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DO DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE NAÇÃO AO DE SEGURANÇA


NACIONAL: A DESCOBERTA E A DEPENDÊNCIA DE RECURSOS
ENERGÉTICOS OS INFLUENCIOU?

Ana Beatriz Strang Simi1

O estudo propõe uma análise sobre a relação entre o desenvolvimento do conceito de


nação durante o Iluminismo no século XVIII e o concomitante descobrimento dos
combustíveis fósseis ao final do mesmo período. O objetivo é examinar como o uso crescente
dessas fontes motivou a disputas entre nações por acesso a territórios ricos em recursos
energéticos, evidenciando a importância estratégica de jazidas de petróleo e carvão mineral,
entre outros recursos fundamentais para o desenvolvimento dos meios de produção. Através
de uma revisão bibliográfica, o estudo busca relacionar o quanto ambos os fatores
influenciaram a evolução do conceito de Estado como sujeito do Direito Internacional, desde
o século XVIII, explorando as disputas territoriais que, frequentemente, resultaram em
conflitos e rivalidades geopolíticas, devido à busca por auto suficiência e soberania
energética, bem como pelo controle sobre rotas de transporte e comércio de energia. Esses
conflitos e rivalidades territoriais ajudaram a moldar o conceito de Segurança Nacional, que
ganhou relevância no século XX e, busca-se compreender as interações complexas entre o
desenvolvimento dos conceitos de nação, Estado, Direito Internacional, recursos energéticos e
geopolítica sobre as dinâmicas históricas e contemporâneas das relações internacionais,
através dessa análise.

Palavras-chave: Segurança Nacional; Soberania Energética; Segurança Energética.

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Relações Internacionais - Faculdades Metropolitanas Unidas
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Introdução
A relação entre o desenvolvimento do conceito de nação, a descoberta de recursos
energéticos e a evolução da ideia de segurança nacional tem desempenhado um papel
fundamental na moldagem das dinâmicas históricas e contemporâneas das relações
internacionais. É possível notar que desde o surgimento da concepção de nação, durante o
Iluminismo, até o estabelecimento de estratégias de segurança nacional no século XX, a
descoberta e a dependência de recursos energéticos, em especial os de origens fósseis, têm
forjado as estruturas políticas, econômicas e sociais dos Estados.

No final do século XVIII, o mundo testemunhou uma revolução sem precedentes com
a descoberta e a exploração dos combustíveis fósseis, como o carvão mineral, que
impulsionou a produção industrial e transformou a economia global. Logo em seguida, com a
descoberta e a exploração do petróleo, observou-se que o papel desempenhado por esses
recursos se tornou ainda mais relevante, não apenas como fonte de energia, mas também
como fator determinante nas políticas internacionais e nas rivalidades geopolíticas.

O acesso e o controle desses recursos tornaram-se elementos cruciais para a afirmação


da soberania e para a garantia de poder e preponderância no sistema internacional. A
competição por recursos energéticos estratégicos levou, e segue levando, a disputas
territoriais, rivalidades geopolíticas e, em muitos casos, a conflitos armados.

Além disso, a dependência dos recursos energéticos também impactou a evolução do


conceito de segurança nacional, já que a necessidade de garantir o acesso a fontes confiáveis
​de energia para sustentar a economia, a infraestrutura e a capacidade de defesa de uma nação
levou ao desenvolvimento de políticas e estratégias voltadas para a segurança e soberania. A
busca pela auto suficiência e pelo controle sobre as rotas de transporte e comércio de energia
também tornou-se um objetivo chave para muitos Estados, moldando suas prioridades de
segurança e suas relações com outros atores internacionais.

Neste contexto, este trabalho busca examinar a interação complexa entre o


desenvolvimento e a assimilação do conceito de nação, a descoberta e a dependência de
recursos energéticos e a evolução do significado prático de segurança nacional. Através de
revisão bibliográfica, foram explorados alguns pontos de contato desses fatores com as
Relações Internacionais, analisando as disputas territoriais, rivalidades geopolíticas e as
implicações para a segurança e soberania das nações.
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1. Desenvolvimento histórico do conceito de nação e implicações na estruturação


dos Estados e nas relações internacionais

O desenvolvimento do conceito de nação, apesar de ser historicamente recente, desempenhou


um papel crucial na formação e na consolidação das identidades nacionais contemporâneas,
além de suas implicações significativas na estruturação dos Estados e nas relações
internacionais. Esta seção abordará o desenvolvimento histórico do conceito de nação,
identificando alguns dos pensadores cujas ideias se fizeram proeminentes, em especial no
Ocidente e também algumas teorias relacionadas à formação das identidades nacionais, que
nos ajude a compreender seu papel político, social e econômico no sistema internacional.

