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Resumo
Introdução
As estatinas sã o um dos medicamentos mais prescritos nos países desenvolvidos para serem o
tratamento de eleiçã o para reduzir os níveis de colesterol, ajudando també m a prevenir a
doença cardiovascular. No entanto, um grande nú mero de pacientes sofre reaçõ es adversas,
em especial miotoxicidade. Entre os fatores que influenciam a diversidade de resposta, a far‐
macogené tica pode desempenhar um papel relevante especialmente na prevençã o dos efeitos
adversos associados a esses medicamentos.
Conteú do
Revisã o dos conhecimentos atuais sobre a influê ncia da farmacogené tica na apariçã o e
prevençã o das reaçõ es adversas associadas à s estatinas, bem como do benefício clínico do
teste farmacogené tico antecipado.
Resumo
Variaçõ es gené ticas em SLCO1B1 (rs4149056) para todas as estatinas; en ABCG2 (rs2231142)
para rosuvastatina; ou em CYP2C9 (rs1799853 e rs1057910) para fluvastatina está associada a
um aumento nas reaçõ es adversas do tipo muscular e a uma baixa adesã o ao tratamento. Alé m
disso, diversos medicamentos inibidores de transportadores e enzimas de biotransformaçã o
incrementam a exposiçã o sistê mica das estatinas, favorecendo o aparecimento de reaçõ es
adversá rias.
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Perspectiva
A implementaçã o clínica da aná lise antecipada deste painel de farmacogené tica evitou em
grande parte o aparecimento de reaçõ es adversas. Alé m disso, a padronizaçã o na identificaçã o
dos efeitos adversos, na metodologia e interpretaçã o do genó tipo, permitirá obter resultados
mais conclusivos sobre a associaçã o entre as variantes gené ticas de SLCO1B1, ABCG e CYP2C9 e
a apariçã o de reaçõ es adversá rias e estabelecer recomendaçõ es para alcançar tratamentos
mais personalizados para cada estado.
Introduçã o
A medicina de precisã o, baseada na aplicaçã o padronizada de crité rios clínicos, um menu fun‐
damentado na interpretaçã o de diversos biomarcadores vá lidos, permite a implementaçã o de
novas estraté gias preventivas, diagnó sticas e terapê uticas que levam em consideraçã o as carac‐
terísticas de cada paciente. Um de seus objetivos é personalizar a prevençã o ou o tratamento
farmacoló gico de uma doença, tendo em conta uma sé rie de fatores que evidenciam a elevada
variabilidade interindividual. As diferenças entre as respostas, em termos de tipo e intensidade,
dos pacientes frente aos medicamentos podem ter causas distintas entre as que destacam os
fatores gené ticos (farmacogené ticos), ambientais (epigené ticos), a adesã o ao tratamento, as in‐
teraçõ es farmacê uticas medicamento, a fisiopatologia e a origem é tnica [ 1 , 2 ].
O colesterol é sintetizado a partir da acetil coenzima A. O passo limitante em sua síntese é a re‐
duçã o do hidroximetilglutaril (HMG) e mevalonato atravé s da enzima HMG-CoA reductosa.
Akira Endo estabeleceu a hipó tese de que alguns organismos inibiam essa enzima como meca‐
nismo de defesa contra microbios que precisam do colesterol para sobreviver [ 7 , 11 ]. Foi as‐
sim como a Mevastatina, isolada do Hongo Penicillium citrinum em 1970, com uma estrutura
semelhante à do HMG-CoA e poderoso inibidor competitivo do HMG-CoA reductasa, foi utili‐
zada como o primeiro agente hipolipemiante [ 12 ]. Posteriormente, se desarrollaron outras
estatinas [ 11 ]. As primeiras geraçõ es, lovastatina, pravastatina e fluvastatina, foram introduzi‐
das nos Estados Unidos no final dos anos 1980 e 1990, sendo as de maior baixa potê ncia. As
de segunda geraçã o, atorvastatina e sinvastatina, melhoraram a eficá cia para reduzir o cLDL.
No momento da terceira geraçã o, a rosuvastatina demonstrou ser a mais potente [ 13 ].
