Você está na página 1de 49

Machine Translated by Google

Machine Translated by Google

SEQUÊNCIA – ESTUDOS JURÍDICOS E POLÍTICOS é uma publicação temática e de periodicidade


quadrimestral, editada pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito
da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

SEQUÊNCIA – ESTUDOS JURÍDICOS E POLÍTICOS é uma publicação temática, impressa quadrimestralmente ,


editada pelo Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

Versão eletrônica: http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia

Editora-Chefe: Norma Sueli Padilha

Editor Associado: José Sérgio da Silva Cristóvam

Editores Adjuntos: Priscilla Camargo Santos, Thanderson Pereira de Sousa

A publicação é indexada nas seguintes bases de dados e diretórios/


A Publicação está indexada nas seguintes bases de dados e diretórios:

Base OJS OJS


PKP básico PCP

CCN (Catálogo Coletivo Nacional) Portal de Periódicos UFSC


Rede discada Portal do SEER

DOAJ (Diretório de Periódicos de Acesso Aberto) ProQuest


EBSCOhost SciELO

Genâmica Journalseek Sherpa/Romeu


ICAP (Indexação Compartilhada de Artigos de Periódicos) Sumarios.org
Latindex ULRICH
Viva! vLex

Ficha catalográfica

Seqüência: Estudos jurídicos e políticos. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de


Pós-Graduação em Direito. n.1 (janeiro 1980)-.
Florianópolis: Fundação José Boiteux. 1980-.

Publicação contínua
Resumo em português e inglês
Versão impressa ISSN 0101-9562
Versão on-line ISSN 2177-7055

1. Ciência jurídica. 2. Teoria política. 3. Filosofia do direito. 4. Periódicos. I. Universidade


Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Direito

CDU 34(05)

Catalogação na fonte por: João Oscar do Espírito Santo CRB 14/849

Estudos

SEQUÊNCIA
PUBLICAÇÃO

jurídicos
e políticos

93 Publicação do
Programa de Pós-Graduação em Direito da UFSC
Ano XLIII
Volume 44
Machine Translated by Google

e92064
ARTIGO ORIGINAL
https://doi.org/10.5007/2177-7055.2023.e92064

Estudos Críticos de Branquitude e Estudos Internacionais


Relações: disputando narrativas e
desafiando estruturas epidermalizadas de poder
no ensino, na pesquisa e na extensão1

Os Estudos Críticos da Branquitude e das Relações


Internacionais: disputando narrativas e desafiando estruturas
epidérmicas de poder em ensino, pesquisa e extensão

Karine de Souza Silva¹


¹Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil.

Resumo: Este artigo pretende demonstrar que os Estudos Críticos da Branquitude (CWS)
podem fornecer ferramentas úteis para interpretar relações epidermalizadas de poder no
sistema internacional e para desafiar as dinâmicas raciais que atravessam as dimensões de
ensino, pesquisa e extensão no campo das Relações Internacionais. .
Este estudo mostra que os SAC têm potencial para apoiar a implementação das Leis
10.639/03 e 11.645/2008, que exigem a inclusão, de forma transcurricular , da educação
sobre relações étnico-raciais nos currículos do ensino superior no Brasil. Neste artigo,
apresento uma introdução ao campo do PSC, partindo principalmente da contribuição
afrofeminista brasileira in pretuguês de Cida Bento, com seu conceito de pactos narcisistas
de branquitude. Metodologicamente, este artigo faz uso de uma abordagem decolonial,
baseada em técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. Este artigo sublinha a
importância de nomear e historicizar o poder da branquitude, para compreender como ela se
hegemoniza no espaço e no tempo, e através de que meios o faz. É um estudo novo e
original, que

1
Esta pesquisa foi realizada com recursos do CNPq e FAPESC. Agradeço aos
membros da rede 'Ensino Pesquisa e Extensão em RI', que leram o texto e
comentaram, bem como aos meus amigos Miguel Borba de Sá e Paulo Roberto
Ferreira pelas sugestões.

Direito autoral e licença de uso: Este artigo está sob uma licença Creative Commons.
Com essa licença, você pode compartilhar, adaptar, para qualquer fim, desde que atribua 1
a autoria da obra e fornecer um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

inova ao introduzir epistemologias negras e afirmar sua aplicabilidade no ensino, na


pesquisa e na extensão, abrindo caminhos para desestabilizar as vigas de
sustentação coloniais do campo das RI.

Palavras-chave: Estudos Críticos da Branquitude. Relações Internacionais. Racismo. Ensino, pesquisa


e extensão.

Resumo: O objetivo do artigo é mostrar que os Estudos Críticos da Branquitude


(ECB) podem aportar ferramentas úteis para interpretar as relações epidermizadas
de poder no sistema internacional, e para desafiar as dinâmicas raciais que atra-
vessam as dimensões do ensino, da pesquisa e extensão do campo de Relações
Internacionais (RI). Este estudo mostra que o BCE tem o potencial de apoio na
implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/2008, que estabelecem a inclusão, de
forma transversalizada, da educação para as relações étnico-raciais nos
componentes curriculares do ensino superior no Brasil. No presente texto, mobilizo
primordialmente a contribuição afro-feminista brasileira em pretuguês de Cida Bento,
com seu conceito de pactos narcísicos da branquitude. O problema deste artigo
refere-se ao poder da branquitude, e à sua hegemonização no tempo e no espaço,
e nos meios do seu exercício na academia e na política internacional.
Metodologicamente, a pesquisa se utiliza de abordagem decolonial, apoiando-se
nas técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. Trata-se de um estudo inédito
e original, que inova ao introduzir epistemologias negras e atestar a sua aplicabilidade
em termos de ensino, pesquisa e extensão, abrindo caminhos para a desestabilização
das vigas de sustentação colonial no campo das Relações Internacionais.
Palavras-chave: Estudos Críticos da Branquitude. Relações Internacionais.
Racismo. Ensino, pesquisa e extensão.

1 INTRODUÇÃO2

As hierarquias raciais fazem parte da ontologia das Relações Internacionais (RI)


e, por consequência, projetam-se com força no plano epistemológico, ou seja, nos
processos de produção e reprodução do conhecimento na área. Portanto, neste campo do
conhecimento, ocupado como está com a dinâmica do poder no

2
Dedico este texto a Jéser Abílio de Souza e aos estudantes negros e indígenas de Direito e
Relações Internacionais, para que sirva de ferramenta epistêmica na luta pelo direito à educação
antirracista.

2 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

sistema internacional, é imperativo que o racismo e a branquitude sejam


reconhecidos como categorias de análise, uma vez que o racismo é uma relação de poder.
Análises e conhecimentos relativos à esfera internacional são
produzidos há séculos. A academia, no entanto, organizaria o conteúdo
em disciplinas apenas na primeira metade do século XX , coincidindo
com o auge do colonialismo e a disseminação da ideologia racista. Não
é surpreendente mencionar que a agenda das RI foi dirigida para
satisfazer os interesses dos Estados Unidos3, controlados pelo
patriarcado capitalista branco, e, portanto, destinada à construção de
narrativas narcisistas e civilizatórias que encenaram lutas gloriosas
pelo poder e pelas suas vitórias fálicas. Sob o pretexto de universalidade
e neutralidade, as principais discursividades excluíram mais da metade
da população mundial, além de naturalizarem uma série de crimes,
incluindo invasão de territórios e subjugação violenta de povos
classificados como indígenas, negros ou asiáticos, operando com base
em intrincados processos de racialização e generização. Nessa lógica,
os componentes disciplinares constituíram um dispositivo de manutenção
do poder e dos privilégios da branquitude no cenário internacional, visto
que a branquitude é o principal agente na formulação e circulação de
suas próprias teses, bem como na aplicação de suas normas e poder
estratégias na etapa internacional de operações.
Este artigo pretende demonstrar que os Estudos Críticos da
Branquitude (CWS) podem fornecer ferramentas úteis para interpretar
relações de poder epidermalizadas4 no sistema internacional e para
desafiar as dinâmicas raciais que atravessam as dimensões de ensino,
pesquisa e extensão no campo das Relações Internacionais. . Este
estudo mostra que os CWS têm potencial para apoiar a implementação de Leis

3
Até os conservadores reconheceram isso. Nesse sentido, ver: HOFFMANN, 1977; WALT, 2011.

4
Utilizo o termo epidermalização com base nos princípios fanonianos sobre a epidermalização de
posições e espaços sociais, pois estes são marcados pela divisão racial do trabalho, que indica o
espaço que alguém ocupa com base nas dimensões fenotípicas e culturais.

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 3


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

10.639/03 e 11.645/2008, que exigem a inclusão, de forma


transcurricular, da educação sobre relações étnico-raciais nos
currículos do ensino superior no Brasil. (Brasil, 2003, 2004, 2008)
Neste artigo, apresento uma introdução ao campo do PSC, partindo
principalmente da contribuição afrofeminista brasileira in pretuguês5 de
Cida Bento, com seu conceito de pactos narcisistas de branquitude. Ela
não escreveu sobre o contexto internacional, mas seus argumentos
permitem demonstrar a existência de um ethos de branquitude na política
internacional, visto que a branquitude atravessa a construção e a estrutura
do campo. A ontologia racial das RI produz subjetividades e posicionalidades
hierarquizadas no contexto das relações de poder. A cegueira conveniente
e o silêncio cúmplice da branquitude, tal como as suas alianças, servem à
epidermalização do poder e à preservação de vantagens para uma elite
transnacional.
Embora as teorias hegemónicas negligenciem a importância do
racismo nas relações de poder dentro do sistema, existe uma tradição de
estudos afiliados a epistemes críticas, como os estudos pós-coloniais e
descoloniais, que têm dado a devida ênfase a questões como o
colonialismo . , descolonização, eurocentrismo, universalismo, patriarcado,
missões civilizatórias, relações desiguais de poder, imperialismo, herança
colonial, etc., muitos dos quais serão mencionados aqui. Os Estudos
Críticos sobre a Branquitude, no entanto, avançam alguns termos que
serão explorados ao longo do texto. Ao concentrarem-se no modus
operandi do sistema de poder centrado no branco, promoveram uma
viragem metodológica e epistémica, ao tornarem possível, por exemplo,
racializar a ocidentalização, o eurocentrismo, o imperialismo, o patriarcado e a política inte
O apagamento da brancura como um dos elementos da modernidade

o poder em suas modulações econômicas, políticas e epistêmicas, bem


como a ausência de estudos sobre os pactos de branquitude nas RI
corroboram a naturalização das opressões decorrentes das hierarquias raciais

5
Pretuguês é um termo cunhado por Lélia Gonzalez que se refere à africanização da
língua falada no Brasil, numa combinação de preto (preto) e português (português).

4 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

e naturalizar um esquema de identidades fixas, aprisionadas e essencializadas


fabricadas pelo colonialismo, ao mesmo tempo que isenta os grupos brancos da
responsabilidade pela reparação histórica.
A abordagem deste artigo sobre o tema surgiu após um artigo anterior em
que identifiquei o silêncio e a cegueira seletiva do RI no Brasil

sobre a hegemonia branca e os fundamentos raciais das RI (Silva, K., 2021);


Propus assim a introdução da branquitude como categoria analítica. Certas
questões e confrontos ficaram para um momento posterior. Seria necessário dar
conta da instrumentalidade do silêncio e da cegueira seletiva. Da mesma forma,
tornou-se imperativo nomear e historicizar o poder da branquitude, para
compreender como ela se hegemoniza no espaço e no tempo, e através de que
meios o faz . Para cumprir esta tarefa, decidi colocar o CWS em diálogo com as
RI, mostrando como o primeiro pode ser incorporado no espectro epistemológico
deste último, para efeitos de leitura de cenários e de aumento de tensões contra
as estruturas de poder.

A primeira seção apresenta uma visão geral do campo dos Estudos


Críticos da Branquitude; a segunda seção enfatiza a contribuição afro-brasileira
para isso, especialmente através de Cida Bento, destacando algumas teses que
podem potencialmente ser aplicadas ao campo das RI; a terceira seção demonstra
como a separabilidade, enquanto pilar ontoepistemológico da modernidade,
produz discursos que ocupam os espaços de poder da branquitude – e a
subalternização de seus “outros” raciais6 – que são

mantida através de pactos narcísicos de autoproteção e autoajuda; além disso,


mostra como essas lógicas complexas atravessam todo o currículo básico de RI.
As discussões aqui apresentadas combinam dimensões epistêmicas estruturais
institucionais, colocando as instituições acadêmicas brasileiras em diálogo com
aspectos da política internacional.
Este estudo tem origem em uma indisciplina em relação aos brancos
ontologia racial centrada nas RI e promove uma abordagem indisciplinar

6
Escrevo “outro” entre parênteses porque esse “outro” moderno foi construído como o antagonista de
um “eu” cis-hetero-masculino superiorizado.

