletor de imposto e Pedro, um pescador, são exemplos de que o parâmetro para ser um
discípulo de Jesus era diferente dos mestres e rabinos de Sua época. Pessoas comuns, como você e eu,
podem seguir a Jesus e viver sob a promessa de que um dia se tornarão iguais a ele.

3. O processo de um discipulado

Jesus ensinou aos seus discípulos em três anos de intensa convivência. O convite de Jesus à salvação
é para todos e o discipulado é para poucos, pois exigem renúncias não só de coisas proibidas, mas
também de permitidas.

Então Jesus disse aos seus discípulos: ‘Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua
cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por minha causa, a
encontrará. (Mt 16:24-25)

Seguir a Jesus exige tomar a cruz, e tomar a cruz implica em renúncia, desconforto, humilhação.
Permanecer e perseverar são duas palavras chaves do processo de discipulado; sem elas, não
conseguiremos segui-lo. Um discípulo precisa permanecer no que Ele disse e perseverar em dias de
deserto.

As únicas promessas são que “Ele sempre estará conosco” e “Aquele que começou a boa obra é fiel para
concluí-la”.

Bem-vindo ao discipulado! Bem-vindo às renúncias! Bem-vindo aos processos! Bem-vindo ao Reino


de Deus!

4. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________

42
PECADO

1. Introdução

O homem, em sua natureza, foi corrompido pelo pecado; entender essa questão é de enorme
importância. Muitas pessoas não têm conhecimento da realidade do pecado em suas vidas, vivem
conforme seus impulsos, fazendo todo tipo de mal ao seu próprio ser; mas, para eles, esse é o fluxo
normal da vida.

Afinal, o que é o pecado? Qual sua origem? Por que o ser humano peca? Quais suas consequências?
O Cristão regenerado pode pecar?

2. O que é o pecado?

Elienai Cabral1 explica que, dentro da Teologia, a doutrina do pecado é identificada como
“hamartiologia”; o sentido etimológico desta palavra, no grego, é definido por dois termos: “hamartia” e
“logos”, que significam juntas “estudo acerca do pecado”.

Segundo o autor, o termo “hamartia” tem, na sua etimologia grega, o sentido de “errar o alvo”.
Portanto, o estudo acerca do pecado, como ato, estado ou condição, sugere que o pecado é “um desvio
do fim (ou modo) estabelecido por Deus”.

O pecado não é simplesmente algo que fazemos exteriormente; o pecado revela quem, de fato, somos.
Isso está impregnado em nossa essência: eu sou pecador porque pequei, eu peco porque sou pecador;
trata-se de quem eu sou.

Eu sou pecador; o negar “o eu” que Jesus nos manda praticar é negar, justamente, essa essência
pecaminosa que faz parte de quem somos. Mas só uma regeneração pelo sangue de Jesus para
começarmos nosso processo de justificação diante do Pai.

3. Origem do pecado

Embora sendo Deus o criador de todas as coisas, o pecado não teve sua origem em Deus, pois em
Deus não habita a maldade, a santidade é sua essência. Ver 1Pe 1: 15-16 e 1Jo 1.5.

A priori, o diabo era um anjo de luz criado por Deus (Ez 28.12-14). Na teologia cristã (embora
muitos estudiosos discordem sobre o assunto), entende-se que o pecado teve sua origem em Satanás
(Ez 28.15): “Naquele tempo eras perfeito e irrepreensível em teus sentimentos e atitudes, desde o dia em que
foste criado, até que se observou malignidade em ti.”

João diz que o “diabo peca desde o princípio” (1Jo 3.8). Concluímos, então, que o pecado (desvio do
padrão estabelecido por Deus) teve sua origem no diabo. Sobre a origem do pecado, há várias teorias;

1
Acesso em 04/03/2020: http://www.cpadnews.com.br/blog/elienaicabral/fe-e-razao/1/a-doutrina-do-pecado.html%3E.
43
mas, o fato esclarecido nas Escrituras é que o pecado não teve a origem em Deus, pois tudo que Deus
criou é bom (Gn 1.31).

O texto de Isaias deixa muitas pessoas confusas em relação ao mal. O profeta afirma que Deus cria
o mal: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.” (Is
45.7). No entanto, esse mal não está se referindo ao pecado original, de que Deus criou o pecado; esse
mal que Isaias menciona são as circunstâncias adversas da vida; o que, para nós, é visto como mal, para
Deus é simplesmente um processo pelo qual devemos passar e amadurecer na fé.

4. Então o homem pecou...

Deus também criou o homem e a mulher em sua plenitude, e os colocou em um jardim chamado
Éden, estabelecendo um padrão de vida para o ser humano (um padrão diferente do nosso, pois o ser
humano não conhecia o pecado).

Deus fez questão de pôr um limite para Adão e Eva: “Contudo, não comerás da árvore do conhecimento
do bem e do mal, porque no dia em que dela comeres, com toda a certeza morrerás!” (Gn 2.17). A mulher foi
convencida pela serpente (o diabo) a desobedecer ao mandamento de Deus, e comeu do fruto da árvore
do conhecimento do bem e do mal, convencendo Adão a provar da desobediência.

Sendo assim, o homem foi corrompido em sua essência (o homem pecou) (Gn 3.1-7). Paulo escreve
em Romanos 5. 12 esse fato: “Concluindo, da mesma forma como o pecado ingressou no mundo por meio de
um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte foi legada a todos os seres humanos, porquanto todos
pecaram”.

O legado de Adão para toda a humanidade foi o pecado, de modo que todos quantos nascem, nascem
debaixo da maldição do pecado.

5. Consequências do pecado

O pecado, antes de ser um ato externo, é também gerado e praticado em nossa consciência, ou seja,
não preciso externar o pecado para consumá-lo, sendo que posso consumá-lo na minha interioridade.
Ver Mt 5.21-22.

5.1. Morte física

Uma consequência do pecado é a morte física. Deus anunciou essa sentença logo após Adão pecar:
“Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que voltes ao solo, pois da terra foste formado; porque tu és pó
e ao pó da terra retornarás!” (Gn 3.19).

Quando Deus diz a Adão que ao pó ele deve retornar, está se referindo à morte física, a qual todos
nós estamos sujeitos; percebe-se, claramente, que essa sentença é fruto da desobediência de Adão para
com Deus. Acreditamos que Deus criou o homem eterno, mas que esse perdeu a eternidade por causa

44
do seu pecado.

5.2. Morte espiritual

O pecado, em sendo praticado, gera morte. Em Romanos 6.23, Paulo escreve que “o salário do pecado
é a morte”; tudo o que plantamos, colhemos; e, se plantarmos o mal, certamente colheremos o mal.

Essa morte pode ser física, dependendo do pecado; mas, a morte a que Paulo se refere é a espiritual.
Embora vivos em corpos mortos espiritualmente, estamos vivos para exercer o relacionamento com
Deus.

Adão e Eva, depois de consumar o pecado, colheram a morte espiritual, ou seja, perderam a
intimidade que possuíam com Deus diariamente. Ver Gn 3.16-24. Eles foram banidos do jardim, do
lugar secreto, da intimidade, da eternidade, e a humanidade colhe até hoje esse maldito legado do
primeiro homem.

Quando mencionamos morte espiritual, estamos nos referindo ao estado de vida de uma pessoa; o
estado de vida é morte, o espírito que dá vida ao corpo vive; porém, vive só para este corpo, pois a
morte é um estado espiritual do ser humano, que deixa o relacionamento com Deus inviável de
acontecer.

Ele vos concedeu a vida, estando vós mortos nas vossas transgressões e pecados. (Ef 2.1)

(...) deu-nos vida com Cristo, estando nós ainda mortos em nossos pecados, portanto: pela graça sois
salvos! (Ef 2.5)

C. H. Spurgeon bem sabia da situação do ser humano, tanto que escreveu: “Quando falarem mal de
você, não fique chateado, pois você é muito pior do que eles pensam”. Somos piores, sim, justamente por essa
condição que habita nossa essência, o pecado. Ver Rm 3.10-18.

5.3. Morte eterna

Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. (Rm 3.23)

O ser humano caminha para a perdição eterna; o pecado habita o ser humano Aquele que não
encontrar a Graça da salvação, estará perdido eternamente; viveu afastado do Abba nesta terra, e viverá
afastado Dele por toda a eternidade.

O pecado levará o ser humano a sofrer a segunda morte, que será o afastamento eterno de Deus.
Ver Ap 20.14-15 e Ap 21.8.

6. O cristão e o pecado

A pessoa que creu em Jesus recebeu salvação e purificação de seus pecados; passou de inimigo para
amigo de Deus, de condenado para justificado, tudo mediante o sangue de Jesus.

45
Mas, o crente está livre do pecado? Não!

Se declaramos que não temos pecado algum enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. (1Jo
1.8)

O pecado é nossa essência; somos pecadores, por isso pecamos. Quem crê, deixa de ser escravo do
pecado; o pecado não o domina mais. Mas, é impossível não pecar! Só um foi capaz de não pecar: Jesus.
Ver Hb 4.15.

O discípulo de Jesus tem que estar em constante “lavagem” (Palavra, oração, comunhão com o Pai).
O apóstolo João também afirma, em sua 1ª carta, no capítulo 2: “Caros filhinhos, estas palavras vos escrevo
para que não pequeis. Se, entretanto, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; Ele é a
propiciação pelos nossos pecados e não somente por nossas ofensas pessoais, mas pelos pecados de todo o mundo.”

No livro de Apocalipse, o mesmo João também escreveu no capítulo 22.14: “Bem-aventurados todos
os que lavam as suas roupas no sangue do Cordeiro, e assim ganham o direito à árvore da vida, e podem
adentrar na Cidade através de seus portais.”

Note que a palavra “lavam” está no presente; isso indica que o discípulo que irá desfrutar de uma
vida eterna com o Abba é aquele que está em constante purificação e sua mente está concentrada nas
coisas do céu, aonde habita a verdadeira vontade do Pai.

7. Conclusão

O sentido de pecado, no Reino de Deus, é muito mais do que simplesmente fazer ou praticar algo
errado.

Poderíamos usar um exemplo simples: como um membro que foi amputado do corpo e que, por si
próprio, não é capaz de sobreviver. Longe de sua fonte de energia, logo morrerá. Viver sob o jugo do
pecado é dizer ao nosso Abba que não precisamos Dele para viver; é estar longe da fonte de vida que
nos mantém vivos.

O pastor Ed René Kivitz define bem essa realidade2:

“Pecado é uma opção pela autossuficiência que gera em nós uma ilusão de potência e faz–nos desperdiçar
recursos como se fossem inesgotáveis, fazendo–nos descer a ladeira até a desumanização. Pecado anestesia.
Pecado ilude. Pecado drena. Pecado bestializa. Pecado desumaniza.”

8. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________

2
Acesso em 04/03/2020: https://caminhanteaprendiz.com.br/tag/ed-rene-kivitz/
46
ANJOS

1. Considerações iniciais

Anjo (do latim “angelus” e do grego “ángelos” (ἄγγελος), mensageiro), segundo a tradição judaico-
cristã, a mais divulgada no ocidente, conforme relatos bíblicos, são seres celestiais e espirituais,
conservos de Deus, como os homens (Apocalipse 19.10), que servem como ajudantes ou mensageiros
de Deus.

Na iconografia comum, os anjos geralmente têm asas de ave, um halo e tem uma beleza delicada,
emanando forte brilho. Por vezes, são representados como uma criança, por sua inocência e virtude.
Os relatos bíblicos e a hagiografia cristã contam que os anjos, muitas vezes, foram autores de fenômenos
milagrosos e a crença corrente nesta tradição é que uma de suas missões é ajudar a humanidade em
seu processo de aproximação a Deus.

Os anjos são, ainda, figuras importantes em muitas outras tradições religiosas do passado e do
presente e o nome de “anjo” é dado amiúde indistintamente a todas as classes de seres celestes.

Os muçulmanos, zoroastrianos, espíritas, hindus e budistas, todos aceitam como fato sua existência,
dando-lhes variados nomes, mas às vezes são descritos como tendo características e funções bem
diferentes daquelas apontadas pela tradição judaico-cristã, essa mesma apresentando contradições e
inconsistências de acordo com os vários autores que se ocuparam deste tema.

Além disso, a cultura popular em vários países do mundo deu origem a um copioso folclore sobre
os anjos, que muitas vezes se afasta bastante da descrição mantida pelos credos institucionalizados
dessas regiões.

No cristianismo, os anjos foram estudados de acordo com diversos sistemas de classificação em


coros ou hierarquias angélicas. A mais influente de tais classificações foi estabelecida pelo Pseudo-
Dionísio, o Areopagita, entre os séculos IV e V, em seu livro “De Coelesti Hierarchia”.

2. As três tríades

De todas as ordenações, a mais corrente, derivada do Pseudo-Dionísio e de Tomás de Aquino, divide


os anjos em nove coros, agrupados em três tríades.

2.1. Primeira tríade

A primeira tríade é composta pelos anjos mais próximos de Deus, que desempenham suas funções
diante do Pai.

2.1.1. Serafins

O nome serafim vem do hebreu “saraf” (‫)שרף‬, e do grego, “séraph”, que significam abrasar, queimar,

47
consumir. Também foram chamados de ardentes ou de serpentes de fogo. É a ordem mais elevada da
esfera mais alta. São os anjos mais próximos de Deus e emanam a essência divina em mais alto grau.
Assistem ante o Trono de Deus e é seu privilégio estar unido a Deus de maneira mais íntima. São
descritos em Isaías como cantando perpetuamente o louvor de Deus e tendo seis asas.

2.1.2. Querubins

Do hebreu ‫“ – כרוב‬keruv”, ou do plural ‫“ – כרובים‬keruvim”, os querubins são seres misteriosos,


descritos tanto no Cristianismo como em tradições mais antigas, às vezes, mostrando formas híbridas
de homem e animal. Os povos da Mesopotâmia tinham o nome “karabu” e suas variantes para
denominar seres fantásticos com forma de touro alado de face humana, e a palavra significa, em algumas
daquelas línguas, “poderoso”, noutras “abençoado”.

No Gênesis aparece um querubim como guardião do Jardim do Éden, expulsando Adão e Eva após
o pecado original (Gn 3.23-24). Ezequiel os descreve como guardiães do trono de Deus e diz que o
ruflar de suas asas enchia todo o templo da divindade e se parecia com som de vozes humanas; a cada
um estava ligada uma roda, e se moviam em todas as direções sem se voltar, pois possuíam quatro
faces: leão, touro, águia e homem. Eram inteiramente cobertos de olhos (Ez 10). Mas as imagens de
querubins que Moisés colocou sobre a Arca da Aliança tinham forma humana, embora com asas (Ex
25.10-21; Ex 37.7-9).

Os Querubins, para alguns teólogos, ocupam o topo da hierarquia, pois alguns não consideram os
serafins como anjos , uma vez que a palavra hebraica para anjo é “malak” (mensageiro) e da mesma
forma, no grego, anjo é “angelus” (mensageiro) e estas figuras aladas que aparecem exaltam a Deus,
mas não comunicam mensagens ao profeta.

2.1.3. Tronos ou Ofanins

Os Tronos têm seu nome derivado do grego “thronos”, que significa anciãos. São chamados também
de “erelins” ou “ofanins”, ou algumas vezes de “Sedes Dei” (Trono de Deus), e são identificados com os
24 anciãos que perpetuamente se prostram diante de Deus e a Seus pés lançam suas coroas (Apocalipse
11:16-17). São os símbolos da autoridade divina e da humildade, e da perfeita pureza, livre de toda
contaminação.

2.2. Segunda tríade

A segunda tríade é composta pelos príncipes da corte celestial.

2.2.1. Dominações

As Dominações ou Domínios (do latim “dominationes”) têm a função de regular as atividades dos
anjos inferiores, distribuem aos outros anjos as funções e seus mistérios, e presidem os destinos das

48
nações. Crê-se que as Dominações possuam uma forma humana alada de beleza inefável, e são descritos
portando orbes de luz e cetros indicativos de seu poder de governo. Sua liderança também é afirmada
na tradução do termo grego kyriotes [küriotés], que significa “senhor”, aplicado a esta classe de seres.

São anjos que auxiliam nas emergências ou conflitos que devem ser resolvidos logo. Também, atuam
como elementos de integração entre os mundos materiais e espirituais, embora raramente entrem em
contato com as pessoas.

2.2.2. Virtudes

As Virtudes são os responsáveis pela manutenção do curso dos astros para que a ordem do universo
seja preservada. Seu nome está associado ao grego “dunamis”, significando poder ou força, e traduzido
como “virtudes” em Efésios 1:21; seus atributos são a pureza e a fortaleza. Pseudo-Dionísio diz que
eles possuem uma virilidade e poder inabaláveis, buscando sempre espelhar-se na fonte de todas as
virtudes e as transmitindo aos seus inferiores.

Orientam as pessoas sobre sua missão. São encarregados de eliminar os obstáculos que se opõe ao
cumprimento das ordens de Deus, afastando os anjos maus que assediam as nações para desviá-las de
seu fim, e mantendo, assim, as criaturas e a ordem da Divina providência. Eles são particularmente
importantes porque têm a capacidade de transmitir grande quantidade de energia divina. Imersas na
força de Deus, as Virtudes derramam bênçãos do alto, frequentemente na forma de milagres. São sempre
associados com os heróis e aqueles que lutam em nome de Deus e da verdade. São chamados quando
se necessita de coragem.

2.2.3. Potestades

As Potestades ou Potências são também chamadas de “condutores da ordem sagrada”. Executam as


grandes ações que tocam no governo universal. Eles são os portadores da consciência de toda a
humanidade, os encarregados da sua história e de sua memória coletiva, estando relacionados com o
pensamento superior - ideais, ética, religião e filosofia, além da política em seu sentido abstrato.

Também são descritos como anjos guerreiros completamente fiéis a Deus. O anjo da morte pertence
a essa categoria.

2.3. Terceira tríade

A terceira tríade é composta pelos anjos ministrantes, que são encarregados dos caminhos das nações
e dos homens e estão mais intimamente ligados ao mundo material.

2.3.1. Principados

Os Principados, do latim “principatus”, são os anjos encarregados de receber as ordens das


Dominações e Potestades e transmiti-las aos reinos inferiores, e sua posição é representada

49
simbolicamente pela coroa e cetro que usam. Guardam as cidades e os países. Protegem também a fauna
e a flora. Como seu nome indica, estão revestidos de uma autoridade especial: são os que presidem os
reinos, as províncias, e as dioceses, e velam pelo cultivo de sementes boas no campo das ideologias, da
arte e da ciência.

2.3.2. Arcanjo

O nome de arcanjo vem do grego αρχάγγελος, “arkangélos”, que significa “anjo principal” ou “chefe”,
pela combinação de “archō”, o primeiro ou principal governante, e άγγελος, “aggělǒs”, que quer dizer
mensageiro. Este título é mencionado no Novo Testamento e a esta ordem pertencem os únicos anjos
cujos nomes são conhecidos através da Bíblia: Miguel e Gabriel. Miguel é especificamente citado como
“O” arcanjo, ao passo que, embora se presuma pela tradição que Gabriel também seja um arcanjo, não
há referências sólidas a respeito.

2.3.3. Anjos

Os anjos são os seres angélicos mais próximos do reino humano, o último degrau da hierarquia
angélica acima descrita e pertencentes à sua terceira tríade. A tradição hebraica, de onde nasceu a Bíblia,
está cheia de alusões a seres celestiais identificados como anjos, e que ocasionalmente aparecem aos
seres humanos trazendo ordens divinas. São citados em vários textos místicos judeus, especialmente
nos ligados à tradição Merkabah. Na Bíblia, são chamados de ‫( מלאךאלהים‬mensageiros de Deus),
‫( מלאךיהוה‬mensageiros do Senhor), ‫( בניאלוהים‬filhos de Deus) e ‫( הקדושים‬santos). São dotados de vários
poderes supernaturais, como o de se tornarem visíveis e invisíveis à vontade, voar, operar milagres
diversos e consumir sacrifícios com seu toque de fogo. Feitos de luz e fogo (Jó 15.15; Sl 104.4), sua
aparição é imediatamente reconhecida como de origem divina, também por sua extraordinária beleza.

3. Anjos caídos

A criatura que representava a mais magnificente obra de seu Criador ressentiu-se de que sua glória
era apenas emprestada, de que o papel que lhe estava destinado era o de tão somente refletir a infinita
majestade do Deus que lhe deu o fôlego da vida.

Dessa maneira, nasceu no coração de Lúcifer – e, em última análise, no recém-criado universo moral
– o desprezível impulso da rebelião. Esse impulso originou a insurreição angélica que foi a mais terrível
sedição na história em todos os tempos.

Por mais importante e original que tenha sido essa rebelião angélica, as Escrituras não incluem um
registro específico do evento. No Antigo Testamento, Satanás aparece pela primeira vez no relato da
queda de Adão (Gn 3). Ali, no entanto, ele já era o tentador caído que seduziu os primeiros seres
humanos ao pecado. Dessa forma, já no início das Escrituras, a queda de Satanás é tratada como fato.
Mas, por razões que não são esclarecidas em nenhum lugar, o próprio relato de sua queda está ausente

50
nesse registro.

Ainda assim, o evento é lembrado duas vezes nos escritos dos profetas: por Isaías, em meio a uma
inspirada diatribe contra a Babilônia (Is 14.11-23) e, mais tarde, por Ezequiel, quando ele repreende
duramente o rei de Tiro (Ez 28.11-19). Essas duas passagens contam-nos a maior parte do que
sabemos sobre a queda de Satanás.

Entretanto, aqui temos algumas dificuldades exegéticas. Em ambas as passagens, a menção da


rebelião de Lúcifer aparece abruptamente num contexto que não trata, especificamente, de Satanás.
Esse fato levou muitos estudiosos da Bíblia a rejeitar a ideia de que as passagens se referem a uma
rebelião luciferiana e a insistir que elas focalizam, exclusivamente, os governantes humanos das nações
pagãs às quais são dirigidas.

3.1. Anjos caídos são o mesmo que demônios?

Pois Deus não deixou escapar os anjos que pecaram, mas os jogou no inferno e os deixou presos com
correntes na escuridão, esperando o Dia do Julgamento. (2 Pe 2:4)

Lembrem dos anjos que não ficaram dentro dos limites da sua própria autoridade, mas abandonaram o
lugar onde moravam. Eles estão amarrados com correntes eternas, lá embaixo da escuridão, onde Deus os está
guardando para aquele grande dia em que serão condenados. (Jd 1:6)

4. Demônios e suas teorias de origem

4.1. Segunda queda – almas híbridas de humanos e anjos

E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas,
Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que
escolheram. Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele
também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos. Havia naqueles dias gigantes na terra; e também
depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes
que houve na antiguidade, os homens de fama. (Gn 6.1-4)

4.2. Raça pré-adâmica – intervalo temporal entre a primeira criação e a


segunda

No princípio criou Deus o céu e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do
abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. (Gn 1:1-2)

5. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
51
SANTIDADE

1. Introdução

Não resta dúvida de que santidade é um dos temas centrais da Bíblia. A palavra “santo” ocorre mais
de 600 vezes na Bíblia, e mais de 700, quando incluímos palavras dela derivadas como santidade,
santificar e santificação.

Em seu sentido mais básico, santidade significa separação. Portanto, trata-se de um termo relativo
a espaço. Quando algo ou alguém é santo, é posto em separado.

Deus é santo porque é transcendente e diferente de tudo que ele mesmo criou. Ele é separado e
distinto, e não ordinário ou comum. Ele é Deus, e não há outro (Is 45.22). Somos chamados a ser
santos porque Deus é santo (Lv 11.44-45; 19.2; 1Pe 1.15-16).

VALE A PENA LER DE NOVO! Nosso Deus santo nos separou para vivermos de forma a
refletir, embora de forma imperfeita, sua santidade.

Qualquer evangelho que prega o que você precisa fazer, mas não anuncia o que Cristo já fez não é
evangelho coisa nenhuma.

Estou falando nos fracassos como cristão, especialmente as gerações mais jovens e especialmente os
que mais desdenham “religião” e “legalismo”, levarem a sério um dos grandes objetivos de nossa redenção
e uma das evidências necessárias à vida eterna – nossa santidade.

J. C. Ryle, um Bispo em Liverpool, do século XIX, estava certo: “Precisamos ser santos, porque esse é
um supremo fim e propósito pelo qual Cristo veio ao mundo... Jesus é um Salvador completo. Ele não retira,
meramente, a culpa do pecado do que crê, ele vai além... rompe o seu poder (1Pe 1.2; Rm 8.29; Ef 1.4; 2Tm
1.9; Hb 12.10)”.

Meu medo é que conforme nós corretamente celebramos - e em alguns ambientes redescobrimos -
tudo do que Cristo nos salvou, temos parado pouco para pensar e consequentemente concentramos
poucos esforços em tudo para o que Cristo nos salvou. Será que os mais apaixonados acerca do Evangelho
e pela glória de Deus não deveriam ser os mais dedicados na busca por santidade?

2. Um diagnóstico simples

Quem poderia fazer o diagnóstico do estado em que se encontra a igreja evangélica no Brasil, e mais
difícil ainda, o estado em que se encontra a igreja ao redor do mundo? Vamos fazer um diagnóstico
teste inicial, com base em um texto conhecidíssimo das Escrituras?

Para isso, peço que você leia a passagem da Grande Comissão que Jesus apresenta ao final de Mateus
28.

Você talvez tenha dito: “Ele nos envia ao mundo para evangelizar”. Ou, quem sabe: “Ele quer que
52
preguemos o Evangelho às nações”. Ou quem sabe, ainda, você mencionou algo a respeito de fazer
discípulos. Essas respostas não estão erradas. Mas você se recorda das instruções precisas de Jesus? “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.19-20a). A palavra “guardar”
significa mais que “tomar conhecimento de”. Significa “obedecer”.

Não estamos pedindo às nações que olhem para os mandamentos de Jesus como se fora uma
interessante tela de Rembrandt. Estamos ensinando as nações a seguirem seus mandamentos. A Grande
Comissão diz respeito à santidade. Deus quer que o mundo conheça Jesus, creia em Jesus, e lhe obedeça.
Não estamos levando a Grande Comissão a sério se não estivermos nos ajudando mutuamente a crescer
em obediência.

As ordenanças de Jesus não podem vir separadas de sua pessoa e obra. Qualquer que seja a santidade
que ele requer, ela é como o fruto de sua obra redentora, e existe para ser vitrine de sua glória pessoal.
Mas em toda essa nuance necessária, não perca de vista aquilo pelo qual muitas igrejas passaram batidas:
Jesus espera obediência de seus discípulos!

3. Uma concepção equivocada

Entre os cristãos conservadores existe, por vezes, uma concepção equivocada de que se formos
verdadeiramente centrados no Evangelho, não teremos de falar em regras, imperativos ou empenho
moral.