Mesmo que todas as estatinas tenham o mesmo grupo farmacê utico, é feita uma distinçã o en‐
tre elas no anel que se uniu ao resto ativo e que determinará sua estrutura química, a farmaco‐
ciné tica, o efeito clínico ou as propriedades farmacoló gicas incluindo a solubilidade. Ele explica
que temos molé culas mais hidró filas, como a pravastatina e a rosuvastatina, e outras mais lipó ‐
filas, como a atorvastatina, a lovastatina, a fluvastatina, a pitavastatina e a sinvastatina. Obvia‐
mente, as lipó filas tê m uma maior prevalê ncia de sintomas musculares associados à s estatinas
(SAMS), o que pode ser devido a que você trave passivamente as membranas celulares dos te‐
cidos musculares e outros extra-hepá ticos, mas sã o necessá rios mais estudos para chegar a es‐
tabelecer esta conclusã o [ 14 ] .
A associaçã o entre a farmacogené tica das estatinas, administradas para o tratamento preven‐
tivo das doenças cardiovasculares, e a apariçã o de efeitos adversos é bem conhecida e pode
variar dependendo do tipo e dose da estatina [ 17 ]. O Clinical Pharmacogenetics Implementa‐
tion Consortium (CPIC) publicou um guia de atualizaçã o em 2022 [ 9 ] recomendando a aná lise
dos genó tipos de SLCO1B1, ABCG2 e CYP2C9 por sua elevada associaçã o com o aumento da ex‐
posiçã o sistê mica das estatinas e o consiguiente incremento do risco de SAMS (evidê ncia 1A).
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Como aqui estã o nossas recomendaçõ es, se bem as estatinas compartilham uma estrutura quí‐
mica bá sica semelhante, apresentam uma sé rie de diferenças entre elas que determinam a di‐
versidade em suas propriedades farmacoló gicas [ 13 , 14 , 18 ].
Figura 1:
Quanto ao nível de reduçã o do colesterol com lipoproteína de baixa densidade (cLDL), a dose
depende e varia de acordo com o estado. As de alta intensidade (atorvastatina 40/80 mg e ro‐
suvastatina 20/40 mg) reduzidas, de mé dia, o cLDL ≥50%, as de moderada intensidade (ator‐
vastatina 10/20 mg, rosuvastatina 5/10 mg, sinvastatina 20/40 mg, pravastatina 40/80 mg, lo‐
vastatina 40/80 mg, fluvastatina 40/80 mg e pitavastatina 1/4 mg) entre 30–49% e as de baixa
intensidade até <30% (sinvastatina 10 mg, pravastatina 10/20 mg, lovastatina 20 mg e fluvasta‐
tina 20/40 mg). També m reduziu os níveis de triglicé ridos entre 10–20%. O mecanismo nã o é
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de todo conhecido, mas poderia exigir uma maior captaçã o de colesterol com lipoproteínas de
muita baixa densidade (VLDL) nos hepatocitos, bem como uma diminuiçã o na produçã o de
VLDL. Alé m disso, dependendo da dose e da estatina, aumenta o colesterol com lipoproteínas
de alta densidade (HDL) entre 1–10% [ 20 ]. No que diz respeito ao efeito sobre a lipoproteína
(a), as estatinas só afetam ligeiramente os níveis plasmá ticos e em relaçã o aos efeitos pleiotró ‐
picos, como o efeito antiinflamató rio e antioxidante, foram evidenciados in vitro, mas sua rele‐
vâ ncia clínica nã o está demonstrada [ 21 , 22 ].
Reaçõ es adversas: SAMS As estatinas inibem a síntese do colesterol no fígado, mas nessas situa‐
çõ es em que suas concentraçõ es plasmá ticas sã o elevadas també m o fazem em outros tecidos
extra-hepá ticos, incluindo o tecido muscular, onde podem causar 95% dos efeitos adversos.
Embora esta associaçã o e o mecanismo de açã o nã o estejam em tudo descrito, estima-se que
pode afetar até 30% dos pacientes [ 14 ]. Esses sintomas variam desde uma forma até uma do‐
ença muscular, chegando até a rabdomió lise potencialmente letal [ 17 , 23 ].
A porcentagem de SAMS é difícil de quantificar porque é baseada no autodiagnó stico dos paci‐
entes, à s vezes a dor é passageira, se resolve sozinha e pode ser causada por muitos fatores [
14 , 16 ]. Isso unido a uma falta de padrã o onde se usam termos indistintamente como mialgia,
miosite ou miopatía torna difícil a comparaçã o entre os resultados de diferentes estudos. Mais
detalhadamente, os resultados provenientes de uma revisã o de estudos clínicos randomizados
em pacientes com doença cardiovascular, tratados com estatinas, demonstram a associaçã o en‐
tre a apariçã o de sintomas musculares (principalmente debilidade ou fraqueza) e as estatinas,
sem que representem uma alteraçã o clínica clara muscular do tipo mialgia, miopatía, ou rabdo‐
mió lise [ 17 ]. Por outro lado, um estudo duplo com 12.064 pacientes demonstrou que a mio‐
patia ocorreu em 0,03% dos pacientes com baixas doses de sinvastatina e em 0,9% com sinvas‐
tatina de 80 mg [ 14 ]. Em consonâ ncia com esses resultados, Stillemans e col. [ 24 ]. demons‐
tra a influê ncia da dose e exposiçã o da atorvastatina com o risco de aparecimento de mialgias.