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 5


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

inversão metodológica, conforme proposto por CWS. Abordar o campo em questão é


uma forma de insubmissão à ordem mundial colonial, estruturada pelo patriarcado e
pelo racismo. A disciplina deve ser colocada numa posição de escuta, enquanto a
lógica racial dual branca (Mbembe, 2018a) que racializou e sequestrou grande parte
da humanidade da população global para dominar o mundo deve ser tornada visível.

Trata-se de um estudo inédito e original, que inova ao apresentar as epistemologias


negras e afirmar sua aplicabilidade no ensino, na pesquisa e na extensão, abrindo
caminhos para desestabilizar as vigas de sustentação coloniais deste campo.

2 O CAMPO DOS ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE

O sociólogo americano WEB Du Bois é o precursor do que seria chamado de


Estudos Críticos da Branquitude nos Estados Unidos a partir de

década de 1990 em diante. O ensaio intitulado The Souls of White Folk, publicado em
1920, foi responsável por promover uma verdadeira revolução epistêmica.
No texto, a autora é pioneira no uso do termo “branquitude” e analisa a identidade
racial branca através do olhar de um intelectual negro.
Abro parênteses para argumentar que Du Bois foi um pensador avant la lettre
não apenas para a área de CWS, mas também para RI. No ensaio de 1920, ele revela
de forma pioneira as dimensões raciais da Primeira Guerra Mundial em termos de
política internacional. Ele afirma que a supremacia branca está por trás da pilhagem
de recursos e da exploração do trabalho dos povos colonizados, racializados e
animalizados. Para ele, a “competição pelo trabalho dos amarelos, pardos e negros
[...] foi a causa da Guerra Mundial”. Ele reconhece que “ sem dúvida existiram outras
causas contribuintes , mas eram subsidiárias e subordinadas a esta vasta busca pela
riqueza e pelo trabalho do mundo sombrio” (Du Bois, 1920, p. 933). Ele considera
ainda que a guerra foi resultado principalmente da “luta ciumenta e avarenta pela
maior participação na exploração das raças mais sombrias”. Em nome da “conquista
[…] para o comércio e

6 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

degradação […] a Europa cingiu-se a um custo terrível para a guerra”7 .


Delineando a associação entre capitalismo, colonialismo, trabalho e raça, ele conclui
que “as colônias são lugares onde os 'negros' são baratos e a terra é rica” (Du Bois,
1920, p.933). Na verdade, Du Bois já havia proposto tal associação antes de Lênin,
apesar de não ser mencionada em textos acadêmicos da área (Henderson, 2013).

Du Bois argumenta que existem causas subsidiárias para a guerra, mas


estas estão subordinadas a disputas entre os próprios europeus “pela riqueza do
mundo sombrio”. De acordo com a sua lógica, a supremacia branca surge no pano
de fundo da expansão colonial. Isto leva-o a perguntar: “quantos de nós hoje
compreendemos plenamente a actual teoria da expansão colonial, da relação da
Europa que é branca, com o mundo que é preto, castanho e amarelo?” Ele questiona
ainda – também de forma pioneira – o salvadorismo branco, afirmando que a Europa
branca reivindica o dever de “dividir o mundo mais sombrio e administrá-lo para o
bem da Europa”, como se os não-brancos fossem “bestas de carga para os brancos”.
(Du Bois, 1920, p. 931).

O sociólogo provoca neste texto um verdadeiro cataclismo por dois motivos


principais: primeiro, porque desafia as narrativas dominantes da época, que
associavam bondade e humanidade apenas aos brancos.
Ele denuncia as crueldades, atrocidades, assassinatos cometidos por brancos contra
negros, desvelando a fachada de superioridade que se apoiava na ideia de
superioridade racial branca. Ele reconhece que as dinâmicas raciais foram inscritas
na política internacional a tal ponto que as relações internacionais poderiam ser
mais precisamente denominadas “relações inter-raciais”.
(Du Bois, 1915; Henderson, 2013). Em segundo lugar, ele lança luz de forma pioneira
sobre as verdadeiras causas da guerra, levantando uma questão que esses autores

7
Segundo ele, “a causa da guerra é a preparação para a guerra; e de tudo o que a Europa fez num
século, não há nada que se iguale em energia, pensamento e tempo à sua preparação para o
assassinato em massa. A única causa adequada desta preparação foi conquista e conquista, não na
Europa, mas principalmente entre os povos mais sombrios da Ásia e da África” (DU BOIS, 1920).

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 7


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

considerados clássicos das RI, como Edward Carr, Hanz Morghen-tau, Norman
Angel, Raimond Aron, ocultados e ignorados em seus estudos sobre guerra e paz,
sobre os fatores que desencadearam a guerra e os mecanismos para obstruí-la.
Obviamente, o conceito de pactos narcísicos desenvolvido por Cida Bento décadas
depois explica os motivos desse descaso na literatura. Levando isso em conta,
considero Du Bois um intérprete da esfera internacional, um autor que deveria estar
entre os autores clássicos das RI e, portanto, que suas obras deveriam ser incluídas
no conjunto de textos fundadores deste campo.

Em 1935, outro texto de Du Bois acrescenta proporção ao estudo do


componente racial branco, Black Reconstruction in America (1860-
1890). No texto, Du Bois introduz o conceito de branquitude como passaporte
simbólico e material que facilita a mobilidade social nas sociedades de classes, algo
negligenciado pelo chamado marxismo clássico (Du Bois, 1935).

Em 1952, o psiquiatra martinicano Frantz Fanon lançou um livro aclamado


como um marco na história dos estudos sobre a branquitude. Pele Negra, Máscaras
Brancas é um exame das dimensões psicopatológicas da tríade colonização-racismo-
guerra conduzida a partir da perspectiva do colonizado. No livro, ele formula o
conceito de alienação colonial como um distúrbio que afeta tanto as subjetividades
brancas quanto as negras, impactando a dialética de reconhecimento eu-outro
(Faustino, 2020; Fanon, 2008). Ele argumenta que a produção da inferioridade negra
está diretamente relacionada à superiorização dos brancos, pois “o racista cria o
inferiorizado” (Fanon, 2008, p. 90, itálico no original). Segundo o autor, “aquilo que se
chama alma negra é frequentemente uma construção feita pelos brancos” (p. 30),
mas quando estes constroem o “outro”, eles também constroem a si mesmos (Fanon,
2008; Cardoso, 2014).

O Colonizador e o Colonizado, escrito em 1957 pelo escritor tunisiano Albert


Memmi, também ocupa lugar de destaque na historiografia dos escritos sobre a
branquitude. Ele considera a construção da outra dualidade hierarquizada e
reducionista como parte da ideologia colonial e propõe uma análise mais precisa do
papel do colonizador

8 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

na dialética opressor x oprimido. Isto é inovador porque as análises


teóricas anteriores da raça tendiam a olhar unilateralmente para os
oprimidos, negligenciando o lugar do opressor; isto sugeria que a
opressão era um problema dos oprimidos, sobre o qual o opressor
não teria responsabilidade, e que as situações de inferioridade
constituiriam, portanto, uma condição natural, não sujeita a questionamento.
Mesmo tendo teorizado a relação colonizador-colonizado e não “branco x
não branco”, Memmi é um pensador fundamental para refletir sobre essa
dialética (Memmi, 1985; Cardoso, 2014).
Na década de 1950 também começaram as discussões no Brasil
sobre o estudo dos brancos, visto que já existia uma tradição de investigações
feitas por brancos sobre os negros, reduzindo estes últimos a meros objetos
de pesquisa, como os estudos de Nina Rodrigues e Silvio Romero, entre outros.
Abdias do Nascimento (2019) credita a Fernando Góes a originalidade ao
apresentar a ideia de promover estudos sobre os brancos, iniciativa, segundo
ele, posteriormente retomada por Guerreiro Ramos, e também enfatizada
pelo ativista negro Aguinaldo de Oliveira Camargo no Congresso do Negro
Brasileiro , realizado no Rio de Janeiro em 1950. O próprio Nascimento
demonstrou interesse em pesquisar o que motivou “os europeus a escravizar
outros seres humanos, com um sadismo brutal sem precedentes na história”,
e em examinar concretamente o que levou o opressor a “justificam suas
ações de assassinato, tortura, pilhagem, roubo e estupro com fantasias
absurdas chamadas, por exemplo, de 'fardo do homem branco', 'selvagens
civilizadores', 'cristianização de pagãos', 'democracia racial'” (Nascimento,
2019, p. 293).
A ideologia da branquitude aparece de forma assistematizada nos
escritos de alguns autores brasileiros, nomeadamente Gilberto Freyre (2005)
e Florestan Fernandes (1978). Contudo, o documento considerado inaugural
e mais potente é o capítulo intitulado 'Patologia Social dos “brancos”
brasileiros' que o sociólogo Alberto Guerreiro Ramos incluiu em seu livro
Introdução Crítica à Sociologia Brasileira em 1957. Tal texto é um marco nos
estudos sobre os brancos. no Brasil, pois provoca uma verdadeira inversão
metodológica ao propor a ideia de “branco-como-tópico”. De

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 9


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

A partir de Guerreiro Ramos, o “objeto” é reumanizado, posicionando-se


como produtor e sujeito do conhecimento, como cientista, e o papel branco
é alterado para figurar como tema de pesquisa. O sociólogo escreve: “Os negros
-as-topic é uma coisa, Black na vida outra. Este último é “multidimensional ,
não passível de imobilização” (Guerreiro Ramos, 1957).
Lourenço Cardoso afirma que Guerreiro Ramos foi pioneiro por ter sido o
primeiro autor no mundo a levantar o tema do “branco como tema” (Cardoso,
2014). Nesse sentido, Guerreiro Ramos sugere revisitar abordagens
epistêmicas das relações raciais porque elas se configuram como uma
“sociologia do Negro” (Ramos, 1995, p. 171), dado que apenas os Negros
são destacados como um problema a ser unidirecional e não- examinado
relacionalmente. Cardoso atualiza a expressão como “epistemologia do
negro” (Cardoso, 2018b), considerando que tais abordagens problemáticas
não se limitam à sociologia, mas são evidentes em diversas áreas do
conhecimento (Cardoso, 2014; Bento, 2002; Ramos, 1995). .

De facto, em muitos países, especialmente nos Estados Unidos,


foram publicados vários trabalhos ao longo do século XX, em diversas áreas
do conhecimento, denunciando a supremacia branca, o funcionamento do
racismo institucional e sistémico, e enfatizando os aspectos históricos,
culturais , psicológicos, sociológicos. , etc. dimensões da racialidade branca,
bem como a construção social da ideologia da branquitude como produtora
de desigualdades e fator determinante das hierarquias socioeconômicas e
raciais. Entre os intelectuais mais renomados, James Baldwin (1967), Peggy
Macintosh (1988), Theodore W. Allen (1994), Vincent Crapanzano (1985),
David Roediger (1991), Alexander Saxton (1990), Toni Morrison (1992),
Destacam-se Ruth Frankenberg (1999, 2004), Henry Giroux (1997) e Gloria
Wekker (2016). No entanto, a década de 1990 é considerada um divisor de
águas, com os estudos das ciências humanas e sociais sobre raça e racismo
desviando sua atenção das margens, da alteridade racializada, para o
centro, ou seja, para o lugar social dos brancos e de uma identidade que
atuou como norma e padrão para os seres humanos no processo de
construção da ideia

10 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

de raça. Na década de noventa, então, os Estudos Críticos da Branquitude ganham


nome nos Estados Unidos, ganham força e se estabelecem como um campo
interdisciplinar ao mesmo tempo em que se expandem para países como Reino Unido,
Colômbia, África do Sul, Brasil e Austrália, etc. a partir deste momento, foram criados
inúmeros cursos e laboratórios de pesquisa especializados em promover discussões
sobre o racismo e a produção da branquitude (Bento, 2022; Conceição, 2020).

Ao deslocar a atenção crítica das margens para o centro, tornou-se possível


perceber, nomear e denunciar as dimensões micro e macro que atravessam a
autoconstituição, os locais sociais de hegemonia e subalternização, bem como as
estratégias de tomada e manutenção do poder. Dito isto, é importante destacar que a
branquitude não é igual à subjetividade racial branca. Os CWS não se preocupam
com o estudo dos indivíduos brancos, mas com o seu lugar social na estrutura do
poder. Não existe, portanto, uma biologia branca que induza este grupo a idealizar um
sistema de dominação racial.