É comum eu ouvir crentes dizerem que duvidam que a santificação seja uma possibilidade. E não é
somente porque o processo é difícil. Se nossos melhores esforços não passam de trapos de imundícia (Is
64.6), por que devemos esquentar? Somos todos pecadores incorrigíveis. Nada fazemos que agrade a
Deus. Ninguém é realmente humilde, ou puro, ou obediente. A busca da santidade só nos deixará
sentindo mais culpados.

Aí concluímos (erradamente, claro) que tudo que podemos, de fato, fazer, é nos apegar a Cristo.
Somos amados graças à justiça imputada de Cristo, mas obediência pessoal que agrada a Deus, essa é
simplesmente impossível. Os verdadeiros superespirituais não “buscam santidade”; eles celebram seus
fracassos como oportunidades para exaltar a graça de Deus.

Não é difícil encontrarmos cristãos entusiasmados acerca do plantar igrejas e do serviço do reino.
É possível até encontrarmos muitos cristãos apaixonados por teologia precisa. Sim, e amém a tudo isso!
Falando sério. Não há necessidade de acabarmos com tudo que é bom e verdadeiro só porque algo mais
que também é bom e verdadeiro esteja faltando. Nas igrejas do Apocalipse, Jesus elogiou as igrejas
naquilo que se mostravam fiéis e aí as desafiou naquilo em que corriam perigo espiritual.

Há uma centena de coisas boas que você poderá se sentir, como cristão, chamado a buscar. Mas o
que estou, sim, dizendo, é que de acordo com a Bíblia, santidade, para todo cristão, deveria ser o
53
item número 1 da lista.

Sendo sincero, quando foi a última vez que pegamos um texto como “entre vocês não deve haver...
obscenidade, nem conversas tolas, nem gracejos imorais, que são inconvenientes, mas, ao invés disso, ações de
graças” (Ef 5.3-4) e tentamos começar a aplicar à nossa conversa, aos filmes que assistimos no cinema,
aos clipes de YouTube, aos seriados de televisão ou aos comerciais que nos permitimos assistir?

Não é pietismo, legalismo ou fundamentalismo levar santidade a sério. É o curso normal para aqueles
que foram chamados a um santo chamamento por um Deus santo.

De acordo com Jesus, “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que
faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mt 7.21). É possível professar as coisas certas e ainda não
estar salvo. Somente os que fazem a vontade do Pai entrarão no reino. E isso implica em ouvir as
palavras de Jesus e praticá-las (v. 26).

Os que nasceram de Deus não apenas confessarão o Filho (1Jo 2.23; 5.15) e crerão que Jesus é o
Cristo (5.1), mas também guardarão os mandamentos de Deus (2.3-4), andarão como Cristo andou
(2.5-6), praticarão a justiça (2.29) e vencerão o mundo (5.5). “Sabemos que todo aquele que é nascido
de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca.” (5.18).

Muitos cristãos têm tido problemas em conciliar a ênfase em obras em Tiago com a ênfase em fé
independentemente das obras nos escritos de Paulo. Na realidade, não existe conflito. Paulo quer que
vejamos que a fé é o meio instrumental para estar-se reto diante de Deus. Nada contribui para a nossa
salvação. A única base é a justiça de Cristo. Tiago, por outro lado, quer que vejamos que evidências de
piedade precisam necessariamente acompanhar a fé genuína. Somos justificados pela fé somente, mas a
fé que justifica nunca está desacompanhada. Paulo descreve a fé verdadeira e viva; Tiago argumenta
contra a fé falsa que consiste em nada além de assentimento intelectual morto (vs. 17, 19, 20, 26).

E aí, temos Hebreus 12.14: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”.
Em outras palavras, santidade não é uma opção. Hebreus 12 diz respeito ao desdobrar prático de
uma santidade posicional. Ou seja, a santidade de Hebreus 12.14 não é uma santidade que recebemos,
mas uma santidade que por ela nós “nos esforçamos por obter”. Isso faz sentido se levarmos em conta
o contexto de disciplina na primeira metade do capítulo 12.

Os Hebreus eram cristãos professos que estavam sofrendo por seu cristianismo, e correndo o risco
de naufragar na fé (10.39). Por isso, Deus, o Pai, os disciplinou, de forma que fossem treinados por
ela para a justiça (12.11). Deus foi aplicado em tornar seus filhos santos, porque a santidade precisa
destacar aqueles que têm comunhão com um Deus santo.

VALE A PENA LER DE NOVO! É preciso deixar clara uma coisa: enfatizar a necessidade de
santidade pessoal não deve minar, de forma alguma, nossa confiança na justificação pela fé, somente.
Os melhores teólogos e as afirmativas teológicas de maior peso sempre enfatizaram a natureza do
54
Evangelho da Graça e a necessidade indispensável de santidade pessoal. Fé e boas obras são ambas
necessárias. Mas uma é a raiz e outra é o fruto.

Somos salvos pela graça mediante a fé (Ef 2.8). E nós fomos criados em Cristo Jesus para as boas
obras (Ef 2.10). Qualquer evangelho que tem o sentido de salvar as pessoas sem também as transformar
é um convite à crença fácil.

4. Uma concepção mais clara

Se você acha que ser um cristão nada mais é do que fazer uma oração ou filiar-se a uma igreja, então
você já confundiu a graça genuína com a graça barata. Os que são justificados serão santificados.
Não há como negar ou duvidar daquilo que Deus disse. É claro em praticamente cada página da Bíblia:
somos ordenados a ser santos, fomos salvos para ser santos, e , aliás, precisamos ser santos se
quisermos herdar a vida eterna.

Mas o que, exatamente, estamos procurando nos tornar? Deus nos salvou para sermos santos –
entendi! Precisamos ser santos como Deus é santo – confere! Fomos separados para servir a Deus –
gostei! Mas com o que a santidade se parece? Vamos procurar retirar isso da estratosfera teológica e trazê-
la no nível do chão onde nós adoramos, trabalhamos e nos divertimos.

4.1. A santidade se parece com uma vida marcada por virtude, e não por vício

Com o que se parece o caráter semelhante a Deus, no povo de Deus? Uma forma de se responder a
essa pergunta é olhando para cada mandamento e exemplo contidos na Bíblia. Mas uma abordagem
mais rápida é examinar a lista de vícios e virtudes do Novo Testamento. Eles nos fornecem um
resumo bastante útil da impiedade e da santidade.

Vejamos alguns vícios que caracterizam os ímpios, o tipo de gente que não entrará no Reino:

• Marcos 7.21-22: maus pensamentos, imoralidades sexuais, roubos, homicídios, adultérios,


cobiças, maldades, engano, devassidão, inveja, calúnia, arrogância e insensatez.

• Romanos1.24-31: impureza sexual, relações homossexuais, toda sorte de injustiça, maldade,


ganância, depravação, inveja, homicídio, rivalidades, engano, malícia, calunia, inimizade
contra Deus, desobediência a pais, insensatez, deslealdade, insensibilidade, desumanidade.

• Romanos 13.13: orgias, bebedeiras, imoralidade sexual, depravação, desavenças, inveja.

• 1 Coríntios 6.9-10: imorais, idólatras, adúlteros, homens que praticam a homossexualidade,


ladrões, avarentos, alcoólatras, caluniadores, trapaceiros.

• Gálatas 5.19-21: imoralidade sexual, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio,


discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções, inveja, embriaguez, orgias e coisas
semelhantes.

55
• Colossenses 3.5-9: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus, ganância (que é
idolatria), ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena, mentira.

• 1 Timóteo 1.9-10: ímpios, profanos, que matam pai e mãe, homicidas, que praticam
imoralidade sexual, homens que praticam a homossexualidade, sequestradores, mentirosos,
juram falsamente, todo aquele que se opõe à sã doutrina.

• Apocalipse 21.8: covardes, incrédulos, depravados, assassinos, os sexualmente imorais,


feiticeiros, idólatras, e todos os mentirosos.

Do outro lado da moeda encontramos as virtudes encontradas no povo de Deus:

• Romanos 12:9-21: amor sincero, ódio pelo mal; apegados ao que é bom, amor fraternal,
excedendo em dar honra, zelo, fervor de espírito, serviço ao Senhor, alegres na esperança,
pacientes na tribulação, perseverantes na oração, generosos, hospitaleiros, que abençoam os
inimigos, que se alegram com os que se alegram; choram com os que choram, harmoniosos,
humildes, não orgulhosos, que se associam com pessoas de posição inferior, não sábios aos
próprios olhos, não retribuidores de mal por mal, que vencem o mal com o bem.

• 1 Coríntios 13.4-7: amorosos, pacientes, bondosos, não invejosos, que não se vangloriam,
que não se orgulham, que não maltratam, que não procuram seus interesses, não se iram
facilmente, não guardam rancor, que não se alegram com a injustiça, mas se alegram com a
verdade, tudo sofrem, tudo creem, tudo esperam, tudo suportam.

• Gálatas 5.22-23: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão,
domínio próprio.

• Colossenses 3.12-15: corações compassivos, bondade, humildade, mansidão, paciência, que


suportam uns aos outros, que perdoam uns aos outros, paz, gratidão.

• 2 Pedro 1.5-7: virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade,


e amor.

Note que não há diretrizes sobre quanto tempo devemos passar em oração por dia, ou quanto
dinheiro devemos dar aos pobres. Os cristãos, via de regra, equacionam santidade com ativismo e
disciplinas espirituais.

E enquanto é fato de que o ativismo é frequentemente o fruto da santidade e as disciplinas espirituais


são necessárias ao cultivo da santidade, o padrão de piedade externado pelas Escrituras diz respeito,
mais explicitamente, a caráter.

Nós nos despimos do pecado e nos revestimos da justiça. Nós mortificamos os feitos da carne e nos
revestimos de Cristo. Para usar linguagem mais antiga, nós buscamos a mortificação do velho homem
e a vivificação do novo homem.

56
Empregando uma metáfora, é possível pensarmos em santidade como a santificação do nosso corpo.
A mente é cheia do conhecimento de Deus e está focada no que é bom. Os olhos se desviam da
sensualidade e estremecem ao contemplarem o mal. A boca fala a verdade e se recusa a fofocar, maldizer,
ou falar o que é vulgar ou obsceno. O espírito é determinado, constante, e gentil. O coração está repleto
de alegria em lugar de desesperança, paciência em lugar de irritabilidade, bondade em lugar de ira,
humildade em lugar de orgulho, e gratidão em lugar de inveja. Os órgãos sexuais são puros, estando
reservados para a privacidade do casamento entre um homem e uma mulher. Os pés andam rumo aos
menos afortunados e fogem do conflito sem sentido, das divisões e das festas imorais. As mãos estão
prontas a ajudar os que têm necessidades e prontas a se juntar para orar. Esta é a anatomia da santidade.

4.2. A santidade se parece com uma consciência limpa

Não pensamos na consciência tanto quanto deveríamos. Mas a Bíblia tem muito mais a dizer acerca
da “pequena voz em sua cabeça” do que imaginamos. Umas das bênçãos da justificação é uma consciência
limpa diante de Deus. As acusações do Diabo podem ser silenciadas pelo sangue do Cordeiro (Ap
12.10-11; conf. Rm 8.1; Zc 3.2). Mas mesmo depois de reconciliados com Deus, precisamos dar
atenção à nossa consciência.

De acordo com Rm 2.15, todos temos a lei escrita em nossos corações de forma que nossa
consciência ou nos acusa ou nos defende. Deus nos fala através da consciência, e quando negligenciamos
sua voz nos colocamos numa posição muito perigosa.

É claro que a consciência não é infalível. Podemos ter uma consciência má que não volta as costas
para o pecado (Hb 10.22). Podemos ter uma consciência cauterizada que já não se sente mal com o
pecado (1Tm 4.2). Podemos ter uma consciência fraca que se sente mal com coisas que, na realidade,
não são erradas (1Co 8.7-12). E também podemos ter uma consciência corrompida que perde a
capacidade de discernir o certo do errado (Tt 1.15).

A consciência não é substituta para a Bíblia e jamais deve estar em oposição a ela. Mas uma boa
consciência é um presente de Deus. À medida que buscamos a santidade, sempre precisamos ficar
atentos à voz de Deus falando-nos através de uma consciência sensível, informada que é pela Palavra
de Deus. Ela não nos conduzirá à tentação, mas nos livrará do mal.

Vamos a um exemplo prático?

Talvez, uma maneira mais simples de julgar áreas cinzentas é fazer uma pergunta bastante simples:
posso agradecer a Deus por isso? Devemos dar graças em todas as circunstâncias, certo? Suponha
que você e sua/seu esposa/esposo (caso seja casado ou casada), vão ao cinema para assistir um dos
filmes lançamentos. Suponha que seja um filme cômico, proibido para menores de 14 anos e,
provavelmente, você possa dizer que não tenha nenhum trecho ruim. Mas, em vários momentos, o
filme é relativamente sensual e sugestivo.
57
Aplicando nossa fórmula-sugestão, você se questiona: “Posso realmente agradecer a Deus por isto?” Veja
bem, não precisamos ser um estraga-prazeres dos piores. Gostamos de rir e curtir a vida. Eu consigo
agradecer a Deus pelo time do Criciúma (vamos lá, acredite), eu até consigo agradecer a Deus pela
rede McDonald’s e, também, pelo canal de televisão “Discovery”. Mas, sinceramente, eu me pergunto se,
após assistir ao filme que nos regalamos em cenas picantes, poderíamos, sinceramente, ajoelhar e dizer:
“Grato, Senhor, por este presente”. É algo para pensarmos, não é?

4.3. A santidade se parece com obediência aos mandamentos de Deus

Soa bastante espiritual dizer que Deus está interessado em relacionamentos, não em regras. Mas isso
não é bíblico. Do início ao fim, a Bíblia está repleta de mandamentos. Eles não visam sufocar o
relacionamento com Deus, mas sim protegê-lo, selá-lo e defini-lo.

Jamais se esqueça: primeiro Deus livrou os israelitas do Egito, depois lhes deu a lei. O povo de Deus
não foi redimido pelo observar da lei, mas foram redimidos para que pudessem observar a lei.

“Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardarmos os seus mandamentos.” (1Jo 2.3).

Podemos passar o dia falando de nosso amor por Deus, mas se não obedecermos aos seus
mandamentos somos mentirosos e a verdade não está em nós (v. 4). Se amarmos a Jesus, obedeceremos
a sua Palavra (Jo 14.23). Os mandamentos de Deus nos são dados como meios da graça, de forma que
possamos crescer em piedade de demonstrar amor a ele.

5. A nossa união com Cristo

Sabemos que fomos salvos por Cristo, que devemos nos parecer com ele, e que temos um
relacionamento com ele. Ok! Mas, dificilmente consideramos como tudo isso depende de nossa união
com Cristo.

União com Cristo não é uma bênção específica que recebemos em nossa salvação. Na realidade,
constitui-se em todas as bênçãos da salvação, quer na eternidade passada, na história da redenção, no
presente chamado, na nossa justificação, na nossa santificação e no nosso futuro (glorificação).

Ou seja, toda bênção na ordem da salvação flui de nossa união com Cristo. O interessante é que,
apesar de a doutrina da união com Cristo ser tão comum no Novo Testamento, muitas vezes podemos
passado batido por ela.

Mais de duzentas vezes nas cartas de Paulo e mais de vinte vezes nos escritos de João,
encontramos expressões do tipo “em Cristo”, “no Senhor” ou “Nele”. Somos encontrados em Cristo (Fl
3.9), preservados em Cristo (Rm 8.39), salvos e santificados em Cristo (2Tm 1.9 e 1Co 1.30).
Vivemos em Cristo (Cl 2.6), labutamos em Cristo (1Co 15.58) e obedecemos em Cristo (Ef 6.1).
Nós morremos em Cristo (Ap 14.13), vivemos em Cristo (Gl 2.20) e vencemos em Cristo (Rm 8.37).
Isso só para citar alguns exemplos.
58
Outras trinta e duas vezes Paulo fala de crentes participando juntamente com Cristo em algum
aspecto da redenção, sejam serem crucificados com Cristo, sepultados com Cristo, ressuscitados com
Cristo ou estarem assentados com Cristo.

Assim, é somente quando o Espírito nos une com Cristo e somos enxertados em seu corpo que
podemos participar, não meramente dos benefícios inerentes a Cristo, mas do próprio Cristo. É por
isso que o pedido final na Oração Sacerdotal de Jesus é “e eu neles esteja” (Jo 17.26), e também porque
Paulo afirma que “Cristo em vocês” é a esperança da glória (Cl 1.27).

Mas, afinal, o que significa, exatamente, que estamos unidos com Cristo ou que Ele está em nós ou
que nós estamos Nele? Cristo não está grampeado a nós. Ele não se deixa encolher por um raio de
forma a poder viver como um organismo microscópico em nosso ventrículo esquerdo. A união não é
física, mas teológica.

União com Cristo implica simplesmente em três coisas: solidariedade (Cristo como o segundo Adão
é nosso representante), transformação (Cristo, por meio do Espírito Santo, nos transforma de dentro
para fora) e comunhão (Cristo habita conosco como nosso Deus).

União com Cristo, então, é como o matrimônio, onde somos unidos com Cristo numa aliança
de amor. É como um corpo onde nós, como membros, somos unidos à Cabeça viva. Ou podemos dizer
que a união com Cristo é como um edifício, onde nós somos a casa e Cristo habita dentro de nós.

MUITO CUIDADO! O ensino bíblico é que nossa pessoa é unida à pessoa de Cristo de forma que
Deus é nosso Deus e nós somos seu povo. Mas esse relacionamento de aliança não é a mesma coisa
que a fusão de naturezas. Nossa pessoa não se dissolve na Pessoa de Cristo. Não! Não partilhamos da
mesma essência de Deus. Nós não nos tornamos deuses.

Estarmos em Cristo significa crescer nas qualidades e virtudes comunicáveis Dele. Não há uma
mistura do humano com o divino. Em suma, nós não podemos nos tornar Deus, mas podemos nos
tornar semelhantes a ele.

6. Conclusão

Nosso progresso na busca de santidade advém, em grande parte, de nossa compreensão e em nos
apropriarmos de nossa união com Cristo. Conforme afirma John Murray, “Nada é mais relevante à
santificação progressiva que nosso reconhecimento de estarmos mortos para o pecado e vivos para Deus em Jesus
Cristo (conf. Rm 6.11)”.

Se não considerarmos a nossa união com Cristo, qualquer esforço para imitar a Cristo,
inevitavelmente, conduzirá ao legalismo e à derrota espiritual. Mas uma vez que entendemos a doutrina
da união com Cristo, perceberemos que Deus não nos pede que nos atenhamos àquilo que não somos.
Ele só nos convoca a realizar o que já é.

59
A busca por santidade não é um esforço para fazer o que Jesus fez. É a luta para vivenciarmos a
vida que já foi feita ativa em Cristo. Podemos resumir a ética do Novo Testamento em uma frase:
seja quem você é!

Isso pode soar estranho, quase herético, não é mesmo? Mas Deus quer, sim, que você seja seu
verdadeiro ser. Ele quer, sim, que você seja fiel a você mesmo. Mas o “você” a que ele se refere é o
“você que você é pela graça”, não por natureza. Deus não diz: “Relaxe, você nasceu assim”. Mas Ele de
fato diz: “Boas notícias, você foi renascido diferente”.

Como crente você pertence a Cristo. E mais que isso, você está unido com ele. Pela fé, através do
Espírito Santo, temos união com ele. Cristo vive em você e você nele. Você é um com Cristo, portanto
viva como Cristo. Seja santo, pois isso é o que você é!

7. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
60
OBRAS DA CARNE

1. Considerações iniciais

Na Bíblia e, especificamente, na carta do apóstolo Paulo aos Gálatas, encontramos a expressão “obras
da carne”. Essa expressão é usada pelo apóstolo antes de ensinar a igreja sobre o “Fruto do Espírito Santo”,
ou seja, o cristão vai caminhar sobre duas vias: pela via do Fruto do Espírito Santo ou pela via das
obras da carne, não existindo uma terceira opção. Logo, quando não se faz opção pela primeira via,
automaticamente estaremos trilhando na segunda via.

No Novo Testamento, temos em vários textos a palavra “carne”; porém, temos que ter o cuidado de
não interpretar o termo “carne” sempre carregando o significado que Paulo usou para ensinar aos
Gálatas. Nem sempre a carne no Novo Testamente vai trazer o significado de pecado.

Muitos cristãos, quando leem o termo “obras da carne”, praticamente já têm estabelecidos em suas
mentes uma construção equivocada sobre a expressão. Logo associam essa carne do contexto da carta
aos gálatas ao corpo orgânico do ser humano. Só que fazer essa correlação a odo tempo, corre-se o
risco de se estar desmontando toda a teologia sobre a encarnação do Cristo.

O fato é que as obras da carne têm um significado muito mais profundo; vai muito mais além do
que simplesmente obras do corpo; fala muito mais de quem somos em essência, não se tratando do que
podemos produzir e, sim, de quem somos.

2. Significados de “carne” no Novo Testamento

Segundo o dicionário VINE, o termo grego usado para a palavra “carne” no Novo Testamento é
“sarx”, e “tem um alcance mais amplo de significados no Novo Testamento que no Antigo Testamento.”

Por ter um sentido mais amplo de significados, deve-se ter o maior cuidado ao lermos a palavra no
Novo Testamento. Dependendo do contexto que a palavra carne está inserida, ela pode trazer o
significado da matéria do corpo, tanto de animais e de homens (1Co 15.39); também pode falar do
corpo humano (2Co 10.3); então, todo termo deve ser juntamente analisado com o contexto no qual
está inserido.

Usamos esses dois exemplos apenas para dar uma dimensão de como uma palavra pode trazer
significados diferentes; existem vários outros textos que usam a palavra “carne” e que trazem outros
significados. Mas vamos focar no conceito de “carne” que Paulo usou em Gálatas, quando ensinou a
igreja sobre as obras da carne. Embora estas obras sejam manifestas através do corpo, não significa que
é o corpo o responsável por produzir a carnalidade.

3. O conceito de “carne”

O apóstolo Paulo ensinou a igreja em Gálatas sobre as obras da carne; ele menciona a carne como

61
algo que necessita ser alimentado, que tem vontade e que cabe a nós não alimentar essas vontades:
“Portanto, vos afirmo: Vivei pelo Espírito, e de forma alguma satisfareis as vontades da carne!”.

Paulo ensina, ainda, que o Espírito e a Carne se opõem um ao outro, não existindo uma maneira de
agradar os dois: se alimentamos a vontade da carne, logo vamos entristecer o Espírito Santo (Ef 4.30).

Paulo destaca algumas obras da carne que se manifestam através do corpo: imoralidade sexual,
impureza, libertinagem, idolatrias, feitiçarias, ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissenções, facções,
inveja, embriaguez, orgias, e tudo quanto se pareça com essas perversidades. Paulo não mencionou
todas as obras da carne, mas, com certeza, pontuou as obras carnais contra quais a igreja realmente
estava lutando.

Paulo escrevendo aos coríntios (1Co 3.3.), menciona algo relacionado a obras da carne: “porque
ainda sois carnais.”. A igreja de Coríntios estava passando por várias adversidades, e essas adversidades
mostraram o quão carnais alguns cristãos eram. Paulo chama alguns cristãos de carnais, e isso porque
estavam manifestando inveja, discórdias, trazendo o padrão mundano para seu dia a dia, ao invés de se
renderem ao padrão do Evangelho de Jesus. Para Paulo, os que manifestam as obras da carne são
carnais.

Precisamos entender o conceito de “carne” usado pelo apóstolo; de maneira nenhuma podemos
incorrer no erro e afirmar que essa carnalidade que Paulo ensina se trata do corpo orgânico do ser
humano. Jamais podemos afirmar que o corpo (matéria) é o ponto principal da carnalidade; não
podemos afirmar que é nosso corpo orgânico que briga com o Espírito Santo.

Para muitas pessoas, o corpo é o grande vilão; têm a ideia de que, por possuírem um corpo, jamais
agradarão a Deus; de fato, diante dessa perspectiva, mutilam, flagelam e machucam seus corpos, fazendo
o corpo sofrer, acreditando que, por essas atitudes, estão agradando a Deus.

Há alguns países que comemoram a Páscoa cristã de uma forma totalmente horrível (ainda bem que
aqui é só o ovo de chocolate do coelho); eles se autocrucificam na cruz, são pregados, chicoteados,
cumprindo, literalmente em seus corpos, todo o sofrimento que Jesus passou. Pensam que Deus se
agrada desses sacrifícios; isso tudo decorre de uma compreensão errada sobre a carnalidade, quando
pensam que a matéria é má por si própria. Tudo isso é uma desconstrução de doutrinas importantes
sobre o Evangelho de Jesus.

Temos, também, os monges, que se trancam e se amarram em seus monastérios, para que o corpo
não pratique coisas más. A grande massa acredita, na verdade, que o corpo humano é o verdadeiro
empecilho que nos impossibilita de nos achegarmos a Deus e agradá-lo.

No entanto, quando aprendemos o verdadeiro conceito de carnalidade, somos libertos, de fato, dessa
mentalidade. Quando aprendo que ser carnal vai muito mais além do meu corpo orgânico, todas as
coisas mudam. Quando olhamos para Jesus, todas as escamas caem de nossos olhos.
62
3.1. Se ser carnal é ter um corpo, então Jesus foi carnal e pecou?

Uma das bases da doutrina cristã é a humanidade de Jesus; é ter a certeza de que Deus se encarnou.
Deus é Espírito, porém, encarnou-se, assumindo a forma humana. Como todo ser humano, nasceu,
cresceu e morreu (mas ressuscitou ao terceiro dia); sentiu fome, sede, sono, chorou e tantas outras
coisas por quais qualquer ser humano está sujeito.

Ele, o Cristo, teve um corpo igual ao meu e ao seu (há estudiosos que divergem desse ponto de
vista), mas o fato é que Jesus teve um corpo e tem até hoje. Porém, agora está glorificado. Antes de sua
ressurreição, porém, teve um corpo normal. Alguns dizem que o corpo dele era diferente, que era o
mesmo corpo que Adão tinha antes da queda; no entanto, afirmar isso é reduzir todo o processo de
salvação que Jesus realizou.

O fato é que Jesus, sim, teve um corpo igual ao nosso e negar isso é ir contra a base de nossa fé. É
apoiar-se na doutrina falsa dos gnósticos, que o apóstolo João combateu. Esses espalhavam falsos
ensinos, de que Jesus não havia tido um corpo, pois para eles, toda a matéria era má. Portanto, seria
inconcebível para eles que um Deus Santo habitasse nessa matéria má.

Felizmente, João combateu essa heresia e defendeu a base do Evangelho de Jesus.

Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo espírito (pessoa) que confessa que Jesus Cristo veio em carne é
de Deus, e todo o espírito (pessoa) que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é
o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e ei que já agora está no mundo. (1Jo 4.2-3)

João defendeu a encarnação do Cristo, eis que João foi testemunha ocular da vida de Jesus nesta
terra. E um dos versículos mais impactantes quando ele fala sobre o corpo de Jesus está no início de
sua carta, em 1 João 1.1: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que
temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida.”

