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PESSANHA, Andrea. Imprensa Republicana e Abolição, RJ 1884-1888
PESSANHA, Andrea. Imprensa Republicana e Abolição, RJ 1884-1888
Niterói
2006
Andréa Santos da Silva Pessanha
Niterói
2006
Andréa Santos da Silva Pessanha
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________
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Para Andrelina, José,
João e Welington.
Não há ideal que não seja impelido por uma
grande paixão. A razão, ou melhor, o raciocínio
que produz argumentos pró e contra para justificar
as escolhas de cada um diante dos demais, e
acima de tudo diante de si mesmo, vem depois.
Norberto Bobbio, 1995
AGRADECIMENTOS
delicada, pois sei o quanto foi crucial o apoio de pessoas e instituições para a
deste projeto.
interlocutor intelectual. Nesta relação iniciada em 1993, tem sido um grande amigo.
muitos - podia contar com suas palavras de estímulo e com seu olhar que passavam
confiança.
embrionário.
quando necessário.
do texto final. Com eles, troco desde a graduação. Especialmente com Cláudia,
Giuliano Flor, Glória Machado, Isabel Andréa, Keila Grinberg, Lenice da Silva,
Novamente, dedico meu trabalho a meus pais, Andrelina e José, a meu filho,
tenho mais uma dívida a pagar por conta de minhas ausências e tensões. A
RESUMO 8
ABSTRACT 9
RESUMÈ 10
INTRODUÇÃO 11
FONTES 203
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 204
8
RESUMO
ABSTRACT
The theme of this research is the relationship between republic and slave
abolition seen through the republican press of the city of Rio de Janeiro between
1884 and 1888. The specific aim is the analysis of discourses on the end of captivity
and on the slave himself presented by the newspapers O Paiz ant the Gazeta
Nacional .
I intend to understand how criteria such as citizenship and belonging to the
brazilian nation were developed, in those newspapers, by the articulation of liberal
and scientific ethnocentrism principles.
RESUMÉ
INTRODUÇÃO
publicados nos jornais O Paiz e Gazeta Nacional são meu objeto específico de
estudo.
cientítico.
1
Com uma população total de 274.972 habitantes (censo, 1872), era a maior cidade da América do
Sul. HAHNER, Juner. Pobreza e política. Os pobres urbanos no Brasil.1870-1920. Brasília: Ednub,
1993, pp. 15-48.
uma cultura política que trazia debates, até então restritos ao Parlamento, para a
interessante, para este estudo, por conta do debate ocorrido no parlamento sobre a
Paiz foi fundado em 1884 e até 1899 contou com a presença do chefe do Partido
2
GRAHAM, Sandra. “O Motim do Vintém e a cultura política do Rio de Janeiro, 1880” in Revista
Brasileira de História, vol. 10, número 20, março/agosto de 1991.
que no período afirmava ter uma tiragem de onze mil exemplares, atravessou com
solidez todo a fase deste estudo. Não foi uma folha de efêmera existência,
meados da década de oitenta. A Gazeta Nacional, que tinha por subtítulo Órgão
Republicano, teve curta duração, mas sua fase coincide com o período de maior
Mesmo com as recentes produções, segundo Célia Maria Marinho de Azevedo, “os
estudos sobre abolicionismo no Brasil estão ainda pouco desenvolvidos”3. Esta tese
estrutura de texto:
3
Abolicionismo no Brasil. Estados Unidos e Brasil, uma história comparada (século XIX). São Paulo:
Annablume, 2003, p.30.
imagem que esses jornalistas procuravam difundir de seu papel e dos periódicos. O
folhas, não a partir de como se auto intitulavam, mas considerando o dito e o não
enfoca como a ação dos escravos foi apresentada pelos jornais, na tentativa de se
O Paiz e na Gazeta Nacional, contudo uma lógica liberal centrada nos direitos
inalienáveis do homem à liberdade foi significativa nos discursos pelo fim do cativeiro
no Brasil.
tais leituras, aborda a visão destas folhas sobre o negro e sobre a questão nacional.
publicados nesses jornais. Através dela, ficarei atenta ao dito, ao não dito e ao
Nacional.
particular, para aquele que se debruça sobre o século XIX brasileiro. A partir dos
intelectuais da Corte, pois foi uma tribuna na qual esses homens apresentaram e
Este texto foi publicado em 1888 na Gazeta Nacional e foi significativo para o
pelo Partido Republicano na Corte, portanto, no ano anterior à Lei do Ventre Livre. O
fim da monarquia foi um ano após a Lei Áurea. Mediante a este quadro, os jornais
porém não poderiam ignorar temas que envolviam o destino do país e exaltavam os
ânimos.
1
“Conversões republicanas entre os lavradores” in Gazeta Nacional, 27 de abril de 1888, p.2.
2
De acordo com Lincoln de Abreu Penna: “A adesão dos setores da elite à República não teve, no
Brasil, um sentido de repúdio ao regime monárquico como na França revolucionária. Pesou muito o
próprio desgaste do sistema de governo dos gabinetes do Segundo Reinado, em geral, insensíveis às
reivindicações da corporação militar e do mundo político e parlamentar. Mesmos os fundamentos
Mas, a crise política, que levou à fundação do Partido Republicano em 1870, ocorreu
províncias6. Houve a fundação de clubes e jornais, mas sem longevidade. Nos anos
doutrinários do republicanismo foram postos de lado, em nome de interesses mais pragmáticos (...)”
in República brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p.33
CASTRO, Celso. Os militares e a república. Um estudo sobre cultura e ação política. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1995.
3
ALONSO, Ângela. Idéias em movimento. A geração de 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo:
Paz e Terra, 2002, p. 65-75
4
FERNANDES, Maria Fernanda Lombardi. A esperança e o desencanto: Silva Jardim e a República.
Tese de Doutorado, São Paulo, Universidade de São Paulo, 2004, p.11.
5
LESSA, Renato. A invenção republicana. Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira
República brasileira. Rio de Janeiro: IUPERJ; São Paulo: Vértice, 1988.
6
NEVES, Lúcia M.B.P. & MACHADO, Humberto Fernandes. O Império do Brasil. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1999, p. 400.
7
“Com o ministério Rio Branco, em que a monarquia apareceu recuperar muito prestígio perdido nos
anos da guerra, e principalmente depois da reviravolta de 68, faltavam condições para um progresso
Liberal8.
Conservador. Esta aliança provisória, muito embora possa ter uma aparência
Ubaldino de Amaral concorreram à Câmara dos Deputados, mas não foram eleitos.
substancial do movimento que tinha em mira a derrocada do regime. A ascensão, novamente, dos
liberais, em 1878, [...] pareceu a alguns tendente a arrefecer mais ainda o desenvolvimento da idéia
republicana, dando lugar à manifestações adesistas por parte de partidários da mudança de regime”
in HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: do Império à república. Coleção História Geral
da Civilização Brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997, p.263
8
BASBAUM, Leôncio. História sincera da república. Das origens a 1889. São Paulo: Alfa-Omega,
1986, p. 208.
9
“[...] De agora em diante, é de preferência com o Partido Conservador que os republicanos se aliam,
contra os governos liberais que vão se suceder no poder (salvo sob os ministérios Cotegipe e João
Alfredo) até o colapso do regime. A aliança explicável, em grande parte por interesses comuns a
grupos que se acham na oposição, provocou estranheza e gestos de reprovação [...]
[...] do ponto de vista do Partido Republicano, a aliança foi mais benéfica do que a antiga
promiscuidade com os liberais, por isso mesmo que o livrava da quase tutela que sobre ele exercia o
partido mais antigo, e onde muito dos seus membros tinha militado antes de 1870 .” in HOLANDA,
Sérgio Buarque. op. cit., p.264.
10
FERNANDES, Maria Fernanda Lombardi. op, cit., p.34.
unidade através dos congressos de 1887, 1888 e 1889 - os dois primeiros no Rio de
no nome12.
Grande do Sul, províncias que contaram com grupos republicanos que enfatizavam
monárquico. Para os militantes do Rio Grande do Sul e São Paulo, república era
11
PENNA, Lincoln de Abreu. op. cit., p.33.
12
BASBAUM, História sincera da república. Das origens a 1889. São Paulo: Alfa-Omega, 1986, p.
218-219.
13
FERNANDES, Maria Fernanda Lombardi. op. cit., p.35.
governo com um caráter curativo para o Brasil, referia-se ao campo das virtudes. Se
seria o regime das virtudes, dos talentos, onde as capacidades individuais seriam
14
Uma diferenciação entre os dois sentidos fundamentos de república adotados no final do século
XIX no Brasil, encontramos em FERNANDES, Maria Fernanda Lombardi. op. cit., p.9
15
“A situação”, in Gazeta Nacional, 22 de maio de 1888, p.1.
16
“A educação profissional”, in O Paiz, 14 de junho de 1888, p.1.
17
CARVALHO, José Murilo de. “Os partidos imperiais: composição e ideologia.” In A construção da
ordem. A elite política imperial. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, Relume-Dumará, 1996, p.194.
como Quintino Bocaiúva, positivistas ortodoxos como Miguel Lemos e não ortodoxos
ligados à Escola Militar como Benjamim Constant indicavam as vertentes dos grupos
anos da monarquia.
Por mais que tenham se dado num mesmo contexto histórico e implicassem
associou o partido à causa abolicionista. Assim, Quintino Bocaiúva alegava que seu
partido estava ligado a uma questão política e a abolição era uma questão social20.
18
PENNA, Lincoln de Abreu, op. cit, p.33.
19
Jornal fundado em 1870 como propriedade do Clube Republicano do Rio de Janeiro, sendo uma
folha oficial do Partido Republicano.
20
BOCAIÚVA, Quintino. Idéias políticas de Quintino Bocaiúva. Cronologia, introdução, notas
bibliográficas e textos selecionados por Eduardo Silva. Brasília: Senado Federal, Rio de Janeiro:
FCRB, 1986, volume 1, p.67.
Parlamento a Lei do Ventre Livre: “Somos republicanos, e tanto basta para que se
saiba que somos abolicionistas”21. Este discurso sinaliza uma imagem que os
o fim do cativeiro era uma questão social o debate sobre as leis emancipacionistas
penetrava nos jornais republicanos ao constituir parte das preocupações das elites
do Rio de Janeiro.
preocupação com a ação política. Assim, tivemos republicanos como Aristides Lobo
que no decorrer dos dois movimentos tiveram pontos de tensão com seus grupos
21
18 de Maio de 1871.
trabalhador livre, quer fosse o imigrante ou o alforriado22. Por seu turno, em razão
como um todo.
ventre escravo. A lei aprovada em 1871, além de tornar ingênuo o filho da escrava,
individuais e coletivas dos escravos pela alforria, a procura da Justiça para mover
22
Um estudo sobre a Lei de Terras em sua articulação com a Lei Euzébio de Queiroz e suas
conseqüências para a estrutura fundiária do país, encontramos em SILVA, Lígia Osório. Terras
devolutas e latifúndio. Efeitos da lei de 1850. Campinas: Editora da UNICAMP, 1996. Ver também
MOTTA, Márcia. Nas fronteiras do poder. Conflito e direito à terra no Brasil do século XIX. Rio de
Janeiro: Vício de Leitura, 1998.
23
Uma análise sobre o impacto das leis emancipacionistas no quotidiano do escravo e no processo
de abolição da escravatura no Brasil, empreendemos em “A campanha abolicionista na Corte” in Da
abolição da escravatura à abolição da miséria. A vida e as idéias de André Rebouças. Rio de Janeiro:
Quartet, 2005.
Mesmo com esse cenário, durante os anos oitenta, o fim do cativeiro não era
podia mais adotar um discurso em que questões políticas e sociais deveriam ser
24
Entre os estudos sobre a lei de 1871, a de 1885 e as estratégias adotadas pelos escravos no
alcance da alforria, citamos CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas
décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990; GRIMBERG, Keila.
Liberata. A lei da ambigüidade. As ações de liberdade da Corte de Apelação do Rio de Janeiro no
século XIX. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1994; MATTOS, Hebe Maria. Das cores do silêncio. Os
significados da liberdade no sudeste escravista. Brasil, século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1998; MENDONÇA, Joseli Maria Nunes. Entre a mãos e os anéis. A lei dos sexagenários e os
caminhos da abolição no Brasil. UNICAMP: Editora da UNIACAMP, 1999; PENA, Eduardo Spliller.
Pajens da casa imperial. Juriconsultos, escravidão e a lei de 1871. UNICAMP: Editora da UNICAMP,
2001.
25
A leitura dos jornais O Paiz e a Gazeta Nacional demonstra que, até abril de 1888, para os autores
e leitores das duas folhas, a abolição da escravatura sem indenização e incondicional ainda era
incerta.
26
COSTA, Emília Viotti. Da senzala à colônia. São Paulo: Brasiliense, p.451.
27
“A libertação do Amazonas”, 11 de julho de 1885, p.1.
século”. Criticou a postura de elementos dos três partidos que não assumiam a
Próximo à assinatura da Lei Áurea, O Paiz afirmava que, apesar das leis
conseguem senão mostrar que eles são tão bons partidários como medíocres
abolicionistas29.
fileiras do Liberal, não tendo a mesma consistência que o PRP. No que tange à
28
“O bezerro de palha”, 02 de outubro de 1884, p.1
29
“Tópicos do Dia” in O Paiz, 09 de maio de 1888, p.1.
30
FERNANDES, Maria Fernanda Lombardi. op. cit., p. 43.
imprensa.
república e a abolição.
31
“[...] A rigidez do sistema político compeliu os contestadores a buscarem formas políticas
alternativas, não parlamentares, de organização e expressão de demandas. De onde mais no Império
era possível a elocução? Foi na imprensa independente, em pequenas associações e em eventos
públicos que os contestadores se manifestaram ao longo da década de 1880.[...]” in ALONSO,
Angela. op. cit., p. 276.
32
“Se os republicanos e os abolicionistas não podem ser associados, o mesmo não se pode dizer da
República e da Abolição. Intimamente relacionadas, são o desfecho de um processo de mudança que
vinha sendo gestado pelos menos desde 1870. [...]” in FERNANDES, Maria Fernanda Lombardi.
op.cit, p.45.
muito utilizados por aqueles que se dedicam à pesquisa sobre o século XIX
pensamento de uma época, pois podem observar quais temas foram discutidos,
imprensa vem sendo tratada pela historiografia, quer seja como objeto de estudo ou
condição subalterna, pois seria apenas ‘reflexo’ superficial de idéias que, por sua
33
MOREL, Marco, BARROS, Mariana Monteiro. Palavra, imagem e poder. O surgimento da imprensa
no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: DP&A, 2003
34
idem, ibidem, p.8
trabalho. Os discursos não são entendidos por mim como reprodutores fiéis da
sócio-histórico.
informação37.
O jornal é uma sucessão de números que fazem parte de uma coleção. Cada
35
ibidem, p.9
36
Assim, aproximo-me das elaborações de Jesús Matin-Barbero: “[...]Lenta mas irreversivelmente
viemos aprendendo que o discurso não é um mero instrumento passivo na construção do sentido que
tomam os processos sociais, as estruturas econômicas ou os conflitos políticos [...] Historicizar os
termos em que se formulam os debates é já uma forma de acesso aos combates, aos conflitos e lutas
que atravessam os discursos e as coisas. Daí que nossa leitura será sempre transversal: mais que
perseguir a coerência de cada concepção (grifo no original), questionará o movimento que a constitui
em posição (grifo no original)” in Dos meios às mediações. Comunicação, cultura e hegemonia. Rio
de Janeiro: Editora da UFRJ, 2003, p.33.