Tal concepção é essencialista, simplificando a complexidade da questão,


negligenciando a diversidade e a multiplicidade das pessoas brancas e, assim,
colocando ainda mais obstáculos à desconstrução do racismo. Du Bois (1999) ensina
que a posição racial definida pela linha de cor demonstra os confrontos com os quais
as pessoas devem lidar, e que as suas experiências vividas moldam, mas não
necessariamente determinam, as suas respostas, bem como as suas formas de ler o
mundo.
É por isso que existem brancos racistas e anti-racistas. E os CWS não se preocupam com o estudo

do indivíduo branco, mas com o lugar social desse indivíduo na estrutura de poder. Além disso, como

afirma Lia Schucman, “ser branco assume significados diferentes e culturalmente compartilhados em

diferentes lugares”, ou seja, ser branco está ligado a contextualidades, historicidades e espacialidades.

Ser branco no Brasil do século XX, por exemplo, é diferente de ser branco no século XIX ou nos

Estados Unidos.

É fundamental ressaltar que a branquitude é a posição de privilégio que uma


pessoa ocupa na estrutura social (Bento, 2020;

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 11


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

Schucman, 2014). Como sítio social, “guarda e preserva bens materiais e


simbólicos, inicialmente gerados pelo colonialismo e pelo imperialismo , e
que são guardados e preservados na contemporaneidade”
(Schucman, 2012, p.23). Assim, compreender a branquitude requer um
desvelamento das formas através das quais “são construídas as estruturas
fundamentais, concretas e subjetivas de poder sobre as quais assentam as
desigualdades raciais” (Schucman, 2014, p. 84). Embora seja um produto do
colonialismo, a branquitude continua a funcionar como um agente activo na
preservação de uma estrutura de poder racista e, portanto, da supremacia
branca . Seguindo Schucman, é essencial compreender o poder da branquitude
“como uma rede na qual sujeitos brancos o exercem consciente ou
inconscientemente diariamente através de pequenas técnicas, procedimentos,
fenômenos e mecanismos que constituem efeitos específicos e locais de
desigualdades raciais” (Schucman, 2012 , pág. 23).
Cida Bento (2022, p. 62) afirma que “a branquitude é um conjunto de
práticas culturais sem nome e sem marca”. Isto significa que “há silêncio e
disfarce em torno destas práticas culturais. É uma posição de vantagens
estruturais, de privilégio racial. É um ponto de vista, um lugar a partir do qual
os brancos olham para si próprios, para os outros e para a sociedade.”
Para Bento (p. 5), a branquitude é “um local de privilégio racial, econômico e
político, em que a racialidade, não nomeada como tal, carregada de valores,
experiências e identificações afetivas, acaba por definir a sociedade”.
O lugar que o branco ocupa o transforma em uma pessoa com
superpoderes. Ao mesmo tempo que este grupo está em todos os espaços
de poder, pode tornar-se invisível, ou seja, pode perceber-se como não
racializado, dependendo do contexto e dos interesses em jogo. Tem a
prerrogativa de manter silêncio sobre si mesmo, ao mesmo tempo que
classifica e racializa os “outros”. Esse é o local do único ser humano que,
embora seja universal, é onipotente. A branquitude é a zona da humanidade,
é a zona do próprio ser. É o local da encarnação mais admirável do cientista,
do produtor de conhecimento válido; é o lugar daqueles que podem escrever
a história do seu ponto de vista; é o lugar daqueles que criam teorias
circulantes,

12 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

do legislador, do juiz, dos dirigentes (Fanon, 2008; Cardoso, 2014;


Silva, D., 2019).
Em um breve resumo, alguns temas comuns ao rol de autores que dedicam
sua atenção ao tema e que considero relevantes para o campo das RI são: a) as

relações raciais são relações de poder; b) raça não é uma categoria biológica, mas
uma produção sócio-histórica e econômica vinculada à concepção fantasiosa de
superioridade de um grupo; c) o pertencimento étnico-racial se manifesta
corporalmente, por meio da pele branca, mas vai além do fenótipo, pois o corpo passa
a ser marcado por significados que definem quem detém privilégios simbólicos e
materiais, inclusive vantagens estruturais; d) a branquitude é um fenômeno sócio-
histórico cujos efeitos persistem na atualidade. O conceito de superioridade racial
formulado pelas teses do racismo científico do século XIX impactou os corpos e
engendrou as estruturas sociopolíticas e económicas dos estados nacionais e do
sistema internacional, em cujos alicerces reside uma máquina que produz mecanismos
de legitimação, ligada a dispositivos simbólicos e materiais de discriminação e
vantagens, atribuindo à branquitude o estatuto de arquétipo aspiracional , e também
de gatilho de poder que opera no tecido social; e) a branquitude opera por meio de
pactos manifestados em espaços institucionais, como teoriza Cida Bento; f) a
dominação de grupos subalternizados é exercida por meio de estratégias complexas
que abrangem o uso da força bruta e da violência, bem como mediações e a
formulação de formas ideológicas de consenso que naturalizam as violências como
componentes endógenos do tecido social (ALMEIDA, 2018). , pp. 75-76); g) as
práticas de branquitude por meio de relações de poder e nelas resultam em violências
de natureza social e epistemológica (Conceição, 2014, 2017, 2020).

No Brasil, o campo do CWS cresceu ao mesmo tempo em que os debates


sobre o racismo estrutural se popularizaram em diversos setores, reagindo às
pressões dos movimentos negros e indígenas, e conseguiram superar obstáculos em
universidades ainda majoritariamente brancas . centrados, mas que tiveram sua
composição racial ligeiramente alterada pelas políticas de ação afirmativa. Intelectuais
negros, brancos e indígenas

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 13


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

têm desenvolvido investigação que reforça a vocação transdisciplinar


desta área que já figura em vários departamentos, nomeadamente
psicologia, história, sociologia, ciências da comunicação, antropologia,
etc. Entre os nomes mais importantes estão Guerreiro Ramos, Maria
Aparecida Silva Bento, Lourenço Cardoso , Lia Vainer Schucman, Liv
Sovik, Edith Piza, César Rossatto, Verônica Gesser, Lúcio Otávio Alves
Oliveira, Camila Moreira, Geni Nuñez, Ana Helena Passos e Wilson
Conceição, além de outros.
A próxima seção será dedicada a apresentar aspectos da
branquitude que justificam sua inclusão como unidade de análise nas
relações de poder no sistema internacional, e que estão ligados ao
silêncio e à cegueira seletiva em relação à raça no estudo das RI: o
conceito dos pactos narcisistas de branquitude criados por Maria
Aparecida Bento. A escolha desta autora deve-se não só ao carácter
inovador da sua obra, mas também às potencialidades do seu
pensamento para a interpretação das relações internacionais.

3 BRANCO COMO PODER E SEUS PACTOS NARCISISTAS

Um primeiro ponto relevante que merece destaque é que os


debates sobre a branquitude no Brasil são produto dos movimentos
negros. Como mencionado anteriormente, alguns nomes marcam a
introdução de tal questão nas agendas de luta nacionais, como Abdias
Nascimento, Fernando Góes, Guerreiro Ramos, Cida Bento, Cuti, Luis
Silva, etc. do Branco Brasileiro (1957) de Guerreiro Ramos – participante
do Teatro Experimental do Negro – em que inova com a concepção de
“branco-como-tópico”, e a tese Pactos narcisistas no racismo :
branquitude e poder nas empresas e no setor público (2002b) obra em
que Maria Aparecida Bento, ou Cida Bento, ativista do movimento negro
em São Paulo, apresenta o conceito de pactos narcísicos.

14 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

Em segundo lugar, trazendo o debate para a dimensão institucional, torna-


se necessário enfatizar a correlação entre modernidade, hierarquias raciais e
instituições académicas. Uma das características da modernidade é a criação e

execução das ideias de “outros” raciais “brancos” e inferiores. A glorificação da razão,


colocada como atributo exclusivo dos brancos, ocorre de mãos dadas com a
objetificação dos negros. Este processo foi fundamental para a invasão colonial e o
tráfico atlântico, uma vez que a reificação era uma condição para a venda de seres
humanos no mercado internacional. A figuração da pessoa negra como objeto foi um
processo que atingiu todos os setores da vida moderna, e as instituições de ensino
superior ocuparam posição de destaque nesta arquitetura. Os espaços acadêmicos
foram transformados na morada da razão, da intelectualidade, único local válido para
produção de conhecimento, em que os pesquisadores utilizavam os não-brancos
como objetos de estudo, escrutínio e escalpelamento – o que serviu nos séculos XVIII
e XIX para forçar o construção das teses míticas do racismo científico, propondo a
superioridade intelectual, moral, estética e física dos brancos. Nas universidades, foi
ratificado o binário sujeito-cientista-branco x objeto -animalizado-negro-sem-razão.
Como discutido anteriormente, é depois de Guerreiro Ramos que o objeto se rebela
(Cardoso, 2014). O negro, num ato de insubordinação à ordem metodológica colonial,
passa à posição de sujeito e passa a nomear o branco.

Assim, uma das dimensões mais importantes da branquitude é a do poder.


Lourenço Cardoso afirma que “o branco possui, praticamente, todo o poder, ser
branco é ser poder” (Cardoso, 2010).
Em seu trabalho de doutorado, Cardoso considera a pessoa branca como a
encarnação do próprio poder. Para ele, “ser branco significa mais do que ocupar
espaços de poder. Significa a própria geografia existencial do poder” (Cardoso, 2014,
p.17), um poder que é rotineiramente evidenciado e manifestado em práticas e
discursividades, e em todo o tecido social.
A afirmação de tal poder no campo historiográfico e na academia circula a
partir de uma única versão ocidental dos fatos,

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 15


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

difundido por um único sujeito, utilizando artifícios para construir a


subalternização do “derrotado/outro”. Segundo Cardoso (2014), “A história
é um instrumento intelectual para exercer poder sobre os outros”, e uma
das manifestações do poder dos brancos é que eles “contam a história do
outro” para legitimar suas ações e objetivos. Para Cardoso, “Meritíssimo,
o branco” é o próprio “senhor da história”; ele pode falar sobre ele e o
outro. Ele é o narrador e personagem principal da história ocidental, que
chama de universal. Dessa forma, “ele constrói e amplia seu poder sobre
todos os outros”. A versão oficial da história “não faz sentido para a grande
maioria da humanidade”. Isto pode ser visto nas narrativas dos principais
teóricos das Relações Internacionais, na história do ambiente internacional
que passou a ser comumente apresentada como a versão verdadeira.

A branquitude como “ser poder e estar no poder” (Cardoso, 2010)


também se manifesta geograficamente. A cartografia do poder é branca.
A pessoa branca, especialmente o homem cis-heterossexual, é um ser
quase onipresente na medida em que está em todos os espaços de poder
em todas as instâncias internacionais; “o branco é encontrado em todos
os lugares disfarçado de nacional e global, etc.”, ainda que usando a
estratégia de invisibilizar sua posição de comando. O disfarce é “uma
estratégia eficiente para não ser questionado”.
A era do poder nas mãos do grupo racial branco, o “whitecene”, começando
com a modernidade, tem sido apresentada como intemporal . Este poder consolida-
se “para além de um breve período circunstancial”, como foi o caso do governo de
Barack Obama, em que um homem negro foi presidente dos Estados Unidos apenas
por um curto período de tempo (Cardoso, 2014). O poder branco é onipresente,
onipotente e onisciente, invadindo territórios materiais e simbólicos. Considerando
isso, Cardoso recomenda que a pesquisa nas ciências sociais se concentre na

poder que a branquitude incorpora para compreender as relações de poder.


O estudo da natureza epidermalizada do poder é urgente na academia.
Cida Bento, doutora em psicologia e ativista, questiona o grupo
racial branco, denunciando as estratégias, dinâmicas de manutenção do

16 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

poder e benefícios ocultos de sua conveniente invisibilidade. Um dos focos


mais importantes de sua atenção desde 1994, seja em seus estudos ou em
sua ampla experiência empírica em instituições, é “o silêncio, a omissão e
a distorção em torno do lugar que os brancos ocupam nas relações raciais
brasileiras” (2002, p. 2). ). Ela mergulhou, assim, nos motivos do silêncio em
relação ao que se tem denominado branquitude e na apropriação simbólica
que tal grupo vem realizando historicamente , revigorando sua autoestima
e autoconceção como padrão de humanidade e produzindo, como
consequência , a legitimação da supremacia económica, política e social. Na
mesma medida, então, que o grupo se cala sobre os seus privilégios
materiais e simbólicos, existe uma espécie de cegueira selectiva, uma
recusa em olhar para si mesmo como parte de relações de poder, sempre
que alguém é chamado à responsabilidade.

