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Autor do curso
Tenente Coronel René Wagemans (aposentado),
Exército Belga
Em cooperação com
o Centro de Operações de Paz de Caráter Naval
Editor da série
Harvey J. Langholtz, Ph.D.
Autor do curso
Tenente Coronel René Wagemans (aposentado),
Exército Belga
Em cooperação com
o Centro de Operações de Paz de Caráter Naval
Editor da série
Harvey J. Langholtz, Ph.D.
*Peace Operations Training Institute® Reg. U.S. Pat & Tm. Off.
1309 Jamestown Road, Suite 202
Williamsburg, VA 23185 USA
www.peaceopstraining.org
Primeira edição: Dezembro de 2017 por Tenente Coronel René Wagemans (aposentado), Exército Belga
Segunda edição: 2021 por Tenente Coronel René Wagemans (aposentado), Exército Belga
O material aqui contido não reflete, necessariamente, as opiniões do Instituto para Treinamento em Operações de Paz,
do(s) autor(es) do curso, de qualquer órgão das Nações Unidas ou de organizações a ela afiliadas. Embora todos os
esforços tenham sido envidados no sentido de verificar o conteúdo do presente curso, o Instituto de Treinamento em
Operações de Paz e o(s) autor(es) do curso não se responsabilizam por fatos e opiniões contidos no texto, os quais
foram, em grande parte, assimilados a partir de mídias abertas ou outras fontes independentes. O presente curso foi
desenvolvido com a finalidade de produzir um documento pedagógico e educativo compatível com a política e doutrina
atuais da ONU, embora não estabeleça nem promulgue nenhuma doutrina. Somente documentos da ONU oficialmente
examinados e aprovados podem estabelecer ou promulgar a política ou a doutrina das Nações Unidas. Informações com
visões diametralmente opostas sobre determinados temas são às vezes fornecidas no intuito de estimular o interesse
escolástico dos alunos, em conformidade com as normas da pesquisa acadêmica pura e simples.
Os tradutores envidaram todos os esforços para preservar a integridade das informações aqui contidas.
Operações Humanitárias
Índice
Prefácio x
Seção 2.1 Tipos de organizações — O que são ONGs, IGOs e GOs? 39
v
Operações Humanitárias
vi
Operações Humanitárias
vii
Operações Humanitárias
viii
Operações Humanitárias
ix
Operações Humanitárias
Prefácio
Cada desastre ou emergência tem suas particularidades, assim como ocorre com as operações
humanitárias. Compreender a dinâmica de um desastre e todos os atores nele envolvidos é essencial
para fornecer assistência adequada à população afetada e ao governo desse local. Ao longo dos anos,
alguns criticaram a comunidade humanitária pela conduta de certas ações humanitárias. Os profissionais
envolvidos nem sempre puseram em prática as lições aprendidas com as operações dessa natureza
ocorridas anteriormente. Vários documentos e manuais registraram as melhores práticas possíveis,
levando a uma melhor resposta quando aplicadas. Infelizmente, a ação humanitária não é uma ciência
exata e dependerá da capacidade do trabalhador humanitário de se adaptar às situações no terreno.
Este curso não pretende esgotar o assunto, pois seria impossível descrever todos os aspectos de
ajuda humanitária por este meio. É um curso genérico e destina-se a servir como uma introdução
para o tema de ajuda humanitária e outros tópicos relacionados. Sempre que possível ou necessário,
o material de leitura adicional é referenciado, como livros, documentos (incluindo anexos) e sites de
interesse. Os alunos são incentivados a ler tais materiais adicionais para expandir seus conhecimentos.
Como em muitas outras comunidades, a comunidade humanitária possui uma linguagem própria, como
o uso de siglas, de caráter dinâmico. O desenvolvimento contínuo de novos sistemas e métodos dentro dessa
comunidade é comum. Grandes desastres geralmente levam à criação de uma camada adicional de regras
e diretivas, tornando a situação cada vez mais complexa para quem é de fora. Este curso tenta simplificar
esses conceitos tanto quanto possível, enfocando seus aspectos mais importantes para desmistificar esse
ambiente complexo. Ao mesmo tempo, fornece muitas informações práticas sobre os diferentes tipos de
desastres e como interagir com algumas entidades e estruturas frequentemente encontradas em campo.
Sempre que possível, os atores humanitários devem integrar as estruturas de coordenação existentes e/ou
estabelecidas, pois somente a ação coordenada pode alcançar o sucesso. Abordar a população afetada não
como vítimas, mas como parte da solução, requer uma mudança fundamental na mentalidade desses atores,
mas é essencial para o resultado bem-sucedido de uma ação de ajuda. No final, seremos responsabilizados
pelo que fizermos - e pelo que deixarmos de fazer. Ter uma boa compreensão de suas definições e princípios
é o primeiro passo para nos integrarmos essa comunidade humanitária, respeitando-nos uns aos outros e
aos princípios humanitários que sempre devem guiar nossas ações.
x
Operações Humanitárias
Método de Estudo
Este curso individualizado visa dar aos alunos flexibilidade em sua abordagem ao aprendizado.
o as etapas a seguir destinam-se a fornecer motivação e orientação sobre algumas estratégias
possíveis e expectativas mínimas para concluir este curso com sucesso:
• Antes de dar início a seus estudos, primeiro dê uma olhada em todo o material do curso.
Preste atenção nos sumários das lições, de onde se obtém uma boa noção do conteúdo
disponível à medida que você avança.
• Estude o conteúdo das lições e os objetivos do aprendizado. No início de cada lição, oriente-se
pelos principais pontos. Se for possível, leia o material duas vezes para garantir o máximo do
entendimento e da retenção do mesmo, e deixe passar algum tempo entre as leituras.
• Depois de completar todas as lições, reserve algum tempo para revisar os principais pontos de
cada uma. Só então, enquanto o material ainda estiver fresco em sua mente, faça de uma só
vez o Exame Final de Curso.
• Fóruns onde você pode discutir temas relevantes com a comunidade do POTI.
xi
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
LIÇÃO
1 Intervenção humanitária
Seção 1.1 O que é uma operação de ajuda • Distinguir, compreender e comparar os diferentes
humanitária? termos usados para descrever as operações de
ajuda humanitária.
Seção 1.2 Panorama histórico - da caridade
12
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
Um funcionário do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) distribui kits de higiene e saúde para meninas adolescentes
em uma escola em Macomia, Moçambique. 9 de julho de 2019. Foto da ONU por Eskinder Debebe.
Introdução
13
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
Um membro da equipe do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) discute as necessidades
humanitárias com trabalhadores de uma Organização Não Governamental (ONG) da Líbia em Sallum, na fronteira entre a
Líbia e o Egito. 12 de março de 2011. Foto da ONU por David Ohana.
1) Ministério da Defesa do Reino Unido, Publicação Conjunta de Doutrina (JDP) 3-52, Operações de socorro em desastres em território estrangeiro:
a contribuição militar. Disponível em inglês: <https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/574033/doctrine_uk_
dro_jdp_3_52.pdf>.
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LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
2) Daragh Murray, Guia dos Profissionais do Direito Internacional dos Direitos Humanos em Conflitos Armados, Dapo Akande, Charles Garraway,
Françoise Hampson, Noam Lubell, Elizabeth Wilmshurst, eds. (Oxford, Reino Unido: Oxford University Press, 2016). Disponível em inglês.
3) ReliefWeb, “Glossário de Termos Humanitários”, 2008. Disponível em inglês: <https://reliefweb.int/report/world/reliefweb-glossary-humanitarian-terms-
enko>.
4) InterAction: InterAction: Uma Voz Unida para a Mudança Global, “Ação Humanitária”.
5) Comitê Permanente Interagências das Nações Unidas, Introdução à Ação Humanitária: Um Breve Guia para Coordenadores Residentes, outubro de
2015, 8. Disponível em inglês: <https://interagencystandingcommittee.org/system/files/rc_guide_31_october_2015_webversion_final.pdf>.
6) Iniciativas de Desenvolvimento, “Definindo a ajuda humanitária”. Disponível em inglês: <https://web.archive.org/web/20171102215158/http://
www.globalhumanitarianassistance.org/data-guides/defining-humanitarian-aid>.
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LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
16
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
Esses termos e definições diferem, mas também incluem palavras semelhantes, como humanitário,
socorro, assistência, operações, resposta, intervenção e ação. Cada um deles contém assuntos
semelhantes, como:
Visão histórica
se na prática da filantropia. Originária das palavras um treinamento de cinco dias sobre primeiros socorros
na aldeia da comunidade conduzido por voluntários da
gregas que significam “o amor pela humanidade”,
Sociedade da Cruz Vermelha de Papua Nova Guiné. 25
a filantropia busca cuidar, nutrir, desenvolver e de junho de 2019.
17
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
O empresário suíço Henry Dunant é considerado o pai da ação humanitária e das organizações
humanitárias modernas. Dunant foi uma das principais lideranças da Primeira Convenção de Genebra
de 1864 e da fundação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Em seu livro de 1862, Un
souvenir de Solférino, Dunant descreveu as atrocidades que testemunhou na Batalha de Solferino de
1859, durante a Segunda Guerra da Independência italiana, que deixou milhares de soldados mortos e
feridos14. No livro, ele desenvolveu várias ideias para o futuro dos conflitos:
As ideias de Dunant formariam dois dos pilares do que se tornaria o CICV: imparcialidade na prestação
de cuidados médicos e o princípio de neutralidade na ação médica. Uma conferência constituinte em
outubro de 1863 lançou as bases estatutárias do CICV, que durariam mais de 60 anos. A Convenção
para a Melhoria da Condição dos Feridos nos Exércitos em Campo, comumente conhecida como a
Primeira Convenção de Genebra, adotou essas ideias em suas disposições, e 12 grandes potências
europeias assinaram o acordo em 22 de agosto de 186415.
A destruição causada pela Primeira Guerra Mundial levou à criação da Liga das Nações em 1920.
Com sede em Genebra, essa organização internacional pretendia fornecer um fórum para a resolução
de disputas internacionais. O então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, expôs sua visão
para a Liga em 1918 em sua obra “Quatorze pontos" sobre o futuro da Europa no pós-guerra16”. O
último ponto apelava à criação de um novo tipo de organização internacional dedicada a fomentar a
cooperação internacional, proporcionando segurança aos seus membros e garantindo a paz duradoura.
Essas questões foram importantes para os europeus que sofreram durante quatro anos numa guerra
absoluta que deixou muitos países em ruínas. Os Quatorze Pontos de Wilson se tornaram a base para os
termos da rendição alemã, conforme negociado no Tratado de Versalhes na Conferência de Paz em Paris
Conferência de Paz de Paris em 1919.
Os objetivos da Liga focavam principalmente na prevenção guerra por meio da segurança coletiva
e na resolução de disputas entre países por meio de negociação e diplomacia. Também promoveu o
desarmamento e tentou melhorar o bem-estar global. A Liga tinha três órgãos principais: o Secretariado
o Secretariado. (chefiado pelo Secretário-Geral e com sede em Genebra), o Conselho e a Assembleia
Geral. A Liga também teve várias agências e comissões, incluindo17:
14) Henry Dunant, Un souvenir de Solférino, Genebra, Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 1939. Disponível em inglês: <https://www.icrc.org/eng/
assets/files/publications/icrc-002-0361.pdf>.
15) François Bugnion, “Nascimento de uma ideia: a fundação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do
Crescente Vermelho: de Solferino à Convenção de Genebra original (1859-1864)”, International Review of the Red Cross, vol. 94, No. 888, 2012. Disponível
em inglês: <https://international-review.icrc.org/articles/birth-idea-founding-international-committee-red-cross-and-international-red-cross-and-red>.
16) História dos Estados Unidos, “Os quatorze pontos”. Disponível em inglês: <https://history.state.gov/milestones/1914-1920/fourteen-points>.
17) New World Encyclopedia, “Liga das Nações”. Disponível em inglês: <http://www.newworldencyclopedia.org/p/index.php?title=League_of_Nations>.
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LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
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LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
sanções econômicas impostas pela Liga tiveram pouco impacto sobre os países-alvo, uma vez que
esses poderiam simplesmente negociar com Estados não membros. Apesar de seu objetivo de resolver
conflitos internacionais por meio da diplomacia, a Liga foi incapaz de evitar a Segunda Guerra Mundial.
A Liga das Nações realizou sua reunião final em Genebra, em 18 de abril de 194619.
Perto do fim da Segunda Guerra Mundial, as potências aliadas (a União Soviética, o Reino Unido e os
Estados Unidos) se reuniram na Conferência de Yalta para planejar o futuro da segurança internacional.
Os Aliados concordaram em criar um novo organismo internacional — as Nações Unidas — para suceder
a Liga. Muitas das agências da Liga, como a OIT, continuaram a funcionar e, por fim, se afiliaram à ONU.
Os Aliados pretendiam tornar as Nações Unidas mais eficazes do que a Liga, reformando sua
estrutura. Os membros originais da ONU incluíam 51 países e, desde então, cresceu para incluir
193 Estados Membros. Com um número maior de membros, a ONU estabeleceu maior legitimidade
nos assuntos internacionais do que a Liga jamais teve. Os principais países aliados — República da
China, França, Reino Unido, Estados Unidos e URSS — tornaram-se os cinco membros permanentes
do novo Conselho de Segurança. As decisões do Conselho de Segurança são obrigatórias para todos os
membros da ONU, e qualquer um dos membros permanentes pode vetar as resoluções apresentadas
a ele. Enquanto o Conselho da Liga (o precursor do Conselho de Segurança) exigia votos unânimes
para aprovar as resoluções, o Conselho de Segurança exige apenas nove votos “sim”, sem vetos dos
membros permanentes, para aprovar as resoluções.
Da mesma forma que a Liga existente antes dela, a ONU não tem suas próprias forças armadas
permanentes. No entanto, a Organização tem sido mais bem-sucedida do que sua antecessora ao convocar
seus membros a contribuírem com intervenções armadas, conforme ocorrido ao impedir a invasão da
Coreia do Sul pela Coreia do Norte e ao implantar operações de manutenção da paz nos Bálcãs, por
exemplo. Além disso, há outras ferramentas que a ONU pode usar, como sanções econômicas e embargos.
Após a Segunda Guerra Mundial, houve a criação das Nações Unidas e de várias outras agências,
bem como grandes organizações não governamentais (ONGs) focadas em fornecer ajuda humanitária a
todo o mundo. A Lição 2 examinará esses grupos e suas ações com mais detalhes.
» Desastre:
19) Susan Pedersen, “De volta à Liga das Nações”, The American Historical Review, vol. 112, No. 4 (outubro de 2007), 1091-1117. Disponível em inglês.
20
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
Além do impacto físico do fenômeno natural, o contexto social que pode transformar esse fenômeno
em desastre é composto por cinco variáveis: demografia, pobreza, meio ambiente, mecanismos
existentes de prevenção e gestão de riscos e nível de infraestrutura e organizações existentes22.
Essas cinco variáveis podem ter um efeito multiplicador, como foi visto durante a crise no Haiti após o
terremoto de magnitude 7,0 a 15 milhas a sudoeste da capital, Porto Príncipe, em 201023.
20) Escritório das Nações Unidas para Redução do Risco de Desastres, “Desastre”. Disponível em inglês: <https://www.undrr.org/terminology>.
21) ONU, 2009 Terminologia UNISDR sobre Redução de Risco de Desastres, (Genebra: UNISDR, maio de 2009). Disponível em inglês: <http://www.
unisdr.org/files/7817_UNISDRTerminologyEnglish.pdf>.
22) Frédéric Thomas, Haïti, L'échec humanitaire: le cas haïtien (Bruxelles, Bélgica: Entraide & Fraternite), 2. Disponível em inglês: <https://www.
entraide.be/IMG/pdf/e_f_thomas_ecran.pdf>.
23) ONU, Relatório das Nações Unidas no Haiti 2010: Situação, Desafios e Perspectivas, 2011. Disponível em inglês: <https://reliefweb.int/sites/
reliefweb.int/files/resources/F9DE84C8F12B844B8525781B0053C3F6-Full_Report.pdf>.
21
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
As fontes às vezes usam a mesma definição para os termos “desastres naturais e tecnológicos” e
“desastres naturais”. O termo “desastres naturais e causados pelo homem” às vezes também é utilizado.
Os desastres tecnológicos podem estar relacionados a desastres provocados pelo homem: um pode
resultar do outro, ou ambos podem ser a consequência direta de um desastre natural (por exemplo,
quando um terremoto causa uma falha técnica que libera a pressão de uma barragem, rompendo-a e
causando um maremoto e enchentes pesadas em uma área grande e densamente povoada). Muitos
desastres naturais já geraram consequências tecnológicas, como no caso do terremoto e do tsunami
que causaram o acidente da usina nuclear de Fukushima em 201126. Cada vez mais, os acidentes de
impacto ambiental significativo são considerados desastres sempre que as autoridades nacionais não
conseguem lidar com eles, especialmente quando afetam centros populacionais.
22
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
O furacão Dorian, de categoria cinco, varreu as ilhas Bahama de Abaco e Grand Bahama em 1 de setembro de 2019. Pelo menos 43
pessoas morreram após a passagem do Dorian, que estagnou nas Bahamas por quase dois dias com ventos de 320 km/h, tornando-
se um dos piores desastres da história do país. Vista de Mudd, bairro majoritariamente habitado por imigrantes haitianos em Marsh
Harbour, Bahamas. 11 de setembro de 2019. Foto da ONU por Mark Garten.
23
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
Emergências — Níveis
O processo de Reforma Humanitária de 2005 foi iniciado como uma consequência direta do terremoto
e do tsunami ocorridos no Oceano Índico em 200429, que causaram a morte de mais de 200.000 pessoas30.
O terremoto no Haiti em 2010 e as enchentes no Paquistão reforçaram a necessidade de reformar as
respostas humanitárias multilaterais aos desastres. Assim, o Comité Permanente Interagências (do
inglês, Inter-Agency Standing Committee — IASC) divulgou sua Agenda Transformadora (do inglês,
Transformative Agenda — TA) sobre o assunto em dezembro de 201131. Essa TA teve como objetivo
melhorar a resposta geral a desastres, aproveitando as lições aprendidas em 2010 e superando as
lacunas da reforma humanitária de 200532. Um dos principais resultados da TA foi a criação de novos
sistemas ede uma terminologia relacionada a desastres de grande escala.
Uma das inovações da TA foi a classificação em três “níveis” de emergência. Embora não seja
especificamente definido, a TA considera como uma emergência de nível 1 (L1) aquela em que os
recursos nacionais e internacionais disponíveis no país são suficientes para respondê-la e não requerem
assistência externa. Uma emergência de nível 2 (L2) requer algum apoio de países vizinhos, entidades
regionais e, possivelmente, da sede da agência33. Uma emergência de nível 3 (L3) é uma grande
crise humanitária em todo o sistema desencadeada por um desastre natural ou conflito que requer
mobilização e resposta de todo o sistema. A TA incluiu a classificação L3 como uma forma de fortalecer
a liderança, coordenação e responsabilidade nas respostas interagências a grandes emergências
humanitárias. Originalmente projetada para emergências de início súbito, a classificação L3 agora inclui
emergências de início lento em circunstâncias excepcionais onde a gravidade da situação justifique seu
uso. A Lição 2 examina esse processo com mais detalhes34.
Os princípios humanitários
28) Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Manual de Campo UN-CMCoord (v2.0), Genebra, Suíça, OCHA, 2018. Disponível em inglês:
<https://www.unocha.org/publication/un-cmcoord-field-handbook>.
29) Comitê Permanente Interagências, “Agenda Transformadora do IASC”. Disponível em inglês: <https://interagencystandingcommittee.org/iasc-
transformative-agenda>.
30) “Tsunami do Oceano Índico: antes e depois”, BBC News, 25 de dezembro de 2014. Disponível em inglês: <http://www.bbc.com/news/world-asia-30034501>.
31) O IASC é o principal mecanismo de coordenação entre agências de ajuda humanitária. Disponível em inglês: <https://interagencystandingcommittee.org/>.
32) A Lição 2 também explora essa questão.
33) OCHA, UNDAC Field Handbook, 7ª ed., 2018. Disponível em inglês: <https://www.unocha.org/sites/unocha/files/1823826E_web_pages.pdf>.
34) Este curso enfoca as emergências L3, já que geralmente são as mais complexas e envolvem muitos atores e setores.
24
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
Origem
35) OCHA, “Quais são os princípios humanitários?” em OCHA on Message: Humanitarian Principles, junho de 2012, 1. Disponível em inglês: <https://
www.unocha.org/sites/dms/Documents/OOM-humanitarianprinciples_eng_June12.pdf>.
36) OCHA, “Quais são os princípios humanitários?”.
25
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
Esses princípios humanitários se originam nos princípios básicos que orientam as atividades do CICV e
das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha/Crescente Vermelho e estão contidos em vários documentos.
O Código de Conduta do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e das
Organizações Não Governamentais de Apoio em Desastres fornece um conjunto de padrões comuns para
todas as organizações envolvidas em atividades humanitárias37. O Projeto Esfera, um esforço internacional
para estabelecer padrões nas áreas centrais da ajuda humanitária38, elaborou a Carta Humanitária
para afirmar o imperativo humanitário39 e expressar as convicções compartilhadas entre as agências
humanitárias que são universalmente aplicáveis a todos os afetados por desastres ou conflitos40.
Os princípios humanitários são fundamentais para a maioria dos atores humanitários; no entanto, o
número e a diversidade dos atores de resposta aumentaram muito nos últimos anos, os quais, muitas
vezes, possuem diferentes interpretações dos princípios humanitários. Muitos desses atores são ONGs,
empresas de segurança ou de suporte com fins lucrativos, assim como indivíduos ou redes voltados
para negócios com objetivos e culturas diferentes e níveis variados de especialização e experiência em
assuntos humanitários. Isso impõe restrições significativas aos princípios humanitários.
Quando a crise de Darfur começou, em 2003, muitas organizações desafiaram sua neutralidade,
defendendo ativamente questões delicadas de proteção civil, que estavam dentro do claro papel e
da responsabilidade das autoridades sudanesas. Algumas agências fizeram pressão para aumentar o
poder da Operação Híbrida da União Africana e das Nações Unidas no Darfur (MINUAD) por meio de
um mandato mais forte, já que as questões de segurança estavam atrapalhando as operações de
socorro41. Essa ação pública resultou em ameaças (principalmente por parte de autoridades) para que
as agências expulsassem funcionários, o que algumas vezes acabou acontecendo. Alguns trabalhadores
humanitários foram presos e detidos. Os atores humanitários também enfrentaram dificuldades para
renovar a permissão de trabalho dos trabalhadores humanitários, além de longos períodos para a
expedição de vistos humanitários e para a realização de processos alfandegários. As agências envolvidas
em questões políticas e de proteção ou relacionadas a vistos humanitários e liberações alfandegárias
enfrentaram períodos de processamento particularmente longos, que duravam até três meses42.
Pode ser difícil determinar a fronteira entre a neutralidade e o envolvimento público em questões de
controvérsia política. Podem ser interpretadas como declarações políticas ações como defesa pública para
segurança adicional, melhor acesso a determinadas áreas e destaque a responsabilidades de determinados
atores. Esta afirmação é particularmente verdadeira em relação a questões de proteção relacionadas a
um conflito. Embora certas agências humanitárias possam estar dispostas a comprometer sua estrita
neutralidade em casos de situações envolvendo risco de vida a populações afetadas e trabalhadores
humanitários, os atores humanitários devem encontrar um equilíbrio adequado entre a defesa pública e
o princípio humanitário de neutralidade para evitar a percepção de engajamento político ou em questões
militares. Essa forma “nova” ou “pragmática” de neutralidade não é isenta de riscos.
37) CICV, Código de Conduta para o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e Organizações Não Governamentais (ONGs)
no Apoio em Desastres. Disponível em inglês: <https://www.icrc.org/eng/assets/files/publications/icrc-002-1067.pdf>.
38) Projeto Esfera, The Sphere Handbook: Carta Humanitária e Padrões Mínimos em Resposta Humanitária, 2018. Disponível em inglês: <https://
spherestandards.org/handbook/editions/>.
39) Essa ação deve ser tomada para prevenir ou aliviar o sofrimento humano decorrente de um desastre ou conflito, e nada deve se sobrepor a
esse princípio.
40) Projeto Esfera, The Sphere Handbook.
41) Instituto de Desenvolvimento Internacional, “Advocacia humanitária em Darfur: o desafio da neutralidade”, HPG Policy Brief 28, outubro de 2007.
Disponível em inglês: <https://odi.org/en/publications/humanitarian-advocacy-in-darfur-the-challenge-of-neutrality/>.
42) Durante a crise de Darfur, um C-130 belga empregado no Programa Mundial de Alimentos sob indicativo da ONU foi detido por vários dias pelas
autoridades sudanesas (de transporte e alfândega) para fiscalização de todas as partes numeradas da aeronave.
26
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
Aspectos legais
Esta seção fornece uma visão geral dos principais documentos legais que contextualizam os
princípios humanitários e as ações humanitárias43.
A Paz da Vestfália
Em 1648, o Sacro Império Romano, o Reino da Espanha, a República Holandesa e outras potências
europeias se reuniram nas cidades de Osnabrück e Münster, localizadas na Vestefália, para assinar uma
série de tratados de paz. Os tratados encerraram as principais guerras religiosas que dividiram a Europa
durante os séculos XVI e XVII e deram início à chamada Paz de Vestfália. Embora os tratados não
tenham restaurado a paz em toda a Europa, eles criaram uma base para a autodeterminação nacional.
Duas ideias emergiram da paz e se tornaram centrais para a ordem mundial que se desenvolveu ao
longo dos séculos subsequentes: respeitar as fronteiras dos Estados soberanos e não interferir em seus
assuntos internos. Esses princípios permanecem em vigor até hoje. Com o tempo, o significado de longo
prazo dos tratados de paz se reduziu a:
Muitos novos países se formaram nos séculos XIX e XX. A descolonização ocorrida no século
XX (principalmente após a Segunda Guerra Mundial) criou ainda mais países independentes. A
descolonização espalhou por todo o mundo os princípios vestfalianos, especialmente o conceito de
Estados soberanos, e fez deles a base da lei internacional.
De acordo com a ONU, o direito internacional define as responsabilidades legais dos países em
sua conduta entre si e no tratamento dos indivíduos dentro de suas fronteiras. Abrange uma ampla gama
de questões de interesse internacional, incluindo direitos humanos, desarmamento, crime internacional,
refugiados, migração, problemas de nacionalidade, tratamento de prisioneiros, uso da força e condução
da guerra44. Também regula os bens comuns globais, como meio ambiente, desenvolvimento sustentável,
águas internacionais, espaço exterior, comunicações globais e comércio mundial45.
No século XX, a comunidade internacional desenvolveu definições para crimes contra a humanidade,
genocídio e crimes de guerra como parte do direito internacional. Os tribunais de Nuremberg e Tóquio
após a Segunda Guerra Mundial usaram essas definições para processar líderes das potências do Eixo
por crimes de guerra, crimes contra a paz e crimes contra a humanidade cometidos durante o conflito.
Na década de 1990, os Tribunais Criminais Internacionais para a ex-Iugoslávia (ICTY) e Ruanda (ICTR)
julgaram crimes cometidos em prazos específicos durante os conflitos nesses países.
43) Para documentos adicionais relevantes, consulte o Sphere Project Handbook, Anexo 1.
44) A Primeira Convenção de Genebra de 1864 é uma das primeiras formulações do direito internacional. Consulte a Seção 1.2.
45) ONU, “Direito Internacional e Justiça”. Disponível em inglês: <https://www.un.org/en/global-issues/international-law-and-justice>.
46) ONU, Implementando a responsabilidade de proteção, Relatório do Secretário-Geral, A / 63/677, 12 de janeiro de 2009.
27
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
Em 1998, 120 Estados adotaram Estatuto de Roma, a base jurídica para a criação do Tribunal Penal
Internacional (TPI) permanente. O TPI é uma organização internacional independente com sede em
Haia e não faz parte do sistema das Nações Unidas. O TPI ouviu vários casos e alguns continuam em
andamento47.
O Direito Internacional Humanitário é um conjunto de regras que visam limitar os efeitos dos
conflitos armados por razões humanitárias. Uma parte importante do Direito Internacional Humanitário
está contida nas quatro Convenções de Genebra de 1949 e nos Protocolos Adicionais de 1977
relativos à proteção das vítimas de conflitos armados. Esses documentos se aplicam apenas a conflitos
armados e não cobre tensões internas48.
-Artigo 2
47) Tribunal Penal Internacional, “Situações sob investigação”. Disponível em inglês: <https://www.icc-cpi.int/pages/situations.aspx>.
48) Serviço de Consultoria do CICV sobre Direito Internacional Humanitário, “O que é o Direito Internacional Humanitário?”, julho de 2004. Disponível em
inglês: <https://www.icrc.org/eng/assets/files/other/what_is_ihl.pdf>.
28
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
29
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
Prestação de contas
À luz dessas questões, a prestação de contas tornou-se importante para muitos doadores, tanto
privados quanto financiados pelo Estado. Surgiram padrões profissionais com foco na qualidade da
ação humanitária. Os doadores começaram a responsabilizar as organizações pelo desempenho do
seu pessoal e vincularam diretamente o dinheiro dos doadores à melhoria do sistema de gestão dessa
organização. Isso levou a uma delegação cada vez maior da sede aos gerentes de campo e funcionários
locais, uma vez que eles poderiam avaliar melhor as maneiras de fornecer ajuda. Os doadores
começaram a exigir relatórios regulares — financeiros e outros — de organizações humanitárias que,
de outra forma, corriam o risco de perder os fundos e/ou se tornarem objeto de investigação de fraude.
Os doadores começaram a pressionar as principais partes interessadas, como governos nacionais e
agências da ONU, para cumprir certas políticas e cursos de ação51. Finalmente, os doadores começaram
a se responsabilizar, visando o maior resultado com o menor custo possível. Assim, selecionar o projeto
ou programa “certo” para garantir a máxima eficiência tornou-se cada vez mais importante para evitar
críticas públicas e internas.
Mas o novo enfoque nos resultados teve efeitos colaterais negativos. Isso levou as organizações a
se reestruturarem em um sistema burocrático de redação de propostas, preenchimento de formulários
e relatórios. Isso forçou os gerentes de campo a gastar mais tempo garantindo a conformidade do que
prestando assistência em campo. Outra desvantagem dessa cultura foi o aumento da aversão ao risco
entre os doadores ao se gastar dinheiro. Os doadores queriam que seu dinheiro gerasse os melhores
resultados e ficaram relutantes em gastar em projetos sem um resultado garantido. O risco é inerente
à resposta humanitária. As crises costumam ser caóticas e imprevisíveis, apesar dos avanços nas
ferramentas e metodologia de avaliação. Eliminar o risco geralmente significa limitar um programa a tal
ponto que acabe impactanto os resultados (por exemplo, reduzindo a área afetada, reduzindo a área de
distribuição ou negligenciando um grupo vulnerável específico). Isso pode desencorajar os gerentes a
buscarem o programa mais eficaz por medo de não receber o financiamento necessário.
50) Humanitarian Practice Network, Intercâmbio Humanitário No. 52, outubro de 2011. Disponível em inglês: <https://reliefweb.int/report/world/
humanitarian-exchange-magazine-no-52-feature-humanitarian-accountability>.
51) Rede de Prática Humanitária, Intercâmbio Humanitário, 45.
30
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
“Um programa de ação tem riscos e custos, mas eles são muito menores
do que os riscos e custos de longo prazo de uma inação confortável.”
52) O meio ambiente durante e após um desastre natural compartilha muitos paralelos e semelhanças com os conflitos (armados). O conflito obriga
os trabalhadores auxiliares a aprofundarem seus conhecimentos e capacidade analítica sobre a forma como prestam assistência. Os alunos devem
manter isso em mente ao ler esta seção. Para mais informações sobre este assunto importante, consulte: Mary B. Anderson, Não faça mal: como a
ajuda pode apoiar a paz — ou a guerra (Boulder: Lynne Rienner Publishers, 1999).
53) Anderson, Não faça mal.
54) Anderson, Não faça mal, 36.
31
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
Outra pergunta a ser respondida é como isso afetará os diferentes grupos (vulneráveis) dentro de
uma comunidade afetada. Por exemplo, se nos concentrarmos apenas nas pessoas deslocadas que vivem
em abrigos temporários e não considerarmos aqueles que podem ter buscado refúgio com familiares
ou parentes, criaremos tensões entre esses dois grupos? Organizações e trabalhadores humanitários
podem ajudar as minorias presumindo que são as mais vulneráveis, ignorando o sofrimento dos outros.
O interesse político e a pressão sobre a concessão ou não de ajuda são fatores a que as organizações
e os trabalhadores podem ter que aprender a resistir. Isso pode ser explorado, no entanto, já que
as autoridades podem não querer distribuir ajuda se a população afetada pertencer a uma oposição
política ou a um grupo minoritário.
Outro exemplo de como a ajuda pode realmente prejudicar uma população é o chamado “dinheiro
por trabalho” (do inglês, "cash for work", ou CFW), especialmente se o programa não foi totalmente
analisado e considerado. O CFW é frequentemente usado para grandes projetos de obras públicas ou
comunitárias (por exemplo, limpeza de entulho após um desastre). Ele fornece às famílias uma renda
que elas podem gastar livremente; no entanto, os projetos devem considerar o calendário sazonal
existente para investigar se a atividade CFW pode entrar em conflito com outros compromissos de
trabalho familiar, como agricultura (por exemplo, plantio, colheita) ou migração sazonal (por exemplo,
ajudar os agricultores e proprietários de terras no trabalho sazonal). Deixar de fazer isso pode atrapalhar
as estratégias de sobrevivência e recuperação dos meios de subsistência das pessoas, geralmente
devido à escassez de alimentos durante a próxima temporada55.
55) Sarah Bailey e Paul Harvey, “Programação de transferência de renda em emergências”, junho de 2011, Rede de Prática Humanitária. Disponível em
inglês: <http://odihpn.org/resources/cash-transfer-programming-in-emergencies/>.
32
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
A entrega de itens de ajuda humanitária durante o conflito também pode trazer consequências
indesejadas. Os chefes militares locais e as partes em um conflito podem tê-la como alvo. O roubo
desses itens é comum, inclusive em postos de controle (por exemplo, agências humanitárias que pagam
para acessar a área) e em depósitos durante a noite. Outras vezes, esse material é simplesmente
roubado da população local como um “imposto” ou taxa de proteção. Esses recursos roubados podem
ser vendidos e os lucros usados para comprar armas. Dessa forma, a ajuda pode perpetuar um conflito.
Compreender o contexto de um conflito não é fácil. Examinar todas as partes interessadas e atores
pode ajudar a fornecer uma compreensão do contexto. Quem ganha e quem perde? Quem tem o poder?
Como os diferentes atores se relacionam entre si? As facções em conflito não verão a ajuda e sua
entrega como totalmente neutras. As agências assistenciais devem identificar estratégias sobre como
impedir o roubo em seus programas de ajuda. O que funciona em uma área pode não ser eficaz em
outra. Não existe uma solução única.
Existem muitos outros exemplos de como a entrega de itens de ajuda humanitária pode afetar
negativamente o meio ambiente e sua população. As intenções das agências de ajuda humanitária e dos
trabalhadores podem ser nobres, com a humanidade subjacente aos seus princípios básicos. No entanto,
sempre que organizações e trabalhadores fornecem ajuda, eles devem garantir que suas ações não criem
um ambiente insustentável, desestabilizem a população afetada ou criem uma relação de dependência.
56) Amin Maalouf, Les Identités meurtrières (Paris: Editions Grasset, 1998), 137.
57) Deborah Mancini-Griffoli e André Picot, Negociação Humanitária: Um Manual para Garantir o Acesso, Assistência e Proteção para Civis em Conflitos
Armados, outubro de 2004. Disponível em inglês: <https://www.alnap.org/help-library/humanitarian-negotiation-a-handbook-for-securing-access-
assistance-and-protection-for>.
33
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
• Comunicação verbal e não verbal: o que pode ser dito? O que deve permanecer não dito?
Respeitar o código cultural de cortesia costuma ser complicado. O que é aceito em uma cultura
pode ser indelicado em outra. Existem muitas anedotas e melhores práticas do que "fazer e não fazer",
mas os trabalhadores humanitários não devem ter medo de pedir orientação aos funcionários locais
de sua organização. Aparência e comportamento também fazem parte da cultura, e os trabalhadores
humanitários podem não estar imediatamente cientes de alguns destes problemas:
• Estilo de cabelo, decoração corporal e maneira de vestir (algumas cores podem expressar uma
tendência social ou política);
Os trabalhadores humanitários muitas vezes questionam até que ponto devem se adaptar às normas
culturais vigentes. Por um lado, imitar a cultura de uma contraparte pode ser visto como um sinal de
respeito; por outro, pode parecer um sinal de tolice58. Os anfitriões locais provavelmente saberão que os
praticantes são diferentes, mas eles oferecerão acomodações de acordo com sua cultura de hospitalidade.
O melhor conselho para os trabalhadores humanitários é ser ele mesmo e usar o bom senso.
34
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
35
LIÇÃO 1 | Intervenção humanitária
8. Qual das alternativas a seguir NÃO 10. Nossa cultura é a soma de duas
foi um benefício do aumento da heranças: _____.
responsabilidade do HRO?
A. tradição e educação
A. Isso muitas vezes levou as organizações a se
B. uma vertical, originária de nossos ancestrais,
reestruturarem em um sistema burocrático
e uma horizontal, com base em nosso
de redação de propostas, preenchimento de
contexto pessoal
formulários e relatórios.
C. diferença cultural e adaptabilidade cultural
B. Isso aumentou a capacidade de entregar
D. relacionamentos e tolerância
ajuda em campo.