As raízes do conceito de nação surgem ao final do século XVIII, durante o período


que convencionou-se chamar de Iluminismo, momento em que pensadores, filósofos e
intelectuais começaram a questionar o papel do monarca absoluto e a importância das
identidades coletivas baseadas em cultura, idioma e história compartilhada. Filósofos como
Jean-Jacques Rousseau, Voltaire e Johann Gottfried Herder contribuíram para a concepção
moderna de nação, os três autores compartilham da ideia de um povo com identidade cultural
comum e o direito à autodeterminação. De sua concepção, compreensão e uso do termo, ao
significado atribuído nessas duas primeiras décadas do século XXI, diversas críticas vêm
sendo feitas, tornando-o alvo de apontamentos relevantes para o presente trabalho.

Rousseau (2018), por exemplo, enfatizou a importância do contrato social e da


vontade geral como fundamento para a formação de uma comunidade política. O autor fala de
uma noção de soberania popular e o surgimento do conceito de nação como uma comunidade
política autônoma. Eric Hobsbawm (1991) nos apresenta uma série de autores que se
debruçam sobre o conceito, entre eles Ernest Renan, que argumenta que a nação seria formada
por um desejo de viver juntos e uma vontade comum de se unir, explorando as bases
subjetivas e afetivas da identidade nacional. Essa ideia de que a soberania política é baseada
na vontade popular e em uma identidade nacional que seria comum a todos os seus membros,
é sistematicamente questionada por Hobsbawm (1991) como sua afirmação de que antes de
1884 o significado em espanhol para a palavra nação, era o conjunto de habitantes de um
local, fosse uma província, reino ou mesmo país.

Recentemente, ao final do século XX, Anderson (2008), introduz o conceito de


comunidade imaginada em seu livro, obra em que o conceito de nação se constroi a partir de
movimentos sociais, nos quais seus membros compartilham uma identidade comum, mesmo
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sem interações diretas. E a ideia de identidade nacional parece desempenhar um papel


importante nas Relações Internacionais. Kohn (1965) examina as diferentes formas de
nacionalismo ao longo da história e destaca o papel do sentimento de lealdade e orgulho em
relação à nação na formação da identidade nacional:

O nacionalismo tem sido uma das forças determinantes da história moderna.


Originou-se na Europa Ocidental do século XVIII; durante o século XIX, espalhou-se
por toda a Europa; no século XX, tornou-se um movimento mundial, e sua
importância na Ásia e na África cresce a cada ano. Mas o nacionalismo não é o
mesmo em todos os países e em todos os tempos. É um fenômeno histórico e,
portanto, determinado pelas ideias políticas e pela estrutura social das diversas terras
onde se enraíza.(KOHN; 1965, p. 4, tradução livre da autora)

Forças determinantes essas que, em influenciando as políticas externas, as alianças e


as rivalidades entre Estados, causaram disputas territorial muitas vezes motivadas justamente
pelo desejo de autodeterminação nacional e defesa dos interesses nacionais, como no caso da
guerra de Independência dos Estados Unidos, entre 1775 e 1783.

Hobsbawm (1991), discute as complexas e controversas implicações durante o


processo de formação de Estados-nação. Se por um lado buscou-se por soberania e por uma
formação com base na identidade nacional, com o objetivo de promover a estabilidade
política, a coesão social e o senso de pertencimento, por outro, os conflitos étnicos, a exclusão
de minorias e reivindicações territoriais disputadas, apresentaram-se como consequências
imperativas dessas mesmas buscas. Hobsbawn (1991), ainda examina o papel que os líderes
políticos e intelectuais desempenharam na criação de narrativas nacionais e como as elites
dirigentes utilizaram o sentimento de nacionalismo como ferramenta fundamental para o
fortalecimento e de coesão interna para legitimar o poder do Estado.

Além disso, a noção de nação motivou tanto o desenvolvimento de instituições


internacionais quanto elaborações de acordos e tratados internacionais. O Paz de Westfália de
1648, é o exemplo histórico emblemático nesse sentido, porque introduziu o princípio do
respeito mútuo à integridade territorial dos Estados e o direito de cada Estado determinar sua
própria religião, assim como moldou a forma como os Estados interagem entre si, a maneira
como são reconhecidos na comunidade internacional e as bases para a resolução de disputas e
conflitos (FILHO, 2007).

Esses princípios estabeleceram as bases para as relações entre os Estados-nação


soberanos e influenciaram o desenvolvimento do direito internacional. Orford (2003) explora
a maneira como a Paz de Westfália estabeleceu os fundamentos para as relações entre
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Estados-nação soberanos e como esses princípios influenciaram a evolução do direito


internacional em temas cruciais, como soberania, direitos humanos e uso legitimado da força
pelos Estados.

Finalmente, a estruturação dos Estados-nação e a noção de nação têm sido temas de


debates e críticas que questionam a ênfase na identidade nacional, além de defender formas
alternativas de organização política e social que valorizem a diversidade cultural e a
coexistência pacífica de diferentes grupos étnicos e culturais. À medida em que diferentes
abordagens teóricas as questionam, melhor compreendemos como decisões arbitrárias, como
o caso da partilha da África, entre 1884 e 1885 na Conferência de Berlim, por exemplo,
quando fronteiras em territórios africanos foram definidas sem levar em consideração as
identidades étnicas, culturais e históricas das comunidades locais (DÖPCKE, 1999).