João afirma que nossas mão tocaram a Palavra da Vida (Jesus); e não pense que ele estava falando
da Bíblia, não! Ele se referia ao corpo de Jesus, no qual afirma que havia tocado no corpo de Jesus, a
Palavra encarnada.

O escritor aos Hebreus, no capítulo 4, versículo 15, afirma: “Porque não temos um sumo sacerdote que
não possa compadecer-se de nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado!”
O escritor afirma que em tudo Ele foi tentado, mas não pecou de maneira nenhuma.

Pedro, em sua primeira carta, no capítulo 2, versículo 22, também afirma “Ele não cometeu pecado
algum, nem qualquer engano foi encontrado em sua boca”.

Então, nesses dois versículos, temos a convicta afirmação que Cristo não pecou, mesmo possuindo
um corpo orgânico igual ao meu e ao seu.

Logo, quando afirmamos que o corpo é o motivo de sermos carnais, estamos equivocados. Uma
63
pessoa carnal é uma pessoa que está em pecado, andando contra a verdade absoluta. Afirmar que
carnalidade é o corpo orgânico é também afirmar que Jesus pecou.

As obras da carne que nos tornam carnais não fizeram parte da vida de Jesus. Ele não praticou e
nem viveu essas más obras, mas habitou em um corpo. Assim, ter um corpo não significa ser carnal.
Jesus nos prova que é possível agradar a Deus ainda nesse corpo; é possível vivermos para Deus nessa
matéria; e é possível graças a Ele, que nos abriu esse caminho.

3.2. Se ser carnal é ter um corpo, então Satanás nunca pecou?

Em contrapartida, temos o caso do diabo; o diabo é um espírito (Lc 10.17-20), nunca se encarnou,
nunca nasceu de mulher. O que temos, às vezes, são algumas possessões sobre pessoas. Ver Mc 5.1-20.
Mas, o diabo nunca teve um corpo, e mesmo assim peca desde o princípio, como nos afirma as
Escrituras em 1Jo 3. 8.

Assim, se a carnalidade estivesse condicionada a ter um corpo, o diabo não teria nenhum pecado;
seria santo! Mas, ao analisarmos as Escrituras no tocante às obras do diabo, podemos aplicar o princípio
da carnalidade sobre ele. Ele foi e é o ser mais carnal que existe; a sua soberba de querer ser igual a
Deus, a sua inveja, o seu ódio e tantas outras obras carnais, expressam o quão carnal o diabo é. E ele
nem precisa ter um corpo para ser carnal!

3.3. Se ser carnal não é ter um corpo, o que é ser carnal?

A carnalidade, na verdade, é um conceito espiritual. É um estado de espírito. Nosso corpo orgânico


será diretamente influenciado pelo nosso estado espiritual; por isso que Paulo cita obras da carne, pois,
geralmente, uma pessoa carnal vai usar seu corpo como via para praticar algumas carnalidades.

Ainda assim, posso estar com meu corpo amarrado em um monastério, praticando obras carnais,
entendendo que se trata de um estado espiritual. Logo, conclui-se que, de fato, não precisamos do corpo
para consumar nosso pecado.

Quem nos ensinou isso foi Jesus, no sermão do monte, em Mt 5.21-22. Jesus nos ensina que o
pecado não precisa do corpo para ser consumado, bastando cometê-lo na subjetividade do ser. A Lei
dizia que qualquer matar fisicamente seu irmão seria ato doloso e culpável; Jesus, porém, diz que
qualquer que se se ira já é réu de juízo.

Jesus veio nos mostrar o quão estava equivocada a interpretação da Lei por parte dos religiosos. Em
Mateus 15.2, os religiosos perguntaram para Jesus o porquê de Seus discípulos não lavarem as mãos
antes de comer, fazendo-se assim transgressores da Lei dos religiosos. Percebe-se que não há nenhum
problema em comer sem lavar as mãos (claro que, para a higiene do corpo, é recomendado que se lave
as mãos), porém, a indagação dos religiosos a Jesus não tinha nada a ver com a higiene e sim, com a
espiritualidade.

64
Eles acreditavam que não lavar as mão antes de comer implicava-lhes em pecado para a alma; eles
acreditavam que essa atitude contaminava o homem. Mas Jesus ensina que o que contamina o homem
espiritualmente não é o comer de mão sujas, não é por causa do corpo estar sujo, não é porque não se
banhou, mas o que contamina o homem é o que vem de dentro, do interior, do estado espiritual do
homem.

Os religiosos da época de Jesus eram rigorosos com seus corpos, limpavam-se em todas as ocasiões;
ao chegarem em suas casas, logo iam se banhar para a purificarem seus corpos. Jesus, no entanto, disse
que eles eram carnais, pois praticavam as obras da carne, não exteriormente (porque eram hipócritas),
mas em seus interiores eram tomados de uma carnalidade horrível. Ver Jo 8.44 e Mt 23.27.

O conceito de carne trata do estado espiritual no qual o ser humano vive; se ainda não fui alcançado
pela Graça maravilhosa, significa que ainda estou sob o jugo do pecado e sou um homem carnal.
Significa que ainda estou escravo de meus impulsos, pensamentos contaminados. Temos que entender,
também, que o ser humano é composto pela sua parte imaterial (espírito/alma) e sua parte material
(corpo); tudo que é gerado na sua parte imaterial afetará, de alguma forma, sua parte material, pois o
homem é uma unidade.

Os religiosos, na sua parte material, eram perfeitos aos olhos do povo, mas na sua parte imaterial,
estavam mortos; logo, eles foram reprovados por Cristo; a totalidade do ser (alma/corpo) foram
rejeitadas por Cristo, sendo convocados ao arrependimento.

Nosso corpo orgânico foi, assim, afetado pela queda de Adão; hoje percebe-se a sua corrupção através
dos dias: ele envelhece dia após dia, sendo afetado por doenças e tudo mais. Nosso corpo é corruptível,
não relacionado à carnalidade, mas, sim, ao seu processo normal: nasce, cresce e morre. Um dia esse
corpo será transformado na semelhança do corpo de Jesus; mas, tenha em sua mente o seguinte: é
possível agradar a Deus ainda nesse corpo; basta nos rendermos a Ele, sempre!

4. As obras da carne são manifestas

Como já aprendemos, o corpo, por si próprio, não é o motivo de sermos carnais e, sim, porque
estamos em um estado de espírito debaixo do pecado. O corpo é a forma de exteriorizar o que,
interiormente, em nós já é realidade de vida.

Então, Paulo cita alguma obras da carne que se manifestam no ser humano:

• Imoralidade sexual – segundo Champlin, algumas traduções trazem a palavra “prostituição”;


porém, imoralidade sexual é a melhor tradução do termo grego “porneia”, visto que
prostituição, na nossa cultura, dá a entender o tráfico comercial do sexo. Assim, imoralidade
sexual é toda relação sexual que não está nos parâmetros bíblicos estabelecidos para o
homem, ou seja, toda relação sexual fora do casamento é imoralidade. Relação sexual com
pessoas do mesmo sexo é imoralidade; relação sexual com animais é imoralidade. Em suma,
65
quaisquer outras relações que não envolvam um homem e uma mulher em seu estado natural
é imoralidade sexual.

• Impureza – Champlin explica que impureza, no original grego, é “akatharsia”, que significa,
literalmente, impureza, imundícia, refugo. Tal vocábulo era empregado para indicar uma
ferida suja, na carne, ou a depravação moral do espírito, a iniquidade, embora não
necessariamente de ordem sexual. Porém, nesse contexto, certamente Paulo tinha em mente
as impurezas sexuais praticadas com tantas variedades indefinidas.

• Lascívia – Champlin explica que que a palavra lascívia vem do grego “aselgeia”, que significa
licenciosidade, sensualidade exagerada. É um pecado licencioso, atuando na mente do ser
humano. No texto de Efésios 4.19, vemos que aqueles que destroem completamente a
consciência, tendo-a cauterizada, entregando-se ao deboche, aos pecados sexuais exagerados,
incorrem no pecado de lascívia.

• Idolatria – Segundo Champlin, os judeus consideravam esse pecado como o motivo básico
de corrupção do homem, aquele que aliena o homem de Deus, servindo, dessa forma, de
alicerce para todos os demais pecados. Por todo o decurso da história da humanidade, a sua
forma mais sutil e perigosa tem sido, sempre, o estado da adoração do próprio “eu”. Quando
tiramos o foco de Deus e começamos a focar em nós mesmo, somos, sim, acometidos da
idolatria, e é dessa atitude que surgem todas as bizarrices evangélicas em nosso meio.

• Feitiçaria - No seu comentário do Novo Testamento, Champlin diz que a feitiçaria vem do
termo grego “pharmakeia”, alusão ao uso de drogas de qualquer espécie, benéficas ou
venenosas. Visto que as feiticeiras usavam drogas em seus ritos, essa palavra veio a designar
a prática de feitiçaria, da mágica, das bruxarias e de todas as formas de encantamento.
Champlin ainda vai dizer que tais práticas, embora muitas sejam fraudulentas, não deixam
de ter certo poder; e não há dúvidas que espíritos malignos, algumas vezes, envolvem-se
nessas manifestações, outorgando aos homens os seus desejos, furtando-lhes o controle sobre
o mal, sobre as poluições morais e reduzindo-lhes a estados mais profundos de inimizade
contra Deus. Por amar os seres humanos, Deus manda que evitemos tais práticas (Dt 18.9-
14, Ex 22.18, 1Sm 28.7-9).

• Inimizades – No grego, “echthrai”, ou seja, “ódios”, uma palavra usada no plural, indicando
muitas modalidades de ódios contra Deus e contra os homens. Essa emoção é o oposto exato
do amor, pois, em vez de buscar o benefício e o bem-estar do próximo, busca prejudicá-lo,
almejando a sua destruição.

• Porfias – Palavra traduzida do grego “eris”, significando desavença, contenda. Atitude mental
hostil, que causa discórdias, divisões e dissenções. Mais corretamente, facções derivadas de

66
“erithos”, “servo alugado”, palavra aplicada para quem servia em posições oficiais em troca de
salário ou de outros propósitos egoístas, que promoviam o espirito partidarismo, as facções
(Champlin). O mandamento do Senhor é que amemos uns aos outros, e assim fazendo,
evitaremos causar essas divisões e participar delas; o mandamento é que vivemos em união.

• Ciúmes – No grego, “zelos”, traduzida por emulações, invejas. Mas o termo tinha um sentido
positivo como zelo, ardor. Porém, é obvio que, neste caso, está em foco um desejo intenso
pela vantagem pessoal, com a degradação das realizações e qualidade do próximo
(Champlin). Ciúme traz um zelo equivocado em relação ao outro, traz obstinação, colocando
no outro prisões, cadeias emocionais. O Senhor nos diz que isto é uma obra perversa, pois
nosso próximo merece nosso amor, e com esse amor vem a liberdade, confiança, lealdade.
Sejamos livres!

• Iras – Do grego “thumos”, ira ou fúria explosiva que irrompe através de ações e palavras
violentas; está diretamente relacionada às inimizades, porfias e ciúmes que resultam,
certamente, em explosões de ira.

• Discórdias – Aplicado no sentido de “ambições egoístas”, isto é, disputas pelo poder. Esse
tipo de comportamento resulta, sempre, em reações contrárias às opiniões de outras pessoas.

• Dissensões – Resulta das discórdias mencionadas anteriormente, ou seja, os homens levados


por motivos egoístas buscam honras pra si a qualquer custo.

• Facções – Também aparecem como resultado natural da sequência de vícios, descrita pelo
apostolo, onde grupos se formam e tramam uns contra os outros, ameaçando a unidade da
igreja. Esse comportamento implica em intrigas partidárias. O termo utilizado, aqui, é do
grego “hairesis”, ou seja, heresias.

• Inveja –Refere-se ao sentimento de descontentamento pelo que o outro é ou possui. Esse é


um tipo de sentimento que leva a pessoa a se consumir, literalmente.

• Embriaguez – Refere-se às manifestações de descontrole e intemperança, ocasionados por


bebidas embriagantes.

• Glutonaria – o termo aplicado por Paulo se refere ao estilo de vida desenfreado e


extravagante, que pode ser traduzido nas orgias do paganismo da época, diversões, festas
com comida e bebida de mosto exagerado, envolvendo drogas, sexo e coisas semelhantes.

5. Conclusão

Mais do que entender o significado de cada obra da carne, é preciso entender o conceito de
carnalidade, pois por esse conceito começamos a entender a verdadeira essência do que significa ser
carnal.

67
Compreendemos que, quando nosso corpo pratica tais obras, significa que antes já fomos
corrompidos em nossa essência. O corpo só manifesta o quão carnal somos no nosso interior.

Dito isso, começamos a nos preocupar em cuidar do nosso interior, e não somente vivermos de uma
religiosidade de aparência, focada na exterioridade e atitudes vãs que não produzem bem nenhum para
o ser.

6. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________

68
DONS DO ESPÍRITO

1. Introdução

No Antigo Testamento, o Espírito Santo agia somente através de pouquíssimas pessoas, as quais
Deus escolhia para fins específicos.

A partir do Pentecostes, Deus derramou seu Espírito sobre toda a carne; isso significa, então, que
todos têm acesso ao Espírito Santo.

Compreender os dons espirituais nos leva a entender a organização espiritual da igreja, o propósito
e a função de cada membro, uma vez que o plano de Deus é que a igreja funcione como um organismo
vivo, em que Cristo é o cabeça e cada membro é parte do corpo, funcionando com seus dons espirituais.

2. Dons concedidos por Deus e suas categorias

A Bíblia menciona alguns dons espirituais concedidos por Deus:

Efésios 4:11 Apóstolos - Profecia - Evangelismo - Pastor Mestre.


Sabedoria - Conhecimento - Fé - Cura - Milagre - Discernimento de
1 Coríntios 12:4-11
espíritos - Línguas - Interpretação de línguas.
Socorro - Administração - Exortação - Serviço - Contribuição -
Romanos 12:6-8
Liderança - Misericórdia

Existem ainda outros textos que nos conduzem a outros dons espirituais concedidos por Deus:
celibato, amor, missões, martírio, pobreza voluntária, hospitalidade, receptividade, intercessão,
libertação e outros.

2.1. Os dons são presentes gratuitos de Deus

Todo dom do Espírito Santo é uma capacitação sobrenatural concedida por Deus, única e
exclusivamente por Sua graça e misericórdia, derramada sobre cada cristão.

3. Propósitos dos dons: serviço, e não “ser visto”

Qual é o seu propósito? Promover o crescimento e fortalecimento da igreja como corpo de Cristo,
por meio da manifestação espiritual de cada dom concedido.

ATENÇÃO: O dom espiritual é algo que o ESPÍRITO SANTO dá e, não tem qualquer relação com
méritos, talentos, aptidões. Ninguém merece os dons, pois são presentes, dádivas de Deus, que
independem de nós. E mais: não os adquirimos simplesmente estudando, lendo, obtendo conhecimento
ou esforçando-nos. Deus tão somente escolhe uma pessoa e derrama sobre ela Seus dons.

O que motiva Deus a derramar Seus dons espirituais sobre alguém? Encontrar a correta motivação
dentro do coração, ou seja, preocupação em exaltar o nome de Deus diante dos outros e da igreja, e
não a busca pela autopromoção.

69
A vontade de Deus para nós é que tenhamos conhecimento e entendimento dos diversos dons
espirituais que existem. É possível pedir dons a Deus, mas a intenção e motivação do nosso coração
devem ser bem sondadas e observadas.

Você sabe qual é o perigo da motivação errada? Você pode ser alguém que seja dinâmico e bem
expressivo, mas quando o seu líder fala ou faz algo que você não concorda, logo tem um
questionamento. Ver 1Co 12:28-30.

4. A importância de se conhecer os dons

Conhecer os dons que Deus derramou ou quer derramar sobre sua vida é muito eficaz para entender
a sua importância dentro da igreja, compreender quais são as funções para as quais Deus te designou,
gerando uma valorização de sua autoestima. Além disso, conhecer os dons contribui para um
crescimento rápido da igreja e edificação do ministério.

Lembrando sempre que o principal motivo do uso dos dons é engrandecer e glorificar no nome de
Jesus; por isso, conhecê-los contribuirá para que isso ocorra através de suas ações.

5. A responsabilidade dos dons

Cada dom espiritual que Deus concede, precisa ser usado pelo homem, pois cada um será
considerado responsável por isso, como na parábola dos talentos. Ver Mt 25:14-30.

Não importa se o cristão recebeu um, dois ou cinco talentos; ele será responsável diante de Deus
pelo uso de cada um deles. Esses recursos devem ser utilizados para os propósitos do Senhor, pois, um
dia, Ele perguntará: "O que você fez com cada dom espiritual que te confiei?", e é necessário prontidão para
responder.

ATENÇÃO: A importância e uso dos dons são semelhantes ao funcionamento do corpo humano,
em que, apesar de cada órgão ter sua finalidade, um depende do outro. Assim, não há um dom mais
importante que outro; antes, cada um tem sua respectiva importância e função dentro da igreja.

6. Dons e fruto do espírito (poder e caráter)

6.1. Diferenças entre Dons do Espírito e Fruto do Espírito

• Poder de Deus: é a manifestação do poder do Espírito Santo na vida do cristão, através dos
dons espirituais. Não tem relação alguma com o caráter da pessoa. O dom do Espírito é
recebido gratuitamente e de acordo com a vontade de Deus (Deus é galardoador – Hb 11:6).

• Caráter de Cristo: é a necessidade de desenvolvermo-nos em santidade e em retidão;


características básicas de qualquer cristão, que são refletidas por meio do fruto do Espírito
Santo. O fruto do Espírito é conquistado durante a caminhada com Jesus, por meio de
plantios.
70
Os dons são muitos e variados; nem todas as pessoas os têm na totalidade; são dados à medida do
chamado de Deus para cada um; é a multiplicação de uma determinada característica, como, por
exemplo: ter amor é diferente de ter o dom do amor, por meio do qual uma pessoa é habilitada a amar
intensamente e em situações difíceis de amar.

Não é somente amar por decisão; é também por sentimento - Pai, Filho e Espírito Santo têm o dom
do amor. O dom serve, ainda, para ajudar-nos, para o usarmos em nossas vidas, crescermos
espiritualmente, sermos luz na terra, demonstrarmos o bom testemunho de vida aos outros.

O fruto é a consequência normal e esperada do crescimento espiritual de todo cristão, conforme à


semelhança de Cristo.

O dom do Espírito Santo é descoberto e manifesta o poder de Jesus na vida do cristão. O fruto é
desenvolvido de acordo no caminhar com Cristo, além de ser a manifestação do caráter de Jesus Cristo
na vida do cristão.

ATENÇÃO: de acordo com o Dr. C. Peter Wagner, se os dons espirituais ajudam a definir o que
um cristão faz, o fruto ajuda a definir o que um cristão é. Ambos, porém, completam-se para que a
pessoa tenha a plenitude do Espírito Santo de Deus, pois os dons, sem o acompanhamento do fruto,
tornam-se inúteis diante de DEUS e até perigosos para a própria pessoa.

Ver 1Pe 4:10-11.

ATENÇÃO: os dons derramados por Ele sobre a vida de alguém são irrevogáveis, ou seja, jamais
são perdidos ou tomados de volta. Rm 11:29: “Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis.”

Quando usamos os dons dentro da vontade de Deus, eles são mais manifestos e outros dons ainda
podem ser acrescentados, de acordo com a vontade de Deus; se, porém, usarmo-los fora da vontade de
Deus, eles podem adormecer em nós ou, pior que isso, podem ser usados por Satanás como forma de
corrupção e deturpação espiritual. Independentemente de qualquer circunstância, porém, Deus jamais
os tomará de volta!

7. Os grupos de dons: 1ª Coríntios 12 e Romanos 12

Inicialmente, vamos analisar os dons que estão em 1Co 12.

7.1. 1º grupo: dons verbais:

7.1.1. Falar em línguas

Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus. (At 10:46)

E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam. (At
19:6)

71
E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo
lhes concedia que falassem. (At 2:4)

Embora muitos acreditem que falar em línguas “estranhas” seja uma consequência do batismo no
Espírito Santo, podemos ser batizados pelo Espírito Santo sem, necessariamente, falar em línguas
“estranhas”. Isso ocorre quando Jesus toca-nos e recebemos primeiramente o enchimento do Espírito
em nossa vida.

O fato de uma pessoa não ter o dom de falar em línguas “estranhas” não quer dizer que não tenha
outros, pois é possível ter diversos dons e, ainda assim, não ter o de falar em línguas.

Existem dois tipos de línguas:

• Língua dos homens: são os idiomas das outras nações como, por exemplo, russo, japonês,
inglês, em que a pessoa começa a falar o idioma estranho sem tê-lo estudado anteriormente.

• Línguas estranhas: fica mais claro e subentendido como uma linguagem sobrenatural de
oração.

ATENÇÃO: Deus respeita a vontade de cada um, inclusive no que diz respeito aos dons: a pessoa
tem total domínio de seu corpo; não é algo incontrolável, pois o Espírito está sujeito à pessoa. 1Co
14:32: “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.” Sendo assim, todo culto oferecido a Deus
deve ser feito com ordem e sem escândalos.

7.1.2. Interpretação de línguas

O dom de línguas não é bom apenas para uma única pessoa; se houver o dom de interpretação de
línguas, haverá edificação de toda a igreja. Quando há a interpretação de línguas, entendemos que se
trata da tradução de uma mensagem de Deus para todo o corpo de Cristo, sem jamais levantar alguém
para atrapalhar o culto, escandalizar ou acusar o próximo.

A interpretação visa a tornar as línguas inteligíveis e entendíveis, podendo ocorrer por meio da
pessoa que está entregando a mensagem em línguas ou por meio de outra. Ver 1Co 14:13.

7.1.3. Profecia

É a capacitação sobrenatural derramada por Deus em determinados cristãos, a fim de que recebam
e transmitam uma mensagem imediata ao Seu povo e à Sua igreja. 1Co 14:1: “Segui o amor, e procurai
com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar.”

Por que o termo “principalmente”?

Precisamos analisar essa passagem à luz do contexto. E o contexto imediato, aqui, é de Paulo
restringindo a discussão a apenas dois dons: línguas e profecias, o que sugere fortemente que havia
alguma disputa ou incerteza quanto a esses dois dons na igreja em Corinto.
72
Nessa interpretação, parece ser possível concluirmos que, aos olhos de alguns coríntios, a profecia
na forma do falar em línguas era preferível à profecia na forma inteligível. E aqui (mais uma vez,
insiste-se no contexto imediato), Paulo estabelece uma distinção entre os dois dons e reverte a ordem
de importância, baseando-se naquilo que mais edifica a igreja.

Então, a expressão por trás do termo “principalmente” não afirma que o melhor dom é o de profecia;
simplesmente, especifica que os coríntios deveriam buscar esse dom em especial, e a razão é essa: o
contínuo contraste entre a profecia e o falar em línguas na igreja de Corinto e o tom de conciliação de
Paulo. Lembre-se de que a igreja de Corinto era uma igreja extremamente dividida.

Outro detalhe que precisa ser mencionado é a linha teológica bastante aceita que diferencia a profecia
do Antigo Testamento (AT) da do Novo Testamento (NT). Para Paulo, por exemplo, os herdeiros e
sucessores legítimos dos profetas do AT, pelo menos no que diz respeito ao status de autoridade, não
eram os profetas no NT, mas sim os apóstolos.

De fato, uma vez que um profeta era aprovado no AT, o povo de Deus estava moralmente obrigado
a obedecê-lo. Desobedecer a tal profeta era o mesmo que se opor a Deus. Se um profeta falando em
nome de Deus fosse achado em erro, a pena oficial era a morte. Contudo, uma vez que o profeta é
reconhecido como verdadeiro, não há nenhum indício bíblico de que se faziam “testes” para julgar o
conteúdo de suas profecias.

Diferentemente, as profecias dos profetas do NT deveriam ser julgadas com cuidado (1Co 14.29;
1Ts 5.19-21). O termo grego utilizado nessas passagens sugere que as profecias deveriam ser avaliadas!

Outro fato é que o NT não sugere que os profetas sejam os baluartes da igreja, lutando contra o
ensino falso. Assim, ou concluímos que dom de profecia morreu com os apóstolos – o que iria contra
a todo ensino dos pais da igreja – ou concluímos que os profetas da nova aliança nunca desfrutaram
do status de autoridade dos apóstolos (no sentido restrito do termo) e dos profetas do AT.

Uma profecia genuína e cheia do Espírito Santo sempre respeita as seguintes condições:

• Ela nunca contraditará a palavra de Deus escrita;

• Sempre exaltará a Jesus Cristo e nunca O difamará;

• É feita para edificar, exortar, indicar uma direção a ser seguida;

• Jamais deverá trazer confusão, insegurança e aflição.

Não devemos correr atrás de profetas, pois correr atrás deles significa idolatrar homens e não confiar
em Deus. As profecias devem vir até nós, e não o contrário.

Vale ressaltar que todos os cristãos foram chamados para profetizar num sentido de lançar e liberar
palavras sobre a vida do próximo, sobre qualquer situação ou ainda sobre a sua própria vida.

73
7.2. 2º grupo: dons de revelação

7.2.1. Palavra de sabedoria

É a capacitação sobrenatural com o intuito de trazer soluções para os problemas difíceis e complexos
da igreja ou na vida de qualquer pessoa, podendo tais problemas ser tanto de ordem pessoal ou natural,
quanto espiritual.

A palavra de sabedoria não é conhecimento teológico, embora Deus possa trazer tudo isso à
lembrança quando direções estão sendo dadas. Ver At 6:10.

7.2.2. Palavra de conhecimento

Quando as lutas espirituais e problemas específicos de alguém são revelados por Deus, temos a
ocorrência de uma palavra de conhecimento. A partir disso, Deus dará estratégias para a reversão desses
problemas e isso é possível por meio da palavra de sabedoria.

A palavra de conhecimento tem poder de mudar uma vida; são revelações do passado e presente de
alguém, tendo relação direta com a descoberta da verdade. A palavra de sabedoria, no entanto, refere-
se ao futuro, sendo a revelação de métodos para aplicação da vontade de Deus sobre uma vida. Ver At
5:3.

7.2.3. Discernimento de espíritos

É a capacitação sobrenatural a fim de que possam provar e examinar detalhadamente a origem de


certos comportamentos; não se trata de leitura de mente, adivinhação de pensamentos ou exposição
das falhas de outros. Por intermédio desse dom é possível interpretar, revelar e saber com extrema
segurança a origem de uma profecia ou de qualquer fato: se vem de Deus, do homem ou do diabo.
Deus simplesmente revela a origem de determinado comportamento em uma fração de segundos. Ver
1Jo 4:1.

7.3. 3º grupo: dons de habilidade

7.3.1. Dom da fé

É a capacitação sobrenatural a fim de que possam experimentar uma multiplicação da fé já existente


em sua vida, além de discernir, com grande confiança, a vontade de Deus para suas vidas, tanto no
aspecto pessoal, quanto ministerial, o qual envolve os propósitos da igreja.