C. Isso diminuiu os níveis de fraude.
D. Isso aumentou a delegação da sede para
gerentes de campo e funcionários locais,
uma vez que eles poderiam avaliar melhor
as maneiras de fornecer ajuda.
Respostas »
1. A
2. C
3. B
4. D
5. B
6. B
7. D
8. A
9. D
10. B
36
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
LIÇÃO
Atores em operações de ajuda
2 humanitária e seus mandatos
Nesta lição »
The Role of the United Nations in Global Peace and Secu
Objetivos da lição »
Seção 2.2 Panorama histórico e político • Relembre e explique as principais diferenças entre
37
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
Bazar na seção laosiana do campo de refugiados de Aranyaprathet, na Tailândia. 1º de janeiro de 1978. Foto da ONU por Saw Lwin.
Introdução
38
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
» “... uma organização que tenta para alcançar social ou política mira
mas não é controlada por um governo2”.
Embora essas definições sejam diferentes, elas possuem alguns pontos em comum. Cada uma delas
descreve as ONGs como organizações privadas, independentes de qualquer governo e, geralmente,
sem fins lucrativos. A próxima seção analisará esses aspectos mais a fundo, descreverá sua tipologia e
mostrará se a definição ainda se aplica. Este curso se baseia na definição fornecida pela OCHA,
embora seja um pouco restritiva.
1) Sociedade Civil das Nações Unidas, “Sociedade Civil”. Disponível em inglês: <https://www.un.org/en/civil-society/page/about-us>.
2) Dicionário Cambridge, “ONG”. Disponível em inglês: <http://dictionary.cambridge.org/dictionary/english/ngo>.
3) Dicionário de Negócios, “Organização não governamental (ONG)”.
4) Margaret P. Karns, “Organização não governamental (ONG)”. Disponível em inglês: <https://www.britannica.com/topic/nongovernmental-
organization#ref799729>.
39
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
A ideia do que é uma ONG não está claramente definida na prática internacional ou no debate
acadêmico6. O termo geralmente se refere a organizações estabelecidas pela iniciativa privada,
formalmente livres de qualquer influência governamental e com o objetivo principal de não obter fins
lucrativos. A resolução 1996/31 do Conselho Econômico e Social (do inglês, Economic and Social Council
— ECOSOC) oferece uma definição mais completa7.
Também há uma distinção entre ONGs operacionais internacionais e ONGs nacionais e locais:
5) ReliefWeb, “Glossário de Termos Humanitários”, agosto de 2008, 37. Disponível em inglês: <http://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/resources/4
F99A3C28EC37D0EC12574A4002E89B4-reliefweb_aug2008.pdf>.
6) Emanuele Rebasti e Luisa Vierucci, “Um Estatuto Jurídico para as ONGs no Direito Internacional Contemporâneo?”. Disponível em inglês: <https://
esil-sedi.eu/wp-content/uploads/2018/04/VierucciRebasti-1.pdf>.
7) ECOSOC, Res. 1996/31, UN Doc. E/1996/L.25. Adotado na 49ª reunião plenária do Conselho em 25 de Julho de 1996. Disponível em inglês: <https://
www.unov.org/documents/NGO/NGO_Resolution_1996_31.pdf >.
8) Assistência Humanitária Global, Relatório de Assistência Humanitária Global 2015. Disponível em inglês: <http://devinit.org/wp-content/
uploads/2015/06/GHA-Report-2015_-Interactive_Online-1.pdf>.
9) Assistência Humanitária Global, Relatório de Assistência Humanitária Global 2015.
40
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
O ECOSOC discutiu as IGOs na resolução 288 (X) de 27 de fevereiro de 1950: “Qualquer organização
internacional que não seja estabelecida por um acordo intergovernamental será considerada uma
Organização Não Governamental para os fins desses acordos.”
De acordo com o estudioso de direitos humanos Gabor Rona, IGOs podem variar em tamanho
de três a mais de 190 membros, e sua representação geográfica pode ser universal em escopo (por
exemplo, as Nações Unidas, Organização Internacional para Migração, Fundo Monetário Internacional)
ou regional (por exemplo, Organização dos Estados Americanos, União Africana, Organização para
a Segurança e Cooperação na Europa). Enquanto algumas IGOs visam a atingir um único propósito
(por exemplo, a Organização Mundial da Propriedade Intelectual), outras realizam várias tarefas (por
exemplo, a OTAN). Suas estruturas organizacionais variam e podem variar de simples a altamente
complexas, dependendo de seu tamanho e suas tarefas12. Ao contrário das ONGs, por definição, as IGOs
têm um mandato de governos e desfrutam de certas facilidades de trabalho conhecidas na terminologia
diplomática como “privilégios e imunidades”. O tratado que institui a IGO determinará sua finalidade,
bem como os direitos e deveres de seus membros13.
Este curso usará a definição simplificada de IGO, adaptada pelo Escritório do Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR):
Cada Estado tem a responsabilidade de fornecer proteção e assistência vital à população afetada
por uma crise. A maioria dos países desenvolveu capacidades de Defesa Civil e/ou Proteção, geralmente
na forma de uma Agência Federal como a Technisches Hilfswerk (THW)15, da Alemanha, ou a Agência
Sueca de Contingências Civis (MSB) 16. Nacionalmente, eles operam num amplo espectro de assistência,
oferecendo desde serviço de ambulância a operações de resgate complexas e perigosas, e podem até
10) União de Associações Internacionais, “Tipos de Organizações Internacional”. Disponível em inglês: <http://www.uia.org/archive/types-organization/cc>.
11) Cientistas políticos J. David Singer e Michael Wallace questionaram essa definição convencional. Em particular, eles argumentam que: “pode-se
objetar, é claro, que as organizações bilaterais não deveriam ser incluídas porque não são "realmente" IGOs, como geralmente as concebemos",
porque resultam de uma forma "contratual", e não de tratados "legislativos". Há dois pontos a serem colocados aqui: um, essa objeção é atendida na
medida em que meros tratados ou pactos são excluídos por outros critérios. Exigimos apenas que o caráter bilateral de uma organização não pode,
por si só, ser motivo de exclusão. Além disso, tal exclusão não apenas deixaria de fora organizações importantes como o Comando de Defesa Aérea
da América do Norte (do inglês, North American Air Defense Command — NORAD), mas também nos forçaria a excluir organizações multilaterais,
como a Comissão do Reno, quando as circunstâncias históricas reduzissem temporariamente o número de membros para dois. ” Veja: J. David Singer
e Michael Wallace, “Organização Internacional no Sistema Global, 1815-1964: Uma Descrição Quantitativa”. Organização Internacional, vol. 24, No.
2, Spring 1970, 239-287.
12) Karen Mingst, “Organização internacional” da Encyclopaedia Britannica. Disponível em inglês: <https://www.britannica.com/topic/international-organization>.
13) Gabor Rona, “O status do CICV: uma classe própria”, 17 de fevereiro de 2004.
14) ReliefWeb, “Glossário de termos humanitários”, 32.
15) Bundesanstalt Technisches Hilfswerk, “Página inicial”. Disponível em inglês: <https://www.thw.de/EN/Homepage/homepage_node.html>.
16) Agência Sueca de Contingências Civis, “Áreas Legislativas”. Disponível em inglês: <https://www.msb.se/en/About-MSB/Legislative-areas/>.
41
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
operar durante desastres naturais ou provocados pelo homem. Algumas dessas agências têm mandatos
de seus governos para operar no exterior no contexto da ajuda internacional em desastres. Um exemplo
comum disso são as equipes de busca e salvamento em meio urbano (do inglês, urban search and
rescue — USAR) implantadas durante os terremotos.
Cada agência tem um escopo diferente de atividades, geralmente relacionadas aos tipos de desastres
encontrados em seus países. Muitas dessas agências trabalham com um grande número de voluntários,
e esses voluntários podem receber um status especial (por exemplo, os voluntários do THW têm um
tipo especial de status de “funcionário público” com um regulamento financeiro específico17). Sempre
que um funcionário participa de um treinamento ou serve em uma missão:
17) Lei sobre a Agência Federal Alemã de Assistência Técnica (THW-Gesetz), alterada em 29 de julho de 2009 (Diário da Lei Federal BGBl. I p. 2350).
18) Lei sobre a Agência Federal Alemã de Assistência Técnica (THW-Gesetz).
19) FPS Foreign Affairs, Comércio Exterior e Cooperação para o Desenvolvimento, Negócios Estrangeiros e B-Fast”. Disponível em inglês: <http://b-fast.
be/en/content/fps-foreign-affairs-foreign-trade-and-development-cooperation>.
42
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
Os países participantes no CERE podem se beneficiar do apoio financeiro da UE para atualizar suas
capacidades de resposta nacional, pagar pelos custos de certificação e treinamento e cobrir até 85%
dos custos relacionados com o transporte de equipes e ativos para uma área de desastre.
O Consenso Europeu de Ajuda Humanitária foi assinado em dezembro de 2007. É o quadro central
que orienta a política de ajuda humanitária da UE, fornecendo uma visão, princípios e uma abordagem
prática comuns. Assegura que as ações desenvolvidas pela DG ECHO respeitem os princípios humanitários
e preste ajuda a quem mais necessita23.
• os “wilsonianos” (em homenagem ao ex-presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson) 25.
As agências religiosas maiores e mais respeitáveis (por exemplo, Catholic Relief Services, World
Vision, Islamic Relief USA, etc.) não fazem proselitismo de forma direta. Elas prestam ajuda baseadas
nos princípios do serviço e da caridade. Sua fé pode influenciar as decisões sobre onde e com quem
trabalhar (por exemplo, realizar parcerias com organizações locais seculares e religiosas), mas sempre
dentro dos valores humanos universais.
20) Operações europeias de proteção civil e ajuda humanitária, “Mecanismo de proteção civil da UE”. Disponível em inglês: <http://ec.europa.eu/echo/
what/civil-protection/mechanism_en>.
21) Para mais informações sobre estes módulos, consulte o “Mapa Diário da DG ECHO”. Disponível em inglês: <https://ec.europa.eu/echo/what/civil-
protection/european-civil-protection-pool_en>.
22) Muitas unidades de resposta já estão registradas; isso inclui equipes de “busca e resgate urbano”, capacidade de evacuação aérea médica especializada,
equipamento de purificação de água, unidades de bombeamento de alta capacidade e equipes de combate a incêndios florestais. Outras capacidades
dos Estados-Membros (contenção de enchentes, laboratórios para emergências ambientais, poluição marinha, entre outras) estão em processo de
registro. Disponível em inglês: <https://civil-protection-humanitarian-aid.ec.europa.eu/what/humanitarian-aid/european-humanitarian-response-
capacity-ehrc_en>.
23) Comissão Europeia, “Consenso Europeu de Ajuda Humanitária”. Disponível em inglês: <http://ec.europa.eu/echo/who/humanitarian-aid-and-civil-
protection/european-consensus_en>.
24) Abby Stoddard, “Humanitarian NGOs: Challenges and Trends”, em Joanna Macrae e Adele Harmer eds., Humanitarian Action and the 'Global War on
Terror': A Review of Trends and Issues, Relatório HPG 14, Londres, Reino Unido, ODI, 2003.
25) Para obter informações adicionais sobre Dunant e Wilson, consulte a Lição 1.
43
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
As agências Dunantistas seguem as idéias e abordagens de Henry Dunant, que ajudou a codificar
os princípios humanitários fundamentais. A Save the Children UK surgiu no final da Primeira Guerra
Mundial para ajudar os órfãos de guerra e proteger os direitos das crianças afetadas pela guerra. Apesar
da legislação no Reino Unido que proíbe a ajuda aos países sob ocupação durante a Segunda Guerra
Mundial, a Oxfam International enviou alimentos para a Grécia ocupada pelos nazistas.
A maioria das ONGs americanas pertence à tradição Wilsoniana e projeta os valores e a influência dos
EUA de acordo com as ambições de Wilson. Elas vêem compatibilidades básicas entre objetivos humanitários
e a política externa dos EUA. As ONGs wilsonianas costumam ter um vínculo estreito com o governo dos
Estados Unidos, e seus funcionários costumam se deslocar entre as instituições do Estado e as ONGs.
Embora as organizações possam pertencer a um dos três grupos tradicionais/históricos descritos, elas
podem ter opiniões diferentes sobre algumas questões. As agências podem ter entendimentos diferentes
de certos princípios humanitários — especialmente durante o conflito. Por exemplo, a abordagem
“classicista” do CICV é muito diferente da posição “solidária” da Médicos Sem Fronteiras (MSF) em
relação ao valor da defesa pública e da ação política, embora ambas tenham raízes na mesma tradição
dunantista. Os classicistas acreditam que a ação humanitária pode e deve ser completamente isolada da
política, enquanto os solidaristas acreditam no uso da ação humanitária como parte de uma estratégia
abrangente. Os solidaristas tentam transformar o conflito defendendo políticas públicas controversas e
tomam o lado de vítimas selecionadas. Se necessário, estão dispostos a distorcer o equilíbrio da alocação
de recursos e “substituir” a soberania. Isso explica por que, durante a fome em Biafra no final dos anos
1960, o Dr. Bernard Kouchner deixou o CICV depois que as autoridades nigerianas negaram o acesso à
área afetada e a organização manteve sua adesão estrita aos princípios de neutralidade e imparcialidade.
Ele decidiu criar com outros integrantes uma nova organização médica — a MSF — em 1971 para acessar
as populações necessitadas e testemunhar abertamente ao público e à mídia o que viram.
Stoddard também descreve outras diferenças entre as ONGs. Um exemplo é a diferença básica entre
o estigma de “humanitarismo desobediente” da MSF e o de “humanitarismo de Estado” wilsoniano da
maioria das ONGs americanas. Outra diferença envolve o financiamento e as relações entre ONGs e
governos (doadores). Muitas das principais ONGs dos EUA dependem do apoio do governo dos EUA para
grande parte de seus fundos. A maioria das ONGs dunantistas tem uma política clara sobre o assunto e só
aceita uma porcentagem do financiamento público e recusa o financiamento de governos que participem
de um conflito que possa comprometer a neutralidade da ONG. As técnicas de arrecadação de fundos
também refletem as diferenças entre a MSF e outras ONGs europeias, por um lado, e as ONGs dos
Estados Unidos, por outro. O primeiro grupo possui um sistema de financiamento privado com mala
direta e doações por cartão de crédito como fonte confiável de financiamento independente sempre que
há um recurso relacionado a uma crise internacional específica. Este não é tanto o caso da população dos
Estados Unidos, onde as doações de caridade tendem a se concentrar mais em questões internas26.
As ONGs humanitárias têm que servir a interesses diferentes, o que pode criar tensões e desafios
potenciais (muitas vezes em uma base moral) na execução de seus programas27. Esses interesses incluem:
44
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
Esses três conjuntos de interesses frequentemente competem entre si, e encontrar um equilíbrio
adequado às vezes é mais fácil na teoria do que na prática.
“Como uma associação privada formada sob o Código Civil Suíço, sua existência
não é por si só ordenada pelos governos. No entanto, suas funções e atividades
— fornecer proteção e assistência às vítimas de conflito — são ordenadas pela
comunidade internacional de Estados e fundamentadas no direito internacional,
especificamente nas Convenções de Genebra, que estão entre os tratados mais
amplamente ratificados no mundo28”.
28) Gabor Rona, “O status do CICV: uma classe própria”, 17 de fevereiro de 2004.
29) Rona, “O status do CICV: uma classe própria”.
30) Ingrid Rossi, “Status Legal das Organizações Não Governamentais em Direito Internacional”, dissertação de doutorado, Katholieke Universiteit
Leuven, 2009. Disponível em inglês: <https://lirias.kuleuven.be/bitstream/123456789/249936/1/Rossi.pdf>.
31) Rossi, “Estatuto Legal das Organizações Não Governamentais no Direito Internacional”.
45
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
O CICV mantém relações diplomáticas com Estados e IGOs e concluiu acordos de sede com mais
de 60 Estados para facilitar a ação independente dos delegados do CICV e do próprio CICV. “Eles
reconhecem a personalidade jurídica internacional e a capacidade jurídica do CICV nos diferentes
países, bem como sua imunidade de processo e execução legal, concedendo ao CICV um status análogo
ao das OIGs32”.
• Em caso de distúrbios e tensões internas, e em qualquer outra situação que justifique a ação
humanitária, o CICV também goza do direito de iniciativa, que é reconhecido nos Estatutos do
Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Assim, onde o Direito
Internacional Humanitário não se aplica, o CICV pode oferecer seus serviços aos governos sem
que essa oferta constitua uma interferência nos assuntos internos do Estado em questão33”.
A principal diferença entre a IFRC e o CICV é o contexto em que operam. O CICV atua durante
conflitos, enquanto a FICV atua durante desastres naturais (por exemplo, terremotos, inundações,
secas). A IFRC trabalha em parceria com as Sociedades Nacionais dos países afetados. No âmbito da
gestão de desastres, a IFRC busca apoiar e construir capacidades locais, comunitárias e da Sociedade
Nacional por meio de34:
Para garantir apoio financeiro imediato na resposta emergencial a desastres, a IFRC usa um Fundo
de Emergência para Assistência a Catástrofes (do inglês, Disaster Relief Emergency Fund — DREF)
32) Rossi, “Estatuto Legal das Organizações Não Governamentais no Direito Internacional”.
33) CICV, “O mandato e a missão do CICV”. Disponível de: <https://www.icrc.org/pt/o-mandato-e-missao-do-cicv>.
34) IFRC, “Cruz Vermelha e Crescente Vermelho, uma abordagem direcionada e específica”.
46
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
estabelecido em 1985. A IFRC também usa Unidades de Resposta a Emergências (UREs), que são equipes
de especialistas técnicos treinados para apoio imediato às Sociedades Nacionais durante um desastre.
Sua intervenção na resposta imediata a desastres é baseada no uso de conjuntos pré-estabelecidos de
equipamentos padronizados (módulos), incluindo Logística, TI e Telecomunicações, Água e Saneamento,
Cuidados Básicos de Saúde, Hospital de Referência, Hospital de Implantação Rápida e Acampamento de
Base e Alívio35. Além disso, a IFRC pode enviar suas Equipes de Coordenação de Avaliação em Campo
(do inglês, Field Assessment Coordination Teams — FACT), compostas por gerentes experientes de
desastres da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Essas equipes apoiam as Sociedades Nacionais e
os escritórios de campo da FICV e constituem uma parte importante das ferramentas globais de resposta
a emergências da FICV. Elas geralmente estão entre as primeiras a fornecer dados sobre uma área
afetada e sua população.
Para apoiar sua resposta a desastres e auxiliar de forma eficiente, a IFRC desenvolveu um serviço
de logística global (do inglês, global logistics service — GLS), que inclui36:
As 190 Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho são atores importantes
durante crises e desastres37. Eles pertencem à categoria de primeiros socorros quando ocorre um
desastre. Cada Sociedade Nacional é composta por voluntários (muitos deles da própria comunidade)
e funcionários que fornecem uma ampla variedade de serviços. As Sociedades Nacionais apóiam as
autoridades públicas em seus próprios países como auxiliares humanitários independentes do
governo. A grande rede de Sociedades Nacionais, seu conhecimento local, experiência e acesso direto
às comunidades permitem que elas reajam rapidamente em tempos de crise. As Sociedades Nacionais
também desempenham um papel importante em garantir que os programas de cuidado, prevenção e
preparação sejam realizados diariamente. Essa presença local e sua abordagem com base na comunidade
dão à Cruz Vermelha e ao Crescente Vermelho uma vantagem distinta durante desastres e conflitos.
História
47
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
A resolução também criou o cargo de alto nível de Coordenador de Ajuda de Emergência (do inglês,
Emergency Relief Coordinator — ERC). Esta nova posição combinou funções separadas em um único
ponto focal da ONU:
• As funções de desastre desempenhadas pela Organização de Ajuda em Desastres das Nações Unidas.
Logo após a adoção da resolução, a ONU formou o Departamento de Assuntos Humanitários (do
inglês, Department of Humanitarian Affairs ‑ DHA) e designou o ERC como Secretário-Geral Adjunto
para Assuntos Humanitários, com escritórios em Nova York e Genebra, para fornecer apoio institucional.
Em 1998, o DHA foi reorganizado no Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários (do
inglês, Office for the Coordination of Humanitarian Affairs — OCHA). Seu mandato se expandiu com
a inclusão da coordenação de resposta humanitária, desenvolvimento de políticas e defesa humanitária.
O OCHA faz parte do Secretariado da ONU, garantindo uma resposta coerente às emergências dentro de
um determinado quadro40. O OCHA desempenha a sua função de coordenação principalmente através
do IASC, que é presidido pelo ERC41.
A missão da OCHA é:
48
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
Sob a liderança do ERC, “o IASC desenvolve políticas humanitárias, concorda com uma divisão clara
de responsabilidades para os vários aspectos da assistência humanitária, identifica e aborda as lacunas
na resposta e defende a aplicação eficaz dos princípios humanitários44”.
No que diz respeito à adesão ao IASC, o termo "operacional" é definido como tendo as seguintes
características:
49
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
A ONU estabeleceu a Organização Internacional de Refugiados (OIR) logo após sua própria fundação
em 1945. Ela foi incumbida de proteger os grupos de refugiados reconhecidos pela Liga das Nações,
além de uma categoria adicional — os 21 milhões de refugiados espalhados por toda a Europa após
a Segunda Guerra Mundial. Inicialmente, o objetivo principal do OIR era a repatriação. No entanto,
a escalada política para a Guerra Fria levou o OIR a se concentrar no reassentamento daqueles que
tinham objeções válidas para voltar para casa. O ACNUR substituiu a OIR em 195147.
O ACNUR é governado pela Assembleia Geral da ONU e pelo ECOSOC, e o ano de 1950 define seu
mandato48. Embora o ACNUR tenha sido originalmente criado para ser uma organização temporária,
em 2003, a Assembleia Geral estendeu seu mandato, removendo sua limitação de tempo “até que o
problema dos refugiados fosse resolvido”.
Um funcionário do ACNUR prepara kits para serem distribuídos aos repatriados. Os kits incluem lonas de plástico, cobertor, galão e
sabonete. 1º de outubro de 1999. Foto da ONU por M. Kobayashi.
45) Esta lição não descreve todas as agências (ONU) e outros atores importantes (ONGs, etc.), mas fornece uma descrição sucinta de certas organizações.
A Lição 4 oferece informações operacionais adicionais.
46) ACNUR Brasil, “Página na internet”. Disponível de: <https://www.acnur.org/portugues/>.
47) ACNUR, “Manual de Gestão de Operações para Parceiros do ACNUR”, fevereiro de 2003, 4. Disponível em inglês: <http://refugeestudies.org/UNHCR/
UNHCR.%20Mandate%20and%20the%20Organization.pdf>.
48) ACNUR, Estatuto do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, 14 de dezembro de 1950. Disponível em inglês: <http://
www.unhcr.org/3b66c39e1.html>.
50
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
• Repatriados;
• Apátridas; e
• Deslocados internamente.
O Alto Comissário é responsável pela direção e controle do ACNUR. Mais de 17.324 funcionários
nacionais e internacionais do ACNUR trabalham em 135 países, e a maioria das suas operações ocorrem
no campo. Alguns escritórios regionais fazem a ligação entre os escritórios no exterior e a sede51.
• Emergência na Síria54: Mais de 5,6 milhões de pessoas fugiram da Síria desde 2011, cruzando
para o Líbano, Turquia, Jordânia e outras nações. Mais de 11 milhões de pessoas na Síria
precisam de assistência humanitária, incluindo cerca de 4,65 milhões que estão em extrema
necessidade devido à convergência de vulnerabilidades55.
51
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
45.449 refugiados da região de Tigray, na Etiópia, haviam fugido para o Sudão. Havia 100.000
deslocados internos na região de Tigray antes da crise em curso.
O PNUD foi formado em 1965 por meio da fusão do Programa Ampliado de Assistência Técnica das
Nações Unidas e do Fundo Especial das Nações Unidas61. O Programa opera em cerca de 170 países e
territórios e tem como objetivo alcançar a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades e da
exclusão social. Oferece aos países assistência para desenvolver políticas, habilidades de liderança,
habilidades de parceria e capacidades institucionais, ao mesmo tempo em que cria resiliência para sustentar
os resultados do desenvolvimento. O foco principal do PNUD é o desenvolvimento, particularmente em três
áreas:
• Desenvolvimento sustentável;
52
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
por cento dos cargos da organização estão em um helicóptero da ONU para transporte e distribuição às
vítimas de cólera durante a epidemia no Haiti. 16º de novembro
localizados no campo. O plano estratégico de
de 2020. Foto da ONU: UNICEF/Marco Dormino.
médio prazo do UNICEF para 2014–2017 define
suas áreas prioritárias65:
A UNICEF administra programas de saúde, nutrição, educação, água e saneamento, meio ambiente,
proteção infantil, questões de gênero e desenvolvimento, entre outros campos de importância para as
63) A UNICEF foi estabelecida pela Assembleia Geral (Resolução GA 57 (I) (1946)) para fornecer assistência de emergência a crianças em países
devastados pela guerra após a Segunda Guerra Mundial. Por GA res. 417 (V) (1950), a Assembleia Geral da ONU encarregou-se de atender às
necessidades das crianças nos países em desenvolvimento. A Resolução GA 802 (VIII) (1953) estendeu o mandato do UNICEF indefinidamente, com
ênfase em programas que dão benefícios de longo prazo a crianças em todos os lugares, especialmente aqueles em países em desenvolvimento, e
mudou o nome da organização para Fundo das Nações Unidas para a Infância, mas manteve a sigla UNICEF. O Fundo também continuou a prestar
socorro e reabilitação em emergências. Veja: “Conselho dos Chefes Executivos para Coordenação do Sistema das Nações Unidas”. Disponível em
inglês: <https://www.itu.int/net4/wsis/ungis/Members/1149>.
64) UNICEF, “Sobre a UNICEF”. Disponível em inglês: <https://www.unicef.org/about/who/index_history.html>.
65) UNICEF, O Plano Estratégico do UNICEF 2018-2021: Resumo Executivo, janeiro de 2018. Disponível em inglês: <https://www.unicef.org/media/48126/
file/UNICEF_Strategic_Plan_2018-2021-ENG.pdf>.
53
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
crianças, em coordenação com governos, comunidades locais e outras organizações de ajuda em países
em desenvolvimento.
Em 1961, a FAO propôs a criação de um programa multilateral de ajuda alimentar experimental. Sete
meses depois, a FAO e a Assembleia Geral da ONU aprovaram resoluções paralelas para estabelecer o PMA
em uma base experimental de três anos. Em 1965, a resolução 1714 (XVI) da Assembleia Geral renovou
o PMA de forma contínua "enquanto os alimentos multilaterais forem considerados viáveis e desejáveis66”.
Em dezembro de 1994, o órgão dirigente do PMA adotou a Declaração sobre a Missão do PMA. A
Declaração sobre a Missão é consistente com o mandato do PMA, reflete o princípio de universalidade e
afirma que o PMA continuará a:
• promover a segurança alimentar mundial de acordo com as recomendações das Nações Unidas
e da FAO.
As principais políticas e estratégias que governam as atividades do PMA são fornecer ajuda
alimentar para:
• melhorar a nutrição e a qualidade de vida das pessoas mais vulneráveis em momentos críticos
de suas vidas; e
O Plano Estratégico do PMA para 2014-2017 fornece a estrutura para suas operações e estabelece
quatro objetivos:
• Reduzir o risco e permitir que as pessoas, comunidades e países atendam às suas próprias
necessidades alimentares e nutricionais; e
66) Resolução 1714 (XVI) da Assembleia Geral (19 de dezembro de 1961). Disponível em inglês: <https://digitallibrary.un.org/record/204613?ln=en>.
67) PMA, ACNUR, Desnutrição em Situações de Refugiados Prolongados: Uma Estratégia Global, 2006. Disponível em inglês: <https://www.unhcr.
org/45fe62642.pdf>.
68) PMA, “Plano Estratégico 2014-2017”, 2013. Disponível em inglês: <https://docs.wfp.org/api/documents/WFP-0000037842/download/>.
54
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
A OMS é a autoridade diretora e coordenadora da saúde internacional no sistema das Nações Unidas.
Seus especialistas produzem diretrizes e padrões de saúde, promovem a pesquisa em saúde e ajudam
os países a abordarem questões de saúde pública; também apoiam e promovem a pesquisa em saúde.
A OMS agrupa 194 Estados Membros em seis regiões, cada uma com um escritório regional69. Por meio
da OMS, os governos enfrentam em conjunto os problemas globais de saúde e melhoram o bem-estar
das pessoas. Uma das maiores conquistas da organização foi a erradicação global da varíola em 1979.
• “fornecer liderança em questões críticas para a saúde e engajar em parcerias onde uma ação
conjunta é necessária;
• Sistemas de saúde;
• Doenças transmissíveis;
• Serviços corporativos71.
55
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
• Migração e desenvolvimento;
• Facilitação da migração;
• Regulação da migração; e
• Migração forçada.
Em 1919, Eglantyne Jebb estabeleceu o Fundo Save the Children para alimentar crianças que
passavam fome após a Primeira Guerra Mundial. A Liga das Nações adotou a Carta de Jebb sobre os
direitos da criança em 1924. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Save the Children trabalhou para
proteger as crianças diretamente afetadas pelo conflito. A organização continua operando em regiões
afetadas por conflitos em todo o mundo. O Save the Children se esforça para criar um mundo no qual
todas as crianças tenham direito à sobrevivência, proteção, desenvolvimento e participação. Sua missão é
inspirar avanços na forma como o mundo trata as crianças e alcançar mudanças imediatas e duradouras
em suas vidas74.
Save the Children é co-líder do cluster com o UNICEF do Global Education Cluster (ver Lição 4)75. Em
2019, as receitas combinadas da Save the Children totalizaram US$ 2,2 bilhões e atingiram diretamente
mais de 38,7 milhões de crianças em 117 países76.
56
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
Conforme descrito em seu regulamento, os princípios do MSF não se alinham exatamente com os
princípios humanitários:
O MSF oferece assistência médica humanitária a vítimas de conflitos, desastres naturais, epidemias
e exclusão de assistência médica. Sua atuação inclui assistência médica, realização de cirurgias,
combate a epidemias, reabilitação e administração de hospitais e clínicas, realização de campanhas
de vacinação, operação de centros de nutrição, prestação de cuidados de saúde mental, prestação de
ajuda humanitária, instalação de sistemas de saneamento, fornecimento de água potável e distribuição
de alívio para ajudar a sobrevivência79.
Fundada em 1972, o SCHR é uma aliança voluntária de nove das principais organizações humanitárias
globais81. Essas organizações compartilham um objetivo e trabalham juntas para melhorar a qualidade,
eficácia, responsabilidade e impacto dos esforços de ajuda para as pessoas afetadas por uma crise.
O grupo informal foi estabelecido para melhorar a coordenação a nível internacional. O SCHR foi o
patrocinador original do Código de Conduta de 1998 para o Movimento Internacional da Cruz Vermelha
e do Crescente Vermelho e ONGs de Ajuda em Desastres, que definiu padrões éticos para organizações
envolvidas no trabalho humanitário. A SCHR e a InterAction lançaram o Projeto Sphere em 1997 para
definir padrões mínimos em áreas centrais de assistência humanitária. O SCHR é uma das organizações
convidadas de forma permanente para o IASC.
57
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
InterAction
InterAction é uma organização formada por uma aliança de 180 ONGs em todo o mundo, com sede
em Washington, DC83. A organização trabalha com populações pobres e vulneráveis em todo o mundo
e visa a tornar o mundo um lugar mais pacífico, justo e próspero. A InterAction também é convidada
permanente do IASC.
O Banco Mundial85
Estabelecido em 1944, o Banco Mundial é uma fonte vital de assistência técnica e financeira para
os países em desenvolvimento de todo o mundo. Não é um banco tradicional, mas sim uma parceria
única para reduzir a pobreza e apoiar o desenvolvimento. O Grupo Banco Mundial é composto por cinco
instituições administrados por países membros. Está envolvida na reconstrução e reabilitação após
desastres86. O Banco Mundial é um dos convidados permanentes do IASC.
O Grupo Banco Mundial definiu dois objetivos para o mundo alcançar até 2030:
• Acabar com a pobreza extrema diminuindo a porcentagem de pessoas que vivem com menos de
US $ 1,90 por dia para não mais de 3 por cento; e
83) InterAction: A United Voice for Global Change, “Pagina inicial”. Disponível em inglês: <https://www.interaction.org/>.
84) Organizações Voluntárias de Cooperação em Emergências, “Pagina inicial”. Disponível em inglês: <http://www.ngovoice.org/>.
85) Banco Mundial no Brasil, “Página inicial”. Disponível de: <https://www.worldbank.org/pt/country/brazil>.
86) Banco Mundial, “Página inicial”.
58
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
59
LIÇÃO 2 | Atores em operações de ajuda humanitária e seus mandatos
Respostas »
1. B
2. D
3. C
4. B. Falsa
5. D
6. D
7. B
8. D
9. D
10.B
60
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
LIÇÃO
Os militares e os
3 trabalhadores humanitários
Seção 3.1 O que é uma Cooperação Civil-Militar? • Compreender as diferenças entre CIMIC e UN-
61
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL) enviou uma equipe da Reserva do Comandante da Força para avaliar a
magnitude da explosão de 4 de agosto de 2020 no porto de Beirute. 5 de agosto de 2020. Foto da ONU por Pasqual Gorriz.
Introdução1
62
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
A Cooperação Civil-Militar (do inglês, Civil-Military Cooperation — CIMIC) há muito faz parte das
operações militares. Alguns países a consideram como “assuntos civis” ou usam outros termos para
descrever o relacionamento entre militares e civis2.
Muitos comandantes militares viram o socorro ao desastre como uma oportunidade de utilizar suas
unidades de engenharia e logística e equipamentos para fins civis-militares, de forma a possibilitar a
reconstrução e a reabilitação dos locais atingidos. Embora parte de seu compromisso viesse de um
esforço para ajudar a população afetada, outra parte se concentrou em como obter o consentimento
da população para a missão militar em andamento na esperança (legítima) de que essas atividades
melhorassem a segurança e o ambiente de tropas implantadas.
É importante observar que as ações da CIMIC são realizadas “em apoio à missão”. Essas ações
são condicionais e podem cessar sempre que as partes no conflito ou parte da população deixarem
de cooperar. Os atores humanitários não devem esquecer que as unidades militares se movem e os
projetos podem não estar em andamento4.
2) A terminologia do Departamento de Defesa dos EUA se refere a assuntos civis como atividades que “(1) melhoram o relacionamento entre as forças
militares e as autoridades civis em áreas onde as forças militares estão presentes; e (2) envolvem a aplicação de habilidades funcionais especializadas
em assuntos civis, em áreas normalmente de responsabilidade do governo civil, para melhorar a condução de operações civis-militares". Veja também
assuntos civis; operações civis-militares. (JP 3-57).
3) OTAN, Doutrina de Cooperação Civil-Militar da OTAN, junho de 2003. Disponível em inglês: <http://www.nato.int/ims/docu/ajp-9.pdf>.
4) Informações adicionais sobre a CIMIC estão disponíveis na Doutrina de Cooperação Civil-Militar da OTAN (do inglês, Civil-Military Co-operation
Doctrine). Outras organizações militares (EUA, UE, ONU, etc.) utilizam definições diferentes para a CIMIC.
63
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
2. Estabelecer um mecanismo de
intercâmbio de informações e ações
humanitárias entre as forças militares
e outros grupos armados.
4. Apoiar o desenvolvimento e a
disseminação de orientação específica As forças de paz que servem na Missão de Estabilização
de determinado contexto para Integrada Multidimensional da ONU no Mali (MINUSMA)
realizaram atividades de cooperação civil-militar com a
a interação entre a comunidade
comunidade local em Gao. 12 de julho de 2017. Foto da
humanitária e os militares. ONU por Harandane Dicko.
64
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
65
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
Implantação em tempo
Peacetime Deployment Peacekeeping
Manutenção da paz Peace Enforcement
Imposição da paz Combat
Combate
de paz
Cooperação
Cooperation Cooperação
Cooperation Coexistence
Coexistência
Co-Location
Co-locação Liaison Exchange
Intercâmbio de Ligação LiaisondeVisits
Visitas ligação Interlocutor
Interlocutor
LO
MIL LO
LO UN-CMCoord
MIL LO
MIL MIL
Compartilhamento de informações
Sempre que possível, deve haver a troca de informações entre trabalhadores humanitários e
militares. O tipo de troca de informações muitas vezes dependerá do contexto existente, desde um
contexto puramente humanitário (por exemplo, um desastre natural) a uma situação de conflito em
que algumas informações podem ser confidenciais ou apenas parcialmente liberadas a terceiros (por
exemplo, trabalhadores humanitários). Com os militares, o compartilhamento de informações é realizado
principalmente com base na “necessidade de saber”, mas poderia ser mais apropriado utilizar uma
abordagem baseada numa “necessidade de compartilhar”. Devido ao seu impacto direto ou indireto nas
populações afetadas e nos trabalhadores humanitários, a maioria aceita que as seguintes informações
devam ser compartilhadas:
• Informações de segurança (por exemplo, sobre áreas perigosas onde atividades armadas
possam ameaçar atividades humanitárias, áreas infestadas de minas identificadas, etc.).
• Locais humanitários (por exemplo, para evitar ações militares nesses locais tanto quanto possível
e para que os militares planejem atividades de proteção específicas para essa área, etc.);
• Atividades humanitárias (por exemplo, para não perturbar ou dificultar as ações humanitárias
em andamento);
• Atividades de ação contraminas (por exemplo, áreas onde essas atividades ocorrem e seu
impacto potencial nas ações humanitárias em andamento);
• Movimentos populacionais (por exemplo, quando e onde ocorrerão e seu impacto nas atividades
militares potenciais, planejadas ou em andamento);
66
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
• Atividades de socorro aos militares (por exemplo, áreas que os trabalhadores humanitários
devem evitar para não serem confundidos com os participantes dessas atividades); e
• Informações pós-ataque (por exemplo, onde restos de munição usadas durante ataques
recentes podem estar localizados, etc.).
