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Antropofagia, ancestralidade e territorialidade na construção

da figura do ladrão no rap de Gustavo Pereira, o Djonga


JEFFERSON UBIRATAN DE ARAÚJO MEDEIROS*

Resumo
Este artigo versa sobre a construção do conceito de ladrão no terceiro disco do rapper
belo-horizontino Gustavo Pereira Marques, o Djonga. A partir da grande cena
enunciativa Djonga (Eu), playboy (Tu), espaços de referência diversos, o
conceito de ladrão é recursivamente construído via antropofagia mental,
processo inerente ao pensamento humano que prevê a deglutição criativa e
consequente integração seletiva da experiência alheia. Assim sendo, o artigo
procurar perscrutar na ancestralidade e na territorialidade, como se dá a
integração da experiência de vida de Djonga que culmina na elaboração do seu
ladrão metafórico.
Palavras-chave: Rap; Djonga; Literatura; Antropofagia; Enunciação.
Anthropophagy, ancestry and territoriality in the construction of the figure
of the thief in Gustavo Pereira's rap, Djonga
Abstract
This article deals with the construction of the concept of thief in the third album
of Belo Horizonte rapper Gustavo Pereira Marques, the Djonga. From the great
enunciative scene Djonga (I), playboy (Tu), diverse reference spaces, the concept
of thief is recursively constructed via mental anthropophagy, a process inherent
in human thinking that foresees creative swallowing and consequent selective
integration of the experience of others. Thus, the article seeks to peer into
ancestry and territoriality as Djonga's life experience culminates in the
elaboration of his metaphorical thief.
Key words: Rap; Djonga; Literature; Anthropophagy; Enunciation.

*
JEFFERSON UBIRATAN DE ARAÚJO MEDEIROS é Graduado em Comunicação Social
(Jornalismo) pela PUC Minas (2012). Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pelo Programa de Pós-
graduação em Letras da PUC Minas (2019).
35
Só bandido de atitude, só guerreiro, Robin Hood
Não vai fazer disparos e nem fazer refém
Só querem o conteúdo, irmão, que aí dentro tem!
Mc Hudson 22

I. Primeiros passos no discurso “civilizado” sobre a


“barbárie”, o ato canibal pode ser visto
O trecho acima epigrafado é parte da
canção “Guerreiro Robin-Hood”, do como uma transubstanciação. Sob a
perspectiva oswaldiana e selvagem, a
cantor de funk Mc Hudson, do qual se
apropria Gustavo Pereira Marques, o antropofagia prevê um quadro onde
aquele que é o devorador se altera com a
Djonga, rapper mineiro, ao integrá-lo,
anexação das características nobres
como fechamento da sua canção
daquele que é digno de ser devorado.
“Ladrão”, que dá nome ao seu terceiro
Assim sendo, o canibal torna-se o sujeito
álbum lançado em 13 maio de 2019. Tal
transformador, do social e do coletivo,
apropriação condensa perfeitamente a
que Oswald de Andrade preconizou em
ideia por trás da metáfora do ladrão
“O manifesto antropófago”, publicado
construída pelo rapper: um sujeito
indignado que quer justiça social em 1928. O sujeito assim, irrompe a
imediata, ou seja, enquanto vivo, “condição de objeto passivo”, para ser o
prumo sob o qual Andrade constrói sua
buscando, para isso, garantir para si e
releitura não só da história do Brasil, mas
para os seus, tudo o que obtém em suas
também da própria tradição ocidental.
aventuras (incursões) pelo mundo que se
passa fora de sua “vila”. Nosso primeiro passo é, portanto,
As aventuras de Robin-Hood1, a história assumir que a vida de Djonga, ou
literária do vilão2, conhecido como maratona, como ele mesmo se refere na
príncipe dos ladrões, que, na floresta de canção “Ladrão”, é um ato criativo-
Sherwood, situada nos contornos da enunciativo, como, em potencial, é a
cidade de Nothingham (Inglaterra), vida de qualquer ser humano. O que se
roubava dos ricos para distribuir entre os destaca aqui é o exercício de alteridade
pobres, é então, em colocada em pé de posto em ato pelo rapper para construir o
igualdade com a leitura e produção do seu ladrão, e como ele é sustentado por
funkeiro Mc Hudson. Um encontro como uma metáfora que se ergue dos
esse somente pode se dar por meio de destroços, ruínas, de sua vida, vivida
apropriações antropofágicas, que entre territórios e suas relações de poder
deglutidas pela mente do sujeito, que desprezam a cultura negra.
engendram o novo, quando outro sujeito Quanto a esse particular, faz-se
se apropria e toma a palavra. necessário, desde já, conceituar
A despeito das ideias de selvageria, território, que segundo Marcelo Lopes de
atraso e bestialidade com que o conceito Souza (2009), é, em primeiro lugar,
de antropofagia costuma ser associado definido pelo exercício do “poder”, a