37
Retrato em branco e negro. Jornais, escravos e cidadãos no final do século XIX. São Paulo:
Companhia das Letras: 1987, p.17. Os jornais abolicionistas foram simultaneamente objeto e fontes
de pesquisa para Humberto Fernandes Machado, que constatou a preocupação de José do
Patrocínio no convencimento dos leitores para a causa abolicionista, através de uma linguagem
emotiva e que, ao mesmo tempo, representava as possibilidades discursivas da época. Palavras e
brados: a imprensa abolicionista do Rio de Janeiro. 1880-1889. Tese de Doutorado, São Paulo,
Universidade de São Paulo, mimeo, 1991, p.24.
circulação esperam uma forma específica de criar e exibir a notícia, o fato. Quando
38
MOUILLAUD, Maurice. “O nome do jornal” in PORTO, Sérgio Dayrell (org.) O jornal. Da forma ao
sentido. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2002.
39
idem, idibem, p. 87.
república e abolição, por exemplo, e até mesmo tinham um horizonte das possíveis
querelas travadas com outros periódicos, por exemplo com O Brazil, ligado ao
palavra impressa, o sentido de um texto não está fechado a suas páginas. É preciso
distribuidor, vendedor e leitor41. Assim, são questões que devem nortear a pesquisa:
40
“Um governo anônimo”, in Gazeta Nacional, 12 de fevereiro de 1888, p.1
41
O beijo de Lamourette. Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 109-
131.
das folhas? E por fim, como o texto é interpretado (reescrito) no momento da leitura?
que é a própria história da imprensa. Assim, não posso pensar o tema apenas pelo
próprio tema. Preciso atentar para as observações feitas por Darton. Para o estudo
contexto.
dele, conforme ocorreu no Caso Castro Malta - que será tratado mais adiante –
construído pela redação de O Paiz. De acordo com Darton, “o poder dos meios de
Revolução Francesa, quando o jornalismo surgiu pela primeira vez como força nos
negócios de Estado”43.
42
Para uma discussão sobre o jornal e seu suporte, ver MOUILLAUD, Maurice “Da forma ao sentido”
in O jornal. Da forma ao sentido...
43
op. cit, p.16.
texto, encontra-se em questão também o que uma geração pretende que seja
construção da memória.
44
BARBOSA, Marialva. Os donos do Rio. Imprensa, poder e público. Rio de Janeiro: Vícios de
Leitura, 2000, p. 117.
45
op. cit., p. 64.
46
Humberto F. Machado ressalta que a “(...) manipulação da informação, ou a sua omissão, vincula-
se, muitas das vezes, às posturas dos colaboradores ou, ainda, as expectativas do público leitor. As
matérias se prestam a uma série de interpretações e devemos tomar, portanto, um cuidado minucioso
para não superestimá-las, ou subestimá-las, transformando-as em verdades absolutas”. op. cit, p.21
trabalha com um campo que é o foco de atenção das elites das diversas
sociedades47.
que deve ser lembrado (e, em conseqüência, esquecido) ficava explicitado inclusive
nos nomes atribuídos aos artigos. Assim, por exemplo, O Paiz utilizou, a expressão
tratava das razões para as revoltas dos escravos, “Para a história da escravidão. Um
história da escravidão no Brasil deveria ser realizada através da imprensa, pois esta
No período próximo à Lei Áurea, existia toda uma preocupação dos homens
que faziam a imprensa com a imagem, com os documentos que ficariam difundidos
47
Para Jacques Le Goff, ”[...] Tornar-se senhores da memória e do esquecimento é uma das
grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as
sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores destes
mecanismo de manipulação da memória coletiva.” História e Memória. Campinas: Editora da
UNICAMP, 2003, P.422.
48
28 de dezembro de 1887, p.2
O momento de crise do sistema escravista brasileiro foi uma fase peculiar para o
sua própria vida pessoal para colocar em primeiro plano as necessidades do país. O
progresso, meta dos intelectuais do século XIX, era apresentado, nos discursos,
importante quanto o como se escreve e o que poderia também ter sido escrito em tal
Bocaiúva, por exemplo, em polêmica com o jornal O Brazil afirmou: “Quaisquer que
49
BARBOSA, Marialva...., p. 117.
50
“O Paiz” in 15 de novembro de 1884, p.1
51
MORITZ, Lilia Schwarcz, op. cit, p.16-17.
diálogo estabelecido com o redator do jornal O Brazil, que também fazia parte do
seus textos para seu interlocutor que Bocaiúva sustentava a neutralidade partidária.
deve ser pensado a partir da polêmica com O Brazil. Em outras ocasiões, o próprio
Bocaiúva fazia questão de buscar sua trajetória pessoal e seu círculo político para
oferecer legitimidade à fala, não querendo aparentar neutralidade, pois eram suas
pelo autor. É o que Certeau chama de “recebido”. O desenrolar do texto tem por
52
11 de outubro de 1884, p.1.
53
A invenção do cotidiano: 1. artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 226.
(tradição, cultura, o “recebido” pelo autor) e a capacidade criativa que se revela nas
um ouvinte potencial (também localizado no tempo e no espaço). Este pode não ter
influencia o momento da produção e quando o texto chega a seus olhos (ou a seus
possíveis de leitura55.
compartilhadas pelos autores dos artigos. Conforme ressalta Roger Chartier, o texto
54
De acordo com Marco Morel: “[...]A relação entre redatores e leitores encontra-se invariavelmente
marcada por um jogo de imagens: espelho e miragem. Espelho onde se projetam e se definem
posições e identidades a partir das próprias referências. Miragem em meio a qual se buscam, às
vezes em vão, um público e uma opinião que só existem nas aspirações de quem lê ou escreve.” op.
cit., p. 34.
55
De acordo com Karlheinz Stierle: “[...] A comunicação pragmática funciona apenas porque produtor
consegue imaginar o papel do receptor e vice-versa. Mas se pressupõe que ambos os papéis
participam de um esquema de ação preexistente, habitual ou institucionalmente estabilizado, que
condiciona a possibilidade de ambas as posições e de sua dialética. [...] O sujeito da produção e o
sujeito da recepção não são pensáveis como sujeitos isolados, mas apenas como social e
culturalmente mediados, como sujeitos transubjetivos” in Que significa a recepção dos textos
ficcionais? In LIMA, Luiz da Costa (org.). A literatura e o leitor. Textos de estética da recepção. 2ª ed.,
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002, p.128.
da leitura56.
por exemplo, foi bem diferente de abordar este tema na década de oitenta quando
fuga de escravos de fazendas paulistas, Lobo utilizou a expressão “essa gente que
entendimento dos gestos dos cativos: eles não eram simplesmente criminosos
liberdade.
ativos. O autor objetiva convencer, normatizar, mas seu produto tem as marcas do
público alvo, potencial. Muito embora, existam leituras preferenciais estas podem
56
A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP/Imprensa Oficial do Estado
de São Paulo, 1999, p.70.
57
“O escravigismo em Campos” in Gazeta Nacional, 04 de dezembro de 1887, p.1
58
ISER, Wolfgang. “o jogo do texto” in LIMA, Luiz Costa. op. cit, p. 107.
um ouvinte tem uma atitude ativa: “ele concorda ou discorda (total ou parcialmente),
completa, adapta, apronta-se para executar, etc., e esta atitude de ouvinte está em
o início do discurso.61”
Um discurso proferido nunca é de primeira ordem, pois faz parte de uma rede
59
“Concebidos como um espaço aberto a múltiplas leituras, os textos (e também todas as categorias
de imagem) não podem, então ser apreendidos nem como objetos cuja a distribuição bastaria
identificar nem como entidades cujo significado se colocaria em termos universais, mas preso na rede
contraditória das utilizações que os constituíram historicamente” in CHARTIER, Roger. A história
cultural entre práticas e representações. Rio de Janeiro: DIFEL, 1988, p. 61
60
MARTIN-BARBERO, Jesús. op. cit.
61
“Os gêneros do discurso” in Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 290
62
idem, ibidem p. 291.
discurso – por mais inovador, mais polêmico que seja – está em consonância com
os horizontes dos envolvidos. Ele não rompe um silêncio eterno e sim faz parte de
Além do mais, os autores dos artigos eram também leitores das demais folhas. Estes
de seus concorrentes.
63
“O bezerro de palha”, in O Paiz, 02 de outubro de 1884, p1.
64
“O governo e a abolição” in Gazeta Nacional, 23 de dezembro de 1887, p.1.
65
“Entendamo-nos”, 14 de março de 1885, p.1.
66
“O jornalismo”, 03 de outubro de 1884, p.1.
publicações por vezes inflamadas. O autor e o leitor não podem ser pensados
Este tipo de relação entre autores e leitores dos jornais era explicitada quando
também era recorrente a aproximação entre folhas para marcar posições distintas de
67
“A questão econômica” in 1º de abril de 1885, p.1.
68
“Ainda a catequese” in 2 de novembro de 1884, p.1.
outorgar credibilidade aos textos e que a sua imagem também estava ligada à
69
“Gazeta da Tarde” in O Paiz , 13 de janeiro de 1885, p.1.
70
“O direito torto” in O Paiz ,13 de janeiro de 1885, p.1.
dos leitores, que não liam simplesmente o jornal de sua confiança e sim liam os
importância de, neste cenário de disputa entre jornalistas, não deixar uma crítica
intenções e ações dos autores. Existia uma busca pela cumplicidade no momento da
leitura, pela formação de uma identidade comum com o leitor, por mostrar que autor
e público faziam parte de um mesmo círculo: “Os leitores conhecem quais são os
nossos sentimentos pessoais com referência aos dignos funcionários que por parte
compartilhar experiências.
buscavam construir juntos aos leitores, tinha a função de criar uma identidade, um
uma tônica acentuada. Os leitores, comumente, iam “para as portas das redações”
71
“O jornalismo”, 03 de outubro de 1884, p1.
72
“Empresa funerária” in O Paiz, 18 de dezembro de 1884, p.1.
73
“O país” in O Paiz, 16 de maio de 1888, p.2
pediram que os préstitos fizessem sua passagem por aquela rua”74, pois atenderiam
Ainda nos festejos do 13 de Maio, os operários da fábrica São Lourenço com uma
74
“Imprensa Fluminense” in 17 de maio de 1888, p.1
75
“Ave, Libertas” in 17 de maio de 1888, p.1.
76
“Abuso da imprensa”, 24 de janeiro de 1885, p.1.
periódicos. Para ele, existia o leitor “sensato” – do qual, evidentemente, o autor fazia
público de “espírito frívolo”, que alimentava uma imprensa que não conseguia fugir
risco de em nome do dinheiro ver estampadas nos jornais todo tipo de matéria.
77
Idem, ibidem
revelaram como esta imprensa estaria pensando não somente no fim do cativeiro
aprimorada quer fosse pela abolição da escravatura, quer fosse pela adoção da
78
“Insistimos e insistiremos” in O Paiz, 05 de dezembro de 1884, p.1.
79
“Resenha diária” in O Paiz, 06 de outubro de 1884, p1.
80
A imprensa começou, no Brasil, com a presença da Corte de D. João em 1808. Até então, as
iniciativas particulares foram frustradas por conta da política do governo metropolitano em relação à
Colônia. A preocupação em controlar a divulgação das idéias anticoloniais fez com que Portugal
restringisse os impressos e inibisse a circulação de livros. A partir da Revolução do Porto, surgiu, no
Rio de Janeiro, uma imprensa com tom mais agressivo, que não se dedicava somente aos assuntos
oficiais, à família reinante e à situação européia. O florescimento de jornais de cunho político
confundiu-se com o próprio processo de emancipação do Brasil. Esta primeira fase da imprensa
brasileira, que se iniciou com a presença da corte portuguesa, caracterizou-se por ser opinativa,
doutrinária e, praticamente, constituía uma extensão das discussões ocorridas no Parlamento, nos
partidos políticos ou nas associações. As folhas eram lançadas e saíam de circulação rapidamente.
Muitas vezes, eram criadas para servirem de tribuna para querelas pessoais e políticas. Sobre a
história da imprensa no Brasil, verificar: SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Rio
de Janeiro: Mauad, 1999. Uma análise sobre a participação dos periódicos no debate sobre a
construção da nação brasileira emancipada, encontramos em LUSTOSA, Isabel. Insultos impressos.
A guerra dos jornalistas na independência, 1821-1823. São Paulo: Companhia das Letras, 2000;
RIBEIRO, Gladys Sabina. A liberdade em construção: Identidade nacional e conflitos antilusitanos no
maior velocidade de produção, uma exploração mais intensa das imagens com a
com os interesses das elites políticas, econômicas e intelectuais que utilizavam tal
Primeiro Reinado. Rio de Janeiro: Relume Dumará: FAPERJ, 2002; NEVES, Lúcia Maria Bastos P.
Corcundas constitucionais: cultura política (1820-1823). Rio de Janeiro: Revam:FAPERJ. 2003.
81
SEABRA, Roberto. “Dois séculos de imprensa no Brasil: do jornalismo literário à era da internet” in
MOTTA, Luiz Gonzaga (org.) Imprensa e poder. Brasília: Universidade de Brasília, São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2002, pp. 34-36; MORITZ, Lilia Schwarcz, op. cit, p. 17
82
BARBOSA, Marialva. op.ct, p. 48-49.
83
BARBOSA, Marialva. op. cit, p 21-25; SEABRA, Robert, op. cit
84
De acordo com Humberto Fernandes Machado “(...) Com os olhos voltados para a Europa,
escritores, jornalistas, alguns políticos, professores, militares, entre outros, absorviam e divulgavam,
através dos jornais, as idéias que exaltavam o progresso como meta a ser atingida pelo homem,
através de um processo de valorização do trabalho livre” , “A morte da escravidão” in O Império do
Brasil..., p. 364.
85
Neste sentido, Marialva Barbosa afirma: “Mas os jornais também são fundamentais no processo de
construção do Rio de Janeiro como capital de uma nova institucionalidade: a República. A outros
discursos produzidos com o sentido claro de normatizar a sociedade – como o médico-higienista,
jurídico e político – agrega-se o da imprensa, que passa a aliar ao texto impresso a veracidade da
fotografia e a crítica das caricaturas ou a ‘reprodução’ da realidade contida nas ilustrações.
Promovendo campanhas, os periódicos unificavam os vários discursos da sociedade, em busca de
um ideal de progresso e de civilização.” op cit., p. 12.
trazer o debate sobre o destino político do país para a esfera pública. Através da
imprensa, a política não seria um campo exclusivo dos profissionais, seria o campo
oitenta. O Paiz afirmava que a função da imprensa, naquele momento, era discutir
86
“Missão do jornalismo”,11 de abril de 1888, p.1.
espécie de somatório das opiniões” 88, os jornais pretendiam unificar discursos sobre
exemplo, práticas políticas poderiam ser legitimadas e pressões feitas nos poderes
espaço público, acabava por ajudar a desenvolver uma espécie de sexto sentido
humano:
Para os homens que fizeram a imprensa no período, opinião não tinha um caráter
87
“Resenha diária”, 06 de outubro de 1884, p.1.
88
MOREL, Marco, BARROS, Mariana Monteiro. op. cit, p. 24-25.
89
Entendo a noção de opinião pública a partir das afirmações de Marco Morel: “A expressão ‘opinião
pública’ é polissêmica – e também polêmica. Muitos a tratam como se fosse ‘coisa’, sujeito ou
entidade, com vontade e movimentos próprios. Mas trata-se, antes de tudo, de palavras – poderosos
instrumentos de combate (...).