Deve ficar claro que o ramo de inteligência de uma unidade militar eventualmente receberá todas
as informações fornecidas aos militares. Os oficiais da CIMIC sabem que a coleta de informações pode
prejudicar o relacionamento entre aqueles que originalmente receberam essas informações e a fonte.
Os trabalhadores humanitários devem reconhecer que podem receber informações contendo dados
específicos e detalhados para identificar um vazamento que poderia comprometer contatos futuros
entre o ator humanitário e a fonte. O mesmo se aplica aos oficiais da CIMIC quando conversam com
atores locais no terreno.
“A própria natureza do mundo do século [vinte e um] ... torna a cooperação entre o
governo e as ONGs não apenas altamente desejável, mas absolutamente essencial e
necessária. Mais do que nunca, governos e organizações intergovernamentais devem
trabalhar em parceria com ONGs para que problemas urgentes sejam resolvidos de
forma eficaz. … Falo sério quanto a garantir que tenhamos o melhor relacionamento
possível com as ONGs, que são um multiplicador de força para nós, uma parte tão
importante de nossa equipe de combate7.”
7) Colin Powell, “Comentários à Conferência Nacional de Política Externa para Líderes de Organizações Não Governamentais”, 26 de outubro de 2001.
Disponível em inglês: <https://2001-2009.state.gov/secretary/former/powell/remarks/2001/5762.htm>.
8) Kristiina Rintakoski e Mikko Autti, eds., “Publicação do Seminário sobre Abordagem Abrangente: Tendências, Desafios e Possibilidades para Cooperação na
Prevenção e Gestão de Crises”, Seminário de Abordagem Abrangente, Seminário 17, Helsinque, Finlândia, junho de 2008. Disponível em inglês: <https://
www.defmin.fi/files/1316/Comprehensive_Approach_-_Trends_Challenges_and_Possibilities_for_Cooperation_in_Crisis_Prevention_and_Management.pdf>.
67
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
As organizações humanitárias estão dispostas a entrar nessa CA? Os esforços militares em colaborar
com as ONGs podem não ser realistas, mesmo quando os militares entendem as objeções das ONGs em
se tornarem parte de um conflito, especialmente se o objetivo da colaboração for complementar o “poder
brando” da ONG com o “poder duro” dos militares. O desenvolvimento de uma visão compartilhada e
uma estrutura estratégica comum é a principal preocupação ao responder a uma crise. Colocar os
agentes humanitários junto com os militares e outros atores (por exemplo, as partes em um conflito em
andamento) em torno da mesma mesa para discutir uma CA pode ser demais para muitas agências. As
partes devem compreender o modus operandi umas das outras, construir uma cultura de confiança e
envolver as autoridades locais desde o início, dando-lhes a propriedade da CA, antes que as organizações
humanitárias estejam dispostas a aderir de alguma forma a essa abordagem.
9) Julian Lindley-French, "Operacionalizando a Abordagem Abrangente", Atlantic Council Issue Brief, 1. Disponível em inglês: <https://www.files.ethz.
ch/isn/117263/ComprehensiveApproach_SAGIssueBrief.PDF>.
68
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
Os trabalhadores humanitários também devem considerar as relações entre os atores civis nacionais
e internacionais, o que pode ajudar a determinar onde reside o poder de tomada de decisão.
• Imparcialidade; e
“Os mantenedores da paz da ONU devem ser imparciais em suas negociações com
as partes em conflito, mas não neutros na execução de seu mandato, ou seja, eles
devem buscar ativamente a implementação de seu mandato, mesmo que isso vá
contra os interesses de uma ou mais partes11.”
10) OCHA, Manual de Campo UN-CMCoord (v2.0), 97. Disponível em inglês: <https://www.unocha.org/publication/un-cmcoord-field-handbook>.
11) UC Jha e K. Ratnabali, A Lei dos Conflitos Armados: Uma Introdução. Delhi, Índia, Vij Books India Pvt Ltd, 2017.
69
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
Imparcialidade — “… se a força é usada contra uma parte em particular, deve ser apenas por
causa do que essa parte está fazendo (ou não) em relação ao mandato, e não por quem ela é.
Imparcialidade não deve ser confundida com neutralidade. Fazer isso limita a
flexibilidade e o potencial para exercer a iniciativa; também promove a passividade
e, consequentemente, limita o desenvolvimento da missão. A imparcialidade, talvez
melhor descrita como imparcialidade baseada em princípios, requer um certo grau de
[julgamento] contra um conjunto de princípios, ou o mandato, ou ambos, enquanto a
noção de neutralidade não. A condução das [Operações de Apoio à Paz (PSOs)] será
imparcial para as partes, mas nunca neutra na execução da missão12.”
As forças de paz da Zâmbia atuam na Missão de Estabilização Integrada Multidimensional das Nações Unidas na República Centro-
Africana (MINUSCA) no nordeste da República Centro-Africana desde junho de 2019. Aqui estão quatro soldados de paz da Zâmbia
conversando com a população local durante uma patrulha na área para proteger os civis. 5 de fevereiro de 2020. Foto da ONU por
Hervé Serefio.
12) OTAN, Operações de Apoio à Paz AJP-3.4.1, julho de 2001, 3-2. Disponível em inglês: <https://info.publicintelligence.net/NATO-PeaceSupport.pdf>.
70
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
As regras de engajamento (do inglês, Rules of Engagement — ROEs) definem como o pessoal
do PSF deve se comportar e reagir. Elas “são diretrizes que delineiam as circunstâncias e limitações
sob as quais a força pode ser usada. As ROEs refletirão restrições legais e políticas, mas não podem
limitar o exercício de autodefesa ou inibir a capacidade de um comandante de tomar todas as medidas
necessárias para proteger sua força13”.
• Último recurso;
• Complementaridade;
• Sem armamentos (os militares devem vir desarmados e usando uniforme militar nacional e
respeitar o código de conduta humanitária);
• Distinção (deve haver uma distinção clara entre as unidades de MCDA e outras unidades
militares envolvidas em outras missões);
• Controle Civil17.
71
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
O IASC endossou essas diretrizes não vinculativas em 2003. Em 2006, foi lançada uma versão
revisada que orientava o uso de FMA — incondicional e baseado apenas em necessidades — em
emergências complexas. O documento discute o impacto de FMA no ambiente operacional.
“[O] Estado afetado tem o direito de recusar o uso dos UN MCDA ou de outros
recursos militares e de defesa civil pelas agências humanitárias da ONU, conforme o
caso19.”
Como afirmado anteriormente, o Estado afetado é responsável pela segurança dos trabalhadores
humanitários. Isso também serve para:
Em princípio, as forças militares (exceto UN MCDA) que realizam missões de assistência não
recebem proteção especial, nem estão autorizadas a exibir os emblemas das agências humanitárias
da ONU que apoiam. A implantação de MCDA normalmente estará sujeita a um Acordo de Estatuto de
Forças (do inglês, Status of Forces Agreement — SOFA), que detalha a estrutura legal e o status do
pessoal de MCDA envolvido na ação/missão.
Os princípios-chave das Diretrizes de MCDA para Emergências Complexas são os mesmos das
Diretrizes de Oslo, mas com várias considerações adicionais, tais como21:
• Compartilhamento de informações;
18) IASC, Diretrizes Civis-Militares e Referência para Emergências Complexas, 2008, 49. Disponível em inglês: <https://reliefweb.int/report/world/civil-
military-guidelines-reference-complex-emergencies>.
19) IASC, Diretrizes Civis-Militares e Referência para Emergências Complexas, 61.
20) IASC, Diretrizes Civis-Militares e Referência para Emergências Complexas, 61.
21) Consulte o Manual de Campo UN-CMCoord (v2.0).
72
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
• Requisito de ligação;
O documento do IASC “Uso de escoltas militares ou armadas para comboios humanitários” fornece
diretrizes adicionais não vinculativas que os profissionais devem consultar quando envolvidos em tais
operações25. Se e como as escoltas armadas ou militares são realizadas derivará do seu mandato e essa
informação será traduzida em ROEs26.
O uso de escolta armada é uma ação militar complexa que deve ser analisada em todos os seus
detalhes para identificar potenciais danos e consequências. Os profissionais devem reconhecer as
diferenças entre os militares nacionais e internacionais (tanto da ONU quanto de terceiros). Eles devem
se perguntar se a proteção militar ou armada para comboios humanitários é o curso de ação apropriado.
Existem outras alternativas ou essa é a última opção27? Como a associação com atores militares
comprometeria a imparcialidade das organizações humanitárias? Quais são as consequências de não se
usar escoltas armadas ou militares para comboios humanitários? Em muitos casos, o uso de escoltas
armadas tem consequências negativas, conforme mostrado nas diretrizes:
• “A cooperação com uma força militar externa, incluindo a cooperação com uma força com
mandato da ONU, pode levar os atores locais a associarem as organizações humanitárias aos
objetivos políticos e militares dessa força.
73
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
• A cooperação com escoltas armadas ou militares que não têm capacidade para prevalecer em
caso de ataque e manter as rotas abertas para novos comboios pode tornar um comboio ou rota
de comboio mais vulnerável do que sem escolta.
• A dependência do apoio de uma força militar ou armada, estrangeira ou local, muitas vezes
torna impossível operar sem essa força.
De acordo com as diretrizes, existem seis princípios operacionais gerais em relação ao uso de todos
os meios militares em apoio às operações humanitárias:
• “As decisões de aceitar recursos militares devem ser tomadas por organizações humanitárias,
não por autoridades políticas, e com base apenas em critérios humanitários.
• Os recursos militares devem ser solicitados apenas onde não houver alternativa civil comparável
e apenas o uso de recursos militares pode atender a uma necessidade humanitária crítica. O
recurso militar deve, portanto, ser único em natureza ou oportunidade de desdobramento, e
seu uso deve ser o último recurso.
• Uma operação humanitária com recursos militares deve manter sua natureza e caráter civil.
A operação deve permanecer sob a autoridade e controle geral da organização humanitária
responsável por aquela operação, quaisquer que sejam os arranjos de comando específicos para
o próprio recurso militar. Na medida do possível, o recurso militar deve operar desarmado e ter
aparência civil.
• Os países que fornecem pessoal militar para apoiar as operações humanitárias devem garantir
que respeitam o código de conduta e os princípios da organização humanitária responsável por
esse destacamento.
• Qualquer uso de meios militares deve assegurar que a operação humanitária mantenha seu
caráter internacional e multilateral29.”
A questão da sustentabilidade é outro fator a ser considerado ao usar comboios armados. O que
acontece se o elemento de segurança não estiver disponível ou a situação de segurança se deteriorar
a tal ponto que a suspensão — ou mesmo a retirada — sejam as únicas soluções possíveis? A pressão
política para manter os comboios em condições de risco inaceitavelmente alto raramente é uma maneira
eficaz de atender às necessidades humanitárias e é mais frequentemente vista como uma desculpa para
não abordar as causas profundas de uma crise humanitária.
A comunidade humanitária deve realizar o processo de negociação como uma ação coletiva, e isso
deve resultar em um acordo que detalha as responsabilidades e o modo de operação de todas as partes.
28) IASC, “Uso de escoltas militares ou armadas para comboios humanitários”, 82.
29) IASC, “Uso de escoltas militares ou armadas para comboios humanitários”, 82.
74
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
• Assistência direta;
• Assistência indireta; e
• Suporte de infraestrutura.
O tipo de conduta que realizam depende principalmente da situação no terreno para definir qual é a
mais adequada para apoiar a ação humanitária. A tabela a seguir mostra a relação (o que pode e o que
não pode ser feito) entre os tipos de assistência e as diferentes missões militares possíveis.
Availability
A disponibilidade and impartialitydas
e a imparcialidade of forces
forçasdecreases
diminuem
Missão de militares
Mission of military Peace & Security
Atividades de paz e Activities
segurança
Peaceful
Pacífico Peacekeeping
Manutenção da Imposição da
Combat
Combate
Humanitarian Tasks Peace Enforcement
Tarefas Humanitárias paz paz
Direct
Direto Maybe
Talvez Maybe
Talvez Não
No Não
No
Indireto
Indirect Sim
Yes Talvez
Maybe Talvez
Maybe Não
No
Infrastructure
Suporte de
Sim
Yes Sim
Yes Talvez
Maybe Talvez
Maybe
infraestrutura
Support
Visibility ofda
A visibilidade task decreases
tarefa diminui Manual de Campo UN-CMCoord (v1.0), Seção OCHA CMCoord, 104. Disponível em
inglês: <https://reliefweb.int/report/world/un-cmcoord-field-handbook-v10> .
75
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
• “uma capacidade específica ou requisito de meio que não pode ser atendido com recursos civis
disponíveis foi identificado” (por exemplo, eles são os únicos que podem fornecer helicópteros
para acessar áreas remotas afetadas para fornecer socorro) 34;
• “os recursos militares e de defesa civil estrangeiros ajudariam a cumprir o requisito e forneceriam
vantagens exclusivas em termos de capacidade, disponibilidade e oportunidade” (por exemplo,
salvam vidas e são fornecidos em curtíssimo prazo35); e
A tarefa deve permanecer de caráter civil e sob autoridade civil, mas os comandantes militares
devem permanecer no comando de seus meios desdobrados. Os trabalhadores humanitários não devem
confundir a opção de último recurso com:
Os militares estrangeiros devem ser envolvidos pelo menor tempo possível. Sempre que uma
alternativa civil estiver disponível, ela deve ser utilizada para a tarefa. Visto que o fornecimento de FMA
é geralmente gratuito, algumas agências e organizações tendem a usar esses ativos pelo maior tempo
76
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
possível. Nesse caso, o país corre o risco de se tornar muito dependente de militares estrangeiros para
a execução de uma ação humanitária. Na maioria dos casos, as autoridades nacionais do país afetado
indicam quando os FMAs devem deixar o país.
Os princípios de “não causar danos” também devem prevalecer e nortear a entrega de refeições
prontas (mais conhecidas como rações) como alternativa à alimentação, e também o uso de hospitais
militares de campanha para o tratamento de civis feridos. Rações são porções alimentares individuais,
mas podem não ser adequadas para a distribuição em resposta a um desastre. Seu conteúdo
e embalagem podem ser diferentes dependendo da cultura do exército estrangeiro fornecedor, e o
contexto da área e da população afetada devem ser levados em consideração ao utilizá-las. A culinária
local os alimentos a que a população afetada está acostumada devem ser levados em consideração.
A maioria das populações afetadas prepara suas refeições para uma família, e não individualmente. O
conteúdo da ração pode não corresponder aos gostos locais. Em muitos casos, a embalagem da ração
não traz as instruções para preparação no idioma local. Além disso, esquentar as rações pode ser
perigoso se as instruções não forem seguidas de forma apropriada ou se crianças tentarem fazê-lo de
forma inadequada.
77
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
Militares da Jamaica ajudam a construir unidades de armazenamento para o Programa Mundial de Alimentos no porto de Marsh
Harbour depois que o furacão Dorian, de categoria cinco, varreu as ilhas Bahamas de Abaco e Grand Bahama. 12 de setembro de
2019. Foto da ONU por OCHA/Mark Garten.
• “o acesso físico que as agências internacionais de ajuda e seus parceiros têm às populações
necessitadas;
• a capacidade das agências assistenciais tem de aderir aos princípios fundamentais da ação
humanitária;
• a capacidade das próprias populações de "ter acesso à assistência e proteção necessárias para
salvar vidas39”.
38) Instituto de Desenvolvimento Ultramarino do Grupo de Política Humanitária “Espaço Humanitário: Resumo da Reunião de Conceitos, Definições e
Usos”, 20 de outubro de 2010, 1. Disponível em inglês: <https://reliefweb.int/report/world/humanitarian-space-concept-definitions-and-uses>.
39) Instituto de Desenvolvimento Ultramarino do Grupo de Política Humanitária “Espaço Humanitário: Resumo da Reunião de Conceitos, Definições e
Usos”, 1.
78
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
Sarah Collinson e Samir Elhawary, pesquisadores do Overseas Development Institute (ODI), criticam
a forma como as principais agências internacionais usam o termo “espaço humanitário”. De acordo
com Collinson e Elhawary, as agências internacionais na verdade o entendem por espaço de agência
— espaço no qual a ONU e as principais ONGs podem operar como quiserem — desconsiderando que
a situação pode ser muito diferente para outros atores que fazem um trabalho humanitário ou para a
população local em risco41.
Alguns argumentam que o espaço humanitário deve ser visto de quatro ângulos diferentes:
40) Don Hubert e Cynthia Brassard-Boudreau, “Encolher o espaço humanitário? Tendências e Perspectivas sobre Segurança e Acesso”, The Journal of
Humanitarian Assistance, 24 de novembro de 2010.
41) IRIN, “O mito e a mística do espaço humanitário”, 2 de maio de 2012. Disponível em inglês: <http://www.irinnews.org/news/2012/05/02/myth-and-
mystique-humanitarian-space>.
42) Congresso Humanitário de Viena, “O que é Espaço Humanitário?”. Disponível em inglês: <http://www.humanitariancongress.at/humanitarian-space>.
43) Congresso Humanitário de Viena, “O que é Espaço Humanitário?”.
44) Congresso Humanitário de Viena, “O que é Espaço Humanitário?”.
79
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
Para fins práticos (e reconhecendo sua incompletude), este curso define o espaço humanitário como:
80
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
— tudo no mesmo dia, tudo dentro de três quarteirões da cidade. Será o que
chamamos de ‘guerra de três blocos47’.”
A visão de Krulak era realista ou não? Alguns teatros se parecem com partes do que Krulak
descreveu. Ao analisar sua ideia de “guerra em três blocos”, podemos visualizar os desafios que as
ações militares causarão quando os militares precisarem considerar o espaço e a ação humanitária.
Garantir o espaço humanitário será um quebra-cabeça cada vez mais desafiador para os comandantes
militares. Não é uma desculpa, mas os agentes humanitários devem estar cientes desses desafios
e reconhecer que essas situações táticas no terreno podem impossibilitar a garantia de um espaço
humanitário global. Além disso, essas situações táticas tornarão muito difícil para a população civil e as
partes beligerantes distinguir as atividades militares (isto é, comboios) para fins humanitários daquelas
desdobradas para operações de combate ofensivas.
47) Joseph J. Collins, “Afeganistão: Vencer uma Guerra de Três Blocos”, The Journal of Conflict Studies Vol. 24, nº 2 (2004). Disponível em: <https://
journals.lib.unb.ca/index.php/jcs/article/view/204/361>.
81
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
82
LIÇÃO 3 | Os militares e os trabalhadores humanitários
7. Qual afirmação sobre os diferentes tipos 9. Qual dos seguintes NÃO é um dos
de assistência é FALSA? razões pelas quais os MREs não são
considerados adequado para distribuição
A. A assistência direta é a distribuição de bens
durante desastres Porque _____.
e serviços pessoalmente.
A. seu conteúdo e embalagem podem ser
B. Embora os militares possam considerar a
diferentes dependendo da cultura do
assistência direta com o tipo de assistência
fornecedor exército estrangeiro
mais gratificante para a população afetada,
B. eles são muito caros
ela também acarreta alguns riscos.
C. o conteúdo de MR Es pode não corresponder
C. A assistência direta é o melhor tipo de
com gostos locais
assistência para fornecer em resposta a
um desastre porque não tem efeitos D. em muitos casos, as instruções para
Respostas »
1. B
2. B
3. A
4. D
5. C
6. D
7. C
8. C
9. B
10. B
83
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
LIÇÃO
Mecanismo de Coordenação
4 Humanitária
Seção 4.1 O que é “Coordenação”? – Uma • Compreender e explicar o que é coordenação, bem
atividade desafiadora como os desafios à coordenação.
84
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Depois de permanecerem por vários anos na Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, local de proteção de civis (do
inglês, protection of civilians - POC) em Juba, 13 deslocados internos, a maioria formada por mulheres e crianças, retornaram
voluntariamente aos parentes que esperavam em sua cidade natal, Malakal. 25 de fevereiro de 2020. Foto da ONU por Isaac Billy.
Introdução
85
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
negociação (ou “soft skills”) são alguns dos aspectos mais bem aprendidos através da prática. Esta lição
concentra-se nos atores e órgãos descritos anteriormente e como eles estão envolvidos na coordenação
de uma operação. Esta lição também examina as missões integradas da ONU e o financiamento
humanitário e apresenta os tópicos discutidos na Lição 6.
A ausência de coordenação muitas vezes pode levar a uma assistência inadequada à população
afetada; uso ineficiente de recursos; duplicação de esforços; demora na identificação de lacunas e
gargalos; reações lentas a mudanças de condições; e frustração crescente entre trabalhadores
humanitários, autoridades e sobreviventes. Em seu livro L’échec humanitaire : le cas haïtien, o
cientista político Frédéric Thomas descreveu o terremoto de 2010 no Haiti e os fatores que dificultaram
a coordenação na resposta ao desastre, que incluíam o interesse pessoal de certas organizações de
ajuda em manter seus programas e a presença de demasiadas agências internacionais no terreno3.
Outro desafio para a coordenação foi o complexo sistema de clusters implementado, relativamente
isolado da realidade haitiana (ou seja, estrutura, idioma, cultura etc.). O fato de algumas agências de
ajuda terem orçamentos maiores do que um ministério do governo equivalente mostra a discrepância
entre os recursos disponíveis para organizações de ajuda em comparação com os disponíveis para as
autoridades nacionais.
1) Thomas W. Malone, “Para uma teoria interdisciplinar da coordenação”. DSpace@MIT, 1991, 37-45. Disponível em inglês: <https://dspace.mit.edu/
handle/1721.1/2356> .
2) OCHA, Manual de Campo UNDAC, 6ª ed., 2013. Disponível em inglês: <https://www.unocha.org/sites/unocha/files/dms/Documents/UNDAC%20
Handbook_interactive.pdf>.
3) Frédéric Thomas, Haiti, L’échec humanitaire : le cas haïtien, Bruxelles, Bélgica, Entraide & Fraternite, 2. Disponível em inglês: <https://www.entraide.
be/IMG/pdf/e_f_thomas_ecran.pdf> .
4) A lista a seguir foi extraída diretamente do manual de campo do UNDAC.
86
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
• Falta de recursos para dedicar à coordenação ou coordenação, vistos como de baixa prioridade
devido ao tempo e recursos limitados;
• Autoridade limitada de tomada de decisão ‘baseada em campo’, de modo que nenhuma decisão
possa ser tomada sem a aprovação da sede, resultando em atrasos ou anulação de um acordo;
• Rotatividade de pessoal onde o novo pessoal não tem compromisso com a coordenação ou
desconhece os acordos de coordenação;
• “um processo de coordenação que não está funcionando bem, tem objetivos pouco claros e é
visto como perda de tempo sem benefícios óbvios para os participantes5.”
mais a palavra falada do que os relatórios escritos, o Social (ECOSOC). Asha Mohammed, Secretária Geral da
Sociedade da Cruz Vermelha do Quênia, fala durante a
que geralmente leva a longas discussões sem levar a
reunião. 11 de junho de 2020. Foto da ONU por Loey Filipe.
uma declaração ou conclusão claras.
87
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Nutrição
Telecomunicações UNICEF
de Emergência
PNUD
Prevenção
tr u ç ã o
Educação Coordenação
UNICEF & de Ajuda Proteção
Save the Humanitária e ACNUR
Children de Emergência
Rec
o ns
Abrigo de
Recuperação
Emergência
Antecipada
ACNUR &
Miti
PNUD
IFRC
o
açã
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Gestão e
ec
Saneamento,
Cooperação
Água e
R
ACNUR & OIM
Pr Higiene
ep UNICEF
ar ta
açã p os
o Re s
D esastre
6) Andrea de Guttry, Marco Gestri e Gabriella Venturini, eds., International Disaster Response Law, Haia, Holanda, TMC Asser Press, 2012, 502.
7) Para fins de ensino, a Save the Children foi designada como co-líder junto com a UNICEF. O papel especial da IFRC como organizador em vez de líder do
agrupamento precisa ser entendido, pois a IFRC “não pode aceitar responsabilidade além daquelas definidas em suas constituições e políticas. Portanto,
não pode se comprometer a ser provedora de último recurso ou se responsabilizar pelo sistema da ONU, incluindo o ERC e o RC/HC.” “O ACNUR
é a agência líder do cluster em nível global. No entanto, no nível do país, em situações de desastre ou emergências complexas sem deslocamento
significativo, as três agências mandatadas para proteção (ACNUR, UNICEF e ACNUDH) consultarão de perto e, sob a liderança geral do CR ou HC,
decidirão qual agência entre as três assumirá o papel de agência líder do cluster para proteção no país.” Veja: IASC, Introduction to Humanitarian
Action: A Brief Guide for Resident Coordinators, outubro de 2015, 15. Disponível em inglês: <https://interagencystandingcommittee.org/system/files/
rc_guide_31_october_2015_webversion_final.pdf>.
88
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Os clusters globais servem como um recurso que pode aconselhar padrões globais, políticas, boas
práticas, suporte operacional e treinamento. Diferentes organizações podem receber responsabilidades
em nível nacional e global. O mesmo vale para o nível de país e o nível de campo, dependendo
dos atores especializados no terreno e/ou parceiros de implementação. O líder do cluster em cada
nível é responsável por coordenar todas as atividades relacionadas ao setor dentro de sua área de
responsabilidade em estreita cooperação com o nível nacional de autoridade correspondente. Ao fazê-
lo, são distribuídos todos os atores igualmente por toda a área afetada, em vez de se concentrarem
apenas nas áreas mais visíveis ou atraentes.
O grupo global de coordenação de clusters se reúne regularmente em Genebra e Roma para apoiar
a coordenação de clusters e inter-clusters em nível de país. O gráfico a seguir mostra os clusters globais
e suas agências líderes de cluster:
Agências em alguns setores ou áreas de atividade podem diferenciar situações como relacionadas
a conflitos ou relacionadas a desastres. Nesses casos, existem duas agências diferentes que podem ser
consideradas líderes do cluster.
Algumas áreas globais podem ser subdivididas em subáreas menores, como mostra a tabela abaixo,
que descreve o grupo de proteção liderado pelo ACNUR:
89
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
A Equipe Humanitária do País (do inglês, Humanitarian Country Team — HCT) decide se deve
solicitar a ativação do sistema de cluster se uma necessidade específica de resposta a emergências não
for atendida, causando uma lacuna de coordenação. O HCT fará então uma proposta ao ERC e o IASC
discutirá a proposta. A decisão de ativar um ou mais clusters será tomada dentro de 24 horas após o
ERC ter transmitido a solicitação inicial (proposta) ao líder global de cluster para aprovação.
Existe uma situação única em relação aos refugiados em que o ACNUR é mandatado para liderar a
resposta aos refugiados, incluindo a coordenação entre agências, planejamento de contingência, resposta,
mobilização de recursos e busca de soluções duradouras. A nota conjunta ACNUR-OCHA sobre situações
mistas: coordenação na prática foi estabelecida para “situações mistas”, em que refugiados e deslocados
internos recebem assistência8. Ele define os papéis e responsabilidades do representante do ACNUR e do
HC, e a interação prática da coordenação do IASC e os arranjos de coordenação de refugiados do ACNUR.
Isso garante que a coordenação seja simplificada, complementar e mutuamente reforçada.
Apesar das lições aprendidas com o terremoto de 2010 no Haiti e as inundações no Paquistão,
alguns desafios permaneceram em certos aspectos da resposta humanitária internacional. Nesse
sentido, o IASC fez ajustes, que deram origem à Agenda Transformativa (AT). Um dos principais
resultados da AT foi um sistema para classificar desastres como nível 1, 2 ou 3 com base em sua
escala, complexidade, urgência, capacidade e risco de reputação. Os três pilares da AT são liderança,
coordenação e responsabilidade. A agenda foi usada para:
8) ACNUR e OCHA, “Nota conjunta ACNUR — OCHA sobre situações mistas — Coordenação na prática”. Disponível em inglês: <https://www.
humanitarianresponse.info/fr/programme-cycle/space/document/joint-unhcr-ocha-note-mixed-situations-coordination-practice>.
90
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
ou paralelos. A estrutura de coordenação deve permitir uma transição suave para as autoridades e estruturas
nacionais ao longo do tempo, incluindo a transferência de responsabilidades para as autoridades nacionais
e/ou parceiros de desenvolvimento à medida que a situação passa de emergência para recuperação.
O RC lidera a Equipe Nacional da ONU (UNCT), que é composta por todos os chefes das agências da
ONU presentes no país mais a OIM. Em caso de emergência, as agências operacionais não pertencentes
à ONU reforçarão/expandirão o UNCT para se tornar HCT, que então liderará o esforço de ajuda
humanitária sob a liderança do HC. O ERC e o IASC atribuirão o HC9. Para emergências menores (L2), o
RC geralmente se torna o HC. No caso de uma emergência L3, a atribuição do HC normalmente vem de
um grupo especial de pessoas altamente qualificadas.
O HC (ou RC se um HC não tiver sido designado) preside o HCT. O HCT é responsável pela coordenação
estratégica e tomada de decisões de preparação e resposta internacional. É uma equipe, não simplesmente
uma reunião. O HCT consiste em um número limitado de diretores nacionais de organizações operacionalmente
relevantes da ONU e não-ONU (nacionais e internacionais) para permitir a tomada de decisão eficaz; o
CR/HC pode estabelecer um fórum separado para garantir o compartilhamento de informações com a
comunidade humanitária mais ampla10.
membros do UNCT sejam membros do uma reunião com funcionários da ONU e representantes
da equipe nacional no Supercampo da Missão de
HCT. A UNCT e a HCT coexistem; eles Estabilização Integrada Multidimensional das Nações
não substituem uma à outra. O CR (e Unidas no Mali (MINUSMA) em Mopti. 30 de maio de
A importância do HCT deve ser enfatizada. Trabalha em estreita colaboração com os ministérios
relevantes e definirá a estratégia de resposta, incluindo a ativação de clusters e o uso de FMA. Conforme
descrito anteriormente, a análise da situação do HCT pode levar a um pedido através do RC/HC para
a ativação de clusters (adicionais). Caso sejam necessários bens específicos que (ainda) não estejam
disponíveis no mercado civil, o HCT pode propor ao HC a solicitação do uso de FMA, incluindo assistência
militar direta, mas nas condições citadas na Lição 3. O HCT deve transmitir o uso do FMA ao governo
do país afetado, que decidirá sobre sua aceitação e condições. Alguns HCTs também decidiram incluir
representantes dos principais ministérios de assistência.
9) Componentes do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho podem participar do HCT.
10) IASC, Introdução aos Assuntos Humanitários, outubro de 2015, 14. Disponível em inglês: <https://interagencystandingcommittee.org/system/files/
rc_guide_31_october_2015_webversion_final.pdf> .
11) IASC, Introdução aos Assuntos Humanitários, 14.
91
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
No nível de campo e em consulta com o HCT e o ERC, o HC/RC é responsável por designar as
agências líderes de grupos para todos os principais setores de resposta humanitária. O HCT (nível
estratégico) lidera “o trabalho do grupo de coordenação inter-cluster (nível operacional), clusters e outras
estruturas, se estabelecidas12”. Conforme descrito pelo OCHA, “no nível operacional, a coordenação
entre clusters geralmente ocorre dentro da estrutura de um fórum/grupo de coordenação entre clusters
(no nível do coordenador de cluster13)”. O grupo de coordenação inter-cluster serve a dois propósitos:
facilitar a comunicação e atuar como um canal para questões técnicas e estratégicas transversais entre
os clusters e o HCT14. O OCHA preside este grupo.
“Para cada cluster, uma organização (referida como ‘agência líder do cluster’) é
formalmente designada para liderar e coordenar a experiência técnica e servir como
provedor de último recurso, que é um compromisso da agência líder do cluster de
convocar todos os parceiros humanitários para abordar lacunas críticas na resposta
e, se isso falhar, comprometer-se a preencher a lacuna (ou defender recursos ou
acesso para fazê-lo15)”.
Conforme descrito na Lição 2, o ERC lidera o IASC. Em países afetados por desastres ou conflitos,
“o ERC pode nomear um HC para garantir que os esforços de resposta sejam bem-organizados17”. O
ERC também desempenha um papel importante na defesa de questões humanitárias e na pressão pelo
acesso e proteção humanitária, especialmente em emergências complexas. Além disso, o ERC lidera o
OCHA e tem um papel importante a desempenhar em matéria de coordenação.
O OCHA trabalha para apoiar ações humanitárias eficazes e baseadas em princípios, salvar vidas e
reduzir o sofrimento. O OCHA funciona como:
92
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
O OCHA tem duas sedes e nove escritórios regionais, bem como vários escritórios de campo19. O
OCHA também possui um serviço digital especializado chamado ReliefWeb, que é a principal fonte de
informações humanitárias sobre crises e desastres globais. O ReliefWeb fornece informações confiáveis e
oportunas de fontes confiáveis, como relatórios, mapas e infográficos, permitindo que os trabalhadores
humanitários tomem decisões informadas e planejem respostas eficazes20.
A figura abaixo mostra uma visão geral de todos os principais atores envolvidos na resposta e como
eles se conectam. Idealmente, esse tipo de mapeamento de atores também deve incluir a estrutura de
coordenação existente:
Equipes
USAR Parceiros
Standbyde
USAR
Teams espera
Partners
Desastre natural
Natural Disaster Meios de
Media
RESPOSTA comunicação
RESPOSTA
NATIONAL RESPONSE INTERNATIONAL RESPONSE
INTERNACIONAL
NACIONAL
Seção 4.5 UNDAC e o conceito OSOCC
A UNDAC foi criada em 1993 e projetada para ajudar a ONU e os governos de países afetados por
desastres durante a primeira fase de uma emergência de início súbito21. Inicialmente criado para prestar
assistência em caso de terremotos, o sistema foi posteriormente expandido para cobrir outros tipos de
desastres. A UNDAC também auxilia na coordenação da ajuda internacional recebida em nível nacional
e/ou no local da emergência. As equipes da UNDAC podem atuar em curto prazo (12 a 48 horas) em
qualquer lugar do mundo. As equipes são mobilizadas a pedido do RC ou HC das Nações Unidas ou do
19) OCHA, “Mundo: Presença OCHA 2015”. Disponível em inglês: <http://reliefweb.int/map/world/world-ocha-presence-2015-may-2015>.
20) A Lição 6 examinará isso com mais detalhes.
21) OCHA, “Coordenação”.
93
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
governo afetado, e a UNDAC as fornece gratuitamente ao país afetado pelo desastre. A UNDAC é a
ferramenta de resposta rápida/primeira do OCHA (máximo de três a quatro semanas) e pode se tornar
a base de um escritório de campo do OCHA.
Quando necessário, uma equipe da UNDAC irá, na maioria dos casos, estabelecer um Centro de
Coordenação e Operação No Local (do inglês, On-Site Operations Coordination Centre — OSOCC) de acordo
com as diretrizes do OSOCC22. Um OSOCC assemelha-se a uma plataforma de coordenação (não a um posto
de comando) e ponto único de entrada para organizações humanitárias, e tem três objetivos principais:
Uma visão da destruição em massa em Marsh Harbour, na Ilha Abaco, após o furacão Dorian, um furacão de categoria cinco, que varreu
as ilhas Bahama de Abaco e Grand Bahama em 1º de setembro de 2019. 11 de setembro de 2019. Foto da ONU por OCHA/Mark Garten.
22) OCHA, Diretrizes do Centro de Coordenação de Operações no Local (OSOCC) 2018, julho de 2018. Disponível em inglês: <https://reliefweb.int/sites/
reliefweb.int/files/resources/2018%20OSOCC%20Guidelines.pdf>.
94
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Ligação
Gestão
Segurança
Células de
Situação Apoiar Operações Coordenação, por
exemplo, USAR,
EMT, CMCoord
Avaliação e Análise Administração Logística
Outras equipes/
Relativo a meio elementos de
Gerenciamento de TIC ambiente resposta, por
informações exemplo, clusters
Relativo a meio
Meios de Instalações ambiente
comunicação
Após a chegada, a UNDAC (ou a primeira equipe USAR classificada pelo Grupo Internacional de
Busca e Resgate [do inglês, International Search and Rescue Advisory Group — INSARAG]) estabelecerá
um centro de recepção/partida (RDC) no ponto de entrada23. Na maioria dos casos, este será o aeroporto
designado, mas também pode ser um porto marítimo, um ponto de passagem de fronteira terrestre ou
uma combinação. O objetivo é fornecer uma interface entre a assistência internacional recebida, o governo
e o primeiro registro de todas as equipes recebidas. O OSOCC atuará como uma plataforma de interface
e coordenação com a Autoridade Nacional de Gerenciamento de Desastres (do inglês, National Disaster
Management Authority — NDMA) e orientará as equipes de entrada sobre onde implantar. Especialistas
que cobrem áreas mais especializadas de gerenciamento de emergências (por exemplo, meio ambiente,
acidentes industriais, etc.) Podem reforçar as equipes do UNDAC. Eles também podem receber apoio de
parceiros associados fornecendo apoio geral (Parceria Humanitária Internacional [do inglês, International
Humanitarian Partnership — IHP] com acampamento base24) ou especializado (MapAction25, Assessment
Capacities Project [ACAPS26], Télécommunication Sans Frontières, etc.).