1
Em entrevista à Revista Rolling Stone, Djonga admite que a leitura da obra As aventuras de Robin-Hood,
feita ainda quando era adolescente, é uma grande influência na construção do conceito de ladrão presente
no seu último trabalho. Entrevista para a Revista Rolling Stones. Canal da Revista Rolling Stones Brasil
no Youtube. Acesso em: 11 Set. 2019. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=V70FW0n8fys>.
2
Habitante das vilas que ficavam fora dos domínios dos castelos no feudalismo, contexto onde surge a
lenda de Robin-Hood. 36
dimensão política então é nuclear. Mas, Esse disco é sobre resgate
ainda segundo Souza, Pra que não haja mais resquício
Na sua mente que te faça esquecer
[…] não quer dizer, porém, que a Que você é dono do agora
cultura (o simbolismo, as teias de Mas o antes é mais importante que
significados, as identidades…) e isso
mesmo a economia (o trabalho, os (DJONGA, “Ladrão”, Ladrão,
processos de produção e circulação 2019).
de bens) não sejam relevantes ou
não estejam “contemplados” ao se
lidar com o conceito de território Diante do exposto, este artigo pretende
(SOUZA, 2009, p. 59). recolher rastros da experiência de
Djonga e mostrar como nas letras das
O exercício aqui proposto é o de canções do disco Ladrão, se integram de
reconstruir, através de uma breve análise maneira recursiva e antropófaga, visões
sobre a escritura das letras de Djonga, a sobre a figura estereotipada do ladrão,
sua caminhada pelos territórios que figura que historicamente oprime e
atravessa e é atravessado, buscando permite que se oprima o povo negro e
compreender na forma sinestésica que pobre da periferia. Não nos enganemos,
ele os define, o que esses espaços ser ladrão no Brasil está diretamente
revelam sobre a vida e as influências de ligado ao quanto se rouba e onde se
um jovem negro da periferia de Belo reside, portanto, é uma definição calcada
Horizonte, Minas Gerais, Brasil. em controversas e injustas relações de
Outro aspecto a ser explorado e que faz poder concernentes a territórios.
do álbum Ladrão um lançamento de II. Antropofagia
notória relevância para o Brasil de 2019,
é o grito contra o silenciamento da
cultura negra, aqui centrada na figura da Nada mais original, nada mais
avó de Djonga, uma matriarca que intrínseco a si que se alimentar dos
enfrentou uma Belo-Horizonte inteira, outros. É preciso, porém, digeri-los.
vinda de Teófilo Otoni para criar O leão é feito de carneiro
sozinha, “costurando um mundo de assimilado.
Paul Valéry
trauma, abdicação, luta”3, três mulheres,
na década de 19604, época que, como
afirma a canção “Bença”, “mulher não
A antropofagia, mesmo ainda na linha
valia nada”, ainda mais ela, que era “da oswaldiana, enquanto conceito, pode
cor que só serve pra ser abusada”. A avó revelar-se demasiadamente produtiva
de Djonga agrega ao álbum sabedoria para se pensar as relações de poder
ancestral e espiritualidade. Não por derivadas do colonialismo, temática
acaso, Gustavo decidiu gravar todo o subjacente ao conceito do ladrão
álbum Ladrão dentro da casa de sua avó, proposto pelo rapper mineiro, como
em sintonia sincera e presente com a sua
veremos no exame de suas canções. No
família, seus símbolos culturais,
entanto, queremos aqui, desde já, alargar
memorias herdadas e construídas: o conceito de antropofagia, elevando-o a
3
“Você não costurou só roupa, né? Que essa família não tem vagabundo
4
Teve que costurar um mundo de trauma, Década marcada no Brasil pela eclosão da
abdicação, luta ditadura militar (1964).
Pra hoje falar com orgulho” (DJONGA,
“Bença”, Ladrão, 2019)
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processo mental, qual seja, uma forma de membros possam desenvolver seus
pensar inerente ao ser humano em sua trabalhos solo. Aí é que entra o “hat-
vivência: uma antropofagia mental. trick”5 de Djonga, que antes do disco
Ladrão, lançou “Heresia”6 (2017) e “O
Como afirma Eric Landowski em menino que queria ser Deus” (2018).
Presenças do outro (2002), Todos os trabalhos são pautados pelo
“[...] as pessoas esquecem-se que a enfrentamento ao racismo e o grito “fogo
diferença ser um fato de natureza, nos racistas!” torna-se marca registrada.
um fato de sociedade: é a A bandeira da luta antirracista aliada à
diversidade das heranças culturais, uma forte crítica e consciência social
dos modos de socialização, das presente nas letras, marcam a atuação
condições econômicas que artística de Djonga, que diverge de
determina a diversidade dos tipos artistas do establishment da indústria
humanos”. (LANDOWSKI, 2002,
cultural brasileira ao fazer opções como
p. 24)
não ter gravadora, ser o seu próprio
O postulado de Landowski é empresário e empregar profissionais
corroborado por Denys Cuche, que, negros e periféricos como ele.
doutra feita, afirma que “não há
identidade em si, nem mesmo Direcionando nossos passos para a
unicamente para si. A identidade existe compreensão do álbum Ladrão, ao ouvir
sempre na relação a uma outra” o disco, uma questão logo se apresenta
(CUCHE, 1999, p. 183). Já que o ser como uma trilha aberta por Djonga:
humano somente se constrói frente ao porque se construir assumindo a