Considera-se, em geral, que opinião pública remete a uma expressão que desempenhou papel de
destaque na constituição dos espaços públicos e de uma nova legitimidade nas sociedades
ocidentais a partir de meados do século XVIII. Essa visão percebia no nascimento da opinião um
processo pelo qual se desenvolvia uma consciência política no âmbito da esfera pública. Diante do
poder absolutista, havia um público letrado que, fazendo uso da Razão, construía leis morais,
abstratas e gerais, que se tornavam uma fonte de crítica ao poder e de consolidação de uma nova
legitimidade política. Ou seja, a opinião com peso de influir nos negócios públicos, ultrapassando os
limites do julgamento privado” op. cit., pp. 21-22
90
“Missão do jornalismo” in Gazeta Nacional, 10 de abril de 1888, p.1
genérico, distante, era uma entidade que através dos jornais deveria interferir nas
protestar e ser a porta voz do povo. Suas palavras tinham um caráter de crítica ao
no jornal O Paiz, fica patente que o leitor também entendia que a função do jornal
era ajudar a população na garantia das liberdades. O periódico era uma forma de
91
“Insistimos e insistiremos” in O Paiz, 05 de dezembro de 1884.
92
Fundado, na cidade do Rio de Janeiro, por Lopes Trovão em 1880.
93
“Reforma Eleitoral”, 11 de junho de 1880, p.1
Niterói:
Fidelis da Rocha Medrado e seu filho José Alves Alcemim Feitosa. Finalizava com
94
O Paiz, 07 de março de 1885, p.1
95
idem, idibem.
caso de Fidelis da Rocha Miranda e seu filho. Contudo, para os objetivos deste
eram a todo o tempo alimentadas pelos homens que escreviam nos jornais.
parte de como esta imprensa queria ser vista. Logo em seus números iniciais O
Ir para o jornal era uma forma de dar voz àquele que se sentia injustiçado. Era
96
“O jornalismo”, 03 de outubro 1884, p.1.
questão. Tais palavras são indicativas da força que os periódicos tinham (e têm)
culturalmente o país era sempre enfatizada, fazia parte da imagem que estes
jornalistas tinham de sua ocupação, pois afinal “o jornal é a forma escrita em que o
opinião pública:
97
Utilizo a noção de poder simbólico no sentido aplicado por Pierre Bourdieu: “O poder simbólico
como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de
transformar a visão do mundo e, deste modo, a acção sobre o mundo, portanto o mundo; poder
quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica),
graças ao efeito específico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado
como arbitrário” in O poder simbólico. Lisboa, DIFEL, 1989, p.14.
98
“Acaba-se o mistério” in O Paiz, 28 de novembro de 1884, p.1.
99
Gazeta Nacional, 10 de abril de 1888, p.1
Nos anos oitenta, de acordo com os artigos publicados, uma das missões
que cabia aos periódicos era ajudar, através das palavras, no desenvolvimento da
patriotismo, de amor aos seus conterrâneos, bem como o estímulo de ver realizado
não pode faltar a esta santa missão, e nós esperamos que em breve, a imprensa
deixando por entender que era uma opinião corrente: “Diz-se, e com razão, que a
100
03 de dezembro de 1887, p.1
101
20 de abril de 1888.
102
Agricultura nacional: estudos econômicos; propaganda abolicionista e democrática. Recife:
Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 1988, p.359
deveriam ser trazidos para a tribuna pública através dos jornais e neles serem
resolvidos:
ser vista com cautela, pois atingia um grupo bastante seleto em razão do quadro
103
O Paiz, 24 de janeiro de 1885, p.1.
104
“O País” in O Paiz, 15 de novembro de 1884.
ou nos bondes105. A importância da circulação das idéias dos jornais através dos
jornais tinham mais ouvintes que leitores, eram mais vistos que lidos107. A rigor,
ordem do texto.
periódicos que o jornal A Província de São Paulo informava que O Paiz tem sido
vendido na capital por 100 réis, “tornando mais difícil o alcance das classes
105
MOREL, Marco. op. cit., p.96.
106
“O jornalismo” in O Paiz, 03 de outubro de 1884, p.2.
107
BARBOSA, Marialva. op. cit., p. 200
108
MACHADO, Humberto Fernandes, op. cit., p. 17.
pobres”.109 A redação de O Paiz disse que não podia intervir, pois a venda era feita
por terceiros e que julgava que a remessa encaminhada para São Paulo era
suficiente.
constituía, de qualquer forma, foi em seu nome que a reivindicação foi feita. Este fato
província de São Paulo, chegando mesmo a ser citada a lei da oferta e da procura.
fazendeiros descontentes com a política imperial para as suas fileiras, não poderiam
regime de trabalho escravo. Afinal, muito embora não haja - e nem fosse desejada -
anos oitenta a vida econômica, política e social do Brasil acabou por propiciar a
109
27 de maio de 1888, p.1.
como estas idéias foram lidas e articuladas no discurso sobre a abolição e o escravo
110
Entre eles citamos: MATTOS, Hebe Maria. Das cores do silêncio. Os significados da liberdade no
sudeste escravista. Brasil- século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995; SCHWARCZ, Lilia
Moritz. O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil. 1870-1930. São
Paulo, Companhia das Letras, 1993; SKIDMORE, Thomas. Preto no branco. Raça e nacionalidade no
pensamento brasileiro. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976; SALLES, Ricardo. Joaquim Nabuco. Um
pensador do Império. Rio de Janeiro, Topbooks, 2002.
OITOCENTISTA
republicana.
separadamente.
Bocaiúva e Aristides Lobo -, os homens com quem estas folhas travaram polêmicas -
Rangel Pestana, Lopes Trovão e Silva Jardim – constatamos que os atores foram
sobre o Brasil do último quartel do século XIX, propondo mudanças para que o país
1
MOTA, Maria Aparecida Rezende. Sílvio Romero. Dilemas e combates no Brasil na virada do século
XX. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000.
2
BOSI, Alfredo. “A escravidão entre dois liberalismos” in Dialética da colonização. São Paulo:
Companhia das Letras.1992.
e passeatas.
idéias, que – conforme já abordado – tinha uma função especial para esta geração:
número de pessoas das mudanças colocadas como necessárias para o Brasil seguir
o caminho do progresso.
esfera pública, com destaque para a imprensa, foram trazidas questões antes
3
Sobre o tema, verificar SOIHET, Rachel; BICALHO, Maria Fernanda Baptista; GOUVÊA, Maria
Fátima da Silva (orgs.) Culturas políticas. Ensaios de história cultural, história política e ensino de
história. Rio de Janeiro: MAUAD, 2005.
4
GRAHAM, Sandra. “O Motim do Vintém e a cultura política do Rio de Janeiro, 1880” in Revista
Brasileira de História, vol. 10, número 20, março/agosto de 1991.
surgimento de novos atores sociais que passaram a pressionar por um maior espaço
5
ALONSO, Angela. “A ordem contestada” in Idéias em movimento. A geração de 1870 na crise no
Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
6
“Três associações procuraram arregimentar a miríade de pequenos grupos pró-reformas sob seu
comando ao longo dos anos de 1880: o Partido Republicano, a Confederação Abolicionista, a
Sociedade Positivista. Cada uma destas estruturas de mobilização privilegiava um ponto nevrálgico
da mobilização: a contestação à monarquia, à escravidão, à tradição imperial.” In ALONSO, Ângela,
op.cit, p.265.
7
MOTA, Maria Aparecida, op. cit, p. 29.
8
“Eu desejava pôr um evidência as capacidades criadoras, activas, inventivas, do habitus e do
agente (que a palavra hábito não diz), embora chamando a atenção para a idéia de que este poder
gerador não é o de um espírito universal, de uma natureza ou de uma razão humana, como em
político. A geração foi composta por setores urbanos em crescimento desde meados
do Império. Uma prática comum para essa geração foi deixar sua província de
novos segmentos sociais pelo ampliação do espaço nos órgãos públicos e a perda
Contudo, abriram indeléveis fissuras na elite política imperial. O gabinete Rio Branco
acesso à educação superior, foram expressões desta reforma para manter o status
Politécnica.
MATTOS, Ilmar. O Tempo Saquarema. A formação do Estado Imperial. São Paulo: HUCITEC, 1990,
p.156.
10
ALONSO, Angela, op. cit, p. 70.
11
ALONSO, Angela. op. cit, p. 75-96.
de sua escola14.
suas competências, através dos concursos, tendo a projeção social alcançada por
professores o motivo das críticas recebidas: Se, como foi dito na imprensa, é o
12
Idem, ibidem, p.126-127.
13
CASTRO, Celso. Os militares e a república. Um estudo sobre cultura e ação política. Rio de
Janeiro: Zahar, 1995, p.27.
14
Idem, ibidem, p.106-107.
semelhante culpa16.
Foi neste contexto que a geração de 1870 escreveu na imprensa dos centros
geração, também composta pelos autores dos periódicos Gazeta Nacional e O Paiz.
Império, a associação entre intelectuais e políticos deve ser estabelecida, pois esses
15
16 de dezembro de 1884, p.1
16
idem, ibidem.
17
Tânia Regina de Luca ressalta que a geração de 1870 “bateu-se por essas reformas e teve a grata
satisfação de vê-las realizadas. É certo que o júbilo foi logo interrompido pelo rumo dos
acontecimentos. Alguns protagonistas, consternados, deram-se conta de que aquelas transformações
não implicavam necessariamente na redenção imaginada.” A Revista do Brasil: um diagnóstico para a
(N)ação. São Paulo: UNESP, 1999, p.21.
18
“Considerando a indissociabilidade entre a esfera intelectual e a esfera política, um novo quadro se
desenha. Ao invés de obras teóricas, visando a formulação de sistemas filosóficos, os livros
publicados pela geração de 1870 podem ser interpretados como intervenção no debate político”.
ALONSO, Ângela in Idéias em movimento...p. 166.
Ressalto que utilizo o termo político em seu sentido restrito, ou seja, identifico-
brasileiro, não implica que considere apropriada a separação das duas esferas para
outros contextos de análise. Concordo com Pierre Bordieu quando afirma que, de
19
idem, ibidem, p.30.
20
No caso da imprensa, a relação entre intelectuais e políticos era explícita: “ela [a imprensa] não
constituía poder independente do governo e da organização partidária (...) A imprensa era, na
verdade, um fórum alternativo para a tribuna, importante principalmente para o partido na oposição
muitas vezes sem representação na casa.” CARVALHO, José Murilo. “A elite política nacional:
definições” in A construção da ordem. A elite política imperial. Rio de Janeiro: UFRJ, Relume-Dumará,
1996, p.46.
21
A noção de política e, portanto, de homens políticos no sentido amplo implica em pensar nos
envolvidos nas relações de poder, independente se estas têm ou não o Estado como referência. Por
esta ótica, todos os membros de um grupo são seres políticos, pois são fatores de poder. Para
aprofundar a discussão, verificar PARANHOS, Adalberto. “Política e cotidiano: as mil e uma faces do
poder” in MARCELLINO, Nelson (org.). Introdução às Ciências Sociais. Campinas: Papirus, 1988.
escreveram nos jornais O Paiz e a Gazeta Nacional, pode ser entendida tanto por
quanto por uma que ressalte o aspecto político. Definir quem são os intelectuais pelo
primeiro campo, é referir-se aos que produzem, aprimoram ou fazem circular idéias,
valores, cultura na sociedade. Esta é a situação por excelência dos jornalistas, dos
todo aquele que tem engajamento direto ou indireto no jogo pelo poder
22
“[...] Antes, é preciso situar o corpus assim constituído no interior do campo ideológico de que faz
parte, bem como estabelecer as relações entre a posição destes corpus no sistema de relação e
concorrência e de conflitos entre os grupos situados em posições diferentes no interior de um campo
intelectual que, por sua vez, também ocupa uma dada posição no campo do poder” in “Campo do
poder, campo intelectual e habitus de classe” in A economia das trocas simbólicas. São Paulo:
Perspectiva, 2004.
23
REIS FILHO, Daniel Aarão,“Intelectuais e política na fronteira entre reforma e revolução” in REIS
FILHO, Daniel Aarão (org.) Intelectuais, história e política. Séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: 7Letras,
2000.
24
De acordo com Antonio Gramsci, é a partir da prática dos indivíduos na sociedade que deve ser
construída. A função intelectual é essencialmente criadora, diretiva e educativa. Os intelectuais e a
organização da cultura. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1988, p. 17
que o estudioso trabalhe com a permanente tensão entre as posições políticas dos
Explicação da diferença
intelectuais e as posições intelectuais dos políticos25. entre os intelectuais
está na página acima.
eram reinterpretadas tendo por base um caráter prático, uma estratégia de ação
política26.
o para quem se fala. Na própria Europa, a distinção entre campo político e intelectual
tensão e de adaptação27.
25
“(...) A agravante da separação em campos [político e intelectual] é que o critério requer das obras
uma consistência teórica e supõe dos autores uma dedicação prioritária à atividade intelectual que
simplesmente não visavam (...)“ in ALONSO, Angela op. cit, p. 31
26
Tânia Regina Luca também enfatiza essa característica da geração de 1870: “Munida desse
instrumental, a elite pensante nacional releu o país segundo os novos parâmetros e acabou tomada
por um sentimento de urgência que compelia a ação”. A Revista do Brasil. Um diagnóstico para a
(N)ação...
27
idem, ibidem, p.170.
em um periódico ser abolicionista, defensor da república e não ter uma posição firme
intelectual destes agentes era balizada por suas ações políticas e deveriam legitimá-
dos interesses políticos de seus autores, que poderiam estar mais ou menos
terem seus interesses representados pelo Estado que, segundo a autora, os grupos
grupo, constituído por homens que tinham aproximação com a família imperial ou
que pertenciam à ala mais reformista do Partido Liberal. Além das mudanças na
28
Idéias em movimento... p. 165-222.
29
Sobre o significado de democracia rural para a geração, verificar CARVALHO, Maria Alice. O
quinto século. André Rebouças e a construção do Brasil. Rio de Janeiro: IUPERJ/Revan, 1998;
PESSANHA, Andréa Santos. Da abolição da escravatura à abolição da miséria. A vida e as idéias de
André Rebouças. Rio de Janeiro: Quartet, 2005.
Partido Republicano de 1870. A Corte também foi o espaço da ação política destes
homens. Para além dos descontentes com a queda do Gabinete Zacarias, passou a
Marinho foi o principal expoente do grupo. Sob sua proteção ingressaram na vida
30
Cidade do Rio, 20 de junho de 1888, p.1
31
BOCAIÚVA, Quintino. Idéias políticas de Quintino Bocaiúva. Cronologia, introdução, notas
bibliográficas e textos selecionados por Eduardo Silva. Brasília: Senado Federal, Rio de Janeiro:
FCRB, 1986, volume 1, p.53
reivindicações do grupo. De seu início até meados da década de oitenta, teve uma
1885, a oposição do grupo ao Império foi intensificada, que coincide justamente com
eleitoral:
de São Paulo. Para este grupo, o lema positivista de ordem e progresso só chegaria
ser expulso do Centro Positivista por Miguel Lemos tendo como pano de fundo o fato
32
11 de junho de 1880, p.1
ditador republicano teria um cargo vitalício e escolheria seu sucessor. Através dele,
uma república social seria implantada34. Entre seus expoentes, encontramos Miguel
vai nos provar que ela tende inteira para o regime republicano35.
com Silva Jardim e pelo segundo com Benjamim Constant. Silva Jardim apoiou em
1886 a candidatura do republicano Quintino Bocaiúva, fato que o fez sair da Igreja
33
Alonso, Angela , op. cit, p. 210-211
34
CARVALHO, José Murilo. A formação das almas. O imaginário da república No Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990, p. 41
35
SILVA, Antonio Jardim. Propaganda Republicana (1888-1889). Rio de Janeiro: Fundação casa de
Rui Barbosa,1978, p.94
36
FERNANDES, Maria Fernanda Lombardi. A esperança e o desencanto: Silva Jardim e a república.