Em relação ao RDC, há uma diferença significativa no apoio inicial dependendo se a UNDAC for implantada
em resposta a um terremoto ou outro tipo de desastre. Durante um terremoto, as equipes usar classificadas
pelo INSARAG serão as primeiras a chegar ao país afetado. Eles são totalmente autossustentáveis (tenda,
gerador de energia, Tecnologia de Comunicação da Informação [TCI], alimentos, água, etc.) De uma
equipe da UNDAC para assumir funções de RDC. Sua principal tarefa é facilitar a chegada das equipes
de entrada, fornecendo-lhes as primeiras informações sobre a situação e facilitando o apoio logístico (por
exemplo, transporte, combustível, madeira, etc.) Para o posterior deslocamento das equipes de entrada
para a área afetada. Parte da tarefa do RDC inclui uma estreita cooperação com as autoridades e serviços
aeroportuários, o que pode se tornar muito desafiador se o próprio aeroporto for danificado pelo desastre.
É de extrema importância explicar o papel do RDC às autoridades (do aeroporto) para obter seu apoio para
um processamento tranquilo das organizações de socorro que chegam.
95
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Grupo de
Coordenação
Inter-Cluster
Líder da Equipe
UNDAC
Autoridade Equipes
Local de Internacionais de
Gerenciamento Resgate e Socorro
de Emergências
(LEMA)
No caso de um desastre que não seja um terremoto, a UNDAC enfrentará desafios maiores. A UNDAC
dependerá principalmente do que eles trouxerem e da disponibilidade de equipes de suporte, sejam IHP ou
outras. Em princípio, a equipe de suporte e a UNDAC devem chegar mais ou menos ao mesmo tempo. A
UNDAC criará um RDC o mais rápido possível, marcado por uma bandeira azul da ONU com a inscrição “centro
de recepção/partida”. Como a administração no aeroporto (ponto de entrada) pode não estar operacional
devido às circunstâncias caóticas do desastre e/ou à falta de capacidade das autoridades nacionais, todas as
equipes que chegam devem se registrar para que a UNDAC e o governo nacional saibam quem está no país27.
Na pior das hipóteses, o RDC será pouco mais do que uma mesa e cadeiras com uma bandeira28.
OSOCC
Manuseio
Aircraftde aeronaves
Handling
Gestão de aeroportos
Airport Management Gerenciamento
RDC Management
de RDC
Imigração
Immigration
Alfândega
Customs
Segurança
Logística de Administração
RDC
Security RDC Logistics
RDC de RDC
Administration
Militares
Military
Manuseio deHandling
Aircraft aeronaves Manuseio deHandling
Aircraft aeronaves Manuseio
Aircraftde aeronaves
Handling
27) Em muitos casos, o registro no RDC e/ou OSOCC será imposto pelas autoridades nacionais e pode ter impacto no suporte adicional (por exemplo,
condição básica para suporte do Log Cluster, se estabelecido).
28) Informações mais detalhadas sobre o funcionamento de um OSOCC e RDC podem ser encontradas nas Diretrizes do OSOCC.
96
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Essas atividades principais serão refletidas em seus Termos De Referência (TDR) e serão adotadas
na chegada em comum acordo com o CR/HC. A UNDAC deve fornecer liderança, se necessário, e
ser visto como um “prestador de serviços” para todos os atores envolvidos no esforço de socorro a
desastres, incluindo as autoridades nacionais. Alguns serviços que a UNDAC pode fornecer são:
• Identificação das contrapartes nacionais e como estabelecer uma ligação regular com elas;
• Facilitação de apoio administrativo para reuniões, preparação de agenda, escolha de local, etc.;
O sistema UNDAC tem fortes raízes na gestão de desastres, que são importantes durante a fase
de salvamento – principalmente nos níveis tático e operacional. A UNDAC opera de acordo com um
conjunto de padrões (valores fundamentais) e metodologia.
29) 3W: Who is doing What Where (Quem está fazendo o quê onde). Veja a Lição 6; “3W – O que estamos procurando?”.
97
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
TheO Humanitarian
Modelo de Coordenação Humanitária
Coordination Model
Secretário-Geral
UN Secretary- Política
Policy
Presidência
Presidency
da ONU
General
Centro de Operações
Civil-Military Operations
Embaixador
Ambassador OCHA (UNDAC) Civil-Militar (CMOC)
Centre (CMOC)
Grupo de Grupo
ShelterdeCluster
Abrigo Outras
Health Cluster
integridade Cluster Logístico
Logistics Cluster GrupoCluster
WASH WASH Others
Operações e
Operations and
Implementação
Implementation
ONGs
NGOs ONGs
NGOs ONGs
NGOs ONGs
NGOs
Nível
Tacticaltático
level
O papel da UNDAC pode ser identificado dentro das estruturas tradicionais de gerenciamento de
crises de tomada de decisão de três níveis: tomada de decisão estratégica, coordenação operacional de
nível médio e coordenação tática direta de recursos no local.
98
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Gestão
Disasterde Desastres Coordenação
Management Humanitária
Humanitarian Coordination
Gestão deof
Management
Gestão por
Management by
Recursos
Resources princípios
Principles
O lançamento das diretrizes OSOCC em 2014 criou várias novas células, uma das quais é a Célula
de Coordenação da USAR (do inglês, USAR Coordination Cell — UCC). Esta célula é parte integrante
da função de operações em caso de terremotos. Juntamente com o NDMA, planejará e dirigirá todas
as atividades da usar (nacionais e internacionais) nas áreas afetadas31. Funcionários experientes da
usar comandam esta célula e dividirão a zona afetada em setores numerados. Dependendo da escala
do terremoto e do número de equipes usar implantadas, cada área receberá uma equipe usar líder do
setor.
As equipes internacionais da usar podem ser do tamanho de uma equipe média (+/-45) ou pesada
(+/- 80). As diretrizes INSARAG definem sua estrutura, mas podem variar32. Algumas equipes têm
uma capacidade específica, como defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (QBRN), que se
envolveria em áreas onde as ameaças QBRN são mais prováveis (por exemplo, hospitais, lojas com
produtos químicos, etc.). Todas as equipes certificadas atuam de acordo com as diretrizes e utilizarão a
plataforma virtual OSOCC (VO) no ReliefWeb. A plataforma VO é uma plataforma online de intercâmbio
e coordenação de informações sobre desastres restrita a gestores de desastres em todo o mundo (por
exemplo, governos e organizações de resposta). Durante a resposta a um desastre, o OCHA Genebra/
RSB administrará este site e listará todas as equipes ativadas, suas especialidades e seu status real,
bem como todas as informações relevantes relacionadas ao desastre. Uma vez implantado, o UCC
acompanhará cada equipe e começará a planejar sua implantação no setor designado em estreita
coordenação com o NDMA, que definirá as prioridades.
31) Na maioria dos casos, a UCC limitar-se-á a coordenar as equipas internacionais, mas as equipes nacionais devem ser traçadas em mapas para evitar a
duplicação de esforços.
32) As Diretrizes INSARAG são um conjunto de diretrizes composto por três volumes: Política, Preparação e Guia de Campo Operacional e de Resposta.
99
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Todas as equipes da usar treinam de acordo com as diretrizes e possuem capacidades técnicas
iguais, com algumas diferenças entre médio e pesado. Para receber a certificação INSARAG, toda
equipe deve passar por uma classificação externa seguida de uma reclassificação a cada cinco anos
para comprovar seu nível operacional. Após entrar em contato com o OSOCC (UCC) e ao chegar na área
afetada, cada Equipe Monta sua Base de Operação (BOO) a partir da qual irá operar. Duas vezes por dia,
o OSOCC organizará uma reunião de líderes de equipe da usar presidida pelo NDMA e pelo coordenador
da função da operação. Dependendo do tamanho da área afetada e da disponibilidade de transporte,
apenas as equipes da usar lideradas pelo setor podem estar presentes. Em geral, as atividades do usar
são normalmente planejadas para durar sete dias, mas podem ser estendidas a pedido das autoridades.
As autoridades nacionais declararão o fim de todas as atividades da usar. Algumas equipes da usar
podem permanecer no país e ajudar nas atividades de avaliação estrutural. A maioria das equipes da
usar será reimplantada de volta para casa o mais rápido possível.
100
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
a Integrada
nç da
s e O
Dois pés para dentro »
N
Pr
U
Este modelo estrutural será usado em um PNUD
UNDP Missão
Mission
cenário pós-conflito estável. Nesse UNICEF
UNICEF
cenário, a crise humanitária já passou e ACNUR
DSRSG/RC/HC1
Integrada
n ça da Dois pés para fora »
se O
Esse modelo será usado quando uma missão
e
Pr
UNDP
for implantada em situações de alta
PNUD
UNICEF
Missão
Mission instabilidade (conflito persistente e
UNICEF
UNHCR generalizado, falta de um processo de
ACNUR
WFP paz crível ou onde a força de paz não seja
OMS
WHO amplamente aceita e/ou spoilers significativos
OCHA
OCHA estejam ativos). O HC e o OCHA permanecerão
RC/HC
totalmente separados da estrutura da missão, a
fim de preservar a independência e a neutralidade
de seu trabalho humanitário.
Integrada
Um pé dentro, um pé fora » nça da
e se O
Essa forma de integração estrutural é
Pr
UNDP
PNUD Missão
são implantadas em países que emergem Mission
UNICEF
de crises onde há um processo político UNICEF
UNHCR
ACNUR
relativamente estável, spoilers mínimos
e a importância da ação humanitária está
WFP
PMA DSRSG/RC/HC
101
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Muitas organizações, incluindo agências da ONU, têm sentimentos contraditórios quando as agências
da ONU se tornam parte de uma integração estrutural com a ONU e outras forças militares. Eles podem
sentir que sua ação humanitária pode ser influenciada por prioridades políticas e/ou militares, ou
que essa integração estrutural sob uma única linha de gestão pode criar a percepção de estar muito
envolvido com alguns atores do conflito, incluindo o estado. De acordo com algumas organizações, esta
percepção levou a um aumento do sentimento de insegurança, o que, em alguns casos, resultou no
direcionamento direto dos trabalhadores humanitários38. Embora não haja provas concretas disso, isso
não pode ser descartado — as percepções podem muitas vezes ser tendenciosas.
34) Nações Unidas, Princípios e Diretrizes das Operações de Manutenção da Paz das Nações Unidas, 2008, 53. Disponível em inglês: <https://
peacekeeping.un.org/sites/default/files/capstone_eng_0.pdf>.
35) “Black UN” refere-se às forças militares da ONU com etiquetas pretas em veículos brancos, enquanto “Blue UN” refere-se às agências humanitárias
com etiquetas azuis em veículos brancos.
36) Uma operação de paz multidimensional é uma missão de paz que compreende uma combinação de componentes militares, policiais e civis substantivos
trabalhando juntos para implementar um mandato do Conselho de Segurança.
37) Nações Unidas, Política de Avaliação e Planejamento Integrados, 2013. Disponível em inglês: <https://unsdg.un.org/resources/un-policy-integrated-
assessment-and-planning>.
38) Emilie Combaz, “O impacto das missões integradas nas operações humanitárias”, GSDRC, 5 de julho de 2013. Disponível em inglês: <http://www.
gsdrc.org/docs/open/hdq939.pdf>.
39) OCHA, “OCHA on Message: Integration Structural Arrangements”, abril de 2010. Disponível em inglês: <https://www.unocha.org/sites/dms/
Documents/OOM_Integration_English.pdf>.
102
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
A função de três cabeças do DRSG/RC/HC pode causar problemas. Martin Barber, ex-diretor do
serviço de ação contraminas da ONU, afirma que o HC não deve fazer parte de uma missão integrada,
pois pode se tornar difícil cumprir dentro da estrutura integrada se o conflito recomeçar40. As missões
integradas devem ser estritamente limitadas a situações de pós-conflito. Em sua nota de política
humanitária “missões integradas da ONU e ação humanitária”, a Oxfam afirma que “a ação humanitária
normalmente deve permanecer estruturalmente separada dos componentes políticos ou de manutenção
da paz de uma missão integrada41”.
• Saúde — evacuação médica, capacidade médica específica (por exemplo, um navio-hospital), etc.
Conforme mencionado na Lição 3, as forças militares e as FMA podem estar disponíveis apenas por
um período limitado. É importante desenvolver uma estratégia de saída e transição desde o início.
Normalmente, haverá um indivíduo na equipe da UNDAC qualificado pelo CMCoord. Este membro
da equipe deve coordenar o mais rápido possível com os militares internacionais e nacionais para
determinar se já existem procedimentos no uso de MCDA ou FMA. Outro potencial ator do FMA é o
cluster logístico, liderado pelo PMA. As questões de transporte podem ser a parte mais desafiadora.
40) Martin Barber, Cegos pela humanidade: por dentro das operações humanitárias da ONU, New York, New York, IB Tauris & Co Ltd, 2015.
41) Oxfam International, “UN Integrated Missions and Humanitarian Action”, agosto de 2014, 4. Disponível em inglês: <https://www.oxfam.org/sites/
www.oxfam.org/files/file_attachments/story/oi_hum_policy_integrated_missions_august2014.pdf>.
103
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Idealmente, o NDMA do estado afetado deveria liderar o HuMOCC. Um HuMOCC visa entregar
alguns serviços específicos, incluindo42:
• Aconselhar sobre as FMA apropriadas a serem implantadas no estado afetado e locais prioritários;
• Ajudar a criar uma consciência situacional comum entre todos os atores que respondem ao
desastre de forma coerente e sistemática;
A IFRC organiza instrumentos financeiros para responder a desastres principalmente por meio de
apelos de emergência ou Fundos de Emergência para Ajuda em Desastres (DREFS44). Apelações de
emergência podem ser emitidas a pedido de uma sociedade nacional membro dentro de horas após
uma grande emergência ou desastre (geralmente como uma apelação preliminar e sujeita a revisão45).
O apelo articula a resposta planejada da federação internacional a uma situação de emergência com
necessidades significativas de assistência internacional. O recurso de emergência será revisado com uma
primeira atualização emitida dentro de 30 dias do lançamento do recurso. Para emergências de pequena
42) OCHA, Manual de Campo UN-CMCoord (v2.0), Genebra, Suíça, OCHA, 121. Disponível em inglês: <https://www.unocha.org/sites/unocha/files/%5BE-
Version%5D%20UNCMCoord%20Field%20Handbook%202.0%20%282018%29.pdf>.
43) OCHA, “Isso é OCHA”. Disponível em inglês: <https://reliefweb.int/report/world/ocha-2015> .
44) IFRC, “Fundo de Emergência para Assistência a Catástrofes (DREF)”. Disponível em inglês: <https://www.ifrc.org/disaster-response-emergency-
fund-dref>.
45) IFRC, “Fundo de Emergência para Assistência a Catástrofes (DREF)”.
104
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
escala, um DREF pode ser ativado para iniciar uma operação de emergência. A IFRC estabeleceu
DREFs pela primeira vez em 1985 para garantir a disponibilidade de apoio financeiro imediato para a
resposta de emergência da cruz vermelha e do crescente vermelho a um desastre em andamento. As
alocações podem estar disponíveis em 24 horas e podem ser feitas na forma de empréstimos iniciais
(para desastres de grande escala), doações (para operações de socorro de emergência em pequena
escala) ou atividades de preparação no caso de um desastre iminente. As autoridades analisam as
solicitações de alocações de DREF caso a caso.
Fundo Central de Resposta a Emergências (do Central de Resposta a Emergências (do inglês, Central
Emergency Response Fund - CERF). O evento foi uma
inglês, Central Emergency Response Fund – CERF).
oportunidade para destacar as realizações do Fundo,
Em 2006, a assembleia geral da ONU lançou o anunciar promessas para 2021 e garantir que o nível
CERF, um fundo humanitário, “para permitir uma de financiamento do CERF continue em direção à meta
expandida de US$ 1 bilhão, conforme endossado pela
assistência humanitária mais oportuna e confiável
Assembleia Geral. 8 de dezembro de 2020. Foto da ONU
às pessoas afetadas por desastres naturais e por Evan Schneider.
Os fundos de resposta rápida do CERF podem ajudar a diminuir a inconsistência e os atrasos que
as organizações humanitárias podem enfrentar com contribuições voluntárias. Esses fundos apoiam
atividades humanitárias que salvam vidas durante os estágios iniciais de crises de início súbito. Os fundos
também podem ser usados para responder a requisitos urgentes ou uma deterioração significativa em
uma emergência existente48. Fornecer fundos de resposta rápida é um exercício de campo pelo qual:
• “O RC/HC recomenda o uso do CERF e identifica as necessidades prioritárias para salvar vidas
consultando a equipe Humanitária do País (HCT) [;]
• O RC/HC apresenta um pacote de propostas com base nas necessidades avaliadas [;]
105
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Partes dos fundos de resposta rápida do CERF serão usadas no Flash Appeal (FA) ou plano de
resposta inicial, que é uma ferramenta para estruturar uma resposta humanitária coordenada para
os primeiros três a seis meses de uma emergência. O HC, em consulta com as partes interessadas,
aciona e emite o FA dentro de uma semana após uma emergência. A FA fornece uma visão geral
concisa das necessidades urgentes para salvar vidas e pode incluir projetos de recuperação que podem
ser implementados dentro do prazo do recurso. O FA é baseado na metodologia Multi-Cluster Initial
Rapid Assessment (MIRA) e será finalizado em um Plano de Resposta Estratégica (do inglês, strategic
response plan — SRP) um mês após o início da emergência.
• A mobilização de fundos pode levar tempo. O CERF aborda este problema através de bolsas de
resposta rápida, que podem ser aprovadas em menos de 48 horas após a decisão do ERC. O
CERF fornece financiamento inicial no início de uma crise humanitária e apoio a emergências
subfinanciadas em todo o mundo.
• Os ERFS fornecem financiamento inicial para fornecer ajuda essencial e cobrir necessidades
urgentes na resposta a emergências de início súbito. As ongs recebem a maior parte dos fundos.
Os ERFS variam em tamanho de US$ 2 milhões a US$ 5 milhões.
• O CERF tem uma facilidade de US$ 30 milhões. Empréstimos de até um ano são concedidos
com base na indicação de que o financiamento dos doadores está próximo.
O serviço de monitorização financeira (do inglês, financial tracking service — FTS) registra todos os
financiamentos relatados por doadores e organizações receptoras. O FTS é um banco de dados global
em tempo real de toda a ajuda humanitária relatada gerenciada pelo OCHA.
106
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
107
LIÇÃO 4 | Mecanismo de Coordenação Humanitária
Respostas »
1. D
2. B
3. A
4. C
5. D
6. D
7. B
8. D
9. B
10. D
108
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
LIÇÃO
5 Questões Transversais
109
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
Uma aeronave do Programa Mundial de Alimentos lança sacos de suprimentos. 21 de outubro de 2015. Foto da ONU por Isaac Billy.
Introdução
110
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
os agrupamentos têm de incluir estas questões transversais nos seus programas; caso contrário, certos
grupos da população afetada podem não ter representação no esforço geral de resposta. Os tópicos
desenvolvidos nesta lição cobrirão informações sobre aspectos do esforço de resposta que muitas vezes
são negligenciados. Esta lição inclui discussões sobre segurança e proteção – ambas vitais para o
ambiente em que algumas organizações devem operar – e os desafios que isso envolve, bem como
a gestão de restos mortais humanos, que é uma realidade frequentemente esquecida em desastres
com fatalidades em massa. A gestão da segurança e proteção e o tratamento dos restos mortais em
determinados domínios também podem ter uma dimensão transversal. Algumas seções se sobrepõem
e os trabalhadores humanitários podem encontrar assuntos semelhantes de formas ligeiramente
diferentes. O objetivo principal desta lição é enfatizar alguns desses assuntos e suas interligações.
A migração sempre existiu. Em muitos casos, as condições de vida difíceis, muitas vezes associadas
à grave escassez de alimentos e à fome, foram as principais causas da migração. As pessoas migraram
em busca de melhores oportunidades em outros lugares além de suas casas. A colonização europeia em
todo o mundo também desencadeou a migração. As reformas após a Revolução Francesa destinadas a
acabar com o feudalismo e dar mais poder aos cidadãos falharam parcialmente, com pouca ou nenhuma
melhoria das condições de vida. A Revolução Industrial e seus efeitos socioeconômicos, as guerras
europeias e a construção da nação, a Grande Fome da Irlanda, a perseguição religiosa, a tirania política
e a falta de mobilidade social levaram à pobreza e ao sofrimento generalizados. Além disso, taxas de
natalidade mais altas devido ao melhor conhecimento médico levaram ao aumento da população em
algumas áreas, o que tornou mais difícil a possibilidade de propriedade da terra e uma subsistência digna.
As consequências foram fluxos migratórios maciços — principalmente para o Novo Mundo — em busca
de melhores oportunidades econômicas e um padrão de vida mais alto, liberdade de religião e expressão
e um sistema político democrático. No século XIX, muitos imigrantes irlandeses e alemães vieram para a
América do Norte, enquanto outros imigrantes se mudaram para Argentina, Brasil e Austrália2.
111
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
De acordo com estatísticas do ACNUR3, 2019 registrou as maiores taxas de movimento forçado ou
deslocamento começaram em4 Ao falar sobre movimento forçado ou deslocamento, os humanitários
devem distinguir entre diferentes tipos de grupos populacionais afetados com base na natureza de
seu deslocamento forçado (por exemplo, desastre, conflito armado, etc.). É importante ser capaz de
distinguir o seu estatuto, uma vez que diferentes estatutos conferem aos migrantes direitos diferentes.
Alguns desses grupos podem ser mais vulneráveis do que outros. Também é importante analisar sua
vulnerabilidade e a situação pré-deslocamento. Esta lição descreve brevemente os diferentes tipos de
populações afetadas que os humanitários podem encontrar.
Migração e Deslocamento
Em muitos casos, usamos termos como migração, migração forçada, deslocamento forçado, entre
outros. Eles são iguais, ou existem algumas diferenças entre esses termos?
• A migração interna envolve pessoas que se deslocam de uma área de um país para outra área
dentro do mesmo país.
O turismo e a transferência organizada de refugiados dos Estados de origem para refúgios seguros
são duas formas de realocação excluídas desta definição ampla.
» Refugiados são “pessoas que estão fora de seu país de origem por
motivos de temida perseguição, conflito, violência generalizada ou
outras circunstâncias que tenham perturbado seriamente a ordem
112
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
O Protocolo Relativo ao Estatuto dos Refugiados de 1967 atualizou a definição anterior, refinando-a
para descrever uma pessoa que:
• Tem um medo fundado de perseguição por causa de sua raça, sexualidade, religião, nacionalidade,
filiação num determinado social ou opinião políticos; e
• Não pode ou não quer receber proteção desse país, ou voltar para lá, por medo de perseguição.
Migrante ‒ Embora “migrante internacional” não tenha uma definição legal formal,
muitas fontes consideram um migrante internacional como uma pessoa “que
muda de país de residência habitual, independentemente do motivo da migração
ou do status legal. Geralmente, distingue-se entre migração de curta duração ou
temporária, abrangendo movimentos com duração entre três e 12 meses, e migração
de longa duração ou permanente, referente a uma mudança de país de residência
com duração de um ano ou mais9.”
Membros da delegação do Conselho de Segurança visitam o campo de refugiados de Kutupalong em Cox’s Bazar, Bangladesh. O
campo era o maior assentamento de refugiados do mundo na época da foto, abrigando cerca de 600.000 refugiados. 29 de abril de
2018. Foto da ONU por Caroline Gluck.
113
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
O Relator Especial da Comissão de Direitos Humanos propôs a seguinte definição para “migrantes10”:
• “As pessoas que se encontram fora do território do Estado de que são nacionais ou cidadãos,
não estão sujeitas à sua proteção legal e se encontram no território de outro Estado;
• As pessoas que não gozem do reconhecimento jurídico geral dos direitos inerentes à concessão
pelo Estado de acolhimento do estatuto de refugiado, naturalizado ou equiparado;
• Pessoas que não gozem de proteção jurídica geral de seus direitos fundamentais em virtude de
acordos diplomáticos, vistos ou outros acordos”.
A definição de requerente de asilo pode variar de país para país, dependendo das leis de cada
Estado. No entanto, na maioria dos países, os termos “requerente de asilo”/”asilado” e “refugiado”
diferem apenas em relação ao local onde um indivíduo pede proteção. Enquanto um requerente de asilo
pede proteção depois de chegar ao país de acolhimento, um refugiado pede proteção e recebe esse
status de proteção fora do país de acolhimento11.”
10) Comissão de Direitos Humanos, E/CN.4/RES/1999/44, 27 de abril de 1999. Disponível em: <http://ap.ohchr.org/documents/alldocs.aspx?doc_id=4660>.
11) UNESCO, “Glossário”.
12) ACNUR, Manual para Emergências, 3ª ed., 2007, 18. Disponível em inglês: <https://emergency.unhcr.org/>.
13) ACNUR, Manual para Emergências, 18.
114
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
14) ACNUR, “Perguntas e respostas sobre deslocados internos”. Disponível em inglês: <http://www.ohchr.org/EN/Issues/IDPersons/Pages/Issues.aspx>.
15) ACNUR, Manual para Emergências, 42.
16) Maior Juan A. Pina, “DPRE: os fatos”, SFOR Informer Online, 12 de abril de 2000. Disponível em inglês: <http://www.nato.int/Sfor/indexinf/85/dpre/
t000414i.htm>.
17) Grande conflito armado em Darfur na região de Sudão que começou em fevereiro de 2003 e terminou com o acordo de cessar-fogo em fevereiro de 2010.
18) IASC e ACNUR, Manual de Gênero do IASC em Ação Humanitária, dezembro de 2006. Disponível em inglês: <http://www.unhcr.org/protection/
women/50f91c999/iasc-gender-handbook-humanitarian-action.html>.
115
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
• Deslocamento; e
116
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
Devido à sua natureza pessoal, as incidências de VBG – particularmente violência sexual – são
amplamente subnotificadas. As vítimas raramente falam do incidente por várias razões, incluindo auto
culpa, medo de represálias e crescente desconfiança das autoridades. A reação dos familiares da vítima,
que pode incluir culpabilização, estigmatização e até rejeição das vítimas, são outros motivos para não
denunciarem esses atos violentos. O estigma e a rejeição podem ser especialmente graves quando as
vítimas falam ou relatam o incidente.
Durante os conflitos na região dos Grandes Lagos da África, muitos atores estatais e não estatais
usaram o estupro como arma – principalmente contra outros grupos étnicos para perturbar o tecido
social de uma determinada comunidade. Os perpetradores também usaram o HIV como arma de
guerra. Juntamente com a extrema violência dos atos sexuais perpetrados, infligiu graves traumas em
suas vítimas, causando graves e duradouros problemas de saúde, incluindo morte por lesões ou até
suicídio. Além disso, ocorreram outras consequências para a saúde, como gravidez indesejada, aborto
autoinduzido inseguro e infanticídio, bem como infecções sexualmente transmissíveis (incluindo HIV/
AIDS), deixando as vítimas com trauma psicológico extremo.
Gênero é uma questão transversal que deve ser abordada desde o início de um esforço para ajudar as
populações afetadas por desastres. Sempre que possível, os humanitários devem procurar um consultor
de gênero, pois as questões de gênero têm ramificações em diferentes setores. Um conselheiro de
gênero deve ser visto como um facilitador no processo de gênero e não como a parte responsável
por todas as atividades relacionadas ao gênero e aspectos da resposta. Para que os trabalhadores
humanitários sejam eficazes, eles devem garantir que o gênero como um tópico seja representado em
todos os níveis – dentro das autoridades governamentais (como tomadores de decisão) e organizações
humanitárias envolvidas – para aumentar a conscientização pública suficiente. Todos os programas
devem alocar recursos humanos e financeiros suficientes para uma integração efetiva de gênero.
Ter uma boa compreensão dos dados desagregados por sexo ajudará os humanitários a entender
melhor os desafios ao estabelecer programas, ajudando a identificar certos indicadores vinculados aos
diferentes grupos identificados dentro de uma comunidade. Como regra geral e sempre que planejar
um programa de assistência a uma população afetada, uma das primeiras ações que os trabalhadores
humanitários devem tomar é garantir que os beneficiários contribuam para o estabelecimento
de programas. As organizações muitas vezes veem isso como um fardo que retarda o processo de
assistência e sua execução. O envolvimento próximo e direto da população afetada (beneficiários) é
23) ACNUR, Diretrizes para Intervenções de Violência Baseada em Gênero em Contextos Humanitários, Enfocando a Prevenção e Resposta à Violência
Sexual em Emergências, setembro de 2005, 1. Disponível em inglês: <http://www.unhcr.org/453492294.pdf>.
117
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
Para entender a situação dentro de uma comunidade afetada, os atores humanitários precisam
primeiro analisar todos os dados desagregados por sexo. Nos casos em que o conflito armado é a
causa do movimento forçado, podem surgir problemas específicos. A maioria dos movimentos forçados
termina em acampamentos montados às pressas (a menos que outras instalações de abrigo já estejam
instaladas). A ausência de homens e meninos pode indicar que sua ausência se deve ao medo de
inscrição forçada entre os diferentes atores (principalmente não estatais) de um conflito. A pressão
social pode ser muito alta para eles no campo, pois sempre há o medo de que os recrutadores possam
forçá-los a se juntarem a um dos partidos. Ao se esconderem, tornam-se alvos vulneráveis sem acesso
a serviços básicos como comida, água potável e assistência médica. Outra consequência da ausência
de homens é que muitas famílias serão lideradas por mulheres e não terão acesso a certos tipos de
assistência humanitária. Essas famílias podem ser extremamente vulneráveis se os humanitários não
adaptarem uma solução de assistência a essas populações – uma razão adicional para bons dados e
avaliação aprofundada.
A inclusão da população afetada ao longo de todo o processo garante que rumores infundados não
se espalhem e as pessoas sejam informadas sobre toda assistência planejada. Isso também garante
uma melhor prestação de assistência. Sempre que os atores humanitários envolvem a população
afetada, eles devem ser cautelosos para não criar expectativas falsas ou irrealistas. Durante a fase
de avaliação, algumas pessoas contatadas podem não querer se associar a esta parte do processo por
medo do que diriam ou como os outros as verão. Independentemente disso, bons dados ajudarão a
identificar todos os grupos vulneráveis (mulheres, homens, idosos, deficientes, viúvas, etc.) dentro
de uma comunidade afetada e fornecer-lhes uma representação igualitária e equilibrada em termos
de gênero. Essa abordagem voltada para a comunidade deve ser o ponto de partida e garantirá a
apropriação e a participação necessárias no processo, o que pode levar a uma maior sustentabilidade
da ação em andamento. O envolvimento da população afetada não pode ocorrer sem planejamento.
Isso depende de alguma transferência de conhecimento e treinamento dos representantes para ser o
mais eficaz possível. O envolvimento da população afetada também pode funcionar como uma forma
de estabelecer uma primeira estrutura de coordenação no local. Além disso, incluir a população afetada
será o primeiro passo para fortalecer a responsabilidade e o desempenho dos atores humanitários no
terreno e contribuir para a capacitação de todos os parceiros locais envolvidos.
118
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
O Projeto Sphere distingue quatro “Princípios de Proteção” básicos relacionados a toda ação
humanitária:
24) The Sphere Project, The Sphere Handbook: Carta Humanitária e Padrões Mínimos em Resposta Humanitária, 4ª ed. (Genebra: Sphere Association,
2018).
25) Para obter informações adicionais sobre ação contraminas, consulte o curso POTI Ação contra minas e gerenciamento de risco de explosão: impacto
humanitário, aspectos técnicos e iniciativas globais.
119
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
Princípios de proteção
A Lição 1 examinou os efeitos que algumas das ações de atores humanitários podem ter na situação
atual, incluindo a questão da proteção da população afetada por desastres. É importante analisar o
contexto e procurar as consequências negativas de certas ações e como elas podem afetar a
segurança. Os trabalhadores humanitários devem analisar o tipo de assistência que prestam e se
isso pode comprometer seu nível real de segurança. O fornecimento de bens pode convidar outros
(estranhos) a participarem à força ou tributar a população afetada para receber assistência. A forma
como os humanitários distribuem a assistência também pode ter um impacto direto na segurança dos
beneficiários. Durante a crise de 2008 em Gonaives, Haiti, após os furacões Gustav, Hanna e Ike, o PMA
estabeleceu pontos de distribuição de alimentos com proteção fornecida pela MINUSTAH, incluindo as
principais rotas de chegada/partida, pois grupos armados ou indivíduos estavam roubando a assistência
dos beneficiários enquanto voltavam para casa26.
O gerenciamento de informações confidenciais sobre dados relacionados à proteção deve ser feito
com cuidado por aqueles atores que têm um mandato de proteção e recursos humanos qualificados
suficientes. As informações sobre abusos devem ser tratadas com cuidado, pois podem ter impacto em
outras regiões – especialmente se autoridades nacionais ou atores não estatais estiverem envolvidos.
Em muitos casos, os atores humanitários esquecem que a população afetada também tem direitos.
Garantir que esses direitos sejam respeitados é principalmente da responsabilidade das autoridades
nacionais. Sempre que possível, os trabalhadores humanitários devem apoiar a população afetada na
afirmação de seus direitos, tendo em mente a situação local e como as autoridades nacionais podem
reagir para evitar a criação de riscos adicionais. Um problema comumente encontrado é a perda de
documentos oficiais (por exemplo, certidões de nascimento, certidões de casamento, passaportes, etc.).
A propriedade da terra é especialmente difícil de provar quando a documentação é perdida. Em alguns
países, o título e a propriedade da terra são apenas vagamente documentados ou não documentados.
120
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
Proteção infantil31
Conforme descrito anteriormente, a proteção da criança é uma das questões dentro do cluster de
proteção que requer atenção especial como uma questão transversal. As crianças estão entre os grupos
mais vulneráveis durante desastres e conflitos armados e requerem ação urgente.
Para cada ação ou programa, os humanitários precisam primeiro entender a situação e a questão da
proteção infantil. É importante estabelecer os dados de linha de base adequados e a desagregação dos
dados. Os dados de linha de base revelarão o estado da situação antes da crise e a desagregação dos
dados detalhará os diferentes grupos em uma área específica ou tipo de assentamento. Para crianças e
adultos, os trabalhadores humanitários trabalham principalmente com três faixas etárias, desagregadas
por gênero: 0-5 anos, 6-12 anos e 13-17 anos. Para idades acima desses grupos, os dados devem ser
desmembrados em faixas etárias de 10 anos.
Como mencionado anteriormente, os humanitários devem estar atentos a certas formas de violência
contra crianças (principalmente durante conflitos armados, mas também durante desastres), como
recrutamento para grupos armados, assassinatos e mutilações, sequestros, violência sexual, ataques a
escolas e hospitais e negação de acesso humanitário.
Durante desastres e conflitos armados, as crianças enfrentam riscos adicionais causados por
28) Oli Brown e Alex Crawford, “Abordando a propriedade da terra após desastres naturais, uma pesquisa da agência”, Winnipeg, Manitoba,
International Institute for Sustainable Development, julho de 2006. Disponível em inglês: <https://www.humanitarianlibrary.org/sites/default/
files/2014/02/20120420-brown-addressinglandownership.pdf>.
29) Banco Interamericano de Desenvolvimento, “Reduzindo a Vulnerabilidade a Desastres Naturais”, maio de 1999.
30) Oli Brown e Alex Crawford, “Abordando a propriedade da terra após desastres naturais, uma pesquisa da agência”.
31) Grupo de Trabalho de Proteção à Criança do Grupo de Proteção Global, “Padrões Mínimos para Proteção à Criança em Ação Humanitária”, 2012.
Disponível em inglês: <https://www.refworld.org/pdfid/5211dc124.pdf>; Aliança para a Proteção da Criança em Ação Humanitária, Padrões Mínimos
para Proteção da Criança em Ação Humanitária, 2019. Disponível em inglês: <https://spherestandards.org/wp-content/uploads/CPMS-EN.pdf>.
32) Grupo de Trabalho de Proteção à Criança do Grupo de Proteção Global, “Padrões Mínimos para Proteção à Criança em Ação Humanitária”.
121
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
Crianças-soldados foram libertadas por meio de um programa de desarmamento, desmobilização e reintegração na cidade de Pibor, no
Sudão do Sul. A Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, a UNICEF e o Comitê Nacional de DDR do Sudão do Sul se uniram para
conseguir a liberação. 17 de maio de 2018. Foto da ONU por Nektarios Markogiannis.
infraestrutura danificada, arame farpado, entulho, lixo contendo resíduos perigosos ou o deslocamento
repentino de animais selvagens devido a inundações intensas. Armas e resíduos explosivos de guerra
(ERG) também apresentam riscos adicionais para as crianças, principalmente devido ao desconhecimento
de seu perigo enquanto brincam.
Outra forma bem conhecida de violência contra crianças é o abuso sexual. Devido ao seu
desenvolvimento físico, as meninas entre 10 e 19 anos são um grupo especialmente vulnerável. De
acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (ONUSIDA), as pessoas com
deficiência — sejam físicas ou mentais — provavelmente sofrerão agressão ou abuso sexual durante a
vida33. De preferência, pessoal treinado deve lidar com o manejo clínico da violência sexual.
Durante o conflito armado, os meninos podem ser forçados a se alistar nas forças armadas ou
em grupos armados. Essas crianças-soldados tornaram-se um problema significativo durante várias
intervenções da ONU34 na África na década de 1990 por causa da adesão forçada altamente ilegal e
criminosa de crianças35, combinada com o cometimento forçado de atos violentos contra a família e a
comunidade, levando a graves consequências físicas e emocionais. Muitas dessas crianças-soldados
estavam sob a influência (forçada) de drogas, o que as tornava extremamente perigosas e imprevisíveis.
33) ONUSIDA, OMS e OHCHR, “Resumo da Política de Deficiência e HIV”, abril de 2009. Disponível em inglês: <http://www.iddcconsortium.net/wp-
content/uploads/2019/11/2012-HIV-TG-IDDC-Policy-Briefing-on-HIV-AIDS-and-Disability.pdf>.