Nesse sentido as contribuições críticas de Fanon (1961), que em suas obras se


concentra nas graves consequências sociais, políticas e psicológicas da colonização para os
povos africanos e a forma como a colonização os desumanizou, tratando-os como objetos a
serem explorados e não como sujeitos de sua própria história, nos faz refletir a respeito da real
importância dada pelos europeus ao conceito em si, uma vez que nesse processo colonizatório
o mesmo não parece ter sido aplicado pelos europeus com os mesmos propósitos que foram
usados em suas terras de origem, em suas colônias.

No caso da Conferência de Berlin, a busca pelo descobrimento e exploração de novas


fontes de recursos provenientes do solo, se deu concomitante ao momento em que as
potências europeias investiam massivamente no desenvolvimento de suas capacidades
industriais. A Revolução Industrial, que ocorreu principalmente no século XIX, foi marcada
por rápidos avanços tecnológicos e crescimento econômico na Europa, e trouxe uma crescente
demanda por recursos naturais e matérias-primas para alimentar as indústrias europeias em
rápido crescimento. Nesse contexto, a busca pelo descobrimento e exploração de novas fontes
de recursos, especialmente provenientes do solo africano, tornou-se de grande interesse para
as potências europeias. A África, rica em recursos naturais, incluindo minérios, carvão,
petróleo, ouro, diamantes e outros recursos valiosos, foi alvo das potências europeias que
viam esses recursos como uma oportunidade para impulsionar ainda mais suas indústrias e
fortalecer suas economias. Essa colonização tardia justificou a prática inversa às regras já
estabelecidas ao final da Guerra dos 30 anos, em Westfália, e a autodeterminação dos povos e
grupos sociais de todo Continente Africano foi veementemente desconsiderada e
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desrespeitada e o conceito de nação foi aplicado arbitrariamente com o objetivo de expandir


colônias européias a fim de garantir-lhes mais territórios a serem explorados por eles, os
europeus.

2. Descoberta e Dependência de Recursos Energéticos

A descoberta e a dependência de recursos energéticos, como o carvão mineral e o


petróleo, tiveram um impacto significativo sobre os Estados, tanto do ponto de vista
econômico e industrial quanto político. Nesta seção, serão analisadas a descoberta e a
exploração desses recursos, bem como seu impacto e a crescente dependência dos Estados
em relação a eles.

A exploração de recursos energéticos tiveram início no final do século XVIII com a


extração do carvão mineral, embora sua existência e uso já fossem conhecidos. A Revolução
Industrial foi impulsionada pelo uso generalizado do carvão como fonte de energia para
alimentar as máquinas a vapor e as regiões que possuíam grandes depósitos de carvão, como o
Reino Unido e os Estados Unidos, experimentaram um rápido crescimento industrial e
consequentemente, econômico (ROMEIRO, 2021).

Posteriormente, no final do século XIX e início do século XX, ocorreu a descoberta


comercialmente viável do petróleo. Em 1825 na Rússia, por exemplo, já eram produzidas
3500 toneladas de petróleo por ano (KRYLOV et al. apud QUINTAS; QUINTANS, 2009), a
primeira refinaria russa foi inaugurada em 1861 e o país era responsável por 90% do petróleo
do mundo (RIVA, 1993). Essa descoberta revolucionou a indústria e a economia global,
tornando-se uma fonte essencial de energia para o transporte, a produção de energia e a
petroquímica. Países como os Estados Unidos, a Rússia, o Irã, a Arábia Saudita e outros do
Oriente Médio emergiram como importantes produtores de petróleo (YERGIN, 1991).

O impacto das descobertas de carvão mineral e petróleo foi profundo nos aspectos
econômicos, industriais e políticos dos Estados. A exploração desses recursos energéticos
impulsionou o crescimento econômico com a criação de novas empresas, indústrias, produtos,
e consequentemente, empregos. As indústrias que dependiam desses recursos, como a
indústria siderúrgica, têxtil e química, tiveram crescimentos exponenciais e os Estados que
possuíam reservas significativas de carvão e petróleo se tornaram poderosas economias,
capazes de atrair investimentos e gerar riqueza (YERGIN, 1991).
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O carvão mineral e o petróleo forneceram energia para a produção industrial em larga


escala. Máquinas a vapor alimentadas por carvão impulsionaram a produção e o
desenvolvimento de setores-chave, como mineração, manufatura e transporte ferroviário. O
petróleo se tornou uma fonte essencial de energia para a indústria, permitindo o
desenvolvimento de novas tecnologias e o avanço da produção em vários setores (NINA,
2020).

A descoberta e a exploração desses recursos energéticos promoveu o fortalecimento de


certos Estados e a alteração do equilíbrio de poder no cenário internacional. Países que
possuíam grandes reservas de carvão e petróleo se tornaram importantes atores políticos e
econômicos, exercendo influência global (YERGIN, 1991). A geopolítica do petróleo, em
particular, tem sido uma preocupação central nas Relações Internacionais, levando à alianças
estratégicas e também à rivalidades entre Estados, que disputam entre si o controle de toda
cadeia de produção e distribuição (NINA, 2020).