Tese de Doutorado, São Paulo, Universidade de São Paulo, 2004, p.110
37
CARVALHO, José Murilo. A formação das almas... p. 42
38
ADORNO, Sérgio. Os aprendizes do poder: o bacharelismo liberal na política brasileira. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1988.
Angela Alonso. Os periódicos, foco deste estudo, foram redigidos por homens
classificação é interessante para este trabalho, pois não implicou que os escritores
geração de 1870.
geração, até em razão da proximidade física na Corte, local onde em geral atuaram
39
Citado em FREITAS, Clovis Glycerio. Jornada republicana: Francisco Glycerio. São Paulo: Plexus
Editora, 2000, p. 76-77.
40
Um estudo sobre a predileção da geração de 1870 pelas polêmicas, encontramos em
FERNANDES, Maria Fernanda. op. cit.
redação do jornal.
político. Como já foi dito, os referenciais teóricos europeus eram utilizados para
todo o Império e uma visão mais cosmopolita, foram nomes indicativos dos dilemas,
jornal tratava de temas que abrangiam interesses do “país”, eram temas que
O título dados às folhas tinham um apelo para o pensar a nação e não era somente
representados numa folha que trazia seu nome. Prudente de Moraes ficou
preocupado com a leitura que Francisco Glicério, jornalista desta folha, e com a
interpretação que seus conterrâneos políticos fariam de seus discurso na Corte. Era
discutir, ao existir a partir dos interesses das elites regionais, um projeto para o país,
da seguida pelo periódico. Era neste fato que residia a neutralidade da coluna. A
rigor, se aquele campo era neutro, os demais não precisavam ser. A presença de
republicanos e novos liberais não teriam mais uma pauta comum de luta. Assim, em
Paulo e do Rio Grande do Sul. A estratégia dos periódicos era enfraquecer a ordem
deputado-geral, o importante era ser bem aceito pelos políticos paulistas, incluindo
conservadora.
mais alinhados, que outros integrantes da geração de 1870. Foi na Corte que
embora seus projetos republicanos tenham saído derrotados, eles transigiram com
os grupos que ocupavam o poder. Na República, Bocaiúva foi por duas vezes
senador, em 1889 e 1909, e presidente do Rio de Janeiro entre 1900-1903. Lobo foi
Proclamação da República42.
41
NEVES, Margarida de Souza. “Os cenários da República. O Brasil na virada do século XIX para o
século XX” in FERREIRA, Jorge, DELGADO, Lucília (orgs) O tempo do liberalismo excludente: da
Proclamação da República à Revolução de 1940. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 34-
35.
42
Diário Popular, 18 de novembro de 1889.
que para a causa republicana44. Em 1889, foi eleito presidente nacional do Partido
Novembro. Aquela não era a república de seus sonhos e, certamente, também não
43
Quintino Bocaiúva tinha a estima de Dom Oba II, que era reconhecido como príncipe pela
população escrava e liberta do Rio de Janeiro. Segundo Eduardo Silva : “Apesar de militarem em
campos políticos opostos, o Príncipe referia-se a Bocaiúva como ‘meu amigo Quintino Bocaiúva’. Ele
levava em conta especial o fato que o republicano era conhecido como o ‘Príncipe das Letras’, por
sua produção poética e dramática de juventude” in Dom Oba II, D’África, o Príncipe do Povo. Vida,
tempo e pensamento de um homem livre de cor. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p.138.
44
MORAES, Evaristo. A campanha abolicionista (1879-1888). Brasília: Editora da Universidade de
Brasília, 1986, p.10-13.
45
BOCAIÚVA, Quintino. Idéias políticas de Quintino Bocaiúva. Cronologia, introdução, notas
bibliográficas e textos selecionados por Eduardo Silva. Brasília: Senado Federal, Rio de Janeiro:
FCRB, 1986, volume 1, p.93.
46
Análises sobre os projetos republicanos em disputa nos primeiros anos da República no Brasil,
encontramos em LESSA, Renato. A invenção republicana. Campos Sales, as bases e a decadência
articula trajetória de vida, opções teóricas e ações políticas. Elite intelectual e elite
ocorreu em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Em síntese, se os dois campos não
que passavam pelo Parlamento, conforme fez Joaquim Serra ao sair em defesa dos
da Primeira República. Rio de Janeiro: IUPERJ, São Paulo: Vértice, 1988; CARVALHO, José Murilo.
A formação das almas...
oitenta, precisavam tomar posições - e quando não tomavam eram cobrados por
que tinha o subtítulo, Órgão Republicano e suas ligações com a causa abolicionista
eram reforçadas a cada número. Já O Paiz nasceu negando sua aproximação com
1887, reforçou sua ligação com signatários do Manifesto Republicano, pois coincidiu
início, a Gazeta Nacional informou que sua missão era defender as liberdades
do periódico.
circular. O valor avulso de cada exemplar era 40 réis, o mesmo preço do jornal O
Paiz. Com quatro páginas, era de circulação diária, não saindo somente na
segunda-feira. A primeira sede foi na rua do Ourives, número 21, mudando em abril
para a rua da Ajuda, número 23. As razões da mudança de endereço não foram
explicitadas na folha, mas a partir de então, o jornal começou a pedir o apoio dos
47
“A causa republicana”, 03 de dezembro de 1887, p.1
insistiam na dificuldade de venda para além da Corte e de Niterói. Mesmo que não
houvesse grande circulação, a folha era conhecida e lida por expoentes da geração
de 1870. José do Patrocínio, com quem travou polêmicas, lastimou o fato dos
não tivesse uma grande tiragem era conhecida entre as elites intelectuais e seus
de maior circulação.
48
Cidade do Rio, “Respondo...”, 14 de setembro de 1888.
49
Da monarquia para a república..., p. 18.
50
“Os republicanos e o ministério”, 08 de abril de 1888, p.2.
51
“A nossa atitude”, 22 de maio de 1888, p.1.
redação da folha e foi para São Paulo atuar no Diário Popular. A linha editorial do
periódico não mudou, passando a figurar em seus créditos somente a direção de J.J.
republicana, porém não era a fala oficial do Partido. Ao longo dos números, fazia
mesmo tendo por subtítulo Órgão Republicano, as idéias que difundia não
52
MORAES, Evaristo. op. cit, p.19.
(...)
Não temos autoridade para responder.
A Gazeta Nacional é republicana, e pelo esforço de
republicanos tem se mantido, mas não é órgão do Partido
Republicano e nem pode falar em seu nome.
(...) A Gazeta Nacional não se excusa de emitir parecer, como
é lícito a qualquer cidadão, e como cumpre a todo aquele que tem a
53
honra de escrever para o público .
abolição da escravidão e ao apoio que concedia, por exemplo, à fuga dos escravos
em São Paulo. O Partido Republicano, desta forma, não deveria ser associado
Neste ponto, reside um outro divisor de águas entre as duas redações nas
poderia afirmar que a república era uma questão política e a abolição uma questão
social. As duas lutas não deveriam ser confundidas. Dezessete anos depois, com
momento, como estratégia para atrair garantir espaços políticos era importante a
53
“Nossa opinião” in Gazeta Nacional, 16 de março de 1888, p.1
ausência é significativa, pois a omissão também fala. Acredito que a postura dúbia,
ainda poderiam vir para as fileiras da república. Assim, a ausência desta discussão
elogiada pela folha antes e depois da Lei Áurea. Como veremos, foi um recurso para
artigos, não por promover uma discussão sobre o destino do ex-escravo – conforme
54
“Velha calúnia” in Gazeta Nacional, 29 de março de 1888, p. 2
fizeram novos liberais como Joaquim Nabuco e André Rebouças – mas pelo fato da
a Miguel Lemos: Não abraçamos por exemplo a fórmula definida por A. Comte e
na sociedade. Atitude que ficava bem na teoria, porém não representava para a
folha o momento atual do país, que exigia uma mobilização popular para se alcançar
a abolição política.
55
“Abolição e república”, 01 de abril de 1888, p.1
56
“Continuamos a ser abolicionista”, 05 de junho de 1888, p.1
57
“Comentários”, 05 de maio de 1888, p.1
dos Reis Júnior. Possuía quatro páginas, nas duas primeiras estavam as colunas
voltadas para anúncios. Quintino Bocaiúva foi seu redator até 1899.
que debatia as questões políticas e sociais, por isso algumas críticas eram dirigidas
58
Um estudo sobre o jornal O Paiz, encontramos em BARBOSA, Marialva. Os donos do Rio.
Imprensa, poder e público. Rio de Janeiro: Vício de Leitura, 2000.
59
“Resenha Diária”, 04 de outubro de 1884, p.1.
considerando que os ilustres colegas de Brazil também fizeram parte desse grupo. O
discurso pela imparcialidade tinha uma ligação direta com o público que se pretendia
60
“Velhas histórias”, 11 de outubro de 1884, p.1.
61
“As estatísticas eleitorais”, 11 de janeiro de 1885, p.1.
diferentes partidos e nos momentos de luta pela abolição, por exemplo, as alianças
com os novos liberais, como Joaquim Nabuco, poderia mais facilmente ser
A busca de convencer ao leitor que O Paiz era isento foi um indício do público
62
Para o período, Marialva Barbosa afirma que “O Paiz não possui expressividade em termos de
circulação, pulverizando uma pequena preferência entre os grupos dominantes. No final da década, o
panorama sofre alteração” in Donos do Rio..., p. 217.
63
“Velhas histórias”, 11 de outubro de 1884, p.1.
pela folha:
Era com satisfação, que no primeiro dia do ano de 1885, a eleição de Campos
outro periódico que os elogios à república e aos republicanos eram feitos. O tom
64
“Tópicos do Dia”, 03 de dezembro de 1884, p.1
política brasileira:
65
“O Dr. Campos Sales”, 01 de janeiro de 1885, p.1.
66
“O Dr. Prudente de Moraes”, 10 de janeiro de 1885, p.1.
demais nações da América, onde o país foi considerado atrasado por não possuir o
imparcialidade de O Paiz não constará sequer no discurso da folha e sua atuação foi
desabonar a monarquia70.
maio de 1888, quando seu responsável afirmou não ter mais sentido manter aquele
campo de luta:
67
“Por que não temos um código civil”, 12 de dezembro de 1884, p.1
68
O Guia do Imigrante foi recriminado pelo jornal por exaltar qualidades da família de Bragança e
pouco mostrando da realidade brasileira pouco favorável à vinda do imigrante. “Guia do Imigrante”, 08
de outubro de 1884, p1.
69
“A Federação”, 17 de janeiro de 1885, p1.
70
MORAES, Evaristo. Da monarquia para a repúlica..., p. 47-57; SODRÉ, Nelson Werneck. História
da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Maud, 1999, p. 237.
não é essa a leitura que faço. Os textos do jornalista abordavam, por excelência,
tenha evitado esta posição, pois para os leitores de O Paiz, que incluíam
que, desde o início, a coluna “Tópicos do Dia” deu o tom da campanha abolicionista
de O Paiz.
também por esta província. A aproximação com Machado de Assis levou-o para a
Nova, adotando vários pseudônimos Amigo Ausente, Ignotus, Max Sedlitz, Pietro de
71
“Tópicos do Dia”, 14 de maio de 1888, p.1.
72
Da monarquia para a república. .., p.18.
republicano.
apesar da primeira não apresentar uma postura firme em relação à indenização, pois
esta não poderia ser o carro-chefe de uma folha que tinham por subtítulo Órgão
do cativeiro.
e abolição da escravatura.
1
“Idéias e homens” in Gazeta Nacional, 29 de abril de 1888, p.1.
O texto acima foi publicado em abril de 1888 na Gazeta Nacional e pode ser
que o artigo faria o simples relato dos fatos. Esta estratégia fica evidenciada com a
2
“O monumento tem como características o ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou
involuntária, das sociedades históricas (é um legado à memória coletiva) e o reenviar a testemunhos
que só numa parcela mínima são testemunhos escritos” in LE GOFF, Jacques. História e memória.
Campinas: Editora da UNICAMP, 2003, p. 526.
3
De acordo com Marialva Barbosa, “Eternizar um dado momento, através da escrita é, sob certo
aspecto, ‘domesticar e selecionar a memória’. Ao selecionar o que deve ser lembrado e ao esquecer
o que deve ficar em zonas de sombra e de silêncio, os jornais torna-se-iam tamém senhores.” in Os
donos do Rio. Imprensa, poder e público. Rio de Janeiro: Vícios de Leitura, 2000, p. 117-118.
proprietários para controle dos escravos desde o Brasil-Colônia. Ele foi uma forma
controle social que objetivavam a formação de vínculos entre os dois pólos. Tais
forma de manter seu patrimônio5, para os cativos tinha o sentido de abrandar a vida
4
“Tivemos, ainda, oportunidade de observar que a prática do castigo senhorial continha uma
dimensão pedagógica que unia amor e medo, mercê e rigor, e se fazia no interior de uma relação
pessoal de dominação que, através de suas mediações, possibilitava um afastamento senhorial do
exercício direto dos ‘excessos’ e dos ‘abusos’.(...)” in LARA, Silvia Hunold. Campos da violência.
Escravos e senhores na capitania do Rio de Janeiro. 1750-1808. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
5
Maria de Fátima Novaes Pires, ao estudar os crimes cometidos por escravos no Alto Sertão da
Bahia, constata que vários delitos dos cativos foram escondidos pelos senhores, que, muitas vezes,
acabavam por comprometerem-se com a própria Justiça: “Em circunstâncias adversas, muitos
senhores estrategicamente ‘protegiam’ seus escravos das ‘barras da lei’, no sentido de preservação
do seu patrimônio. No caso específico do sertão baiano, contava-se à essa época com a crise
econômica provocada pelo declínio da mineração e também com as estiagens, que de tempos em
tempos abalavam a economia regional”. In O crime na cor: escravos e forros no Alto Sertão da Bahia
(1830-1888). São Paulo: Annablume/FAPESP, 2003, p.276.
mediante a constituição de um cativeiro que não tivesse como mira o alcance das
manumissões8.
6
Entre os trabalhos que tratam do quotidiano e dos espaços de negociação dos escravos no Brasil,
citamos: REIS, João José, SILVA, Eduardo. Negociação e conflito. A resistência negra no Brasil
escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989; CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma
história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990;
MACHADO, Humberto Fernandes. Escravos, senhores e café. A crise da cafeicultura escravista do
Vale do Paraíba Fluminense. Niterói: Cromos, 1993; FLORENTINO, Manolo, GOÉS, José Roberto. A
paz nas senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico. Rio de Janeiro, 1790-1850. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1997; MATTOS, Hebe Maria. Das cores do silêncio. Os significados da
liberdade no sudeste escravista. Brasil, século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998; SLENES,
Robert. Na senzala uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava – Brasil,
século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999; SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos da cor.
Identidade étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro. Século XVIII. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2000; QUINTÃO, Antonia Aparecida. Lá vem meu parente. As irmandades de
pretos e pardos no Rio de Janeiro e em Pernambuco.(século XVIII). São Paulo: Annablume/FAPESP,
2002.
7
REIS, João José, SILVA, Eduardo. Negociação e conflito...; MACHADO, Humberto Fernandes.
“Resistência e violência” in Escravos, senhores e café...
estratégia a ser utilizada. O fim do cativeiro deveria ser resultado da ação de uma
elite e não ter os escravos como agentes. Neste sentido, devemos lembrar da
de duas classes que, de outra forma, não teriam os seus direitos, nem consciência
abolição da escravatura no Brasil deveria ser uma concessão dos grupos dirigentes
trabalho compulsório para o livre que entendia a abolição como uma concessão,
precisando, assim, da tutela dos grupos com organização política para representá-
los e conquistar os seus direitos. Por essa ótica, podem ser lidas, por exemplo, as
alforrias.
