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Existe alguma parte ou função do nosso cérebro que nos permita, nos facilite, nos
garanta o contato com o sobrenatural? É uma pergunta a qual buscam responder, há
vários anos, os especialistas do estudo do cérebro humano. Em muitas experiências
religiosas, de diversas matrizes culturais e confessionais, vê-se que existe uma
capacidade de se conectar com o transcendente, de superar o próprio eu. O êxtase, a
experiência dos sufis, o samadhi e a iluminação das disciplinas orientais representam de
forma específica esse ir além do próprio eu e representam em alguns casos o aspecto
central da espiritualidade.
As pesquisas mais recentes não desmentem o dado de base aceca da menor atividade do
lóbulo parietal direito. Mas apontam que outras áreas estão envolvidas nessa completa
operação: o lóbulo frontal e também zonas subcorticais. "A espiritualidade, com base
nesses estudos, aparece como algo dinâmico que utiliza diversas partes do cérebro para
poder ser experimentada", escreve Toro. O lóbulo parietal direito cuida de áreas
cerebrais dedicadas à orientação no espaço e no tempo, dois elementos que, na
experiência da meditação profunda e da oração, desaparecem.
Além disso, as pessoas que vivem experiências religiosas profundas ativam o lóbulo
frontal, enquanto se assiste à desativação parcial ou total, temporária, de algumas
funções do lóbulo parietal direito.
A "neuroteologia" nos mostra que existe uma função ou um uso global do cérebro que
gera um sentido de conexão com o transcendente. É interessante notar como a teologia
clássica falava (e fala) de "sentidos espirituais", que, graças a essas pesquisas,
encontram agora uma confirmação neurológica, nos mostram como é possível que se
chegue a dimensões cognoscitivas peculiares da pessoa religiosa. Isso explicaria o
"como". Responder o "por que" é outro assunto.
Justin Barrett, cientista que se ocupou várias vezes de temáticas religiosas – Cognitive
Science, Religion and Theology (2011) e Born Believers: The Science of Children’s
Religious Belief (2012) –, afirma que, embora haja provas científicas em favor de um
fundamento biológico da crença religiosa, não é o seu trabalho no campo da ciência
cognitiva que o levou a acreditar em Deus. Como muitos cristãos, ele teve a forte
impressão de que há "significados mais profundos e uma finalidade nos eventos" que
acontecem.