À medida que a industrialização avança, a dependência dos Estados em relação aos


recursos energéticos aumenta consideravelmente, porque a demanda por energia cresce
rapidamente, novas indústrias vão surgindo e o crescimento demográfico vai acompanhando
esse movimento de expansão, aumentando por sua vez a demanda por alimentos. Adubos e
inseticidas também são provenientes dessa matéria prima. Todos esses fatores obrigam os
Estados a se concentrarem na garantia de acesso a recursos energéticos para manter a
produção, o crescimento econômico e a qualidade de vida de suas populações, representando
uma tendência permanente, calcada em uma dependência crescente destes elementos
(FUSER, 2013).

A dependência de recursos energéticos estratégicos, como o petróleo, também atingem


a política externa e a segurança nacional dos Estados, já que a busca por auto suficiência e
controle sobre as rotas de transporte e comércio de energia tornaram-se prioridades para
garantir a segurança energética e a estabilidade econômica (NINA, 2020). Disputas
territoriais e rivalidades geopolíticas surgiram e continuam surgindo em torno do acesso a
esses recursos, levando a conflitos regionais e intervenções militares (YERGIN, 1991).

Lembremos de apenas alguns exemplos recentes e notáveis, como a Guerra do Golfo


(1990-1991), quando da invasão do Kuwait pelo Iraque, liderado por Saddam Hussein, em
1990, motivada principalmente pelo controle das reservas de petróleo do Kuwait (BOFF,
2014). Ou ainda, o conflito no Sudão do Sul (2013-2020), em razão da disputa pelo controle
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das ricas reservas de petróleo, sendo uma das principais causas de conflito interno no país
desde sua independência em 2011 (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS, 2022). Também
na Nigéria, há disputas em torno do controle dos recursos energéticos na região do Delta do
Níger, onde grupos armados insurgentes têm realizado ataques há mais de trinta anos a
instalações petrolíferas e enfrentado as forças de segurança do governo (OLIVEIRA, 2007).
Já o icônico exemplo dos conflitos no Oriente Médio, uma das mais ricas regiões em petróleo
do mundo, onde quase 70% de todo petróleo processado do mundo é produzido, ilustra
claramente os muitos e longos conflitos que têm motivações relacionadas ao controle desses
recursos.

Esses são apenas alguns exemplos das muitas das disputas territoriais e rivalidades
geopolíticas motivadas pelo acesso ao petróleo que causaram conflitos regionais e
intervenções militares em diferentes partes do mundo. O petróleo é uma commodity
estratégica e, como tal, seu controle e acesso têm sido frequentemente fonte de tensões,
conflitos e disputas no cenário internacional.

3. A emergência do conceito de segurança nacional e seu papel na política e nas


relações internacionais.

Nesta seção, discutiremos o surgimento e a evolução desse conceito, analisaremos


também as influências da dependência de recursos energéticos na formulação da segurança
nacional. Exploraremos brevemente as interações complexas entre recursos energéticos,
segurança nacional, soberania e políticas de defesa.

O conceito de segurança nacional começou a ganhar destaque no início do século XX,


em um contexto de mudanças políticas, militares e tecnológicas. Buzan e Hansen (2009),
afirmam que “O conceito de segurança nacional, da maneira como se configurou após a
Segunda Guerra Mundial, baseia-se em uma concepção de Estado que nos remete à centenas
de anos atrás” (p. 53), e citam Walker (apud BUZAN; HANSEN, 2019), que, entre outros
teóricos políticos, demonstrou o quanto a transformação do sistema territorial de Estado
medieval para um moderno, assim como o de um sistema monárquico para uma forma
nacional e popular de governo, impactaram os fundamentos do que passou a se compreendido
por Estado moderno (WALKER apud BUZAN; HANSEN, 2009).

Durante as duas Guerras Mundiais, os Estados enfrentaram desafios crescentes à sua


segurança em diferentes níveis, incluindo ameaças militares, espionagem, subversão interna e
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guerras ideológicas. Após a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria ampliou ainda mais o
conceito de segurança nacional e a bipolaridade entre os Estados Unidos e a União Soviética
levou à formação de alianças militares, como a OTAN e o Pacto de Varsóvia, promovendo a
chamada “corrida armamentista”, que deu foco às questões de segurança em larga escala,
incluindo a dissuasão nuclear.

Com o tempo, o conceito de segurança nacional evoluiu para garantir a proteção não
apenas contra ameaças militares, mas também contra outros aspectos, como ameaças
econômicas, ambientais, cibernéticas e sociais. A segurança nacional passou a ser vista como
um conceito amplo e multidimensional, compreendendo a proteção dos interesses vitais de
um Estado em todas as áreas. Nesse sentido, a dependência de recursos energéticos exerceu
uma influência significativa na formulação do conceito de segurança nacional. A necessidade
de garantir o acesso contínuo a recursos energéticos estratégicos, como o petróleo, levou os
Estados a considerarem a segurança energética como uma dimensão fundamental de sua
segurança nacional.