Essa fé não é necessária para alcançar a salvação da alma, mas sim para realizar feitos incríveis,
sobrenaturais, fora de explicações racionais, sendo ela necessária para superar circunstâncias
extremamente difíceis aos olhos naturais. Ter o dom espiritual da fé é ter a confiança necessária em
Deus para deixar desertos para trás e realizar feitos incomuns. Ver Hb 11:1-7

74
7.3.2. Dom de cura

O dom de cura é a realização de uma restauração completa de enfermidades no corpo, na alma e no


espírito, sem fazer uso de meios naturais e medicinais.

Para sabermos se temos o dom de cura, precisamos tomar a iniciativa de orar pelo próximo. Se
tivermos esse dom, a pessoa será curada imediatamente ou dentro de um tempo estabelecido e, em
ambos os casos, o nome de Deus será glorificado. Ver Mt 10:8.

7.3.3. Dom de milagres

O milagre de Deus é a manifestação do poder do Espírito Santo e o dom de milagre manifesta


através de quem o possui, na realização de grandes mudanças na ordem natural das situações, dos fatos
e, até, da natureza, uma vez que se trata de atos sobrenaturais e sobre-humanos, os quais quebram os
princípios da lei natural. Ver At 19:11.

8. Todos os dons têm a sua devida importância

Não existem dons mais importantes que outros; porém, existem dons mais visíveis e marcantes que
outros, visto levarem pessoas ao respeito, temor e conversão a Deus mais rapidamente. Por exemplo,
se um incrédulo presenciar a manifestação dos dons de milagre, cura, profecia e palavras de
conhecimento e sabedoria, provavelmente será mais impactado do que se presenciar a manifestação dos
dons de línguas estranhas, martírio, liderança, celibato, pobreza voluntária, dentre outros. Ver Rm 12:3-
8.

A seguir vamos conhecer um pouco dos demais dons existentes.

8.1. Dom do amor

O amor é o maior dom vindo de Deus, pois é a chave para que todos os outros dons sejam utilizados
de maneira correta. O dom do amor prioriza o atendimento das necessidades do próximo, bem como
gera o reconhecimento da total dependência de DEUS. Ver 1Co 13: 13.

8.2. Dom de mestre ou dom de ensino

É a capacitação sobrenatural a fim de que possam estudar a Palavra de Deus, de forma a receber
revelações e compreensões dos ensinos bíblicos, possibilitando a transmissão e esclarecimentos dos
princípios e valores de Cristo para a igreja ou pessoas.

O mestre não sabe tudo, mas, o que sabe, é capaz de ensinar de forma eficaz, gerando aprendizado,
compreensão e conhecimento da Palavra e de suas verdades, por meio do Espírito Santo. Ver At 15:35.

8.3. Dom de liderança

É o dom de dirigir, guiar, orientar, administrar e organizar a obra ministerial, mantendo a ordem,

75
promovendo o “alargar das estacas” e o crescimento da obra de Deus.

Os cristãos que recebem o dom de liderança mostram-se seguros e conhecedores do que precisa ser
feito; conseguem enxergar a curto, médio e longo prazo e, em virtude disso, têm maior facilidade para
concluir metas estabelecidas, sempre para glória e honra de Deus. Ver Tt 1:5.

8.4. Dom de exortação

É a capacitação sobrenatural a fim de que eles possam ser instrumentos de conselho, consolo e
encorajamento, sempre visando ao crescimento espiritual das pessoas. A exortação, quando ministrada
através de Deus, produz arrependimento, mudança de atitudes, curas na alma, aumento da fé e
motivação para não desistir dos objetivos traçados.

Aquele que possui o dom de exortação, transmite segurança e carisma ao falar, incentivando o
próximo a ter uma conduta apropriada, consolando-o e encorajando o crescimento espiritual. Ver At
11:23.

8.5. Dom de libertação (ou exorcismo)

Jesus deu autoridade a todo cristão para expulsar demônios em Seu nome, ou seja, todos devem se
preparar para batalhas espirituais.

Para alguns, foi dada uma unção específica para libertação espiritual, que seria o dom de libertação.
Pessoas que são usadas por Deus em cura e libertação, acima da média normal dos demais. Aquele que
tem o dom de libertação está apto a libertar pessoas de qualquer espécie de opressão e escravidão do
inferno, além de ser usado para trazer saúde espiritual ao corpo de Cristo, promovendo, dessa forma,
o bom crescimento da igreja e dos membros. Ver At 16:16-18.

8.6. Dom de misericórdia

O dom de misericórdia é sentir extremo prazer em colocar-se no lugar de qualquer pessoa que esteja
enfrentando dificuldades, sejam elas de ordem emocional, física ou espiritual. Os misericordiosos
alegram-se em aliviar a dor do próximo e retirar o jugo pesado que satanás coloca sobre as pessoas.

Uma das grandes características da misericórdia é sentir a dor, a angústia e o sofrimento no lugar
de outra pessoa, manifestando, assim, o ato de amor de Jesus pela humanidade. Ver Rm 12:15.

8.7. Dom do celibato

É a capacitação de permanecer solteiro e alegrar-se com esse estado, sem sofrer tentações e atrações
sexuais, optando por uma vida de abstinência sexual completa, dedicando-se de forma mais completa à
obra de Deus.

Não necessariamente ocorre quando criança, mas é possível que alguém, mesmo após ter se
relacionado anteriormente, receba o dom e deixe de interessar-se e ter prazer em viver ao lado de uma
76
esposa ou marido. Isso somente é possível na força de Deus, e jamais na força humana.

Portanto, se alguém crê que tem o dom do celibato, mas tem pensamentos ligados ao sexo ou ainda
sofre tentações sexuais, na realidade vive uma mentira e um roubo de Satanás, visto Deus ter criado o
sexo para ser compartilhado dentro do conceito de casamento. Ver 1Co 7:8-9.

8.8. Dom da pobreza voluntária

É a capacitação sobrenatural a fim de que, por opção própria e não por circunstâncias adversas da
vida, sejam completamente desprendidos das coisas materiais, abstendo-se totalmente dos confortos e
facilidades que o dinheiro pode gerar. Ver Fp 4:11-12.

8.9. Dom do martírio

É a capacitação sobrenatural a fim de que atravessem situações de extrema dor e sofrimento físicos
para que o nome de Deus seja glorificado. Em situações extremas, essas pessoas não vacilam, nem
mesmo sabendo da grande possibilidade de morte, defendendo e proclamando o nome de Jesus até o
fim, mesmo que isso custe a vida. At 7:55;56;59.

8.10. Dom da hospitalidade

É a capacitação de pessoas que sentem um imenso prazer em acolher e hospedar os irmãos em


qualquer situação, tanto os que têm, quanto os que não têm condições financeiras, despendendo, para
isso, alimento e moradia. Ver Hb 13:2.

8.11. Dom da administração

É a capacitação a fim de que realizem tarefas que levem a igreja a atingir os alvos estabelecidos por
Deus, mantendo uma boa organização administrativa. As pessoas que receberam esse dom trabalham
na área de planejamento da igreja, recebendo estratégias eficazes da parte de Deus para cuidar de
departamentos que não são visíveis ao Corpo, como por exemplo, área financeira, administrativa,
contábil, suprimentos etc. Ver Gn 41:34-36.

8.12. Dom da contribuição (mantenedor)

É a capacitação a fim de que eles ofertem recursos materiais, acima da média, na casa de Deus. Há
uma diferença entre dízimo e oferta: o dízimo corresponde à décima parte da renda, que o cristão
apenas devolve para Deus, cumprindo algo com gratidão e amor; a oferta, por sua vez, corresponde ao
valor material excedente ao dízimo, sendo que ambos precisam ser dados com alegria, gratidão e amor
no coração.

A contribuição, assim como o dízimo, supre a necessidade da obra ministerial e do povo de Deus.

77
8.13. Dom de apóstolo

Aquele que é levantado pelo Espírito Santo como apóstolo fica à frente do trabalho de uma certa
quantidade de igrejas, sendo revestido e cheio da graça de Deus, reconhecido, por isso, como líder geral,
tendo vida e conduta exemplares e admiradas pelos membros das igrejas.

O apóstolo fala com extrema autoridade sobre fé e prática do evangelho, levantando e implantando
novas igrejas, líderes e obreiros e tendo como visão a delegação de tarefas dentro do Corpo de Cristo.
Ver Rm 1:1.

Importante destacar que o termo “apóstolo” pode ser usado em dois sentidos: um sentido bem
definido e técnico e um sentido mais amplo.

No sentido restrito, o termo designa os Doze (menos Judas Iscariotes) e mais Paulo (apóstolo “fora
de tempo”). No entanto, há passagens que designam usos mais amplos, como por exemplo, Epafrodito
(Fp 2.25), os agentes de Paulo enviados às igrejas (2Co 8.22-23). Nesse sentido, o termo equivaleria
a “missionários” ou algo do tipo.

8.14. Dom de pastor

Aquele que tem esse dom é habilitado a cuidar e dar instruções espirituais aos membros da igreja,
tornando-se pai do rebanho e referência para a vida deste, por anos e anos. Ver 1Pe 5:2.

8.15. Dom de evangelista

Os evangelistas são pregadores da palavra que não perdem uma oportunidade para falar do amor de
Deus, a fim de que eles compartilhem do evangelho de Jesus Cristo com os incrédulos, em qualquer
circunstância, em qualquer tempo, em qualquer lugar, em qualquer situação, de tal modo que os ouvintes
reconheçam a Bíblia como verdade, apresentando o Evangelho com uma clareza e facilidade incríveis.
Ver At 8:40.

8.16. Dom do serviço ministerial

É a capacitação sobrenatural, a fim de que eles contribuam, na prática e no dia a dia, com a obra de
DEUS, e com o bom andamento dos cultos e dos demais ministérios, por intermédio de seus serviços
e aptidões. Ver At 6:3.

8.17. Dom de intercessão

É a capacitação sobrenatural a fim de que consigam permanecer em oração por longos períodos de
tempo, com o objetivo de ver o plano de Deus se cumprindo tanto na sua vida como, principalmente,
na vida de outras pessoas. Ver Gl 4:19.

78
9. Como descobrir os dons?

De acordo com o Dr. C. Peter Wagner, existem algumas condições necessárias que ajudam o cristão
a descobrir seus dons espirituais:

Ser um cristão verdadeiro: é fundamental nascer de novo através de um relacionamento pessoal com
Jesus e uma vida de intimidade com Ele. O cristão verdadeiro possui a motivação correta no coração.

Crer na eficácia dos dons espirituais: o cristão precisa crer no poder de Deus e na eficiência dos
dons.

Conhecer o seu chamado dentro e fora da igreja: o cristão precisa crer que Deus lhe designou certos
dons com um propósito específico a ser cumprido e esses dons servirão de respaldo ao cumprimento
desse chamado.

Orar por dons: o cristão deve orar a Deus, pedindo pelo derramar dos dons sobre a sua vida e,
depois de derramado, orar pela manutenção e uso correto dos deles, evitando, assim, a corrupção.

Glorificar a Deus: o cristão deve ter um espírito de gratidão, reconhecendo a sua dependência de
Deus e usando os dons de forma a glorificar somente o nome de Jesus.

10. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________

79
FRUTO DO ESPÍRITO

1. Considerações iniciais

Segundo o Dicionário Bíblico Wycliffe, “o fruto do Espírito sãos os hábitos e princípios misericordiosos
que o Espírito Santo produz em cada cristão”. Esses hábitos e princípios são o resultado de uma vida de
comunhão com Deus.

De acordo com Romanos 6.22 (Mas agora que vocês foram libertos do pecado e se tornaram
escravos de Deus, o fruto que colhem leva à santidade. NVI), depois de liberto do pecado, o crente
precisa desenvolver o fruto do Espírito.

Os dons espirituais são dádivas divinas, mas o fruto precisa ser desenvolvido, cultivado. O Espírito
Santo desenvolve o seu fruto em nós à medida que nos aproximamos de Deus e procuramos ter uma
vida de comunhão e santidade.

O fruto do ESPÍRITO SANTO está relacionado com as bem-aventuranças, sendo que estas mostram
como deve ser o caráter do cristão. O fruto, no entanto, refere-se às características manifestas na vida
do cristão, por intermédio de seu caráter e que devem ser praticadas.

2. Uma nova pessoa

Todos nós tivemos um nascimento carnal, o qual se inclina ao pecado, em virtude de nossa natureza
pecaminosa, sendo assim, precisamos nascer de novo, ou seja, nascer do ESPÍRITO, para podermos
viver em santidade.

Quando nos tornamos cristãos, a nossa natureza pecadora continua existindo. Mas Deus nos pede
que coloquemos a nossa natureza pecadora sob o controle do Espírito Santo de modo que Ele possa
transformá-la. Este é um processo sobrenatural. Nunca devemos subestimar o poder da nossa natureza
pecadora, e nunca devemos tentar combatê-la com as nossas próprias forças. Em lugar de tentar superar
o pecado com a nossa própria força de vontade, devemos aproveitar o tremendo poder de Cristo.

Deus permite a vitória sobre a nossa natureza pecadora – Ele envia o Espírito Santo para residir em
nós e nos capacitar. Mas a nossa capacidade de resistir aos desejos da natureza pecadora irá depender
do quanto estamos dispostos a “viver de acordo” com o Espírito Santo. Para cada cristão, este processo
diário requer decisões constantes. Ver Gl 5:16-18.

PARA MEMORIZAR: a carne não tem mais poder sobre o crente quando este entrega a direção
da sua vida ao Espírito Santo.

3. Andar em espírito

Paulo foi enfático ao afirmar: “Andai em Espírito” (Gl 5.16). O Espírito Santo nos ajuda a viver em
santidade e de maneira que o nome do Senhor seja exaltado. Sem Ele não poderíamos agradar a Deus.
80
Quem pode nos ajudar e nos conduzir de modo a agradar a Deus? Somente o Espírito Santo.

O doutor Stanley Horton diz que andar no Espírito e ser guiado por Ele significa obter vitória sobre
os desejos e os impulsos carnais. Significa desenvolver o fruto do Espírito, o melhor antídoto às
concupiscências carnais.

Quando o Espírito Santo tem o controle do nosso espírito, Ele faz com que o nosso homem interior
tenha forças e condições para opor-se as às obras da carne. Andar na carne, ou seja, ser dominado pela
velha natureza adâmica, leva a pessoa a portar-se de modo pecaminoso. Infelizmente, muitos cristãos,
como os de Corinto, estão se deixando dominar pelas obras da carne (1Co 3.3).

PARA MEMORIZAR: a diferença entre a carne e o espírito, é que a carne foge de Deus e o espírito
tem sede do Senhor.

O Espírito Santo está sobre nós e dentro de nós: não deixe qualquer dúvida a esse respeito pairar
em sua mente! Deus chama-nos a andar em espírito, isso significa estar ligado ao Espírito Santo ao
longo das vinte e quatro horas do dia.

Obedecer a DEUS: em qualquer situação vivida, devemos antes de tudo, obedecer a todas as direções
dadas pelo Senhor. Se Deus mandar-nos fazer, façamos. Se Deus não nos mandar fazer, não façamos.
Se Deus mandar-nos seguir, sigamos. Se Deus mandar-nos parar, paremos. Se Deus mandar-nos
perdoar, perdoemos. Se Deus mandar-nos reconciliar, que haja reconciliação. Se Deus mandar-nos
ungir, que haja unção. Se Deus mandar-nos orar, oremos. A obediência é a atitude e a condição que
precedem as bênçãos de Deus sobre nós.

Seguir a DEUS: a nossa busca constante a Deus refletirá uma transformação permanente na nossa
vida. Devemos estar sempre no lugar onde Deus manifesta-se. A nossa vida deve girar em torno de
Deus, e não Deus em torno de nós. Dessa forma, estaremos afirmando que Deus é o centro, e não nós.
Jesus chamou-nos para sermos discípulos Dele, ou seja, seguidores Dele.

Viver com DEUS: viver na companhia de alguém é compartilhar a vida, convidando-o a estar com
você durante todo o dia e em todas as tarefas diárias, seja ao acordar, trabalhar, almoçar, passear,
comprar, estudar, enfim, tudo o que fizer, faça na companhia de Deus.

4. A qualidade do fruto revela a sua origem

Quem realmente obedece, segue, anda e vive com JESUS mantêm-se em espírito. Um bom indicador
disso é verificarmos se estamos dando frutos para DEUS através da nossa vida.

Mateus 7:20 “Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.”

Para produzirmos bons frutos, precisamos ser obedientes e dependentes de Deus, pois, como
acontece com uma árvore, por exemplo, para que esta gere fruto é necessário que o ramo esteja ligado
ao tronco, com total dependência deste. Ver Jo 15:1-5.
81
Todo fruto revela sua árvore de origem: o mau fruto tem uma má origem e o bom, uma boa; sendo
o fruto um reflexo do que vivemos e acreditamos. Quando vivemos com Deus, crendo em suas direções,
manifestaremos frutos santos. Todo cristão é chamado para dar e expressar os frutos, pois além de
refletir o que ele vive, será uma fonte de vida, conduzindo outros a Cristo.

5. Obras da carne ou fruto do espírito?

Todas as obras listadas em Gálatas 5:19-21 são consequências de quem está vivendo na carne, seja
cristão ou incrédulo.

Aquele que está na carne vive em reação; reagindo. E aquele que está em espírito vive em ação;
agindo.

Viver na carne: fazem-te o mal e você reage com o mal; fazem-te o bem e você reage com o bem.

Viver em espírito: fazem-te o bem e você reage com bem; fazem-te o mal e você reage com o bem.
Vivemos em ação quando somos rejeitados e retribuímos com amor; quando somos ofendidos, mas
abençoamos.

Os que vivem segundo a carne, ou seja, uma vida dominada pelo pecado, jamais agradarão a Deus:
“Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.8). O viver na carne opera morte
(espiritual e física), mas o viver no Espírito conduz o crente à felicidade, à vida eterna (Rm 8.11; 1Co
6.14).

O conflito espiritual interiormente no cristão envolve a totalidade da sua pessoa. Este conflito resulta
numa completa submissão às más inclinações da carne, o que significa voltar ao domínio do pecado;
ou numa plena submissão à vontade do Espírito Santo, continuando o crente sob o senhorio de Cristo
(Rm 8.4-14).

O campo de batalha está no próprio cristão, e o conflito continuará por toda a vida terrena, visto
que o crente por fim reinará com Cristo (Rm 7.7-25; 2Tm 2.12; Ap 12.11).

PARA MEMORIZAR: para vencer as obras da carne precisamos andar em Espírito.

6. O fruto e os dons se completam

Devemos entender que esse fruto é uma arma do cristão. Dispomos de dois tipos de armas: o fruto
do Espírito Santo e os dons do Espírito Santo.

Os dons do Espírito são muitos e variados e nem todas as pessoas os tem na totalidade, pois são
dados de acordo com a exigência do chamado feito por Deus para cada um. Eles são dados por Deus
para a edificação da igreja e dos outros irmãos e não para glória de homem algum.

O dom é a multiplicação de determinada característica, como por exemplo: ter amor é diferente de
ter o dom do amor, pois o dom gerará a multiplicação da característica do amor na vida da pessoa.
82
O dom do Espírito Santo é a manifestação do poder de Deus na vida do cristão, enquanto o fruto é
a manifestação do caráter de Jesus Cristo. Os dois se completam para que o cristão possa viver a
plenitude do Espírito Santo de Deus.

O fruto do Espírito são:

6.1. Amor (Caridade) Pv 10.12; Rm 5.5; 1Co 13; Ef 5.2; Cl 3.14

Esse é o amor que vem de Deus, amor esse que cobre todas as transgressões, pecados e iniquidades.
Esse é o lado do amor-perdão, em que o cristão consegue amar e perdoar o próximo.

O amor natural não é capaz de cobrir todas as transgressões, ele não é capaz de aceitar o próximo
independente de suas falhas. Quando estamos andando em espírito, temos condições de amar as pessoas
em qualquer situação.

Lembre-se: não temos de reagir, mas agir! Temos de amar a todos: os que nos amam ou nos odeiam.
Jesus jamais nos pediria algo que não fosse possível, por isso, não é na nossa força, mas é por meio do
poder do Espírito Santo.

Esse é o amor onde se busca o interesse e o bem maior de outra pessoa sem nada querer em troca.

6.2. Alegria (Gozo) Ne 8:10

Neemias foi um homem levantado por Deus para reconstruir os muros de Jerusalém, mas sofreu
grande crítica e oposição ao seu trabalho. Contudo, ele descreve o que o fez andar firme no propósito
de Deus: a alegria.

Se tudo estiver ruim a nossa volta, Deus pede-nos para nos alegrarmos, e essa alegria, vinda do
nosso interior, vai contagiar a todos os que estiverem do lado de fora e todas as situações desfavoráveis
serão transformadas.

6.3. Paz Sl 34:14-15

O mundo diz que paz é ausência de conflito, mas paz não é ausência de conflito; Jesus disse-nos que
teríamos aflições. Nossa vida é repleta de conflitos, às vezes internos, como a luta contra o pecado e,
outras, externos, como perseguição na família, trabalho, doença etc. Ver Jo 16:33.

A paz é a sensação de bem-estar e tranquilidade, resultante de nossa amizade com Deus.

Numa de suas horas mais difíceis, Jesus falou com seus apóstolos a respeito de sua partida: Ele tinha
de ir embora, para completar sua missão, mas essa situação afligia profundamente seus apóstolos. Nesse
contexto, ele lhes deu esta segurança: conforme João 14:26-27.

6.4. Paciência (Longanimidade) Ef 4.2; 2Tm 3.10; Hb 12.1

Paciência é o sinônimo de longanimidade e tolerância; qualidade de controlar-se diante de uma

83
situação adversa ou de uma provocação; é o oposto da raiva e está sempre associada à misericórdia.

Ter paciência é ter a capacidade de pensar antes de tomar qualquer atitude. Se o cristão agir assim
sempre, muitas confusões e desentendimentos serão evitados.

Não é da vontade de DEUS condenar alguém, e é por causa de sua longanimidade que Ele tem dado
tempo suficiente para que o homem se arrependa e converta-se.

Devemos, então, agir dessa mesma forma com as pessoas: agindo com paciência e longanimidade.

6.5. Benignidade Ef 4.32; Cl 3.12; 1Pe 2.3

Benignidade não é o mesmo que bondade e, sim, um sinônimo de gentileza, delicadeza e


benevolência.

É a virtude que nos dá condições de sermos gentis para com os outros, expressando ternura
compaixão e brandura. A benignidade de Deus na vida de Paulo impediu de o carcereiro de Filipos se
suicidasse e levou o carcereiro a cuidar de Paulo. Ver At 16.24-34.

A benignidade aparece em nossas vidas quando passamos a viver cheios do Espírito Santo, fazendo
com que as várias áreas de nossas vidas comecem a ser modificadas. Dessa forma, nossas características
malignas passam a ser transformadas em benignas, através do relacionamento com JESUS; trocamos a
noite pelo dia, as trevas pela luz. Ver 2Co 5:17.

Naturalmente as coisas que nos fazem mal são deixadas para trás e substituídas por aquelas que nos
fazem bem; nossa malignidade é substituída pela benignidade do Senhor; o bem de Deus substitui o
mal do homem. Quando jejuamos, por exemplo, as mais diversas deformações do nosso caráter são
expostas e isso ocorre, justamente, para que essas características ruins saiam e outras boas sejam postas
no lugar.

Tratar os outros com gentileza e/ou delicadeza nos diferencia muito da maioria das pessoas do
mundo, que normalmente são agressivas e mal educadas.

Tratar os outros com gentileza também é parte do amar o próximo como a si mesmo. É não querer
magoar ninguém, nem lhe provocar dor.

6.6. Bondade

Bondade é o zelo pela verdade e pela retidão, e repulsa ao mal. Pode ser expressa em atos de bondade
(Lc 7.37-50), ou na repreensão e na correção do mal (Mt 21.12-13).

Se o cristão quer ser bem tratado, o exemplo deverá partir de sua própria vida. Deus quer que
tratemos os outros da mesma maneira como gostaríamos de ser tratados.

É o amor generoso e caridoso. Se antes fazíamos o mal agora Cristo nos capacita para sermos bons
cidadãos.
84
1.1. Fidelidade (Fé) Mt 23.23; Rm 3.3; 1Tm 6.12; 2Tm 2.2 – 4.7; Tt 2.10

Fidelidade relaciona-se à aliança; trata-se de estar disposto a fazer alianças, e isso é o contrário de
ser descartável. O mundo trata as pessoas como algo descartável, Deus, porém, preza muito a fidelidade,
pois Ele quer confiar a sua obra em nossas mãos. Ver 1Tm 1:12.

É ter lealdade constante e inabalável a alguém com quem estamos unidos por promessa,
compromisso, fidedignidade e honestidade. Nosso ministério dentro de nossa família, no trabalho,
dentro da igreja, somente começa quando Deus vê em nós a fidelidade aos irmãos e a Ele mesmo. Deus
trabalha através de alianças: aceitar Jesus, batismo nas águas, voto/jejum etc. e, todos esses exemplos,
referem-se a alianças com DEUS. Ver 1Co 1:9.

6.7. Mansidão

É ser moderado, está associada à força e à coragem; descreve alguém que pode irar-se com equidade
quando for necessário, e também humildemente submeter-se quando for preciso (2Tm 2.25; 1Pe 3.15).

Mansidão não é fraqueza. Mansidão é controlar sua força e usá-la de maneira correta. Uma pessoa
mansa pode agir com muita ousadia. Mansidão é se preocupar com o bem dos outros. O manso sabe
que a vontade de Deus é que todos sejam salvos e, por isso, tenta mostrar o amor de Deus para todos
(2 Tm 2.25-26). Ser manso não é ser passivo. Ser manso é agir ativamente para fazer o bem.

Nossa verdadeira luta é contra o mal, não contra pessoas. Se retribuímos mal por mal, o mal vence.
A única maneira de vencer o mal é fazendo o bem (Rm 12.21). A pessoa mansa entende isso e prefere
sofrer por fazer o bem a se deixar vencer pelo mal (1Pe 2.20).

6.8. Domínio Próprio (Temperança)

O domínio próprio faz com que o cristão tenha domínio sobre seus próprios desejos e paixões,
inclusive a fidelidade aos votos conjugais, e a pureza. Quem tem temperança tem qualidade de vida.

Deus não proíbe você de comer, beber e ter uma vida de conforto e felicidade. Contudo, Ele deseja
que vivamos de modo sóbrio e equilibrado. Uma pessoa que tem domínio próprio sabe se controlar em
toda e qualquer situação.

Por alguns cristãos não ter temperança como fruto do Espírito, muitos estão vivendo sem pudor,
cometendo toda sorte de excessos, envergonhando o nome de Cristo e a Igreja do Senhor.

As obras da carne são conhecidas, e sua mortificação só é possível quando somos completamente
dominados pelo poder do Espírito Santo.