outro, tal entendimento atesta o caráter condição ladrão? É possível depreender,
antropófago do ser humano na formação pelos elementos do campo semântico,
das suas identidades, como bem diz o que o enunciador construído por Djonga
poeta Paul Valéry, “Nada mais original, no rap “Ladrão” é um sujeito jovem,
nada mais intrínseco a si que se alimentar negro, favelado, que se dirige a um outro
dos outros. É preciso, porém, digeri-los. sujeito, jovem como ele, porém, em
O leão é feito de carneiro assimilado” contraposição, de família abastada,
(VALÉRY apud SANTIAGO, 2000, p.
chamado na linguagem das ruas de
19). Playboy, ou apenas boy, como figura na
canção em foco.
Djonga tem 24 anos, boa parte deles
Os cara faz rap pra boy
vividos entre a Favela do Índio e o bairro
São Lucas, onde estabeleceu, ao lado de Eu tomo dos boy no ingresso o que
nomes como Hot Apocalypse, Oreia, era do meu povo
FBC, Clara Lima e CoyoteBeatz, o Todo ouro e toda prata, passa pra cá
coletivo DV Tribo, que fez barulho na O mais responsável dos mais novo,
cena do rap belo-horizontino e culminou fé
por projetar os nomes dos artistas para Correndo essa maratona, e
todo Brasil. Em 3 de abril de 2018 o conforme for
coletivo decreta seu fim para que os Uso a mão santa, Maradona
5
Nome da primeira canção do álbum Ladrão e, participação de BK, FBC e Yodabren. Nas
também, um termo em língua inglês utilizado no produções nomes como Pizzol, DJ Murillo, DK
meio futebolístico para quando o jogador faz três Cost, CoyoteBeatz, El Lif Beatz e SlimBeatz. A
gols em uma mesma partida. capa do álbum tem como referência o clássico
6
“Heresia” com 10 faixas, é um projeto que disco “Clube da Esquina” (1972), de Milton
chega pelo selo CEIA Ent. e contou com a Nascimento e Lô Borges.
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(DJONGA, “Ladrão”, Ladrão, Temos então que a primeira cena
2019) enunciativa que se constrói na canção
“Ladrão” é um posicionamento de um
Se contrapondo a outros rappers, o sujeito indignado (Eu), um favelado,
enunciador construído por Djonga na frente a um outro, de família abastada
canção se posiciona no cenário musical (Tu), o playboy. Notemos que a questão
como um justiceiro que leva o que ganha está centrada no “patrimônio” e ao
para o seu “povo”, diferentemente “dos examinarmos essa palavra mais
cara” que “faz rap pra boy”. Nesse detidamente vemos que sua formação é
sentido de partilhar com os seus a glória devotada ao latim patrimoniu (patri, pai
de vencer um inimigo mais forte ainda + monium, recebido). O termo está,
que na base do ludíbrio, a apropriação historicamente, ligado ao conceito de
feita por Djonga recai sobre o jogador herança, questão fulcral no patriarcado,
argentino Diego Maradona com La que junto com o colonialismo e o
Mano de Dios, seu histórico gol marcado capitalismo oprimem países do Sul
no jogo da Seleção Argentina contra a global.
Inglaterra, válido pelas quartas-de-final O enunciador construído por Djonga na
da Copa do Mundo FIFA de 1986, é. canção, convicto de estar segregado
Sabe-se que a relação entre os dois países socialmente, deseja “roubar o
era tensa por conta da “guerra das patrimônio”, “dar fuga no Chevette e
malvinas” e o gol é contaminado pelo distribuir na favela”. Metaforicamente, a
significado político da luta argentina letra do rap, pode ser entendida como
pelo seu território frente a uma das uma encenação da justiça social
maiores nações colonizadoras do mundo. brasileira para o povo negro da favela.
É esse significado político que reveste a Povo historicamente estigmatizado pela
apropriação antropófaga digerida por escravidão e, consequentemente, pela
Djonga e apresentada na economia da degradação ontológica advinda desse
letra. processo, que deixa marcas até hoje nas
Um pouco antes, na primeira linha da relações de poder e, por conseguinte, nos
canção “Ladrão”, vemos que tudo parte territórios de periferia dos grandes
de interjeição, muito utilizada ao se centros do nosso país.
abordar abruptamente alguém: “Aí, aí, O design da cena enunciativa acima
aí!”. O papel que essa interjeição cumpre descrita, favelado x playboy, é então
é o de criar um clima de tensão e atenção revelador da busca de Djonga de
para a enunciação que se seguirá. A construir, como afirma o postulado de
partir de então, o enunciador construído Landowski, a sua existência semiótica,
pelo rapper, deixa clara qual é a sua frente ao outro, este outro perspectivado
missão: por Djonga como racista e opressor.
Eu vou roubar o patrimônio do seu pai [...] só pode construir-se pela
Dar fuga no Chevette e distribuir na diferença, o sujeito tem necessidade
favela de um ele – dos “outros” (eles) –
Não vou mais empurrar sujeira pra para chegar à existência semiótica,
debaixo do tapete
[...] o que dá forma à minha
e nem pra debaixo da minha goela, eu
identidade não é só a maneira pela
sou ladrão!
qual eu me defino [...] é também a
Todo ouro e toda prata, passa pra cá
maneira pela qual objetivo a
(DJONGA, “Ladrão”, Ladrão, 2019)
alteridade do outro atribuindo um
conteúdo específico à diferença que

