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Ao cometer suicídio, o cristão perde a salvação?

 Miguel Núñez  21 de janeiro de 2014  1,505,371 Visualizações  Artigo  12 min de leitura


 Ministério Fiel  Pecado, Salvação, Sofrimento, Vida Cristã

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Esse tem sido um dos temas mais controversos ao longo dos anos, e que lamentavelmente muitos têm

respondido de uma maneira emocional e não através da análise bíblica. Aqueles de nós que crescemos no

catolicismo sempre ouvimos que o suicídio é um pecado mortal que irremediavelmente envia a pessoa
para o inferno. Para muitos que têm crescido com essa posição, é impossível despojar-se dessa ideia.

Outros têm estudado o tema e, depois de fazê-lo, concluem que nenhum cristão seria capaz de acabar com

sua própria vida. Há outros que afirmam que um cristão poderia cometer suicídio, mas perderia a salvação.

E ainda outros pensam que um cristão poderia cometer suicídio em situações extremas, sem que isso o
conduza à condenação.

Em essência temos, então, quatro posições:

1. Todo aquele que comete suicídio, sob qualquer circunstância, vai para o inferno (posição Católica

Tradicional).

2. Um cristão nunca chega a cometer suicídio, porque Deus impediria.

3. Um cristão pode cometer suicídio, mas perderá sua salvação.

4. Um cristão pode cometer suicídio, sem que necessariamente perca sua salvação.

A primeira dessas quatro posições foi basicamente a única crença até a época da Reforma, quando a
doutrina da salvação (Soteriologia) começou a ser melhor estudada e entendida. Nesse momento, tanto

Lutero como Calvino concluíram que eles não podiam afirmar categoricamente que um cristão não poderia
cometer suicídio e/ou o que se suicidava iria ser condenado. Na medida em que a salvação das almas foi 
sendo analisada em detalhes, muitos dos reformadores começaram a fazer conclusões, de maneira
distinta, sobre a posição que a Igreja de Roma tinha até então.

No fim das contas, a pergunta é: O Que a Bíblia diz?

Começamos mencionando aquelas coisas que sabemos de maneira definitiva a partir da revelação de Deus:

O ser humano é totalmente depravado (primeiro ponto do TULIP calvinista). Com isso, não queremos
dizer que o ser humano é tão mal quanto poderia ser, mas que todas as suas capacidades estão

manchadas pelo pecado: sua mente ou intelecto, seu coração ou emoções, e sua vontade.

O cristão foi regenerado, mas mesmo depois de ter nascido de novo, devido à permanência da natureza
carnal, continua com a capacidade de cometer qualquer pecado, com a exceção do pecado imperdoável.

O pecado imperdoável é mencionado em Marcos 3:25-32 e outras passagens, e a partir desse contexto
podemos concluir que esse pecado se refere à rejeição contínua da ação do Espírito Santo na conversão

do homem. Outros, a partir dessa passagem citada, atribuem a Satanás as obras do Espírito de Deus.

Obviamente, em ambos os casos está se fazendo referência a uma pessoa incrédula.

De maneira particular, queremos destacar que o cristão é capaz de tirar a vida de outra pessoa, como fez

o Rei Davi, sem que isso afete a sua salvação.

O sacrifício de Cristo na cruz perdoou todos os nossos pecados: passados, presentes e futuros
(Colossenses 2:13-14, Hebreus 10:11-18)

O anterior implica que o pecado que um cristão cometerá amanhã foi perdoado na cruz, onde Cristo nos

justificou, e fomos declarados justos sem de fato sermos, e o fez como uma só ação que não necessita ser

repetida no futuro. Na cruz, Cristo não nos tornou justificáveis, mas justificados (Romanos 3:23-26,
Romanos 8:29-30)

A salvação e o ato do suicídio

Dentro do movimento evangélico existe um grupo de crentes, a quem já aludimos, denominados

Arminianos, que diferem dos Calvinistas em relação à doutrina da salvação. Uma dessas diferenças, que

não é a única, gira em torno da possibilidade de um cristão poder perder a salvação. Uma grande maioria

nesse grupo crê que o suicídio é um dos pecados capazes de tirar a salvação do crente. Nós, que afirmamos
a segurança eterna do crente (Perseverança dos Santos), não somos daqueles que acreditam que o suicídio

ou qualquer outro pecado eliminaria a salvação que Cristo comprou na cruz.

Tanto na posição Calvinista como na Arminiana, alguns afirmam que um cristão jamais cometerá suicídio.
No entanto, não existe nenhum versículo ou passagem bíblica que possa ser usado para categoricamente

afirmar essa posição. Alguns, sabendo disso, defendem sua posição indicando que na Bíblia não há

nenhum suicídio cometido pelos crentes, enquanto aparecem vários casos de personagens não crentes que

acabaram com suas vidas. Com relação a essa observação, gostaria de dizer que usar isso para estabelecer
que um cristão não pode cometer suicido não é uma conclusão sábia, porque estamos fazendo uso de um

argumento de silêncio, que na lógica é o mais débil de todos. Há várias coisas não mencionadas na Bíblia

(centenas ou talvez milhares) e se fizermos uso de argumentos de silêncio, estamos correndo o risco de
estabelecer possíveis verdades nunca reveladas na Bíblia. Exemplo: não aparece um só relato de Jesus

rindo; a partir disso eu poderia concluir que Jesus nunca riu ou não tinha capacidade para rir. Seria esse um

argumento sólido? Obviamente não.