Pactos de poder e institucionalismo branco

Em sua tese de doutorado em psicologia pela Universidade de São


Paulo, Cida Bento desenvolve um estudo de caso sobre a atuação de
gestores de Recursos Humanos em processos seletivos de trabalhadores.
Ela descobriu que os gestores brancos que ocupavam cargos de RH
geralmente selecionavam candidatos brancos, mesmo quando os candidatos
não-brancos tinham níveis de alfabetização ou habilidades iguais ou
superiores aos dos brancos. Com base na psicanálise, ela conclui que existe
uma fidelidade ao grupo. A ideia de pertencer a um grupo é um fator analítico
essencial, visto que a branquitude, atuando como política de interesse
comum, identifica a branquitude como critério de preferência e escolha. Ela
afirma que as noções de grupo e privilégio são fundamentais para a teoria
da discriminação como interesse. A aquisição e a perpetuação das
vantagens de um grupo, intencionalmente ou não, são motivadores da
discriminação racial. Este último, então, pode ser causado por preconceito,
ou também pode ter motivações sociais e psicológicas, como a defesa de
privilégios. Isto leva à conclusão de que as desigualdades e o racismo
também se baseiam em factores psicossociais (Bento, 2002).

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 17


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

O racismo como ideologia foi uma invenção das elites brancas


para conquistar, adquirir riquezas através da pilhagem de territórios,
recursos e exploração do trabalho, e para obter as vantagens do seu
capitalismo racial e patriarcal (Gonzalez, 1988; Munanga, 2004; Guerreiro
Ramos, 1957; Bento, 2002). A narrativa construída para justificar tais
avanços foi a suposta existência de um problema que seria a própria
categorização dos negros. Essas discursividades lançaram as bases
para políticas públicas voltadas ao branqueamento do Brasil, bem como
para políticas internacionais de desenvolvimento, combate à pobreza e
promoção dos direitos humanos iniciadas por instituições multilaterais.
A racialidade branca passa a determinar as formas de estar no mundo e
de vê-lo. O grupo que domina e se constrói como norma apropria-se
simbolicamente deste desempenho para conquistar e legitimar a sua
supremacia económica, política e social. Consequentemente, há um
investimento, consciente ou não, na encenação de um Negro-problemático,
responsável pela sua própria discriminação, pelas desvantagens
socioeconómicas e pelas dificuldades de acesso a direitos e posições mais dignas na es
O autor revela que a necessidade de pertencimento social e de
vínculo afetivo estimula o sujeito a promover investimentos no grupo e
em seus valores, como forma de investir na própria autoimagem, visto
que nossas autoidentificações são percebidas coletivamente. Como
resultado, ao proteger o próprio grupo, aqueles que não pertencem são
excluídos, num acto de fuga ao compromisso moral e de afastamento
psicológico daqueles que são considerados indignos de compaixão,
misericórdia e humanidade. Estabelece-se então uma cadeia tripla:
estigmatização do grupo moralmente excluído como parte perdedora;
omissão em relação à violência exercida contra esse grupo; e, por fim, o
silêncio sobre os agentes que promovem/beneficiam dessa exclusão.
Assim, o silêncio e a deturpação do lugar dos brancos têm raízes
narcísicas na autopreservação, providos de investimentos grandiosos na
encenação de uma autoimagem como padrão para a humanidade, e
potencializados pela idealização de um “outro” baseado no medo que é,
em última análise, o medo “de si mesmo nas profundezas do inconsciente” (Bento, 2002

18 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

Apontar-se como arquétipo é um ato narcisista e atacar o “outro” pelos


erros que não se deseja admitir, ou não deseja ver em si mesmo para não
corromper um modelo ideal faz parte de um processo de projeção , de construir o
“outro” a partir de si8 (Bento, 2002, p.6-7). O narcisismo, segundo a perspectiva
freudiana, é “a expressão do amor por si mesmo [...] como elemento que atua pela
preservação do indivíduo e gera aversão ao estranho, ao diferente” (Bento, 2002,
p. 31-32). ).

Frantz Fanon (2008) e, posteriormente, Grada Kilomba (2019) também descreveram


essas dinâmicas de fabricação de um “outro” como antagonista do “eu”.
Kilomba escreve que:

O sujeito negro torna-se, então, uma tela de projeção daquilo


que o sujeito branco tem medo de reconhecer sobre si mesmo,
neste caso: o ladrão violento, o criminoso ocioso e perverso.
Tais aspectos desonrosos, cuja intensidade provoca extrema
ansiedade, culpa e vergonha, são projetados para o exterior
como forma de escapar deles (Kilomba, 2019, p. 37).

Cida Bento mostra como um exemplo de medo no comportamento grupal


ao longo da história é o pavor das elites em relação aos despossuídos, como parte
de um processo de projeção e rejeição que não se expressa apenas no nível
individual. Neste cenário, quaisquer crimes e vícios são atribuídos aos grupos que
sofrem discriminação. Por isso, concebem-se fronteiras, práticas de higienização
e políticas de segurança, gestão de corpos e morte para os “outros” (Bento, 2002;
Mbembe, 2018b, 2020).

8 “Estes dois processos, tendo-se como modelo universal e projetando no outro as dimensões
humanas consideradas negativas, são processos que sob certos aspectos podem ser vistos
como absolutamente normais no desenvolvimento dos indivíduos até uma determinada idade.
O primeiro está associado ao narcisismo e o segundo à projeção. Porém, no contexto das
relações raciais, revelam um lado mais complexo porque procuram justificar, legitimar a ideia
de superioridade de um grupo sobre outro e, consequentemente, legitimar as desigualdades,
a apropriação indevida de bens concretos e simbólicos e a manutenção de privilégios.
”(BENTO, 2002, p. 35).

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 19


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

Bento identificou assim o que chamou de “pactos narcísicos no racismo ” ou


“pactos narcísicos de branquitude” nas relações sociais/raciais ocorridas em
instituições públicas e privadas, sustentando o racismo e perpetuando desigualdades.
Esses pactos são acordos complexos de proteção, autopreservação, ajuda mútua e
recompensa, abrangendo práticas mobilizadas por pressupostos raciais historicamente
definidos, destinados a salvaguardar posições hegemônicas na pirâmide
socioeconômica e benefícios raciais. Estas práticas tácitas, intergrupais e inconscientes,
embora não aleatórias ou acidentais, repetem-se na vida quotidiana e alimentam,
através de mecanismos sofisticados, uma arquitectura social injusta em que elevam
determinados sujeitos a locais de privilégio. Pactos são as formas pelas quais os
agentes agem para manter a estrutura. Disso decorrem os aspectos mais marcantes
dos pactos: silêncio, omissão, negação e reprodução de práticas discriminatórias
sistemáticas para obter ou manter privilégios (Bento, 2002, 2020).

O silêncio e a cegueira estão associados a uma política de interesses comuns


que impacta a esfera económica e à manutenção de interesses concretos e simbólicos.
Não há responsabilização nem reparações dadas aos grupos indígenas ou aos negros
pela “apropriação do trabalho de outro grupo durante quatro séculos” (2002, p. 3). O
pacto isenta os brancos da construção social do racismo e do autoquestionamento do
seu papel histórico, bem como de benefícios que foram herdados e continuam a ser
preservados através de alianças, mesmo que os brancos possam ser vítimas de
outros modos de opressão, como sexismo, preconceito de idade, classismo e
capacitismo, por exemplo.

Portanto, como mencionado acima, a branquitude precisa ser entendida


como um complexo ideológico enraizado na estrutura social; por isso não pode ser
identificado com um indivíduo, pois não está encapsulado em um sujeito ou fenótipo.
É uma construção sócio-histórica que afeta a subjetividade, a intersubjetividade e faz
parte da estrutura econômica (Gordon, 1995; Gonzalez, 1988: Robinson, 2018;
Faustino, 2020; Fanon, 2008). A alienação colonial, como nos ensina Fanon, invade
os campos da psique e das sociabilidades, tornando-se componente de uma

20 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

processo muito maior de dominação, de relações capitalistas de produção.


A génese social do colonialismo e (Fanon, 2008; Faustino, 2020, p. 39) abrange tanto
a produção de identidades e locais sociais, de significados para o mundo, como inclui
também relações económicas de dominação que, por sua vez, afectam a criação de
instituições e preservação de locais de poder epidermalizados (Fanon, 2008).
Compreender a dimensão coletiva da branquitude é essencial para focar nas
respostas estruturais e não apenas individuais ao sistema.

A psicanálise explica a dinâmica das relações raciais e revela processos


subjetivos que convergem para sustentar o racismo estrutural ao longo da história.
Segundo Cida Bento (2002, p. 39), “o medo e a projeção podem estar na gênese de
processos que estigmatizam grupos, buscando legitimar a perpetuação de
desigualdades, a criação de políticas institucionais de exclusão e até de genocídio”.

O amor narcisista é direcionado aos iguais, apreciado como depósito de


virtudes, segundo um modelo baseado em si mesmo (Bento, 2002). Ela escreve que
“o amor narcisista está relacionado com a identificação, tanto quanto o ódio narcisista
está com a não identificação” e, portanto, “o objeto do nosso amor narcisista é o nosso
igual [...] por outro lado, o alvo do nosso ódio narcisista é o outro, o diferente” (Bento,
2002, p.14). Nessa lógica, aqueles que se identificam como brancos empregarão
mecanismos para proteger a si e aos seus iguais daqueles que serão alvo do seu ódio
narcisista, ou seja, aqueles vistos como detentores do mal (Bento, 2002). Este
exercício subjetivo pode ser externalizado racionalmente através da produção de
teorias que fundamentam ações concretas de discriminação e violência, como o
racismo científico, que orientou a suposta “missão civilizadora” dos brancos para
fomentar o “progresso” dos “selvagens” e “atrasados”. povos da África e da Ásia. Na
contemporaneidade, está presente nas ações das instituições multilaterais e dos
Estados hegemônicos para a promoção da paz, do desenvolvimento e dos direitos
humanos.

Em 1992, Bento começou a desenvolver suas análises das instituições no que


diz respeito ao racismo e ao sexismo, tema que, nos Estados Unidos,

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 21


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

começou a surgir na década de 1960. Ela observa que as instituições não


são apenas fundadas por pactos narcísicos, mas também os regulam e
divulgam (Bento, 2022).
Os interesses e visões de mundo dos grupos que ocupam e pretendem
continuar em locais de poder manifestam-se em estruturas institucionais. O
modus operandi dessas instâncias compreende metodologias, regras,
processos, instrumentos de trabalho e processos seletivos que operam
silenciosamente para escolher pessoas com as quais o grupo dominante se
identifica. Tais mecanismos funcionam “sistematicamente para transmitir a
herança centenária do grupo”, fenômeno que Bento chama de pactos
narcisistas (Bento, 2022).
No entanto, as instituições públicas e privadas regulam e difundem
modos de funcionamento que não só homogeneizam um determinado
sistema de valores, mas também uniformizam o perfil daqueles que ocupam
posições de poder – em todos os campos, esse perfil é maioritariamente
cisgénero, branco e masculino, para que se mantenha a hierarquia das
relações de dominação que foi desenhada durante séculos pelos promotores do capitalismo.
A perpetuação da branquitude no tempo e no espaço se materializa por meio
de pactos de cumplicidade não verbalizados entre pessoas brancas,
atuando em diversos tipos de instituições e buscando a manutenção de
privilégios (Bento, 2020, p. 18).
Os pactos, pela sua natureza cotidiana, traduzem-se em racismo
institucional e são disfarçados através de slogans de neutralidade e
objetividade, que são manipulados para ocultar preconceitos e discriminações
praticadas por meio de um dispositivo de distanciamento psicológico marcado
pela falta de compromisso moral com as pessoas. excluídos pelo grupo e
privados de seus direitos. A branquitude, ao colocar aqueles que considera
fracos fora do seu universo moral, sente-se autorizada a ser injusta e até perversa.
As formas que assume a exclusão dos não-brancos nas instituições

são muito semelhantes, mas são sistematicamente negadas ou silenciadas.