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me separa dele”. (LANDOWSKI, fazemos, quando tomamos a palavra em
2002, p. 4) sequencias de sentido em rede, nos
Provavelmente é por isso que o valendo de nossa bagagem de vivências
enunciador da canção diz, e conhecimentos adquiridos. Por isso
sinestesicamente, que “não vou mais mesmo, antropofágica e recursivamente
empurrar sujeira pra debaixo do tapete” falando, é imperioso ressaltar, para a
“e nem pra debaixo da goela”. Na compreensão do trabalho artístico de
canção “Ladrão”, assim como em outras Djonga, a sua relação de apropriação e
do álbum, a justiça social é influência com a obra dos Racionais
(metaforicamente) realizada mediante Mc’s8 que, por exemplo, no rap “Um
grave ameaça, de modo imediato, um homem na estrada”, integrante no álbum
roubo. Sendo esse roubo, muito antes de Holocausto Urbano (1990). Os versos
tudo, carregado pela imagem de um do grupo paulista denunciam, na década
“roubo da cena” 7, do protagonismo de 1990, a diretiva do estereótipo dos que
social. Aproximando criador e criatura, habitam o asfalto sobre os que moram na
vemos que na realidade o roubo se favela,
confirma. Com agenda cheia e shows Assaltos na redondeza levantaram
ainda mais, o roubo do patrimônio dos suspeitas,
“boy” vem acontecendo através do logo acusaram favela para variar,
trabalho, cada vez mais maduro e E o boato que corre é que esse
prestigiado por uma base de fãs que homem está,
extrapola o seu nicho, a favela: com o seu nome lá na lista dos
suspeitos, pregada na parede do
Roubei dos playba o destaque na bar.
cena (RACIONAIS MC’S, “Um homem
Num é à toa que até os cara hoje é na estrada”, Holocausto Urbano,
meu fã 1990. Destaque nosso)
E as mina clara, privilegiada
Pra roubar o lugar da minha quer
tirar o sutiã
A maneira antropofágica com que
Eu que só queria uma bicicleta,
Djonga integra a sua vivência como
mano jovem sujeito da periferia a do(s)
Hoje posso comprar à vista o carro outro(s) é perceptível na apropriação do
do ano Leitmotiv do rap dos Racionais Mc’s. A
Dei voadora na cultura branca, singularidade de tal apropriação se dá,
corda no pescoço pois o ladrão de Djonga é um vilão ao
Eles passam e eu rasgo o pano estilo Robin-Hood, um habitante de um
(DJONGA, “Ladrão”, Ladrão, microterritório que se aventura nos
2019) territórios dominados pelo poder
estabelecido e rouba-lhes, de volta, o que
lhe foi historicamente retirado.
A recursividade é a habilidade humana
de conceber nossas próprias mentes e as Tamanha é a influência do grupo
mentes dos outros (CORBALLIS, 2012). paulistano sobre o trabalho de Djonga
Mais que isso, ela é a costura que que outras apropriações vão se
7
Como se costuma dizer na gíria das ruas quando Brown, Edi Rock e Ice Blue e o DJ KL Jay. É o
alguém se refere a uma tomada abrupta e maior grupo de rap do Brasil e está entre as
inesperada do protagonismo. bandas mais influentes do país.
8
Racionais MC's é um grupo brasileiro de rap,
fundado em 1988, e formado pelos mc's Mano
40
sedimentando. O refrão do rap “Ladrão” Um salve pra quem não
é um desses casos. Djonga se constrói, desacreditou, uô
em sua relação com os fãs, como “Deus”, Só guerreiro de fé, vida loka
pois segundo ele, opera milagres, como Um salve pros fiel que acreditou, uô
afirma em “Falcão”, outro rap do álbum Eu sou ladrão, e pros perreco é
Ladrão. A canção “Falcão” nos poucas
apresenta a realização explícita de um Um salve pra quem não
desacreditou, uô
exercício de empatia e alteridade por
Só guerreiro de fé, vida loka
parte do artista ao se ver em corpos
(DJONGA, “Ladrão”, Ladrão
negros em diferentes situações. Estas 2019. Destaque nosso)
sendo opressoras, “no chão” e
emancipatórias, “no trono”, por
exemplo. No refrão da canção podemos ver que o
uso recorrente da expressão “guerreiro
Eu sigo naquela fé de fé, vida loka”. Tal expressão ratifica a
Que talvez não mova montanhas integração recursiva, por parte de
Mas arrasta multidões e esvazia Djonga, da obra dos Racionais Mc’s para
camburões
erigir a sua. A própria temática base da
Preenche salas de aula e corações
vazios discursivização da canção “Ladrão”, a do
E ainda dizem que eu não sou Deus, encontro frontal com o “boy”, é devotada
porra, eu faço milagres! a uma canção dos Racionais Mc’s
[...] chamada “Hey boy”9, que descreve uma
Olho corpos negros no chão, me situação onde uma favelado confronta
sinto olhando o espelho um “boy” que parece ter errado o
Corpos negros no trono, me sinto caminho e caído na favela, um “ninho de
olhando o espelho cobras” onde “a vida é dura e o que vale
Olho corpos negros no chão, me é a lei do mais forte”.
sinto olhando o espelho
Que corpos negros nunca mais se Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano
manchem de vermelho Brown, vocalista dos Racionais Mc’s, no
(DJONGA, “Falcão”, Ladrão, rap “Jesus Chorou”, de sua autoria solo,
2019) constrói um enunciador autobiográfico e
reflete sobre suas frustrações na luta
A contraposição Deus! / Ladrão? contra o racismo e a injustiça,
construída nas letras e nas atitudes do Chuva cai lá fora e aumenta o ritmo,
artista é reforçada em mensagem Sozinho eu sou agora o meu inimigo
exibidas nos telões de seus shows. Tal intimo
contraposição é elemento estruturante do Lembranças más vem, pensamentos
refrão da canção “Ladrão”, letra que bons vai,
saúda de maneira laudatória os fiéis ao Me ajude, sozinho penso merda pra
carai
passo que, os iguala aos “guerreiros de
Gente que acredito, gosto e admiro,
fé, vida loka” descritos pelos Racionais
Brigava por justiça e paz, levou tiro:
Mc’s na famosa música “Vida Loka
Malcom X, Ghandi, Lennon,
parte I” (2002). Marvin Gaye,
Um salve pros fiel que acreditou, uô Che Guevara, 2Pac, Bob Marley e
Eu sou ladrão, e pros perreco é O evangélico Martin Luther King
poucas […]
9
Presente no álbum Holocausto Urbano (1990).