Gostaríamos de enfatizar que, se alguém que vive uma vida consistente com a fé cristã comete suicídio,

teríamos que nos perguntar antes de ir mais além, se realmente essa pessoa evidenciava frutos de

salvação, ou se sua vida era mais uma religiosidade do que qualquer outra coisa. Eu acho que,
provavelmente, esse seria o caso da maioria dos suicídios dos chamados cristãos.

Apesar disso, cremos que, como Jó, Moisés, Elias e Jeremias, os cristãos podem se deprimir tanto a ponto

de quererem morrer. E se esse cristão não tem um chamado e um caráter tão forte como o desses homens,

pensamos que pode ir além do mero desejo e acabar tirando a própria vida. Nesse caso, o que Deus
permitir acontecer pode representar parte da disciplina de Deus, por esse cristão não ter feito uso dos

meios da graça dentro do corpo de Cristo, proporcionados por Deus para a ajuda de seus filhos.

Muitos acreditam, como já mencionamos, que esse pecado cometido no último momento não proveu
oportunidade para o arrependimento, e é isso o que termina roubando-lhe a salvação ao suicidar-se. Eu

quero que o leitor faça uma pausa nesse momento e questione o que aconteceria se ele morresse nesse

exato momento, se ele pensa que morreria livre de pecado. A resposta para essa pergunta é evidente: Não!
Ninguém morre sem pecado, porque não há nenhum instante em nossas vidas em que o ser humano está

completamente livre do pecado. Em cada momento de nossa existência há pecados em nossas vidas dos

quais não estamos nem sequer apercebidos, e outros que nem conhecemos, mas que nesse momento não

temos nos dirigido ao Pai para buscar seu perdão, simplesmente porque o consideramos um pecado

menos grave, ou porque estamos esperando pelo momento apropriado para ir orar e pedir tal perdão.

A realidade sobre isso é que, quando Cristo morreu na cruz, ele pagou por nossos pecados passados,

presentes e futuros, como já dissemos. Portanto, o mesmo sacrifício que cobre os pecados que

permanecerão conosco até o momento de nossa morte é o que cobrirá um pecado como o suicídio. A

Palavra de Deus é clara em Romanos 8:38 e 39: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem

a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os

poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do

amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Note que o texto diz que “nenhuma outra coisa

criada”. Esta frase inclui o próprio crente. Notemos também que essa passagem fala que “nem as coisas
do presente, nem do porvir”, fazendo referência às situações futuras que ainda não vivemos. Por outro

lado, João 10:27-29 nos fala que ninguém pode nos arrebatar da mão de nosso Pai, e Filipenses 1:6 diz que

“aquele que começou a boa obra em vós, há de completá-la até o dia de Cristo Jesus”. Concluindo:


Se estabelecemos que o cristão é capaz de cometer qualquer pecado, por que não conceber que

potencialmente ele poderá cometer o pecado do suicídio?

Se estabelecemos que o sangue de Cristo é capaz de perdoar todo pecado, ele não cobriria esse outro

pecado?

Se o sacrifício na cruz nos tornou perfeitos para sempre, como diz o autor de Hebreus (7:28, 10:14), não

seria isso suficiente para afirmarmos que nenhum pecado rouba a nossa salvação?

Se até Moisés chegou a desejar que Deus lhe tirasse a vida, devido à pressão que o povo exerceu sobre

ele, não poderia um paciente esquizofrênico ou na condição de depressão extrema, que não tenha a força

de caráter de um Moisés, atentar contra a sua própria vida de maneira definitiva?

Se não somos Deus e não temos nenhuma maneira de medir a conversão interior do ser humano,

poderíamos afirmar categoricamente que alguém que deu testemunho de cristão durante sua vida, ao

cometer suicídio, realmente não era um cristão?

Baseados na história bíblica e na experiência do povo de Deus, poderíamos concluir que o suicídio entre

crentes provavelmente é uma ocorrência extraordinariamente rara, devido à ação do Espírito Santo e aos

meios de graça presentes no corpo de Cristo.

Pensamos que o suicídio é um pecado grave, porque atenta contra a vida humana. Mas já estabelecemos

que um crente é capaz de eliminar a vida humana, como o fez Davi. Se eu posso fazer algo contra alguém,

como não conceber que posso fazê-lo contra mim mesmo? Essa é a nossa posição.

Como você pode ver, não é tão fácil estabelecer uma posição categórica sobre o suicídio e a salvação. Tudo

o que podemos fazer é raciocinar através de verdades teológicas claramente estabelecidas, a fim de chegar

a uma provável conclusão sobre um fato não estabelecido de forma definitiva. Portanto, quanto mais

coerentemente teológico for meu argumento, mais provável será a conclusão que eu chegar. Agostinho
tinha razão ao dizer: “Naquilo que é essencial, unidade; naquilo que é duvidoso, liberdade; e em todas as

coisas, caridade”. Minha recomendação é que você possa fazer um estudo exaustivo, outra vez ou pela

primeira vez, acerca de tudo o que Deus disse sobre a salvação, que é muito mais importante que o

suicídio, que é quase nada.

Tradução: César Augusto.

Revisão: Renata do Espírito Santo.

Fonte: ¿Puede un cristiano cometer suicidio?

Parceiro: The Gospel Coalition


O TGC é uma comunidade de igrejas evangélicas, comprometidas com a renovação da fé no evangelho
de Cristo.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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