7. Desenvolva diariamente o fruto

Nosso crescimento, maturidade, semelhança com Cristo e plenitude do Espírito Santo, geram,
naturalmente, o fruto do Espírito. Ele desenvolve-se mediante nosso caminhar com Jesus, nossa entrega
85
à direção do Espírito, o qual está a nossa disposição. Vamos aproveitar Sua presença e clamar por Sua
ação em nossas vidas!

Se não alimentarmos nosso corpo, ele adoece e morre; assim acontece com o nosso espírito:
precisamos alimentá-lo para que não morra, antes, mantenha-se conectado a Deus; é necessário que
façamos tudo o que nos edifique e nos aproxime de JESUS, aproveitando cada momento para estar em
comunhão com o Pai, renunciando o que não nos faz crescer espiritualmente.

Devemos deixar de alimentar a nossa carne para alimentar o nosso espírito, por intermédio da
oração, leitura da Palavra e do jejum.

O amor de Deus por nós é singular. Quando experimentamos desse amor somos transformados e,
então, passamos a produzir o fruto do Espírito. Que venhamos a frutificar em todas as áreas da nossa
vida, a fim de que o nome de Jesus, o nosso amado, seja glorificado e exaltado.

Você tem produzido o fruto do Espírito? Precisamos frutificar!

8. Conclusão

Como servos do Senhor, a primeira coisa que deve ser notado em nosso modo de viver é o fruto do
Espírito. Se olharmos para nossa própria vida e não enxergarmos o fruto do Espírito nela, então pode
ser que nossas raízes não estejam no calvário.

No entanto, cabe a nós agora vivermos na prática o que somos em princípio. Se nossa carne foi
crucificada com Cristo, então vivemos no Espírito. Se o Espírito é a fonte de nossas vidas, se é Ele
quem nos capacita a vivermos em retidão, então devemos entregar completamente nossos passos a Ele.
Por isso o apóstolo escreve: “se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito” (Gl 5.25).

9. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________

86
CONTRIBUIÇÃO FINANCEIRA

1. Considerações iniciais

O tema “Finanças” não é fácil de abordar na igreja, pois o assunto já vem carregado de conceitos,
preconceitos e achismos. No meio da cristandade temos todo tipo de pessoa. Sabe-se que existem
pastores e, também, como citado por Jesus, mercenários. Porém, falar sobre esse assunto é tão
importante que a Bíblia fala mais de finanças do que sobre o céu.

Dinheiro é um instrumento que Deus nos deu para abençoar. O problema não é o dinheiro, mas sim
o amor ao dinheiro.

“Pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se
da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos.” (1Tm 6:10).

Muitas igrejas pregam a teologia da prosperidade financeira, onde você busca a Deus e tem Nele o
lucro e a benção financeira. Promessas como “seus problemas acabaram”, “Deus vai pagar suas contas” e
“Deus vai te dar um carro zero e uma casa própria” são muito comuns nessa pseudo teologia. Porém, a
Igreja “Abba Pai Church” tem outra orientação.

2. Tipos de contribuição

A nossa contribuição é algo tão espiritual quanto as nossas orações; não há como separarmos estes
dois assuntos em “natural” e “espiritual”. Quando um anjo do Senhor apareceu ao centurião Cornélio,
ele fez a seguinte afirmação:

“As tuas orações e as tuas esmolas subiram para memória diante de Deus.” (At 10.4).

Note que o anjo enviado por Deus disse que tanto as orações como as esmolas praticadas por
Cornélio subiram, igualmente, perante Deus. Isto nos leva a entender e afirmar que, assim como a
oração, a contribuição também é um ato espiritual!

As esmolas mencionadas pelo anjo que falou com Cornélio fazem parte de apenas um dos níveis de
contribuição, pois a Bíblia menciona outros dois níveis: o dos dízimos e o das ofertas.

Quando contribuímos em qualquer um destes três níveis, estamos levantando um memorial diante
de Deus. Com essa linguagem figurada, a Bíblia está declarando que o Senhor Se “lembrará” de nós para
nos abençoar. A contribuição é um ato espiritual seguido de bênçãos!

Cada um desses níveis de contribuição reflete não somente a nossa consciência de “mordomia”, mas
também a nossa gratidão a Deus pelo que Ele tem feito em nossas vidas.

Contribuir no Reino de Deus não é uma opção para o cristão, e sim uma responsabilidade. É óbvio,
no entanto, que devemos fazê-lo com amor e alegria. Embora essa deva ser a nossa atitude, isso não
muda o fato de que é um dever.
87
É como no caso do marido e sua mulher: a Bíblia ordena que o homem ame a sua esposa, e isto é
um sentimento que acompanha uma atitude. Contudo, não deixa de ser um mandamento bíblico e,
consequentemente, um dever a ser cumprido.

Cada um destes três níveis de contribuição (os dízimos, as ofertas e as esmolas) tem tanto um
“destinatário” como um “propósito” bem distinto. É preciso saber separá-los e tratar cada um deles
segundo os seus princípios.

3. Os dízimos

O primeiro nível de contribuição encontrado na Bíblia é o dos dízimos, a décima parte da nossa
renda, consagrada ao Senhor. Esse nível aparece na Bíblia como uma prática dos patriarcas, até mesmo
antes de ser instituído como lei em Israel. Abraão deu os dízimos a Melquisedeque (Gn 14.20) e Jacó
também fez votos de dar a Deus os dízimos de tudo o que o Senhor lhe concedesse (Gn 28.22).
Portanto, os dízimos não “nasceram” como uma ordenança, e sim como um ato espontâneo, que depois
foi instituído como lei. A Lei de Moisés ordenava a entrega dos dízimos dos frutos da terra e também
do gado:

“Também todas as dízimas da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das árvores, são do Senhor;
santas são ao Senhor. Se alguém, das suas dízimas, quiser resgatar alguma coisa, acrescentará a sua quinta
parte sobre ela. No tocante às dízimas do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo do bordão do pastor,
o dízimo será santo ao Senhor.” (Lv 27.30-32).

O dízimo deve ser entregue na Casa do Tesouro. Os dízimos têm um destino certo. No Antigo
Testamento, eles eram levados ao Templo, para que houvesse mantimento (para os levitas). E por que
ao Templo? Porque este é um princípio espiritual válido em todas as Escrituras, tanto no Antigo como
no Novo Testamento:

“Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? Não sabeis vós
que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu
sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho.” (1Co
9.11,13,14).

As Escrituras ensinam que os que semeiam o espiritual devem colher o material. As pessoas devem
entregar os seus dízimos nas igrejas em que recebem ministrações espirituais e participam da Ceia do
Senhor (como vemos no ocorrido entre o patriarca Abraão e o sacerdote Melquisedeque - Gn 14.18-
20). Paulo também ensinou este princípio aos gálatas:

“Mas aquele que é ensinado na palavra faça participante em todas as coisas boas aquele que o ensina.” (Gl
6.6).

88
3.1. Os dízimos no Novo Testamento

Vivemos na Nova Aliança, que é uma melhor aliança, baseada em melhores promessas, e que tem
Jesus como fiador (Hb 8.6). Se passamos da Antiga para a Nova Aliança (essa é superior àquela), não
consigo imaginar como podemos regredir nas contribuições. Se a Antiga Aliança exigia um mínimo de
dez por cento da nossa renda como contribuição, será que a Nova Aliança merece menos do que isto?

O Novo Testamento também fala dos dízimos; e os confirmam! Praticamente, tudo o que pertencia
à Antiga Aliança foi ensinado por Jesus de forma diferente, mas os dízimos não! Jesus confrontou as
práticas dos fariseus de Seus dias em quase tudo, menos nos dízimos, os quais não foram suprimidos,
e a sua prática foi encorajada pelo Senhor:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes
negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas
coisas, sem omitir aquelas!” (Mt 23.23).

A frase “devíeis fazer estas coisas” significa: “Vocês devem entregar os dízimos, mas isto não remove a
responsabilidade da prática de outros princípios igualmente importantes.” O Senhor Jesus também disse que
devemos “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22.21), o que significa que, assim
como há uma fatia do nosso orçamento (proporcional aos nossos ganhos) que pertence a César – que
é uma figura de quem recolhe os nossos impostos – assim também temos uma fatia orçamentária
(proporcional aos nossos ganhos) que pertence a Deus – os nossos dízimos.

O dízimo deve ser entregue na Casa do Tesouro. Os dízimos têm um destino certo, a manutenção
do Reino. No Antigo Testamento, eles eram levados ao Templo, para que houvesse mantimento (para
os levitas).

4. As ofertas

Mesmo dizimando fielmente, o crente não pode parar por aí! Ele deve ofertar também! Mesmo antes
de os dízimos aparecerem na revelação bíblica, as ofertas já eram entregues ao Senhor.

O Livro de Gênesis mostra Caim e Abel trazendo, individualmente, uma oferta ao Senhor. Quando
Jesus visitou o Templo, Ele Se assentou diante do gazofilácio e observou como as pessoas ofertavam.
O texto enfatiza as ofertas dadas em dinheiro.

Os dízimos têm o seu percentual determinado; as ofertas, não! Elas são algo que fazemos além dos
dízimos. Os dízimos não são um ato voluntário, mas uma responsabilidade! As ofertas, por sua vez, são
uma expressão voluntária do coração de alguém que ama ao Senhor e a Sua obra.

As ofertas têm como destinatário o avanço do Reino de Deus. Não são somente destinadas à igreja
local, mas ao Reino de Deus em toda parte. Elas vão para missões, para ministérios paraeclesiásticos,
para construções, para a aquisição de qualquer coisa útil à propagação do Evangelho.
89
A oferta é fruto de um coração generoso, que move a pessoa a entregar voluntariamente o que ela
não é obrigada a entregar. É uma expressão de amor! E tem um propósito diferente dos dízimos.
Enquanto os dízimos visam suprir a necessidade de sustento dos obreiros de tempo integral, as ofertas
não têm um propósito específico. Elas geralmente são usadas para se suprir necessidades diversas que
os dízimos não suprem. Estão sempre relacionadas com aquisições e realizações.

Em relação às ofertas, não há regras que determinem “quanto” devemos dar e “quando” devem ser
dadas, somente “como” devem ser dadas. No entanto, as ofertas devem fazer parte da vida do crente!

5. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________

90
ADORAÇÃO

1. Considerações iniciais

Durante muito tempo, ouvimos, aprendemos, na verdade, até crescemos com um entendimento de
que deveríamos cantar para adorar ao Senhor. Até aí, tudo bem; mas, cantar o quê? Hinos de vitória?
De guerra? Músicas de contemplação? Podemos dançar? De que forma? Em pé, sentado ou de joelhos?
De olhos abertos ou fechados? Com ou sem lágrimas? Em alta ou baixa voz? Com as mãos levantadas
ou abaixadas? Com instrumentos musicais ou só com voz? Com ritmo acelerado ou um tom mais
melancólico? Posso adorar sem cantar? Só adoro quando canto? Se eu falar “aleluia” e render glórias a
Deus, estou adorando? Se eu estiver triste ou não estiver na igreja, mesmo assim posso adorar?

2. Significados de adoração

Determinado dicionário traz as seguintes definições para “adoração”:

1 – Render CULTO a divindade;

2 – Amar extremosamente.

No mesmo dicionário, a definição de “culto” é:

1 - ADORAR ou homenagear a divindade em qualquer de suas formas e em qualquer religião;

2 - Veneração.

É claro que essas definições apenas mostram que os termos se misturam e que se igualam à ideia de
senso comum: adorar a Deus é prestar-lhe culto.

A adoração cristã, na sua essência, não é um culto religioso, um serviço de adoração, um período de
louvor, embora tudo isso possa fazer parte; mas a adoração cristã é um relacionamento íntimo com o
Senhor.

Em um sentido mais amplo, é um estilo de vida, porque transcende o espaço do templo e o momento
do culto, ou seja, envolve a vida do adorador, resulta em andar com Deus. Ver Is 29:13.

No hebraico, “Shachah”, que quer dizer inclinar-se, cair diante de, prostar-se, ajoelhar-se. No grego,
utilizavam o termo “latreia”: o verbo grego la.treú.o (usado em Lucas 1:74), transmitem a ideia de se
prestar não meramente um serviço ordinário, comum, e sim um serviço sagrado, sendo aqui, então,
indicado adoração no mais pleno sentido da palavra, pois fala de um serviço prestado a Deus.

3. Adoração versus louvor

Para que haja uma correta distinção, vamos ver suas diferenças, pois é muito comum confundirmos
os termos.

Louvor, literalmente, significa elogiar, exaltar, glorificar, aprovar, aplaudir, etc. Ou seja, o louvor,
91
embora possa ser em forma de cânticos ou não, tem uma conotação de agradecimento por tudo aquilo
que o Senhor fez, faz e ou fará. (agradecimento a Deus).

“Eu te agradeço e te louvo, ó Deus dos meus antepassados; tu me deste sabedoria e poder, e me revelaste o
que te pedimos; revelaste-nos o sonho do rei.” (Dn 2:23).

Adoração está ligada mais ao engrandecimento de Deus. Adoração é estar de acordo com a vontade
do pai; a adoração é em tempo integral, com atitudes interiores que são automaticamente exteriorizadas.

“Ao ouvir isso, Jó levantou-se, rasgou o manto e rapou a cabeça. Então prostrou-se com o rosto em terra, em
adoração, e disse: “Saí nu do ventre da minha mãe, e nu voltarei para lá. O Senhor o deu, o Senhor o levou;
bendito seja o nome do Senhor.” (Jó 1:20-21)

4. Por que devemos adorar?

Na verdade, não somos obrigados, pois Deus não é carente, mas com certeza, nós precisamos. Para
que haja um relacionamento íntimo com Deus, o adorador genuíno adora somente ao Pai. Precisamos
adorá-Lo, reconhecer o Seu caráter imutável, grandeza, domínio, força, o quanto é amoroso, justo,
salvador, Pai e Santo. Louvá-Lo não é o suficiente, embora importante, pois podemos louvar os atos e
feitos de outras pessoas também, simples como nós, mas a adoração cabe somente a Ele. Ver Mt 4:10.

5. Como devemos adorá-Lo?

Não existe uma fórmula, uma regra ou um tutorial elaborado de como devemos adorar ao Senhor,
mas sim, uma forma muito eficaz, que se dá por meio do nosso culto racional que Lhe oferecemos com
entendimento, sinceridade, sem emoção, embora seja possível que venhamos a chorar, que por sua vez,
não significa que quando choramos estamos O adorando.

É claro que é possível, sim, que quando adoramos aquele que vive e reina para todo o sempre,
sobretudo através da prática da verdade, venhamos a nos emocionar por causa de Sua presença e ou
por causa de seu grande amor.

Vejamos o conselho que o próprio Jesus nos dá:

“Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (Jo 4:24)

A adoração em espírito é por meio da fé. Ver Hb 11:1. A adoração em verdade se dá através de
nossas ações no dia a dia, como a obediência, por exemplo. Ver Gn 22:1-2;5 e Tg 2:15-17.

6. Onde devemos adorá-Lo?

Não existe um lugar específico. O que deve existir, sim, é um coração apaixonado pelo Senhor,
predisposto a cumprir a sua vontade. Jesus ensinou isso.

“Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe
Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. (...). Mas
92
a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai
procura a tais que assim o adorem.” (Jo 4:20-23).

7. Adorando a Deus com as nossas finanças

O mundo em que vivemos, sob muitos aspectos, é o mesmo de muito tempo atrás, pois o que muda
são as pessoas e seus hábitos. Assim, é muito comum (infelizmente), vermos pessoas individualistas,
egoístas, amantes de si mesmas. Em muitos casos, até servindo ao dinheiro, escravas do tempo por mais
um pouco de dinheiro, fazendo do mesmo o seu senhor.

Se O adoramos, O servimos! E, se isso for verdade, não podemos O servir parcialmente; o Senhor
espera de nós, como filhos, integridade e justiça; se assim fizermos, adoraremos ao Senhor com tudo
de valor que Ele tem feito chegar até nossas mãos. Ver Sl 7:8 e Mt 25:40.

“Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou aborrecerá um, e amará o outro ou se dedicará a um, e
desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a mamom.” (Mt 6:24).

8. Quando canto, estou adorando a Deus?

Isso é muito relativo, porque depende muito da letra e, ainda assim, se a mesma está embasada na
Palavra de Deus e se o que está se cantando é para agradecer ao Senhor por suas bênçãos concedidas
e/ou engrandecê-Lo ou se estamos engrandecendo-O por seu caráter, amor e resgate.

Muitas canções são, de fato, lindas; algumas aquietam a alma nos momentos de situações de correria,
estresse, nos afazeres do dia a dia; essas são as canções que queremos ouvir, em um tom mais calmo,
melancólico, como a harmonia e seus arranjos musicais, o compasso e o tempo das canções nos fazem
ficar mais calmos.

Veja bem: não há nada de errado nisso! Mas precisamos entender que se as músicas que cantamos
não estão glorificando o caráter de Deus, e sim as suas mãos, isso é uma canção de louvor. Existem
também as canções que são mais aceleradas, que nos impulsionam a correr, caminhar mais uma milha,
marchar até que a vitória esteja em nossas mãos. Fantástico! Isso é muito bom. Mas precisamos entender
que esse tipo de canção parece estar mais nos encorajando a sermos persistentes nos nossos objetivos
do que de fato, adorarmos a face do Criador. Ver Sl 98:4.

9. Os anjos adoram a Deus?

Não só O adoram incessantemente, como também não recebem adoração.

“E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus
irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.”
(Ap 19:10)

“E todos os anjos estavam ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro seres viventes; e prostrara-se diante

93
do trono sobre seus rostos, e adoraram a Deus, dizendo: Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças,
e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém.” (Ap 7:11-12)

10. Paralelo entre louvor e adoração

LOUVOR ADORAÇÃO

Pode ser comunitário É individual

Pelo o que Deus faz Pelo o que Deus é

Pelos presentes de Deus Pela presença de Deus

É circunstancial É incondicional

É uma expressão de vida É um estilo de vida

Conclusão: ver 2Co 3:3!

Na nova aliança (tempo da Graça), por causa do sacrifício de Cristo, temos acesso direto a Deus,
nosso Abba Pai, sem regras pré-estabelecidas, sem sacrifícios, sem local específico, sem horários
determinados, sem a utilização de objetos sagrados, com ou sem músicas, deitados, sentados ou de pé,
sem a intervenção, sem a mediação de homens, tristes ou felizes, podemos adorá-Lo quando bem
entendermos, quando sentimos ou não a sua presença, quando ouvimos ou não a sua doce voz.

Devemos aproveitar que estamos vivos, não devemos perder tempo com discussões tolas, sem
sentidos que não levam a lugar algum; vamos aproveitar para adorar ao Senhor que verdadeiramente
nos ama de forma incondicional, isso já é o suficiente para adorá-Lo por toda a nossa vida, porque
ainda que venhamos a falhar com Ele, o seu amor por nós não muda.

Que as nossas ações possam em todo o tempo adorar ao que vive eternamente, manifestando o
Reino de Deus na terra.

“Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração. Antes que os montes nascessem, ou que tu
formasses a terra e o mundo, mesmo de eternidade a eternidade, tu és Deus.” (Sl 90:1-2).

11. Anotações

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
94
TRINDADE

1. A importância da Doutrina da Trindade

Qual é a linha divisória entre o Cristianismo Bíblico e as Heresias? Vamos pensar de forma concreta:
um mulçumano deve ser aceito como nosso irmão na fé? Pensamos que não. E por que não, se ele
inclusive crê em Deus, e até mesmo aceita que Jesus é um profeta? A resposta é simples: ele não crê na
divindade de Jesus (além de diversas outras doutrinas centrais à nossa fé).

Podemos crer, então, que um católico romano é nosso irmão na fé? Cremos que depende. Se ele crê
que sua salvação é exclusivamente pela graça de Jesus, rendendo glória somente a Deus, sim. E por que?
Porque cremos e adoramos ao mesmo Deus, louvando a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Portanto, aí está a importância do estudo da doutrina da Trindade. Ela é um dos marcos divisores entre
o que chamamos de cristianismo bíblico e o que chamamos heresia.

Não devemos encarar esta doutrina como secundária, sem importância ou confusa demais para
perdermos tempo meditando nela. Ao contrário, nossas conclusões nesse assunto determinarão nosso
entendimento em todas as demais doutrinas bíblicas, pois Deus é o princípio de tudo.

2. Conceito de transcendência

Antes de mergulharmos na doutrina da Trindade, é necessário que entendamos o conceito de


transcendência. O que é transcendência? Uma explicação deste conceito (talvez simplista) é a de
comparação entre duas naturezas, existentes na criação. Por exemplo: o homem e o gato. Vejamos:

Um gato consegue se comunicar por meio de palavras? Ele pode escrever? Imaginar? Planejar? O que
é alegria, por exemplo, para um gato? Pode ser um prato de comida, quem sabe? O que é tristeza para
ele? Pode ser frio ou fome? Um gato sabe o que significa “inteligência”? A resposta para tudo isso é
não. E por que não? Porque isso está acima da natureza dele. Ele não possui intelecto, então para ele
tudo isso é simplesmente impossível. Para ele estas coisas nem sequer existem, é muito além da sua
capacidade de compreensão. Estas coisas transcendem a natureza e entendimento do gato. Agora, não
é porque gato não escreve que escrita não exista. Pois bem, quando ouvimos que Deus é uma única
natureza e que nesta natureza existem três pessoas, porém é um único Deus e não três, logo agimos
como o gato da nossa história: isso é impossível! Não existe! Entretanto, isso sim é impossível para
seres com natureza e razão tão pequenas e limitadas como as nossas, mas não para um ser infinito. A
natureza divina é transcendente.

Então, não busque entender a Trindade por meio de exemplos, comparativos ou analogias como a
do sol (matéria, luz e calor), água (solido, líquido e gasoso) ou ovo (casca clara e gema) – cremos que
são os mais comuns. Não existe comparativo na criação para a natureza da Trindade. Devemos com
humildade receber o que a Escritura nos apresenta, reconhecendo que está muito além de nossa

95
capacidade intelectual esgotar.

3. Trilha de estudo

Vamos, então, adentrar no estudo desta doutrina maravilhosa, seguindo a seguinte sequência:

1. A Trindade na História;

2. A Trindade na Escritura;

3. A Trindade Sistematizada;

4. Aplicação Prática.

3.1. A Trindade na história

É muito comum a afirmação de que a Trindade, como diversas outras doutrinas cristãs, são criações
do romanismo e, portanto, não deve ser aceita como bíblica. Porém, essas declarações são, na verdade,
pobres historicamente e demonstram, na maioria das vezes, desconhecimento do processo de
construção das doutrinas cristãs.

Como demonstraremos, muito antes de o cristianismo ser aceito ou legalizado (por meio de
Constantino), e mais ainda, religião oficial (por meio de Teodósio I), já existiam diversas declarações
a respeito da doutrina da Trindade, inclusive seu termo já havia sido cunhado.

O fato de que os apóstolos distribuíram livros e cartas ao redor do mundo para as Igrejas e de que
estavam presentes em um lugar ou outro não significa que eles entregaram um manual completo de
todas as doutrinas cristãs, de forma que os primeiros pais da Igreja não precisassem exercer trabalho
exegético e interpretativo nenhum. O que a Igreja dos primeiros séculos recebeu é igual ou até menos
do que nós recebemos hoje como Novo Testamento.

Portanto, o mesmo trabalho que nós temos, ao ler e interpretar os textos bíblicos, eles também
tiveram. Não devemos, por isso, estranhar que nos primeiros séculos da Igreja as doutrinas bíblicas
ainda estavam sendo sistematizadas e organizadas, sendo decididas por fim, nos concílios. Ocorre que
as heresias e conflitos teológicos impulsionaram a Igreja para a formulação da ortodoxia cristã.

Nesta parte iremos explorar, então, o desenvolvimento da doutrina da Trindade na história até sua
definição como aceita hoje. A Escritura Sagrada é enfática ao afirmar que há apenas um único Deus e
nenhum outro. Não há brechas para qualquer prática religiosa diferente do monoteísmo.

Ocorre, porém, que diversas declarações bíblicas afirmam que Jesus é Deus, da mesma forma que o
Pai e o Espírito. Nos primeiros dois séculos do cristianismo, os líderes cristãos afirmavam estas
verdades, sem discorrer sobre isso de forma sistemática. Na verdade, não havia sistematização de
praticamente nenhuma doutrina ainda, pois o foco total da Igreja era a sobrevivência em meio às
perseguições.

96
Nessa época surgiram o que chamamos de pais apologistas, que dedicavam seus estudos e escritos à
defesa da fé cristã em meio as acusações pagãs. Vejamos algumas declarações dos primeiros pais da
Igreja (que viveram antes dos Concílios Niceno e Constantinopolitano) e que nos mostram um pano
de fundo de uma fé trinitária:

Porque sois a pedra do templo do Pai, elevado para a construção de Deus Pai, levadas até o alto pela
alavanca de Jesus Cristo, que é a cruz, usando a corda que é o Espírito Santo. (...). Procurai manter-
vos firmes nos ensinamentos do Senhor e dos apóstolos, para que prospere tudo o que fizerdes na carne
e no espírito, na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, (...). Sejam submissos ao bispo e também
uns aos outros assim como Jesus Cristo se submeteu, na carne, ao Pai, e aos apóstolos se submeteram a
Cristo, ao Pai e ao Espírito (...). – Inácio de Antioquia.

Um só Deus, um só Cristo, um só Espírito da Graça (...). Pela vida de Deus, pela vida do Senhor Jesus
Cristo e o Espírito Santo, que são a fé e a esperança e dos eleitos. – Clemente Romano.

De fato, reconhecemos também um Filho de Deus. E que ninguém considere ridículo que, para mim,
Deus tenha um Filho. Com efeito, nós não pensamos sobre Deus, e também Pai, e sobre seu Filho como
fantasiam vossos poetas, mostrando-nos deuses que não são em nada melhores que os homens, mas que
o Filho de Deus é o verbo do Pai em ideia e operação, pois conforme a ele e por seu intermédio tudo foi
feito, sendo o Pai e o Filho um só. Estando o Filho no Pai e o Pai no Filho por unidade e poder do
Espírito, o Filho de Deus é inteligência e Verbo do Pai. Se, por causa da eminência de vossa inteligência,
vos ocorre perguntar o que quer dizer “filho”, eu o direi livremente: o Filho é o primeiro broto do Pai,
não como feito, pois desde o princípio Deus, que é inteligência eterna, tinha o Verbo em si mesmo. Sendo
eternamente racional, mas como procedendo de Deus, quando todas as coisas materiais eram natureza
informe e terra inerte estavam misturadas as coisas mais pesadas com as mais leves, para ser sobre elas
ideia e operação. Como não se admiraria alguém de ouvir chamar os ateus os que o admitem um Deus
Pai, um Deus Filho e o Espírito Santo, ensinando que o seu poder é único e que sua distinção é apenas
distinção de ordens? – Atenágoras.