Nesse sentido, Cida Bento considera que estes pactos possuem “uma
componente de narcisismo e de autopreservação, como se o que é 'diferente'
ameaçasse o que é 'normal', 'universal'. Este sentimento de pavor e medo está em

22 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

a essência do preconceito, das representações do outro e como reagimos


a esse outro” (Bento, 2020, p. 18).
Essas práticas cotidianas, independentemente da intenção, e não
endossadas por todos os brancos, transformam as organizações em
ambientes perversos e ilegítimos, pois afetam diretamente determinados
grupos. A sobre-representação branca nas instituições é responsável pela
desigualdade racial e de género, bem como pela sub-representação negra
e indígena e pelo genocídio (Bento, 2022).
Nas sociedades desfiguradas pelo racismo, a sobre-representação
branca em posições de poder em instituições públicas e privadas
relacionadas com finanças, educação, saúde, segurança, etc. tem
dimensões materiais e simbólicas, performando subjetividades e
posicionalidades racialmente hierarquizadas. A epidermalização dos
espaços de poder também opera para manter ocultos os atos vergonhosos
cometidos pelos ancestrais dos grupos dominantes, a fim de facilitar a
manutenção do status quo que, por sua vez, é “apreciado pelas novas
gerações como mérito do grupo, como se fossem nada teve a ver com atos
antihumanitários cometidos no período da escravidão, o que corresponde a 4/5 da história
A discursividade do mérito nas instituições legitima a supremacia
económica, política e social branca a nível nacional e internacional. A
abundante herança deixada pelos ancestrais colonizadores fortalece a
autoestima e a autoconceção dos povos brancos como o “grupo vencedor,
competente, bonito, escolhido para governar” (p. 121). A higienização da
história e a falsificação de factos reconstruídos de forma positiva por um
segmento da população facilitam a fruição desse património, reforçam o
seu património e garantem a sua transmissão às gerações vindouras.
Trazendo o tema para o campo das RI, percebe-se que o conceito
de pactos narcisistas tem grande aplicabilidade em diversas áreas,
especialmente na análise do institucionalismo internacional, pois contribui
com recursos úteis para interrogar as formas de aquisição e exercício de
poder no sistema. , à luz de diferentes racionalidades e hermenêuticas.
Discursos, normas e práticas institucionais formam uma máquina que opera
o sistema capitalista de gênero racial e

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 23


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

marca as continuidades simbólicas e institucionais das relações


coloniais de dominação (Silva, K., 2021; Fanon, 2008; Memmi, 1985).
Vale ressaltar que nem todas as pessoas subscrevem o pacto, mesmo
que todas se beneficiem, até certo ponto, do racismo9 . É importante

mencionar também que os indivíduos brancos são seres multifacetados, como mencionado

anteriormente, e que neste espaço de poder existem hierarquias e lutas internas pelo poder dentro

do grupo, atravessadas por marcadores sociais de opressão como classe, gênero e sexualidade, como

afirma Lia Schucman em sua tese de doutorado de 2012. Lourenço Cardoso também demonstra como

tais hierarquias também são construídas

em termos de nacionalidade, pois, por exemplo, um branco inglês é visto como


superior a um português, e um brasileiro aqui visto como branco não é
reconhecido como tal em contextos metropolitanos.
Na faixa da branquitude há racistas que afirmam a construção identitária
como mecanismo de supremacia, mas também há os antirracistas, aqueles que
reconhecem a existência do racismo, questionam os seus privilegiados raciais
e se envolvem na luta antirracista.
Este debate é essencial para compreender o crescimento da extrema-direita em
todo o mundo e as ressignificações do colonialismo na contemporaneidade,
como reação aos movimentos progressistas. Após a morte de George Floyd, as
questões raciais ganharam mais destaque na mídia e, segundo Cardoso, a
existência de um terceiro grupo, que ele chama de “ brancos anti-racistas
racistas”: um segmento da branquitude que, mesmo reconhecendo racismo e
autodenominar-se anti-racista em público, não o é na prática, pois não questiona
os seus próprios privilégios, omite-se nas oportunidades de jogar

9
Segundo Lia Vainer Schucman, os sujeitos brancos podem ser antirracistas, mas não se
pode dizer que a branquitude é antirracista, pois ela, sendo uma posição social, configura-
se como racismo, visto que se constitui a partir de uma ideia de superioridade fundada na
a noção de raça formulada no século XIX . Todos os brancos se beneficiam com o racismo
no Brasil. Recebem privilégios passivamente ao nascer, mas exercem a legitimação da
branquitude ao distribuir benefícios entre o grupo, por exemplo: quando reforçam um ideal
branco de beleza, quando atribuem à sua competência a escolha de candidatos brancos,
quando afirmam que a ideia da civilização é a Europa. Disponível em: @okingaoficial

24 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

com atuação antirracista, defende a meritocracia por meio da imposição da classe como
unidade de análise das desigualdades sociais, entre outros comportamentos.
Essas pessoas reencenam diariamente ações racistas nas instituições.
Considerando a gênese social do racismo (Fanon, 2008; Gordon, 1995; Faustino,
2020), os conceitos e noções propostas pelos estudos críticos da branquitude certamente
vão além dos estudos sobre relações sociais e organizações domésticas, e têm um
enorme potencial de aplicabilidade a todas as áreas afetadas pelas relações e hierarquias
raciais, como é o caso das relações internacionais em sua totalidade, abrangendo a tríade
ensino, pesquisa e extensão, que será explorada na próxima seção.

4 ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE: IMPACTANTE

ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO EM RI

O CWS pode trazer contribuições relevantes para o ensino, a pesquisa e a


extensão nas relações internacionais, especialmente no contexto de um país como o
Brasil, onde o racismo constitui uma “neurose cultural”
(González, 1988). Vale lembrar que o Brasil foi um laboratório de teorias sobre raça
concebidas na Europa, como escreve Lilia Schwarcz (1993) em O espetáculo das raças:
cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930 . Cientistas, Instituições e a
Questão Racial no Brasil, 1870-1930). É por isso que a Lei 10.639/03 torna obrigatória a
inclusão nos currículos da educação para as relações étnico-raciais, que inclui “a luta do
Negro no Brasil, a Cultura Negra Brasileira e o Negro na formação da sociedade brasileira,
recuperando a Contribuição negra nas áreas social, econômica e política da história
brasileira.”

Adicionalmente, nesta sociedade desfigurada pelo racismo estrutural, é nosso


dever educar para todas as possibilidades de ser e existir, bem como educar para a
resistência, valendo-nos de epistemologias de combate. Processos educativos que não
dão visibilidade às dinâmicas raciais apoiam

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 25


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

a formação de profissionais alienados da realidade nacional e global. Nesse


sentido, incluir a branquitude como categoria de análise e colocar-se em
posição de escuta em relação aos estudos críticos da branquitude é
fundamental para compreender as estruturas sócio-fenotípicas, o modus
operandi dos sistemas de poder, e confrontar a cegueira e o silêncio sobre o
racismo no processo formativo. processos de RI.
A necessidade de revisão de conteúdos disciplinares, planos de
cursos, projetos pedagógicos e currículos é, também, uma resposta ao
consumo de RI pré-configurados ou consulares, tomando emprestados os
termos usados por Guerreiro Ramos em sua crítica à sociologia brasileira na
década de 1950, que, a seu ver, não se engajava com a realidade nacional,
mas assimilava sem restrições a produção intelectual estrangeira, como verdade universal.
O estudo das RI no Brasil deve ser mediado pela nossa realidade e deve ter
a cara do povo.
Os CWS encorajam-nos a observar as formas como as narrativas,
instituições, práticas e normas continuam a ser articuladas, a fim de defender
as hierarquias coloniais nos tempos contemporâneos. As instituições
educativas periféricas ou metropolitanas têm sido instrumentalizadas como
dispositivos cruciais da empresa colonial, observando todas as suas
mutações e reatualizações. Foi precisamente nas universidades modernas
que se fundaram as bases do chamado racismo científico, começando
especialmente pela realização de pesquisas que posicionaram os corpos
racializados como objetos de escrutínio, como bem descrevem Guerreiro
Ramos e Lourenço Cardoso. Na mesma direção, Nilma Lino Gomes (2012,
p. 730) escreve que “o empreendimento colonial educacional e civilizatório
sempre foi permeado pela ideia de raça”.
A racionalidade moderna é a norma que rege o campo das RI.
Segundo Denise Ferreira da Silva (2019), um dos pilares onto-epistemológicos
da modernidade é a separabilidade. O racismo moderno
A gramática de gênero baseia-se em representações binárias que
separam mente/corpo, razão/emoção, sujeito/objeto, cultura/natureza, homem/
animal, homem/mulher, branco/não branco, civilizado/selvagem, atribuindo
superioridade aos primeiros componentes dos pares. Esta hierarquização

26 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

a lógica mobiliza cadeias de associação para inferiorizar aqueles que foram


racializados como não-brancos e conectá-los a geografias supostamente
selvagens que, como consequência, deveriam ser controladas. O corpo
inferiorizado está, portanto, inevitavelmente ligado a uma cartografia igualmente
colonizável. Tais concepções sustentam a mitologia do racismo científico,
formulado para justificar a conquista dos brancos sobre os não-brancos, já que
estes últimos são apresentados como portadores de traços como selvageria,
irracionalidade, agressividade, atraso, ignorância, feiúra, etc.
A lógica binária está ligada a cadeias associativas que formam a arquitetura
epistêmico-jurídica-política-econômica da expropriação.
Eles fabricam identidades e posicionalidades. A gramática binária mobiliza
discursos, normas, instituições e práticas para performar o sujeito e seus “outros”
raciais construídos via negação ontológica (Silva, D., 2019).

A separabilidade, negociada pelos instrumentos da colonialidade – como o


direito internacional e as RI – fragmenta o mundo dos brancos e dos não-brancos.
-brancos pela articulação entre sujeito, espaço e tempo, segundo Denise Ferreira
da Silva (Silva, D., 2019; Silva, K., 2023). De forma redutiva, a branquitude é
concebida “como um descritor de bondade” (Silva, D., 2019), de inocência,
sabedoria e prudência, enquanto a negritude como categoria performativa torna-
se um descritor de pessoas (violentas, criminosas, ociosas, perversas). ), dos
lugares que habitam (primitivos, desorganizados, subdesenvolvidos, pobres,
violentos, uma antítese do progresso) e do mundo que se torna a verdadeira
“loja do sujeito”, um lugar onde só o sujeito pode legislar, julgar, gerir subjetividades,
intersubjetividade e todas as relações de poder inscritas no sistema capitalista
(Silva, D., 2019). Neste grande workshop é-lhe conferido o “fardo”10 de civilizar,
promover o desenvolvimento,

10
Em 1899, o poeta inglês Rudyard Kipling escreveu “The White Man's Burden”, no qual
atribuiu aos homens brancos a responsabilidade de conquistar e civilizar os povos selvagens.
O poema tornou-se um símbolo das relações de poder imperiais/raciais/patriarcais entre colonizadores e
colonizados.

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 27


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

aplicando a sua noção de direitos humanos e, finalmente, de salvar o mundo.


Afirmo, assim, que as relações internacionais, tal como o direito internacional,
articulam discursividades que promovem subjetividades e posicionalidades
racialmente hierarquizadas, com a raça a funcionar como uma categoria que
orienta as relações de opressão no sistema de dominação que é o racismo.
Isso significa que as identidades são construídas em contextos de poder, e a
raça orienta as leituras do mundo e a forma de agir sobre ele.
No Brasil, os intelectuais negros introduziram questões raciais na
pesquisa, no ensino e na extensão em RI. No que diz respeito ao ensino,
alguns programas criaram cursos específicos sobre raça e relações
internacionais, como os da UFSC11 em 2016 e da UNILAB em 2017, mas é
preciso avançar para discutir branquitude e racismo não apenas em um curso,
mas em todos os cursos que formam o eixo principal do currículo, dado que
tanto o patriarcado como o racismo são estruturais.
A ontologia racial moderna cruza toda a composição formativa das RI.
Por isso, conceitos, questões, ferramentas analíticas, teses e argumentos do
CWS revelam um novo cenário que permite questionar o poder, denunciando
a ausência da categoria de branquitude na avaliação das estruturas. Desvelam-
se, assim, horizontes de aplicação das Leis 10.639/03 e 11.645/08, bem como
horizontes de atuação antirracista em termos de ensino, pesquisa e extensão.
Isso permite a compreensão e a reescrita de diversos conteúdos relacionados
aos componentes curriculares – de forma transcurricular – que estão
englobados no eixo principal, seguindo as Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs) dos Cursos de Graduação, especialmente: Teorias das Relações
Internacionais; Segurança, Estudos Estratégicos e Defesa; Política
estrangeira; História das Relações Internacionais; Economia Política
Internacional ; Ciência Política; Direito Internacional e Direitos Humanos;
Instituições, regimes e organizações internacionais.

11
No programa de RI da UFSC foi criado o curso “Raça e Relações Internacionais” em 2016 e o curso “Política
de Gênero, Raça e Relações Internacionais” na UNILAB em 2018.

28 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

Tendo em mente o que foi discutido nas seções anteriores, proponho


considerar alguns aspectos sobre o poder para fins de pesquisa e inclusão nos
currículos de RI: a branquitude como um local nas estruturas de poder; os pactos

narcisistas como estratégias de solidariedade para a manutenção de um grupo no


poder, sendo o direito internacional e as instituições multilaterais exemplos explícitos
de como, quando, porquê e com que fim são feitos acordos dentro do grupo; formas
de exercício do poder, seja brando ou duro12, isto é, através do uso da força bruta
através de aparatos de segurança, ou através de estratégias de persuasão refletidas
em consensos e mediações; raça como categoria que visa orientar as relações de
poder no sistema; pactos de masculinidade coconstituindo pactos de branquitude.

