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Neuroteologia: Deus e o cérebro

REVISTA IHU ON-LINE

Instituto Humanitas Unissinos, São Leopoldo/RS, 18 Junho 2012


Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/510514-neuroteologia-deus-e-o-cerebro

Existe alguma parte ou função do nosso cérebro que nos permita, nos facilite, nos
garanta o contato com o sobrenatural? É uma pergunta a qual buscam responder, há
vários anos, os especialistas do estudo do cérebro humano. Em muitas experiências
religiosas, de diversas matrizes culturais e confessionais, vê-se que existe uma
capacidade de se conectar com o transcendente, de superar o próprio eu. O êxtase, a
experiência dos sufis, o samadhi e a iluminação das disciplinas orientais representam de
forma específica esse ir além do próprio eu e representam em alguns casos o aspecto
central da espiritualidade.

A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no sítio Vatican Insider, 13-06-2012. A


tradução é de Moisés Sbardelotto.

Os estudiosos observaram no passado que essa capacidade está ligada a um fenômeno


particular, presente em algumas pessoas, a saber, o de minimizar o funcionamento do
lóbulo parietal direito e enfatizar o uso de outras áreas. A oração e a meditação seriam
os instrumentos úteis e necessários para desenvolver essa capacidade. E graças a esse
treinamento seria possível desenvolver e melhorar a possibilidade de afinar a própria
percepção com a dimensão espiritual.

Agora, Maria Beatrice Toro, psicóloga e psicoterapeuta, enfatiza um ulterior


desenvolvimento da pesquisa nessa fascinante fronteira entre fé e ciência. "Os novos
estudos – publicados no International Journal of the Psychology of Religion –
mostram que a situação neurológica correspondente à experiência espiritual é mais
complexa do que haviam pensado os primeiros estudos de Newberg e de D'Aquili:
mais do uma área distinta, segundo os cientistas da Universidade do Missouri, se trataria
de múltiplas áreas que se ativam segundo um esquema peculiar".

As pesquisas mais recentes não desmentem o dado de base aceca da menor atividade do
lóbulo parietal direito. Mas apontam que outras áreas estão envolvidas nessa completa
operação: o lóbulo frontal e também zonas subcorticais. "A espiritualidade, com base
nesses estudos, aparece como algo dinâmico que utiliza diversas partes do cérebro para
poder ser experimentada", escreve Toro. O lóbulo parietal direito cuida de áreas
cerebrais dedicadas à orientação no espaço e no tempo, dois elementos que, na
experiência da meditação profunda e da oração, desaparecem.

As técnicas de meditação, focalizadas na respiração, na oração, na concentração sobre


um ponto, abrem a mente para experiências qualitativamente diferentes, de atenção a
"algo maior". Brick Johnstone, professor de psicologia da saúde, estudou 20 indivíduos
com um trauma cerebral que envolvia o lóbulo parietal direito, descobrindo que se
sentiam menos concentrados sobre si mesmos e mais dispostos para a espiritualidade.

Além disso, as pessoas que vivem experiências religiosas profundas ativam o lóbulo
frontal, enquanto se assiste à desativação parcial ou total, temporária, de algumas
funções do lóbulo parietal direito.

A "neuroteologia" nos mostra que existe uma função ou um uso global do cérebro que
gera um sentido de conexão com o transcendente. É interessante notar como a teologia
clássica falava (e fala) de "sentidos espirituais", que, graças a essas pesquisas,
encontram agora uma confirmação neurológica, nos mostram como é possível que se
chegue a dimensões cognoscitivas peculiares da pessoa religiosa. Isso explicaria o
"como". Responder o "por que" é outro assunto.

Justin Barrett, cientista que se ocupou várias vezes de temáticas religiosas – Cognitive
Science, Religion and Theology (2011) e Born Believers: The Science of Children’s
Religious Belief (2012) –, afirma que, embora haja provas científicas em favor de um
fundamento biológico da crença religiosa, não é o seu trabalho no campo da ciência
cognitiva que o levou a acreditar em Deus. Como muitos cristãos, ele teve a forte
impressão de que há "significados mais profundos e uma finalidade nos eventos" que
acontecem.

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