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Relações Internacionais - Faculdades Metropolitanas Unidas
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Introdução
A relação entre o desenvolvimento do conceito de nação, a descoberta de recursos
energéticos e a evolução da ideia de segurança nacional tem desempenhado um papel
fundamental na moldagem das dinâmicas históricas e contemporâneas das relações
internacionais. É possível notar que desde o surgimento da concepção de nação, durante o
Iluminismo, até o estabelecimento de estratégias de segurança nacional no século XX, a
descoberta e a dependência de recursos energéticos, em especial os de origens fósseis, têm
forjado as estruturas políticas, econômicas e sociais dos Estados.
No final do século XVIII, o mundo testemunhou uma revolução sem precedentes com
a descoberta e a exploração dos combustíveis fósseis, como o carvão mineral, que
impulsionou a produção industrial e transformou a economia global. Logo em seguida, com a
descoberta e a exploração do petróleo, observou-se que o papel desempenhado por esses
recursos se tornou ainda mais relevante, não apenas como fonte de energia, mas também
como fator determinante nas políticas internacionais e nas rivalidades geopolíticas.
O impacto das descobertas de carvão mineral e petróleo foi profundo nos aspectos
econômicos, industriais e políticos dos Estados. A exploração desses recursos energéticos
impulsionou o crescimento econômico com a criação de novas empresas, indústrias, produtos,
e consequentemente, empregos. As indústrias que dependiam desses recursos, como a
indústria siderúrgica, têxtil e química, tiveram crescimentos exponenciais e os Estados que
possuíam reservas significativas de carvão e petróleo se tornaram poderosas economias,
capazes de atrair investimentos e gerar riqueza (YERGIN, 1991).
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das ricas reservas de petróleo, sendo uma das principais causas de conflito interno no país
desde sua independência em 2011 (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS, 2022). Também
na Nigéria, há disputas em torno do controle dos recursos energéticos na região do Delta do
Níger, onde grupos armados insurgentes têm realizado ataques há mais de trinta anos a
instalações petrolíferas e enfrentado as forças de segurança do governo (OLIVEIRA, 2007).
Já o icônico exemplo dos conflitos no Oriente Médio, uma das mais ricas regiões em petróleo
do mundo, onde quase 70% de todo petróleo processado do mundo é produzido, ilustra
claramente os muitos e longos conflitos que têm motivações relacionadas ao controle desses
recursos.
Esses são apenas alguns exemplos das muitas das disputas territoriais e rivalidades
geopolíticas motivadas pelo acesso ao petróleo que causaram conflitos regionais e
intervenções militares em diferentes partes do mundo. O petróleo é uma commodity
estratégica e, como tal, seu controle e acesso têm sido frequentemente fonte de tensões,
conflitos e disputas no cenário internacional.
guerras ideológicas. Após a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria ampliou ainda mais o
conceito de segurança nacional e a bipolaridade entre os Estados Unidos e a União Soviética
levou à formação de alianças militares, como a OTAN e o Pacto de Varsóvia, promovendo a
chamada “corrida armamentista”, que deu foco às questões de segurança em larga escala,
incluindo a dissuasão nuclear.
Com o tempo, o conceito de segurança nacional evoluiu para garantir a proteção não
apenas contra ameaças militares, mas também contra outros aspectos, como ameaças
econômicas, ambientais, cibernéticas e sociais. A segurança nacional passou a ser vista como
um conceito amplo e multidimensional, compreendendo a proteção dos interesses vitais de
um Estado em todas as áreas. Nesse sentido, a dependência de recursos energéticos exerceu
uma influência significativa na formulação do conceito de segurança nacional. A necessidade
de garantir o acesso contínuo a recursos energéticos estratégicos, como o petróleo, levou os
Estados a considerarem a segurança energética como uma dimensão fundamental de sua
segurança nacional.
observa-se que a partir do século XX, os conflitos por petróleo, quando o mesmo tornou-se
essencial para a guerra, especialmente após a Primeira Guerra Mundial, se acirraram e
provocaram rivalidades entre Estados. Klare (2001), apresentou uma previsão de que já em
2020 metade das reservas em exploração teriam sido consumidas e que a demanda pacífica de
petróleo não poderá mais ser mantida pela indústria.
Em contextos de escassez, o uso da força pode ser cada vez mais necessário. Para
Klare (2001), com o objetivo de evitar processos de consequências bélicas, seria importante
estimular a cooperação global, ele ainda propõe uma distribuição equânime unida a um
projeto mundial de pesquisa e desenvolvimento de recursos alternativos, sugerindo que essa
ação conjunta se apresenta como solução fundamental para a conservação de recursos
escassos do nosso planeta.