A dependência de recursos energéticos, e não apenas os de origem fósseis e minerais,


criou vulnerabilidades para os Estados. Interrupções no fornecimento, flutuações nos preços
ou o controle desses recursos por atores estrangeiros por vezes causam distúrbios diretos na
economia, na infraestrutura crítica e na capacidade de defesa de um Estado. Além disso, está
claro que a dependência de recursos energéticos também pode levar a rivalidades geopolíticas
e competições entre os Estados quando de sua escassez. Essas dinâmicas podem pesar na
formulação de estratégias de segurança nacional, incluindo a diversificação das fontes de
energia, a busca pela autossuficiência energética, assim como a proteção de rotas e meios de
transporte e comércio de energia (NINA, 2020).

O petróleo, conforme se viu acima, está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento


do conceito de segurança energética desde as origens de sua indústria. Contrariamente
ao que acontece no setor de carvão, as fontes de petróleo estão distribuídas de forma
irregular pelo planeta, sendo concentradas em número relativamente menor de países
produtores. Trata-se de uma commodity para a qual existe um mercado internacional
fortemente estruturado – os preços vigentes nas praças de Londres e Nova York
determinam os preços do petróleo de diferentes qualidades no mundo. (NINA, 2020,
42).

As interações entre recursos energéticos, segurança nacional, soberania e políticas de


defesa são complexas e interdependentes. A segurança energética é compreendida como um
componente crítico da segurança nacional, pois a falta de recursos energéticos tem o poder de
minar a estabilidade econômica e a capacidade de defesa de um Estado. Historicamente
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observa-se que a partir do século XX, os conflitos por petróleo, quando o mesmo tornou-se
essencial para a guerra, especialmente após a Primeira Guerra Mundial, se acirraram e
provocaram rivalidades entre Estados. Klare (2001), apresentou uma previsão de que já em
2020 metade das reservas em exploração teriam sido consumidas e que a demanda pacífica de
petróleo não poderá mais ser mantida pela indústria.

A dependência dos recursos energéticos e o anúncio de que a principal matéria prima


se tornará escassa em um futuro próximo, tem levado os Estados a adotarem políticas de
defesa voltadas para a proteção de infraestruturas críticas, a diversificação das fontes de
energia e a garantia do acesso a rotas de transporte e comércio de energia. Se olharmos para a
disputa por poder através de uma ótica Realista da política internacional, e levarmos em
consideração o que Morgenthau (2003) alertou a respeito do peso que tem os contextos
políticos e culturais para a formulação da política externa, é necessário refletir sobre o quanto
ambos os fatores definem as ações políticas em sentidos também de Defesa Nacional. A
segurança energética estando diretamente ligada aos interesses nacionais acabam por
influenciar as relações internacionais e as políticas externas, levando ao estabelecimento de
alianças estratégicas, rivalidades regionais e a conflitos internacionais. Essa reflexão é
corroborada quando se considera o

[...] petróleo como uma mercadoria intimamente entrelaçada com as estratégias


nacionais e com a política e o poder globais. Os campos de batalha da Primeira Guerra
Mundial estabeleceram a importância do petróleo como elemento do poder nacional
quando a máquina de combustão interna superou o cavalo e a locomotiva movida a
carvão. O petróleo foi fundamental para o curso e o resultado da Segunda Guerra
Mundial, tanto no Extremo Oriente quanto na Europa. (YERGIN, 1991, p. X, tradução
livre da autora).

Em contextos de escassez, o uso da força pode ser cada vez mais necessário. Para
Klare (2001), com o objetivo de evitar processos de consequências bélicas, seria importante
estimular a cooperação global, ele ainda propõe uma distribuição equânime unida a um
projeto mundial de pesquisa e desenvolvimento de recursos alternativos, sugerindo que essa
ação conjunta se apresenta como solução fundamental para a conservação de recursos
escassos do nosso planeta.

Porém, esforços conjuntos podem representar um comprometimento da ideia que se


faz sobre soberania. A concepção do conceito de soberania no século XXI está
intrinsecamente ligada à segurança nacional e à gestão de recursos energéticos. Os Estados
buscam garantir o controle sobre seus recursos energéticos e evitar a dependência excessiva
de atores estrangeiros, o que pode ameaçar sua autonomia e soberania energética. Além disso,
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no século XXI as políticas de defesa e segurança relacionadas a recursos energéticos podem


ser desafiadas por considerações ambientais, mudanças climáticas e necessidades de transição
para fontes renováveis de energia, traduzindo-se em uma dimensão adicional às interações
complexas entre recursos energéticos, segurança nacional, soberania e políticas de defesa
(NINA, 2020).

4. Soberania Energética e Segurança Energética

A soberania energética e a segurança energética desempenham um papel crucial na


política e nas relações internacionais, especialmente no contexto da dependência dos Estados
em relação aos recursos energéticos. Nesta seção, definiremos e analisaremos esses conceitos,
discutiremos a importância da autonomia e do controle sobre os recursos energéticos para a
segurança nacional e exploraremos os desafios e estratégias relacionados à busca pela
soberania energética e à garantia da segurança energética.