Teófilo de Antioquia escreveu: “Igualmente os três dias de precedem a criação dos luzeiros são símbolo
da Trindade: de Deus, de seu Verbo e de sua Sabedoria”.

Portanto, pinçamos, de 4 autores distintos, 4 declarações que demonstram uma fé na divindade do


Pai, do Filho e do Espírito Santo, antes da ocorrência dos concílios, refutando a acusação de que a
Trindade é uma criação romana. Ocorre, entretanto, que ao mesmo tempo que cristãos afirmavam fé
na trindade, havia heresias nascendo, que foram uma a uma refutadas e condenadas pela Igreja (algumas
antes dos concílios ecumênicos).

A primeira heresia é a chamada Sabelianismo. Essa heresia afirmava que não havia 3 pessoas, mas
uma única. Quando Deus estava atuando na criação e domínio do universo ele era o Pai; quando atuava

97
na redenção era o Filho; e, na santificação, era o Espírito. Desta forma, como afirmou Tertuliano, ele
“põe em fuga o Paracleto e crucifica o Pai”.

Muito parecida com essa é o modalismo, que afirma que Deus é uma única pessoa que se manifestou
de diferentes formas no decorrer da história. Porém, como explicar, por exemplo, a oração de Jesus em
João 17;5 – “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que
o mundo existisse”? Ou o verso 18: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo”?

Jesus falando com o Pai era a redenção falando com a Criação, diria Sabélio? Ou era a natureza
humana falando com a natureza divina, responderia Paulo de Samosata, teórico do modalismo? Fato é,
Jesus, uma pessoa distinta do Pai, estava se comunicando com o Pai. Nenhuma resposta diferente dessa
é satisfatória.

Podemos citar também a fórmula batismal: “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” - 3 pessoas
distintas. Ou o momento em que Jesus é batizado, em que o Espírito Santo desce como pomba sobre
Cristo e o Pai declara dos céus: “Este é meu Filho amado em quem me comprazo”.

São inúmeras as declarações das distinções de pessoas na divindade na Escritura. Apesar de


derrotada, esta heresia tem defensores até hoje. No Brasil, temos o grupo musical chamado Voz da
Verdade e as Igrejas filiadas a eles. Tanto o Sabelianismo quanto o modalismo foram condenados pela
Igreja no século 3, antes que Roma aderisse ao cristianismo.

Mais danoso para a doutrina ortodoxa do que todas as heresias anteriores, porém, foi a chamada
arianismo. Um diácono de Alexandria, Ário, desenvolveu uma doutrina que ensinava que Jesus era
uma mera criação divina. Ele foi o primeiro ser criado por Deus, e, portanto, o maior em toda a criação,
mas não era Deus.

Ário usava linguagem ortodoxa para ensinar suas heresias e possuía um carisma invejável. Isso fez
com que o seu ensinamento transtornasse terrivelmente a Igreja. Porém, como afirmamos
anteriormente, as heresias impulsionaram a Igreja a formular suas doutrinas. Para debater este tema e
firmar a doutrina cristã, foi convocado, no ano 325 d.C., um concílio em Nicéia (atual Turquia),
reafirmado com maior atenção ao Espírito Santo em 381 d.C., no concílio de Constantinopla. Diz a
declaração:

Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra e de todas as coisas visíveis e
invisíveis. E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os
mundos, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial com o
Pai, por quem todas as coisas foram feitas . Que por nós homens e para nossa salvação desceu do céu e
se encarnou pelo Espírito Santo e da Virgem Maria, Se fez homem, foi crucificado por nós sob Pôncio
Pilatos. Ele sofreu e foi sepultado e ao terceiro dia ressuscitou, segundo as Escrituras, e subiu aos céus,
está sentado à direita do Pai. E deve voltar com glória para julgar os vivos e os mortos. Cujo reino não

98
terá fim. (I) E [cremos] no Espírito Santo, Senhor e Doador da Vida, que procede do Pai, que com o
Pai e o Filho é adorado e glorificado, que falou pelos profetas. E [cremos] em uma, Santa, Católica e
Apostólica Igreja (II). Professo um só batismo para a remissão dos pecados, [e] nós esperamos pela
ressurreição dos mortos e a vida do mundo vindouro. Amém.

Além desta declaração, precisamos destacar o Credo Atanasiano. Um valente e honrável defensor da
verdade bíblica, Atanásio formulou uma confissão de fé defendendo a divindade do Pai, do Filho e do
Espírito Santo, contra a heresia ariana.

Até hoje os Testemunhas de Jeová seguem a fé ariana, negando a divindade do Filho e afirmando
que o Espírito Santo é apenas uma energia ou força impessoal. Porém, a Igreja de Cristo rejeitou e
condenou estas heresias, adotando a fé na unidade da divindade e na diversidade de pessoas. Nenhum
reformador ou grande homem de Deus protestante questionou uma única virgula dos concílios
Constantinopolitano e Niceno.

3.2. A Trindade na Escritura

A revelação da Escritura é progressiva, ou seja, Deus, ao longo do tempo, foi aumentando a


proporção de verdade revelada e trazendo maior clareza sobre Si e seus propósitos, encerrando, então,
em Apocalipse. Portanto, no Antigo Testamento, mesmo que haja declarações que hoje nós podemos
ler e enxergar a Trindade, não faziam tanto sentido assim antes da vinda do Senhor Jesus.

No Novo Testamento, não apenas a Trindade, mas toda a Escritura, ganhou uma nova luz. Por isso,
iremos agora descrever alguns versículos no Antigo Testamento que nos dão relances da divindade do
Filho e do Espírito Santo e depois escolheremos um texto no Novo Testamento para cada um dos dois
e os aprofundamentos necessários.

3.2.1. Antigo Testamento

Salmos 45:6: “O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade”. Isso
é aplicado a Cristo em Hebreus 1:8: “Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos;
Cetro de equidade é o cetro do teu reino”.

Salmo 33:6: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo Espírito da sua boca”.

Salmos 68:17-18: “Os carros de Deus são vinte milhares, milhares de milhares. O Senhor está entre eles,
como em Sinai, no lugar santo. Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro, recebeste dons para os homens, e
até para os rebeldes, para que o Senhor Deus habitasse entre eles”. Isso é aplicado ao Filho em Efésios 4:8-
10: “Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens. Ora, isto — ele subiu — que
é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo
que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas”.

Salmos 110:1: “Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha
99
os teus inimigos por escabelo dos teus pés”. O próprio Cristo aplicou isto a si mesmo em Mateus
22:44: “O Senhor disse ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo
de teus pés’.”

Salmos 102:25-27: “Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão,
mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e ficarão mudados.
Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim”. O apóstolo declara, em Hebreus 1:10-12, que isso
se refere ao Filho.

Jó 26:13: “Pelo seu Espírito ornou os céus”.

Jó 33:4: “O Espírito de Deus me fez”.

Isaías 9:6: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e
se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”.

Isaías 8:13,14: “Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro.
Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel;
por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém”. Isso é aplicado ao Filho em Lucas 2:34, Romanos 9:33
e 1 Pedro 2:8.

3.2.2. Novo Testamento:

João 1:1-3: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no
princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. João 1:14: “E
vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai”.

João 8:57-58: “Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão? Disse-lhes
Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou”.

João 10:30: “Eu e o Pai somos um”.

João 17:5: “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes
que o mundo existisse”.

João 20:28: “E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!”.

Atos 20:28: “A Igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”.

Romanos 1:3-4: “Acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, declarado
Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dentre os mortos, Jesus Cristo,
nosso Senhor”.

Romanos 9:5: “Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus
bendito eternamente. Amém”.

1 Coríntios 10:9: “E não tentemos a Cristo, como alguns deles também tentaram, e pereceram pelas
100
serpentes”, comparado com Números 21:6.

Filipenses 2:5,6: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que,
sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus”.

Atos 1:16: “Convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi”.

Atos 5:3: “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito
Santo?”, versículo 4: “Não mentiste aos homens, mas a Deus”.

Atos 28:25-26: “Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías, dizendo: Vai a este povo, e
dize” etc.

1 Coríntios 3:16: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”.

1 Coríntios 12:11: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente
a cada um como quer”. Versículo 6: “E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em
todos”.

João 14:26: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará
todas as coisas”.

2 Pedro 1:21: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos
de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”.

Podemos dizer, com bastante segurança, que temos abundantes exemplos bíblicos para fundamentar
nossa fé na divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Vamos nos ater, agora, a um único versículo
para tratar da divindade do Filho:

➢ João 1:1-3: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava
no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.”

Jesus é Deus eternamente com o Pai ou é uma Criatura? Em outras palavras, Jesus foi criado pelo Pai,
sendo, portanto, inferior a Ele ou é eterno sendo plenamente Deus? Essa é a questão definitiva para definirmos
a divindade de Jesus. Deus não pode ser criado; se Ele foi criado, logo não pode ser Deus.

Isso nos leva a este texto, em que lemos: “Todas as coisas foram feitas por ele, e se ele nada do que foi
feito se fez”. Anjos e demais seres celestiais, a terra, os céus, os homens, tudo, absolutamente tudo foi
feito por Ele. Desde a primeira até a última criação, todas as coisas foram feitas por ele. Portanto, essa
lógica torna impossível a declaração de que ele é a primeira e maior Criação de Deus. Ou a Escritura
mente ao dizer que todas as coisas foram feitas por Ele ou Ele não foi criado e é Deus eternamente.3

Voltamos nossa atenção, agora, para o Espírito Santo. Primeiro, buscaremos defini-lo como Deus e

3
Para uma análise mais detalhada e profunda deste texto, recomendamos a obra “A Trindade Provada
pela Bíblia”, de John Owen.
101
depois provaremos a sua pessoalidade.

➢ 1 Coríntios 6:19: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que
habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?”

➢ 1 Coríntios 12:27: “Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente,
é membro desse corpo.”

Estes dois versículos, quando analisados cuidadosamente, mostram-nos a naturalidade com que a
Escritura trata o Espírito Santo como Deus. Vejamos:

• Nosso Corpo é templo do Espírito Santo;

• Templo é um lugar exclusivo para adoração;

• Se o templo é do Espírito Santo, Ele que é adorado;

• Nós somos, também, parte do corpo de Cristo;

• Logo, o corpo de Cristo é o local onde o Espírito é adorado;

• É possível que o corpo de Cristo sirva para adoração de alguém inferior a Ele, ou melhor,
um ser que não seja Deus?

A questão do Espírito Santo na Trindade não é definir se Ele é Deus ou não (pois isso é a tarefa
mais simples), mas sim definir se Ele é ou não um ser pessoal. Muitos afirmam que Ele é apenas uma
energia, um sopro ou força de Deus. O que define um ser como pessoal? Podemos classificar algumas
coisas: vontade, sentimento, ação, pensamento, decisão, etc. Se encontrarmos estas características
referentes ao Espírito Santo, saberemos que Ele é uma pessoa, e por ser tratado de forma distinta do
Pai e do Filho, não poderá ser confundido como uma emanação ou energia de Deus.

Vejamos alguns textos que favorecem esta visão:

• Vontade: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a
cada um como quer” (1 Coríntios 12:11); “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de
homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pedro
1:21);

• Entendimento: “O Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus” (1 Coríntios


2:10);

• Ação: “Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías” (Atos 28:25); “Enviados pelo
Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre” (Atos 13:4);

• Sentimento: “Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez
habitar em nós tem fortes ciúmes?” (Tiago 4:5); “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com
o qual vocês foram selados para o dia da redenção” (Efésios 4:30).
102
• Distinto do Pai e do Filho: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do
Espírito Santo sejam com todos vocês” (2 Coríntios 13:14); “Portanto, vão e façam discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mateus 28:19)

Destacamos apenas algumas declarações, mas que cremos serem suficientes para demonstrar que o
Espírito Santo é uma Pessoa distinta do Pai e do Filho, após termos provado a sua divindade. Por isso,
professamos a fé em Deus o Pai, Filho e Espírito Santo.

Como, então, Deus pode ser um e três ao mesmo tempo? Como conciliar estas duas verdades?

3.3. A Trindade sistematizada

Nesta parte de nosso estudo iremos definir alguns conceitos que, quando compreendidos
corretamente, servem de grande auxílio para nossa busca pela Trindade. Iremos olhar, primeiramente,
individualmente e, depois, sistematizá-los dentro da nossa doutrina.

1. Essência - O que é essencial para que algo seja o que é? Por exemplo, o que é essencial para que uma
cadeira seja uma cadeira? Resposta: que ela sirva para se sentar! Se ela não servir para isso, ela
não pode ser uma cadeira, ela não tem a essência de uma cadeira. Não importa se tem uma,
duas ou 4 pernas, desde que ela sirva para se sentar. Deus também possui a sua essência, a sua
natureza, e essa é única e indivisível.

2. Pessoa - Pessoa pode ser definida como autoconsciência, ou seja, é definido pelo “Eu”. Se
colocarmos um cachorro em frente a um espelho, ele não se reconhecerá, ele não possui
autoconsciência. Todo ser que pode dizer “Eu” é uma pessoa. Anjos, humanos e Deus. Deus Pai
diz Eu; Deus filho diz Eu; e Deus Espírito Santo diz Eu.

3. Unidade - É a crença de que Deus é uno, não há, em hipótese alguma, outro Deus além do
nosso. Existe uma perfeita unidade na Trindade em essência. O Deus único e verdadeiro não é
somente o Pai, mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

4. Diversidade - É a ideia de que há mais de uma pessoa na essência divina.

Por isso, podemos dizer que Deus é único, Ele não possui duas naturezas. Não há dois seres, duas
essências ou duas substâncias. Há uma única essência divina. Mas cremos na diversidade de pessoas.
Na essência divina há três “Eu”. Quando comparamos com a humanidade, isso se torna impossível, pois
em nossa essência há apenas um único “eu”. Porém, não esqueça do que falamos no início: não é porque
gato não escreve que escrita não exista. Deus, que possui uma essência eterna e infinita, possui três
pessoas em seu Ser. Não há três deuses, há apenas um, porém com três autoconsciências. Observe o
quadro e imagem abaixo:

A Unidade de Deus A Diversidade de Deus

103
O Pai é o Deus único O Pai não é o Filho

O Filho é o Deus único O Filho não é o Espírito Santo

O Espírito Santo é o Deus único O Espírito Santo não é o Pai

Portanto, não é o Pai que morreu e ressuscitou, mas o Filho. Porém, o Pai participou desta obra
enviando seu Filho ao mundo. Não é o Espírito que enviou o Filho, mas o Pai; porém o Espírito
cooperou em unidade com o Pai. Desta forma, não são três deuses, apenas um único Deus, que possui
três Pessoas, coeternas e infinitas.

Existe uma perfeita unidade na essência divina, mas em sua obra de salvação, há o que chamamos
de Economia da Trindade, em que cada pessoa possui uma operação distinta. Isso não anula em nada
a sua substância eterna.

Podemos ir além em nossas afirmações: não é possível haver uma divindade que seja exclusivamente
uma única pessoa. Pense comigo: o que é necessário para que alguém, por exemplo, ame? Expressando de
outra maneira: é possível amar sem que haja uma outra pessoa? Ou exercer qualquer atributo sem que haja
com quem se relacionar? Desta forma, fica a pergunta: Se Deus é uma única pessoa e não há diversidade em
seu ser, a quem ele amava antes da criação? Se não havia a quem amar então ele necessita da criação para
poder exercer seus atributos? Ou seja, Ele não é autossuficiente?

É impossível que um ser seja Deus se Ele necessita tanto da criação quanto a criação necessita Dele.
Desta forma, para que um ser seja de fato Deus, tem de haver diversidade em seu ser. Nós cremos que
antes que tudo fosse criado, o Pai amava o Filho e o Filho o Espírito Santo, e havia o que é chamado
de Teodrama, uma dança de amor na Trindade. Antes que qualquer coisa fosse criada, já havia
autossuficiência e eternidade na natureza divina, de forma que Deus é completo em Si mesmo. Por isso,
sem medo, afirmamos nossa fé em Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

3.4. Aplicação prática

Franklin Ferreira destaca em sua Teologia Sistemática:


104
O Senhor Deus não criou o mundo por solidão. Antes de o mundo vir à existência já havia uma
comunhão eterna de amor na Santa Trindade. A criação do mundo é fruto do amor de transbordante
de Deus. A criação é uma obra da livre graça de Deus. Nada em Deus – ou mesmo fora dele – exigiu
que os céus e a terra fossem criados. Toda a criação, todo o cosmos, é um ato criador livre e gracioso.

A Trindade nos leva a contemplar o amor de Deus, que já em seu ato de criação demonstrou um
amor incondicional. Por isso, devemos nos relacionar sem medo com este Deus, olhando para a sua
infinita e maravilhosa graça.

Nosso relacionamento com Deus deve também se pautar no conhecimento das três pessoas. Podemos
nos relacionar com Deus o Pai como aquele que enviou o seu único Filho para morrer por nossos
pecados e nos adota em sua família. Da mesma forma, com o Filho como aquele que aceitou vir e se
entregar em nosso lugar, morrendo por nossos pecados e nos resgatando para o Pai. E, com o Espírito
Santo, como aquele que nos chama, consola, guia e ensina.

Cada pessoa da Trindade está operando para a nossa salvação e nos levando a desfrutar deste amor
transbordante de Deus. Nossa vida espiritual é grandemente beneficiada com este conhecimento!

4. Anotações

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
105
PRÁTICAS ESPIRITUAIS

1. Introdução

Práticas espirituais que nos levam a hábitos espirituais!

Uma prática espiritual ou disciplina espiritual (muitas vezes incluindo exercícios espirituais) é o
desempenho regular ou full-time das ações e atividades realizadas com a finalidade de cultivar
desenvolvimento espiritual.

Uma metáfora comum usada nas tradições espirituais das grandes religiões do mundo é o de trilhar
um caminho. Portanto, uma prática espiritual de uma pessoa se move ao longo de um caminho em
direção a um objetivo. O objetivo é, variadamente, chamado de salvação, libertação ou união (com
Deus). Uma pessoa que anda nesse caminho é, por vezes, referida como um viajante ou um peregrino.

O significado de “prática”, segundo um determinado dicionário é: “O que se opõe ao teórico; real.” Um


exemplo seria: “Quero ver esse projeto na prática!”.

Ainda, temos outros significados:

“Habilidade adquirida com a experiência; treinamento.” Exemplo: prática em cozinhar.

“Realização costumeira, cotidiana de algo.” Exemplo: prática de exercícios.

Como se vê, a prática tem a ver com rotina, repetição, aquilo que leva à uma ação quase que
automática e necessária. Quando a prática faz parte da rotina, se torna um hábito.

Vejamos alguns significados para o termo “hábito”:

“Ação que se repete com frequência e regularidade; mania.” “Comportamento que alguém aprende e repete
frequentemente.” Exemplo: “Ele tinha péssimos hábitos.” “Maneira de se comportar; modo regular e usual de
ser, de sentir ou de realizar algo; costume.”

Podemos inferir, portanto, que a prática constante nos leva ao hábito, e esse, à necessidade diária
da prática!

A prática do dia a dia causa a única e verdadeira transformação que serve como prova de que toda
a teoria trouxe resultado. Ao interagir com o Espírito Santo ao longo da caminhada, sem perceber, nos
tornamos parecidos com Jesus, o objetivo principal das Escrituras Sagradas.

Agora, vejamos algumas práticas espirituais necessárias e possíveis de desenvolvermos, com o auxílio
do Espírito Santo:

2. Oração

A oração é um ato que visa estabelecer uma ligação, uma conversa, um pedido, um agradecimento,
uma manifestação de reconhecimento ou, ainda, um ato de louvor diante de um ser transcendente,
106
divino e supremo.

Segundo os diferentes credos religiosos, a oração pode ser individual ou comunitária, ser feita em
público ou em particular, e pode envolver o uso de palavras ou música.

Quando a linguagem é usada, a oração pode assumir a forma de um hino, declaração de credo
formal, ou uma expressão espontânea, da pessoa fazendo a oração.

Existem, segundo as crenças, diferentes formas de oração, como a de súplica ou de agradecimento,


de adoração e louvor etc., com diversos propósitos, havendo pessoas que oram em benefício próprio,
ou para o bem dos outros, ou, ainda, pela consecução de um determinado objetivo.

A maioria das religiões envolve momentos de oração. Algumas criam ritos especiais para cada tipo
de oração, exigindo o cumprimento de uma sequência estrita de ações ou colocando uma restrição
naquilo que é permitido orar; outras ensinam que a oração pode ser praticada por qualquer pessoa
espontaneamente e a qualquer momento.

A oração, na crença protestante, é a comunicação e o fruto consciente do relacionamento com Deus,


em que a pessoa louva, agradece, intercede pela vida de outros, pede bênçãos para ele ou a outrem, etc.
Por meio da oração, desfrutamos da presença de Deus por intermédio do Espírito Santo.

O propósito da oração (de acordo com Mateus 6:15-13) não seria o de alterar a vontade de Deus,
mas o de obter, para si mesmo e/ou para outros, bênçãos e graças que Deus já concedeu por intermédio
de Jesus Cristo na cruz.

3. Jejum

O Jejum é a privação de comida ou redução das refeições diárias a uma só durante um período.
Existem diversos motivos que levam uma pessoa a fazer jejum, sendo os principais religiosos ou
medicinais. Outros motivos incluem a greve de fome política.

Para os cristãos de desdobramento protestante, não há datas específicas para jejuar e também tempo
determinado para os dias de jejum. O jejum é baseado no sentido bíblico literal, que é uma forma de
“matar a carne”.

O jejum pode ser a abstinência de alimentos sólidos, mas conservando a ingestão de líquidos; é
também a abstinência total de alimentos e bebidas, este último, por uma questão biológica, de curto
prazo, mas com a mesma intenção.

O jejum bíblico é, antes de tudo, o reconhecimento de que “nem só de pão vive o homem, mas de toda
Palavra que sai da boca de Deus”. É o privar-se da comida, das distrações e ansiedades da vida material
para alimentar a alma e nutrir-se da devoção à Deus, com vistas a manifestar gratidão, contrição ou
petição.

107
Quem jejua para dedicar-se ao fortalecimento da alma e do espírito o faz por reconhecer que o
homem é mais do que matéria e necessita de mais força do que os alimentos podem prover.

E, por que o jejum funciona? Basicamente, porque a alimentação é a necessidade primária do ser
humano (Tg 2.15-16). Quando você está com muita fome, todas as vontades e desejos da sua alma se
concentram em uma só coisa: comer! Todo o resto perde importância porque agora a prioridade é
comer.

O segredo está no fato de que, durante o jejum, você nega esse desejo e diz “não” à sua alma. E como
ela não tem um outro desejo maior, ela sossega (Sl 42.11). Nesse momento, tudo aquilo que era
vontade da carne fica muito mais claro, e você consegue discernir melhor a voz de Deus, que é
ministrada por meio do seu Espírito (At 13.2-3, At 10.9-11 e At 9.8-9).

A consequência é você pensar menos em você e mais em Deus, menos em você e mais nos outros.
Suas orações se tornam menos egoístas (Mt 7.12) e você se concentra naquilo que realmente importa
(Jo 15.16).

4. Leitura da Bíblia

Vejamos algumas razões para ler a Bíblia.

1º Para ouvir a voz de Deus (2Tm 3:16-17)

A Bíblia é a Palavra de Deus. Quando você lê a Bíblia, Deus fala com você. Tudo que Deus diz tem
poder. Se você estudar a Bíblia com atenção, deixando Deus falar a seu coração, as palavras das
Escrituras vão mudar sua vida.

2º Para ter vida (Mt 4:4)

A Bíblia dá vida. Não basta cuidar do corpo; o espírito também precisa ser alimentado. Quanto mais
você meditar na Bíblia, mais forte você ficará. A Bíblia fortalece seu relacionamento com Deus.

3º Para achar sabedoria (Sl 119:99)

Deus é o dono de toda sabedoria. Sua sabedoria é maior que a sabedoria humana. A Bíblia está cheia
de bons conselhos e ensinamentos, que podem ajudar você a agir com mais sabedoria.

4º Para vencer o pecado (Sl 119:9)

Não é fácil resistir à tentação, mas a Bíblia mostra como você pode vencê-la. As palavras da Bíblia
dão força e sabedoria para rejeitar o pecado e fazer o que é certo.

5º Para encontrar esperança (Rm 15:4)

Nos momentos de desânimo, tristeza e desespero, a Bíblia tem as palavras certas de consolo, que
vão restaurar sua esperança. A Bíblia encoraja e ajuda a superar os tempos difíceis. Por meio da Bíblia,
Deus nos dá força e ânimo.
108
5. Anotações

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
109
MISSÃO

1. A missão da Igreja

A missão da igreja é conhecer a Cristo e fazê-lo conhecido (Os 6:3; 1Co 8:3; Cl 1:27; 2:2; Ef 6:19)

Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre
com vocês, até o fim dos tempos". Mt 28:18-20

Hoje em dia todo cristão sabe o significado de missão ou “fazer missão”, como costumeiramente
falamos. Mas qual a diferença entre “fazer missão” e “fazer um evangelismo”? Será que realmente
sabemos o que representam não só estas expressões mas os conceitos que elas trazem? Vamos descobrir
a partir de agora.

2. O que ela representa?

A palavra missão vem do latim missio, que significa “enviar” e o ramo da teologia que estuda os
assuntos relacionados à missão é a Missiologia. É comum termos a ideia de que Missão é para poucas
pessoas e que estas abandonam suas casas para “viver fazendo a obra de Deus”, enquanto o Evangelismo
é uma atividade onde nos reunimos com alguns jovens e saímos de casa em casa convidando para o
culto ou indo em praças pregar a Palavra de Deus de cima de um banco.

Mas a verdade é que estes conceitos não limitam o significado destas expressões. Evangelismo
traz a ideia de levar o Evangelho até alguém, que é o que o missionário faz. A missão da igreja é fazê-
Lo conhecido ao mundo, ou seja, evangelizar. As duas expressões remetem ao mesmo significado e são
um mandamento de Jesus, isto é, uma ordem a ser cumprida por todos os cristãos (Mt 28: 19-20).

3. Quatro pontos da missão

Fazer missão, de acordo com nosso texto base (Mt 28), é: (1) ir, (2) fazer discípulos, (3) batizar
e (4) ensinar.

3.1. Ir

Lucas 24:49: “[...] mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto". Existe um processo,
uma preparação para cumprir o ide de Jesus. Este processo ocorre no tempo de Deus, ou seja, ninguém
deve ir até que Deus o encontre apto para a tarefa (“até serem”). É Deus quem dá o poder do Espírito
para a capacitação da pessoa enviada (“revestidos do poder do alto”).

Todos os cristãos possuem um chamado missionário, porém nem todos tem a tarefa de deixar
seus lares para viver exclusivamente pregando as Boas Novas (algumas pessoas, por exemplo, são
chamadas para evangelizar através do seu testemunho enquanto trabalham na enfermaria de um
110
hospital). Costuma-se dividir o chamado missionário, o ide de Jesus, em três pilares interdependentes:
(1) ir, (2) contribuir e (3) orar.

