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BIOMEMBRANA DE PELE DE TILÁPIA NO TRATAMENTO DE FERIDAS

Introdução
O uso da pele de Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) como biomembrana para o
tratamento de feridas e queimaduras tem sido bem aceita, devido seu baixo custo,
promoção de cicatrização, menor número de trocas entre curativos, características
histomorfológicas como a presença de colágeno tipo I – estimulante de crescimento de
fibroblastos e queratinócitos, citocinas importantes no processo de fechamento da
ferida.

Estudos também comprovam sua eficácia na analgesia de queimaduras de segundo


grau, quando utilizadas como curativo oclusivo (Martins, 2018 apud Lôbo, 2020).

Desta forma, a pele de Tilápia é uma alternativa de curativo com baixo efeito de
contaminação, favorecedor do processo cicatricial e resultados estéticos desejados,
tornando-a uma opção no tratamento de equinos, cujo tratamento de feridas é um
desafio, devido a sua natureza, seu ambiente de convívio e a predisposição ao
desenvolvimento de tecido de granulação exuberante (TGE).

Relato De Caso
Foi atendida na Fazenda Santa Maria, no município de Flores em Goiás, uma égua SRD,
14 anos, com laceração no terço proximal do metacarpo em membro torácico direito
(MTD), com exposição óssea e ruptura total de tendão extensor digital comum (TEDC),
presença de miíase e tecido necrosado. Devido ao local onde a égua vive, presume-se
que o ferimento tenha sido provocado por pedra pontiaguda.

Após realização dos procedimentos de assepsia, optaram, inicialmente por realizar


curativo com pomada a base de clorexidina, açúcar, óleo de copaíba e bandagem com
gaze, algodão e atadura e repelente, com trocas duas vezes ao dia.

Como terapia medicamentosa, utilizaram Ivermectina 0,2mg/kg/DU; Fenilbutazona


2,5mg/kg/SID por dois dias; Penicilina G Benzatina 25.000UI/kg a cada 48horas por
sete dias e Flunixina Meglumina 1,1mg/Kg/DU para controle da dor.

Contudo, após 29 dias de tratamento, observou-se que estava ocorrendo crescimento


de tecido de granulação exuberante, ressecamento da ferida e a mesma apresentava
as seguintes dimensões: 6,5 cm de largura e 10 cm de comprimento. Então ao 30º dia
do tratamento optaram por utilizar a pele de Tilápia como alternativa terapêutica.

As peles foram adquiridas de uma peixaria e passaram por um processo de limpeza


mecânica, higienizadas com solução fisiológica a 0,9% e congeladas a temperatura de -
20ºC. No momento da utilização, as peles de Tilápia foram submergidas em solução
aquosa de clorexidina à 0,2% durante 20 minutos e lavadas novamente em solução
fisiológica à 0,9%, secas com gaze e recortadas.

Depois de feita a assepsia da ferida, as peles foram fixadas com cola a base de etil-
cianoacrilato (Super Bonder®) próxima as bordas e em seguida, feita bandagem em “8”
com algodão e atadura.

Nos dias que se seguiram, as trocas dos curativos passaram a ser feitos a cada dois
dias, com base no odor e secreção, que inicialmente se apresentava em grande
quantidade, porém evoluindo para um aspecto mais uniforme com aumento da
epitelização, mas ainda com presença de tecido de granulação exuberante, diminuído
na face lateral distal da ferida e aumentado da face medial, que acreditou ter sido
motivada pela menor compressão da bandagem nesta região e dermatite ao redor da
ferida, causado pela cola.

Aos 14 dias do tratamento com a pele da Tilápia, a égua sofreu novo trauma, sendo
necessário a realização de antibióticoterapia por sete dias. Esta intervenção resultou
em redução da secreção possibilitando um tempo maior entre as trocas dos curativos,
que passou a ser de sete em sete dias.

Para o controle do crescimento do tecido de granulação foi instituído o uso do Sulfato


de Cobre, aplicado por 10 minutos e em seguida lavado com clorexidina 0,2% a cada
troca de curativo por durante 14 dias. Este procedimento favoreceu a redução do TGE
até a parada total do crescimento e após 150 dias do início do tratamento a ferida
cicatrizou por completo.

Discussão
A pele de Tilápia, além de oferecer suporte estrutural para ossos, pele, ligamentos,
tendões e vasos sanguíneos, também atua como sinal extraceluar regulando processos
fisiológicos como adesão, proliferação e diferenciação celular.

Possui sete aminoácidos essenciais e dez não essenciais que favorecem a resistência de
degradação do colágeno tipo I à temperaturas acima de 37ºC, o que não ocorre em
outros mamíferos.

Também possui grande resistência de tensão e tração ocasionando melhor proteção à


ferida, tempo maior entre as trocas de curativos e redução do risco de contaminação
devido sua microbiota ser não – infecciosa.

Conclusão
A pele de Tilápia tem baixo custo de aquisição, é eficiente, possui características que
conferem proteção da ferida, permite mobilidade do animal, auxilia o controle do
tecido de granulação exuberante, sem contra indicações e reações adversas ao animal.
Referências
LÔBO, Raianny Pires. UTILIZAÇÃO DE PELE DE TILÁPIA (OREOCHROMIS NILOTICUS)
NO TRATAMENTO DE FERIDA LACERANTE NA REGIÃO DO METACARPO EM EQUINO:
RELATO DE CASO. 2020. 25 f. TCC (Graduação) - Curso de Medicina Veterinária, Centro
Universitário de Brasília, Brasília, 2020.

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