Galvão (2008) afirma que os conflitos do século XXI são originários da busca por
regiões ricas em recursos energéticos e define segurança energética como a,
Assim, cada Estado precisa ser capaz de garantir o suprimento confiável e sustentável
de energia para atender às necessidades de sua população, economia e infraestrutura crítica.
Protegendo seu país contra interrupções no fornecimento de energia, flutuações nos preços e
ameaças à infraestrutura energética.
Yergin (1991) argumenta que o acesso e o controle sobre os recursos energéticos são
essenciais para a soberania e a independência de um país. A soberania energética contribui
para a soberania política e a independência de um Estado, sua capacidade de tomar decisões
autônomas em relação à energia fortalece a posição de um Estado nas negociações
internacionais e evita a dependência excessiva de atores externos e exemplifica com o caso do
México:
[...] o petróleo, para além de ser uma importante fonte energética comercializada de
forma globalizada, é também um recurso político que normatiza diferentes arcabouços
institucionais de espectros estatais, regionais e supranacionais, bem como condiciona
aspectos do sistema internacional (PIRES; CASTELO BRANCO, 2018, p. 4)
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As autoras citam Shaffer (apud PIRES; CASTELO BRANCO, 2018), para explicitar
que a mera disponibilidade dos recursos não garante a criação de Políticas de Segurança
Energética, e que os debates carecem de aprofundamento levando em consideração que a
energia impacta nos resultados de políticas externas, sendo uma potencial ferramenta de sua
ação. Sendo a soberania energética e a segurança energética conceitos inter relacionados e
essenciais para o desenvolvimento da segurança nacional, a conquista por autonomia e o
controle sobre os recursos energéticos desempenham um papel fundamental na garantia da
estabilidade econômica, na capacidade de defesa e da soberania dos Estados, mas são as
políticas que definirão soluções para diversificação de fontes, investimento em produção
nacional, cooperação internacional, eficiência energética e o planejamento estratégico.
Yergin (2014) destaca que os Estados que possuem reservas significativas de recursos
energéticos, como petróleo, gás natural ou carvão, têm maior capacidade de moldar suas
políticas internas e externas, podendo usar seus recursos energéticos como uma ferramenta de
negociação e influência em relações internacionais e com outras nações, garantindo sua
posição política e econômica.
Avaliando do ponto de vista cronológico temos dois elementos, quais sejam, nossa
dependência aos insumos e derivados do petróleo e a ideia de nação que, apesar de parecerem
absolutamente naturais e portanto constituidor de um estado de coisas pregresso, são em
realidade relativamente recentes e aparentemente, estruturantes dos desafios que se impõem
neste início de século.
Conclusão
Em conclusão, este trabalho abordou a relação entre recursos energéticos,
desenvolvimento do conceito de nação e segurança nacional, ao abordar as implicações nas
relações internacionais, destacou-se as dinâmicas históricas e contemporâneas influenciadas
pelas descobertas e dependência de recursos energéticos. Explorou-se as disputas territoriais,
rivalidades geopolíticas e conflitos resultantes da busca por auto suficiência e soberania
energética, evidenciando a complexidade dessas interações no âmbito internacional.
Preocupamo-nos em explicitar a realidade de estarmos lidando neste século XXI, com a
crescente demanda por água, gás natural e petróleo, que acabam por ditar as regras de uma
competição a cada dia mais acirrada que intensifica a rivalidade mundial pelo acesso a
matérias-primas ao mesmo tempo que, as incertezas relativas à escassez colocam a segurança
internacional no centro dos debates público.
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Para pesquisas futuras, importa explorar mais a fundo as implicações das mudanças
climáticas e a transição para fontes de energia mais sustentáveis na dinâmica das relações
internacionais. Além disso, investigar as consequências das novas tecnologias e inovações no
setor energético, como as energias renováveis e a digitalização da energia.
Referências Bibliográficas
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: Reflexões sobre a origem e a difusão do
nacionalismo. Tradução: Denise Bottman. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
WOOD MACKENZIE. Bolivian gas production to decline faster than expected, exports to
Brazil and Argentina to cease by 2030.
Disponível em:
https://www.woodmac.com/press-releases/bolivian-gas-production-to-decline-faster-than-exp
ected-exports-to-brazil-and-argentina-to-cease-by-20303/. Acesso em: 20 de julho de 2023.
YERGIN, Daniel. The Prize: The Epic Quest for Oil, Money, and Power,1991.