No que diz respeito à História das RI, à Ciência Política e às Teorias das RI, a
inclusão da branquitude na sua dimensão internacional como ferramenta analítica
permite uma racialização da hegemonia do Ocidente e uma compreensão de como
esta última se baseia na patologização e na generização. da diferença, bem como
sobre as causas raciais das guerras e da paz; além disso, dá visibilidade ao papel que
as teorias dominantes nas RI desempenham como instrumentos ao serviço das
estruturas hegemónicas.
Robert Vitalis confirma a visão segundo a qual as RI são um campo de estudo
centrado nos brancos, com “cientistas políticos brancos ensinando em departamentos
brancos e publicando em periódicos brancos”
(Vitalis, 2015, p. 13). As RI, na sua versão dominante, constituem a apoteose das
narrativas de vitória do colonizador, enquanto narradores, personagens principais e
cenas heróicas revelam o western tóxico e

perspectiva única falocêntrica. Na verdade, apenas o sujeito corporificou-se numa


figuração do homem branco, europeu, burguês, cristão, cis-heterossexual, considerado
portador de razão, reflexão, discernimento, julgamento, detentor de moral elevada

para legislar, julgar e teorizar as RI. É o sujeito/agente capaz de reger todas as


esferas da vida pública nacional e, internacionalmente, é um embaixador, salvador

12
Emprego intencionalmente esses termos criados pela branquitude nos Estados Unidos.

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 29


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

e paladino da civilização13. Os pactos da cis-masculinidade branca são revelados em


todas as arenas de poder, inclusive epistemicamente, portanto o estudo das teorias,
sejam elas críticas ou não, deve levar esse fato em conta.
O conceito de pactos narcisistas permite-nos problematizar e deslocar os
fundamentos deste sistema internacional eurocêntrico e das RI. O Estado-nação
moderno é uma instituição extremamente violenta, criada por pactos racistas,
classistas e de género (Mills, 1997) destinada a governar a maior parte do mundo,
formada por populações que foram racializadas para controlar o seu trabalho e
territórios. O Estado-nação moderno

é um agente da empresa colonial. A sua natureza é tão imperial quanto nacional e


internacional. O Estado nacional, de facto, surge ao mesmo tempo que o Estado
imperial, e isto tem um impacto em termos de espaço e de tempo. A soberania, então,
passa a ser entendida como um atributo que se estende além das fronteiras de um
determinado território; da mesma forma, a cronologia de fundação do Estado nacional
deve ser entendida como a mesma do ambiente internacional (moderno), e não
anterior a ele. Além disso, os tratados de Vestfália, como os resultantes da Conferência
de Berlim, constituem, como instrumentos do direito internacional, pactos narcisistas
que visam a aquisição e manutenção de poder e riqueza. A Vestfália seria um marco
do sistema moderno, e não do internacional, porque este já existia há muito tempo. O
imperialismo, de facto, foi pelo menos tão relevante para o desenvolvimento das
relações internacionais e do direito internacional como a Paz de Vestfália, considerada
o evento mais importante para estas disciplinas.

As RI são narrativas de poder, mais especificamente do poder branco.


Tal como o direito internacional, são uma tecnologia que surge ao serviço do
imperialismo e do colonialismo. Na verdade, as suas origens institucionalizadas

13 “A mulher burguesa europeia não era entendida como o seu complemento, mas como
alguém que reproduzia a raça e o capital através da pureza sexual, da passividade e
de estar ligada ao serviço do homem branco burguês europeu.” (LUGONES, p. 936, 2014).
A mulher negra, para o pensamento moderno, é a antítese da humanidade, representada pelo
sujeito branco cis-heterossexual. É por isso que raça e género são categorias que co-constituem a
modernidade.

30 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

têm muito mais a ver com a Conferência de Berlim, que dividiu África, do
que com a Primeira Guerra Mundial. É, portanto, imperativo revisitar e
problematizar o mito fundador das RI, que confina o estudo das causas da
Primeira Guerra Mundial às divergências dentro do território europeu.
Os estudos de Du Bois mostram que as disputas de poder entre estados
europeus brancos nos teatros de operações africanos e asiáticos estavam no
centro do conflito e que a dominação racial era uma dimensão que constituía
a política mundial da época. A expansão europeia em outros continentes está
relacionada com a expansão da supremacia branca. Os acordos de Berlim
são exemplos significativos de pactos narcisistas em todas as suas
componentes.
Os SCS têm outra vantagem: não ser apenas mais uma perspectiva
teórica entre tantas outras. O seu potencial transformador reside na
apresentação de diferentes prismas através dos quais se podem ver
reatualizações de hegemonias, surgindo com modismos como, por exemplo,
o chamado “Sul Global”, uma construção manipulada pelas elites para a sua
manutenção no poder através de uma discurso que afirma ser contra o
sistema. O conceito de “Sul Global” é uma armadilha na medida em que
pretende homogeneizar o Hemisfério Sul, escondendo o “colonialismo interno”
(Haywood, 1948) nos países periféricos e a “linha da cor” (Du Bois, 1915),
que define quem está “na sala com seus lustres de cristal, seus tapetes de
veludo, almofadas de cetim” e quem está “em um quarto de hóspedes” como
“um objeto sem uso” (Jesus, 2014), ou seja, quem está dentro da zona de
ser , e que foi condenado à zona do não-ser (Fanon, 2008). O projecto do “Sul
Global”, além de desracializar o debate, mina o carácter radical dos
movimentos contra-sistémicos como o Terceiro-Mundo, colocando em vez
disso as elites académicas como vozes em uníssono na região e defensores
justos de discursos críticos, ao mesmo tempo que na verdade marginalizando
vozes e corpos. Por outro lado, a divisão binária Norte/Sul Global esconde
movimentos de insurreição e agendas de luta contra-sistémicas existentes
dentro do chamado Norte. Por isso, quando me refiro à nossa região, em vez
de Sul Global prefiro operar o conceito de América

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 31


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

Ladina criada por Lélia Gonzalez, uma proposição epistemológica que


recupera a história de luta e resistência dos povos vitimados pela
colonização contra a violência, para pensar “por dentro”
Enquadramentos indígenas e negros, afastando-se de interpretações
centradas no pensamento moderno que desqualificam a alteridade.
Certamente nem tudo pode ser interpretado de acordo com os
princípios do CWS, pois nenhuma teoria é completa, mas tal contribuição
deve ser introduzida no catálogo das teorias de RI porque consegue explicar
tópicos importantes como poder, desenvolvimento, intervenções
humanitárias, direitos humanos, conflito e cooperação internacional, relações
centro-periferia, entre outros.
Nos percursos do eixo Regimes, Organizações e Instituições, os
pactos de branquitude são ferramentas que demonstram o soft power e a
solidariedade racial para a manutenção de hegemonias construídas na
negociação, no estabelecimento de regulações, na disseminação de valores,
agendas e na epidermalização de espaços de poder. Tal como discutido
noutro artigo (Silva, K., 2021), o comércio atlântico de escravos foi um
regime internacional, talvez o primeiro da modernidade. Foi feito a partir de
arranjos que englobam estratégias de cooperação, normas internacionais,
bem como organizações públicas e privadas a serviço do tráfico, do lucro e,
consequentemente, do capitalismo.
Regimes, normas e instituições são arranjos do poder masculino
branco ocidental. A discursividade liberal que defende a cooperação
através de instituições e/ou dispositivos legais, a fim de propagar a paz
liberal, é um truque da classe dominante para domesticar aqueles que ela
subalterniza e conduzir a gestão racial. No que diz respeito à criação de
agendas institucionais, a representação de um “outro” biologizado assenta
na ideia de que as nações do chamado Norte definem estratégias e as
nações do Sul têm necessidades, decorrentes de uma mentalidade segundo
a qual a política se produz num só espaço enquanto, em outro, como um
teatro de operações, o controle é exercido.
Outro exemplo de pacto narcisista é a formulação rooseveltiana inicial
de um sistema de segurança colectiva das Nações Unidas baseado

32 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

na metáfora de três policiais: Estados Unidos, França e Reino Unido,


posteriormente ampliada para cinco. Nesta encenação a branquitude, além
de gerir, legislar e julgar o mundo, também tem funções de polícia, protegendo
os seus interesses nos territórios que usurpa e activando o direito e as
organizações internacionais para defender a farsa de promover a paz e a
segurança mundiais.
Como argumentei noutro artigo (Silva, K., 2023), o direito internacional
moderno produziu, em conjunto com outras ferramentas coloniais, um
intrincado esquema de identidades, articulando cis-masculinidade e raça
como eixos determinantes para a construção de uma alteridade que ,
associado à ausência de racionalidade, é passível de colonização e controle,
de custódia (Doty, 1996). O direito internacional público foi concebido para
validar a escravatura, o comércio atlântico de escravos e o colonialismo,
funcionando como uma tecnologia mundial de governação racial.
O léxico binário moderno do direito internacional público opera cadeias
associativas que encenam identidades e posicionalidades. Uma identidade
racializada, animalizada tem sido apresentada como alegoria de “um Outro
do Sujeito que já atingiu a consciência” (Silva, D., 2019, p. 107), e por isso
não teria o indivíduo dupla autonomia para autogoverno, algo que no contexto
do direito (e das RI) corresponde à ausência de personalidade jurídica e
autoridade soberana. Por associação, o sujeito soberano é dotado de
responsabilidades internacionais de tutela sobre aqueles incapazes de
autodeterminação. Esta é a racionalidade que levou ao sistema de mandatos
da Liga das Nações, à administração de territórios não autónomos e ao
sistema de Tutela das Nações Unidas.

Na mesma direção, a negação ontológica do ser racializado (ausência


de autonomia) expressa-se em termos de uma ausência de soberania ao nível
das instituições nacionais e multilaterais. Em outras palavras: os objetivados
não são sujeitos políticos, nem sujeitos de direito interno ou internacional. É
por isso que as lutas dos estados africanos pela libertação nacional foram
também lutas pela emancipação, pela humanização daqueles condenados a
viver na zona do não-ser (Fanon,

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 33


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

2008). Esta é a hermenêutica dos artigos 2, 4, 73-85 da Carta das Nações Unidas. O
princípio consagrado da autodeterminação no tratado que instituiu as Nações Unidas
não incluía o apelo dos povos colonizados; por isso, a Carta das Nações Unidas
resulta de um pacto narcisista de branquitude. É um contrato da mesma natureza dos
tratados de Vestfália e dos tratados assinados na Conferência de Berlim em 1884-1885.
Ainda no contexto da ONU, o Estatuto da Corte Internacional de Justiça deixa evidente
em seus artigos 9º e 48º que os juízes que comporão a Corte serão os representantes
“das mais altas formas de civilização” e que as decisões serão pautadas por
princípios gerais de direito, reconhecidos pelas “nações civilizadas” (grifo nosso).

Considerando o exposto acima, observa-se que a gramática racial binária


fabrica subjetividades, intersubjetividades e posicionalidades racialmente marcadas.
Ou seja, as discursividades explícitas e implícitas nos arranjos jurídicos e políticos
internacionais encenam um “outro” colonizável e determinam posições de subordinação
e superioridade nas relações de poder em funcionamento no sistema. O direito
internacional público, como mecanismo que deriva de arranjos narcisistas , funciona
como um dispositivo de segurança internacional, pois constrói procedimentos para
controlar órgãos e territórios e, consequentemente, para facilitar a distribuição de
recursos entre as elites capitalistas nas nações centrais.

O salvadorismo branco, uma das faces do imperialismo, tem sido usado como
justificação para guerras e intervenções supostamente em nome de discursos
universalistas de direitos humanos, impulsionando a indústria armamentista, a
economia mundial e reunindo solidariedades. Além disso, deve ser estabelecida a
associação entre imperialismo, cooperação, guerras e racismo . Rosa Luxemburgo
afirmou em 1911 que o europeísmo e a ideia de uma união europeia estiveram sempre
ligados, aberta ou subliminarmente , a uma ofensiva imperialista contra raças
consideradas inferiores, asiáticas e negras. Segundo ela, “a solução da unidade
europeia no seio da ordem social capitalista pode significar objectivamente, no plano
político

34 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

sentido, apenas uma guerra colonial racial” (Luxemburgo, 1986, p. 256).