Soberania no contexto do presente trabalho é um termo que se restringe a um


determinado território, neste sentido a definição de soberania energética refere-se à
capacidade que um Estado possui em controlar suas fontes de energia e tomar decisões
autônomas em relação à exploração, produção, distribuição e consumo de energia (NINA,
2020). Envolve sua independência em relação a atores estrangeiros no que diz respeito à
energia e a capacidade de determinar suas políticas energéticas internas, sem interferências
externas e atendendo exclusivamente aos interesses próprios da nação.

Galvão (2008) afirma que os conflitos do século XXI são originários da busca por
regiões ricas em recursos energéticos e define segurança energética como a,

[...] capacidade de preservar os meios de fornecimento de energia e de proteger toda a


cadeia de suprimento de energia e de infra-estrutura energética, a partir de um
conjunto de medidas preventivas, regulatórias e afirmativas, com o intuito de
estabelecer um equilíbrio entre as necessidades de sobrevivência dos atores e as
expectativas de ordenamento do sistema (GALVÃO, 2008, p. X).

Assim, cada Estado precisa ser capaz de garantir o suprimento confiável e sustentável
de energia para atender às necessidades de sua população, economia e infraestrutura crítica.
Protegendo seu país contra interrupções no fornecimento de energia, flutuações nos preços e
ameaças à infraestrutura energética.

A autonomia e o controle sobre os recursos energéticos são de extrema importância


para a segurança nacional por várias razões, primeiro porque ao garantir sua autonomia
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estratégica, que é a capacidade de controlar os recursos energéticos essenciais, o Estado supre


suas necessidades energéticas sem se submeter à flutuações no mercado internacional ou
conflitos regionais. Outro ponto fundamental é o da estabilidade econômica, pois se houver
dependência excessiva de fontes externas de energia, um Estado pode ficar exposto a suas
próprias vulnerabilidades econômicas. Assim, ao alcançar autonomia energética, cada Estado
se torna capaz de reduzir a exposição a choques nos preços de energia, permitindo maior
estabilidade econômica e desenvolvimento sustentável.

A capacidade de defesa de um Estado aspira por uma garantia integral de proteção em


relação ao controle sobre os recursos energéticos nacionais, uma vez que a disponibilidade de
energia e seu fornecimento contínuo é essencial para operações militares, manutenção de
infraestrutura crítica e a certeza do funcionamento efetivo das forças armadas.

Yergin (1991) argumenta que o acesso e o controle sobre os recursos energéticos são
essenciais para a soberania e a independência de um país. A soberania energética contribui
para a soberania política e a independência de um Estado, sua capacidade de tomar decisões
autônomas em relação à energia fortalece a posição de um Estado nas negociações
internacionais e evita a dependência excessiva de atores externos e exemplifica com o caso do
México:

[...] quando o México olhou para Washington e para as empresas petrolíferas


americanas, viu a exploração estrangeira, a humilhação, a violação da soberania e o
enorme peso, pressão e poder do "imperialismo ianque". As petrolíferas, por seu lado,
sentiram-se cada vez mais vulneráveis e em perigo, o que conduziu à redução do
investimento e a um rápido recuo em termos de atividade e de pessoal. Os efeitos logo
se refletiram na produção, que despencou, e o México logo deixou de ser uma
potência petrolífera mundial. (YERGIN, 1991, pp. 229-223, tradução livre da autora).

Desde o final da Segunda Guerra Mundial, quando o petróleo substituiu o carvão


mineral como principal fonte de energia mundial, a indústria de petróleo transformou-se em
um dos eixos centrais da acumulação capitalista no século XX, na medida em que a expansão
da produção e redução de seus custos de produção foram promovendo o surgimento e a
formação de grandes conglomerados empresariais. Com o crescente desenvolvimento
industrial e urbanização, a demanda por energia aumentou exponencialmente, assim o
petróleo emergiu como uma fonte de alto rendimento que impulsionou o crescimento
econômico e a modernização das sociedades. Sua utilização se expandiu rapidamente em
várias áreas-chave, incluindo transporte, indústria, geração de eletricidade e produção de bens
e serviços.
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Com os atuais desafios e estratégias relacionados à busca pela soberania energética e à


garantia da segurança energética em que se pese, reservas, volume e continuidade da
produção e distribuição, é que o petróleo ainda se apresenta como elemento indispensável
para diversas dimensões da vida moderna e da economia global, devido à sua natureza
versátil, alta densidade energética e ampla gama de aplicações. Áreas consideradas
estratégicas para a segurança nacional, como energia, indústria, transporte, agricultura,
tecnologia, medicina e claro, o corpo militar de cada país e sua capacidade de locomoção e
mobilidade, como deslocamento de tropas e de equipamentos de guerra, dependem também
de políticas energéticas. O controle sobre rotas de transporte e o comércio de petróleo
tornou-se tornou um fator importante nas relações internacionais, porque é principalmente em
torno de corredores estratégicos de energia que emergem conflitos e rivalidades geopolíticas.
Um recente exemplo é o do gasoduto Nord Stream II, que em setembro de 2022, teve o duto
que abastecia a Europa com gás russo, gravemente avariado no Mar Báltico, e não há
evidências de que dessas explosões tenham sido acidentais (PETRONOTÍCIAS, 2023).