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Cristo que morreu por milhões, maneira antropofágica, integrar e
Mas só andou com apenas 12 e um confrontar a terminologia utilizada pelos
fraquejou racistas para indexar o povo das favelas.
Periferia: Corpos vazios e sem ética,
Lotam os pagode rumo à cadeira Neste sentido, Djonga finda por atribuir
elétrica matéria vocálica aos infinitos silêncios
Eu sei, você sabe o que é frustação, orais de sujeitos e saberes criados como
Máquina de fazer vilão ausência. Essa riqueza, que se encontra
Eu penso mil fita, vou enlouquecer codificada no discurso do rapper
[…] mineiro, faz de seu álbum Ladrão um
(RACIONAIS MC’S, “Jesus exercício contemporâneo de tomada
chorou”, Nada como um dia após abrupta de uma emancipação social que
o outro dia, 2002) nunca vem fácil e sempre vai fácil para o
seu povo.
Djonga com a canção “Ladrão” realiza
exercício semelhante ao de Mano III. Ancestralidade
Brown, mas inverte a questão, pois se Djonga cursou História na Universidade
apropria dela e a singulariza com a sua Federal de Ouro Preto (UFOP), mas não
personalidade e trajetória de vida. concluiu o curso, tendo desistido no
Enquanto para Mano Brown a último semestre. Rastros do saber da
“frustração” é “máquina de fazer vilão”, academia, no entanto, se fazem presente
para Djonga, frustração análoga é vista nas canções do rapper que, embora não
como a “máquina de fazer rap bom”. escape da menção a temas comuns ao
Não sou querido entre a nata de rap, supera o convencional pacote
apropriadores culturais, ó que onda! explorado por esse nicho: sexo, drogas e
É que pra cada discurso que eles violência. Uma das marcas maiores da
fazem é uma vida salva pelo Djonga produção artística de Djonga é o resgate
Se eu me tornei herói, imagine o que da sua ancestralidade familiar, centrada
foi pra mim, frustração na figura da sua avó, que agregaram ao
Máquina, máquina de fazer rap bom álbum Ladrão uma aura de profunda
(DJONGA, “Ladrão”, Ladrão, sabedoria de vida. Demonstrando que
2019) valoriza mais a caminhada do que a
chegada, Djonga leva sua avó aos palcos,
A figura do ladrão construída por Djonga onde frequentemente ela dá a benção aos
em seu álbum é, portanto, comprovadora fãs. A participação da avó no trabalho de
do “vigor, simbólico, da antropofagia” Djonga é a própria articulação de
que, segundo João Cezar de Castro diferentes fontes de conhecimento,
Rocha (2011), “[...] se relaciona com a científicos e populares, com vistas a
capacidade de enriquecer-se através da fortalecer as ações coletivas, como tanto
assimilação do alheio.” (2011, p. 654). O defende Boaventura de Souza Santos
ladrão construído por Djonga é uma (2018), por exemplo.
espécie de justiceiro que opera a
exaltação da potência criativa da A Ecologia de Saberes proposta por
periferia e “rouba a cena”, o Santos no âmbito das Epistemologias do
protagonismo propriamente dito, para as Sul critica a lógica da monocultura do
questões e produções de seu povo. Assim saber e do rigor científicos. Segundo o
sendo, a inflexão causada pela sociólogo português, essa lógica deveria
apropriação de Djonga, consiste em ser revogada, dando lugar à
assumir-se “ladrão”, mas, de uma “identificação de outros saberes e de

