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09/08/2016 Ministério Fiel

Ao Cometer Suicídio, o Cristão Perde a Salvação?


Miguel Núñez
20 de Janeiro de 2014 - Vida Cristã

Esse tem sido um dos temas mais controversos ao longo dos anos, e que
lamentavelmente muitos têm respondido de uma maneira emocional e não através
da análise bíblica. Aqueles de nós que crescemos no catolicismo sempre ouvimos
que o suicídio é um pecado mortal que irremediavelmente envia a pessoa para o
inferno. Para muitos que têm crescido com essa posição, é impossível despojar-se
dessa ideia.

Outros têm estudado o tema e, depois de fazê-lo, concluem que nenhum cristão
seria capaz de acabar com sua própria vida. Há outros que afirmam que um
cristão poderia cometer suicídio, mas perderia a salvação. E ainda outros pensam
que um cristão poderia cometer suicídio em situações extremas, sem que isso o
conduza à condenação.

Em essência temos, então, quatro posições:

1. Todo aquele que comete suicídio, sob qualquer circunstância, vai para o inferno
(posição Católica Tradicional).
2. Um cristão nunca chega a cometer suicídio, porque Deus impediria.
3. Um cristão pode cometer suicídio, mas perderá sua salvação.
4. Um cristão pode cometer suicídio, sem que necessariamente perca sua
salvação.

A primeira dessas quatro posições foi basicamente a única crença até a época da
Reforma, quando a doutrina da salvação (Soteriologia) começou a ser melhor
estudada e entendida. Nesse momento, tanto Lutero como Calvino concluíram
que eles não podiam afirmar categoricamente que um cristão não poderia cometer
suicídio e/ou o que se suicidava iria ser condenado. Na medida em que a
salvação das almas foi sendo analisada em detalhes, muitos dos reformadores
começaram a fazer conclusões, de maneira distinta, sobre a posição que a Igreja
de Roma tinha até então.

No fim das contas, a pergunta é: O Que a Bíblia diz?

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Começamos mencionando aquelas coisas que sabemos de maneira definitiva a


partir da revelação de Deus:

O ser humano é totalmente depravado (primeiro ponto do TULIP calvinista).


Com isso, não queremos dizer que o ser humano é tão mal quanto poderia ser,
mas que todas as suas capacidades estão manchadas pelo pecado: sua mente
ou intelecto, seu coração ou emoções, e sua vontade.
O cristão foi regenerado, mas mesmo depois de ter nascido de novo, devido à
permanência da natureza carnal, continua com a capacidade de cometer
qualquer pecado, com a exceção do pecado imperdoável.
O pecado imperdoável é mencionado em Marcos 3:25-32 e outras passagens,
e a partir desse contexto podemos concluir que esse pecado se refere à rejeição
contínua da ação do Espírito Santo na conversão do homem. Outros, a partir
dessa passagem citada, atribuem a Satanás as obras do Espírito de Deus.
Obviamente, em ambos os casos está se fazendo referência a uma pessoa
incrédula.
De maneira particular, queremos destacar que o cristão é capaz de tirar a vida
de outra pessoa, como fez o Rei Davi, sem que isso afete a sua salvação.
O sacrifício de Cristo na cruz perdoou todos os nossos pecados: passados,
presentes e futuros (Colossenses 2:13-14, Hebreus 10:11-18)
O anterior implica que o pecado que um cristão cometerá amanhã foi perdoado
na cruz, onde Cristo nos justificou, e fomos declarados justos sem de fato
sermos, e o fez como uma só ação que não necessita ser repetida no futuro. Na
cruz, Cristo não nos tornou justificáveis, mas justificados (Romanos 3:23-26,
Romanos 8:29-30)

A salvação e o ato do suicídio

Dentro do movimento evangélico existe um grupo de crentes, a quem já aludimos,


denominados Arminianos, que diferem dos Calvinistas em relação à doutrina da
salvação. Uma dessas diferenças, que não é a única, gira em torno da
possibilidade de um cristão poder perder a salvação. Uma grande maioria nesse
grupo crê que o suicídio é um dos pecados capazes de tirar a salvação do crente.
Nós, que afirmamos a segurança eterna do crente (Perseverança dos Santos),
não somos daqueles que acreditam que o suicídio ou qualquer outro pecado
eliminaria a salvação que Cristo comprou na cruz.
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Tanto na posição Calvinista como na Arminiana, alguns afirmam que um cristão


jamais cometerá suicídio. No entanto, não existe nenhum versículo ou passagem
bíblica que possa ser usado para categoricamente afirmar essa posição. Alguns,
sabendo disso, defendem sua posição indicando que na Bíblia não há nenhum
suicídio cometido pelos crentes, enquanto aparecem vários casos de
personagens não crentes que acabaram com suas vidas. Com relação a essa
observação, gostaria de dizer que usar isso para estabelecer que um cristão não
pode cometer suicido não é uma conclusão sábia, porque estamos fazendo uso
de um argumento de silêncio, que na lógica é o mais débil de todos. Há várias
coisas não mencionadas na Bíblia (centenas ou talvez milhares) e se fizermos uso
de argumentos de silêncio, estamos correndo o risco de estabelecer possíveis
verdades nunca reveladas na Bíblia. Exemplo: não aparece um só relato de Jesus
rindo; a partir disso eu poderia concluir que Jesus nunca riu ou não tinha
capacidade para rir. Seria esse um argumento sólido? Obviamente não.