Isto é, uma versão aberta do pacto.
Em contacto com o direito e as organizações internacionais, as componentes
do curso de Segurança e Defesa poderão beneficiar do diálogo com os Estudos
Críticos da Branquitude, dado que estes últimos contribuem para a compreensão de
que o controlo do poder e dos privilégios da branquitude na esfera internacional
sempre esteve ligado a mecanismos de manejo da violência, dirigida de forma desigual
aos que estão no lado subordinado da relação. A aversão àqueles que foram
animalizados é a principal

dação em construção de fronteiras, do uso de ações ostensivas de


segurança e da prática de necrogovernança mascarada por megaprojetos
de fomento ao desenvolvimento, aos direitos humanos, a uma suposta
construção da paz e ao controle migratório. As fronteiras físicas e simbólicas
delimitam recursos propensos à usurpação e trabalho que pode ser
explorado para o “bom” funcionamento do capitalismo racial de género.
Arranjos de segurança, acordos de cooperação e princípios legais
pintam a linha colorida (Du Bois, 1925), separando zonas de humanidade e
proteção de zonas de subumanidade, nas quais a morte e a violência não
são apenas permitidas, mas também promovidas para o empreendimento
civilizatório. tenham sucesso e a paz dos “bons cidadãos” seja assegurada.
Nessas zonas, o hard power racial é praticado ao máximo, pois, afinal, “a
violência racial é amplamente codificada na linguagem das fronteiras e da
segurança” (Mbembe, 2020). A branquitude capitalista, detentora do
biopoder e do necropoder (Mbembe, 2018b), da vida e da morte, faz uso
de tecnologias sofisticadas para controlar os corpos biológicos, para
discipliná- los e reorganizá-los em múltiplas hierarquias heteropatriarcais.
Mbembe continua a explicar que a eliminação biofísica do “outro” cuja
existência pura e simples é lida como uma ameaça à vida e à segurança
do ser humano universal “é uma das imaginações da soberania” (2020, p.
128-129) .
Um exemplo emblemático que conecta os aspectos mencionados por
Cida Bento sobre a construção de pactos – como a empatia entre os
membros do grupo branco e a exclusão moral daqueles que não o fazem

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 35


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

pertencem a ele – com a migração e a construção de muros ficaram claros com a


guerra que começou na Ucrânia em 2022. Os meios de comunicação nacionais
e internacionais relataram amplamente a solidariedade global selectiva com os
refugiados ucranianos e o desrespeito pelas populações negras que vivem no país.
No campo da Política Externa, baseio-me em outro artigo (Silva, K., 2022)
em que explorei como o Brasil empregou todos os instrumentos de sua política
externa para se apresentar como uma nação tolerante, construindo um modelo
único de sociabilidade, e como resultado de uma colonização portuguesa
benevolente e suave. Essa autorrepresentação higienizada e positiva sempre foi
utilizada na tentativa de firmar pactos com os administradores do capitalismo
internacional a fim de trazer vantagens para as elites brancas do país. O Estado
brasileiro mobilizou recursos discursivos e visuais como instrumentos de política
externa, tentando aparecer nas instituições multilaterais como uma nação
promotora de consensos e, portanto, como um agente de paz, mediador de
conflitos internacionais e digno de adquirir responsabilidades em esquemas de
segurança coletiva .
Além disso, desde a estreia brasileira no contexto internacional , os
administradores da política externa brasileira sempre pretenderam mostrar o país
como branco e civilizado, governado por descendentes de europeus que
dominavam a arte de neutralizar conflitos raciais.
Tal narrativa, aliás, foi desmentida por pesquisadores do projeto Unesco da ONU
na segunda metade do século XX. Durante muito tempo, os agentes da política
externa brasileira temeram que o país fosse confundido com uma nação de maioria
negra e, por conta disso, houve durante séculos a recusa em promover alianças
com o continente africano; em vez disso, muitos avanços, inclusive jurídicos, foram
feitos para firmar pactos com o colonizador, como o Tratado de Amizade,
Cooperação e Consulta, estabelecido com Portugal para apoio mútuo nas decisões
no cenário internacional. Além disso, o estado investiu pesadamente, tanto
monetária quanto legalmente, para atrair imigrantes brancos que serviriam a um
projeto de branqueamento nacional.

Outros usos da política externa têm sido historicamente o silenciamento


dos apelos internacionais por parte das comunidades negras e indígenas,

36 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

bem como a negação do genocídio das populações negras e indígenas


(Nascimento, 1978). As políticas migratórias numa perspetiva internacional ,
incluindo a criação de políticas de ação afirmativa para atrair imigrantes
europeus, foram um agente importante na estruturação do racismo (Silva, K.,
2020; Silva, K., 2022).
No que diz respeito à área da economia política, uma contribuição dada
pelo CWS na noção de que a construção do “branco” como categoria racial
“tem sido pacientemente construída na junção entre a lei e os regimes de
extorsão da força de trabalho” (Mbembe, 2018, p. 88). Como explica Lélia
Gonzalez (1988), o racismo está no centro da organização e do desenvolvimento
do capitalismo. A dinâmica da exploração do trabalho é mediada por concepções
de raça, género, classe, sexualidades e idade que, de forma imbricada, foram
concebidas para facilitar a expropriação da terra e do trabalho. O regime de
supremacia branca combina classe, raça, gênero e sexualidades (Bento, 2022).
Seguindo Bento, o capitalismo está ligado tanto à raça como ao controlo de
recursos e territórios desde o comércio atlântico de escravos, e reflecte-se em
actos de ecocídio e genocídio das populações negras e indígenas.

Todas essas agendas conectam pesquisas e práticas de ensino


engajadas na transformação de estruturas com a extensão, e o último ponto
que desejo destacar está relacionado a esta última. A divisão mente-corpo
pressupõe também uma dissociação entre teoria e prática, como se não
existisse feedback mútuo entre as duas (Curiel, 2020).
A separação mente-corpo, teoria-prática afasta o pensamento acadêmico da
práxis engajada e do ativismo. É por isso que o ativismo intelectual (Collins,
2013) é inconcebível para a ciência.
Outra questão que deve ser abordada é a inclusão da extensão nos
currículos, principalmente no que diz respeito à criação e execução de ações
junto à comunidade não acadêmica. A extensão deve libertar-se dos perigos
de absorver o conjunto de ideias salvacionistas brancas que atravessa uma
parte significativa dos componentes curriculares. Na verdade, como discutido
anteriormente, o messianismo orienta a produção epistémica colonial. A
extensão deve ser entendida como o afetivo

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 37


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

encontro com a diferença para promoção de diálogos não hierárquicos e aprendizagem


mútua. A extensão libertadora não se faz pela ação messiânica dos “justos”, que se
consideram seres iluminados e representantes da intelectualidade. A extensão
comunicativa visa construir soluções coletivas para os desafios sociais, como ensina
Paulo Freire (1985), visto que a universidade deve se engajar com a realidade que

nos midiatiza por meio da dialogicidade e da intercomunicabilidade (Freire, 1985;


Silva, Castelan, 2019). As instituições de ensino devem assumir as responsabilidades
históricas, a sua posição como agentes produtores de transformação social, e devem
questionar estruturas de opressão em vez de produzir ou reforçar vetores de violência
sócio-racial , seja no ensino, na pesquisa ou na extensão.

5. CONCLUSÕES

A ontologia das RI é colonial, racial e de género cis, mas a sua conveniente


cegueira impede-a de olhar para si mesma e de ver os seus próprios problemas. A
racionalidade dominante no campo produz narrativas que performam subjetividades
e posicionalidades hierarquicamente classificadas no sistema internacional. Esconde
o facto de que o poder do Ocidente é marcado pela articulação sobreposta de raça,
classe, sexualidade e género, entre outros marcadores. Esse poder é centrado no
branco, corporificado, cis-heteronormativo, preservando-se através de acordos e da
produção de discursividades que glorificam as nações centrais e as suas aventuras,
medidas através de uma masculinidade tóxica. No entanto, como a conquista do
poder nunca é definitiva, a manutenção desse poder exige ações diárias para
neutralizar ou minimizar a dissidência e a oposição. Além disso, como explorado
acima, é nas instituições, enquanto locais de disputas pelo poder, que as solidariedades
raciais se manifestam e se concretizam, tanto através de práticas não ditas destinadas
à protecção e preservação de grupos dominantes, como através de sanções contra
aqueles que são considerados desafiantes do status quo.

38 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

Os CWS, como demonstrado, inauguram uma nova perspectiva a partir da


qual olhar para as RI. Embora algumas teorias críticas já consagradas na área
abordem questões aqui levantadas, como a hegemonia branca, é importante notar
que Du Bois é pioneiro nos estudos sobre a branquitude e o racismo como elemento
da política internacional. Cida Bento, por sua vez, é a primeira a apresentar o modus
faciendi do grupo que domina as estruturas de poder.

No contexto institucional acadêmico, apelar ao SAC como perspectiva de


disputa é um apelo à ação, à mobilização de energias e lealdades com o objetivo de
romper pactos e silêncios, transformando currículos e instituições. Pedagogias,
metodologias e epistemologias são instrumentos cruciais para disputar narrativas,
sítios, territórios e futuros. As lutas por território, seja em termos de posse ou de
presença, fazem parte da gramática secular de luta dos povos racializados. Nesse
sentido, Beatriz Nascimento pede a reintegração de posse. “Repossuir” é um verbo
que engloba tanto as espacialidades quanto as epistemes e os propósitos da
academia, pois a academia não é apenas matéria; é também um símbolo.

O ensino superior na sua versão iluminista tem servido para “deseducar a


pessoa negra” (Woodson, 2018), ou seja, para disciplinar, justificar a opressão racial
e alienar aqueles que foram racializados. A (des)educação reforça a branquitude
como norma, como salvadora do mundo, aliena os sujeitos racializados de si mesmos,
de sua própria história, e mina as possibilidades de ação insurgente mediada por
solidariedades. Assim, a produção de um discurso nas RI que questione a branquitude
do poder, os elementos que ficam nas entrelinhas da construção sócio-racial branca
e sua permanência hegemônica nas instituições, nas epistemologias e no imaginário
social seria uma transformação radical.

Os CWS são uma ferramenta potente para avançar do estágio das “relações
inter-raciais” para as relações internacionais em muitos sentidos: porque permitem
problematizar a falta de estudos sobre a branquitude e o salvadorismo branco nas RI;
porque racializar a discussão sobre o poder

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 39


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

permite decifrar o complexo funcionamento da presença da branquitude nas


instituições e exige que o campo, a academia e outras instituições centradas
no branco olhem para dentro e se interroguem como um problema, como
reprodutores de racismo e de desigualdades sociais e económicas; porque
o CWS insta a parte da branquitude que se considera crítica a denunciar e
dissolver pactos não ditos que sequestram as humanidades; porque visa
desvendar, confrontar e abolir a separabilidade como fundamento da violência
“autorizada e justificada” por parte dos aparelhos de poder, tanto internos
como internacionais; porque é uma forma de aumentar as tensões contra a
violência organizada pelos estados/instituições que se traduz no genocídio
negro e indígena, ao mesmo tempo que expõe o papel da branquitude na
produção e circulação de discursividades de separabilidade (Silva, D., 2019);
e, por último, porque os SAC são, acima de tudo, um alicerce essencial para
a aplicação das Leis 10.639/03 e 11.645/2008 nas salas de aula, para a
promoção da justiça cognitiva e da inclusão da maior parte da população
mundial, com agências e experiências que têm foram invisibilizadas pelas
epistemes dominantes na área, à semelhança das injustiças cometidas em
nome da conquista.

Os CWS são uma ferramenta útil também porque, ao questionar a


branquitude, têm o potencial de quebrar alguns dos pactos narcisistas.
Também podem ser usados contra a degeneração dos estudos pós-coloniais
(Borba de Sá, 2021) ou a ‘gourmetização’ da decolonialidade (BALDI, 2019),
tendência recente em alguns setores da academia que consiste na apropriação
do conhecimento negro e indígena e agências, ao mesmo tempo que
desracializa e omite as dimensões sobrepostas de classe, género e raça das
teorias críticas anti-sistémicas.
Finalmente, o nosso ensino deve ser reorientado para a recepção, para
a desintegração de sistemas de opressão através da activação de processos
de intervenção e libertação, para a “reintegração de posse” e a emancipação.
Isto significa enfrentar o poder, denunciar os silêncios e a cegueira seletiva:
significa educar para todas as possibilidades de pensar, de ser, de existir de
forma diferente e de resistir à desumanização. Como Bell Hooks

40 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

(2019) nos ensina, a academia deve ser lugar de acolhimento e afeto, mas
também de indisciplina e transgressão.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Sílvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letra-mento, 2018.