34) Claudio Gramizzi e outros, “Dossier documentaire: enfants soldats, armes légères et conflits en Afrique. Les actions de la coopération au développement
de l'Union européenne et de la Belgique”, março de 2003. Disponível em inglês: <http://archive.grip.org/fr/siteweb/dev_df89e59b.asp.html>.
35) UNICEF, “Os Princípios, Princípios e Diretrizes de Paris sobre Crianças Associadas a Forças Armadas ou Grupos Armados”, fevereiro de 2007. Disponível
em inglês: <https://www.refworld.org/docid/465198442.html>.
122
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
O trabalho infantil constitui outra questão de proteção, especialmente se as crianças foram vítimas
de trabalho forçado ou escravo ou foram usadas em conflitos armados como soldados, para exploração
sexual, ou foram expostas a trabalhos perigosos que afetam sua saúde e segurança. A Convenção
nº 182 da OIT define as “piores formas de trabalho infantil36”. Os trabalhadores humanitários devem
estar atentos à exploração infantil após desastres, pois assistência econômica ou programas podem
forçá-las a deixar a escola — especialmente quando elas já podem estar atuando como cuidadores
(por exemplo, cuidando de familiares idosos ou adultos doentes). Na estrutura do princípio “não causar
danos”, os atores humanitários devem entender todas as barreiras, como desigualdade de gênero,
geografia, grupos excluídos, deveres de cuidado infantil e perda de renda. O sistema de monitoramento
deve capturar todos os impactos — esperados e inesperados –— na segurança e no bem-estar de
uma criança. Podem surgir problemas se um programa não estiver alinhado com os regulamentos
nacionais sobre a idade mínima para o trabalho, especialmente se a lei nacional sobre trabalho infantil
não corresponder à lei internacional.
“Tempo de reflexão”
Um bom ponto de partida para refletir sobre o assunto é o artigo “Tempo de reflexão” escrito por
Killian Kleinschmidt, ex-diretor do campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia37.
36) OIT, “Convenções e Recomendações da OIT sobre trabalho infantil”. Disponível em inglês: <http://www.ilo.org/ipec/facts/ILOconventionsonchildlabour/
lang--en/index.htm>.
37) Kilian Kleinschmidt, “Momento de reflexão”, Refugees Vol. 4 Nº 121, 2000, 13. Disponível em inglês: <http://www.unhcr.org/3b69138b2.pdf>.
123
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
De acordo com Kleinschmidt, existe uma mentalidade específica entre os trabalhadores humanitários
que inclui aceitar riscos e querer estar na linha de frente. Alguns trabalhadores de ajuda humanitária
são viciados nesse tipo de ambiente, com um tipo extremo sendo os “viciados em desastres”. Embora
precisemos de trabalhadores de ajuda humanitária dispostos a assumir riscos calculados, muitos
simplesmente se acostumaram a um grau cada vez maior e inaceitável de risco no campo.
O artigo descreve
o crescente desrespeito
Iémen
Países com mais ataques
Mali
a trabalhadores
aos símbolos e bandeiras
República Centro
humanitários
(por exemplo, ONU, Cruz Africana
soldados). O desrespeito
também pode ser deliberado por diferentes razões, como a percepção de que os trabalhadores humanitários
estão associados a uma das partes de um conflito. Cada vez mais, as organizações humanitárias estão se
tornando alvos, e o dilema resultante exige “andar na linha tênue entre ajudar os necessitados e evitar expor
as equipes de campo a riscos inaceitáveis38”.
Estatísticas
Sempre haverá discussões sobre como os fatos e os números são coletados e comparados. No
entanto, tendências mais amplas nos desenvolvimentos de campo às vezes são mais importantes do
que números exatos.
Em seu relatório anual, o Aid Worker Security Database (AWSD) traça uma visão geral das
principais causas das ameaças aos trabalhadores humanitários39. O número de ataques a trabalhadores
humanitários aumentou significativamente nos últimos anos, paralelamente a um aumento do número de
vítimas. Embora os acidentes rodoviários e de trânsito ainda sejam a principal causa de mortes entre os
trabalhadores de ajuda humanitária, tem havido um número crescente de “ataques rodoviários”. Como
os trabalhadores humanitários passam a maior parte do tempo na estrada executando suas missões,
eles se tornam alvos fáceis para emboscadas e ataques. O mapeamento de incidentes (mapeamento
124
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
Durante uma crise em que as próprias trabalhadores humanitários foram mortos em 25 de março, a cerca de 53 km
da capital, Juba. 28 de março de 2017. Foto da ONU por Isaac Billy.
autoridades nacionais foram vítimas,
muitas vezes não é razoável esperar
que a polícia ou o exército garantam a segurança em todos os lugares. Em áreas onde a autoridade
nacional recuou e atores não estatais estão no controle, pode ser difícil e desafiador para os trabalhadores
humanitários prosseguir com suas missões.
Desde janeiro de 2011, o Sistema de Gerenciamento de Segurança das Nações Unidas adotou o
novo Sistema de Nível de Segurança (do inglês, Security Level System — SLS). Antes disso, a ONU
trabalhava com fases, que tinham a desvantagem de ter apenas abrangência nacional – mesmo que
apenas uma pequena área ou uma única cidade fosse afetada. O principal problema surgiu quando uma
fase de segurança teve que ser aumentada, o que muitas vezes obrigou as agências a interromper seus
programas em todo o país.
O novo SLS foi desenvolvido para ser mais flexível e “para avaliar a segurança através de um
processo estruturado baseado em ameaças (causas humanas deliberadas) como conflitos armados,
terrorismo, crime e agitação civil e perigos (eventos acidentais naturais ou causados pelo homem)
que são examinados e ponderados para chegar a um nível de segurança apropriado que existe em um
ambiente geográfico específico. O nível de segurança indica o grau de perigo que existe na área ou
local definido em uma escala de 1, menos perigoso, a 6, mais perigoso. A força do SLS é que ele se
encaixa no front end do modelo de gerenciamento de riscos de segurança sem desencadear decisões
de gerenciamento administrativo que possam prejudicar a entrega do [programa] 40.” Aplica-se apenas
a agências e organizações da ONU com um memorando de entendimento (do inglês, memorandum of
understanding — MOU) com o Departamento de Segurança e Proteção das Nações Unidas (do inglês,
United Nations Department of Safety and Security — UNDSS).
O funcionário mais graduado nos países ou áreas com presença da ONU é normalmente designado
como Oficial Designado (do inglês, Designated Official — DO) para Segurança. O DO se reporta “ao
40) Conselho de Chefes Executivos do Sistema das Nações Unidas para Coordenação, “Gestão do Sistema de Segurança”.
125
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
Mais informações sobre o sistema de segurança da ONU estão disponíveis por meio da ferramenta
de aprendizado da ONU “Segurança Básica no Campo II”, que é obrigatória para todo o pessoal da ONU
em campo, bem como para todo o pessoal pertencente a agências com um MOU com UNDSS.
Gerenciamento de riscos
A principal diferença entre safety e security (em português, os dois recebem a mesma designação
— segurança) é que safety está relacionada a incidentes causados pela natureza (por exemplo, uma
avalanche) ou circunstâncias não violentas (por exemplo, incêndio, acidentes rodoviários) e a doenças,
ferimentos e morte resultantes de condições médicas ou locais de trabalho negligentes. diretrizes
e procedimentos de segurança. Security indica a proteção do pessoal assistencial e dos ativos das
agências assistenciais contra a violência. Em geral, risco é definido como ameaça combinada com
vulnerabilidade44. Existem três maneiras de reduzir o risco:
• Tomar medidas para garantir que, quando confrontado com a ameaça, o impacto seja limitado.
41) CEB/Rede de Recursos Humanos, “Sistema de Gerenciamento de Segurança das Nações Unidas, Informações sobre Gerenciamento de Segurança e
Benefícios Relacionados à Segurança Disponíveis no Sistema Comum das Nações Unidas para Oficiais Profissionais Nacionais e Membros do Pessoal
de Serviços Gerais”, 4.
42) “Sistema de Gestão de Segurança das Nações Unidas”.
43) ODI/Rede de Práticas Humanitárias (HPN), “Gerenciamento de Segurança Operacional em Ambientes Violentos, Revisão de Boas Práticas 8”, dezembro
de 2010, 14. Disponível em inglês: <http://odihpn.org/wp-content/uploads/2010/11/GPR_8_revised2.pdf>.
44) O risco pode ser entendido em relação ao conceito de dano futuro. A ameaça deve ser vista como um perigo para você, sua organização ou sua
propriedade. Vulnerabilidade é o seu nível de exposição a uma ameaça específica e refere-se à possibilidade ou probabilidade de encontrar uma
determinada ameaça.
126
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
Os trabalhadores humanitários geralmente não têm muitas maneiras de impactar a ameaça (por
exemplo, condições das estradas), mas podem reduzir a vulnerabilidade (por exemplo, dirigir devagar,
usar cinto de segurança etc.). O risco mudará com as intervenções de gestão. Como regra, todos os
atores humanitários precisam pensar na segurança.
Uma parte importante na execução de um programa é identificar o limite de risco aceitável que
os atores humanitários estão dispostos a aceitar. O Manual de Gerenciamento de Riscos de Segurança
(do inglês, Security Response Management — SRM) do Sistema de Gerenciamento de Segurança das
Nações Unidas inclui uma tabela de análise de risco para ajudar os tomadores de decisão a determinar
um nível de risco correspondente associado a um evento específico45. Conforme declarado na Revisão
de Boas Práticas 8, um guia sobre práticas de gerenciamento de segurança de agências assistenciais,
os modelos de avaliação de risco podem variar em complexidade e nível de detalhes de agência para
agência, e o que pode ser aceitável para uma mas não para outras. Não existe um modelo único.
Compreender a decisão de uma organização de parar e se retirar primeiro requer uma compreensão
da diferença entre “mandato” e “missão47”. Os mandatos se originam de uma fonte externa (por exemplo,
o ACNUR tem um mandato dado pelos Estados Membros para trabalhar com refugiados), enquanto uma
missão é mais uma declaração autoatribuída que reflete os valores da organização. Com um mandato,
há uma expectativa de que a organização deve ficar. Com uma missão, há mais flexibilidade, e a
questão de ficar vai depender principalmente da tolerância da organização ao risco. Na estrutura de
45) Sistema de Gerenciamento de Segurança das Nações Unidas, Manual de Gerenciamento de Riscos de Segurança (SRM), 11 de dezembro de 2015, 5.
46) ODI/HPN, “Gerenciamento de Segurança Operacional em Ambientes Violentos, Revisão de Boas Práticas 8”, 33.
47) ODI/HPN, “Gerenciamento de Segurança Operacional em Ambientes Violentos, Revisão de Boas Práticas 8”, 35.
127
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
seu gerenciamento de risco de segurança, cada agência assistencial deve desenvolver “cenários de pior
caso” lidando com ameaças potenciais. Para algumas ameaças, como situações de sequestro e reféns,
as equipes de gerenciamento de incidentes críticos podem ser obrigadas a interagir com o governo
anfitrião e os sequestradores.
Algumas organizações podem considerar o uso de proteção armada. Essa continua sendo uma
questão controversa para os trabalhadores humanitários, pois pode prejudicar a imagem da organização
e suas atividades. Sempre que a opção de proteção armada estiver disponível, os atores humanitários
devem determinar se o limiar de risco aceitável já foi ultrapassado. A compatibilidade ética da ação
humanitária e do uso da força permanece problemática e deve ser considerada apenas uma opção
de último recurso. Além disso, não deve ser vista como proteção apenas para os trabalhadores
humanitários, mas também para a população afetada. Em alguns casos, o uso de proteção armada pode
prejudicar a percepção de neutralidade de uma organização. O governo anfitrião às vezes pode tentar
impor essa proteção armada em sua obrigação sob o DIH. No entanto, as agências não podem ser
forçadas a aceitar isso como uma questão de princípio. As agências de ajuda humanitária devem estar
cientes de como a recusa de proteção armada pode afetá-las e devem consultar outras agências antes
de tomar qualquer decisão. Dentro do sistema da ONU, o DO, com a assistência do SMT, pode solicitar
serviços de segurança armada locais ou internacionais fornecidos por empresas de segurança privada
sempre que os registros de Análise de Risco de Segurança justificarem ameaças e o uso de forças de
segurança da nação anfitriã não for preferível ou viável. O Secretário-Geral Adjunto de Segurança e
Proteção deve aprovar o pedido48.
48) UNDSS, “Sistema de Gerenciamento de Segurança das Nações Unidas, Manual de Operações de Gerenciamento de Segurança”, novembro de 2012.
Disponível em inglês: <http://www.ohchr.org/Documents/Issues/Mercenaries/WG/StudyPMSC/GuidelinesOnUseOfArmedSecurityServices.pdf>.
128
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
que o país afetado tenha um plano adequado de preparação e resposta a desastres, alguns eventos vão
além de sua capacidade de lidar com a situação e gestão dos restos mortais. Casos como o terremoto
de 2010 no Haiti podem sobrecarregar as organizações. Em um cenário de pior caso como este, onde
a capital foi atingida, deixando instituições fracas ou inexistentes e incapacidade de resposta nacional,
ações apropriadas em relação aos restos humanos podem ser impossíveis de gerenciar e resultar no
enterro em massa como a única solução viável (ordenada pelo autoridades nacionais).
Tal reação pode ocorrer quando as autoridades enfrentam um alto número de mortos e há muitos
outros fatores a serem considerados. O número de mortos provavelmente aumentará à medida que
mais corpos forem encontrados e alguns dos feridos sucumbirem aos ferimentos.
Existe uma crença comum de que os restos, sejam humanos ou animais, são responsáveis pelo
surto de doenças e causam ameaças à saúde pública. Essas crenças – algumas com raízes históricas ou
religiosas, outras baseadas em superstições – podem apresentar obstáculos para as autoridades lidarem
com um grande número de mortes, o que poderia colocá-las sob pressão e resultar em enterros em
massa. Alguns argumentos apoiam a eliminação rápida de restos mortais por razões mais psicológicas
e sociais (por exemplo, o cheiro de restos em decomposição, animais necrófagos, etc.). Sempre que
possível, no entanto, os humanitários também devem levar em conta considerações legais (por exemplo,
identificação das vítimas) e socioculturais (por exemplo, ritos funerários, luto, etc.).
Permanências em um desastre natural em uma área não endêmica (uma região geográfica onde
uma determinada doença não é prevalente) são um resultado direto desse desastre e do trauma que
ele infligiu. A maioria das bactérias e vírus em um corpo morre rapidamente, mas alguns vírus (por
exemplo, HIV) podem sobreviver em um corpo por um período considerável de tempo (dias ou mesmo
semanas) e em temperaturas tão baixas quanto 2°C50. Outras doenças como a tuberculose ainda
apresentam riscos, especialmente durante uma autópsia ou manuseio do corpo quando o ar sai do trato
respiratório. Durante a crise da Doença do Vírus Ebola na África Ocidental, o contato desprotegido com
fluidos corporais de um paciente infectado ou morto resultou na transmissão da doença. A combinação
de contato desprotegido e rituais funerários tradicionais (desprotegidos) causou um surto maciço na
população. Campanhas de informação sobre uma doença devem ser feitas com cuidado, como mostrado
durante a crise de ebola em Wome (Guiné), onde profissionais de saúde e um jornalista foram atacados
durante viagens para aumentar a conscientização sobre o vírus51.
49) Organização Pan-Americana da Saúde e OMS, “Gestão de Corpos Mortos em Situações de Desastres, Série de Manuais e Diretrizes de Desastres,
N°5”, 2004.
50) Deniz Demiryürek, Alp Bayramoğlu e Şemsettin Ustaçelebi, “Agentes infecciosos em cadáveres humanos fixos: Uma breve revisão e diretrizes
sugeridas”, The Anatomical Record, vol. 269, nº 4, agosto de 2002, 196.
51) BBC, “Surto de ebola: equipe de saúde da Guiné morta”, 19 de setembro de 2014. Disponível em inglês: <http://www.bbc.com/news/world-
africa-29256443>.
52) Ben Wisner e John Adams (eds.), Saúde ambiental em emergências e desastres: um guia prático, Genebra, Suíça, Organização Mundial da Saúde,
2002, 198.
129
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
por fezes e descarga de lesões. Há uma relação em ambos os casos: corpos em decomposição e fontes
poluídas de água potável. Há, portanto, interesse em retirar corpos/cadáveres o quanto antes dessas
áreas. Na maioria dos casos, a ameaça à saúde pública após um desastre natural se deve a áreas
superlotadas (como acampamentos) com medidas de saneamento e higiene precárias, infraestrutura
inadequada (incluindo coleta de lixo), falta de água potável, etc. A presença de vetores de transmissão,
como moscas, pulgas e roedores, podem facilmente transmitir microrganismos causadores de epidemias.
Se as autoridades não tomarem as devidas precauções, podem ocorrer surtos de doenças.
Cada sociedade, cultura e religião tem práticas para lidar com o desaparecimento ou perda de
um ente querido. Elas expressam reações a essa perda de diferentes maneiras, e é importante que
as pessoas sejam capazes de passar por sua própria fase ou processo de luto. Normalmente, não há
problemas para identificar, recuperar e enterrar o falecido de acordo com os costumes locais e rituais
fúnebres. Na esteira de um desastre natural, no entanto, a situação é diferente. Os cadáveres podem
ser físicos ou tecnicamente impossíveis de recuperar. Às vezes, as autoridades ordenam a limpeza de
ruas e espaços públicos para restabelecer o tráfego sem perder tempo procurando restos mortais.
Em muitos casos, as autoridades não têm um plano de gestão de resíduos detalhando onde evacuar
os escombros contendo potenciais restos humanos e animais com segurança, o que pode causar
problemas de segurança adicionais. Existem também aspectos legais relativos aos restos mortais que
não são recuperados e/ou identificados. A identificação e a necessidade de atestar uma morte (ou
seja, aspectos legais do patrimônio e outros procedimentos civis) podem ser impossíveis devido à
magnitude e extensão da devastação; a falta de pessoal forense, especialistas médicos e jurídicos e
tecnologia; e infraestrutura inadequada ou insuficiente para preservar os restos mortais. Autoridades
e atores humanitários devem procurar alternativas como contêineres e caminhões frigoríficos, outras
instalações de refrigeração existentes e agentes funerários. A maioria das instalações de resfriamento
exigirá eletricidade, que pode não estar disponível ou pode ser fortemente interrompida devido ao
desastre. No caso de sepultamento em massa, não haverá identificação e recuperação possível.
Sempre que possível, as autoridades devem tentar recuperar e preservar os restos mortais, mesmo
que isso signifique que devem proceder ao sepultamento temporário com pouca identificação (por
exemplo, fotos para reconhecimento visual, identificação do local onde o corpo foi encontrado etc.) e
registro e terminar o processo e transferir os restos humanos para a família mais tarde. Durante os
desastres com fatalidades em massa, as autoridades locais muitas vezes estão entre as vítimas, e a
falta de pessoal qualificado e autorizado para executar as operações de recuperação é um fato a ser
levado em consideração. Felizmente, recursos técnicos e científicos modernos, como a análise de DNA,
permitem um melhor gerenciamento de fatalidades em massa, embora a um custo.
Em muitos casos, não poder enterrar os mortos pode levar a possíveis problemas psicológicos e
a um processo de luto inacabado. A família poderia ficar com dúvidas não resolvidas sobre o súbito
desaparecimento de um familiar ou amigo. A forma como as pessoas reagem e lidam com a morte
130
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
© CICV, Renato Pajuelo. La Mar, Oronccoy: Retorno dos restos mortais de pessoas desaparecidas. Após mais de 30 anos, esta aldeia
foi reabilitada e permitiu que 64 pessoas desaparecidas fossem enterradas com dignidade. Cerca de 40 delas foram enterrados sem
identificação. Essa operação foi organizada em colaboração com as autoridades locais e o CICV. 30 de agosto de 2019.
dependerá da cultura local e da religião praticada. Outros fatores que influenciam essa reação incluem
experiências passadas; sejam eles jovens ou velhos, homens ou mulheres; ou se pertencem a grupos
vulneráveis como idosos, deficientes, excluídos ou crianças. As crianças são particularmente vulneráveis
e podem desenvolver rapidamente reações pós-traumáticas, razão pela qual é importante reconstituir
o sistema escolar o mais rápido possível para ajudar as crianças a expressar seus traumas psicológicos
vivenciados. Os papéis dentro de uma família podem mudar. As mulheres de repente assumem o
papel de chefes de família, ou os homens têm que cuidar dos filhos — desafios que exigirão tempo
de adaptação. Outro momento crítico ocorre quando as famílias são notificadas do desaparecimento
ou morte de um familiar ou solicitadas a identificar um cadáver. Isso pode resultar em fortes reações
por parte do(s) familiar(es) afetado(s), e, por isso, deve ser feito por pessoal especialmente treinado,
levando em consideração o atendimento psicológico específico destinado aos familiares.
131
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
de resposta a emergências devem ter procedimentos operacionais sobre como lidar com esses casos.
Depois que a equipe de socorro termina o trabalho e volta para casa, os cuidados posteriores profissionais
são essenciais para garantir que as pessoas possam retornar a uma vida normal.
Conclusão
A distinção entre áreas endêmicas e não endêmicas é fundamental. Embora ambas possam resultar em
números elevados de óbitos, há uma diferença significativa quanto à forma de manejo dos restos mortais.
Em geral, os trabalhadores humanitários devem ter cuidado ao gerenciar os restos mortais e devem
observar certos padrões de higiene para evitar se tornarem transmissores de doenças. Somente pessoal
ou equipes bem treinadas devem ter essas responsabilidades (por exemplo, a crise de EVD).
As autoridades devem evitar usar argumentos de saúde pública para proceder à eliminação rápida
dos restos mortais através da utilização de valas comuns. Esse tipo de decisão negligencia os aspectos
psicológicos da população afetada. As autoridades devem sempre tentar recuperar e identificar os
cadáveres; fazer isso é importante para que os familiares iniciem seus processos de luto enterrando o
falecido de acordo com sua religião, costumes locais e/ou lei.
A prestação de cuidados de saúde mental a todos os grupos vulneráveis identificados faz parte
da superação desta situação em que as pessoas nem sempre sabem conviver com o trauma que
vivenciaram. Também deve incluir todas as equipes de primeira resposta a emergências.
132
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
133
LIÇÃO 5 | Questões Transversais
Respostas »
1. D
2. C
3. C
4. B
5. B
6. C
7. A
8. D
9. B
10.A
134
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
LIÇÃO
6 Avaliação
Seção 6.3 Tipos de Avaliação • Discutir e explicar por que a avaliação deve ser
Seção 6.4 MIRA feita por pessoal especialmente treinado.
Seção 6.5 O Ciclo de IM
• Descrever a importância da revisão de dados
Seção 6.6 A Estrutura Analítica MIRA secundários e alguns dos atores envolvidos.
Seção 6.7 Seleção do Local e Amostragem
Proposital
• Analisar e descrever o ciclo de gestão da informação.
Seção 6.10 Plano de Avaliação e Organização de • Explicar as diferentes técnicas de coleta de dados
Visitas de Campo
e etapas de análise.
Seção 6.11 Relatórios
• Discutir o plano de avaliação e como organizar
Seção 6.12 ACAPS e GEGA
uma viagem de campo.
Seção 6.13 O Projeto Esfera
135
LIÇÃO 6 | Avaliação
Tendas para deslocados internos que se refugiaram perto das instalações da MINUSS em Pibor como resultado de conflitos
intercomunitários no estado de Jonglei. 6 de março de 2020. Foto da ONU por Isaac Billy.
Introdução
136
LIÇÃO 6 | Avaliação
Outros documentos importantes sobre este assunto incluem o ACAPS “Good Enough Guide to Needs
Assessment” (GEGA) 2, as “Diretrizes para avaliação em emergências” IFRC3 e os Sphere Standards.
• A GI é um componente-chave da coordenação
no apoio à tomada de decisões, fornecendo
informações precisas prontamente, no formato
apropriado e com a precisão necessária para
aqueles que precisam. A gestão da informação é
um processo contínuo4.
geral é auxiliar o governo e o HCT do país afetado Kuda, no Sudão do Sul, para avaliar a situação
humanitária e de segurança na área. 26 de
em sua tomada de decisão.
setembro de 2016. Foto da ONU por Isaac Billy.
1) Resposta Humanitária, “Guia de Avaliação Rápida Inicial Multissetorial”, julho de 2015. Disponível em inglês: <https://www.humanitarianresponse.
info/en/programme-cycle/space/document/multi-sector-initial-rapid-assessment-guidance-revision-july-2015>.
2) ACAPS, “Avaliação de Necessidades Humanitárias, O Guia Bom o Suficiente”, (Rugby, Reino Unido, Emergency Capacity Building Project (ECB) e
Practical Action Publishing, 2014).
3) IFRC, “Diretrizes para avaliação em emergências”, março de 2008. Disponível em inglês: <https://www.icrc.org/eng/assets/files/publications/icrc-
002-118009.pdf>.
4) Para obter mais informações, consulte a Seção 6.5.
137
LIÇÃO 6 | Avaliação
• Restrições quanto à coleta de dados devido aos recursos humanos e financeiros disponíveis;
Observe que a avaliação requer pessoal treinado que compreenda todo o processo, incluindo: a
preparação de uma missão de avaliação e seus objetivos, a coleta e a análise de dados e a produção
de relatórios.
5) ACNUR, “Kit de Ferramentas de Gestão de Informação de Emergência”, 39. Disponível em inglês: <https://im.unhcr.org/imtoolkit/>.
6) Susan van Duijl, “Assessment Analysis & Coordination, Presentation to IAWG”, 19 de outubro de 2012, 3.
7) Van Duijl, “Análise e Coordenação de Avaliação, Apresentação ao IAWG”, 3.
138
LIÇÃO 6 | Avaliação
Avaliações Coordenadas
Coordinated Assessments
Descoordenadas Harmonizado Conjunto
• Uncoordinated
Múltiplas avaliações
(coordenado) (coordenado)
Harmonized (coordinated) Joint (coordinated)
• Múltiplas metodologias • Múltiplas avaliações com • Formulário de avaliação
Multiple assessments Multiple assessments with Common assessment form
indicadores comuns comum
• Múltiplos relatórios
Multiple methodologies
common indicators
Common methodology
• Várias metodologias • Metodologia comum
• Não compartilhado
Multiple reports
Various interoperable
Common report
interoperáveis
methodologies • Relatório comum
sistematicamente
Not systematically shared
• Relatórios únicos
Single or multiple ou
reports
múltiplos
Maior coordenação
Increased coordination
Os trabalhadores humanitários devem observar as seguintes regras gerais:
• Desenvolver dados populacionais desagregados (por exemplo, por sexo, idade, diversidade) por
área geográfica (afetada);
• Distinguir entre a situação pré-crise (ou seja, necessidades crônicas) e o impacto relacionado
à crise para diferenciar o que é normal para aquele local e o que ocorreu devido ao desastre;
• Triangular os achados para reduzir ou eliminar o viés, pois os avaliadores devido à sua formação
profissional, cultural e pessoal podem ver as coisas de forma diferente;
• Ter cuidado ao fazer suposições, pois experiências em outros lugares podem não ser o caso aqui
e agora;
• Estar ciente das percepções da comunidade e não criar falsas expectativas ao questionar a
população afetada;
• Considerar que as populações podem ficar frustradas devido às agências fazerem as mesmas
perguntas aos afetados repetidamente (fadiga de avaliação) ou devido à inação da comunidade
internacional;
Diferentes tipos de avaliação ao longo do tempo são mostrados no gráfico a seguir. No início de
uma crise, quando a pressão é alta, a avaliação será “rápida e suja” devido a limitações de tempo
139
LIÇÃO 6 | Avaliação
Avaliações Coordenadas
accuracy
acurácia Precision and accuracy increase over time
In-depth - comprehensive
Aprofundado –
abrangente
and confirmatory
Amostragem
Representative sampling
representativa
Rápido
Rapid - – objetivo
targeted ande
Precisioneand
explicativo
explanatory
Amostragem intencional
Initial - –“quick
Inicial andedirty”
“rápido Purposive sampling
Precisão
and explanatory
sujo” e explicativo
Amostragem de
Convenience sampling
conveniência
Fase
Phase11 Fase
Phase22 Fase
Phase33
Tempo e custo
Time and cost
O processo MIRA foi dividido em diferentes fases, conforme mostrado no gráfico abaixo. Esta lição
concentra-se principalmente na fase 1 (avaliação inicial) e na fase 2 (coleta e análise conjunta de dados).
A fase de avaliação 1 (dia 0-3) idealmente deve ser iniciada pelo governo, mas o HC/RC e o HCT
também podem iniciá-la de forma independente. Durante a fase 2, as avaliações de campo ocorrerão
visitando as áreas afetadas e realizando entrevistas com a população afetada.
Linha do Pré-crise Crise 3 dias 2 semanas 4 semanas 6 meses
tempo
Timeline Pre-crisis Crisis event 3 days 2 weeks 4 weeks 6 months
Fase
Crisisde Crise
Phase Fase
Phase00 Fase
Phase11 Fase
Phase 22 Fase
Phase 33 Fase
Phase 44
Preparação para
Assessment 2ª revisão de Avaliação conjunta: Avaliações setoriais
Início 2ry data review Joint assessment:
Atividade
Activity avaliação
preparedness Sudden
súbito
dados Coleta de dados
Primary data collection
Detailed harmonized
harmonizadas sectoral
detalhadas,
onset assessments, monitoring, etc.
primários monitoramento, etc.
Para fins humanitários, existem dois tipos de dados: dados secundários e primários. Dados
secundários são todos os dados pré-crise e em crise disponíveis (por exemplo, dados históricos, planos
140
LIÇÃO 6 | Avaliação
Individual
Individual
Depth of information
Doméstico
Household
Profundidade
Comunidade/Grupo
Community/Group
Comunidade
Community
Fase
Phase11 Fase
Phase22 Fase
Phase33
Tempo e cost
Time and custo
Coleção
Collection
Em
Decisão
Decision Disseminação
Dissemination Processing
processamento
Análise
Analysis
Contínuo de Management
Information Gerenciamento
deContinuum
Informações
Ele começa com uma coleta sistemática de dados (quantitativos e/ou qualitativos). Isso envolve uma
ampla gama de fontes. A coleta oportuna de dados e os instrumentos de coleta de dados apropriados
141
LIÇÃO 6 | Avaliação
reduzirão a probabilidade de erro, mas podem ser desafiadores devido ao ambiente operacional no qual
a coleta de dados deve ocorrer. A coleta de dados precisa e oportuna levará a8:
• Priorização de necessidades;
Para serem eficientes, os atores humanitários precisam saber quais dados coletar e onde acessar
as informações (dados secundários e/ou primários). Não faz sentido coletar tudo; portanto, a elaboração
de um bom plano será essencial.
O agrupamento de dados (processamento) é a segunda etapa do ciclo. Uma vez que os dados
chegarão por meio de diferentes formatos e métodos, os humanitários devem configurar uma estrutura
para colocar/processar dados no arquivo correto. Os dados coletados devem ser comparáveis para
permitir uma análise significativa. Uma estrutura adequada também facilitará a recuperação de dados.
Como novos dados chegarão todos os dias, os atores humanitários devem ter um plano para gerenciar
os arquivos e mantê-los atualizados. Sem um plano, há um grande risco de que conjuntos de dados
incompletos possam ser compartilhados.
Em primeiro lugar, identifique a fonte e avalie sua confiabilidade. Lembre-se de que a fonte pode
querer direcionar o coletor em uma determinada direção. A credibilidade dos dados tem tudo a ver
com verificação cruzada ou triangulação dos mesmos dados com outras fontes. A triangulação ajuda
a identificar potenciais contradições e inconsistências. Tente recuperar a fonte original e, se houver
apenas uma, considere a confiabilidade dessa fonte.
Adequação e adequação dos dados são dois outros aspectos a serem levados em consideração.
Dados adequados para uma consulta podem não ser úteis para outra. Se os dados forem inadequados
devido à sua imprecisão, o avaliador não deve usá-los. Finalmente, os atores humanitários precisam
validar seus métodos de coleta (por exemplo, método qualitativo versus quantitativo, método de
amostragem, etc.).
8) Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Avaliação e Coordenação de Desastres das Nações Unidas, Manual de Campo do UNDAC, 7ª
ed., 2018, Capítulo I, “Avaliação e Análise (A&A)”.
9) Para obter mais informações sobre a descrição de cada classificação, consulte: OCHA, Manual de Campo UNDAC, capítulo F, página 5-6/20.
142
LIÇÃO 6 | Avaliação
Quantos:
How Many:Números totais da
Total affected
population afetada,
população figures, breakdown
desagregação
by geographic
por area, breakdown
área geográfica, desagregação
» Quem
Who aresão
the os by group,
por grupo,breakdown by sector.
desagregação por ator.
maisaffected?
most afetados?
» Where
Onde are the
estão
as áreas
most mais
affected
afetadas?
areas?
» Quais
What aresão
theos
setores
most mais
affected
afetados?
sectors?
» O que
What fazer a
to do
Onde: Quais áreas seguir?
next?
Where: What
geográficas
geographicalsão afetadas
areas are
pelo desastre
affected by the disaster?
How Much:
Quanto: QuãoHowruim
bad is the situation?
é a situação? Quão
How severe is the
severo é o impacto?
impact?
(Fig: O que estamos procurando?) Adapted from the ACAPS UN Assessment Course, Revinge
Nov 2012 (source ACAPS).
10) ACAPS, “Resumo Técnico: Comparado a quê? Pensamento analítico e avaliação de necessidades”, agosto de 2013. Disponível de: <http://www.alnap.
org/resource/11439.aspx>.
143
LIÇÃO 6 | Avaliação
autorização de autoridades superiores, pois alguns dados podem não corresponder a decisões anteriores
(sobre desenvolvimentos). Algumas análises podem resultar em descobertas que são “delicadas” ou sensíveis.
Como a situação no terreno pode mudar rapidamente, os dados também podem. É impossível coletar
todos os dados; alguns dos dados necessários podem ainda não existir ou serão difíceis de encontrar/recuperar.
Os avaliadores devem saber quando interromper a coleta de dados, garantindo que não estejam usando
muitos recursos para resultados insuficientes. O mesmo vale para o compartilhamento de informações. Os
avaliadores não podem esperar até que todas as informações estejam disponíveis antes de redigir e enviar um
relatório, porque será tarde demais. Além disso, o documento não pode ser muito longo ou pode não ser lido.
A “teoria da rosquinha11”
A coleta de dados é como uma rosquinha com o buraco no meio representando os dados ausentes.
A falta de dados também é uma informação importante. O buraco geralmente representa a área mais
afetada de um desastre que não é capaz de enviar os dados/informações necessários devido a danos
excessivos aos sistemas de comunicação existentes.
secundários
efeitos primários e
fatores subjacentes
humanitárias
necessidades
vulnerabilidades e riscos
e perdas
principais infraestruturas
interrupção física das
nacionais e locais
capacidades e respostas
resposta
internacionais e
capacidades
população afetada
enfrentamento da
mecanismos de
afetada
socorro à população
acesso de atores de
afetada à assistência
acesso da população
físicas
segurança e restrições
Restrições
Perfil Humanitário Gravidade da Crise Lacunas na resposta
Operacionais
Evolução provável
Necessidades Humanitárias Prioritárias
Esta seção explicará brevemente o “escopo e escala da crise”, pois seu entendimento requer
informações adicionais12.
144
LIÇÃO 6 | Avaliação
Probabilida- Impacto/consequências
de Insignificante Menor Moderado Importante Principal
Quase certo
Provável
Possível
Improvável
Cru
Análise de dados secundários: Imediatamente após uma crise, os dados secundários serão a
principal fonte de informação para a avaliação inicial, pois a maioria dos atores ainda não terá chegado
à população afetada para coletar dados em primeira mão sobre a situação no terreno13. Essa revisão e
13) Uma exceção poderia ser feita com as Equipes de Coordenação de Avaliação de Campo da IFRC (FACT) que, no caso de uma rede bem desenvolvida,
podem fornecer informações sobre a situação nas áreas afetadas onde membros treinados da FACT estão implantados.
145
LIÇÃO 6 | Avaliação
análise de dados secundários geralmente serão feitas pelo OCHA Geneva/CASS14 nas primeiras 48-72
horas (fase 1) e devem ser concluídas pela equipe do UNDAC para se tornar a Análise de Situação (do
inglês, Situation Analysis — SA) 15. A perícia analítica é fundamental neste caso, e pessoal experiente
com conhecimento de emergências e antecedentes do país deve realizar a análise de dados. Isso
beneficiará o HC/RC e o HCT para formular uma estratégia que descreva os principais pontos de ação e
estratégia de resposta a seguir em relação à resposta a desastres em andamento. O IASC distingue dois
tipos de informações secundárias:
Ao usar o MIRA, existem duas categorias principais de análise: características geográficas e grupos
populacionais17:
14) Seção de Apoio à Avaliação Coordenada pertencente ao Ramo de Apoio ao Programa (do inglês, Programme Support Branch — PSB).
15) A maioria das agências seguirá o mesmo processo para o setor pelo qual são responsáveis.
16) IASC, “Orientação de Avaliação Rápida Inicial Multissetorial”.
17) IASC, “Orientação de Avaliação Rápida Inicial Multissetorial”.
146
LIÇÃO 6 | Avaliação
Tenha em mente que o número de categorias deve se adequar à coleta de dados existente e à
capacidade analítica para evitar sobrecarregar a coleta de dados e a amostragem com desagregação
excessiva. Na maioria dos casos, os avaliadores se limitam a duas ou três categorias, conforme mostra
a tabela abaixo18.