Gostaríamos de enfatizar que, se alguém que vive uma vida consistente com a fé
cristã comete suicídio, teríamos que nos perguntar antes de ir mais além, se
realmente essa pessoa evidenciava frutos de salvação, ou se sua vida era mais
uma religiosidade do que qualquer outra coisa. Eu acho que, provavelmente, esse
seria o caso da maioria dos suicídios dos chamados cristãos.

Apesar disso, cremos que, como Jó, Moisés, Elias e Jeremias, os cristãos podem
se deprimir tanto a ponto de quererem morrer. E se esse cristão não tem um
chamado e um caráter tão forte como o desses homens, pensamos que pode ir
além do mero desejo e acabar tirando a própria vida. Nesse caso, o que Deus
permitir acontecer pode representar parte da disciplina de Deus, por esse cristão
não ter feito uso dos meios da graça dentro do corpo de Cristo, proporcionados
por Deus para a ajuda de seus filhos.

Muitos acreditam, como já mencionamos, que esse pecado cometido no último


momento não proveu oportunidade para o arrependimento, e é isso o que termina
roubando-lhe a salvação ao suicidar-se. Eu quero que o leitor faça uma pausa
nesse momento e questione o que aconteceria se ele morresse nesse exato
momento, se ele pensa que morreria livre de pecado. A resposta para essa
pergunta é evidente:Não! Ninguém morre sem pecado, porque não há nenhum
instante em nossas vidas em que o ser humano está completamente livre do
pecado. Em cada momento de nossa existência há pecados em nossas vidas dos
quais não estamos nem sequer apercebidos, e outros que nem conhecemos, mas
que nesse momento não temos nos dirigido ao Pai para buscar seu perdão,
simplesmente porque o consideramos um pecado menos grave, ou porque
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estamos esperando pelo momento apropriado para ir orar e pedir tal perdão.

A realidade sobre isso é que, quando Cristo morreu na cruz, ele pagou por nossos
pecados passados, presentes e futuros, como já dissemos. Portanto, o mesmo
sacrifício que cobre os pecados que permanecerão conosco até o momento de
nossa morte é o que cobrirá um pecado como o suicídio. A Palavra de Deus é
clara em Romanos 8:38 e 39: “Porque eu estou bem certo de que nem a
morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do
presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a
profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de
Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”.Note que o texto diz que
“nenhuma outra coisa criada”. Esta frase inclui o próprio crente. Notemos também
que essa passagem fala que “nem as coisas do presente, nem do
porvir”, fazendo referência às situações futuras que ainda não vivemos. Por outro
lado, João 10:27-29 nos fala que ninguém pode nos arrebatar da mão de nosso
Pai, eFilipenses 1:6 diz que “aquele que começou a boa obra em vós, há de
completá-la até o dia de Cristo Jesus”. Concluindo:

Se estabelecemos que o cristão é capaz de cometer qualquer pecado, por que


não conceber que potencialmente ele poderá cometer o pecado do suicídio?
Se estabelecemos que o sangue de Cristo é capaz de perdoar todo pecado, ele
não cobriria esse outro pecado?
Se o sacrifício na cruz nos tornou perfeitos para sempre, como diz o autor de
Hebreus (7:28, 10:14), não seria isso suficiente para afirmarmos que nenhum
pecado rouba a nossa salvação?
Se até Moisés chegou a desejar que Deus lhe tirasse a vida, devido à pressão
que o povo exerceu sobre ele, não poderia um paciente esquizofrênico ou na
condição de depressão extrema, que não tenha a força de caráter de um
Moisés, atentar contra a sua própria vida de maneira definitiva?
Se não somos Deus e não temos nenhuma maneira de medir a conversão
interior do ser humano, poderíamos afirmar categoricamente que alguém que
deu testemunho de cristão durante sua vida, ao cometer suicídio, realmente não
era um cristão?
Baseados na história bíblica e na experiência do povo de Deus, poderíamos
concluir que o suicídio entre crentes provavelmente é uma ocorrência
extraordinariamente rara, devido à ação do Espírito Santo e aos meios de graça

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presentes no corpo de Cristo.


Pensamos que o suicídio é um pecado grave, porque atenta contra a vida
humana. Mas já estabelecemos que um crente é capaz de eliminar a vida
humana, como o fez Davi. Se eu posso fazer algo contra alguém, como não
conceber que posso fazê-lo contra mim mesmo? Essa é a nossa posição.

Como você pode ver, não é tão fácil estabelecer uma posição categórica sobre o
suicídio e a salvação. Tudo o que podemos fazer é raciocinar através de verdades
teológicas claramente estabelecidas, a fim de chegar a uma provável conclusão
sobre um fato não estabelecido de forma definitiva. Portanto, quanto mais
coerentemente teológico for meu argumento, mais provável será a conclusão que
eu chegar. Agostinho tinha razão ao dizer: “Naquilo que é essencial, unidade;
naquilo que é duvidoso, liberdade; e em todas as coisas, caridade”. Minha
recomendação é que você possa fazer um estudo exaustivo, outra vez ou pela
primeira vez, acerca de tudo o que Deus disse sobre a salvação, que é muito mais
importante que o suicídio, que é quase nada.

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Autor
Miguel Núñez
Miguel Núñez é pastor da International Baptist Church e presidente do
Ministério Wisdom and Integrity em São...

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