42
outros critérios de rigor que operam sábios e sábias indígenas ou
credivelmente em contextos e práticas camponeses e camponesas da
sociais declarados não-existentes” África, das Américas e da Ásia.
(2002, p. 250). Nesse sentido, a avó, ao Trata-se dos intermediários entre o
conhecimento colectivo e o grupo ou
menos à nível de seu núcleo familiar,
a comunidade como um todo. O
seria, a partir da perspectiva de Santos conhecimento colectivo exprime-se
(2018) a respeito de “autoria, escrita e através deles e delas, num tipo de
oralidade”10, uma espécie de autora de mediação que, longe de ser neutro
saberes coletivos. Pois, ou transparente, é um espelho
A maior parte dos conhecimentos prismático, como um filtro criativo e
que surgem da luta são colectivos ou transformador. (SANTOS, 2018, p.
funcionam como tal. Muitas vezes 102)
os conhecimentos mais cruciais não Por isso mesmo, assumir o estereótipo do
têm autores. São eles mesmos ladrão transformando-o, de uma maneira
autores. A este respeito, surgem
antropofágica, é o jeito de Djonga de
duas questões: a questão do
anonimato e a questão da
erigir criativamente a autoestima do seu
unanimidade. Mesmo pertencendo povo subalternizado na periferia,
os conhecimentos colectivos a um destacando seu estilo de vida e os saberes
dado grupo ou comunidade, há dos seus ancestrais. A esse respeito, vale
sempre pessoas que os formulam destacar o trabalho visual do conceito de
com especial autoridade, precisão, ladrão desenvolvido nas imagens que
fiabilidade ou eficácia. (SANTOS, compõem o encarte do trabalho. Na capa
2018, p. 102) do disco reproduzida abaixo, vemos
Avó de Djonga representa, portanto, Djonga, e sua avó ao fundo, sentada em
um sofá vermelho com manta branca,
o caso dos sábios-filósofos (sages) que dialoga cromaticamente com o jogo
africanos da filosofia da sagacidade
de cores horizontais de sua camisa, das
que refiro adiante ou o caso dos
mesmas cores.