8
MATTOS, Hebe Maria. Das cores do silêncio... p. 292.
9
Sobre o discurso paternalista da imprensa abolicionista da cidade do Rio de Janeiro, ver
MACHADO, Humberto Fernandes. Palavras e brados. A imprensa abolicionista da cidade do Rio de
Janeiro.1880-1888. Tese de Doutorado, São Paulo: Universidade de São Paulo, 1991.
10
O abolicionismo. Vozes, 1977, p. 199.
11
Maria Helena Machado, em estudo sobre a quebra da rotina do trabalho pelo escravo, através da
redução do ritmo, das fugas e das revoltas, em fazendas de São Paulo, constatou a existência de
uma dinâmica própria dos cativos em busca da liberdade, independente dos segmentos urbanos. O
plano e o pânico: os movimentos sociais na década da abolição. Rio de Janeiro: Ed. UFRF, São
Paulo: EDUSP, 1994. Assim, é importante frisar que o presente trabalho sustenta a leitura do
movimento abolicionista pela lógica paternalista por conta de seu objeto de estudo, o discurso
veiculado nos jornais O Paiz e na Gazeta Nacional, representantes da intelectualidade da Corte.
gradual adotada pelo Estado, amenizando, assim, a pressão dos escravos pela
12
CHALHOUB, Sidney. op. cit.
13
Humberto Fernandes Machado conclui que “a postura paternalista, contida nos jornais de José do
Patrocínio, visava criar mecanismos que assegurassem uma transição segura, sem ‘desordens’,
permitindo, inclusive, que esta elite intelectual, na qual Patrocínio estava inserido, assumisse uma
posição mais destacada na esfera do poder na medida em que se julgava como responsável pela
eliminação do cativeiro” in Palavras e brados..., p.221.
14
05 de maio de 1884, p.1.
senhorial.
antiescravistas, este espírito cordial não deveria ser quebrado por conta do processo
meios de controle não estavam mais sendo eficazes para a manutenção da ordem,
15
Lilia Moritz Schwarcz constatou o mesmo quadro ao analisar periódicos da cidade São Paulo: “O
clima que os artigos criavam era sempre o mais paternalista possível, ou seja, grandes discursos
revelavam a boa alma do senhor e eram sempre recebidos com a resposta amiga e comovida dos
escravos” in Retrato em branco e negro. Jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final do
século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p.200.
16
Abolicionismo: Brasil e Estados Unidos, uma história comparada (século XIX). São Paulo:
Annablume, 2003, p.93
sim a liberdade, porém não faziam oposição ao trabalho, pois já estavam habituados
à vida laboriosa:
aqueles que não utilizavam a política de benevolência para com seus escravos.
fugiriam. Nestes anos finais da escravidão, o paternalismo tinha como ponto final a
concessão da alforria.
caráter ordeiro das fugas, sem agredir, sem depredar era enfatizado. Na introdução
17
“Uma grande conversão”, 06 de janeiro de 1888.
18
“ A nova fase”, 08 de fevereiro de 1888.
as fugas poderiam ser evitadas, pois os cativos não tendiam à revolta. Na folha, o
19
“O escravagismo em Campos”, 04 de dezembro de 1887.
20
“Municípios paulistas”, 23 de dezembro de 1887
paz que realçou. O escravo fugitivo, em essência, quebra a ordem social escravista,
representa perigo. Contudo, talvez por considerar a liberdade como legítima, Lobo
retirada coletiva de escravos somente ocorriam pela simples razão do ser humano
várias formas para fugir de sua situação, de conseguir a alforria. Assim, essas
21
idem, ibidem.
22
“Escravos acoutados”, 15 de junho de 1885, p.1.
veiculados na folha não tiveram uma posição tão contundente de respaldo a essas
província de São Paulo. Os escravos saíam das fazendas em grupo “sem exercer
crescimento das ações dos escravos pela liberdade. Foi neste contexto de fuga que
em massa de fazendas de São Paulo, porém ele era reconstruído pelo jornalista,
que, desta forma, tornava-se responsável pela “criação de uma outra realidade”25
para a ação escrava, pois era através de sua pena que o episódio era apresentado.
Entretanto, enfatizavam sempre o caráter ordeiro das fugas, sem causar convulsões,
força pública de Itaúna, também São Paulo, que suspenderam três empregados da
Estrada de Ferro Itaúna, pois estes não permitiram que soldados retirassem de um
23
“Menos publicidade”, 18 de outubro de 1884, p.1.
24
“Idéias e homens”, 29 de abril de 1888, p.1.
25
BARBOSA, Marialva. op. cit., p.116.
trem vinte e dois escravos. O jornal buscava sustentar a legalidade da ação dos
judiciária26.
da violência deveria ceder cada vez mais lugar ao paternalismo sob pena dos
26
Gazeta Nacional, 14 de dezembro de 1887, p.1.
27
O liberalismo dos grupos abolicionistas do Rio de Janeiro estabeleceu uma relação diferenciada
entre o direito natural e o direito de propriedade do liberalismo da geração que fez a independência e
da que consolidou o Estado Imperial. Neste sentido, verificar BOSI, Alfredo, “A escravidão entre dois
liberalismo” in A dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992; MACHADO,
Humberto Fernandes ”O poder da palavra” in op. cit; PESSANHA, Andréa Santos. “André Rebouças e
o liberalismo” in Da abolição da escravatura à abolição da miséria. A vida e as idéias de André
Rebouças. Rio de Janeiro: Quartet/UNIABEU, 2005.
28
“Escravos acoutados”, 15 de junho de 1885, p1.
diretamente com seus escravos. Os nomes eram estampados nos jornais e sempre
benevolência quanto pela lógica da produção. Aplausos eram pedidos, por exemplo,
proposta de Prudente de Moraes era vista como uma das soluções para o fim do
29
“Muito bem”,13 de abril de 1888, p.1.
30
“A libertação do Amazonas” in O Paiz, 13 de julho de 1885, p.1.
cativeiro sem conturbar ou causar danos maiores aos proprietários, que precisavam
O fim do cativeiro deveria ser pelo caminho com o qual autores e leitores tinham
familiaridade.
escravo como um bom exemplo nas ocasiões de fuga somente podem ser
queria convencer ao leitor que os libertos ou as ações dos escravos não ameaçavam
libertação32.
Muito embora os discursos dos jornais tenham toda uma preocupação com a
31
AZEVEDO, Célia Maria Marinho. Onda negra, medo branco. O negro no imaginário das elites. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
32
“É necessário considerar ainda que a narrativa do acontecimento não é apenas uma simples
descrição das mudanças percebidas. O jornalista confere uma significação àquilo que fala, mesmo
quando não há um propósito deliberado para isso.” In BARBOSA, Marialva. op. cit., p. 146.
explícito apoio a fuga dos escravos. Em O Paiz, Quintino Bocaiúva, considerado pela
prestadas pelo povo à princesa Isabel e destacou o fato do sr. João Clapp oferecer à
Isabel “um ramalhete de camélias colhidas por escravos fugitivos da chácara do Sr.
abolicionista.
do sogro de José do Patrocínio35. Existia, desta forma, toda uma rede de proteção e
solidariedade para os escravos evadidos, que era conhecida, quando não apoiada,
Joaquim Nabuco expressou em O Paiz sua admiração pelo Sr. Seixas por sua
Nabuco mostrava satisfação em ter no mesmo banquete Antonio Bento, Sr. Seixas e
33
Sobre o quilombo abolicionista do Leblon, ver SILVA, Eduardo. As camélias do Leblon e a abolição
da escravatura. Uma investigação de história cultural. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
34
“Crônica Parlamentar” in 04 de maio de 1888, p.1.
35
MACHADO, Humberto Fernandes. Palavras e brados..., p.117.
Ângelo Agostini, que estava de partida para a Europa. O Quilombo do Leblon rompia
tratava.
De qualquer forma, essa ação mais direta, de apoio a fugas de escravos, não
36
“Angelo Agostini”, 30 de agosto de 1888, p.1.
37
“Na verdade, a hoje aparentemente insuspeita camélia, fosse natural ou artificial, era um dos
símbolos mais poderosos do movimento abolicionista. Era o símbolo da ala radical, o grupo que
partiu, na década de 1880, para a ação direta contra o regime, a promoção de fugas e a criação de
quilombos. A camélia servia, inclusive, como uma espécie de senha por meio da qual os
abolicionistas podiam ser identificados, particularmente quando empenhados em ações mais
perigosas, ou ilegais, como o apoio a fugas e a obtenção de esconderijos para fugitivos.” In SILVA,
Eduardo. As camélias do Leblon..., p. 43.
condição sine qua non para o advento das reformas econômicas e sociais, que
abolicionistas?
Para os primeiros, a Lei Áurea foi alcançada graças a ação de heróis originados das
38
Uma apresentação das versões produzidas pelos contemporâneos e pela historiografia para a
Proclamação da República, encontramos em ver COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república.
Momentos decisivos. São Paulo: Brasiliense, 1987.
como Redentora ligou-se a uma “interpretação que atribuiu aos negros um papel
uma consciência que lhes conduzisse a uma ação autônoma e que contribuísse de
39
“13 de Maio e Anti-Racismo” in Anti-racismo e seus paradoxos. Reflexões sobre cota racial, raça e
racismo. São Paulo: Annablume, 2004, p. 92.
40
Entre os trabalhos citamos: AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco...;
CARDOSO, Ciro Flamarion Santana. Escravidão e abolição: novas perspectivas. Rio de Janeiro:
Zahar, 1988; CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade...; MACHADO, Maria Helena. O plano e o
pânico...; MATTOS, Hebe Maria. Das cores do silêncio...
41
Entre estas produções, citamos: CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no
Brasil Meridional. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977; IANNI, Octávio. Escravidão e racismo. São
Paulo: Brasiliense, 1978; FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes.
São Paulo: Ática, 1978.
42
Isabel, a Redentora dos Escravos. Uma história da Princesa entre olhares negros e brancos (1846-
1988). Bauru, SP: EDUCS, 2004, p. 21.
uma maneira eficaz para a desestruturação do escravismo, uma vez que estariam
governo, ela foi confiscada pela anarquia, assim, avaliava O Paiz em fevereiro de
abolição não era relevante.47 De uma certa forma, a posição do periódico, em negar
uma estratégia para não reforçar o papel da Princesa Isabel na assinatura da Lei
Áurea. Para a folha, pensar no fim do cativeiro era pensar na glória do espírito
movimento abolicionista.
43
Idem, ibidem, pp. 21-22.
44
“Tópicos do Dia” in O Paiz, 18 de fevereiro de 1888, p1.
45
“A abolição e o povo”, 25 de maio de 1888, p.1.
46
“Abolição”, 10 de maio de 1888, p1.
47
“Abolição”, 14 de maio de 1888, p.1.
da Princesa Isabel48, não somente através da ação dos abolicionistas das cidades,
mas enfatizando também que a alforria foi alcançada pela luta dos cativos:
“No dia em que o escravo não quiser mais trabalhar, não trabalha”50. Neste sentido,
48
De acordo com Eduardo Silva, Rui Barbosa tinha uma visão semelhante sobre o abolicionismo da
princesa Isabel: “(...) Para ele a questão era política, tendo a princesa apenas cedido a uma situação
de fato criada pelo movimento abolicionista. Juntos, abolicionistas e escravos – principalmente os
escravos – forçaram a ‘evolução’ da princesa na direção da abolição imediata e incondicional. Para
Rui Barbosa, a atitude firme dos escravos, as fugas em massa e a formação dos quilombos
abolicionistas jogam papel verdadeiramente fundamental para a mudança de atitude da princesa” in
As camélias do Leblon e a abolição da escravatura..., p.30.
49
“A abolição e o povo”, 25 de maio de 1888, p.1.
50
“Uma grande conversão”, 06 de janeiro de 1888.
deveriam ser atribuídos aos atuais libertos, pois foram eles que confiscaram a
abolição.
Este discurso sobre a ação dos cativos diverge da interpretação feita por
Célia Maria Marinho de Azevedo e Roberto Daibert Júnior sobre a construção que os
jornalistas abolicionistas fizeram da Lei Áurea. Nos textos divulgados pela Gazeta
Nacional, a ação dos escravos para o fim do cativeiro recebeu destaque. Posição
fácil de compreender pelo papel central que os artigos da folha deram à resistência
popular. Foi o povo quem fez a abolição e foi para as ruas comemorar.
jornalista republicano sobre a ação escrava para o 13 de Maio. A república foi feita
enquanto a abolição foi, por excelência, popular. Para ele, o fim do cativeiro não foi
uma concessão de Princesa Isabel, e sim uma resposta da Regente e dos políticos à
51
A já citada obra de Robert Daibert Júnior estuda a construção da imagem da Princesa Isabel como
Redentora dos escravos e as discussões entre republicanos e monarquistas em torno desta
representação; a trajetória da princesa Isabel foi analisada por Roderick Barman na intenção de
compreender a reciprocidade entre gênero e raça no século XIX. Princesa Isabel do Brasil. São
Paulo: UNESP, 2005.
concedeu a abolição, o objetivo do jornal Gazeta Nacional era negar esta imagem,
colocando o escravo como pólo ativo, capaz de obter sua alforria, que agora era
republicanos do Rio de Janeiro, tanto que abriram polêmica com José do Patrocínio
por conta de suas ligações com a Princesa Isabel após a assinatura da Lei Áurea52.
52
Humberto Fernandes Machado analisa as respostas de José do Patrocínio à visão de haver se
“vendido” ao Estado Imperial, de suas ligações com a princesa Isabel. O autor aborda que os conflitos
de José do Patrocínio com republicanos do Rio de Janeiro antecederam à Lei Áurea e com o 13 de
Maio intensificaram-se. Palavras e brados ... p. 69-78.
53
05 de junho de 1888, p.1.
pelo abolicionismo:
segundo o periódico, representava a própria nação. Por essa ótica, o negro seguia
as orientações das lideranças abolicionistas. Isso não significa que para a Gazeta
abolicionistas, mas sim que procuravam reforçar a ação do escravo para atingir
54
Sobre os discursos republicanos a respeito da associação república e abolição, ver costa, Emília
Viotti. “Sobre as origens da república” in Da monarquia à república...; SALLES, Ricardo. “Uma
questão de forma e oportunidade” in Nolstagia Imperial. A formação da identidade nacional no Brasil
do Segundo Reinado. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.
55
“Conversões republicanas entre os lavradores”, 27 de abril de 1888, p.2
Os dois textos acima datam de abril de 1888 e foram referentes à vaga para
56
Quintino Bocaiúva. Circular aos eleitores do primeiro distrito da Corte, Rio de Janeiro, 12 de abril
de 1888.
57
“Abolicionistas no seu posto” in Cidade do Rio, 23 de abril de 1888.
Jardim. Através destes debates, foi possível compreender as razões das cisões
58
Os desentendimentos entre Quintino Bocaiúva e José do Patrocínio, de acordo com Humberto
Fernandes Machado, datam da Assembléia Geral do Partido Republicano de 1881. Ao ver de
Patrocínio, a postura de Bocaiúva representava um “sussurro do cafezal”, pois na ocasião não se
colocou explicitamente a favor da abolição imediata. op. cit., p.74.
