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A evasão escolar. O tráfico de drogas. A violência policial. O desemprego.

A falta de
saneamento básico. A falta de políticas públicas. Esse cenário marca o contexto de um bairro
periférico no sul do Brasil. Em 2020, além desses desafios, a comunidade também passou a ser
afetada pela fome, agravada pela paralização de diversas atividades em razão da pandemia do
Corona vírus. Diante dessa situação, alguns atores sociais se organizaram para buscar
alternativas de enfrentamento. Assim, emerge a Cozinha Mãe (CM), uma inovação social que
teve como propósito central fornecer refeições às pessoas mais vulneráveis.

Deve-se realçar, no entanto, que uma inovação social não se reduz a um resultado em si já que
ela se caracteriza pelo tensionamento das estruturas sociais dominantes (Westley, 2008).
Assim, diferentemente da inovação tecnológica que possui ligação com a matéria, a inovação
social destaca-se por uma dimensão não-material (Cajaiba-Santana, 2014). Dentre os aspectos
dessa dimensão não-material, salienta-se, em especial, o papel dos atores sociais para geração
da inovação social.

Segundo Granovetter (1973), os atores de diferentes origens e interações esporádicas são


recursos importantes na expansão de uma rede social, caracterizando o que o autor denomina
de laços fracos. A abordagem da força dos laços sociais de Mark Granovetter, marca a
ascensão da Nova Sociologia Econômica (NSE). A NSE, que enfatizam a importância das redes
sociais na ação econômica, se mostrou uma lente teórica útil para analisar o papel dos atores
no processo de Inovação Social da Cozinha Mãe.

Por meio de um estudo de caso etnográfico que se estendeu de 2020 a 2022 (XX entrevistas,
totalizando xx horas de gravação) a rede de interações que circunscreve a Cozinha Mãe foi
explorada em profundidade para responder a seguinte questão de pesquisa: Qual o efeito dos
laços sociais na inovação social? Essa questão foi respondida por meio de três etapas:
mapeamento dos atores sociais envolvidos na CM; identificação do tipo de laço (se forte ou
fraco) entre cada ator social e a CM; e a descrição dos efeitos dos laços fracos e dos laços
fortes na inovação social. Ao final, esta pesquisa oferece uma importante contribuição para os
estudos da inovação social.

Os dados demonstraram que os atores sociais caracterizados como laços fortes contribuem
para a inovação social através do fornecimento de recursos importantes (como o trabalho
voluntário), porém abundantes e de fácil acesso. Este fato corrobora a argumentação de
Granovetter (1973) que caracteriza os laços fortes como promotores de recursos e
informações disponíveis no círculo social mais próximo.

Já os laços fracos também proporcionaram acesso a recursos importantes (como alimento,


dinheiro, equipamentos), porém escassos e de acesso limitado somente por meio dos laços
fracos. Assim, em processos de inovação social a diversidade dos atores sociais atuantes e os
diferentes papéis desempenhados por cada um indicaram maior importância do que a
quantidade de atores participantes. Com isso, os resultados dessa pesquisa são importantes ao
sinalizar que na articulação da rede não apenas a quantidade de atores importa, mas também
o tipo de vínculo desses atores com a inovação social.

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