FIGURA 1 – Capa do álbum Ladrão

Fonte: Ladrão, Djonga, 2019.

10
Capitulo da obra O fim do império cognitivo,
2018.

43
Ao adotar, na capa do álbum, as cores de saberes tradicionais – tidos como senso
Ogum, Djonga reafirma sua ligação com comum – e o da ciência. Esse movimento
a umbanda, religião de matriz africana. propiciaria assim, justiça cognitiva para
Nessa religião, ele é tido como filho as relações sociais que se deram após o
daquele orixá, cujo santo correspondente período do colonialismo.
no sincretismo religioso é São Jorge. O
Nas palavras de Santos, os saberes são
Vermelho e o branco são cores
tanto um sistema de certezas como
associadas à Ogum, o orixá ferreiro,
também de ignorâncias, pois não há
venerado nos terreiros de umbanda do
saber total e, assim sendo, descartar
Brasil e na mitologia Iorubá, de origem
outros saberes, chamando-os de senso
nigeriana, como aquele que cria as suas
comum, em detrimento de uma
ferramentas. Na imagem da capa,
supravalorização da ciência
Djonga, com o olhar arregalado,
(europeizada) é o próprio desperdício da
emanando em sua expressão, uma
experiência social que o “Manifesto
mistura de sadismo e sarcasmo, exibe os
Antropófago”, de Oswald de Andrade,
resultados da incursão do ladrão para a
tanto quis que fosse permanentemente
sua ancestral: ouro, dinheiro, sangue e o
renovada.
que sugere ser uma cabeça de um
membro da Ku Klux Klan. A figura do ladrão construído por Djonga
se mostra fruto da visão do cantor sobre
A base de muitas sociedades africanas é o processo histórico que tanto oprimiu e
uma cosmovisão, uma busca por um ainda oprime as vozes e os corpos
equilíbrio, que vai muito além do mundo negros. Atualmente, onde a
dos seres vivos: harmonia entre o mundo 11
necropolítica como preconiza Achille
dos ancestrais, o mundo físico e o dos Mbembe é sentida na pele pelos sujeitos
espíritos. Todas as coisas estão do Sul global – os oprimidos pelo
conectadas ao princípio da existência, capitalismo, pelo hetero-patriarcado e
chamado de Ntu (O homem, o tempo, as pelo colonialismo (SANTOS, 2018) –
coisas, os sentimentos) para, por Djonga parece mirar a de(s)colonização
exemplo, o povo de cultura Bantu. Tal de mentes, corpos e espaços,
concepção também considera os principalmente quando diz “ou você faz
recursos naturais, a vida e morte das isso ou seria em vão o que os nossos
espécies como integrados a uma ancestrais teriam sangrado”. Essa frase,
natureza. Assim sendo, reconhecer a si deixa entendido que o enunciador toma
mesmo, na cosmovisão africana, de assalto, não o patrimônio material,
significa reconhecer a si, a sua história e mas antes, o locus enunciativo, a palavra,
dos que vieram antes de você, ou seja, a o direito de ser o seu próprio historiador
sua conexão com todos os que já pessoal e, tal qual a sua avó, costurar seu
passaram por este mundo. mundo, formar a sua tessitura histórica
A sabedoria de vida é fulcral para rumar com elementos das influências que lhe
no sentido de uma Ecologia de Saberes, impressionaram em sua vivência.
uma alternativa conceitual proposta por
Santos que é capaz, em sua prática, com
o tempo, reduzir a assimetria entre os
11
Conceito de Achille Mbembe, um filósofo e quem pode viver e quem deve morrer” (2016, p.
pensador camaronês, que parte da premissa de 123), razão pela qual “matar ou deixar viver
“que a expressão máxima da soberania reside em constituem os limites da soberania, seus atributos
grande medida, no poder e na capacidade de ditar fundamentais.” (2016, p. 124)
44
IV. Territorialidades Como os territórios colonizados eram
terras sem lei, tidas como estado natural
Do alto do morro rezam pela minha do mundo, portanto, não civilizado, nelas
vida era aplicado, ao invés da tensão entre a
Do alto do prédio pelo meu fim regulação social e a emancipação social,
Djonga a lógica da violência e da apropriação.
Esta última, deixou profundas marcas
nas sociedades coloniais, marcas essas,
Está presente na contraposição dos combatidas e denunciadas
territórios “do alto do morro” e “do alto flagrantemente por Djonga em sua
do prédio”, a desigualdade condensada, produção musical, que caminha sobre
por exemplo, na assimetria entre a rua linhas abissais, denunciado a opressão
bem pavimentada, sinalizada e repleta de com uma amplitude de visão e impacto
serviços da zona sul de um município no público jovem maior do que qualquer
como Belo Horizonte e no isolamento e teórico. Como na música “Corra”12, que
precariedade de pessoas que, muitas figura no álbum O menino queria ser
vezes, prestam serviços nessa mesma Deus, e encena o encontro face a face
zona sul, mas residem em comunidades entre colonizador e colonizado e as
afastadas e carentes de serviços, lazer, consequências atuais que decorreram
saúde e assistência social. São linhas desse encontro:
abissais que cruzamos quando
atravessamos esses microterritórios Querem que eu me contente com
dentro da cidade. Boaventura de Souza nada
Santos, em sua teorização a respeito do Sem meu povo tudo não existiria
Sul global, aponta que o mundo atual é Eu disse: Óh como cê chega na
trespassado por linhas abissais. minha terra
Ele responde: Quem disse que a
A linha abissal é a ideia basilar que terra é sua?
subjaz às epistemologias do Sul.
Marca a divisão radical entre formas (DJONGA, Corra! in: O menino
de sociabilidade metropolitana e queria ser Deus, 2018)
formas de sociabilidade colonial que
caracterizou o mundo ocidental
moderno desde o século XV. Esta Projeções temporo-espaciais de
divisão cria dois mundos de territórios são também constatadas nas
dominação, o metropolitano e o canções de Djonga e elas evidenciam,
colonial, dois mundos que, mesmo como no rap “Ladrão”, o desejo de que a
sendo gêmeos, se apresentam como cultura do outro, como falar espanhol, e
incomensuráveis. [...] A luta pela não apenas os seus produtos
emancipação social é sempre uma midiaticamente globalizados cheguem à
luta contra exclusões sociais geradas favela.
pela forma actual de regulação
social com o objectivo de a Vai pensando, os fiel da sua área
substituir por uma forma de falando espanhol
regulação social nova e menos Não só com a peita da Espanha
excludente (SANTOS, 2018, p.48-
As irmã de cabelo sarará criolo sem
49)
ser considerada estranha
12
Canção inspirada no filme Get out, do cineasta
negro Jordan Peele, citado também em outras
canções de Djonga.