As polêmicas entre periódicos foram comuns neste final do século XIX. Elas
geração de 187060. Ao serem travadas, por estes jornalistas, estava em jogo a luta
brasileira.
e propostas políticas de uma dada folha pela exibição das diferenças com o
periódicos definiam seu campo político, lembrando que intelectuais e políticos não
O embate era estabelecido entre autores que tinham os olhos voltados para o
leitor. Eles ficavam preocupados como as querelas seriam recebidas pelo público 61.
com o outro jornal. Assim, eram utilizadas expressões do tipo “sabe o leitor”, “caberá
ao leitor decidir”, “como todos nós sabemos”. A Gazeta Nacional, em polêmica com
59
“Da emancipação ao abolicionismo”, 03 de outubro de 1884, p.1.
60
FERNANDES, Maria Fernanda Lombardi. A esperança e o desencanto. Silva Jardim e a república.
São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004, p.5.
61
BARBOSA, Marialva. Os donos do Rio... p. 168.
público:
Provavelmente, por contar que o fim da escravidão no Brasil viria através dos
62
“Tréplica”, 02 de maio de 1888, p.1.
63
BOCAIÚVA, Quintino. Idéias políticas de Quintino Bocaiúva. Cronologia, introdução, notas
bibliográficas e textos selecionados por Eduardo Silva. Brasília: Senado Federal, Rio de Janeiro:
FCRB, 1986, volume 1, p. 69.
Seu objetivo era reforçar o vínculo entre abolição e republicanos. Mas, ao mesmo
argumento era que somente a escravidão fazia com que os proprietários apoiassem
melhor para o país, ou seja, o regime republicano. Pois, o mal representado pela
natureza do Partido. 65
64
“Conversões republicanas entre os lavradores” in Gazeta Nacional, 27 de abril de 1888, p.2.
65
idem, ibidem.
ação da Princesa Isabel não foi um sacrifício do trono. A regente só teria reagido a
república, neste contexto, era uma questão de tempo, pois a monarquia foi forçada a
comprometer com a causa abolicionista, o mesmo pode ser dito sobre agremiações
66
idem, ibidem.
67
Neste momento, discursos favoráveis à abolição eram feitos pelos três partidos, que, naquela
fase, já tinham uma posição oficial pelo fim do cativeiro, o Liberal desde 1884, o Republicano a partir
de 1887 e o Conservador em 1888. SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador. D. Pedro II,
um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.437.
68
“Abolicionistas no seu posto” in Cidade do Rio, 23 de abril de 1888.
José do Patrocínio, dizendo que foi a pressão das ruas, dos antiescravistas que
69
“O Manifesto da Confederação Abolicionista” in Gazeta Nacional,14 de abril de 1888, p. 1
José do Patrocínio também travou polêmica com Silva Jardim no que tange à
Maio. Silva Jardim fazia discursos em São Paulo aprovando a nova realidade do
princesa:
70
“Abolicionistas no seu posto” in Cidade do Rio, 23 de abril de 1888.
71
“Respondo...” in Cidade do Rio, 14 de setembro de 1888.
verdade essas respostas foram tratadas ao longo) era uma espécie de lacuna que
Gazeta Nacional também adotava esta tática, conforme podemos constatar em duas
posição no momento da leitura, visava fazer com que o público se colocasse a favor
do autor no debate travado. Era uma forma do jornalista mostrar ter conhecimento
e seus leitores.
72
Idem, ibidem
após a Lei Áurea, o quadro mudava. Patrocínio afirmava no Cidade do Rio que
Bocaiúva tinha decadência intelectual e falhas na vida, não podendo travar luta
jornalística, pois seu abolicionismo era de última hora.73 Assim Bocaiúva foi tratado:
O termo nós, utilizado por Patrocínio, já era indicativo da distinção entre o que
com o qual rompera. A própria princesa Isabel tinha estima pelo jornalista e
Parlamento: ‘Nosso amigo Nabuco, além dos snres. Rebouças, Patrocínio e Dantas,
73
“À ponta da pena” in Cidade do Rio, 04 de janeiro de 1889.
74
“À ponta da pena” in Cidade do Rio, 05 de janeiro de 1889.
para a posse da nova Legislatura”.75 Ou seja, Patrocínio foi elencado pela princesa
Lei Áurea. A Gazeta Nacional lastimava a divisão do partido: “Pela desunião e a falta
Quintino Bocaiúva, por sua vez, afirmava inexistir razão para não aceitar as
adesões de fazendeiros após o fim do cativeiro. “Um mal entendido escrúpulo” não
75
“O lado rebelde da princesa Isabel” in Revista Nossa História, nº 31, ano 3, maio de 2006, p. 69.
76
MACHADO, Humberto Fernandes. Palavras e brados... p.78.
77
“Os republicanos fluminenses” in Gazeta Nacional, 23 de maio de 1888.
a república era a causa primeira. Eram abolicionistas sim, porém transigiam com os
interesses dos escravistas que deram fôlego para a vitória da república. Contudo,
por mais que os discursos, os artigos destes republicanos não adotassem uma
78
“Como se fez a república” citado in BOCAIÚVA, Quintino. Idéias políticas de Quintino Bocaiúva,
p.70.
79
GONÇALVES, João Felipe. Rui Barbosa. Pondo as idéias no lugar. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 2000, p. 73-74.
80
LE GOFF, Jacques. “Documento/Monumento” in História e memória..., p.526.
81
Segundo Ângela Gomes de Castro, “(...)estudar uma cultura política, ou melhor, trabalhar com a
sua formação e divulgação – quando, quem, através de que instrumentos – é entender como uma
certa interpretação do passado (e do futuro) é produzida e consolidada, integrando-se ao imaginário
ou a memória coletiva de grupos sociais, inclusive os nacionais.” História, historiografia e cultura
política no Brasil: algumas reflexões in SOIHET, Rachel, BICALHO, Maria Fernanda Baptista,
GOUVÊA, Maria de Fátima Silva. Culturas políticas, ensaios de história cultural, história política e
ensino de história. Rio de Janeiro: Mauad, 2005. p.33.
4 – CIDADANIA E ABOLIÇÃO
fundamento a defesa dos princípios liberais e a defesa dos direitos políticos e civis.
A partir dos artigos veiculados nestes periódicos, é possível uma análise do sentido
O caso Castro Malta publicado pelo O Paiz foi ilustrativo do peso que a lógica
liberal do respeito aos direitos civis teve para os homens que escreveram e leram os
jornais do Rio de Janeiro da década de oitenta. Através dele, verifico que a liberdade
acima, podemos constatar que o homem em questão foi qualificado como uma
Mas para o autor, Quintino Bocaiúva, sua qualidade maior era ser um cidadão, um
homem livre, e esta condição “tanto bastava” para que seus direitos fossem
tema tinha um forte apelo popular, pois tratava-se do sumiço de um homem comum,
1
“Acaba-se o mistério” in O Paiz, 28 de novembro de 1884, p.1.
Chefe de Polícia da Corte, Tito Augusto Pereira de Mattos, prontamente aceito pelo
Com o título “Mas o que é isto?”, O Paiz iniciou uma série de artigos sobre o
2
26 de novembro de 1884, p.1
Francisco Xavier, criando um cenário de mistério sobre o que, de fato, ocorreu com
Castro Malta.
Ressalto que a cor branca de Castro Malta não foi enfatizada no decorrer do
episódio, sequer foi informada em seus primeiros números. Para aqueles que
acompanhavam o caso desde seu início, não era possível identificar a cor do
Este dado faz com que acredite que para argumentação central de Quintino
filho obscuro do trabalho”, sua cor, naquele momento não era relevante. Vale frisar
que desde meados do século XIX, com toda a pressão dos escravos pela conquista
da alforria, ser livre cada vez menos era sinônimo de ser branco3. Para o leitor, “o
O nome de João Alves de Castro Malta figurava entre as prisões feitas por
3
CASTRO, Hebe. Das cores do silêncio. Os significados da liberdade no Sudeste escravista. Brasil,
século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, p.99.
anos presumíveis. Foi qualificado como artista encanador, sem trabalho efetivo e
Malta e Castro Mattos eram a mesma pessoa? Como havia morrido três dias depois
de preso, se segundo seus parentes e amigos, ele gozava de plena saúde? Como o
eram feitas ao Império por não cumprir, segundo Bocaiúva, sua função essencial de
4
Para uma discussão sobre cor e identidades sociais, verificar LIMA, Ivana Stolze. Cores, marcas e
falas: sentidos da mestiçagem no Brasil Império. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003.
5
idem ibidem
corpo era ou não o de Castro Malta, para constatar a real causa da morte e sendo
reforçava que Malta não era desordeiro e vagabundo, conforme informações que
pública, eram sinais que estava simplesmente sentado, quando foi abordado pelos
urbanos. Sua prisão era mais um ato de arbitrariedade praticado pela polícia do Rio
de Janeiro.
com o título “O caso misterioso”. Neste número, ele não foi tratado como morto, e
concedidos pela polícia era uma prova do descompromisso das autoridades com o
Ignorava-se seu estado civil, sua nacionalidade, sua naturalidade, sua residência e o
princípio causador da congestão hepática. O ponto alto do artigo era o desprezo que
Casa de Detenção, onde havia uma enfermaria e quatro médicos e sequer teve
assistência. O jornal foi categórico ao afirmar que o não tratamento médico ao detido
resultou em homicídio.
pois o Chefe de Polícia, Tito Mattos, decidiu pela exumação do cadáver para
em dois dias, O Paiz, que na época divulgava uma tiragem de onze mil exemplares,
conseguiu reabrir um caso que teria sido como outros falecimentos da Corte, se os
familiares não contassem com o apoio do jornal: uma prisão por desordem, onde o
Justiça, Francisco Maria Sodré Pereira. Segundo Quintino Bocaiúva, cartas dos
Justiça explicando o acontecido no Caso Castro Malta. Fica explícito que foram as
6
27 de novembro de 1884, p1.
não havia embasamento para a suspeita de O Paiz de que Castro Malta tinha
Quando parecia que tudo ia se acalmar, que a folha estava satisfeita com o
Paiz. O corpo não foi reconhecido pelos parentes e amigos que estavam presentes
negativa dos que conheciam Malta, abriram também a 142 e a 144. O médico perito
dr. Pedro Autran da Matta Albuquerque foi o único que reconheceu o cadáver de
inclusive no público, que acompanhando o caso pelo jornal, só foi para assistir a
7
“Epígrafe”, 28 de novembro de 1884, p.1
exumação. Mesmo com a discordância, o cadáver foi retirado para autópsia. Para
agravar ainda mais a situação, o resultado apontou como causa da morte pleurezia
óbito.
representado pelo médico perito dr. Henrique Monat, membro da Academia Imperial
solução do caso.
destaque o caso Castro Malta. Tinha uma matéria constante intitulada Castro Malta.
Documentos para a história. A folha colocava em xeque toda a ação da Polícia e dos
representou e o perito da polícia, o dr. Monat foi preso na Corte e “maltratado” pelo
Polícia disse que apenas poderia pedir desculpas ao médico. Assim, criou-se outro
pleurezia suporada, Malta não poderia três dias antes circular normalmente pelas
ruas do Rio de Janeiro. A razão da morte era incompatível com o quadro de saúde
do dr. Autran.
Polícia, Ministro da Justiça e o próprio D. Pedro II. O Estado não cumpria sua
função:
Com toda essa repercussão, o Chefe de Polícia decidiu por outra autópsia, no
8
28 de novembro de 1884, p.1
9
“Hoje mais do que nunca”, 21 de dezembro de 1884, p.1
direção de O Paiz, constatou-se que o cadáver era mesmo de Castro Malta e que a
congestão hepática feito sem exame pelo doutor Autran para o registro do óbito.
pontos que deveriam ser questionadores da ação das autoridades. Para a redação
fizeram parte do episódio que não deixaram de existir por conta do reconhecimento
Para a linha interpretativa deste trabalho, o caso Castro Malta não pode ser
entendido como mera criação do redator principal de O Paiz para atrair leitores. Ele
apresentação teve para o público. Este era formado pelo Chefe de Polícia da Corte,
comum feita por aqueles que deveriam protegê-la sensibilizou o redator e o público
função do Estado em garanti-la para todos os cidadãos foram caros para os autores
10
“Ainda Castro Malta”, 01 de fevereiro de 1885, p.1
analisava projetos que foram aventados para o fim do cativeiro. Um deles gerou a
mas com prestação de serviço por três meses e residência obrigatória do liberto por
Gazeta Nacional era que a abolição não poderia aceitar restrições de nenhum tipo à
liberdade. O liberto era um cidadão devendo estar submetido aos mesmos direitos e
postura contra ou a favor ao fim do cativeiro, mas como proceder para seu desfecho.
trabalho e outros ainda marcados pelos passado como escravo, tendo sua
autonomia cerceada. Resulta daí, a afirmação acima que foi publicada isoladamente
11
“O Projeto”, 06 de abril de 1888, p.2.
cidadãos.
foram expressões de como as idéias liberais e as teorias raciais foram por eles
interpretadas.
escravo e não tinha passado pela Revolução Industrial13. Um ponto desta discussão
novos sentidos aos conceitos, a partir da realidade imediata. As idéias não eram
12
MOTA, Maria Aparecida Rezende. Sílvio Romero. Dilemas e combates no Brasil na virada do
século XX. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000, p.29.
13
SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas. São Paulo: Duas Cidades, 1977; NOGUEIRA,
Marco Aurélio. “As desventuras do liberalismo: Joaquim Nabuco e a república. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1984. Emília Viotti da Costa ressalta as diferenças sócio-econômicas entre a Europa e o Brasil
de então: (...) o liberalismo, no Brasil, não se apoiou nas mesmas bases, nem teve os mesmos
objetivos. Os princípios liberais importados não se forjaram na luta da burguesia contra a aristocracia
e a realeza, nem evoluíram, como na Europa do século XIX, em função da revolução industrial, pois
esta só correria no Brasil no século XX.” In Da monarquia à república. Momentos decisivos. São
Paulo: Brasiliense, 5ª edição, p.121.
14
SCWARCZ, Roberto“As idéias fora do lugar”, in Estudos CEBRAP (3), janeiro de 1973; FRANCO,
Maria Sylvia de Carvalho.“As idéias estão no lugar”, in Cadernos de Debate, São Paulo, Brasiliense
(1), 1976; Neste sentido, Marco Aurélio Nogueira afirma que “(...) Não encontrando, todavia, bases
internas condizentes com sua racionalidade formal, o liberalismo tinha de ser assimilado com certas
“adaptações” capazes de evitar os riscos do artificialismo: era obrigado a um ajuste para conviver
com a escravidão, o latifúndio, a hipertrofia estatal, os mecanismos de cooptação e a ideologia do
favor. Com isso, aparecia entre nós como uma ‘idéia fora do lugar’ e despojado de caráter heróico e
revolucionário que tivera em sua origem” in As desventuras do liberalismo...., p. 65
copiadas e nem meramente distorcidas, eram reelaboradas por essas elites, que se
O termo adquiriu diferentes conotações dependendo por quem e para que era
riquezas com seus talentos e virtudes. Esta ótica fazia oposição a sociedade
divina17.
15
“Não se trata de entender a adoção das teses raciais como mero reflexo, uma cópia desautorizada,
mas antes indagar sobre seus novos significados contextuais, bem como verificar sua relação com a
situação social, política, econômica e intelectual vivenciada pelo país” in SCHWARCZ, Lilia. O
espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil. 1870-1930. São Paulo:
Companhia das Letras, 1993, p.242.
16
BOBBIO, Norberto. Igualdade e liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000, p. 41.
17
Sobre a trajetória do pensamento liberal, ver MANENT, Pierre. História intelectual do liberalismo.