Uma estratégia-chave para alcançar a soberania e a segurança energética é a


diversificação das fontes de energia, isso envolve a busca por uma matriz energética que
inclua várias fontes, como petróleo, gás, carvão, energia nuclear e as opções renováveis, como
a fotovoltaica, a biomassa e eólica, por exemplo (NINA, 2020). Tasca (2018) afirma que
desde a Primeira Guerra Mundial há diversificação de parcerias e fontes de energia, reputando
à Churchill a importação de petróleo como substituto do carvão como força motriz da marinha
britânica.

Uma política energética bem-sucedida visa reduzir a dependência excessiva de uma


única fonte de energia, mitigando os riscos associados à interrupção do fornecimento de
energia devido a mudanças nos mercados internacionais causados por flutuações de demanda,
conflitos geopolíticos ou desastres naturais. Para tanto, investir na produção nacional de
energia, explorando recursos naturais próprios do território nacional, desenvolvendo
tecnologias e inovação na exploração e produção, têm feito parte dos esforços primordiais
para que diversos países encontrem soluções eficientes e de longo prazo.

Nesse sentido, a cooperação e as parcerias internacionais vêm sendo apontadas como


soluções fundamentais na conquista da soberania e segurança energética. Isso envolve
acordos bilaterais e multilaterais para garantir o suprimento de energia, compartilhar
tecnologias e recursos, e buscar soluções conjuntas para desafios energéticos. A América do
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Sul fornece dois exemplos importantes de cooperação regional em relação a projetos de


energia, como Itaipu e o gás boliviano. Itaipu, hidrelétrica localizada no Rio Paraná, na
fronteira entre o Brasil e o Paraguai, é uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo e é
considerada um exemplo de cooperação bem-sucedida entre países sul-americanos. A
construção e a operação de Itaipu envolveram uma parceria entre Brasil e Paraguai, que
compartilham os benefícios da geração de energia e da venda de excedentes para outros países
da região.

Assim também, o gás boliviano desempenha um papel importante na cooperação


energética na América do Sul. A Bolívia é um importante produtor de gás natural e tem
fornecido gás para países vizinhos, como Brasil e Argentina, por meio de acordos comerciais
bilaterais. Essa cooperação energética tem sido efetiva para todas as partes, tendo permitido
que a Bolívia diversifique suas exportações e forneça gás a países que se utilizam desse
recurso para sua boa manutenção e desenvolvimento, porém recentes estudos indicam que a
produção de gá boliviano diminuirá drasticamente, e que até 2030 o Brasil já não estará mais
consumindo seu gás devido sua extração estar se esgotando e, novos campos produtivos não
estarem sendo descobertos a tempo de substituir os antigos (WOOD MACKENZIE, 2023).
Esses exemplos de cooperação energética na América do Sul demonstram a importância da
integração regional e da colaboração entre países para aproveitar os recursos energéticos,
demonstrando que mesmo que um país não possua auto-suficiência, esse aspecto não precisa
representar necessariamente uma ameaça. A cooperação em projetos de energia pode trazer
benefícios econômicos, sociais e ambientais para todos os países envolvidos e servir de
exemplo para outras regiões do mundo que buscam fortalecer a segurança energética e
promover desenvolvimento (NINA, 2020).

A eficiência energética e a conservação desempenham um papel crucial nas políticas


de segurança energética, reduzindo a dependência de recursos e promovendo o uso
sustentável da energia. O planejamento estratégico também é fundamental para a busca da
soberania e segurança energética. Os Estados devem estabelecer políticas claras, desenvolver
infraestrutura adequada, promover a diversificação e a sustentabilidade e antecipar cenários
futuros. Estes temas merecem mais atenção e aprofundamento em estudos futuros,
principalmente porque,

[...] o petróleo, para além de ser uma importante fonte energética comercializada de
forma globalizada, é também um recurso político que normatiza diferentes arcabouços
institucionais de espectros estatais, regionais e supranacionais, bem como condiciona
aspectos do sistema internacional (PIRES; CASTELO BRANCO, 2018, p. 4)
15

As autoras citam Shaffer (apud PIRES; CASTELO BRANCO, 2018), para explicitar
que a mera disponibilidade dos recursos não garante a criação de Políticas de Segurança
Energética, e que os debates carecem de aprofundamento levando em consideração que a
energia impacta nos resultados de políticas externas, sendo uma potencial ferramenta de sua
ação. Sendo a soberania energética e a segurança energética conceitos inter relacionados e
essenciais para o desenvolvimento da segurança nacional, a conquista por autonomia e o
controle sobre os recursos energéticos desempenham um papel fundamental na garantia da
estabilidade econômica, na capacidade de defesa e da soberania dos Estados, mas são as
políticas que definirão soluções para diversificação de fontes, investimento em produção
nacional, cooperação internacional, eficiência energética e o planejamento estratégico.