Informações de nível
Sector/Cluster LeveldeInformation
setor/cluster
Ambiente urbano
Urban setting Ambiente rural
Rural setting
Deslocados Residentes
Affected Deslocados Residentes
Affected
IDPs
internos
IDPs
internos Afetados
Afetados
Residents Residents
Homem
Male Mulher
Female Homem
Male Mulher
Female Homem
Male Mulher
Female Homem
Male Mulher
Female
Coleta de dados primários: Da análise de dados secundários vem um plano de análise que
se concentra nos dados ausentes da revisão de dados secundários para desenvolver uma imagem
completa da situação. Os avaliadores revisam e adaptam o design do MIRA detalhando quais dados
coletar e onde acessá-los. Eles precisam refinar os objetivos e as necessidades de informação, mas os
avaliadores devem estar cientes de que provavelmente não conseguirão atender a todas as necessidades
de informação de todas as partes, portanto, será necessário um consenso. É importante sentar-se com
todos os atores e partes interessadas envolvidos no processo de avaliação para garantir que o plano
de avaliação inclua os objetivos e escopos mais importantes e garantir a adesão suficiente de todos os
parceiros de avaliação. Além disso, alguns parâmetros contextuais importantes devem ser levados em
consideração, como:
• Vida útil das informações coletadas versus tipo e frequência de atualizações de relatórios;
147
LIÇÃO 6 | Avaliação
• Sobrecarga de informações;
• Desperdício de recursos.
As seções anteriores explicaram algumas restrições e desafios para a avaliação e o fato de que
os avaliadores precisam se concentrar nas informações ausentes na revisão de dados secundários.
Os dados ausentes devem ser “bons o suficiente” e relevantes sem sobrecarga de informações
desnecessárias. Somente avaliações iniciais e rápidas poderão fornecer esses dados. A unidade de
amostragem recomendada será o nível da comunidade (avaliação do nível da comunidade [do inglês,
community-level assessment — CLA]). Cada amostra precisa ser representativa e será um corte
transversal em diversos grupos afetados (PDIs, comunidades anfitriãs, etc.), localizados em áreas
geográficas representativas selecionadas. Em outras palavras, os avaliadores precisam definir quais
grupos são importantes a ponto de serem considerados e a quais localidades pertencem a qual grupo20.
Amostragens aleatórias e estatisticamente representativas são impossíveis de serem conduzidas sob as
restrições de tempo e informação. Na amostragem intencional, os avaliadores recolhem amostras com
um propósito direcionado a um ou mais grupos predefinidos específicos21.
Observar as características do grupo permite distinguir entre características sociais e culturais (residência,
etnia, religião, idade, sexo, etc.) e homogeneidade versus heterogeneidade dos grupos afetados (pessoas
deslocadas internamente que vivem em acampamentos, população anfitriã, população afetada, etc.).
Conforme indicado anteriormente, os avaliadores não poderão realizar uma abordagem científica
completa (ótima) para a amostragem e seleção do local. Esta lição fornece alguns princípios-chave e
recomendações sobre locais e métodos de amostragem. Em relação ao número de sites, não há uma
resposta única, apesar dessa questão crítica. O número de locais dependerá da equipe disponível, apoio
logístico, tempo, distribuição geográfica da área afetada e heterogeneidade/homogeneidade da população.
19) The Sphere Project e ACAPS, “Esfera Descompactada, Esfera para Avaliações”, fevereiro de 2014.
20) ACAPS, “Technical Brief: Propositive sampling and site selection in Phase 2”, outubro de 2011.
21) ACAPS, “Resumo Técnico”.
148
LIÇÃO 6 | Avaliação
Quanto mais locais selecionados, maior será o atraso no fornecimento de dados. Visitar menos
locais permite mais tempo em cada local e geralmente garante melhor qualidade de dados. Quando
um padrão é detectado, há pouco benefício em continuar. Na prática, poucas situações exigirão mais
de 30 locais para amostragem intencional. Na maioria dos casos, 15 a 20 locais de avaliação serão
suficientes22. Se a área afetada for geograficamente grande, os avaliadores podem considerar o uso de
uma unidade de amostragem mais alta, como municipal ou comuna.
Embora a avaliação possa fornecer informações críticas sobre áreas e necessidades, os avaliadores
não podem extrapolar quantitativamente os achados da amostragem intencional para a população de
interesse mais ampla da qual a amostra veio. Para ilustrar, considere o exemplo declarado no resumo
técnico da ACAPS:
• “Os resultados da avaliação rápida por amostragem intencional mostram que 63% dos locais
avaliados não têm acesso a unidades de saúde;
• Fontes governamentais confiáveis afirmam que, no total, 100.000 pessoas são afetadas pela crise;
• Não é possível afirmar que 63.000 pessoas não têm acesso a unidades de saúde24”.
Um estudo de caso interessante aparece no Anexo 1 do Resumo Técnico (do inglês, Technical Brief‑
TB) da ACAPS — Amostragem intencional e seleção do local. Os alunos são incentivados a ler o anexo
do TB26.
149
LIÇÃO 6 | Avaliação
• De forma estruturada (os observadores sabem o que estão procurando). Nesse caso,
os avaliadores estabelecem um checklist com coisas a serem procuradas, algo específico
(comportamento; um evento; um objeto ou algo que não está ali, que está perdido, ou
deveria estar ali); e
• De uma forma não estruturada (apenas olhando o que quer que aconteça).
DO não é estático. Os observadores devem andar e ver, cheirar, ouvir e, se possível, tocar. Eles
devem ir a todos os locais onde possam observar coisas como pontos de água, mercados, latrinas,
casas de chá, unidades de saúde, locais religiosos, etc. Quais são as condições físicas e atividades
das pessoas? Como elas se relacionam? Como vivem? A vantagem do DO está na rápida coleta de
informações — ele fornece apenas um breve parecer.
150
LIÇÃO 6 | Avaliação
Uma entrevista semiestruturada usa listas de verificação de perguntas abertas para estimular
discussões sobre um assunto específico. A análise dessas perguntas pode ser trabalhosa devido à
variedade/amplitude de perguntas possíveis, mas permite que os avaliadores resumam as respostas em
torno dos pontos principais.
Uma entrevista estruturada usa questionários sobre assuntos específicos selecionados. Isso
garante que todas as entrevistas abordem os mesmos assuntos da mesma maneira. A agregação e
comparação serão feitas de forma muito mais fácil e precisa. Somente pessoas com a experiência e
os conhecimentos necessários devem elaborar questionários. Isso muitas vezes requer treinamento
específico.
Como regra geral, as entrevistas devem ocorrer em um ambiente seguro. O facilitador deve ter
em mente que alguns dados podem ser sensíveis e deve garantir o anonimato dos dados coletados.
A presença de representantes de autoridades do Estado ou outros terceiros durante uma entrevista
pode ser um obstáculo para receber respostas corretas e completas. Isso pode criar viés induzido pelo
respondente, que, conforme declarado no resumo técnico, pode levar a:
• Memória falha;
• Exagero e desonestidade;
• Influência dos grupos na entrevista (a presença de outras pessoas pode tentar o entrevistado a
responder de tal forma que lhe dê credibilidade aos olhos dos observadores); e
• Viés de cortesia (muitas vezes com base cultural, os entrevistados podem responder pelo que
acham que o entrevistador quer ouvir).
A forma como o entrevistador conduz o questionamento pode ter um impacto sobre o entrevistado.
Além disso e tanto quanto possível, o KII deve ser feito por uma pessoa do mesmo sexo (incluindo o
intérprete, se necessário) como sujeito para respeitar a aceitação/adequação cultural.
151
LIÇÃO 6 | Avaliação
Segue-se um exemplo de recolha de dados numa categoria WASH > abastecimento de água > PDIs
> província X > Distrito Z > local Y:
» KIIs:
• Menos de 5 litros/dia/pessoa disponível;
• Nenhum ponto de água seguro alternativo disponível; e
• Aumento de casos de diarreia aquosa relatados
» DO:
• >3 horas de fila no único ponto de água;
• Capacidade limitada de armazenamento de água no nível HH; e
• Proximidade da rede de esgoto em relação ao ponto de água
Descrever
Describe Explicar
Explain Interpretar
Interpret Previsão
Forecast
Resumir e validar
Summarize anddados
validate data
Em sua análise, os avaliadores tentarão quantificar visualmente os dados coletados por meio de
medidas. São quantidades que estão sendo calculadas ou estimadas. Durante as avaliações, os avaliadores
devem usar três medidas essenciais. Algumas medidas estão vinculadas a limites globais que podem ser
encontrados nos Padrões Sphere indicando gravidade (por exemplo, desnutrição aguda grave [do inglês,
severe acute malnutrition — SAM] ou taxa bruta de mortalidade [do inglês, crude mortality rate ‑ CMR]).
152
LIÇÃO 6 | Avaliação
Situação
normal Saudável Desconforto Alto nível de Danos Morte
sofrimento irreversíveis à
saúde
Situação Situação
normal catastrófica
Situação
catastrófica
153
LIÇÃO 6 | Avaliação
• Caixa e administração;
Um bom relatório começa com uma descrição da situação e das necessidades humanitárias seguidas
pelo que foi feito até agora (o que foi entregue até agora ou está em preparação para ser recebido).
154
LIÇÃO 6 | Avaliação
original;
• Evidência: dados que suportam a alegação (os dados precisam ser apropriados e suficientes); e
• Raciocínio: uma justificativa que conecta a evidência à alegação mostrando por que os dados
contam como evidência usando princípios apropriados e suficientes.
A maneira como certas coisas são relatadas pode levar à confusão. Os atores humanitários devem
garantir que os leitores compreendam as limitações dos dados coletados e da análise produzida e não
usem mal os resultados. Se houver incertezas, elas devem ser mencionadas claramente. O TB lista vários
pontos interessantes a serem lembrados ao relatar incertezas, especialmente se elas influenciarem os
conselhos estratégicos fornecidos, envolverem controvérsias entre as partes interessadas ou se escolhas
e suposições carregadas de valor entrarem em conflito com os pontos de vista e interesses das partes
interessadas29.
O mesmo TB também fornece exemplos de como as incertezas podem ser expressas em relatórios:
• Declarações que indicam o status do estudo, tais como: achados preliminares, como primeira
aproximação, são necessárias mais pesquisas, com base nos insights atuais [;]
• Declarações sobre o consenso científico sobre uma alegação, tais como: há uma confiança
considerável em [reivindicação], muitos especialistas do setor consideram [reivindicação], é
amplamente aceito que [reivindicação] [;]
Além disso, algumas terminologias apresentam desafios para os redatores de relatórios de situação.
28) Eric Brunsell, “Designing Science Inquiry: Claim+Evidency+Rasoning=Explanation”, Edutopia, setembro de 2012. Disponível em inglês: <http://
www.edutopia.org/blog/science-inquiry-claim-evidence-reasoning-eric-brunsell>.
29) ACAPS, “Quão certo você está? Julgando a qualidade e usabilidade dos dados coletados durante avaliações rápidas de necessidades”, agosto de 2013.
Disponível em inglês: <https://www.acaps.org/how-sure-are-you-judging-quality-and-usability-data-collected-during-rapid-needs-assessments>.
30) ACAPS, “Quão certo você está? Julgando a qualidade e usabilidade dos dados coletados durante avaliações rápidas de necessidades”, 20.
155
LIÇÃO 6 | Avaliação
• Alvos: Todas as pessoas que um cluster ou setor está tentando alcançar com assistência [;]
• Cobertas: Pessoas que receberam assistência suficiente para cobrir suas necessidades 'por um
longo período de tempo' (de acordo com um padrão como SPHERE) [;]
• Restrição: Um problema que está impedindo que uma atividade de resposta ocorra”.
Os agentes humanitários devem evitar usar palavras como “danificado”, “afetado” ou “estimado”
sem qualquer referência a escalas ou contexto. O mesmo vale para palavras como “alto”, “baixo” e
“ruim”. Em vez disso, use descrições (por exemplo, a OIM informa que 15.887 das 21.000 pessoas que
se estima terem sido deslocadas estão agora em campos).
Um dos produtos desenvolvidos pela ACAPS é o Good Enough Guide to Needs Assessment, escrito
para avaliadores de campo com pouca ou nenhuma experiência em avaliação. O GEGA descreve várias
técnicas e ferramentas de avaliação. A Direção-Geral da Ajuda Humanitária e da Protecção Civil da
Comissão da UE aceitou-o como um guia de referência oficial32.
156
LIÇÃO 6 | Avaliação
que muitas organizações têm seus próprios padrões, o Sphere foi globalmente aceito como o documento de
referência para padrões mínimos universais. Esse manual está atualmente em sua quarta edição (2018) 33.
“Sphere for Assessments”, um documento produzido pelo Sphere Project, estabelece uma ligação
entre o Sphere Handbook e a avaliação e como ambos interagem entre si e a outros padrões de
avaliação como o MIRA34. Existem padrões básicos e padrões mínimos. Eles são de natureza qualitativa
e especificam os níveis mínimos a serem alcançados na resposta humanitária em quatro áreas técnicas:
Carta
Humanitarian Ação-chave
Key Actions
Humanitária
Charter
Padrões
Fundamentais
Core e
Standards and
Indicadores-chave
Key Indicators
Padrões Mínimos
Minimum Standards
Princípios
Protectionde
Notas de
Proteção
Principles Guidance Notes
orientaçao
157
LIÇÃO 6 | Avaliação
A mídia social há muito entrou na “arena humanitária” como fonte de dados e informações. Ela
contém ferramentas baseadas na Internet (Twitter, Facebook, etc.) usadas para publicar, compartilhar e
discutir informações. Essas ferramentas fornecem novos métodos de comunicação e compartilhamento
de informações e são cada vez mais utilizadas durante os desastres. O OCHA já usa ferramentas de
mídia social como parte da estratégia geral de comunicação em caso de emergência. O desenvolvimento
adicional no uso dessas diferentes plataformas para coleta de informações está em andamento. Alguns
padrões detectados durante um desastre (localizações geográficas dos usuários) podem fornecer um
primeiro vislumbre da situação no terreno.
158
LIÇÃO 6 | Avaliação
1. Fadiga de avaliação significa _____. 5. Qual das opções a seguir NÃO é uma
das etapas do ciclo de mensagens
A. estar cansado de fazer avaliações
instantâneas?
B. estar entediado realizando avaliações
A. Coleta de dados
C. que agências da ONU e ONGs que navegam
B. Desenho de dados
na área afetada fazem essencialmente as
C. Análise de dados
mesmas perguntas enquanto a população
afetada aguarda a chegada da assistência D. Disseminação
159
LIÇÃO 6 | Avaliação
Respostas »
1. C
2. B
3. C
4. C
5. B
6. A
7. C
8. A
9. B
10.D
160
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
Seção 7.1 Abrigo - A Diferença entre Conflito • Explicar a relação entre demografia, meio
Armado e Desastres Naturais ambiente e desastre.
161
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
© CICV, Mamadou Diawoye Dia. Mopti: Deslocamento das populações de Djenné causado por conflitos entre comunidades e
inundações. 8 de outubro de 2018.
Introdução
162
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
não alimentares para explicar melhor algumas implicações e porque certas ações devem ou não ser
tomadas. Os alunos podem obter informações sobre abrigos e itens não alimentares por meio do uso
dos Padrões da Sphere sempre que apropriado.
Um desastre natural pode ser ainda mais imprevisível, pois pode acontecer sem aviso prévio,
criando necessidades imediatas dependendo do alcance e magnitude de seus efeitos sobre a população
e o meio ambiente. O abrigo é uma das necessidades prioritárias nesta situação3.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), metade da população
global vive a 60 km do mar e três quartos de todas as grandes cidades estão localizadas na costa4.
Populações em rápido crescimento exercem uma pressão significativa sobre o meio ambiente. Fatores
como desmatamento; danos à vegetação costeira, recifes de coral e outros ecossistemas costeiros;
e a exploração dos recursos naturais tornam essas áreas urbanas mais vulneráveis a tempestades e
desastres naturais.
163
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
Detalhamento das perdas econômicas registradas (em Detalhamento das perdas econômicas registradas
dólar americano) por tipo de desastre (2000–2019) (em dólar americano) por continente (2000–2019
Temperaturas extremas, deslizamentos Oceania
Incêndios florestais de terra, atividades vulcânicas, 3% (US$ 82 bilhões) África
3% (US$ 93 bilhões) movimentos em massa 1% (US$ 27 bilhões)
Secas 2% (US$ 63 bilhões) Europa
4% (US$ 128 bilhões) 9% (US$ 27 bilhões)
Terremotos
21% (US$ 636 bilhões)
Ásia
43% (US$ 1,26 bilhão)
Inundações Tempestades
22% (US$ 651 bilhões) 47% (US$ 1,39 bilhão) Américas
45% (US$ 1,32 bilhão)
Números nesta página baseados em Custo humano de desastres: Uma visão geral dos últimos 20 anos (UNDRR/CRED).
Entre 2000 e 2019, a maioria dos desastres em todo o mundo foram inundações (44 por cento) ou
relacionados a tempestades (28 por cento) ou terremotos (8 por cento). As inundações foram o tipo de
desastre mais comum, com 3.254 ocorrências5.
Em 2019, os desastres causaram 24,9 milhões de novos deslocamentos. Treze milhões deles
foram causados por tempestades, 10 milhões por inundações e 922.500 por terremotos. A maioria dos
deslocamentos induzidos por desastres ocorreu na Ásia6. Eventos geofísicos (terremotos, tsunamis e
atividade vulcânica) representaram 9% de todos os desastres entre 2000 e 2019. De acordo com um relatório
da Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (do inglês, United Nations Office for Disaster
Risk Reduction — UNDRR) de
Número total de pessoas afetadas
2020, “o número de desastres pelo tipo de desastre (2000–2019) Temperaturas extremas,
por ano e a distribuição de deslizamentos de terra, atividades
Terremotos vulcânicas, incêndios florestais
subgrupos de desastres 3% (118 milhões) 3% (109 milhões)
permaneceram relativamente
estáveis entre o ano de 2000 e
Inundações
2019, com uma média de 367
41% (1,65 bilhão)
Tempestades
eventos registrados por ano7”. 18% (727 milhões)
Há pouca diferença
nas principais necessidades
imediatas para os três principais Secas
35% (1,43 bilhão)
tipos de desastres8. As
porcentagens das necessidades
(não confundir com destruição)
são mais ou menos iguais em relação ao abrigo (18–20 por cento) para os três principais tipos de desastres.
5) UNDRR, Centro de Pesquisa em Epidemiologia de Desastres, Custo humano de desastres: Uma visão geral dos últimos 20 anos. Disponível em inglês:
<https://www.undrr.org/media/48008/download>.
6) OCHA, “Visão Geral Humanitária Global 2021”, 2021. Disponível em inglês: <https://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/resources/GHO2021_EN.pdf>.
7) UNDRR, Centro de Pesquisa em Epidemiologia de Desastres, Custo humano de desastres: Uma visão geral dos últimos 20 anos.
8) Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR), “2015 Desastres em Números”. Disponível em inglês: <http://www.unisdr.org/
files/47804_2015disastertrendsinfographic.pdf>.
164
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
Todos os outros
Transporte
WASH Terremotos $ 55 milhões
A composição do solo é outro fator que afeta o nível de devastação. O impacto físico de um desastre
será menor se os edifícios forem construídos em rocha sólida, que tende a receber menos danos.
Rochas e sedimentos não consolidados tendem a aumentar a amplitude e a duração das ondas sísmicas
do terremoto e aumentarão o potencial de danos9. Os efeitos de um terremoto são mais concentrados
geograficamente, mas a composição do solo pode ser a razão pela qual uma onda sísmica pode
danificar a infraestrutura longe do epicentro. A destruição causada pelo terremoto, que cria uma grande
quantidade de escombros, geralmente é mais grave do que outros tipos de desastres. Mais de 75%
das mortes por terremotos são causadas por tremores. Os grupos mais vulneráveis (ou seja, idosos,
mulheres e crianças) têm taxas de mortalidade mais altas. Os terremotos causaram a maioria das
mortes de todos os tipos de desastres entre 2000 e 2019: 721.318 mortes, ou 58% de todas as mortes
causadas por desastres nesse período10.
Os maremotos, uma variante dos terremotos, são frequentemente seguidos por tsunamis que
causam destruição generalizada e morte, como o terremoto e tsunami do Oceano Índico de 2004. Eles
também podem ter outros efeitos, como o terremoto e o tsunami de Tohoku em 2011 no Japão, que
provocou um colapso na Usina Nuclear de Fukushima Daiichi, causando um desastre ambiental.
Os cientistas usam a escala Mercalli e a escala Richter (do inglês, Richter Scale - RS) para
medir terremotos. A escala Mercalli descreve a intensidade de um terremoto com base em seus efeitos,
enquanto a escala Richter descreve a magnitude do terremoto medindo as ondas sísmicas observados
que causam o terremoto. A escala Richter tem uma abordagem mais científica e é mais utilizada. As
duas escalas têm diferentes aplicações e técnicas de medição. A escala Mercalli é linear, enquanto a
escala Richter é logarítmica (ou seja, um terremoto de magnitude cinco é 10 vezes mais intenso que um
terremoto de magnitude quatro).
165
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
Mercalli Richter
Medidas Os efeitos causados pelo terremoto A energia liberada pelo terremoto
Ferramenta de Observação Sismógrafo
medida
Cálculo Quantificado a partir da observação Escala logarítmica de base 10 obtida
do efeito na superfície da Terra, pelo cálculo do logaritmo da amplitude
humanos, objetos e estruturas feitas das ondas
pelo homem
Escala I (não sentida) a XII (destruição total) De 2,0 a 10,0+ (nunca detectado).
Um terremoto de 3,0 é 10 vezes mais
forte que um terremoto de 2,0.
Consistência Varia dependendo da distância do Varia em diferentes distâncias do
epicentro epicentro, mas um valor é dado para o
terremoto como um todo
Durante os terremotos, o acesso às áreas e populações afetadas pode ser difícil devido a danos à
infraestrutura de transporte (por exemplo, estradas e pontes). Em particular, os sistemas/infraestrutura
de comunicação podem ser fortemente afetados. Incêndio (devido a linhas de energia derrubadas,
dutos de gás natural quebrados, etc.) e tremores são os principais riscos secundários. Deslizamentos
de terra e liquefação do solo são outros efeitos de um terremoto. Apesar dos riscos secundários, as
pessoas muitas vezes querem ficar perto de suas casas e preferem dormir ao ar livre, temendo os
efeitos de novos tremores.
11) ACAPS, “Folha de Resumo de Desastres, Terremotos”. Os alunos que queiram saber mais sobre as recomendações de segurança devem ler o Anexo I
da ACAPS “Folha de Resumo de Desastres, Terremotos”.
166
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
Em alguns casos, grande parte da população pode não retornar à área afetada. O terremoto e
tsunami de Tohoku e o derretimento de Fukushima deslocaram um total de 386.739 pessoas. Em março
de 2012, um ano após o desastre, o número de deslocados ainda era de 344.290. Isso indica que a
maioria dos desalojados ainda não havia retornado para suas casas ou foram reassentados em abrigos
permanentes12. A desconfiança nas informações fornecidas pelas autoridades sobre a contaminação
existente pode ter sido o motivo pelo qual as pessoas não retornaram.
As inundações também podem causar a perda de colheitas, sementes e gado, bem como danos
estruturais (por exemplo, pontes destruídas, estradas destruídas, etc.). Eles podem mudar as paisagens e
acessar algumas áreas pode ser um desafio quando a água recua. Deslizamentos de terra podem acontecer
devido ao solo saturado. Substâncias tóxicas podem ser lavadas, liberando seu conteúdo. Em áreas de
(antigo) conflito, as inundações podem lavar minas terrestres e afetar áreas desmatadas e não desmatadas.
O nível de água atingido, a violência (volume), a velocidade das correntes e a área geográfica
abrangida caracterizarão a destruição causada pelas inundações. Muito dependerá da qualidade e do
design da infraestrutura existente. O número de lesões dependerá se a inundação ocorre de forma lenta
12) Reiko Hasegawa, “Evacuação de desastres do desastre do tsunami de 2011 no Japão e do acidente nuclear de Fukushima”, maio de 2013. Disponível
em inglês: <https://www.iddri.org/fr/publications-et-evenements/etude/disaster-evacuation-japans-2011-tsunami-disaster-and-fukushima>.
167
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
ou rápida. Por exemplo, uma inundação repentina provavelmente causará mais ferimentos do que uma
inundação de desenvolvimento lento13.
O impacto nos abrigos durante as inundações pode variar dependendo do nível da água e da
duração da inundação. Algumas pessoas tentarão permanecer em suas casas por diferentes motivos
(como medo de roubo ou saque). A limpeza e a reparação de edifícios podem começar quando a água
baixa e as pessoas regressam às suas casas para avaliar os danos. A distribuição de ferramentas e
equipamentos adequados será essencial para iniciar as operações de socorro. Eventos futuros, como o
inverno ou a estação chuvosa, terão um impacto considerável nos abrigos.
168
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
Tipo Categoria Pressão (mb) Ventos (nós) Ventos (mph) Cor da linha
Depressão DT --- <34 <39 Verde
Tempestade TS --- 34-63 39-73 Amarelo
tropical
Furacão 1 >980 64-82 74-95 vermelho
Furacão 2 965-980 83-95 96-110 Luz vermelha
Furacão 3 945-965 96-112 111-130 Magenta
Furacão 4 920-945 113-135 131-155 Magenta claro
Furacão 5 <920 >135 >155 Branco
15) Pijushkanti Saha, Climatologia Moderna (Nova Delhi, Índia, Allied Publishers Pvt. Ltda., 2012), 139.
169
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
Em áreas com baixo padrão de construção, as casas feitas de materiais leves, incluindo aquelas com
estrutura de madeira e cobertas com chapas de papelão ondulado, raramente resistem aos ventos de
uma tempestade. Detritos voadores podem causar grandes danos estruturais. A maré da tempestade
muitas vezes terá um efeito igualmente destrutivo em pequenas casas. Muitas pessoas têm a tendência
de ficar nas partes mais baixas de suas casas, por acharem ser um local mais seguro, e se surpreendem
com o súbito afluxo de água. Esta é uma das principais causas de afogamento durante as tempestades.
Em muitos casos, as pessoas não evacuam, apesar dos alertas antecipados, para proteger suas casas
de saqueadores. A destruição de infraestrutura individual e coletiva é tipicamente muito mais extensa
com ciclones tropicais do que com inundações. Devido à maré da tempestade, algumas áreas costeiras
podem permanecer inundadas por várias semanas, impossibilitando que os habitantes limpem ou
consertem suas casas16.
• São mais sensíveis às necessidades de mudança (mais escolhas, melhores relações com as
comunidades locais);
16) Os alunos que desejarem saber mais sobre as recomendações de segurança devem ler o Anexo III (Recomendações de segurança) da “Folha de
resumo de desastres, ciclones tropicais” da ACAPS.
17) Tom Corsellis e Antonella Vitale, Assentamento Transitório – População Deslocada, (Cambridge, Reino Unido, projeto de abrigo da Universidade
de Cambridge, 2005). Disponível em inglês: <http://www.ifrc.org/PageFiles/95884/D.01.06.%20Transitional%20Settlement%20Displaced%20
Populations_%20OXFAMfam%20and%20Shelter%20Centre.pdf>.
170
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
O ACNUR e seus parceiros abriram uma nova área de assentamento no distrito de Arua, no norte de Uganda, em fevereiro de
2017 para receber milhares de refugiados que chegam do Sudão do Sul. O novo assentamento Imvepi foi inaugurado depois que o
assentamento Palorinya, no distrito de Moyo, inaugurado em dezembro de 2016, atingiu rapidamente sua capacidade de acolhimento
de 135.000 refugiados. 20 de junho de 2017. Foto da ONU por Mark Garten.
• Há menos acesso a serviços essenciais que exigem mais recursos (comunidade de ajuda,
autoridades locais); e
Corsellis e Vitale afirmam que assentamentos agrupados (centros coletivos, acampamentos auto-
estabelecidos e acampamentos planejados) só devem ocorrer se um ou mais dos seguintes critérios
forem encontrados:
• Os custos do apoio emergencial (ou seja, político, social e financeiro) e de longo prazo são
muito altos, conforme estimativas;
171
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
• O governo anfitrião não está disposto, por razões políticas ou de segurança, a permitir
assentamentos dispersos;
• Há competição por recursos locais insuficientes (por exemplo, água, combustível, madeira)
resultantes de assentamentos dispersos;
• Risco de segurança por se tornar um alvo claro, especialmente se localizado muito próximo à
fronteira ou linha de frente;
• Impacto ambiental negativo (por exemplo, desmatamento, erosão do solo) sobre os recursos
locais existentes (risco de recursos naturais serem colhidos além dos limites sustentáveis da
área);
• O investimento inicial de capital pode ser alto sem qualquer certeza sobre a duração do
deslocamento.
• A maioria dos problemas está relacionada à infraestrutura e serviços necessários para apoiar a
população deslocada, o que pode se tornar problemático a longo prazo; e
• As autoridades devem garantir que a população deslocada seja realocada para uma área
aproximadamente do mesmo tamanho da área de vida anterior e também devem levar em
consideração as tensões étnicas e políticas.
• Oferecer menos apoio aos mecanismos de sobrevivência da família e menos flexibilidade para
garantir a subsistência;
• Fornecer capacidade de absorção limitada em caso de grande afluxo devido ao custo e tempo
necessários para configurar uma instalação planejada; e
172
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
O assentamento disperso com famílias anfitriãs é uma opção durante desastres naturais. Em
muitos casos, vem da reação humana natural de buscar abrigo com parentes e amigos. As famílias
anfitriãs podem ser parentes, amigos ou até mesmo estranhos. Pode ser dentro da mesma casa do
anfitrião ou em estrutura diferente, com ou sem pagamento, etc. A duração do período de hospedagem
e o estresse potencial (social, financeiro) que pode causar ao longo do tempo serão pontos cruciais a
serem considerados. Os agentes humanitários devem estar cientes de que esta opção tem um certo
número de vulnerabilidades:
• Acesso mais difícil a diferentes tipos de serviços, como serviços comunitários apoiados por
ajuda, cuidados de saúde, ajuda distribuída, etc.
Qualquer apoio prestado à população deslocada nunca deve elevar os padrões de vida dessa além
dos da população local. As famílias anfitriãs provavelmente podem sofrer tanto quanto as hospedadas,
pois compartilharão os escassos recursos que possuem com os membros da família hospedada, e
também precisarão de assistência para sobreviver.
• O acesso a certos serviços comunitários apoiados por ajuda e ajuda distribuída será mais difícil,
especialmente para grupos vulneráveis; e
• Dificuldade em encontrar água e pastagens para o gado, bem como terras agrícolas adequadas.
173
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
Os centros coletivos não devem ser considerados para acomodação de longo prazo, a menos que
possam fornecer o apoio necessário. Em muitos casos, o governo local pode oferecer um certo número
de instalações de propriedade do governo, como centros comunitários ou escolas, ou requisitar certas
infraestruturas de propriedade privada (por exemplo, armazéns, hotéis, etc.). Os agentes humanitários
precisam considerar as seguintes questões para esta opção20:
• Qual é a duração potencial e quando a instalação terá que retornar ao seu uso anterior?
• Quem é o dono?
Durante desastres naturais, as pessoas podem ocupar prédios como escolas ou armazéns
espontaneamente sem coordenação prévia com as autoridades. Após um desastre, as pessoas procuram
abrigo para se protegerem. Muitos desses abrigos não fornecem requisitos essenciais, como instalações
sanitárias e de cozinha suficientes. Eles podem ficar superlotados rapidamente, levando a problemas de
privacidade, higiene e saúde.
Embora os centros coletivos facilitem a assistência das agências, alguns riscos relacionados
à segurança, proteção e doenças ainda exigirão controle de vetores e promoção da higiene. Os
planejadores devem considerar os custos de
manutenção associados ao uso de centros
coletivos. Também é provável que haja
uma alta proporção de idosos e indivíduos
sem família vivendo nessas instalações. O
registro de todos os ocupantes pode ser
difícil, pois algumas pessoas podem sair do
centro durante o dia para procurar trabalho
ou fazer seus negócios diários. Portanto,
pode ser difícil para as agências de ajuda
fornecer assistência sem a ajuda de líderes
comunitários.
174
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
encontram acomodação em locais construídos para esse propósito e onde uma infraestrutura completa
de serviços é fornecida, incluindo abastecimento de água, distribuição de alimentos, distribuição de
itens não alimentares, educação e assistência médica, geralmente exclusivamente para a população do
local23.”
No caso de questões relacionadas a conflitos armados, o ACNUR será a agência líder. O ACNUR
considera os acampamentos planejados como uma opção de último recurso25. Ela negociará questões de
posse de terra com o governo anfitrião, bem como questões de proteção. O planejamento e contingência
do programa serão ações-chave para avaliar a capacidade e viabilidade dos acampamentos e sua
eventual construção. Eles também avaliarão se os acampamentos auto-instalados são viáveis para as
populações deslocadas, especialmente em áreas específicas de preocupação, bem como a composição
étnica e religiosa potencial. Também será importante monitorar os fluxos e o registro. As autoridades
precisam identificar os centros de recepção para registrar/rastrear todas as novas chegadas. Também é
comum observar qualquer rotatividade da população, bem como a composição demográfica em função
da situação em curso (por exemplo, alistamento forçado, atividades econômicas, etc.).
A questão da gestão do acampamento não deve ser subestimada. Ela requer o trabalho de
profissionais com o auxílio de comitês estabelecidos. A gestão dos acampamentos pode mudar ao
longo do tempo. Uma organização pode ser responsável pela construção e outra pelo desenvolvimento,
manutenção e administração do acampamento. Montar o acampamento é uma atividade complexa. O
planejamento de todas as instalações (por exemplo, armazenamento/distribuição de água e alimentos,
saneamento, gestão de resíduos, etc.), expansão potencial e aquisição de materiais e equipamentos
pode ser bem difícil. Atender aos padrões internacionais ao mesmo tempo em que analisa os perigos
potenciais, incluindo a degradação ambiental, será extremamente desafiador.
A relação entre as populações deslocadas e locais também terá impacto na gestão dos acampamentos,
aplicando-se os mesmos princípios descritos para outros tipos de assentamentos.
175
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
mais importante. Expectativas irreais geradas na população afetada de voltar para casa e receber
informações enganosas sobre o tempo de reconstrução podem criar frustração e tensão. A reconstrução
de casas pode se tornar uma questão de longo prazo e dependerá das capacidades financeiras disponíveis
(por exemplo, governo, doadores, etc.). Como o geógrafo Daniel Abrahams descreveu: “Em muitos
casos [,] os abrigos são usados muito além do período de tempo inicialmente planejado26”.
A vida útil projetada do abrigo temporário varia de acordo com o tipo usado (ou seja, tendas,
semipermanentes, etc.). Em muitos casos, espera-se que as estruturas de abrigos temporários se deteriorem
com o tempo, dependendo de sua qualidade e ambiente (por exemplo, clima, poluição, etc.). Apesar da
existência de padrões comuns, durante a crise do terremoto de 2010 no Haiti, Abraham observou:
26) Thomas Abeling e Hugh Deeming, “Projeto Mass Shelter Capability (MASC)”, 2015, 33. Disponível em inglês: <https://www.researchgate.net/
publication/282183801_Mass_Shelter_Capability_Literature_Review>.
27) Abeling e Deeming, “Capacidade de Abrigo em Massa”, 35.
176
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
177
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
em consideração na seleção do local. Os abrigos devem ter espaço suficiente entre eles para limitar o risco
de incêndio. Em geral, acampamentos grandes exigirão equipes de combate a incêndios com recursos
adequados, incluindo pontos de água suficientes. Ao projetar um acampamento, os planejadores devem
usar técnicas para tornar os abrigos mais seguros, especialmente após um terremoto, para garantir que
os ocupantes tenham a chance de escapar de um abrigo antes que ele desmorone28.
O ACNUR estabeleceu definições de agrupamentos dentro dos campos para esclarecer certos termos29:
Prazo Número
Família 4–6 pessoas
Comunidade = 16 famílias 80 pessoas
Bloco = 16 comunidades 1.250 pessoas
Setor = 4 blocos 5.000 pessoas
Módulo de acampamento = 4 setores 20.000 pessoas
Um campo de trânsito é estabelecido na fronteira Líbia-Tunísia para os milhares de refugiados que fugiram dos distúrbios em curso na
Líbia. A ONU e suas agências estão prestando assistência aos refugiados, incluindo tendas para abrigo do Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Refugiados (ACNUR). 6 de março de 2011. Foto da ONU por OCHA/David Ohana.
178
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
Abrigos de transição geralmente vêm em três tipos: coberturas plásticas, tendas e abrigos pré-
fabricados. As folhas de plástico são frequentemente o primeiro componente do abrigo distribuído.
São usadas principalmente para reparar telhados e janelas, mas pode ser um componente básico para
tendas. O esqueleto de suporte para este tipo de abrigo geralmente vem da floresta circundante. Isso
pode ter um impacto significativo no ambiente local. Em muitos casos, a distribuição de barracas é
a forma mais rápida de abrigar e proteger as pessoas, e a maioria dos tipos corresponde aos padrões
humanitários. Infelizmente, pesquisas descobriram que muitas tendas não são da mesma qualidade e
diferem de acordo com o fabricante, apesar de estarem em conformidade com as normas internacionais.
A vida útil de uma barraca depende do clima e pode levar de dois a três anos. As barracas são difíceis de
aquecer em climas mais frios e exigem muito combustível (geralmente querosene ou madeira), que tem
um certo custo. No calor, as barracas devem ser cobertas com outra braçadeira externa para sombrear
e proteger as barracas de baixo.
O Anexo I inclui uma descrição das normas de qualidade para equipamentos de abrigos. Os alunos
devem também reler algumas das normas do ACNUR no Manual da Sphere33.
30) Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Manual para Emergências, 3ª ed. (Genebra, ACNUR, 2007). Disponível em inglês: <http://
reliefweb.int/report/world/handbook-emergencies-third-edition>.
31) ACNUR, Manual para Emergências.
32) OIM, “Diretrizes de Abrigo Transitórios”, Genebra, Suíça, Centro de Abrigo, 2012. Disponível em inglês: <https://www.iom.int/files/live/sites/iom/
files/What-We-Do/docs/Transitional-Shelter-Guidelines.pdf>.
33) The Sphere Project, The Sphere Handbook: Carta Humanitária e Padrões Mínimos em Resposta Humanitária, 2011. Disponível em inglês: <http://
www.sphereproject.org/handbook/>.
179
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
A maioria das famílias deslocadas perde tudo em um desastre e precisa de novos itens pessoais,
como roupas, materiais de higiene, utensílios domésticos em geral, instalações de armazenamento
e muito mais. Os itens necessários dependerão do clima e da região. Os itens comuns entregues às
pessoas deslocadas incluem utensílios de cozinha, conjuntos de aquecimento, cobertores, galões
dobráveis, baldes, colchões ou camas, lonas, etc. Ao enviar as barracas, as organizações de socorro
devem estar atentas a esses conjuntos suplementares, estejam ou não incluídos no pedido inicial. As
autoridades não devem subestimar os problemas de transporte devido ao volume de alguns desses
itens. O transporte de itens por via aérea pode se tornar extremamente caro, e os agentes humanitários
devem considerar aquisições alternativas, como por meio do mercado local, em algumas circunstâncias.
Os NFIs são componentes essenciais dos requisitos de abrigo, e os planejadores devem verificar sua
compatibilidade cultural e aceitação antes da entrega. Os planejadores devem analisar o impacto
potencial da compra desses itens em mercados locais (por exemplo, preços versus disponibilidade). Em
casos de compras em grande escala, o impacto pode ser significativo.
Fogões e aquecedores são outros itens críticos que podem ter consequências na saúde e na
segurança. O valor energético dos diferentes tipos de combustíveis pode variar, assim como o impacto
ambiental ou financeiro. Alguns combustíveis, como o querosene, precisam de espaços bem ventilados.
Além disso, as autoridades devem considerar as práticas locais existentes. A cozinha comunitária,
embora mais eficiente em termos de combustível, pode não ser culturalmente aceitável35.
180
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
1. Qual das seguintes afirmações é FALSA? 4. Qual das seguintes afirmações é FALSA?
A. Os continentes mais afetados por desastres A. O nível de água atingido, a violência
são Ásia e Américas. (volume), a velocidade das correntes e a
B. A região da Ásia-Pacífico continua sendo a área geográfica abrangida caracterizarão a
região mais propensa a desastres do mundo. destruição causada pelas inundações.
181
LIÇÃO 7 | Impacto de desastres no setor de abrigos e itens não alimentares
Respostas »
1. C
2. C
3. D
4. D
5. D
6. D
7. D
8. B
9. D
10.B
182
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
LIÇÃO
Impacto de Desastres, WASH
8 e o Setor de Saúde
Os agentes humanitários
devem abordar os principais
problemas de higiene o
mais rápido possível para
evitar surtos de doenças
em um ambiente que foi
fortemente afetado
por desastres.
Seção 8.1 Diferentes tipos de desastres e • Descrever os diferentes efeitos dos desastres e
seus efeitos no WASH suas consequências sobre o WASH.
Seção 8.2 Diferentes tipos de desastres e • Descrever os diferentes efeitos dos desastres e
seus efeitos na saúde suas consequências na saúde.
Seção 8.8 USAR e INSARAG • Explique o que são EMT e USAR e como
eles operam.
183
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) fornece tendas para conter o surto de cólera no Haiti. Um homem monta as
tendas do UNICEF no bairro de Cité Soleil, em Porto Príncipe. 16 de novembro de 2010. Foto da ONU por UNICEF/Marco Dormino.
Introdução
184
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Terremotos
A maioria dos sobreviventes de terremotos (85–95 por cento) são encontrados por parentes,
vizinhos, amigos ou serviços de emergência locais. Quando as condições de aprisionamento são boas –
um aprisionamento no qual há um vazio relativamente grande onde os sobreviventes podem membros
e acessar água – a chance de sobrevivência aumenta2. Em casos extraordinários, as vítimas podem ser
encontradas vivas após vários dias nos escombros, mas as pessoas geralmente não sobrevivem mais
do que dois dias nessas condições. A última seção desta lição aborda algumas questões específicas da
USAR para fornecer informações adicionais sobre como as equipes da USAR operam.
Garantir o acesso à água potável também está entre as prioridades para a população afetada. A
água é essencial para a sobrevivência de seres humanos e animais. As pessoas podem sobreviver por
dias sem comer, mas não sem beber água. Dependendo da magnitude do terremoto e da qualidade da
infraestrutura de distribuição de água existente, a área afetada pode sofrer uma interrupção total ou
parcial do sistema de distribuição. A destruição de infraestrutura ou interrupção de eletricidade também
afeta a disponibilidade de água. As tubulações de água restantes em funcionamento podem não garantir
a potabilidade sem riscos de contaminação. Reparar e restabelecer o abastecimento de água dependerá
principalmente da capacidade das autoridades locais.
A contaminação do sistema de distribuição de água pode ter uma origem diferente. Como
outras infraestruturas, um terremoto pode interromper parcial ou totalmente o sistema de esgoto.
Vazamentos ou destruição no sistema de esgoto podem contaminar as fontes de água, bem como o
sistema de abastecimento. Fossas sépticas quebradas, tanques de combustível ou outras instalações de
armazenamento subterrâneo podem contaminar as águas subterrâneas. A contaminação química das
fontes de água devido a danos nas instalações de armazenamento industrial é outro problema potencial.
Os resíduos (industriais) existentes também podem contaminar as águas subterrâneas. Em alguns
casos, os terremotos podem alterar a superfície da terra, tornando algumas áreas mais vulneráveis
a inundações durante chuvas fortes. Além disso, a contaminação e os derramamentos nem sempre
podem ser detectados imediatamente. A necessidade de água potável também é essencial para evitar
surtos de doenças, portanto, a manutenção de sistemas de distribuição de água de qualidade será uma
prioridade para as equipes de resposta a desastres.
Inundações
Na maioria dos casos, a chuva forte (água doce) causa inundações, mas a água salgada também.
Ambos os tipos de inundações apresentam problemas específicos. A água doce contém sólidos em
suspensão, deixando para trás uma camada de lama e solo quando recua. Fossas sépticas, latrinas
públicas e outras instalações de armazenamento subterrâneo podem transbordar, dispersando seu
conteúdo, incluindo produtos/resíduos tóxicos, e contaminar as águas subterrâneas ou outras fontes
potenciais de água. Instalações de armazenamento no solo inundadas contendo substâncias tóxicas
podem ser destruídas e corpos ou carcaças em decomposição podem contaminar as fontes de água. As
pessoas também podem despejar resíduos na água ou perto dela, o que pode contaminá-la.
185
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Chuvas fortes (de monção) podem saturar o solo e produzir lama e deslizamentos de terra com o
mesmo efeito destrutivo que as inundações repentinas. O desmatamento pode aumentar a erosão do
solo. O aumento da concentração da população em certas áreas pode exacerbar o desmatamento. A
chuva pode desenvolver padrões de drenagem incontroláveis, alterando a paisagem ao longo do tempo.
O aumento do escoamento de sedimentos e a infiltração da água da chuva no solo podem provocar
lama/deslizamentos de terra, destruindo tudo em seu caminho.
• “Classe 1.5: eventos muito grandes: com intervalo de recorrência estimado superior a 2
décadas, mas inferior a 100 anos, afetando uma grande região geográfica (> 5.000 km²).”
• “Classe 2: eventos extremos: com intervalo de recorrência estimado maior que 100 anos.”
Ciclones tropicais
Os ciclones tropicais têm um impacto na água potável semelhante ao causado pelas inundações4.
Um desastre relacionado é uma maré de tempestade. Ventos fortes acumulam água e a empurram
como uma parede em direção ao litoral em alta velocidade. O perfil da costa, as ondas e a maré
no momento da chegada do ciclone tropical influenciarão a força da onda. Como as chuvas fortes
geralmente precedem os ciclones tropicais, os níveis dos rios podem subir, potencialmente agravando o
nível total da água. As ondas de tempestade podem chegar a 4m e inundar áreas costeiras e interiores
mais baixas com água salgada do oceano. Além de seu impacto destrutivo na infraestrutura e número
potencialmente alto de fatalidades, a inundação de água salgada pode contaminar fontes de água
superficiais e subterrâneas. A limpeza e desinfecção de fontes de água de superfície e poços pode levar
muito tempo, dependendo do perfil da paisagem/superfície.
186
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Terremotos
O número de vítimas que requerem tratamento de saúde extensivo logo após um terremoto pode
ser alto, e lesões graves são frequentes. Estas geralmente incluem um alto nível de fraturas, feridas de
trauma contuso e “síndrome do esmagamento”. Os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA definem a
síndrome do esmagamento da seguinte maneira:
“Também chamada
de rabdomiólise,
[síndrome do
esmagamento]
envolve uma série
de alterações
metabólicas
produzidas devido
a uma lesão
dos músculos
esqueléticos de tal
gravidade que causa
uma interrupção
da integridade
Equipes de busca e resgate brasileiras e chinesas trabalham nos escombros da sede da
celular e liberação
missão das Nações Unidas em Porto Príncipe, Haiti, desmoronada por um poderoso e
de seu conteúdo na mortal terremoto. 16 de julho de 2010. Foto da ONU por Logan Abassi.
circulação5”.
O esmagamento do tecido muscular produz diferentes substâncias tóxicas que podem levar
a problemas renais e insuficiência renal após algum tempo. Se as vítimas presas com membros
bloqueados forem libertadas dos escombros sem tratamento prévio (ou seja, tratamento intravenoso
antes do resgate), as substâncias intracelulares tóxicas acumuladas podem ser liberadas no ambiente
extracelular causando insuficiência renal, que pode ser fatal. A síndrome do esmagamento é a causa
mais comum de morte em sobreviventes de terremotos6. Se possível e disponível, a hemodiálise (um
procedimento que filtra resíduos, sais e fluidos do sangue quando os rins não são mais capazes de
cumprir essa função) após a extração é o tratamento mais frequentemente aplicado para a síndrome
do esmagamento. Infelizmente, esses tratamentos nem sempre estão disponíveis. A disponibilidade de
fluido intravenoso pode ser outro problema, dependendo do número de vítimas extraídas.
Vítimas presas que têm a chance de mover seus membros e acessar a água têm a melhor chance de
sobrevivência se encontradas a tempo. Nos casos em que as equipes da USAR não podem remover as
vítimas devido a membros esmagados ou porque estão bloqueados por detritos, a amputação do membro
pode ser a única opção restante. Esta é uma intervenção arriscada e deve ser uma opção de último recurso.
5) Coronel S. Rajagopalan, “Lesões por esmagamento e a síndrome do esmagamento”, Medical Journal Armed Forces India, vol. 66, nº 4, outubro de
2010. Disponível em inglês: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4919827/> .
6) Mehmet Sukru Sever e Raymond Vanholder, “Gestão de vítimas da síndrome de esmagamento após desastres”, Rambam Maimondies Medical Journal,
vol. 2, Edição 2, abril de 2011. Disponível em inglês: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3678930/>.
187
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Os terremotos são caracterizados por um alto número de pessoas feridas. Muitas vezes faltam
instalações médicas para tratar as vítimas, pois a maioria delas não é projetada para emergências
de grande escala. As estruturas de saúde restantes podem ficar superlotadas rapidamente. A própria
equipe médica pode ser vítima, limitando ainda mais sua capacidade. A rápida implantação de EMTs
é tão importante quanto a implantação de equipes qualificadas/certificadas de USAR. As seções
subsequentes descreverão brevemente ambos os componentes. A prevenção e o controle de doenças
transmissíveis estão entre as prioridades de saúde. Além disso, os problemas psicossociais não devem
ser subestimados, pois também podem afetar a situação de saúde da população.
Inundações
Dois tipos de doenças são comuns após desastres: as transmitidas pela água e as transmitidas por
vetores. As doenças transmitidas pela água incluem cólera, febre tifoide, doenças diarreicas, hepatite
e gastroenterite – todas elas frequentemente se originam da água contaminada. Doenças causadas
por vetores são transmitidas por organismos vivos (geralmente insetos sugadores de sangue) para
outros organismos vivos, incluindo humanos7. As áreas alagadas muitas vezes apresentam condições
favoráveis para a sobrevivência ou reprodução de certos vetores (por exemplo, mosquitos, que podem
transmitir malária, dengue, etc.) e organismos patogênicos8.
Infelizmente, as inundações também podem deslocar alguns animais, especialmente répteis. Cobras
(e às vezes crocodilos) podem aparecer após inundações em áreas que não são seus habitats normais.
Durante as inundações, as cobras tendem a se esconder em terrenos mais altos, que podem incluir casas
e árvores. As picadas de cobra estão entre as lesões comumente observadas durante as inundações.
Se não forem tratadas, algumas mordidas podem causar ferimentos graves ou até mesmo a morte. A
Médicos Sem Fronteiras (MSF) informa que cerca de 125.000 pessoas morrem anualmente de picadas
de cobra, e cerca de 400.000 sofrem de invalidez ou desfiguração. A maioria dessas vítimas não têm
acesso a tratamento médico adequado, e as crianças que vivem em áreas rurais estão especialmente
em risco9.
7) Organização Mundial da Saúde, “Doenças transmitidas por vetores”. Disponível em inglês: <http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs387/en/> .
8) “Um organismo patogênico é um organismo capaz de causar doenças em seu hospedeiro. Um patógeno humano é capaz de causar doenças em
humanos (por exemplo, Salmonella).” Veja: Global Food Safety Resource, “Organismos Patogênicos”. Disponível de: <http://globalfoodsafetyresource.
com/pathogenic-organisms/> .
9) Médicos Sem Fronteiras, “Picada de cobra: uma emergência de saúde pública negligenciada”, junho de 2016. Disponível em inglês: <https://www.
doctorswithoutborders.org/what-we-do/news-stories/news/snakebite-neglected-public-health-emergency> .
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LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Ciclones tropicais
As lesões físicas são a principal causa de morte e a principal causa de morbidade após os ciclones
tropicais10. Lacerações (ou seja, feridas rasgadas ou irregulares) ocorrem principalmente durante a
fase de limpeza. Traumas contusos e perfurações são outras lesões comuns e geralmente causadas por
detritos voadores e espalhados pelo vento ou casas em colapso. Doenças transmitidas pela água e por
vetores também podem aparecer na sequência de ciclones tropicais.
189
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Desinfetantes apropriados, como cloro, e amostragem diária de água, podem garantir a qualidade da
água. A amostragem no ponto de distribuição é necessária, pois pode ocorrer recontam inação durante
a coleta, armazenamento e extração. Infelizmente, o cloro pode dar à água um sabor desagradável, que
pode desestimular o consumo da população afetada. As organizações produtoras de água potável devem
observar se a população utiliza a água produzida. Os respondentes devem antecipar a necessidade de
uma promoção de higiene adequada se houver o risco de as pessoas preferirem beber água insegura. As
autoridades devem desenvolver um plano de segurança hídrica de acordo com os padrões internacionais
(OMS, UNICEF) e incluir todas as etapas necessárias para garantir a produção e distribuição apropriadas
(ou seja, da fonte ao consumidor13).
Sempre que possível, os agentes humanitários devem buscar a aprovação da população afetada
antes de distribuir os itens. Mal-entendidos podem facilmente levar à rejeição. As autoridades devem
desenvolver um plano para a distribuição de kits de higiene. A comunidade afetada deve fornecer
informações sobre instalações adequadas de lavagem e banho para garantir a segurança. As mulheres
devem ser consultadas, especialmente se for necessário integrar as instalações.
13) UNICEF e Global Water Partnership, “WASH Desenvolvimento Resiliente ao Clima”, 2014. Disponível em inglês: <https://www.gwp.org/globalassets/global/
about-gwp/publications/unicef-gwp/gwp_unicef_strategic_framework_web_artwork.pdf>. Os alunos devem verificar os Padrões da Esfera em relação às
quantidades mínimas de água para instituições e outros usos.
14) Os alunos devem verificar os Padrões da Esfera em relação ao número de promotores de higiene/mobilizadores comunitários.
15) O Projeto Esfera, O Manual da Esfera: Carta humanitária e padrões mínimos em resposta humanitária, 4ª ed. (Genebra: Sphere Association, 2018),
padrão de gerenciamento de excretas 3.1, 115.
190
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
e meninas podem se tornar vítimas de estupro ou outros tipos de agressão sexual em latrinas não
seguras. Os banheiros também devem ser acessíveis a outros grupos da população afetada, como
idosos ou pessoas com mobilidade limitada. As autoridades também devem desenvolver planos para o
descarte especial de materiais de higiene menstrual das mulheres. A água para se limpar depois de usar
os banheiros também deve estar disponível. Qualquer água residual deve ser coletada de forma a evitar
a contaminação e minimizar a proliferação de moscas e mosquitos.
Sempre que possível, os socorristas devem dar prioridade à construção de banheiros familiares
em vez de banheiros públicos. Os banheiros familiares têm a vantagem de fazer com que as pessoas
se sintam responsáveis por sua conservação e manutenção, e limpá-los passará a fazer parte das
tarefas domésticas. A meta geral deve ser um banheiro para cada 20 pessoas16. No início da resposta
a um desastre, esse número pode chegar a um banheiro para cada 50 pessoas. Os planos de abrigos
temporários devem incluir espaço suficiente para construir banheiros familiares.
As crianças pequenas têm necessidades específicas nessa área. As infecções relacionadas aos
excrementos tendem a ser maiores entre elas, e a lavagem das mãos após a limpeza de uma criança,
bem como a eliminação segura das fezes dos bebês, continuam sendo essenciais17.
O descarte de resíduos sólidos é outro problema relacionado à potencial contaminação da fonte de água.
Os desastres criam uma grande quantidade de resíduos e as autoridades podem ficar sobrecarregadas
com a quantidade de detritos a serem removidos. O manuseio e descarte de resíduos sólidos orgânicos
e perigosos podem representar riscos à saúde pública. Isso pode facilmente tornar um local uma área de
reprodução de vetores de doenças ou poluir as águas superficiais e subterrâneas. Os agentes humanitários
não devem esquecer que o lixo pode representar uma fonte de renda para certos grupos que ganham a vida
coletando materiais e objetos recicláveis de lixões. Tais atividades correm o risco de disseminar doenças
infecciosas, e depósitos de lixo seguros devem ser organizados, caso ainda não existam. Os locais precisam
ser cercados para evitar acidentes. Apenas os trabalhadores da eliminação de resíduos que tenham algum
conhecimento sobre a eliminação de resíduos devem ter acesso aos locais. Os trabalhadores devem ter
equipamentos mecânicos suficientes e adequados para garantir o manuseio seguro de qualquer resíduo.
O lixo hospitalar deve receber atenção especial, pois requer tratamento específico e contém
quantidades significativas de materiais contaminados (por exemplo, agulhas usadas, curativos, panos
manchados de sangue, etc.). Sempre que possível, os socorristas devem usar caixas de segurança, bem
como enterrar o material no local ou realizar a incineração de resíduos. Se os resíduos forem enterrados
no local, devem ser cobertos por uma camada de terra para evitar a presença de roedores e moscas.
A população local deve aceitar qualquer plano de gestão de resíduos para que ele seja bem-sucedido.
Muitos planos desenvolvidos antes dos desastres falham porque as autoridades não conseguem
organizar a coleta de lixo e resíduos em horários aceitáveis. Isso muitas vezes força a população local
a usar lixões alternativos, bloqueando os canais de drenagem e causando inundações durante chuvas
fortes e águas superficiais estagnadas e poluídas. No rescaldo de um desastre, as autoridades devem
convencer a população local da necessidade de aplicar um plano de gestão de resíduos para evitar
problemas de saúde. As organizações devem pressionar as autoridades a estabelecer tal plano e devem
ajudar a mobilizar recursos técnicos suficientes para coletar lixo e detritos.
16) O Projeto Esfera, O Manual da Esfera, Excreta management standard 3.2, 120.
17) O Projeto Esfera, O Manual da Esfera, Excreta management standard 3.2, 120.
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LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Um menino carrega jarros de água em sua bicicleta na cidade de Malakal, no Sudão do Sul. Os moradores utilizam um ponto de água
potável que abastece uma população crescente. Os casos de doença diarreica foram reduzidos na cidade de Malakal devido ao novo
abastecimento de água potável. 21 de outubro de 2019. Foto da ONU por Isaac Billy.
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LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
As autoridades devem garantir que os pontos de água tenham drenagem adequada e eficaz. Sem
isso, eles podem facilmente se transformar em locais lamacentos. Os planejadores devem prestar
atenção especial à erosão e analisar seus efeitos na drenagem. Se necessário, eles podem precisar
adotar um plano de drenagem, especialmente quando a erosão pode afetar banheiros e esgotos,
causar danos estruturais ou potencialmente contaminar uma fonte de água. Sempre que possível, os
humanitários devem evitar misturar águas residuais domésticas com excrementos humanos, pois isso
será classificado como esgoto e dificultará o tratamento18. Se as condições do solo permitirem, as
autoridades devem dar preferência ao descarte de águas residuais no local (por exemplo, poços de
imersão) em vez de canais abertos, que geralmente obstruem e são difíceis de manter.
O controle de vetores de doenças faz parte do esforço para diminuir os riscos à saúde, assim como
todas as questões anteriores relacionadas a WASH. Existem medidas simples e eficazes para prevenir a
propagação de certas doenças, uma vez que os agentes humanitários sabem como a doença e seu vetor
interagem com a população. A tabela abaixo mostra alguns vetores e as doenças que eles carregam19:
Vetor Doença
Mosquitos Malária, febre amarela, dengue, febre hemorrágica
Moscas Transmissão de doenças diarreicas
Moscas que mordem, percevejos, pulgas Tifo murino, sarna, praga
Carrapatos Febre maculosa
Piolhos de humanos Tifo e febre recorrente
Ratos e camundongos Leptospirose, dracunculus (verme da Guiné),
salmonelose; hospedeiros de outros vetores como
pulgas
Pulgas Febre de Lassa, peste e outras infecções
Os agentes humanitários devem avaliar o risco potencial da doença e procurar evidências clínicas
antes de decidir sobre qualquer intervenção. Diferentes fatores podem influenciar certos riscos, como20:
• Doença endêmica (ou seja, existente na área afetada antes do desastre) ou não endêmica;
• Exposição Potencial;
18) O Projeto Esfera, O Manual da Esfera, Padrão de gestão de excrementos 3.3: Acesso e uso de banheiros, Indicadores-chave, 116.
19) O Projeto Esfera, O Manual da Esfera, Ed. 2011, 131.
20) O Projeto Esfera, O Manual da Esfera, Ed. 2011, 122.
193
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
As autoridades devem prestar atenção especial aos possíveis locais de reprodução de vetores. Dados
históricos podem ajudar os agentes humanitários a entender a situação. As autoridades e a população
local podem fornecer dados sobre certos padrões de doenças e locais de reprodução. Os respondentes
podem precisar adotar medidas de controle de vetores químicos para erradicar os vetores identificados.
Sempre que usar controles químicos, os agentes humanitários precisam garantir que a população afetada
esteja ciente dos produtos químicos e dos riscos que eles representam. Os produtos químicos devem
ser usados de acordo com os regulamentos e protocolos internacionais publicados pela OMS. Deve-se
também lembrar que alguns vetores podem se tornar resistentes às medidas de controle químico. Eficácia
e segurança são as duas principais preocupações sempre que produtos químicos são usados.
• “Saúde: o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de
doença ou enfermidade”.
• “Serviço de saúde: qualquer serviço (isto é, não limitado a serviços médicos ou clínicos)
destinado a contribuir para a melhoria da saúde ou para o diagnóstico, tratamento e reabilitação
de pessoas doentes”.
• “Sistema de saúde: (i) todas as atividades cuja finalidade principal é promover, restaurar e/
ou manter a saúde; (ii) as pessoas, instituições e recursos, organizados em conjunto de acordo
com as políticas estabelecidas, para melhorar a saúde da população que atendem, respondendo
às expectativas legítimas das pessoas e protegendo-as contra o custo da doença por meio de
uma variedade de atividades cuja intenção primária é melhorar a saúde”.
21) O Projeto Esfera, O Manual da Esfera, Ed. 2011, 292.
22) O Projeto Esfera, O Manual da Esfera, Ed. 2011, 356.
23) OMS, “Glossário de Fortalecimento dos Sistemas de Saúde”. Disponível em inglês: <https://cdn.who.int/media/docs/default-source/documents/
health-systems-strengthening-glossary.pdf> .
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LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
As resoluções da Assembleia Geral 46/182 e Uma vista aérea da vasta destruição da costa
48/57 incumbiram as Autoridades Nacionais de Saúde do Sri Lanka entre as cidades de Hambantota e
Trincomalee causada pelo tsunami do Oceano
(geralmente o Ministério da Saúde) e a Autoridade Nacional
Índico. 8 de janeiro de 2005. Foto da ONU por
de Gestão de Emergências (do inglês, National Emergency Evan Schneider.
Management Authority — NEMA) de solicitar assistência
médica estrangeira e registrar, autorizar e monitorar essas equipes. O Grupo de Trabalho do Global
Health Cluster sobre EMTs lançou duas iniciativas complementares: estabelecer critérios de classificação
funcional e padrões mínimos de prestação de serviços para EMTs implantados e desenvolver diretrizes
para registro e monitoramento de EMTs pelas autoridades nacionais26. A ideia de apoiar as autoridades
nacionais nem sempre foi bem-sucedida em emergências anteriores de grande escala, particularmente
o terremoto e tsunami no Oceano Índico em 2004 e o terremoto no Haiti em 2010. Após um desastre,
o governo solicitante deve declarar quais tipos de EMTs e quantos deles são necessários. Embora as
equipes de implantação de paramédicos devam se registrar antes da partida, algumas equipes não
registradas e não anunciadas provavelmente chegarão após um desastre27. Essas equipes devem ser
rastreadas no ponto de entrada, o que exige um sistema de coordenação estabelecido pelas autoridades
nacionais com a assistência da Célula de Coordenação da Equipe Médica de Emergência (EMTCC).
As autoridades podem recusar a entrada de equipes médicas no país se não atenderem aos padrões
internacionais. O procedimento de registro também inclui uma lista de todo o pessoal médico e suas
qualificações. Uma vez aprovada, a equipe receberá um número de identificação oficial, permitindo
que seus membros atuem de acordo com sua capacidade cadastrada (nível 1 a 3). Ao longo de toda a
24) O termo “equipes médicas estrangeiras” foi alterado para “equipe médica de emergência” ou EMT.
25) OMS, “Classificação e padrões mínimos para equipes médicas estrangeiras em desastres de início súbito”, 2013. Disponível em inglês: <http://www.
who.int/hac/global_health_cluster/fmt_guidelines_september2013.pdf>.
26) OMS, “Registro e Monitoramento de Equipes Médicas Estrangeiras Chegando no Rescaldo de Desastres de Início Súbito Primeira versão”, abril de
2013. Disponível em inglês: <http://www.who.int/hac/global_health_cluster/fmt_registering_and_monitoring_april2013.pdf>.
27) O OSOCC (VO) virtual é a plataforma mais adequada para cadastrar equipes e manter uma visão geral. Diretrizes (específicas do país ou não)
provavelmente serão publicadas no VO. Durante a crise do Nepal, o VO declarou claramente quando não era necessário mais suporte médico (EMTs),
solicitando que todas as equipes que ainda não haviam chegado se retirassem.
195
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
missão, os EMTs devem relatar suas atividades de acordo com os regulamentos ou diretrizes nacionais e
internacionais. O objetivo é estabelecer um sistema global de registro de EMTs de acordo com níveis pré-
definidos e capacidades semelhantes ao modelo do Grupo Internacional de Busca e Resgate (INSARAG)
de equipes certificadas da USAR.
Sempre que os humanitários se mobilizam, eles devem garantir que não estabeleçam serviços
alternativos ou paralelos que as autoridades nacionais de saúde não possam sustentar quando os
humanitários deixarem o país. Em vez disso, eles devem reforçar quaisquer instalações médicas ainda
operacionais e operar em apoio a elas. A Sphere identifica as seguintes necessidades essenciais de
saúde (indicadores-chave):
• “Uma unidade básica de saúde/10.000 habitantes (unidades básicas de saúde são unidades
básicas de saúde onde são oferecidos serviços gerais de saúde)”;
Alguns medicamentos, como as vacinas, requerem uma cadeia de frio para garantir sua
preservação. As cadeias de frio são “a manutenção da refrigeração de itens (especialmente vacinas)
desde seu ponto de origem no fabricante até o transporte, descarga, distribuição e armazenamento
refrigerado no local onde serão utilizados32”. Em algumas áreas, isso pode exigir uma logística adaptada
(por exemplo, transporte, geladeiras, geradores elétricos etc.), principalmente no campo.
196
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Muitos desastres causam vítimas em massa e requerem procedimentos de gestão específicos que podem
não estar disponíveis imediatamente. Os socorristas humanitários podem precisar instituir procedimentos
de triagem, incluindo categorizar os pacientes de acordo com a gravidade de seus ferimentos e priorizar o
tratamento. Pacientes com lesões com risco de vida podem não receber prioridade, pois suas chances de
sobrevivência podem ser baixas, retirando recursos daqueles com lesões mais sobreviventes. A realização
de primeiros socorros incluindo o sistema ABC (ou seja, vias aéreas, respiração e circulação) e tratamento
de feridas nas primeiras horas após uma lesão pode prevenir infecção e mortalidade. No entanto, a regra
da “hora de ouro” pode não ser possível seguir na maioria dos desastres33. Pacientes com feridas sujas
devem receber vacinas contra o tétano, se disponíveis.
A rapidez com que os socorristas detectam recebem vacinas contra o Ebola dentro de um complexo da
Organização Mundial da Saúde. 3 de agosto de 2019. Foto da ONU
esses surtos e tomam medidas geralmente
por Martine Perret.
determinará sua gravidade.
Os dados históricos e de base são importantes para determinar se uma doença é endêmica ou
epidêmica ao cruzar um certo limiar de infecção (ou seja, um nível de ocorrência que, se ultrapassado,
desencadeia a declaração de epidemia).
Epidemiologia é o estudo de “como a doença se espalha e pode ser controlada34”. Ele não apenas
descreve o risco de doença, mas também explora uma associação causal entre certos fatores de risco e
a doença. De acordo com Francesco Checchi, professor de epidemiologia da London School of Hygiene
& Tropical Medicine, uma “declaração epidemiológica sempre se referirá implícita ou explicitamente
a um período específico, grupo de pessoas e local ou contexto35”. As doenças infecciosas podem ter
33) O período de tempo - geralmente cerca de uma hora — após a chegada de uma vítima de trauma a uma unidade de saúde, durante o qual a equipe de
gerenciamento pode ter um impacto positivo no resultado do paciente (ou seja, solicitar exames diagnósticos apropriados e iniciar o tratamento, seja
cirúrgico ou observação contínua). “Golden hour”, o Dicionário Livre de Farlex. Disponível em inglês: <https://medical-dictionary.thefreedictionary.
com/golden+hour> .
34) Merriam-Webster, “Epidemiologia”. Disponível em inglês: <http://www.merriam-webster.com/dictionary/epidemiology>.
35) Francesco Checchi e outros, “Saúde pública em populações afetadas por crises: Um guia prático para tomadores de decisão”, HPN No. 61 (dezembro de
2007). Disponível em inglês: <https://odihpn.org/resources/public-health-in-crisis-affected-populations-a-practical-guide-for-decision-makers/> .
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LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
diferentes meios de transmissão, como gotículas aéreas ou transmissão fecal-oral, transmissão viral,
transmissão bacteriana ou transmissão por parasitas. Os fatores de risco também podem variar e podem
incluir pobreza, condições ambientais desafiadoras, saneamento precário, pertencer a uma faixa etária
vulnerável, predisposição genética, viver em um acampamento, etc. Segundo Checchi, alguns riscos
são responsáveis pela grande maioria das doenças que levam à morbimortalidade, entre eles36:
Algumas causas específicas requerem informações adicionais. As doenças diarreicas estão entre
as causas mais imediatas de morte. De acordo com MSF, os pacientes infectados pela cólera podem
perder até 20 litros de fluido corporal devido a vômitos e diarreia, causando desidratação aguda e
potencialmente a morte37. Após cinco dias de incubação, a bactéria produz uma toxina que cria uma
quantidade anormalmente alta de fluido corporal nos intestinos e impede a absorção de líquidos pelo
organismo. O tratamento com sais de reidratação oral (SRO) e fluidos intravenosos são medidas urgentes
para tratar a doença e podem salvar vidas se fornecidos a tempo. A desidratação pode ser fatal em poucas
horas, especialmente se o paciente já estiver fraco. A cólera afeta mais frequentemente as crianças, mas
também pode afetar os adultos. Durante um surto de cólera, os socorristas devem estabelecer centros de
tratamento especiais com precauções de segurança específicas e medidas de higiene completas38.
198
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Outra doença que requer atenção específica é a Doença do Vírus Ebola (do inglês, Ebola Virus
Disease – EVD). A África Ocidental experimentou um grave surto de EVD em 2014, e os países afetados
estabeleceram centros de tratamento especial e criaram campanhas informativas para combater a
propagação do vírus e tratar aqueles que foram infectados39. O ebola é um vírus que é transmitido
através do contato direto com sangue, secreções corporais, órgãos e pessoas infectadas. Durante o
surto de 2014, o vírus muitas vezes se espalhou para os membros da família daqueles que sucumbiram
ao Ebola enquanto limpavam os restos mortais de um parente em preparação para um funeral. O
ebola geralmente começa com sintomas semelhantes aos da gripe e é difícil distinguir de doenças mais
comuns. Segundo a OMS, os primeiros sintomas do Ebola:
Uma doença adicional que requer atenção específica é a doença do coronavírus (COVID-19), que
a Organização Mundial da Saúde declarou como pandemia em 2020. Embora os efeitos da pandemia
tenham sido sentidos em todos os lugares, a UNICEF identificou a doença do coronavírus como
sendo especialmente destrutiva em áreas de conflito, exacerbando a pobreza e a desigualdade e
sobrecarregando os sistemas sociais e de saúde em lugares como RDC, nordeste da Nigéria, Sahel
Central, Sudão do Sul e Iêmen41. Segundo a OMS:
199
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Conforme descrito na Lição 4, o USAR integra o Centro de Coordenação e Operação On-Site (OSOCC)
com uma célula de coordenação específica (a Célula de Coordenação USAR [UCC]). Esta célula auxilia as
autoridades locais de gerenciamento de emergências (do inglês, local emergency management authority
— LEMA) com planejamento sistemático e designação de equipes USAR implantadas com base nos dados
populacionais disponíveis e na situação geográfica da área afetada. Se não for feito pelo LEMA, o UCC
irá dividir a área afetada em diferentes setores numerados de acordo com os procedimentos padrão do
INSARAG e atribuir/alocar equipes para cada um dos setores identificados. Se mais de uma equipe USAR
cobrir um setor, uma equipe líder da USAR será o “coordenador do setor”. Isso também reduzirá o alcance
do controle e possibilitará uma coordenação mais suave no nível do UCC. A atribuição de uma equipe a
um setor dependerá da chegada da equipe e de suas capacidades específicas (por exemplo, NBQR). As
equipes numerarão seu local de trabalho após concluir uma avaliação de sua área de responsabilidade.
As equipes realizam atividades de busca primeiro com caninos (ou seja, busca de superfície) e/ou outros
recursos técnicos, como dispositivos de busca acústica ou visual/câmera. Se a equipe encontrar uma vítima
viva, eles iniciarão uma operação de resgate. Isso pode levar horas dependendo dos desafios técnicos,
equipamentos disponíveis, construção e local (acessibilidade). Um número crescente de operações de
resgate usa robôs terrestres e aéreos para ajudar na recuperação de vítimas. Embora tenham grandes
desvantagens (por exemplo, falta de mobilidade por controle remoto devido à perda de sinal, velocidade
limitada, dificuldade em atravessar obstáculos, etc.), em um futuro próximo, os robôs poderão fornecer
suporte técnico importante por meio de uma combinação de sensores de detecção, software e hardware
específico adaptado aos espaços confinados e condições de entulho44.
A tabela a seguir explica brevemente os cinco tipos diferentes de busca e salvamento de avaliação
(do inglês, assessment search and rescue — ASR)45:
43) Para mais informações (em inglês), visite: <https://www.insarag.org/methodology/insarag-guidelines/> e o Guia de Campo Operacional.
44) Para mais informações sobre robótica (em inglês), visite: <https://cordis.europa.eu/project/id/285417>.
45) Para mais informações (em inglês), visite: <https://www.insarag.org/methodology/insarag-guidelines/> .
200
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
201
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Fator Definição
Espaço vazio grande Um espaço vazio grande é grande o suficiente para uma pessoa rastejar.
As chances de sobrevivência de uma vítima são maiores em grandes
vazios do que em pequenos vazios. Grande é um termo relativo (ou seja,
um espaço vazio grande para uma criança será menor do que um espaço
vazio grande para um adulto).
Espaço vazio Pequeno Um espaço vazio pequeno fornece pouco espaço para uma pessoa se
mover, e ela deve ficar imóvel enquanto espera por ajuda. Em espaços
vazios pequenos, as chances de lesões são maiores, pois as pessoas
presas no interior têm menos espaço para evitar a queda de objetos e o
colapso de elementos estruturais.