Rio de Janeiro: Imago, 1990.
imprensa19. O cidadão só poderia ter sua liberdade cerceada nas situações em que
burlasse às leis, que cometesse crime. Como vimos, de acordo com O Paiz, no caso
Castro Malta, acreditava-se que esses direitos teriam sido violados pelo próprio
poder público.
grande propriedade rural, que resistia à ação da lei, um poder público comprometido
cidadãos21.
18
De acordo com Antonio Carlos Peixoto, “(...) O ponto básico do qual o liberalismo parte é então
exatamente este: a tensão entre a ação individual e o ordenamento exterior ao indivíduo que
condiciona as ações desse mesmo indivíduo. Mas, o que define, antes de tudo, o liberalismo, a partir
desta tensão é, então, a primazia da ação humana” Liberais ou conservadores” in GUIMARÃES,
Lucia Maria Paschoal (org.) O liberalismo no Brasil Imperial. Origens, conceitos e práticas. Rio de
Janeiro: Revan/UERJ, 2001, p.13
19
Utilizo o conceito de cidadania a partir da já clássica leitura de T.H. Marshall envolvendo os direitos
políticos, civis e sociais na obra Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
20
CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2001, p.45.
21
idem, ibidem, p.53.
contraditórios, aos olhos dos atores, a defesa das idéias liberais e a permanência do
cativeiro25.
22
Na Europa, na primeira metade do XIX, o liberalismo também vivia os impasses de indivíduos de
status legalmente iguais e os interesses dos homens que controlavam o Estado e a propriedade.
Verificar HOBSBAWM, Eric. A Era do capital. 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p.117-
126.
23
“A escravidão entre dois liberalismos” in BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992, p.199-200.
24
Na dimensão pública, “(...) o conceito de Liberdade cruza-se com o de Responsabilidade,
imprimindo novas significações à desigualdade e reafirmando certas clivagens. De uma lado a
distinção entre cidadãos ativos e não ativos ganhava o conteúdo de naturalização da distinção entre
sociedade política e sociedade civil, fazendo da primeira o espaço natural onde os cidadãos
legitimam o monopólio da Responsabilidade e da última o espaço naturalizado ocupado pelos meros
súditos.” In MATTOS, Ilmar, O Tempo Saquarema. A formação do Estado Imperial. São Paulo:
HUCITEC, 1990, p.149.
25
CARVALHO, José Murilo. Teatro de Sombras. A política imperial. Rio de Janeiro: UFRJ, Relume-
Dumará, 1996, p.188.
articulação que ele fez entre o direito de propriedade e o direito civil, intensamente
se definir quem deveria ser eleitor ou participar da guarda nacional, por exemplo. Era
contra a imputação de restrições aos libertos, que por meio de seus talentos e
escravidão era vista, por ele, como legítima, era uma forma de propriedade. Porém,
exclusão tinha de ser calcada nos mesmos critérios dos demais cidadãos, ou seja,
civil. O Estado deveria ser o garantidor da liberdade para todos sem distinção:
26
“Para ele, era possível a existência de uma sociedade liberal escravista que não fosse racista: ela
não seria racista a partir do momento em que, livre da escravidão, qualquer cidadão teria igualdade
de oportunidades sociais, políticas e econômicas” in O fiador dos brasileiros. Cidadania, escravidão e
direito civil no tempo de Antonio Pereira Rebouças. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p.
185. Sobre o tema, ver também MATTOS, Hebe Maria. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
todos nós corre o dever de impedir que uma escravidão seja substituída por outra,
sob qualquer pretexto ou forma que seja” 29. A Lei do Ventre Livre foi utilizada como
considerado como crime, pois, para O Paiz, se a lei de 1871 reconhecia o direito ao
27
“Insistimos e insistiremos”, 05 de dezembro de 1884, p.1
28
BOSI, Alfredo. op. cit, p.225.
29
“Sursum Corda” in Gazeta Nacional, 11 de maio de 1888, p2.
30
“Escravos acoutados” in O Paiz, 15 de junho de 1885, p.1.
que também implicava na liberdade da pátria: Deve ser o nosso empenho defender
individual, presente na defesa da extensão dos direitos civis, também foi um alicerce
liberdade individual como direito inalienável era usado com pouca ênfase”32 em favor
fim do cativeiro no Brasil era a razão nacional, enquanto nos Estados Unidos e na
31
Idem, ibidem.
32
CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil....., p. 51. “A razão nacional, isto é, o obstáculo
instransponível que a escravidão colocava no caminho da construção da nação brasileira, do corpo
de cidadãos, tornara-se particularmente forte para parte da elite política, a Coroa à frente, durante a
guerra contra o Paraguai. (...) Tais razões foram, sem dúvida, de grande peso para a decisão do
governo de iniciar o processo abolicionista” in “A escravidão e a razão nacional in Pontos e bordados.
Escritos de história e política. Belo Horizonte: UFMG, 1998, p. 57.
desde o início de sua circulação, O Paiz, por exemplo, apresentava uma narrativa
elaborada nestes jornais, defendo que a razão individual, tanto quanto a razão
Janeiro.
preço de um homem”. O objetivo era fazer uma crítica ao projeto de Lei dos
Sexagenários que estabelecia o preço médio dos cativos. A idéia central era que um
homem não tem preço. Estabelecer valores para o ser humano era negar sua
própria humanidade:
33
Cidadania no Brasil..., p.52
34
“O Paiz” in O Paiz, 22 de julho de 1885, p.1.
folhas não os apresentavam como crime. Entendiam como a luta natural por um
o exercício de um direito que nenhuma lei, nesse mundo, ousaria negar”35. Assim,
abolicionistas36.
poderes não permitia o atendimento às diferenças provinciais, não abria espaço para
as iniciativas individuais:
35
“Escravos acoutados” in O Paiz, 15 de junho de 1885, p.1.
36
Ricardo Salles também enfatiza a necessidade de se pensar o abolicionismo para além da razão
nacional: “o abolicionismo de Nabuco, Rebouças e Patrocínio e outros não se prendeu a uma razão
nacional, mas a uma posição radical moralmente contrária à escravidão e firmemente favorável à
conquista de uma cidadania plena por parte dos antigos escravos e seus descendentes.” In Joaquim
Nabuco...., p. 120.
37
“Monarquia federativa”, 12 de maio de 1888, p.2
indenização - atraindo a simpatia para sua causa dos descontentes com os rumos
políticos.
implicou, em meu ver, em uma postura dúbia no que diz respeito aos direitos civis e
abolicionistas. Para Jardim, “a república tudo valia”. Assim, mesmo sendo favorável
excludentes, por várias vezes, calou-se ou optou por uma posição dúbia para
nesta fase final do cativeiro, concentrou sua atuação política em São Paulo, a
Se o tema dos direitos civis foi caro para esses liberais republicanos, o dos
direitos políticos não foi diferente. Uma plataforma de luta foi a ampliação dos
Executivo das províncias, presidente, era nomeado pelo governo central -, podendo
participar todos os homens maiores de 25 anos com renda anual mínima de 100 mil-
réis. O voto era obrigatório para todos que atendessem a essas exigências. No
senadores. A renda exigida não era elevada e permitia que a maioria da população
participasse das eleições primárias, sendo, mais inclusiva, que a legislação eleitoral
Império. A eleição para o Parlamento tornou-se direta, o voto agora era facultativo,
não havia restrição para o liberto, o critério censitário permaneceu, sendo a renda
mínima 200 mil-réis e proibia-se o voto do analfabeto. Essa mudança foi muito
38
Esperança e desencanto. Silva Jardim e a república. Tese de Doutorado, Universidade de São
Paulo, 2004 p. 65-66
39
CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil..., p. 25-37.
reforma, Lopes Trovão fez uma avaliação negativa, pois restringiria o número de
40
Idem, ibidem, p. 38-45. De acordo com Eric Hobsbawm, “o reaparecimento da pressão popular na
década de 1860 fez com que fosse impossível manter a política do tipo isolada. Pelo final do período,
somente a Rússia tzarista e a Turquia Imperial mantinham-se como simples autocracias na Europa,
enquanto, por outro lado, o sufrágio universal não era mais prerrogativa dos regimes surgidos de
revoluções” in A Era do Capital... p.121
41
“Reforma eleitoral” in O Combate, 11 de junho de 1880, p.1.
eleitor com o objetivo de angariar mais votos para os partidários de seu chefe
42
“O grupo parlamentar abolicionista”, 13 de julho de 1885, p.1
43
“Eleição no Primeiro Distrito”, 04 de abril de 1888, p. 1.
44
Cidadania no Brasil..., p. 34.
45
“A conquista da instrução” in O Paiz, 03 de julho de 1885, p.1
46
“A municipalidade da Corte” in Gazeta Nacional, 20 de março de 1888.
fosse através da cobrança ao Partido Liberal, como fez Lopes Trovão, em 1880, ou
eleições no Brasil:
47
“A eleição”, in Gazeta Nacional, 06 de janeiro de 1888, p.1
48
“O que se vê e o que não se vê” in O Paiz, 10 de janeiro de 1885, p.1
na virtude dos cidadãos e no amor à pátria49. Essa república era pensada de acordo
indireta quando esses homens diziam que a partir das competências e talentos de
direitos civis e políticos. Vale frisar que do ponto de vista do pensamento liberal, a
49
Para uma discussão sobre o significado da república no movimento republicano, especialmente no
pensamento de Silva Jardim, verificar FERNANDES, Maria Fernanda Lombardi. Esperança e
desencanto...
50
“(...) O liberalismo e a democracia pareciam mais adversários que aliados; o tríplice slogan da
Revolução Francesa – liberdade, igualdade e fraternidade – expressava melhor uma contradição que
uma combinação”. In HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. 1789-1848. Rio de Janeiro: paz e
Terra, 1991, p.262.
51
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. São Paulo: Brasiliense, 1990.
Afirmo que a garantia dos direitos civis e dos direitos políticos foram os limites
do século XIX. O que era uma nação? Quais eram os critérios de pertencimento e de
final do oitocentos. Existia uma atenção especial para o como controlar seus atos,
foram as imagens veiculadas nos periódicos, foco deste estudo, sobre aqueles que
dos povos da Ásia e da África pelos europeus era uma etapa da evolução das
sociedades.
1
Sobre a engenharia no período, verificar HARDMAN, Francisco Foot. Trem fantasma. A
modernidade na selva. São Paulo: Companhia das Letras, 1988; LAMARÃO, Sérgio Tadeu de
Niemeyer. Dos trapiches ao porto. Um estudo sobre a área portuário do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Biblioteca Carioca, Secretaria Municipal de Cultura, 1991; BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira
Passos: um Haussmann tropical. A renovação urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do século
XX. Rio de Janeiro: Biblioteca Carioca, Secretaria Municipal de Cultura, 1992; COELHO, Edmundo
Campos, As profissões imperiais. Medicina, Engenharia e Advocacia no Rio de Janeiro, 1822-1930.
Rio de Janeiro: Record, 1999.
conquista feita pelos povos, vistos como os mais capazes, tinha uma dimensão de
nova consciência planetária, pois tratava-se de uma atitude generosa dos civilizados
colonialista.
século XIX tinha a certeza de que os homens não integravam a mesma espécie4. Os
tinham por base a existência de espécies diferenciadas, não apenas física, como
De acordo com a linha evolutiva, o tipo humano que estivesse bem próximo
2
LÈVI-STRAUSS, Claude. Raça e história. Lisboa: Estampa, 4ª edição,1989.
3
“Temos aqui o ponto central em torno do qual se organizaram as expedições universais, verdadeiros
rituais de massa em que os grandes impérios se afirmavam segundo sistemas classificatórios tanto
para os produtos de exibição como para os povos e nações participantes. Assim, povos e culturas
expostos obedecendo a uma organização temporal eram classificados em selvagens, bárbaros e
civilizados; em uma palavra, o planeta foi dividido entre uma raça superior glorificada por uma missão
civilizatória auto-atribuída e raças inferiores.” In HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula.
Visita à História Contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005, p.131-132.
4
A idéia de raças humanas ainda permeia o pensamento e ações sociais no século XIX. Embora
tenha sido superada no campo da Biologia, em várias situações, ela se faz presente no senso
comum, em movimentos sociais e em trabalhos sociológicos. Podemos encontrá-la em discursos
neonazistas ou de organizações que, pretendendo combater o racismo, acabam reforçando, de forma
subjacente, a idéia de raça. Para um aprofundamento da discussão, ver GUIMARÃES, Antonio
Sergio. Classes, raças e democracia. São Paulo: FAPESP/Editora 34, 2002; MAIO, Marco, SANTOS,
asiáticos dependia dos critérios de quem julgava as semelhanças com os tipos que
de Artur Viana de Lima, publicada na Gazeta Nacional, foi exemplar para demonstrar
como se reportava aos estudos científicos para pensar os diferentes grupos e como,
Ricardo (orgs.). Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/Centro Cultural do Banco do
Brasil. REVER.
5
De acordo com Eric Hobsbawm, “O argumento é frágil, mas era um apelo natural para aqueles que
queriam provar a inferioridade racial, por exemplo, dos negros em relação aos brancos – ou melhor,
de qualquer um em relação a brancos. (A forma de macaco poderia ser discernida pelo olho do
preconceito até nos chineses e japoneses, como testemunham muitos desenhos da época).” In A era
do capital. 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p.275.
6
24 de janeiro de 1888, p.3.
branco como o mais intelectualmente desenvolvido, o negro, por exemplo, era visto
pelos positivistas como a raça afetiva. Neste contexto, a figura do mestiço era
como Paul Broca, chegavam a afirmar que, como era resultado de espécies
que residiu no Rio de Janeiro, previu que o povo brasileiro seria extinto em
7
A África na sala de aula... p. 134.
8
DAMATTA, Roberto. Relativizando. Uma introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco,
1987, p. 74-75.
9
Um balanço sobre as diferentes teorias raciais produzidas no século XIX, encontramos em
SCHWACZ, Lilia Moritz. “ Um história de ‘diferenças’ e ‘desigualdades’. As doutrinas raciais do século
XIX” in O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil. 1870- 1930. São
Paulo: Companhia das Letras.
crescimento.
essas diferenças poderiam ser superadas ou não. Para os que defendiam a origem
que era único. Portanto, apesar da civilização européia ser vista como a mais
liberais poderiam preconizar o etnocentrismo científico? Por que tais correntes foram
decidir sobre o destino do país, pois seu discernimento, sua capacidade de tomar
10
A Era do Capital..., p.277.
11
“(...) O argumento era tão lisonjeiro quanto conveniente – tão conveniente que as classes médias
estavam inclinadas a tomá-los dos aristocratas (que haviam por longo tempo se considerado uma
raça superior) por razões internas e também internacionais: os pobres eram pobres porque
biologicamente inferiores e, por outro lado, se cidadãos pertenciam às ‘raças inferiores’, não era de se
espantar que eles permanecessem pobres e atrasados.” In A era do capital..., p. 276.
africanos, encontrou no racismo científico uma fonte em que muito precisava beber.
sociedades poderiam ser consideradas como nação13. A idéia geral era que da
humanas também tinham estágios evolutivos que iam das tribos às nações.
expressa em conflitos entre povos para verem reconhecidos sua identidade coletiva
com pequeno número de integrantes, por exemplo, não poderiam constituir uma
12
Idem, ibidem, p. 277.
13
HOBSBAWM, Eric. “A nação como novidade: da revolução ao liberalismo” in Nações e
nacionalismo desde 1870. Programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
complexas14.
massas, a definição dos indivíduos de que pertenciam ou não à nação passava a ser
trajetória dos povos como língua, religião, cultura, rituais, instituições e na invenção
14
“(...) Contudo, a heterogeneidade nacional dos Estados-nações foi aceita sobretudo porque parecia
claro que as nacionalidades pequenas, e especialmente as pequenas e atrasadas, só tinham a
ganhar fundindo-se em nações maiores e fazendo, através destas, sua contribuição para a
humanidade.” In Nações e nacionalismo..., p.46.