Submeter-se a deliberações, internas ou externas que não assegurem os próprios


interesses, representa ameaça. Couto e Silva (1980), apresenta o conceito de Objetivos
Nacionais Permanentes (ONP) que compreende três condições que garantem a sobrevivência
de um grupo: autodeterminação, integração crescente e prosperidade (COUTO E SILVA,
1980, p. 252). Somado a isto, Aron (2002) indica que na área de Relações Internacionais o
poder reflete a capacidade de uma unidade política se impor aos demais.

5. Implicações nas Relações Internacionais.

Analisemos brevemente nesta seção as dinâmicas históricas e contemporâneas das


relações internacionais influenciadas pela descoberta e dependência de recursos energéticos.

Yergin (2014) destaca que os Estados que possuem reservas significativas de recursos
energéticos, como petróleo, gás natural ou carvão, têm maior capacidade de moldar suas
políticas internas e externas, podendo usar seus recursos energéticos como uma ferramenta de
negociação e influência em relações internacionais e com outras nações, garantindo sua
posição política e econômica.

Exploração das disputas territoriais, rivalidades geopolíticas e conflitos resultantes da


busca por auto suficiência e soberania energética obrigam o direito internacional a se adequar
constantemente, fazendo com que seja permanente objeto de estudo e debate para que as
regras que tratam e julgam as arbitrariedades nas relações comerciais, diplomáticas, políticas
entre Estados, e os desafios relacionados à energia e às questões geopolíticas, dêem conta de
acompanhar todas as mudanças a tempo de atender às complexidades e interconexões das
relações internacionais no cenário energético global. Muito embora tenhamos avançado nas
16

questões do Direito Internacional e estejamos melhor respaldados neste sentido, ainda há de


se levar em conta que geografia, dimensões, infraestrutura e recursos naturais são elementos
básicos da política e geopolítica, podendo ser fundamentos de conflitos internos e externos
(HAGE, 2006).

Nas discussões sobre as interações complexas entre o desenvolvimento dos conceitos


de nação e a formação do Estado, direito internacional e geopolítica, verifica-se a relevância
do conceito de interdependência, compreendido como o impacto e dependência mútua (NYE,
2002). Se a interdependência se apresenta como condição para a nossa sobrevivência no
sistema internacional (KEOHANE; NYE, 1989, p. 3) e os temas climáticos e ambientais se
apresentam como condições para nossa sobrevivência no planeta, teriam neste século as
relações internacionais e entre nações diante de si, o desafio de superar a ideia de nação e de
identidade nacional? Nesse sentido, Hobsbawm (1991) enfatiza o elemento da invenção e
engenharia social que compõe a formação das nações, considerando seu elemento natural
como um mito e Hall (2005), neste mesmo sentido, diz que, as identidades nacionais são
formadas e transformadas em processos de representação, nos dão pistas para o
enfrentamento, em níveis muito profundos, do que está posto diante de nós.

Avaliando do ponto de vista cronológico temos dois elementos, quais sejam, nossa
dependência aos insumos e derivados do petróleo e a ideia de nação que, apesar de parecerem
absolutamente naturais e portanto constituidor de um estado de coisas pregresso, são em
realidade relativamente recentes e aparentemente, estruturantes dos desafios que se impõem
neste início de século.
Conclusão
Em conclusão, este trabalho abordou a relação entre recursos energéticos,
desenvolvimento do conceito de nação e segurança nacional, ao abordar as implicações nas
relações internacionais, destacou-se as dinâmicas históricas e contemporâneas influenciadas
pelas descobertas e dependência de recursos energéticos. Explorou-se as disputas territoriais,
rivalidades geopolíticas e conflitos resultantes da busca por auto suficiência e soberania
energética, evidenciando a complexidade dessas interações no âmbito internacional.
Preocupamo-nos em explicitar a realidade de estarmos lidando neste século XXI, com a
crescente demanda por água, gás natural e petróleo, que acabam por ditar as regras de uma
competição a cada dia mais acirrada que intensifica a rivalidade mundial pelo acesso a
matérias-primas ao mesmo tempo que, as incertezas relativas à escassez colocam a segurança
internacional no centro dos debates público.
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Em termos de contribuições, o presente estudo se propôs a ponderar sobre a relação


possível entre recursos energéticos, desenvolvimento do conceito de nação e segurança
nacional. Com a intenção de refletir sobre a importância de uma estratégica dos recursos
energéticos na formulação de políticas de defesa, nas relações internacionais e no equilíbrio
de poder entre os Estados.

As mercadorias mais cruciais e influentes do cenário global, moldaram a política


econômica internacional em vários níveis, sua crescente importância como fonte de energia
essencial tem sido uma das principais forças motrizes por trás das estratégias nacionais e das
relações internacionais nas últimas décadas,

Para pesquisas futuras, importa explorar mais a fundo as implicações das mudanças
climáticas e a transição para fontes de energia mais sustentáveis na dinâmica das relações
internacionais. Além disso, investigar as consequências das novas tecnologias e inovações no
setor energético, como as energias renováveis e a digitalização da energia.

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