Estável Neste contexto, estável refere-se a uma estrutura colapsada onde não é
necessário (ou não é possível) um escoramento de segurança específico
antes das operações de resgate. A operação se concentra diretamente na
busca e salvamento.
Instável Uma estrutura instável deve ser estabilizada por escoramento ou outras
medidas antes que as operações diretas de busca e resgate possam
começar. Isso atrasará a operação.
Acesso O acesso aos espaços vazios é julgado pelo tempo estimado para chegar às
vítimas ou espaços vazios prioritários. A estimativa é baseada na dificuldade
das operações (ou seja, material de construção, equipamentos utilizados,
tamanho da equipe, quantidade de trabalho necessária para penetrar no
prédio, etc.).
Sempre que uma equipe encontra uma vítima viva, ela envia um Formulário de Extricação da
Vítima que detalha todas as informações necessárias. O fluxo de gerenciamento de informações deve
ser mantido durante todas as operações do USAR com o UCC. Ele mostra o que as equipes alcançaram
e também fornece às autoridades/UCC padrões específicos sobre onde encontraram sobreviventes.
Situações espetaculares geralmente não são esperados após desastres. A sobrevivência dependerá de
muitos fatores. As atividades da USAR são demoradas, mas indispensáveis para o bem-estar moral
da população afetada. Entre sete e 10 dias, as operações normalmente terminam, mas apenas as
autoridades nacionais podem tomar essa decisão.
A equipe médica da USAR é parte integrante da equipe da USAR. Ele analisa não apenas o
atendimento de emergência e o bem-estar dos membros da equipe do USAR, mas também os cães de
busca e as vítimas encontradas durante as operações do USAR (se permitido pela autoridade nacional
de saúde). A equipe coordena com o OSOCC/Health Cluster para recuperar:
202
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
• Métodos existentes de comunicação regular com as autoridades de saúde locais e sua própria
equipe, como:
203
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
204
LIÇÃO 8 | Impacto de Desastres, WASH e o Setor de Saúde
Respostas »
1. C
2. A
3. C
4. C
5. B
6. A
7. C
8. D
9. B
10.D
205
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
LIÇÃO
Logística, Alimentação e
9 Nutrição
Seção 9.1 Diferentes tipos de desastres e • Descrever os diferentes efeitos dos desastres e
seus efeitos na alimentação e suas consequências na alimentação e nutrição.
nutrição
• Explicar as definições relacionadas à segurança
Seção 9.2 Segurança Alimentar - alimentar e como medi-la.
Definições
• Recuperar informações relacionadas à alimentação
Seção 9.3 Medindo a Segurança Alimentar e nutrição no Sphere Handbook.
e Planejamento
• Explicar o diagrama da cadeia humanitária
206
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
Como parte da Resposta de Emergência ao Ebola na RDC, o Programa Mundial de Alimentos ajuda a conter a doença, fornecendo
alimentos para sobreviventes e pessoas que possam ser portadoras do vírus. Pacotes de alimentos entregues semanalmente pelo PMA
e seus parceiros permitem que os portadores do vírus fiquem em casa enquanto são tratados sem a necessidade de sair para comprar
comida. 14 de agosto de 2019. Foto da ONU por Martine Perret.
Introdução
207
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
Terremotos
Lições anteriores descreveram os efeitos que os terremotos podem causar em uma população, bem
como fatores agravantes. Dependendo de sua magnitude, um terremoto pode danificar gravemente
a infraestrutura existente (por exemplo, de estradas, pontes, ferrovias etc.) e causar interrupções no
fornecimento ou distribuição de alimentos e itens não alimentares. A forma como isso afeta a população
depende de vários fatores. Um terremoto afetará diretamente a maioria das populações urbanas,
particularmente as mais pobres. O armazenamento de alimentos é limitado em um ambiente urbano.
Em muitos casos, as pessoas nessas condições compram e preparam alimentos diariamente com o
dinheiro disponível. Os pobres geralmente têm pouca ou nenhuma capacidade de armazenar alimentos
por períodos mais longos. A destruição de infraestrutura e equipamentos não apenas aumenta a
interrupção da produção de alimentos, mas também afeta diretamente a sua distribuição, levando à
escassez imediata. Os mercados não recebem novos suprimentos por um determinado período, o que
diminui a disponibilidade de alimentos, e o transporte de alimentos pode se tornar problemático devido à
infraestrutura danificada. Além disso, o preço dos alimentos básicos pode aumentar. Esse aumento pode
ocorrer devido a vários motivos, como a incapacidade dos agricultores de entregar alimentos básicos no
mercado, perda ou lesão de membros da família e da força de trabalho e menos possibilidades de colher
e coletar alimentos.
Inundações
Como as inundações geralmente afetam uma área geográfica mais ampla do que outros tipos de
desastres, seus efeitos sobre a alimentação e a nutrição podem ser maiores. As inundações podem
danificar ou destruir colheitas e gado, sementes e ferramentas. As inundações podem afetar a produção
e distribuição de alimentos de forma semelhante aos terremotos, criando escassez de alimentos e
aumentando os preços dos alimentos básicos. Mesmo quando a água recua, pode levar muito tempo
até que a terra esteja apta para a produção agrícola devido à presença de água salgada, lama, resíduos
etc. Os agentes humanitários não devem subestimar os efeitos que a perda de gado pode ter nas
populações afetadas. Em muitos países em desenvolvimento, o gado é uma espécie de seguro de vida,
atuando como uma reserva em tempos difíceis que pode ser vendida para garantir alguma renda para
comprar necessidades. A perda de gado pode ser uma perda econômica significativa que pode afetar a
independência de uma família ou as chances de sobrevivência.
Ciclones tropicais
Muitos dos efeitos causados pelas inundações são aplicáveis aos ciclones tropicais1. Ventos fortes
podem destruir plantações inteiras, como bananas e cocos. A água que inunda as terras agrícolas
também pode destruir colheitas ou estoques de sementes, levando à escassez de alimentos. Essa
destruição pode diminuir a demanda por mão de obra durante a época de colheita, privando agricultores
e trabalhadores sazonais de renda. Nas áreas costeiras, os ciclones podem afetar a pesca, danificando
ou destruindo os barcos de pesca. Isso resulta em uma perda de renda e produção de alimentos.
1) ACAPS, “Folha de Resumo de Desastres, Ciclones Tropicais”. Disponível em inglês: <https://www.acaps.org/disaster-summary-sheet-tropical-cyclones> .
208
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
A Seção de Desarmamento,
Desmobilização e Reintegração
da Missão Multidimensional
Integrada de Estabilização das
Nações Unidas no Mali contribuiu
para o fortalecimento da
segurança alimentar na vila de
Tarabangou. O apoio tem sido
dado pela MINUSMA na forma
de financiamento para financiar
uma cooperativa de agricultores e
para a reabilitação e paisagismo
de uma área de 30 hectares,
fornecendo frutas e legumes
para os moradores. 13 de março
de 2017. Foto da ONU por
Harandane Dicko.
O que significa a expressão “segurança alimentar”? Daniel Maxwell, que lidera o programa de
pesquisa sobre segurança alimentar e meios de subsistência em emergências complexas no Centro
Internacional Feinstein da Universidade Tufts, argumenta que segurança alimentar significa que
“todos têm acesso físico e econômico a alimentos seguros e nutritivos suficientes para atender às suas
necessidades dietéticas. Necessidades e preferências alimentares para uma vida ativa e saudável2”. As
pessoas às vezes usam “fome” para indicar insegurança alimentar. Maxwell define a fome como uma
“sensação desconfortável ou dolorosa causada pela falta de comida3”. De acordo com Sphere, nutrição
é um termo amplo que se refere a “processos envolvidos na alimentação, digestão e utilização de
alimentos pelo corpo para crescimento e desenvolvimento, reprodução, atividade física e manutenção
da saúde”. A desnutrição deve ser pensada em termos de uma nutrição inferior ao desejável. A
desnutrição pode ter causas complexas (por exemplo, doença, ingestão inadequada de alimentos,
pobreza, situação de WASH precária etc.). A inanição é “uma questão de algumas pessoas não terem
comida suficiente, e não uma questão de não haver comida suficiente4”. É contra a Convenção de
Genebra matar civis de fome como método de guerra e atacar, destruir, remover ou inutilizar alimentos,
áreas agrícolas para a produção de alimentos, colheitas, gado, instalações e suprimentos de água
potável e obras de irrigação. A insegurança alimentar não pode limitar-se apenas aos problemas de
abastecimento.
A fome é um resultado influenciado pelo acesso aos alimentos, incluindo produção, comércio e
transferências. Conforme descrito por Maxwell, a fome é difícil de definir exatamente, mas muitas
2) Daniel Maxwell e outros, “Intervenções de segurança alimentar de emergência”, HPN Good Practice Review, No. 10, dezembro de 2008. Veja
também: Daniel Maxwell e outros, “Intervenções de segurança alimentar de emergência”, junho de 2011. Disponível em inglês: <https://odihpn.org/
publication/emergency-food-security-interventions/>.
3) Maxwell et al, “Intervenções de segurança alimentar de emergência”.
4) Maxwell et al, “Intervenções de segurança alimentar de emergência”.
209
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
vezes é um processo (político) que pode ser manipulado deliberadamente, especialmente em tempos
de conflito armado. Paul Howe e Stephen Devereux, do Instituto de Estudos de Desenvolvimento
da Universidade de Sussex, definem a fome “em termos de gravidade e magnitude de uma crise,
baseando-se fortemente em medidas de desnutrição e mortalidade5”. Vulnerabilidade é o nível de
exposição a um perigo (por exemplo, seca) e a capacidade de lidar com ele, que na maioria dos casos
é difícil de medir.
Também devemos distinguir entre insegurança alimentar “crônica” e “transitória”. Segundo Maxwell,
“a insegurança alimentar crônica tende a estar associada a deficiências ou vulnerabilidades estruturais,
enquanto a insegurança alimentar transitória é geralmente resultado de choques e flutuações temporárias6”.
A insegurança alimentar sazonal ou cíclica é outro aspecto temporal da insegurança alimentar, mas pode
ser prevista através de padrões cíclicos conhecidos de acesso inadequado aos alimentos.
Fome
Famine “Political”
Processo process
“político”
Vulnerabilidade
Vulnerability
Fome famine
“Old” “velha” Fome famine
“New” “nova”
• Produção
Production
Availability
Disponibilidade • Food prices
Preços dos alimentos
Trade, food stock
• Comércio, estoque de alimentos
Purchasing power
• Poder de compra
Segurança
Food Capacity to
Access Produção
Production Troca
Trade Transferências
Transfers
Acesso • Capacidade de
Security
alimentar
produce
produzir
5) Stephen Devereux e Paul Howe, “Escalas de Intensidade e Magnitude da Fome: Uma Proposta para uma Definição Instrumental de Fome”, Disasters,
vol. 28, nº 4, janeiro de 2005.
6) Maxwell et al, “Intervenções de segurança alimentar de emergência”.
7) Maxwell et al, “Intervenções de segurança alimentar de emergência”.
210
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
Outro método para os agentes humanitários determinarem o acesso é fazer perguntas simples como “o
que as pessoas farão se não tiverem comida suficiente ou dinheiro suficiente para comprar comida?” Essas
ações (conhecidas como comportamentos de enfrentamento) são medidas por frequência e gravidade por
meio do Coping Strategies Index (CSI). Os comportamentos de enfrentamento podem incluir8:
• Reduzir o número de pessoas para alimentar (por exemplo, enviar crianças para outras pessoas,
migração de curto prazo); e
Outro método para medir a segurança alimentar é examinar o estado nutricional da população
afetada em áreas com indicadores bem conhecidos. Existem cinco medidas antropométricas do estado
nutricional, das quais três são relevantes em situações de emergência:
Outra medida potencial é o índice de massa corporal (IMC). Ele é usado para todas as idades para
determinar perdas ou ganhos de peso a curto prazo e é aplicado principalmente a adultos. Para que
os agentes humanitários façam julgamentos sólidos sobre a situação de segurança alimentar em uma
determinada área, eles devem usar indicadores diferentes, pois um indicador não fornecerá dados
suficientes para alocar alimentos de forma imparcial. A ferramenta de Classificação Integrada de Fase
(CIF) é uma tabela de referência de vários indicadores, incluindo CMR, desnutrição aguda, nanismo,
acesso/disponibilidade de alimentos, diversidade alimentar, doenças, acesso/disponibilidade de água,
perigos etc., para ajudar a alcançar isso9.
211
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
completamente o mercado local e o tecido econômico de uma área afetada. Quando os mercados locais
estão funcionando, Barrett e Maxwell sugerem dar às pessoas dinheiro para comprar os alimentos de
que precisam no mercado local ou fornecer empregos aos destinatários-alvo em vez de ajuda alimentar.
Se não houver alimentos disponíveis nas proximidades para cobrir a escassez de alimentos, os agentes
humanitários podem fornecer ajuda alimentar com base em compras locais por meio de transações
triangulares para apoiar a economia local. A ajuda alimentar por meio de remessas transoceânicas deve
ser usada apenas como último recurso na resposta a crises de segurança alimentar10.
A resposta humanitária a uma crise de segurança alimentar deve estar alinhada com o princípio
“não causar danos” e causar o menor dano possível aos meios de subsistência das pessoas. Conforme
discutido na Lição 6, uma resposta apropriada é baseada na familiaridade com os dados e condições de
linha de base (a situação pré-desastre), na compreensão da dinâmica da situação de mercado existente
e na análise do impacto potencial da intervenção humanitária11.
i) PAM, “Síria, Boletim mVAM 7: setembro de 2016”, setembro de 2016. Disponível em inglês: <https://reliefweb.int/report/syrian-arab-republic/syria-mvam-bulletin-7-september-
2016-eastern-aleppo-city-distress>.
10) Cristóvão B. Barret e Daniel Maxwell, Ajuda alimentar após cinquenta anos: reformulando seu papel (Londres: Routledge, 2005).
11) O Anexo L (resultado pretendido e aplicações) e o Anexo M (vantagens e desvantagens) contêm uma visão geral das intervenções potenciais. Os
alunos devem comparar as duas tabelas.
212
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
alimentos. Sempre que a situação permitir, devem procurar Dorian, de categoria cinco, varreu as ilhas Bahama
de Abaco e Grand Bahama em 1º de setembro de
métodos alternativos de assistência. Alguns grupos (por
2019. 12 de setembro de 2019. Foto da ONU por
exemplo, crianças, mulheres grávidas ou lactantes) podem OCHA/Mark Garten.
A ajuda alimentar deve ser adequada ao consumo humano de acordo com os padrões do Codex
Alimentarius relativos à qualidade, embalagem, rotulagem e “adequação à finalidade” (por exemplo,
os alimentos podem ser adequados ao consumo humano, mas não adequados à finalidade devido ao
12) Os alunos podem examinar os Sphere Standards (2018) e obter informações sobre “Alimentação de bebês e crianças pequenas em emergências”
(IYCF-E), 185-192.
213
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
formato da embalagem13). A embalagem de alimentos deve permitir a distribuição direta sem medição
ou reembalagem adicionais. Os rótulos não devem conter mensagens com motivação política ou
religiosa. Os rótulos dos alimentos embalados devem estar em um idioma apropriado, indicando a data
de produção, origem, data de validade e detalhes do teor de nutrientes14. O controle de qualidade deve
ocorrer por amostragem. Os trabalhadores humanitários devem solicitar certificados fitossanitários (por
exemplo, sanitários sobre pragas e patógenos de plantas) e outros documentos de inspeção quando
os alimentos são comprados ou importados. Os trabalhadores humanitários devem prestar atenção
especial às condições de armazenamento dos alimentos.
Os trabalhadores humanitários devem distribuir rações secas, que podem ser conservadas e
transportadas, como tipo de alimento sempre que possível. As rações úmidas (por exemplo, refeições
cozidas ou alimentos prontos para consumo) podem ser distribuídas durante a fase inicial de emergência
quando as pessoas estão em movimento ou quando o transporte de alimentos seria muito perigoso do
ponto de vista da segurança.
A frequência de distribuição deve ser guiada pelo que um receptor pode levar para casa em relação
ao peso e volume. Também pode ser a consequência de considerações ambientais. As autoridades
devem escolher cuidadosamente os pontos de distribuição (do inglês, Distribution Point ‑ DP). Eles
devem estar seguros e evitar cruzar postos militares ou armados. De acordo com a Sphere, a distância
a pé dos DPs para alimentos secos não deve ser superior a um dia (e apenas durante o dia). As
autoridades também precisam considerar os principais fatores de segurança ao selecionar um local. A
supervisão e distribuição só devem ser feitas por pessoal treinado.
Os humanitários devem garantir que suas ações (principalmente entrega de alimentos) não irão
alimentar ou agravar o conflito. A comida é um item valioso, e é sempre possível que seja desviado
pelos combatentes. As pessoas que recebem alimentos podem ser forçadas a pagar um imposto sobre
isso ou ter que compartilhar sua ração com militares, Estados ou atores não estatais para compensação.
13) Programa Alimentar Mundial e Organização para Agricultura e Alimentação (FAO), Codex Alimentarius, 3ª ed. (Roma, 2006).
14) Os alunos devem ter em mente que as datas de validade se referem à segurança alimentar, enquanto as datas “melhor para consumo até” se referem
à qualidade dos alimentos.
214
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
Snapshot: Haiti »
A distribuição de alimentos tornou-se uma questão
urgente no Haiti depois de três furacões – Gustav,
Hanna e Ike – que atingiram o país com cerca de
uma semana de intervalo um do outro em 2008.
Com a ajuda do batalhão argentino da MINUSTAH,
o PMA identificou diferentes pontos de distribuição
dentro de Gonaives e coletou dados sobre o número
de domicílios/pessoas que vivem nas áreas afetadas Membros do batalhão argentino da Missão de Estabilização
das Nações Unidas no Haiti oferecem segurança enquanto
e ao redor. A localização dos pontos de distribuição
trabalhadores descarregam água e alimentos doados
foi discutida com os militares argentinos, pois eles pelo Programa Mundial de Alimentos para assistência
prestariam serviços de escolta e segurança no local. humanitária às vítimas da tempestade tropical Hanna. 8 de
setembro de 2008. Foto da ONU por Logan Abassi.
As autoridades identificaram uma rota adequada
das instalações de armazenamento para os pontos de distribuição com pouca ou nenhuma chance
de os caminhões ficarem bloqueados ou presos. As autoridades também escolheram os locais
de distribuição com base em sua capacidade de permitir o descarregamento e a distribuição de
ajuda com total segurança. Um pequeno incidente teria sido suficiente para arruinar o esforço de
distribuição controlada, especialmente quando as pessoas precisavam desesperadamente de comida
e água. No entanto, os líderes comunitários locais foram consultados para ajudar a organizar a
distribuição e planejar a distribuição interna e o controle de multidões.ii
ii) René Wagemans, líder da equipe do UNDAC, durante a crise do furacão em Gonaives, Memórias Pessoais.
Os agentes humanitários devem estar cientes do fato de que o dinheiro também pode apresentar
alguns riscos e pode contribuir para a inflação ou ser usado para fins como abuso de álcool ou tabaco15.
215
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
• Onde as pessoas compram seus principais bens e quão acessíveis são os mercados;
• Se as pessoas recebem a quantia certa de dinheiro e onde podem gastá-lo com segurança; e
A seção de Redução da
Violência Comunitária da
MINUSTAH empregou
1.345 moradores locais
em um programa de
trabalho em dinheiro nos
subúrbios montanhosos
de Porto Príncipe,
construindo paredes
de pedra e plantando
vegetação como formas
de salvar terras aráveis
e evitar inundações em
áreas mais baixas. 3 de
maio de 2012. Foto da
ONU por Logan Abassi.
Os vouchers são outra opção para programas de ajuda e podem dar aos beneficiários acesso
a uma gama específica e predefinida de bens ou serviços (os chamados vouchers baseados em
mercadoria ou valor). Os vouchers dão às agências mais controle sobre o que os destinatários podem
comprar, o que pode diminuir o medo de uso inadequado. Os vouchers são usados quando o dinheiro é
inviável ou inadequado. No entanto, como dinheiro, vouchers também apresentam alguns problemas de
organização (por exemplo, impressão de vouchers, localização de comerciantes que aceitam vouchers,
localização/configuração de sistemas de distribuição de vouchers, etc.). Os vouchers têm uma vantagem
na identificação do que os beneficiários compram, pois os comerciantes identificados podem informar
às agências se os vouchers atendem às necessidades reais dos beneficiários. Os humanitários devem
estar cientes de que a distribuição de vouchers pode levar a uma concorrência insalubre entre os
fornecedores. Os vouchers exigem regulamentação e planejamento, mas podem ser estigmatizantes.
Dinheiro por trabalho (vulgo “emprego”) é geralmente o sistema mais usado de intervenções
em dinheiro durante emergências. Os destinatários realizam atividades específicas que exigem trabalho
físico em troca de dinheiro. O objetivo principal é essencialmente o mesmo das transferências em dinheiro
e vouchers: permitir que as pessoas façam suas próprias escolhas de compra de necessidades para se
recuperar de uma emergência. A atividade laboral solicitada deve ser “uma parte necessária e significativa
da resposta de emergência17”. Os humanitários devem garantir que os programas não perturbem os
meios normais de renda por meio de atividades tradicionais (por exemplo, pessoas que trabalham para
agricultores como força de trabalho sazonal durante o período de colheita), especialmente se os salários
216
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
forem mais altos do que para essas atividades tradicionais. Isso poderia facilmente resultar em escassez
de alimentos porque as colheitas poderiam não ser colhidas devido à falta de trabalhadores sazonais. O
princípio “não causar danos” se aplica, e as autoridades devem fazer uma análise aprofundada da situação
local. A consulta de calendários de safras para a região/país afetado também pode ser útil.
De acordo com a Sphere, os programas devem evitar a “comida por trabalho” como pagamento para
operações logísticas, como descarga de caminhões, mão de obra em armazéns ou trabalho em pontos de
distribuição. Se os pagamentos de alimentos devem ser usados (por exemplo, devido à falta de dinheiro),
esses valores de alimentos precisam ser integrados ao valor originalmente planejado para distribuição.
Sri Lanka
Sri Lanka
Calendário de colheitas
Crop Calendar (*alimento principal)
(*major foodcrop)
Milho e Arroz*
Maize and Rice*
(Segunda Yala)
(Second Yala)
Milho
Maize (Main Yala)
(Principal Yala)
Arroz
Rice (Main Maha)
(Principal Maha)
J F M A M J J A S O N D
Lean period
Período magro
Growing
Crescendo
Sowing
Semeando
Harvesting
Colhendo
De acordo com o Guia Operacional de Logística (LOG), “uma visão bastante aceita no setor humanitário
é: Logística = Suprimento + Gestão de Materiais + Distribuição19”. A logística é frequentemente
confundida com “gestão da cadeia de suprimentos”, e os humanitários devem entender a diferença entre
18) Anisya Thomas e Mitsuko Mizushima, “Treinamento em logística: necessidade ou luxo?” FMR Nº 22. Disponível em inglês: <https://www.fmreview.
org/education-emergencies/thomas-mizushima> .
19) O LOG foi desenvolvido por representantes de uma ampla gama de organizações humanitárias e fornece uma coleção de informações como melhores
práticas, modelos, diretrizes e procedimentos operacionais padrão para os logísticos que operam no campo. Para obter mais informações, consulte:
WFP Logistics Cluster, Guia Operacional de Logística (LOG).
217
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
elas. A logística é uma atividade do processo de ponta a ponta do gerenciamento da cadeia de suprimentos.
O gerenciamento da cadeia de suprimentos envolve o gerenciamento de materiais, informações e fluxos
financeiros em uma rede composta por fornecedores, fabricantes, distribuidores e clientes20.
• lead time curto e demanda repentina por grandes quantidades de uma ampla variedade de
produtos e serviços;
• altos riscos humanitários em relação aos prazos em face de uma mídia global sofisticada e a
alta atenção antecipada dos doadores;
Avaliação and
Assessment e
Planejamento
Planning
Monitoramento
Monitoring and
Compras
Procurement
eEvaluation
avaliação
Distribuições
Distribution Cadeia de Suprimentos
Humanitarian Supply Chain
Armazémand
Warehouse e
Estoque
Inventory
Humanitários
Alfândega
Customs Transporte
Transport
Gestão
Fleet de
Cadeia fria
Cold Chain
Frotas
Management
• Planos de distribuição;
218
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
• Comunicações; e
• Capacidade de coordenação.
A logística não deve ser considerada como uma atividade independente. Os humanitários devem
integrar totalmente o planejamento logístico ao processo geral de planejamento para garantir a
prestação de serviços de qualidade que contribuam para intervenções bem coordenadas, eficazes e
eficientes. O envolvimento ativo de gerentes de programa, parceiros, fornecedores, transportadores e
equipe de logística em todos os níveis é vital para bons resultados. Fatores a serem considerados no
desenvolvimento de um bom plano de logística incluem22:
219
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
A aquisição é uma parte essencial da logística. A LOG define como “o processo de identificação e
obtenção de bens e serviços. Inclui sourcing, compra e abrange todas as atividades desde a identificação
de potenciais fornecedores até a entrega do fornecedor aos usuários ou beneficiários23”. O Procurement
atende a três níveis de usuários24.
• Prestação de contas — prestação de contas aos doadores que podem exigir que certas regras
(diretrizes dos doadores) sejam seguidas ao usar o dinheiro que forneceram25.
Identificação de necessidades
Needs Identification
Desastre
Disaster Necessidade de Especificar
Specify
Avaliação
Assessment Needs identification Plano
Plan
identificação
220
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
• Transitários27;
• Agentes de compensação; e
• Serviços de inspeção.
O LOG lista alguns critérios para seleção de prestadores de serviços, que também demonstram a
complexidade das movimentações:
• “Licenciado pelo governo para realizar as formalidades de desembaraço aduaneiro e atualizado sobre
mudanças nos requisitos alfandegários;
• Oferecer uma ampla variedade de serviços para limitar a necessidade de múltiplas empresas (por
exemplo, frete marítimo e aéreo, reembalagem de materiais danificados etc.);
• Possuir ou ter acesso a um armazém alfandegado para proteger e controlar as remessas em trânsito;
• Possuir frota de caminhões para transporte terrestre e ter acesso a veículos especializados quando
necessário, como caminhões porta-contêineres, carretas rebaixadas, caminhões-tanque etc.;
• São flexíveis na sua disponibilidade a curto prazo, também fora do horário de expediente e nos
feriados;
• Têm experiência em lidar com sucesso com acordos de isenção de impostos para organizações
humanitárias;
• Ter pelo menos uma rede regional de âmbito nacional – e de preferência multinacional; e
27) “Um transitário pode prestar serviços tanto nos aeroportos de partida como nos de chegada, mas em caso de emergência, estes serviços não estão
necessariamente disponíveis nos aeroportos de chegada (aeroportos de entrada).”
28) Cluster de Logística do PMA, Guia Operacional de Logística (LOG).
221
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
• Oficiais da Alfândega;
• Autoridades portuárias;
• Despachantes aduaneiros; e
• Estivadores.
isso. Durante as respostas de emergência, as Haiti. 2 de junho de 2004. Foto da ONU por Evan Schneider.
29) Uma matriz de comparação para diferentes modos de transporte mostrando diferentes critérios está disponível no LOG Anexo P.
30) Cluster de Logística do PMA, Guia Operacional de Logística (LOG).
31) Cluster de Logística do PMA, Guia Operacional de Logística (LOG).
222
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
Os humanitários devem estar cientes de que certos itens, como medicamentos e equipamentos de
comunicação, podem exigir certificação e autorização específicas. Durante desastres, os socorristas
podem usar o Acordo Modelo OCHA como uma legislatura ad hoc relacionada a costumes para
referência34. O Comitê Técnico Permanente aprovou este modelo em 1996 como resultado de um
projeto entre o OCHA e a Organização Mundial das Alfândegas (OMA). Delineia a qualidade técnica
reconhecida (definições claras e cláusulas simples) e estabelece um quadro geral de colaboração e
condições específicas práticas e úteis relativas a:
• Estado livre;
223
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
• Simplificação da papelada;
• Entrada e exportação;
• Facilitação de processos;
Quando o Log Cluster é ativado, ele usará o Relief Item Tracking Application (RITA) para rastrear
informações sobre itens de alívio que transitam por sua cadeia de suprimentos comum. A empresa de
logística alemã DHL é um player global em logística e possui um “Aid, Relief & Humanitarian Service”.
A DHL é um parceiro associado do OCHA e pode implantar Equipes de Resposta a Desastres (do inglês,
Disaster Response Teams) mediante solicitação para fornecer suporte logístico no local nos aeroportos
afetados após um desastre natural. As DRTs são especializadas em armazenagem e todas as questões
relacionadas à logística aérea. O rastreamento de mercadorias é essencial em todas as fases da resposta
a um desastre e evita que itens se percam.
35) UNHRD, Revisão Semestral 2015, Roma, Itália, 2015. Disponível em inglês: <https://unhrd.org/sites/default/files/publications/midyearreview_
medium.pdf> .
36) NRS Relief, “Rex Hall – MSU 10,0 x 24m”, 9 de novembro de 2016. Disponível em inglês: <http://www.nrsrelief.com/products/mobile-warehouse-10-24m/>.
224
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
confiar em um motorista dedicado da organização até ter funcionários dirigindo os veículos. Todos os
usuários devem cumprir os requisitos de seguro e responsabilidade do veículo, pois a desobediência
pode ter consequências pessoais. A disponibilidade de um número suficiente de veículos pode ser
crítica na fase de arranque no início de uma crise. Os tipos adequados de ativos de transporte são
essenciais. O transporte de mercadorias é uma combinação de carga útil e volume. O planejamento
de manutenção pode ter impacto na disponibilidade. Sempre que possível, os veículos devem receber
manutenção preventiva, mas isso exige bens complementares para os motoristas. Todas as atividades
de manutenção geralmente devem ser documentadas.
• “Do ponto de compra ao ponto de uso final (comumente usado em desastres repentinos no set)”;
• “De hub para hub ou hub para usuário final (dentro de uma organização para locais estratégicos
para movimentação posterior)”; e
De acordo com seu Relatório Anual de 2019, o Cluster de Logística realizou operações de campo
em Bangladesh, Camarões, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Haiti,
Iraque, Líbia, Malawi, Moçambique, Nigéria, Sudão do Sul, Síria, Venezuela, Iêmen e Zimbábue. Ao
longo dessas operações, o Cluster de Logística apoiou 715 organizações, incluindo ONGs nacionais e
internacionais, agências governamentais, agências da ONU e outras organizações da sociedade civil. Ele
facilitou a entrega de 32.246 toneladas métricas de suprimentos de socorro, entregues por 52 comboios
humanitários interagências coordenados por estrada e rio38. Sempre que o MCDA é implantado em
uma resposta de emergência, o Cluster Logístico tem, em estreita cooperação com o OCHA (UNDAC e
CMCS), um papel de coordenação. Isso ocorre porque muitas vezes eles são o elo entre as organizações
humanitárias e os militares para o envio e transporte de itens de socorro. Conforme descrito na Lição
3, as solicitações de transporte podem ir para qualquer site (Civ-Mil). A não coordenação dessas
225
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
Célula de
inglês, United Nations Humanitarian Air Service — UNHAS) é Air Coordination
Representante
ACC
Coordenação do ACC
Representative
um prestador de serviços comum à comunidade humanitária. Cell (ACC) Air Traffic Control
Controle de Tráfego
Aéreo
Aéreo
Alocação de slot
Slot Allocation Strategic Hub
Ela representa 80% das atividades principais da WFP Aviation, Centro Estratégico
39) Os alunos devem visitar o site do Log Cluster para se familiarizar com as informações disponíveis relacionadas a uma crise em andamento ou
nova, bem como com o LOG. Os alunos encontrarão documentos relacionados com um sistema de filtragem que pode ajudá-los na coleta de
dados secundários. Para cada crise, os alunos podem encontrar documentos importantes como Conceito de Operações, instantâneos, visão geral da
operação, mapas detalhados, atualizações de situações, formulários e orientações, procedimentos alfandegários e detalhes de contato. Para ilustrar
o conteúdo sobre desastres recentes, os alunos devem ler CONOPS sobre o furacão Matthew.
40) PAM, “Serviço Aéreo Humanitário da ONU”. Disponível em inglês: <https://www.wfp.org/unhas> .
41) Mais informações sobre operações aéreas podem ser encontradas em: World Food Program Logistics Cluster, Guia Operacional de Logística (LOG), Air
Operations. Disponível em inglês: <http://dlca.logcluster.org/display/LOG/Air+Operations>.
42) Cluster de Logística do PMA, Guia Operacional de Logística (LOG), Operações Aéreas.
43) Para obter mais informações, consulte: Peter Giugni, “O que você precisa saber sobre lançamentos aéreos humanitários”, 13 de abril de 2016.
Disponível em inglês: <http://intercrossblog.icrc.org/blog/what-you-need-to-know-about-humanitarian-airdrops>.
226
LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
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LIÇÃO 9 | Logística, Alimentação e Nutrição
8. Qual das seguintes afirmações é FALSA? 9. Apesar do status do PAM como guardião
do _____, o _____ pode incluir
A. A decisão de isentar as mercadorias
membros de diferentes organizações
importadas para um território para
com experiência em logística, bem
fins humanitários, do pagamento de como funcionários da Célula de Apoio ao
direitos e outros impostos, é de inteira Cluster de Logística Global em Roma.
responsabilidade das autoridades do país. A. Cluster de log, LRT
B. Procedimentos alfandegários complicados B. resposta, LRT
podem causar atrasos e congestionamentos
C. Cluster de Logs, HCT
em um porto de entrada e afetar o tempo de
D. USRT, IASC
retorno de navios alimentadores e vagões
ferroviários, além de afetar o fluxo de 10. A UNHAS é o único _____ humanitário
mercadorias. acessível a todas as entidades
C. Existe um equívoco comum de que os humanitárias.
bens/materiais isentos estão isentos de A. serviço aéreo
formalidades alfandegárias. B. serviço ferroviário
D. Certos itens, como medicamentos e C. serviço de transporte marítimo
equipamentos de comunicação, nunca D. coordenador de Logistica
exigirão certificação e autorização específicas
se trazidos pelo Log Cluster.
Respostas »
1. D
2. C
3. A
4. D
5. D
6. C
7. B
8. D
9. A
10. A
228
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
AT Agenda Transformativa
B-FAST Equipe Belga de Primeiros Socorros e Apoio (do inglês, Belgian First
Aid and Support Team)
229
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
ECOSOC Conselho Econômico e Social (do inglês, Economic and Social Council)
FA Flash Appeal
230
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
GI gerenciamento de informações
231
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
MASC Projeto Mass Shelter Capability (do inglês, Mass Shelter Capability
Project)
232
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
OI organização internacional
233
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
UE União Europeia
234
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
UNFPA Fundo das Nações Unidas para a População (do inglês, United Nations
Population Fund)
UNHAS Serviço Aéreo Humanitário das Nações Unidas (do inglês, United
Nations Humanitarian Air Service)
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância (do inglês, United Nations
International Children’s Emergency Fund)
USAR busca e salvamento em meio urbano (do inglês, urban search and
rescue)
VO virtual OSOCC
235
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
O tenente-coronel René Wagemans (aposentado) começou sua carreira no Exército belga em 1977,
onde serviu como chefe do Setor de Resposta a Crises Humanitárias (OF-4) do Estado-Maior.
Aposentou-se em 2014 e atuou como reservista no mesmo cargo até 2019. Em sua carreira,
Wagemans participou de várias missões de manutenção/imposição da paz em funções de Estado-
Maior e Comando. Como representante do Exército e membro da equipa belga de suporte e primeiros
socorros, participou de várias operações de ajuda humanitária, sendo a mais recente a ocorrida após o
tufão Haiyan em 2013. É membro do UNDAC desde 2005, tendo atuado como membro e líder de equipe
em vários desastres. Entre 2011 e 2019, Wagemans foi palestrante, facilitador e coach de vários cursos
do UN-OCHA, bem como de cursos relacionados ao Mecanismo Europeu de Proteção Civil.
236
OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS
O Exame Final de Curso tem 50 questões. São questões de múltipla escolha, marcadas como A, B,
C ou D. Você deve escolher apenas uma resposta como a resposta correta. O exame aborda o conteúdo
de todas as lições do curso e pode incluir as informações dos anexos. Apenas o conteúdo de vídeo
não é incluído.
Não há um limite de tempo para concluir o exame; isso permite ao(à) aluno(a) ler e analisar as
questões com cuidado e consultar o material do curso. Ademais, se o(a) aluno(a) não puder concluir o
exame em uma única sessão, ele(a) poderá salvá-lo e regressar para o ponto em que parou sem que
seu teste seja corrigido, clicando no botão de “Save”, localizado no final da tela, próximo ao botão de
“Submit my answers”. Ao concluir o exame, o aluno deverá clicar no botão de “Submit my answers”.
Nota mínima para a conclusão do curso: 75 por cento é a nota mínima a ser obtida para que o curso
seja concluído com sucesso. Obtendo a pontuação mínima, você receberá um Certificado de Conclusão
eletrônico. Se obtiver pontuação inferior a 75 por cento, você será informado de que recebeu uma nota
insuficiente. Você receberá uma versão alternativa do Exame Final de Curso, que poderá ser concluído
quando se sentir pronto. Caso obtenha sucesso na realização da segunda versão do exame, você
receberá um Certificado de Conclusão eletrônico. Caso falhe pela segunda vez, você será informado e
desmatriculado do curso.
• Se uma categoria particular de estudo lhe interessar (como a dos direitos humanos, da
logística, ou dos estudos militares, por exemplo), considere o programa de pós certificação,
disponível em seis áreas de especialização. Veja mais informações sobre esses programas
em <https://www.peaceopstraining.org/specializedtraining-certificates>.
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