15
De acordo com Eric Hobsbawm: “A ampliação do progresso da democracia eleitoral e a
conseqüente aparição da política de massas, portanto, dominaram a invenção das tradições oficiais
no período de 1870-1914. O que tornava isso particularmente urgente era a predominância tanto do
modelo das instituições constitucionais liberais quanto da ideologia liberal. (...) Após a década de
1870, portanto, quase que certamente junto com o surgimento da política de massas, os governantes
e observadores da classe média redescobriram a importância dos elementos ‘irracionais’ na
manutenção da estrutura e da ordem social.” In HOBSBAWM, Eric, RANGER, Terence (orgs). A
invenção das tradições. São Paulo: Paz e Terra, 1997, p.275-276.
de tempo.
caminho do progresso, se era marcado por uma população negra e mestiça? Como
comprometido.
16
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças...; GOMES, Heloísa Toller. “O discurso político”
in As marcas da escravidão.O negro e o discurso oitocentista no Brasil e nos Estados Unidos. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ/EDUERJ, 1994; SILVA, Eduardo. “Os assuntos brasileiros” in Dom Oba II,
D’África, o Príncipe do Povo. Vida, tempo e pensamento de um homem livre de cor. São Paulo:
Companhia das Letras1997.
17
Entre as elites intelectuais que discutiam a formação do povo brasileiro, o embranquecimento era
uma alternativa proposta para a constituição da nação. “O ingresso efetivo de negros e mestiços no
mundo formal da cidadania, (...) juntamente com a nova feição do espaço mundial real e narrativo da
“era das nações”, iria resultar numa nova narrativa da nação brasileira. Esta se caracterizará, desde
então, por tensão entre a cultura branca brasileira e sua origem marcada pela presença do sangue
negro e índio. Na mestiçagem e no desaparecimento simbólico dos negros e dos mestiços
encontrava-se a chave para solução desta tensão”. in SALLES, Ricardo. Joaquim Nabuco. Um
pensador do Império. Rio de Janeiro: Topbooks, 2002., p. 114-115
18
De acordo com Célia Maria Marinho de Azevedo, para Joaquim Nabuco “o abolicionismo brasileiro
caracterizava-se como um movimento essencialmente político cujos objetivos era reconstruir a nação
sobre uma base de trabalho livre e integração racial” in Abolicionismo: Estados Unidos e Brasil. Uma
história comparada (século XIX). São Paulo: Annablume, 2003, p.94.
tratar da identidade coletiva, da relação dos cidadãos entre si, com a natureza e da
forma subjacente esta temática. Os termos país e nacional eram significativos das
19
MOTA, Maria Aparecida Rezende. Sílvio Romero. Dilemas e combates no Brasil da virada do
século XX. Rio de Janeiro: FGV, 2000, p. 79.
20
“(...) se não há contraste entre o que está sendo comparado, então não há identidade, pois o
conteúdo da identidade é o diferente, o qual é revelado na relação constrativa.(...). Não há identidade
entre os idênticos, como se sabe, porque não diferem não havendo o que contrastar. Parece
permanecer, portanto, a questão: o que é identidade? Certamente, o conteúdo da identidade é a
diferença: se há diversidade, então há identidade”. FAULHABER, Priscila. “Identidade étnica em
discussão” in D’INCAO, Maria Ângela & SILVEIRA, Isolda Maciel da (orgs.) A Amazônia e a crise da
modernização. Belém, M. P.E.G., 1994, p. 322.
Assim, muito embora, seja equivocado entender o pensamento expresso nas duas
folhas como representante dos grupos republicanos do Rio Janeiro como um todo,
republicanos da Corte.
negro era estratégica para se conseguir maior apoio para a causa emancipacionista.
21
AZEVEDO, Célia Maria Marinho. Onda negra, medo branco. O negro no imaginário das elites. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1987; MACHADO, Humberto Fernandes. Escravos, senhores e café. A crise
da cafeicultura do Vale do Paraíba Fluminense. Niterói: Cromos, 1993; MACHADO, Maria Helena. O
plano e o pânico: os movimentos sociais na década da abolição. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, São
Paulo: EDUSP, 1994; MATTOS, Hebe Maria. Os significados da liberdade no Sudeste escravista.
Brasil, séc. XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
tinham dois marcos. O primeiro era balizado pela busca de simpatizantes para o
pela ótica das teorias raciais científicas. De acordo com esta visão, se o fim do
ficar atento a seus comportamento para corrigir os vícios que, a qualquer momento,
poderia apresentar.
Desta forma, não considero como discrepâncias internas dos artigos estas
variações de imagens. Entendo como dilema próprio dos grupos que, no final dos
É possível que esta situação tenha sido mais delicada para os vários
final do século XIX, as tensões entre o “negro bom” e o “negro degenerado” também
parte das elites das quais pertenciam22. Certamente, o dilema que viveram foi ainda
maior, pois era a própria trajetória pessoal ou familiar que tinham de equacionar para
sobre o negro no final do século XIX, a produção de Lilia Moritz Schwarcz tem
especial interesse para esta parte do trabalho. A autora analisou como a imprensa
22
MACHADO, Humberto Fernandes. Palavras e brados: a imprensa abolicionista do Rio de Janeiro.
1880-1889. Tese de Doutorado, São Paulo, Universidade de São Paulo, mimeo, 1991;GOMES,
Heloísa Tolles. As marcas da escravidão. O negro no discurso oitocentista no Brasil e nos Estados
Unidos. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ/EDUERJ, 1994; AZEVEDO, Elciene. Orfeu de carapinha. A
trajetória de Luiz Gama na imperial cidade de São Paulo. Campinas: Editora da UNICAMP, 1999;
PESSANHA, Andréa Santos. Da abolição da escravatura à abolição da miséria. A vida e as idéias de
André Rebouças. Rio de Janeiro: Quartet, 2005.
condutas no trato da abolição e formar uma opinião pública sobre o escravidão e seu
nome não era identificado nas matérias, era desconhecido, pervertido e diferente do
familiar.
De uma maneira geral, ele passou de algoz da fase anterior para vítima no atual
repetidos e comuns nas folhas, mesmo nos jornal de Antônio Bento. Estas
23
Retrato em branco e negro: jornais e cidadãos em São Paulo no final do século XIX. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987.
24
Idem, ibidem, p.164
negros25.
O último recorte temporal de Schwarcz vai da abolição até 1900. Nesta fase,
quem deveria ser cidadão e quais “os limites que a raça negra poderia trazer para
essa jovem nação”26. Os temas eram o preto ébrio, alucinado, desleal e com práticas
biológica27.
narrativas a respeito dos negros nos jornais de São Paulo, por ela, analisados.
Contudo, conforme a autora destaca, essas imagens não podem ser entendidas de
qualidades encontradas pela autora para a segunda e a terceira fases, por exemplo,
25
Palavras e brados...
26
Retrato em branco e negro..., p. 221.
27
Idem, ibidem, p. 245.
28
“Idéias e homens” in Gazeta Nacional, 29 de abril de 1888, p.1.
evolução abolicionista”.
pena”. De acordo com o periódico, se, diferentemente de outros países, o Brasil não
precisou das armas para acabar com o trabalho escravo, isso se devia à conduta
do processo de abolição:
29
“Abolição”, 09 de maio de 1888, p.1.
30
AZEVEDO, Célia Maria Marinho. “Imagens do Escravo” in Abolicionismo: Brasil e Estados Unidos...
acordo com o movimento, a maioria tinha entrado após a Lei de 1831 ou era
mais, no próprio termo escravizado está implícita a idéia da violência, pois o cativeiro
não era visto como uma situação natural, mas sim resultado de arbitrariedade
ou inferioridade, o que valia era sua condição humana. A injustiça com o uso da
do cativeiro.
Célia Maria Marinho de Azevedo31, não foi a característica marcante dos artigos
mesmo tratado de forma abrupta, não agia na mesma proporção, foi o tom mais
marcante dos discursos. O senhor que era representado como o que praticava
31
“Os abolicionistas brasileiros dificilmente definiriam os senhores como o inimigo do escravo, tal
como fez o Reverendo Bourne, e tantos outros abolicionistas americanos depois dele. Ao contrário,
eles tendiam a enfatizar a idéia inversa de que o escravo era o inimigo do senhor. Se eles quisessem
ser entendidos pelos proprietários escravistas e seus filhos, era preciso traçar um desenho que
fizesse sentido no cotidiano do senhor de escravos do campo e da cidade.
A imagem do escravo como um inimigo doméstico, ao invés de um irmão, não deve ser vista, porém,
como um mero expediente tático, empregado por abolicionistas para persuadir senhores e senhoras
doméstico, para o abolicionismo brasileiro. Acredito que este dualismo não ocorreu
com a mesma densidade nos diversos grupos favoráveis à abolição, por exemplo
pelo fim do cativeiro no Brasil. Acredito também que ao trabalhar com modelos
pensamento.
sustentado pelo regime monárquico. Se o cativeiro foi mantido por tanto tempo, não
representante dos liberais republicanos, por exemplo. Contudo, isto é uma outra
empreitada.
sobre o erro da escravidão. A visão do escravo como um inimigo doméstico imbricava-se nas próprias
origens do anti-escravismo no Brasil (...)Abolicionismo: Brasil e Estados Unidos... p. 108-109.
Neles, os cativos apareciam como vítima da ação dos proprietários. Assim, ocorreu
com o caso do escravo Raimundo, que foi comprado do Norte e morreu por conta
das violências ordenadas por seus proprietários em São Paulo. Assim, começava a
tranquilidade possível. Até que um dia apareceu morta uma besta de estimação da
de Raimundo: “De tão forte e robusto que era foi aos poucos definhando; o seu
continuavam”34.
32
MACHADO, Humberto Fernandes. Palavras e brados... p.154
33
“Cenas da escravidão”, 29 de abril de 1888.
34
Idem, ibidem.
liberdade para o infeliz e ele deixou este mundo sem saudades, pois pedia sempre a
Gazeta Nacional, pelo tom, aquela não deveria ser uma situação aceitável: E sabe o
188838. É o escravo aquele que procura construir família e era a vítima da ação do
como o inimigo do escravo. A situação do senhor era agravada por ser um padre
vivendo no concubinato.
35
Ibidem.
36
Ibidem.
37
Ibidem.
38
Lilia Moritz Schwarcz analisou as representações de negros e brancos nos jornais Correio
Paulistano, A Província de São Paulo e a Redempção a partir dos contrastes: “Ao mesmo tempo em
que as notícias vão como que constituindo representações de negros, constituem, por contraste e
oposição, diferentes imagens de brancos. (...) Assim ao representar o negro, o branco constituiu-se
ao mesmo tempo como imagem invertida do que normalmente se apresente e oferece.” In Retratis
em branco e negro..., p. 167.
mesmo exemplar do artigo sobre a jornada pacífica dos escravos de Mogi Mirim e da
tendo a índole pacata, que fugiam do cativeiro sem ódio, sem violência, tinham como
eram retratadas como jornada sem violência. Termos como emigrantes, retirantes
agradecimento.
libertação foram uma das marcas do negro apresentada pelo O Paiz. A procura de
um protetor pelo cativo para conseguir a alforria era uma imagem veiculada: (...)
Tanta gente parece demais que é prudente que o cativo, esse pobre que há três
imagem de passividade foi construída através da idéia pedir. Caso a abolição fosse
uma dádiva dos proprietários, os negros saberiam ser gratos. Afinal, como fizeram
conseguirem a liberdade.
foi mandado ou não por libertos de São Fidelis, o fato é secundário para a análise
39
16 de maio de 1888, p.1.
40
“Tópicos do Dia” in 1º de maio de 1888, p.1.
41
21 e 22 de maio de 1888, p.1.
que empreendo. Mesmo que não tenha sido redigido por esses ex-escravos, foi
apresentado pelo periódico nesta condição. Assim, para os leitores de O Paiz, que
poderiam incluir parte dos atuais libertos não haveria estranheza que o recém saído
por contraste, o leitor era levado a verificar que a longo existência da escravidão
receberam destaque.
negros, atingia ainda mais seus senhores. Dos segmentos proprietários, eram
escravidão, O Paiz destacava, por vezes, que o escravo cometia o crime e ia para a
cuidados do Estado e até com quem não tinha envolvimento com o crime:
42
“Assassinato” in Gazeta Nacional,12 de abril de 1888, p.1
O nome deste artigo era “Tranqüilidade para todos” e sua tônica era que a
segurança não deveria ser garantida somente para os donos da lavoura, deveria
incluir a todos. Afirmava que especial atenção deveria ser dada aos escravos, pois
ameaçados.
O Paiz, no artigo “Mais uma vergonha para nós”, também matéria de fundo,
abordou o crime cometido contra um escravo que assassinou seu senhor, Adriano
Martins Ramos. A crítica do jornal se dirigia aos homens que invadiram a delegacia e
43
“Tranquilidade para todos” in O Paiz, 27 de junho de 1885, p.1.
pelos escravos contra feitores e senhores eram abrandados pelas suas condições
44
25 de fevereiro de 1885, p.1.
45
Idem, ibidem.
estado social, que futuro poderia ser esperado da nação brasileira? Como justificar
no exterior essa imagem criada pelos proprietários? Nos artigos de O Paiz, esses
46
Idem, ibidem.
Patrocínio. Neste texto, a folha afirmava que para segurança da sociedade, era
aparecia. Com a abolição, ele ficaria livre para o vício e para a mendicância. Em
folha - não poderiam ficar a mercê da abolição sem meios que garantissem a
47
26 de abril de 1888, p.1
repercussão negativa. Por mais três exemplares a Gazeta Nacional teve de explicar
o que quis dizer com o artigo “Meios de Repressão”. Nos dias 29 de abril e 1º de
de maio saía o artigo “Tréplica”. Nestes textos, o jornal polemizou com Patrocínio
desvarios dos libertos. O Paiz, ainda na fase dos festejos do 13 de Maio, chamava a
ociosidade e que vivem a explorar a caridade pública”48. O texto afirmava que era
preciso criar mecanismos para reduzir a considerada vadiagem. Esta fazia com que
48
“Mendigos ociosos” in O Paiz, 27 de maio de 1888, p.1.
49
“O alcoolismo” in O Paiz, 17 de agosto de 1888, p1.
biológicas, a educação - que nos artigos publicados, era entendida como os meios
que festejavam a abolição, tinham receio do perigo que o liberto poderia representar
para a sociedade brasileira, caso não fossem criados métodos que o mantivesse no
mundo do trabalho. Essa postura, a meu ver, não implica em contradições. Ela era
etnocentrismo científico.
50
03 de abril de 1888, p.1.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
conforme afirmou Quintino Bocaiúva, em O Paiz, o negro, desde 1871, não era
legalmente reconhecido como coisa, era um ser humano e, por isso, deveria ser livre
como qualquer homem. Nos discursos destes jornais, a postura paternalista deveria
ser adotada pelos senhores para garantir o trânsito entre o trabalho escravo e o livre.
escravos.
estaria colocado.
sociedade que articulava liberalismo e teorias científicas raciais. Assim, para esses
republicanos liberais, o liberto seria um cidadão comum, que deveria ser integrado,
sem distinção, a categorias dos nacionais. Entretanto, em nome de uma nação que
ameaçado.
FONTES
FONTES IMPRESSAS
BOCAIÚVA, Quintino. Idéias políticas de Quintino Bocaiúva. Cronologia, introdução,
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