45
Por muito mais que comprar os (Djonga, Ladrão, “Hat-trick”,
carro, comprar pessoas, luxúria e 2019).
maconha
Quando seu filho te olhar no olho, o
que ele vai sentir, orgulho ou V. Conclusão
vergonha?
Podemos afirmar que o Brasil é o país
(Djonga, Ladrão, “Ladrão”, 2019. mais importante na história da diáspora
Destaque nosso)
africana, já que é território com a maior
população negra fora do continente
Vemos no trecho acima que Djonga insta africano. Apesar disso, há poucos
o seu ouvinte a imaginar os fieis “da sua museus contando essa história e, somado
área falando espanhol”, não apenas com a isso, estuda-se pouco sobre o
a camisa da seleção de futebol do país, continente Africano e seu papel na
item tipo exportação, confeccionado por formação de nosso povo. O que se
grandes marcas que buscam mão de obra estuda é ainda, de modo contumaz, feito
barata em países subdesenvolvidos. Mais a partir do ponto de vista europeizado,
que isso, o rapper mineiro sonha com a vitimizando, e consequentemente,
“irmã” negra com cabelo “sarará criolo” silenciando a voz, e assim, a
caminhando, sem que a sua caminhada singularidade, criatividade e sabedoria
seja considerada estranha ao seu do povo negro. Afinal, quantas
território, que aqui se reveste de lugar. autobiografias de negros escravizados
temos notícia de existir? As histórias do
Radicalizando a questão do consumo e povo se tornam, no máximo lendas, no
expondo a escravidão gerada por sua muito locais, como é o caso do Chico Rei
busca constante, Djonga demonstra na e sua mina de ouro em Ouro Preto ou o
última linha do trecho citado retrato do marinheiro Simão13.
anteriormente, que “carro”, “pessoas”,
“luxuria” e “maconha”, presentes em Para finalizar, reiteramos que Djonga na
muitas das produções de rap, podem construção do seu ladrão, se alimenta da
representar, na verdade, a ilusão que produção dos Racionais Mc’s14, para
seduz e afasta os povos colonizados da atingir a descolonização do estereotipo
realização efetiva de sua emancipação. que oprime e discrimina o povo pobre de
Certamente, é por isso mesmo que na um território muito especifico, onde a
canção Hat-trick Djonga afirma, maioria do das pessoas se parecem uns
com os outros fisicamente pela cor de
É pra nós ter autonomia
suas peles: a periferia.
Não compre corrente abra um
negócio A ancestralidade, por sua vez, é
Parece que eu tô tirando encarnada na figura da avó de Djonga.
Mas na real tô te chamando pra ser Como vimos aqui, avó de Djonga, pelo
sócio papel que exerce sustentando sua família
13
Primeiro retrato de homem negro pintado no <https://mnba.gov.br/portal/component/k2/item/
Brasil fora da condição de registro iconográfico 191-retrato-do-intrepido-marinheiro-
produzido por viajantes. Destaque para a simao.html>.
14
condição de sujeito que a composição atribui a Focalizamos o grupo de rap paulista pela
Simão. Composto por José Correia de Lima em solidez da apropriação e pela reiterada
técnica óleo sobre tela, medindo 93x 72,6cm, recorrência, mas diversas outras apropriações
sem assinatura, pintada em 1853 transferência, criativas de artistas, ativistas etc., têm sua
1937, Escola Nacional de Belas Artes. Acesso integração percebidas na fatura do álbum 46
em: 14 jul. 2019. Disponível em: Ladrão.
desde uma difícil juventude, golpeada DJONGA. Corra In: O menino queria ser Deus.
com uma viuvez repentina, pode ser Belo Horizonte: Gravadora Ceia, 2018.
considerada uma legitima matriarca. LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro.
Entretanto, ela é ainda mais, pois, Ensaios de sociossemiótica. Tradução de Mary
Amazonas de Barros. São Paulo: Editora
aportados por Boaventura de Souza
Perspectiva, 2002.
Santos, constatamos que pela sua
sabedoria e papel na religião umbandista MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder
soberania estado de exceção política da morte.
que professa, a avó de Djonga, pode ser Arte & Ensaios. Revista do Programa de Pós-
considerada uma intermediária criativa graduação em Artes Visuais/EBA/UFRJ. n. 32.
dos conhecimentos da coletividade. dez. 2016.
Por fim, em suma, o estereotipo de RACIONAIS MC’S. Jesus Chorou In: Nada
ladrão como demonstrado, é como um dia após o outro dia. São Paulo:
Gravadora Cosa Nostra, 2002.
antropofagicamente deglutido, integrado
e invertido pelo rapper belo-horizontino, RACIONAIS MC’S. Vida Loka parte I In: Nada
que fazendo de seu ladrão uma espécie como um dia após o outro dia. São Paulo:
Gravadora Cosa Nostra, 2002.
de justiceiro, opera a exaltação da
potência criativa e da autoestima da RACIONAIS MC’S. Hey Boy In: Holocausto
urbano. São Paulo: Gravadora Zimbabwe
periferia, ao “roubar a cena” do records, 1990.
protagonismo para seu povo.
ROCHA, João Cesar de. “Uma Teoria da
Exportação? Ou: Antropofagia como Visão de
Mundo?”. In: Ruffinelli, Jorge; Rocha, João
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Horizonte: Gravadora Ceia, 2019. Publicado em 2019-10-25

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