BALDI, César. Da “gourmetização” da Teoria Decolonial: o que a raça tem a ver com isso?[i].
Empório do Direito, 2019. Disponível em: https://
emporiododireito.com.br/leitura/da-gourmetizacao-da-teoria-decolonial-
-o-que-a-raca-tem-a-ver-com-isso-i. Acesso em: 3 atrás. 2023.

BENTO, Cida. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray.; BENTO, Maria
Aparecida da Silva (org.) Psicologia social do racis-mo: estudos sobre branquitude e
branqueamento no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2002a.

BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras,


2022.

BENTO, Cida. Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações


empresariais e no poder público. 2002. Tese (Doutorado em Psicologia) - Instituto de
Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002b.

BORBA DE SÁ, Miguel. De(s)colonizando as Relações Internacionais | Programa


Renascença. [S. eu.: S. n.], 2021. 1 vídeo ( 1h e 51min). Publicado pelo canal Diplomacia
para Democracia. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=tRpUoyITegE Acesso em: 26 de março de 2022.

CARDOSO, Lourenço da C. Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco


antirracista. Revista Latinoamericana de Ciencias So-

ciales, niñez y juventud, v. 8, p. 607-630, 2010.

CARDOSO, Lourenço da C et al. (org.). Branquitude: Estudos sobre a identidade branca no


Brasil. 1.ed. Curitiba: Appris Editora, 2018a.

CARDOSO, Lourenço da C. O branco ante a rebeldia do desejo: um estudo sobre a


branquitude no Brasil. 2014. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São
Paulo, SP, 2014.

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 41


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

CARDOSO, Lourenço da C. O modo de pensar da razão dual racial: a branquitude e


o mestiço-lacuna. Revista Debates Insubmissos, Caruaru, Brasil, ano I, v.1, n. 2,
pág. 33-48, maio/ago. 2018b.

CONCEIÇÃO, Willian Luiz da. Arranjos da branquitude em Jorge Amado: a obra


Tenda dos Milagres (1969) entre a ambivalência da mestiçagem e o fortalecimento
da cultura brasileira. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade
do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Humanas e da Educação,
Florianópolis, 2014.

CONCEIÇÃO, Willian Luiz da. Brancura e branquitude: ausências, presenças e


emergências de um campo de debate. Dissertação (Mestrado em Antropologia
Social) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências
Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2017.

CONCEIÇÃO, Willian Luiz da. Branquitude: dilema racial brasileiro.


Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, 2020.
COLLINS, PH Sobre ativismo intelectual. Estados Unidos da América:
Temple University Press, 2013.
CURIEL, O. Construindo metodologias feministas a partir do feminismo decolonial. In:
HOLLANDA, HBD Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de
Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.

DOTY, Roxane Lynn. Encontros Imperiais: A Política de Representação nas


Relações Norte-Sul. Mineápolis: Minnesota Press, 1996.

DU BOIS, WEB Reconstrução negra na América (1860-1890). Nova York:


Harcourt Brace, 1935.

DU BOIS, WEB DuBois, WEB Mundos de Cor. Relações Exteriores, n. 3, pág. 423–
44, 1925. Disponível em: https://doi.org/10.2307/20028386
. Acesso em: 3 atrás. 2023.

DU BOIS, WEB As raízes africanas da guerra. In: Atlantic Monthly, n. 115, pág.
707-714, 1915.
DU BOIS, WEB As almas do povo branco. In: DU BOIS, WEB Writings (Library of
America, 1987). pág. 923-38. Publicado originalmente no The Independent, 10 de
agosto de 1910, e revisado para a coleção Darkwater: Voices from Within the Veil
(1920). Disponível em: https://loa-shared.
s3.amazonaws.com/static/pdf/Du_Bois_White_Folk.pdf . Acesso em: 10 de setembro de
2022.

42 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

FANON, Frantz. Peles Negras, Máscaras Brancas. Salvador: Ed. UFBA, 2008.

FAUSTINO, Deivison Mendes. A disputa em torno de Frantz Fanon: a teoria e a política dos
fanonismos contemporâneos. São Paulo: Intermeios, 2020.

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. v. 1.


São Paulo: Ática, 1978.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira


sob o regime da economia patriarcal. 50. ed. rev. São Paulo: Global, 2005.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Tradução Rosisca Darcy de
Oliveira. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

GOMES, Nilma Lino. Movimento negro e educação: ressignificando e


politizando a raça. Educ. Soc., Campinas, v. 120, pág. 727-744, jul./
definir. 2012.

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade.


Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 92/93, pág. 69-82, jan./jun. 1988.

GORDON, Lewis R. Fanon e a crise do homem europeu: um ensaio sobre


filosofia e ciências humanas. Nova York: Routlege, 1995.

GUERREIRO RAMOS, Alberto. A Introdução Crítica à Sociologia Brasileira.


Rio de Janeiro: Andes, 1957.

HAYWOOD, H. Libertação do Negro. Nova York: Editores Internacionais, 1948.

HOFFMANN, Stanley. Uma ciência social americana: Relações Internacionais.


Dédalo, n. 106, (3), pág. 41-60,1977.

HENDERSON, Errol A. Escondido à vista: racismo nas relações internacionais


Teoria. Cambridge Review of International Affairs, n. 26 v.1, pág. 71-92,
2013.

HENDERSON, Errol A. Racismo na teoria das relações internacionais. In:


ANIEVES, Alexandre.; MANCHANDA, Nivi.; SHILLIAM, Robbie (organizador).
Raça e Racismo nas Relações Internacionais. Londres: London University
College, 2017.

GANCHOS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da


liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2019.

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 43


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

JESUS, Carolina Maria. Quarto de desespero. 10. ed. São Paulo: Ática, 2014.
KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios do racismo coti-diano. Trad.
De Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

LUXEMBURGO, Rosa. Utopias de Paz. In: ÁGUAS, Mary-Alice. Rosa Luxemburgo


fala. Nova York: Pathfunders Press, 1986.
LUGONES, Maria. Rumo a um feminismo descolonial. Estudos Feministas,
Florianópolis, n. 22, v. 3, pág. 935-952, set./dez. 2014.

MBEMBE, A. Crítica da Razão Negra. São Paulo: N-1 Edições, 2018a.

MBEMBE, A. Necropolítica. São Paulo: N-1 Edições, 2018b.

MBEMBE, A. Políticas de inimização. São Paulo: N-1 Edições, 2020.

MILLS, Charles W. O Contrato Racial. Nova York: Cornell University Press, 1997.

MEMMI, A. Retrato do colonizado. Retrato do colonizador. Paris: Galli-mard, 1985.

MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem das noções conceituais de raça, racismo, identidade e etnia. In: Programa de educação

sobre o negro na sociedade brasileira [Sl: sn], 2004. Disponível em: https://www.geledes.

org.br/wp-content/uploads/2014/04/Uma-abordagem-conceitual-das-no-coes-de-
raca-racismo-dentidade-e-etnia.pdf . Acesso em: 10 out. 2022.

NASCIMENTO, Abdias do. O Genocídio do negro brasileiro: processo de um


racismo mascarado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

NASCIMENTO, Abdias do. O Quilombismo: documentos para uma


militância pan-africanista. São Paulo: Perspectiva; Rio de Janeiro: Ipeafro, 2019.
ROBINSON, Cédric J. Capitalismo Racial: O Caráter Não Objetivo do Desenvolvimento
Capitalista. Tábula Rasa, n.28, p.23-56, 2018.
SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo ”:
raça, raça e poder na construção da branquitude paulistana . 2012. Tese (Doutorado
em Psicologia Social) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2012.

SCHUCMAN, Lia Vainer. Sim, nós somos racistas: estudo psicossocial da branquitude
paulistana. Psicologia e Sociedade, v. 26 (1), p. 83-94, 2014.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições


e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

44 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

SILVA, Denise Ferreira. A dívida impagável. Tradução Amilcar Packer e Pedro


Daher. São Paulo: Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019.

SILVA, Karine de Souza. “A mão que afaga é a mesma que apedreja”: Direito,
imigração e a perpetuação do racismo estrutural no Brasil. Revista Mbote,
Salvador, Bahia, v. 1, p.20-41. jan./jun. 2020. Disponível em: https://
www.revistas.uneb.br/index.php/mbote/index. Acesso em: 3 atrás. 2023.
SILVA, Karine de Souza. “Esse silêncio todo me atordoa”: a surdez e a
cegueira selecionadas para as dinâmicas raciais nas Relações Internacionais.
Revista de Informação Legislativa, v. 58, p. 37-55, 2021. Disponível em: https://
www12.senado.leg.br/ril/edicoes/58/229/ril_v58_n229_p37.
Acesso em: 3 atrás. 2023.
SILVA, Karine de Souza. O Direito Internacional e a performatização da
inocência branca: estudo sobre o genocídio do povo negro brasileiro e o Tribunal
Penal Internacional, 2022a. (Prélo)

SILVA, Karine de Souza. O genocídio negro e o assassinato do refugiado africano


Moïse Kabagambe: o retrato que o Brasil brancocentrado nunca quis revelar ao
mundo. Empório do Direito, pág. 1, 2022b. Disponível em: https://
emporiododireito.com.br/leitura/o-genocidio-negro-eo-assassi- nato-do-refugiado-
africano-moise-kabagambe-o-retrato-que-o-brasil-
-brancocentrado-nunca-quis-revelar-ao-mundo. Acesso em: 3 atrás. 2023.
SILVA, Karine de Souza.; CASTELAN, Daniel R. 'Mil nações moldaram meu
rosto': Brasil, migração sul-sul e envolvimento comunitário (divulgação) nas
relações internacionais. Revista de Extensão, v. 154, 2019.

VITALIS, R. Ordem mundial branca, política do poder negro: o nascimento


das relações internacionais americanas. Nova York: Cornell University Press, 2015.
WALT, Stephen M. As RI ainda são 'uma ciência social americana?'
Foreign Policy.com.2011 . Disponível em: https://foreignpolicy.com/2011/06/06/
é-ir-ainda-uma-ciência-social-americana/?fbclid=IwAR1kWIrOs1xSl4PibLc-
fEiTtG2rAJNAiQXZJgFl_OQEBbeNgyRn5u3keIU. Acesso em: 3 atrás. 2023.
WEKKER, Glória. Inocência Branca: paradoxos do colonialismo e da raça.
Durhan e Londres: Duke University Press, 2016.
WOODSON, CG A deseducação do negro. São Paulo: Medu Neter Livros, 2018.

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 45


Machine Translated by Google

ESTUDOS CRÍTICOS DE BRANQUEIDADE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: DISPUTADAS NARRATIVAS

E DESAFIANDO ESTRUTURAS EPIDERMALIZADAS DE PODER NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

____________________________________________________________

KARINE DE SOUZA SILVA

Docente dos Programas de Pós-Graduação em Direito e Relações Internacionais


da Universidade Federal de Santa Catarina. Produtividade do Pesquisador em
Pesquisa PQ CNPq. Pós-doutorado na Katholieke Universiteit Leuven e na
Université Libre de Bruxelles, Bélgica . Doutor em Direito Internacional pela
Universidade Federal de Santa Catarina. Investigador visitante na Universidade
Técnica de Moçambique, Middlebery University, Estados Unidos, Universidade do
Minho, Portugal, Universidade de Pisa, Itália, Université Libre de Bruxelles, Bélgica,
e Universidad de Valladolid, Espanha. É coordenadora do “EIRENÈ - Centro de
Pesquisas e Práticas Decoloniais e Pós-coloniais aplicadas às Relações
Internacionais e ao Direito Internacional”, e do projeto de extensão “Centro de

Apoio a Imigrantes e Refugiados” (NAIR/Eirenè/UFSC). É professora da Cátedra


Sérgio Vieira de Mello da Agência das Nações Unidas para os Refugiados.

Endereço profissional: Centro de Ciências Jurídicas, Campus Universitário Reitor


João David Ferreira Lima, s/nº - Trindade, SC, 88040-900, Brasil.

ID Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9212-8818

E-mail: karine.silva@ufsc.br

Recebido: 05/12/2022

Aceito: 01/04/2023

46 SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023


Machine Translated by Google

KARINE DE SOUZA SILVA

Este trabalho está licenciado sob Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional
Licença.

LICENÇA DE USO

Os autores concedem à Revista Sequência direitos exclusivos de primeira publicação, e o trabalho é


licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. O

licença autoriza terceiros a remixar, adaptar e/ou criar a partir do trabalho publicado, indicando crédito ao
trabalho original e sua publicação inicial. Os autores podem celebrar acordos adicionais separados, com
distribuição não exclusiva da versão publicada na Revista Sequência, indicando, em qualquer caso, a
autoria e a publicação inicial nesta revista.

SEQÜÊNCIA (FLORIANÓPOLIS), VOL. 44, Nº 93, 2023 47

Você também pode gostar