A igreja de Jesus, o corpo de Cristo, não é somente uma igreja que serve a cidade (διακονίαν) na
esfera social, mas também serve pregando a Palavra (εὐαγγελίζω). As duas tarefas andam lado a lado
e devem ser levadas com equilíbrio às pessoas que as receberão.

Não podemos simplesmente pregar a Palavra e fechar os olhos para as necessidades dos ouvintes
(Tg 2:15-17), mas também não podemos, como corpo de Cristo, servir a uma cidade sem mostrar a
ela o Cristo que salva.

Devemos ser equilibrados, mas saber que a pregação do Evangelho deve ter a primazia (Dt 8:3; Mt
4:4), pois o Evangelho é poder de Deus para Salvação (Rm 1:16) e não para, por mais nobre que seja,
alimentar os famintos. A obra social é um dos efeitos do Evangelho e não o ápice dele.

Somente IR não é o suficiente. Precisamos estar preparados e saber como ir. É claro que não
deve-se negar a oportunidade de falar de Jesus caso uma pessoa pergunte sobre sua fé e a quem você
serve, mas, para participar ativamente de um evangelismo, é necessário estar apto e ter, no mínimo, a
razão da nossa esperança na ponta da língua (1Pe 3:15).

O preparo é muito importante para que tenhamos argumentos bíblicos sólidos para expor ao
ouvinte (Rm 10.17), porém nenhum conhecimento substitui o poder do Espírito Santo no
convencimento do pecador. Estas são as duas ferramentas indispensáveis na mala de qualquer
missionário, esteja ele indo para outro país ou ao outro lado da rua: conhecimento da Palavra de Deus
e intimidade com o Espírito Santo (necessário para manifestar seu poder).

3.2. Fazer Discípulos

Quando vamos ao campo missionário, seja ele em outro país, outra cidade ou até mesmo no quarto
ao lado, o próximo passo é fazer do ouvinte um discípulo. Por hora, deixe de lado o que conhecemos
como discipulado: aquele curso intensivo básico para novos convertidos. Apeguemo-nos ao conceito
histórico e, para isso, veja o conceito a seguir:

Na sociedade grega antiga, o termo discípulo era usado para descrever um aluno ou aprendiz
de um homem sábio. Os discípulos buscavam conhecimento e sabedoria. Nas escolas
filosóficas gregas, um discípulo era uma pessoa que se submetia a um professor talentoso.
Esse processo de discipulado envolvia uma estreita relação e dependência do filósofo.4

Partindo deste ponto, podemos entender que o discípulo de Jesus é aquele que deseja seguir o Bom
Pastor e quer estar estreitamente ligado aos seus ensinos. Mas deixemos este assunto para a aula
específica e sigamos em frente com foco no fazer.

4 SCHERTLEY, Brian, The Great Commission, Lansing, 1999.


111
Sabemos o que é um discípulo, mas como podemos fazer de uma pessoa um discípulo de Cristo?
Pregando a Palavra de Deus na linguagem do ouvinte! Ao mesmo tempo que parece ser uma tarefa
fácil, se olharmos atentamente, perceberemos quão ardilosa é. Linguagem vai muito além do idioma. Ela
adentra a cultura até alcançar a cosmovisão do receptor. Mas o que seria cosmovisão?

Segundo o dicionário Michaelis, cosmovisão é um “Sistema pessoal de ideias e sentimentos acerca do


Universo, concepção do mundo”, ou seja, precisamos pregar de uma maneira que a mensagem alcance a
visão de mundo, o modo de perceber do ouvinte; perceber a vida, a morte, o céu, o inferno, Deus,
diabo, salvação, felicidade, tristeza e tudo quanto mais a pessoa esteja acostumada a pensar dentro dos
seus conceitos culturais.

A única maneira de um estrangeiro fazer isso é estudando o país, cidade ou vila para qual pretende
levar a Mensagem. Quer dizer que para pregar para uma pessoa e fazer com ela abra seu coração para
Cristo precisamos conhecer tudo isso antes?

Longe disso! O papel de convencê-la do pecado, da justiça, do juízo e da necessidade do Salvador é


do Espírito Santo, essa é somente uma das estratégias para fazer o que está nas nossas mãos da maneira
mais eficaz possível.

3.3. Batizar

O batismo é um ato de confissão pública de fé, onde após tornar-se discípulo, ou seja, decidir seguir
ao Mestre, a pessoa declara publicamente que deseja perder a sua vida para viver a vida de Cristo (Rm
6:4).

Essa é a recompensa da missão da igreja: batizar os que decidiram viver para a glória de Deus após
ouvirem a mensagem da Salvação. Quando um discípulo decide se batizar podemos ver que a Palavra
lançada caiu em terra boa e deu frutos.

Mas esta pessoa ainda não está pronta para caminhar sozinha. Ela precisa do apoio de pessoas
maduras e para entendermos como isso funciona, avançaremos ao quarto ponto.

3.4. Ensinar

O mandamento de Jesus é claro: “ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei”, isto é, após
ir, fazer discípulos e batizá-los precisamos instrui-los no caminho que devem andar.

Da mesma maneira que Provérbios 22:6 nos diz que devemos instruir a criança no caminho que
deve andar, assim devemos ensinar ao recém-nascidos na fé, para que não tenham sua fé desamparada
e sejam arrebatados do Evangelho por causa das suas provações (Ef 4:14).

Os irmãos recém-chegados na fé precisam de acompanhamento para que possam crescer na graça e


no conhecimento e compreender os princípios básicos da fé (Hb 5:12-13) enquanto ainda são
carregados pela bondade do Senhor (Is 40:11) e cressem para a Salvação (1Pe 2:2).
112
Existem muitas pessoas dispostas a entregar as suas vidas para pregar o Evangelho nos projetos
missionários espalhados pelo mundo a fora, mas o que falta são pessoas realmente capacitadas para não
só pregar, mas também para ensinar.

Um exemplo claro da falta do ensino sadio é a atual situação do Brasil, onde, no último censo do
IBGE (2010), calculou-se que 22,2% (43,7M) da população brasileira era cristã evangélica5 e estima-
se que até 2032 o número de evangélicos no país ultrapasse o de católicos6.

Mas quais são os frutos desses números? Ou são apenas números sem reflexo no modo de vida das
pessoas? Vemos famosos se entregando a Cristo frequentemente, mas quantos deles são ensinados a
obedecer aos mandamentos de Jesus? Que Evangelho tem sido ensinado em nosso país? Não podemos
generalizar, mas é facilmente percebido o despreparo da maioria dos líderes do meio cristão em ensinar
um cristianismo centrado em Cristo e em sua Palavra.

Podemos considerar que o processo missionário na vida de um novo convertido está perto do fim
quando a pessoa que outrora era um ouvinte, hoje é um propagador das Boas Novas. Aquele que antes
foi alcançado pela Palavra hoje torna-se uma flecha nas mãos de Jesus para ser arremessado em outros
alvos e fazer o mesmo: (1) ir, (2) fazer discípulos, (3) batizar e (4) ensinar.

4. “[...] entendes o que lês?”


Atos 8, a partir do verso 26, relata o momento em que um anjo ordena a Filipe, que estava em
uma cidade de Samaria, que fosse à Gaza passando por Jerusalém. No caminho ele encontra um eunuco
que ia na mesma direção, saindo de Jerusalém.

A história relata que o Espírito disse a Felipe para se aproximar da carruagem do Eunuco. Ao se
aproximar, Felipe percebe que o rapaz estava lendo as Escrituras (nosso atual Antigo Testamento), e
então lhe pergunta: Entendes o que lês? A resposta do eunuco foi instantânea: Como posso entender
se alguém não me explicar? (At 8:31).

As pessoas ao nosso redor conhecem ou, pelo menos, tem ideias do que pensam ser Deus. O que
falta são pessoas capacitadas e dispostas à discipulá-las e ensiná-las, pois, como diz o pastor M. David
Sills: “a grande tragédia do mundo não é que ele não tenha sido alcançado, mas que ele não tenha sido ainda
discipulado.”7. Como as pessoas ao nosso redor podem conhecer o Jesus bíblico se não há quem pregue
(Rm 10:14-15) -ou pelo menos que o faça de uma forma que entendam?

Aqui vimos as duas ferramentas do missionário em ação: Filipe tinha intimidade com o Espírito
Santo a ponto de ser guiado por Ele (foi para Gaza e se aproximou do eunuco) e usou o conhecimento
das Escrituras para explicá-la ao ouvinte e, por fim, o Espírito Santo convence o eunuco de seu pecado

5 https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo?id=3&idnoticia=2170&view=noticia (acessado em 12/02/2020, 19:40h)


6 https://veja.abril.com.br/brasil/evangelicos-devem-ultrapassar-catolicos-no-brasil-a-partir-de-2032/ (acessado em
12/02/2020, 19:40h)
7 SILLS, M. DAVID, Corações, Mentes e Mãos. Rio de Janeiro, BVbooks, 2017.

113
a ponto dele mesmo pedir para encostar a carruagem e ser batizado (v. 36).

Mas se Filipe não tivesse dado ouvidos ou não estivesse “com muita intimidade” nesse momento
da sua vida para ouvir o Espírito Santo? A pergunta que, logicamente, surge é: que atenção temos dado
ao nosso chamado? O que seria do eunuco se Filipe não tivesse ouvido o Espírito Santo? Ou de David
se Samuel não ouvisse ao chamado de Deus a fim de levantá-lo profeta e ungir a Davi rei sobre Israel?
Dos Ninivitas se Jonas não tivesse, ainda que relutante, dado um passo para trás e voltado até Nínive?

Precisamos dizer às pessoas ao nosso redor que, assim como ao filho pródigo, o Pai lhes espera
com roupas novas (umas nova maneira de viver, longe dos trapos imundos do pecado), sandálias para
os pés (escravos não usavam sandálias, apenas os filhos) e um anel no dedo (anel representava a
autoridade de uma pessoa), ou seja, o Pai deseja transformar a vida das pessoas que cruzam conosco,
fazer delas seus filhos e dar autoridade à elas para recomeçarem o ciclo do anúncio do Evangelho até
que alcancemos o objetivo de Jesus em Mateus 28: fazer discípulos em todas as nações.

5. “[...] um caminho ainda mais excelente” 1Co 12:31


Existe um modo mais simples -porém não mais fácil, para conseguir cumprir o ide de Jesus, seja,
como aprendemos ser possível, em outro país ou sendo um advogado: ser semelhante a Jesus (Jo 15:12).
Paulo, em 1Co 12, relata maneiras de como o Espírito Santo capacita e organiza a Igreja para seu
chamado.

Após diversas explicações, ele chega ao final do capítulo (v. 31) dizendo: “Passo agora a mostrar-
lhes um caminho ainda mais excelente.”, então, inicia-se o famoso capítulo 13 de 1 Coríntios, falando
exclusivamente do amor. A palavra usada neste capítulo para amor, é a mesma que Jesus usa em João
15:12, ἀγαπάω (agapao). Em João temos o mandamento e em 1 Coríntios temos a descrição do que
é este agapao.

Como aprendemos na aula sobre amor, agapao é não só o amor com que Deus nos ama, mas o
amor que devemos ter pelo nosso próximo; isso é ser semelhante a Jesus.

Quando somos revestidos com poder do alto, Deus derrama do seu amor (agapao) em nossos
corações (Rm 5:5), ou seja, amamos como Deus ama e, assim, começamos a cumprir o mandamento
de Jesus de João 15:12. E o que isso significa? Assim como uma candeia não é colocada debaixo de
uma vasilha, mas no alto, para iluminar a todos que estão na casa (Mt 5:15), assim é o Evangelho da
Salvação em nossas vidas.

Se quando somos encontrados por tamanho amor e misericórdia não conseguimos esconder das
pessoas ao nosso redor as Boas Notícias que nos salvaram, quanto mais às pessoas que amamos, para
mostrar-lhes uma oportunidade de uma nova vida, uma vida com abundância.

E é exatamente neste ponto que nossa semelhança com Cristo faz seu trabalho, pois, assim como

114
Cristo nos amou, doou-se por nós e nos entregou a Salvação, assim faremos ao nosso próximo.

Façamos como Filipe que obedeceu ao direcionamento do Espírito Santo e no caminho, encontrou
a pessoa a quem Deus queria que ele pregasse. Estejamos somente obedecendo, dispostos, preparados
e revestidos e o Senhor se encarregará de colocar pessoas e oportunidades em nosso caminho.

6. Anotações
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

115
CRENTE COMO CIDADÃO

1. Introdução

A nossa Constituição Federal, em seu artigo 1º, §2º, preceitua que a República Federativa do Brasil
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como um de seus fundamentos a cidadania. A
cidadania não alcança, apenas, o direito de votar e ser votado. É muito mais do que isso: é um
qualificativo daquele que é cidadão. O cidadão, na realidade, é o indivíduo que está legalmente
capacitado a participar da vida da sociedade, que tem consciência de seus direitos e deveres.

Vamos perceber, ao longo do nosso estudo, que o cristão, acima de qualquer outro cidadão, deve
exercer plenamente a sua cidadania, isto é, ter consciência de suas obrigações e lutar pelo o que é
justo.

2. Cidadania celestial

O cristão cidadão deve exercer a sua cidadania sem jamais perder de vistas a sua cidadania original.
Ele é cidadão do céu. Observe o que o apóstolo Paulo diz:

Filipenses 3:.17-21

17. Irmãos, sigam unidos o meu exemplo e observem os que vivem de acordo com o padrão que
lhes apresentamos.

18. Pois, como já lhes disse repetidas vezes, e agora repito com lágrimas, há muitos que vivem
como inimigos da cruz de Cristo.

19. O destino deles é a perdição, o seu deus é o estômago e eles têm orgulho do que é vergonhoso;
só pensam nas coisas terrenas.

20. A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o
Senhor Jesus Cristo.

21. Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará
os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso.

No entanto, ao contrário do que muitos pensam, Paulo não está dizendo que a nossa cidadania
celestial deve nos transformar em pessoas alienadas deste mundo. Na verdade, o ensino é que essa
cidadania deve nos tornar íntegros, justos, batalhadores do direito, servos que se sacrificam
pelo bem de outros, pois estamos confiante na justiça que há de vir. Note o que o mesmo apóstolo
nos ensina em outra passagem:

Efésios 2:19

19. Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros

116
da família de Deus,

A cidadania celestial torna o cristão tão radicalmente amoroso, que ele renuncia ao
seu direito para ver o outro desfrutando da justiça do Evangelho. A cidadania celestial
nos torna melhores cidadãos deste mundo. O autor de Hebreus revelou esse mesmo
resultado na vida dos cidadãos do céu que buscam espalhar o direito de Cristo na terra.

Hebreus 10:32-39

32. Lembrem-se dos primeiros dias, depois que vocês foram iluminados, quando
suportaram muita luta e muito sofrimento.

33. Algumas vezes vocês foram expostos a insultos e tribulações; em outras ocasiões
fizeram-se solidários com os que assim foram tratados.

34. Vocês se compadeceram dos que estavam na prisão e aceitaram alegremente o


confisco dos seus próprios bens, pois sabiam que possuíam bens superiores e
permanentes.

35. Por isso, não abram mão da confiança que vocês têm; ela será ricamente
recompensada.

36. Vocês precisam perseverar, de modo que, quando tiverem feito a vontade de
Deus, recebam o que ele prometeu;

37. pois em breve, muito em breve “Aquele que vem virá, e não demorará.

38. Mas o meu justo viverá pela fé. E, se retroceder, não me agradarei dele”.

39. Nós, porém, não somos dos que retrocedem e são destruídos, mas dos que creem
e são salvos.

3. Cristão cidadão

Mateus 17:24-27

24. Quando Jesus e seus discípulos chegaram a Cafarnaum, os coletores do imposto


de duas dracmas vieram a Pedro e perguntaram: “O mestre de vocês não paga o
imposto do templo?”

25.”Sim, paga”, respondeu ele. Quando Pedro entrou na casa, Jesus foi o primeiro

117
a falar, perguntando-lhe: “O que você acha, Simão? De quem os reis da terra cobram
tributos e impostos: de seus próprios filhos ou dos outros?”

26.”Dos outros”, respondeu Pedro. Disse-lhe Jesus: “Então os filhos estão isentos.

27. Mas, para não escandalizá-los, vá ao mar e jogue o anzol. Tire o primeiro
peixe que você pegar, abra-lhe a boca, e você encontrará uma moeda de quatro
dracmas. Pegue-a e entregue-a a eles, para pagar o meu imposto e o seu”.

O cristão deve ser cidadão exemplar, exemplo de fé, de esperança, de amor, de


justiça, direito, boas obras, bondade, etc.. Afinal, como vimos até aqui, o caráter do cristão
deve também reluzir na sociedade. O texto do Evangelho de Mateus sobre o imposto do
templo não aparece em qualquer dos outros Evangelhos. Curiosamente, Mateus, como
se sabe, antes de se converter e seguir a Jesus, era cobrador de impostos (Mt 9:9).
Portanto, não seria exagero afirmar que a lição de cidadania ensinada a Pedro, de alguma
forma, impactou profundamente o apóstolo Mateus.

Esse relato nos apresenta alguns pilares do cristão cidadão:

➢ ele é consciente da onisciência de Deus;

➢ ele age confiante na onipotência de Deus;

➢ ele reflete consistentemente a benevolência de Deus.

Vejamos, agora, algumas ideias equivocadas que são formuladas para escaparmos de
nossas responsabilidade.

Mas ele resistiu à tentação de escapar, e resistiu pela fé. Ele recusou escapar das suas
responsabilidades.

4. “Nossa cidadania está somente nos céus!” Será?

Já vimos que Paulo não encontrou nenhuma contradição em reivindicar uma cidadania
celestial em Filipenses 3.20 e, ao mesmo tempo, reivindicar e usar sua cidadania romana
em Atos 16.37-39 e em 22.22-29:

Atos 16:37-39

37. Mas Paulo disse aos soldados: “Sendo nós cidadãos romanos, eles nos açoitaram
publicamente sem processo formal e nos lançaram na prisão. E agora querem livrar-
118
se de nós secretamente? Não! Venham eles mesmos e nos libertem”.

38. Os soldados relataram isso aos magistrados, os quais, ouvindo que Paulo e Silas
eram romanos, ficaram atemorizados.

39. Vieram para se desculpar diante deles e, conduzindo-os para fora da prisão,
pediram-lhes que saíssem da cidade.

Atos 22:22-29

22. A multidão ouvia Paulo até que ele disse isso. Então todos levantaram a voz e
gritaram: “Tira esse homem da face da terra! Ele não merece viver!”

23. Estando eles gritando, tirando suas capas e lançando poeira para o ar,

24. o comandante ordenou que Paulo fosse levado à fortaleza e fosse açoitado e
interrogado, para saber por que o povo gritava daquela forma contra ele.

25. Enquanto o amarravam a fim de açoitá-lo, Paulo disse ao centurião que ali
estava: “Vocês têm o direito de açoitar um cidadão romano sem que ele tenha sido
condenado?”

26. Ao ouvir isso, o centurião foi prevenir o comandante: “Que vais fazer? Este
homem é cidadão romano”.

27. O comandante dirigiu-se a Paulo e perguntou: “Diga-me, você é cidadão


romano?” Ele respondeu: “Sim, sou”.

28. Então o comandante disse: “Eu precisei pagar um elevado preço por minha
cidadania”. Respondeu Paulo: “Eu a tenho por direito de nascimento”.

29. Os que iam interrogá-lo retiraram-se imediatamente. O próprio comandante


ficou alarmado, ao saber que havia prendido um cidadão romano.

Nossa cidadania celestial, se corretamente entendida, impactará profundamente nossa


cidadania terrena.

5. “O reino de Deus não é deste mundo!” Mas, qual é o contexto?

“O reino de Deus não é deste mundo” é uma declaração verdadeira se entendermos pela
palavra “de” significa que o reino de Deus não é derivado deste mundo. E, de fato, ele é

119
derivado do céu. Mas, observe o que a oração-modelo do Senhor pede? “Venha o teu
reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” Essa não é uma oração escapista.
É uma oração que deseja ver o reino celestial influenciar e mudar as coisas
terrenas.

6. “Estamos buscando apenas as coisas que são de cima!” O que isso significa?

Outra forma de equívoco que pode ser encontrada na expressão “O reino de Deus
não é deste mundo”. Uma vez mais, essa é uma declaração verdadeira, mas retirada do
contexto. O contexto de Colossenses 3 é que Cristo (que é de cima) é suficiente para
tudo do que precisamos na vida. Não se trata de um chamado para escapar da vida.

Sabemos isso porque Paulo continua e mostra em Colossenses como Cristo é


suficiente para as nossas relações no casamento, com os filhos, patrões, empregados e
“tudo quanto fizerdes”. Isso também é pedir que a Sua vontade seja feita na terra como é
feita no céu.

7. Conclusão

A cruz é uma revelação da justiça de Deus tanto como de Seu amor. Isto é o porquê
a comunidade da cruz deveria se concentrar tanto com a justiça social como com a
filantropia amorosa. Nunca é suficiente ter piedade das vítimas de injustiça, se não
fazemos nada para mudar a situação dos injustiçados. Os Bons Samaritanos sempre serão
necessários para socorrer aqueles que são assaltados e roubados; todavia, seria bem
melhor libertar a estrada de Jerusalém-Jericó de salteadores.8

8. Anotações

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

8 CARSON, Donald. A. A Cruz e o Ministério Cristão. São Paulo: Editora Fiel, 2017.
120
LEI E GRAÇA

1. Introdução

Hoje, no meio evangélico, muito se ouve falar a frase: “ainda bem que não estamos no tempo da Lei, e
sim no tempo da Graça”. No entanto, muitos dos que pronunciam e ouvem essa frase, não compreendem
seu real valor e significado.

Há quem acredite que, por estarmos na Graça, a responsabilidade de uma vida cristã séria não existe,
ou seja, “posso viver de minha maneira, que a Graça de Jesus irá me perdoar de todos os erros.”

Quando entendemos o verdadeiro significado da Graça, esse pensamento raso e medíocre se


descontrói. Percebemos que essa Graça é preciosa, profunda e muito séria. Na Lei, bastava não
assassinar; na Graça, além de não assassinar, não posso guardar rancor! Com isso, percebemos o quão
sério é a Graça de Deus.

2. Lei

O dicionário bíblico VINE define Lei como: “Tôrãh”, ou seja, lei, direção, instrução. Moisés foi o
homem que Deus escolheu para repassar a Lei ao povo de Israel. A Lei tinha como objetivo dar direção
e instruir o povo a viver de modo digno diante do Senhor: “Bem-aventurados aqueles cujos caminhos são
íntegros e que vivem de acordo com a Lei do Eterno!” (Sl 119. 1).

A Lei popularmente conhecida são os dez mandamentos (Ex 20.1-21). Essas leis foram dadas por
Deus a Moises, escritas em tábuas de pedra (Ex 31.18), de modo que os dez mandamentos são uma
síntese das 613 leis (para mais detalhes, leia o livro de Levítico) que Deus transmitiu ao seu povo.
Esses mandamentos definiam o padrão de relacionamento entre o homem e seu próximo e entre o
homem e Deus.

Alguns estudiosos separam a Lei de Moisés em três divisões:

• Lei litúrgica (religiosa): tratava das questões religiosas de Israel, do preparo dos sacerdotes,
da questão litúrgica de adoração e sacrifícios oferecidos no tabernáculo e, posteriormente,
no Templo.

• Lei moral: está resumida nos dez mandamentos, tratando do relacionamento interior e
exterior do ser humano consigo mesmo, com o próximo e com Deus, formando o caráter do
ser humano em semelhança com o caráter de Deus.

• Lei cívica: tratava das questões políticas de Israel como nação, organizando o povo como
Estado; assim como toda nação tinha suas leis jurídicas e administrativas, Deus também
organizou Israel como uma nação.

Paulo, em Romanos 7.12, afirma: “De maneira que a lei é santa, e o mandamento, santo, justo e bom.”

121
Paulo quis dizer que o problema somos nós, o pecado que nos habita, em essência, nos impossibilitou
de cumprir a lei em sua totalidade, não permitindo ao ser humano alcançar salvação pela via da
obediência à lei.

Tiago afirma em sua carta, no capítulo 2, versículos 10 e 11, o seguinte: “Porquanto, quem obedece a
toda a Lei, mas tropeça em apenas uma das suas ordenanças, torna-se culpado de quebrá-la integralmente. Pois
Aquele que proclamou: “Não adulterarás”, também ordenou: “Não matarás”. Ora, se não adulteras, porém
cometes um assassinato, te tornaste da mesma forma, transgressor da Lei.”

Paulo também afirma em Gálatas 3. 10: “Pois todos os que são das obras da lei estão debaixo de maldição.
Porquanto está escrito: Maldito todo aquele que não persiste em praticar todos os mandamentos escritos no livro
da lei.”

Portanto, a Lei mostrou a nós, seres humanos, o quanto somos pecadores, e que por ela ninguém
alcançaria a salvação. A Lei tinha uma dura punição para seus transgressores. Para cada tipo de pecado
havia uma punição, e em muitos casos, a punição era a morte. No Novo Testamento encontramos o
povo judeu levando uma mulher adúltera a Jesus, enfatizando que a lei de Moisés ordenava que tal
mulher fosse apedrejada até a morte por sua transgressão. Ver Jo 8.1-11.

3. Graça

O dicionário VINE define Graça como “prazer, deleite, ou algo que produz consideração favorável”.
Como vimos, o ser humano, pela Lei, estava em situação desfavorável. Mas a Graça veio tornar o
desfavorável em favorável; a salvação, que estava distante, agora, pela Graça, está perto, alcançável a
qualquer pessoa.

Fica decretado na Graça o fim de toda Lei de morte, pois recorrer à Lei é decair da Graça, como
Paulo afirmou.

“Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente?


De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?” (Rm 6:1-
2).

“E então? Vamos pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De maneira nenhuma!”
(Rm 6:15).

Não podemos confundir a Graça de Deus com algo banal, barato, e usarmos esse tão grande amor
como desculpa para termos uma vida leviana e sem preocupações com nossa alma. A Graça não é algo
que me avaliza a viver uma vida de pecados, sem mudanças e renúncias diárias.

A verdadeira Graça nos mostra o quão miseráveis somos, e que não merecíamos este favor; por meio
disso, seremos gratos através de nossas atitudes, resplandecendo, assim, a luz do Evangelho de Cristo.
Graça é Graça! Não existe hiper Graça!

122
3.1. Jesus é esta Graça

Jesus nos apresentou essa Graça maravilhosa; Jesus veio à terra, como ser humano, cumpriu toda a
exigência da lei, não pecou em nenhum mandamento, tornando-se, assim, o mediador de uma nova
aliança.

“Porquanto, a graça de Deus se manifestou salvadora para todas as pessoas.” (Tt 2.11).

“Porquanto, pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem por
intermédio das obras, a fim de que ninguém venha a se orgulhar por esse motivo.” (Ef 2.8-9).

A graça é esse favor inexplicável de Deus para o ser humano; nós, como seres humanos, prestamos
favores uns aos outros. Geralmente, nosso favor está ligado à uma troca de favores, “algo do tipo, “uma
mão lava a outra”.

Porém, a Graça de Deus, o favor de Deus, em muito se difere do nosso; há um abismo infinitamente
gigantesco entre o nosso favor e o favor de Deus. O favor de Deus não envolve troca de favores; nosso
Abba simplesmente nos amou, nos deu esse favor, sem esperar nada em troca. Nós éramos pecadores,
e mesmo assim, Ele ofereceu Seu Filho como sacrifício em nosso favor. Nós nem éramos nascidos
quando Cristo consumou a salvação na cruz! A Graça é algo inexplicável; não merecemos, mas ela nos
justifica diante do Pai.

A Graça muda nossa filiação: de filhos e herdeiros de pessoas comuns, passamos a ser filhos do
Abba. A graça de Deus não muda nosso passado, mas, sim, o nosso presente e futuro!

3.2. A Graça aboliu a Lei?

“Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.” (Rm 10:4).

A Lei, como mediadora de uma salvação, foi abolida por Cristo na cruz; Ele expressou: “Está
consumado!” A salvação é concedida somente pela Graça, e não por obras em obediência à Lei.

3.3. Lei litúrgica na Graça (religiosa)

Foi abolida na cruz, conforme Hb 10.9: “E assim, Ele cancela o primeiro padrão, para estabelecer o
segundo”. A liturgia de culto da Lei foi abolida por Cristo na cruz; o sacrifício de animais era oferecido
para purificar o povo de seus pecados. Cristo se ofereceu como propiciação por nossos pecados,
anulando, assim, a necessidade desses rituais. Ver Hb 9.

3.4. Lei moral na Graça

Essa foi abolida em seu sentido de mediação para salvação; o ser humano não será salvo pela obra
da prática do mandamento, mas somente pela Graça, salvo para boas obras.

“Ouvistes que foi dito aos antigos: “Não matarás; mas quem assassinar estará sujeito a juízo”. Eu, porém,

123
vos digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a juízo.” (Mt 5.21-22).

Na Lei moral está escrito “não matarás”. Cristo não anulou esse mandamento, mas trouxe a
responsabilidade de uma consciência transformada pela Graça sobre o assunto. A “ira”, em si,
dependendo da profundidade, já é um assassinato perante a Graça, pois na Graça só há espaço para o
amor. Quem ama seu irmão, não tem tempo para se irar com ele; pelo contrário, compreende que
somos alcançados pela mesma Graça.

Com certeza, tenho a capacidade de deixar outras pessoas iradas; e a Graça nos coloca nessa realidade
de igualdade com todos: ninguém é maior e ninguém é menor, todos necessitamos da Graça!

A Lei moral foi abolida, sim! Porém, o mandamento que é lei de vida, não! Paulo afirma em Romanos
8.2: “porque a lei do Espírito de Vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte”. A Lei moral
produzia morte; a Graça produz vida, a Lei do Espírito de Vida.

3.5. Lei cívica na Graça

Cada país tem a sua lei, e nós temos a Lei da Graça, as leis que são a favor da vida que, conforme
Jesus, devem ser observadas. As leis que não estão de acordo com a vontade de Jesus devem ser
ignoradas. A lei do evangelho de vida é maior do que qualquer lei imposta por qualquer ser humano.

4. Diferença entre Lei e Graça

“Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1.17).

Na Lei bastava não assassinar; na Graça, além disso, não posso guardar rancor; na Lei bastava não
adulterar; na Graça, além disso, não posso ser lascivo; na Lei bastava não testemunhar falsamente contra
o próximo; na Graça, além disso, não posso julgar o próximo.

A Lei nos mostra o pecado; não conheceríamos o erro se a Lei não nos informasse. Só sei que algo
está errado quando uma lei me mostra o correto. E a Graça nos mostra que somos incapazes de cumprir
esta Lei por nossa própria força.

Cristo cumpriu toda essa Lei em nosso lugar, mostrando, assim, que somente Ele foi capaz de
praticar a Lei em sua plenitude. Ninguém será justificado pela Lei, pois ao homem é impossível cumpri-
la.

“Porquanto, quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas uma das suas ordenanças, torna-se culpado
de quebrá-la integralmente.” (Tg 2.10).

Graças à Graça, a Lei não nos justifica; estamos debaixo da Graça do Pai Eterno, estamos debaixo
da Graça, e não da Lei.

“Pois o pecado não os dominará, porque vocês não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça.” (Rm 6:14).

124
5. Conclusão

Citamos, mais uma vez, o texto de João 8. 1-11, sobre a mulher adúltera; na Lei existia a punição
com falta de misericórdia, onde todos eram juízes dos pecados dos outros.

Mas, na Graça, as coisas são diferentes; a mulher foi levada diante da Graça, diante de Jesus, e Jesus,
com sua resposta, coloca todos em igualdade diante de Deus: “quem não tem pecado, atire a primeira
pedra”.

Ouvindo isso, todos largaram as pedras de suas mãos e foram embora, pois olharam para si mesmos
e viram que em nada eram melhores do que a mulher adúltera. Com a Lei, eram maiores que a mulher
em pecado, mas perante a Graça todos eram iguais pecadores e careciam da mesma misericórdia.

6. Anotações

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
125
A ARTE E A BÍBLIA

1. O Senhorio de Cristo

Como cristãos, tendemos a dar pouca importância à arte. Consideramos os outros aspectos da vida
humana mais importantes. Não entendemos o conceito sobre o senhorio de Cristo.

O senhorio de Cristo sobre a vida como um todo significa que não há áreas platônicas no
cristianismo. A redenção é para o homem todo. Desde o início, homem e mulher, criados à imagem
de Deus (ambos!), receberam o domínio (senhorio) sobre toda a terra criada e isto envolve toda a
cultura – incluindo a área da criatividade. Parece que não compreendemos que as artes também
precisam estar debaixo do Senhorio de Cristo.

Francis Bacon afirma que:

“Na queda o ser humano perdeu ao mesmo tempo o estado de inocência e o domínio sobre a natureza.
Entretanto, ambas as perdas podem, até certo ponto, ser reparadas ainda nesta vida; a primeira, por
meio da religião e da fé; a segunda, pela arte e pela ciência”.

A arte e a ciência têm um lugar na vida cristã. No entanto, ainda que o conceito do senhorio de
Cristo sobre todo o mundo englobe as artes, muitos cristãos afirmam que a Bíblia quase nada tem a
dizer sobre ela.

2. Nenhuma imagem de escultura

As pessoas que acham que a arte é proibida pela Bíblia logo apontam os dez mandamentos (Ex 20.
4-5). Contudo, precisamos consultar outra passagem no livro da lei (Lv 26.1). Esta passagem deixa
claro que o mandamento não é contra a arte, mas contra a adoração a qualquer coisa além de Deus e,
especificamente, contra a adoração à arte. Adorar a arte é um erro; produzi-la, não.

3. A arte e o tabernáculo

Enquanto Moisés estava no monte Sinai, Deus lhe deu instruções específicas sobre como o
tabernáculo deveria ser construído. Ele ordenou a Moisés que recolhesse dos israelitas ouro e prata,
tecidos finos e peles de carneiros tingidas, madeira nobre e pedras preciosas, e assim por diante (ÊX
25.9 – ÊX 25.40). O próprio Deus mostrou a Moisés o padrão do tabernáculo. Em outras palavras,
o arquiteto foi Deus, não o ser humano.

3.1. Sobre a arte no Santo dos Santos (Êx 25.18):

Que tipo de arte? Arte figurativa. Uma estatuária representando anjos deveria ser colocada no Santo
dos Santos – lugar onde apenas uma vez por ano um homem, o sacerdote, podia entrar – e deveria ser
construída por ordem do próprio Deus.

126
Temos outra obra de arte – um candelabro (Êx 25.31-33). E como ele é decorado? Não com
representações de anjos, mas com representações da natureza, flores, objetos de beleza natural, que
deveriam estar presentes no tabernáculo, no meio do lugar de adoração, por ordem de Deus.

Posteriormente, encontramos a descrição das vestes do sacerdote (ÊX 28.33). Assim, quando o
sacerdote adentrava o Santo dos Santos, ele deveria levar em suas vestes uma representação da natureza,
e levar essa representação à presença de Deus. Contudo, há algo mais a ser notado nessa passagem. Na
natureza, as romãs são vermelhas; porém, estas romãs deveriam ser azuis, púrpura e carmesim. O
princípio é que há liberdade para se fazer algo a partir da natureza, que seja distinto dela e que possa
ser levado à presença de Deus.

Às vezes é tentador lermos a Bíblia como um “livro sagrado”, tratando os relatos históricos como se
fossem situações celestiais sem relação com a realidade terrena.

A arte tem duas características: ela é criativa, mas envolve também os detalhes técnicos sobre como
as coisas devem ser feitas (Êx 37.7). Os querubins da arca não caíram do céu. Alguém precisou sujar
as mãos; alguém teve de resolver os problemas técnicos.

4. O templo

Assim como o tabernáculo, o templo não foi planejado por homens. As escrituras asseguram que o
plano veio de Deus (1 Cr 28.11-12). Portanto, o que deveria existir no templo? Uma das ordens era
que o templo deveria ser preenchido com obras de arte (2 Cr 3.6). O templo era coberto de pedras
para ornamento. Não havia razão pragmática – elas não possuíam valor utilitário algum. Não há como
contestar. Deus se interessa por beleza. O cronista continua a narrativa dizendo que Salomão “cobriu
também de ouro a sala, as traves, os umbrais, as paredes e as portas; e lavrou querubins nas paredes”
(2 Cr 3.7). No versículo 10 fica evidente a arte em redondo “No Santo dos Santos, fez dois querubins
de madeira e os cobriu de ouro.” Nos versículos 16 e 17 vemos duas colunas soltas. Elas não
sustentavam peso arquitetônico algum nem tinham função alguma do ponto de vista da engenharia.
Estavam ali simplesmente porque Deus disse que deveriam servir de ornamento. Sobre os capitéis
destas colunas havia romãs presas por correntes. Arte sobre arte. Se compreendermos o que estamos
lendo aqui, ficaremos impressionados – é algo extremamente belo.

Em Crônicas 4 novamente temos a arte figurativa disposta em todo o templo. Os anjos são
representados pelos querubins em baixo relevo, a natureza inanimada é representada por entalhes de
flores e romãs, e a natureza viva é representada por bois. Portanto, a arte figurativa de temas não-
religiosos era posto no lugar de adoração.

Em 1 Reis 7.29, há um detalhe adicional na descrição das almofadas nas dez bases de cobre do
templo: “sobre as almofadas que estavam entre as junturas havia leões, bois e querubins.” Deus está
dizendo: “terei leões entalhados não por função pragmática, mas por beleza.”
127
Já vimos que o artista precisou resolver certos problemas técnicos em relação ao tabernáculo, o
mesmo é verdade acerca da arte no templo (2 Cr 4.17). Da mesma forma que Michelangelo trabalhou
com as mãos o mármore das grandiosas pedreiras italianas, o artista hebreu fundiu o bronze em um
lugar geográfico específico, onde a argila era perfeitamente própria para produzir uma boa forma a
partir de seu modelo.

5. Arte secular

Por ter sido ordenada por Deus a arte, a arte não precisa de temas religiosos específicos. O que
torna a arte cristã não é necessariamente o fato de ela tratar de questões religiosas. Em 1 Reis 10.18
– 20 aprendemos algo sobre a arte secular. Que trono! Que peça de arte secular maravilhosa.

6. O uso da arte por Jesus

Em João 3.14-15 o que Jesus estava usando como ilustração neste momento? Uma obra de arte.
Contudo, alguém pode dizer: “Sim, mas eles acabaram despedaçando-a. Em 2 Reis 18.4 lê-se que
Ezequias a quebrou.” É verdade . Aliás, Deus até se deleitou com sua destruição. Porém, por que
Ezequias destruiu a serpente de bronze? ”[Ezequias] removeu os altos, quebrou as colunas e fez em
pedaços a serpente de bronze que Moises fizera, porque até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam
incenso”. Será que ele a quebrou por ser uma obra de arte? Claro que não, Ele a destruiu porque as
pessoas haviam a transformado em um ídolo.

7. Poesia

A Bíblia trata de outras formas de arte. A mais clara é a poesia. 2 Samuel 1.19 – 27 é uma ode
secular, um poema de Davi em homenagem a Saul e Jônatas como heróis nacionais. Posteriormente
em 2 Samuel, somos informados que Davi escreveu salmos sob a liderança e inspiração do Espírito
Santo (2 Sm 23.1-2). Ele era artesão, compunha poesias e era músico – Davi fazia todas estas coisas
como um exercício espiritual para a glória de Deus.

Um dos poemas mais impressionantes e seculares na Bíblia é cantares de Salomão. De certa forma,
sua inserção na Bíblia é paralela ao tipo de arte secular que notamos no trono de Salomão, porém é
mais significativa porque é colocado como parte da própria escritura.

8. Música

A música é outra forma de arte que a Bíblia menciona. Uma da mais fantásticas peças de arte musical
é a canção que os hebreus entoaram após terem sido resgatados do exército de Faraó. Êxodo 15 nos
apresenta essa canção.

Em 1 Crônicas 23.5-6 Davi dividiu os cantores em naipes, formando o que chamamos de coro.
Assim a arte flui com toda a sua beleza, força, expressão e glória.

128
No tempo de Ezequias, enquanto os sacrifícios eram oferecidos um a música e a arte, foram usadas
por ordem de Deus por meio dos profetas (2 Cr 29.25-26).

9. O teatro e a dança

Em Ezequiel 4. 1-3 uma performance é mencionada. O que era isso? Simplesmente teatro. O “tijolo”
tinha a linha do horizonte de Jerusalém desenhada apenas como cenário, para que as pessoas não
esquecessem o que Ezequiel estava retratando. Jerusalém seria cercada e o povo foi alertado por ordem
de Deus por meio do teatro. Foi ordenado a Ezequiel que dramatizasse diariamente por mais de um
ano. Durante meses, ele representou diante de um cenário para que Israel compreendesse que Deus
traria julgamento.

A dança é mencionada no livro de Salmos no livro de salmos, em que o povo de Israel é encorajado
a louvar a Deus (Sl 149.3). Duas passagens históricas da Bíblia demonstram que Deus se agradava das
pessoas dançarem: Êxodo 15.20 diz que Miriã, saiu com tamborins e com danças. E em 2 Samuel
6.14-16 lemos que Davi dançava com todas as suas forças diante do Senhor.

10. Conclusão

A arte cristã é a expressão da vida integral da pessoa que é cristã. Aquilo que o artista cristão retrata
em sua arte é a totalidade da vida. A arte não deve ser apenas um veículo para um tipo de evangelismo
autoconsciente.

Se, portanto, o cristianismo tem tanto a dizer sobre as artes e ao artista, por que temos produzido
tão pouca arte cristã nos último tempos? Creio que a resposta já deve estar clara. Não temos produzido
arte cristã porque temos nos esquecido de quase tudo o que o cristianismo diz sobre as artes.

11. Anotações

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

129
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
BOYER, O. Pequena enciclopédia Bíblica. São Paulo: CPAD, 2002.

BRIDGES, J. A Busca da Santidade. Brasília: Editora Monergismo, 2013.

CARSON, D. A.; FRANDE, R. T.; MOTYER, J. A.; WENHAM, G. J. Comentário Bíblico Vida
Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009.

CARSON, D. A. O Comentário de João. São Paulo: Shedd Publicações, 2007.

CHAMPLIN, R. N. O novo testamento interpretado: versículo por versículo. Vol. 4. São Paulo:
Hagnos, 2014.

CHAN, F. O Deus esquecido. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2010.

DE YOUNG, K. A Brecha em Nossa Santidade. São José dos Campos: Editora Fiel, 2015.

FERREIRA, FRANKIN; MYATT, ALAN. Teologia Sistemática. São Paulo: Sociedade Religiosa Vida
Nova, 2008.

MacARTHUR, J. Manual Bíblico – Gênesis a Apocalipse. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil,
2019.

McGRATH, A. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma Introdução à Teologia Cristã.


São Paulo: Shedd Publicações, 2005.

OWEN, J. A Mortificação do Pecado. São Paulo: Editora Vida, 2005.

OWEN, JOHN. A Trindade Provada Pela Bíblia. São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2019.

SPROUL, R. C. O que é fé. Série Questões Cruciais. São José dos Campos: Editora Fiel, 2013.

SPROUL, R. C. Quem é o Espírito Santo? Questões Cruciais. São José dos Campos: Editora Fiel,
2013.

VINE E. W; UNGER, F.; MERRIL JR, W. W. Vine Dicionário. Nashville, Tn, USA, 1985.

WALTON, J. W.; MATTHEWS, V. H.; CHAVALAS, M. W. Comentário Histórico-Cultural da


Bíblia – Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2018.

130
NO QUE CREMOS?

I - Sobre as Escrituras Sagradas

1. Cremos na Bíblia (Antigo e Novo Testamento do Cânon Protestante) como a revelação progressiva
de Deus à humanidade (visão construtiva), escrita por homens inspirados e dirigidos pelo Espírito
Santo (autoria dual das Escrituras).
2. Cada palavra das Escrituras Sagradas possui o significado que Deus tencionava para a revelação de
Si mesmo, por meio da expressão linguística de um autor humano consciente.
3. É a nossa única regra de fé e prática.
4. Possui como finalidades: (a) revelar os atributos e o caráter de Deus, (b) revelar os princípios e
propósitos de Deus, (c) promover a glória de Deus, (d) convencer e converter pecadores e (e)
edificar, confrontar e confortar os crentes.
5. Todo o seu conteúdo é verdadeiro, inerrante, infalível e suficiente.
6. Sua interpretação ocorre à luz do seu próprio texto, ou seja, a Escritura interpreta a Escritura.
7. Sua leitura e prática devem considerar a pessoa e os ensinos de Jesus Cristo (abordagem
cristocêntrica).

II – Sobre Deus

8. Cremos que há um único Deus, vivo e verdadeiro, que é Espírito pessoal, eterno, infinito, imutável,
onipotente, onisciente, onipresente, perfeito em santidade, justiça, verdade e amor.
9. Há três pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Essas três pessoas são um só Deus,
da mesma substância/essência/natureza, iguais em poder e glória, embora distintos em pessoas.
10. Deus Pai, que não é gerado nem procedente, manifesta disposição paternal para com todos os
homens.
11. Deus Filho, eternamente gerado do Pai, um em essência com o Pai, é o eterno Filho de Deus.
12. O Espírito Santo, eternamente procedente do Pai e do Filho, um em essência com o Pai e com o
Filho, é o Espírito da verdade.

III - Sobre o Homem

13. Cremos que Deus criou o Homem à Sua imagem, conforme sua semelhança, como uma unidade,
uma pessoa total, com corpo e alma vivendo e agindo conjuntamente.
14. O Homem foi criado para glorificar, amar, conhecer e estar em comunhão com seu Criador, bem
como cumprir Sua vontade divina.

131
15. O Homem tem capacidade de perceber, conhecer e compreender, ainda que em parte, intelectual
e experimentalmente.

IV - Sobre o Pecado

16. Nossos primeiros pais, sendo seduzidos pelo orgulho e pela astúcia de Satanás, pecaram contra
Deus. Por esse pecado, eles decaíram de sua retidão original e da comunhão com Deus, tornando-
se mortos em pecado e com suas naturezas corrompidas. Cremos que o pecado é qualquer falta de
conformidade à lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por Ele dada como regra, à criatura
racional.
17. No princípio, o Homem vivia em estado de inocência e mantinha perfeita comunhão com Deus.
18. Por desobediência ao seu Criador, nossos pais (Adão e Eva) cederam à tentação e pecaram contra
Deus. Em consequência dessa queda, todos somos, por natureza, pecadores.
19. Como resultado do pecado, da incredulidade e da desobediência contra Deus, o Homem está sujeito
à morte espiritual e à condenação eterna.
20. Todo pecado possui motivação e intencionalidade, sendo cometido contra Deus, Sua pessoa, Sua
vontade e Sua lei, atingindo, também, o seu próximo.
21. Separado de Deus, o Homem é incapaz de salvar-se a si mesmo, dependendo, exclusivamente, da
graça de Deus para ser salvo.

V - Sobre a Salvação

22. Cremos que a salvação é dom gratuito outorgada por Deus, por meio da Sua graça, mediante o
arrependimento do pecador, que é habilitado pelo Espírito Santo e pela fé em Jesus Cristo como
único Salvador e Senhor.
23. Pela graça, somos justificados, regenerados, santificados e, ao fim, glorificados.
24. A justificação é o ato pelo qual Deus, considerando, exclusivamente, os méritos do sacrifício de
Cristo, perdoa o Homem de seus pecados e o declara justo, capacitando-o, pelo Espírito Santo, a
uma vida de retidão diante de Deus e de correção diante dos homens.
25. A regeneração é o ato inicial da salvação em que Deus faz nascer de novo o pecador perdido,
fazendo dele uma nova criatura em Cristo.
26. A santificação é o processo que se inicia na regeneração, levando o Homem à realização dos
propósitos de Deus e habilitando-o a progredir em busca da perfeição moral e espiritual de Jesus
Cristo, mediante a presença e o poder do Espírito Santo que nele habita. Ela ocorre mediante a
graça de Deus operando na dedicação do crente e se manifesta através de um caráter marcado pela
presença e pelo fruto do Espírito, bem como por uma vida de testemunho fiel e serviço consagrado
a Deus e ao próximo.
132
27. A glorificação é o ponto culminante da obra da salvação. É o estado final e permanente da felicidade
dos que são redimidos pelo sangue de Cristo.

VI - Sobre o Inferno

28. Cremos que o inferno é um lugar real, sobre o qual Deus nos adverte nas Escrituras, e sobre o qual
Cristo falou durante Seu ministério na terra.
29. O inferno, segundo a Bíblia, é onde Deus derrama Sua ira sobre os condenados, não apenas no
julgamento inicial, mas para sempre, pessoal e ativamente.
30. O inferno é o lugar para aqueles que não se arrependem do pecado e não creem em Jesus Cristo
para salvação.

VII - Sobre o Reino de Deus

31. Cremos que o Reino de Deus, também nominado de Reino dos Céus, é o domínio soberano e
universal de Deus; é, também, o domínio de Deus no coração dos homens que a Ele se submetem
pela fé, aceitando-O como Senhor e Rei.
32. Cremos que o Reino de Deus se manifesta através de seus súditos (discípulos), espiritual e
fisicamente, transformando o mundo (pessoas) conforme a vontade do Pai.
33. A consumação do reino ocorrerá com a volta de Jesus Cristo, quando o mal será completamente
vencido e surgirão o novo céu e a nova terra para a eterna habitação dos remidos com Deus.

VIII - Sobre os Dons do Espírito Santo

34. Cremos que todos os crentes recebem dons graciosos, da parte de Deus, através do Espírito Santo,
com a finalidade de um fim proveitoso para toda a comunidade do corpo, isto é, da igreja.
35. Há uma grande diversidade de dons concedidos para o benefício comum. O corpo é uma unidade,
formado por muitas partes que contribuem para o bom funcionamento do organismo.

IX – Sobre o Batismo e a Ceia do Senhor

36. Cremos que, tanto o batismo quanto a ceia do Senhor, são duas ordenanças estabelecidas e deixadas
pelo próprio Jesus Cristo à igreja, sendo ambas de natureza simbólica.
37. O batismo consiste na imersão em água, após a profissão de fé em Jesus Cristo como Salvador
único, suficiente e pessoal.
38. O batismo simboliza a morte e sepultamento do velho Homem e ressurreição para uma nova vida
em Cristo.

133
39. O batismo é ministrado sob a invocação do nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
40. A ceia do Senhor é uma cerimônia da igreja local, reunida, comemorativa e de rememoração da
morte do Senhor Jesus Cristo, simbolizada por meio de dois elementos utilizados: o pão e o vinho.
41. Nesse memorial, o pão representa o corpo entregue, e o vinho simboliza o sangue derramado.
42. A ceia do Senhor deve ser celebrada pela Igreja até a volta de Cristo. Sua celebração pressupõe um
cuidadoso e íntimo exame individual dos participantes para, então, cear, isto é, depois de
honestamente analisar a relação para com o corpo, ciente da condição e da necessidade de melhora,
participe.
43. Um verdadeiro cristão, ainda que carregue peso em sua consciência por possíveis pecados
praticados, sabe que pode confessar e se achegar à mesa, pois esse sacramento é ordenado para
lembrança do sentido do calvário e alívio pela fé no que nos torna cristãos.

X - Sobre a Disciplina

44. Cremos que o amor exige disciplina e que a disciplina exige amor. Deus é bom, mas o pecado não
confessado nem devidamente deixado, separa o homem da bondade e santidade de Deus.
45. Entendemos que a disciplina envolve a igreja como um todo.
46. Cremos que o exercício da disciplina começa na construção de relacionamentos. Não se pretende
ser uma igreja onde todos são perfeitos; antes, é preferível ser uma casa onde as pessoas cresçam
em maturidade entre irmãos, confessando os seus pecados e confiando na justiça expiatória de
Cristo.

XI - Sobre a Família

47. Cremos que a família, criada por Deus para o bem do Homem, é a primeira instituição da sociedade.
Sua base é o casamento monogâmico e duradouro entre um homem e uma mulher.
48. Glorificamos a Deus pelas famílias, pois, através delas, temos a provisão das necessidades humanas
de comunhão, educação, companheirismo, segurança, preservação da espécie e o perfeito
ajustamento do ser humano em todas as suas dimensões.
49. Cremos que famílias sadias e equilibradas formam o esteio de igrejas e sociedades equilibradas.

XII - Sobre a Liberdade Cristã

50. Cremos que temos livre acesso a Deus, pela liberdade que temos em Cristo, e lhe prestamos
obediência em amor como filhos.
51. Deus nos deixou livres de doutrinas e mandamentos humanos que sejam contrários à Sua Palavra.
A liberdade em Cristo é para que nos apoiemos mutuamente e preservemos uns aos outros.
134
52. Cada pessoa tem o direito de cultuar a Deus, segundo os ditames de sua consciência, livre de
coações de qualquer espécie.
53. Reconhecendo que o governo do Estado é de ordenação divina para o bem-estar dos cidadãos e a
ordem justa da sociedade, é dever dos crentes orar pelas autoridades, bem como respeitar e
obedecer às leis e honrar os poderes constituídos, exceto naquilo que se oponha à vontade e à lei
de Deus.

XIII - Sobre o Bem-Estar Social

54. Cremos que o cristão tem o dever de participar em todo esforço que busque ao bem comum da
sociedade em que vive.
55. No espírito do amor, estendemos a mão aos órfãos, às viúvas, aos idosos, aos enfermos e a outros
necessitados, bem como a todos aqueles que forem vítimas de quaisquer injustiças e opressões.

135

Você também pode gostar