Em contrové rsia com esses resultados, uma metaaná lise de Irwin JC e col., que incluiu um total
de 192.977 pacientes, indicou que houve um ligeiro aumento de SAMS no grupo de pacientes
tratados com estatinas, mas nã o pô de estabelecer uma associaçã o de dose dependente [ 25 ].
Por ú ltimo, um estudo em pacientes de idade avançada, uma meta-aná lise que incluiu 18.192
participantes tratados com: atorvastatina, fluvastatina, lovastatina, pravastatina ou rosuvasta‐
tina, evidenciou que nã o havia diferenças em relaçã o à s reaçõ es adversas no grupo tratado em
comparaçã o com o placebo [ 26 ]. Todos esses resultados evidenciam um certo grau de incon‐
sistê ncia no que diz respeito à associaçã o entre as estatinas e à apariçã o de efeitos clínicos
adversos.
Para solucionar este problema, o consó rcio PREDICTION-ADR deve classificar o fenotipo e es‐
tabelecer a nomenclatura do dano muscular estabelecendo uma escala de SRM0 (miotoxici‐
dade relacionada com estatinas) para os casos mais leves a SRM6 para os mais graves [ 27 ] .
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Obviamente, a importâ ncia da dor muscular radical é uma das principais causas de baixa ade‐
sã o ou até mesmo para interromper o tratamento [ 27 ]. Diversos estudos mostram que a in‐
terrupçã o das estatinas apó s 6 meses de tratamento pode afetar 50% dos pacientes tratados [
7 , 28 ]. Segundo o guia CPIC, o SAMS ocorre em 1–7% dos pacientes e o risco é aproximada‐
mente 6 vezes maior em pacientes tratados com doses altas em comparaçã o com aqueles que
recebem doses baixas [ 9 ]. Alé m disso, a padronizaçã o da identificaçã o e registro das reaçõ es
adversas masculinas també m é imprescindível, como propõ e o consó rcio PREDICTION-ADR,
uma sé rie de grandes benefícios clínicos, disponibilizando biomarcadores específicos para es‐
ses efeitos adversos.
O uso de potenciais biomarcadores preditivos de dano muscular como a creatina quinasa (CK),
com resultados controversos [ 16 ], ou mais recentemente alguns miRNAs, o miR-145 [ 29 ] ou
miR-499-5 [ 30 ], sé rie especial ajuda para poder identificar de forma específica esses efeitos
adversos associados à s estatinas.
Entre outros efeitos adversos, o nível hepá tico foi observado um aumento no nível da alanina
aminotransferase (ALT) em 0,5–2% dos pacientes tratados com estatinas de alta intensidade
ou altas doses, sem que eles se associassem com hepatotoxicidade [ 22 ]. Alé m disso, vá rios es‐
tudos demonstraram um aumento de Diabetes Mellitus tipo 2 em geral com altas doses de es‐
tatinas e em pacientes idosos com sobrepeso ou com resistê ncia à insulina [ 22 ].
As estatinas sã o administradas por via oral e sua estrutura química determina sua solubili‐
dade, com grande influê ncia na absorçã o, distribuiçã o, metabolismo e excreçã o de cada uma
delas. Na laTabela 1se expõ em as características farmacociné ticas das estatinas mais utilizadas
em nosso meio [ 11 , 12 , 19 , 31 ].
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Tabela 1:
a Medido como IC50 (concentração para inibir um 50%). b Metabolismo minoritário. Adaptado de [ 11 , 12 ,
19 , 31 ]. CYP, citocromo P; t1/2, semivida de eliminação; Vd, volume de distribuição.
lismo hepá tico por enzimas CYP, sendo minoritá rias para pravastatina, rosuvastatina e pitavas‐
tatina. A isoenzima CYP3A4 é a principal envolvida, mas també m participa de outras como
CYP2C8, CYP2C9, CYP2C19 e CYP2D6. Portanto, todos os medicamentos que interagem tanto
com essas enzimas de biotransformaçã o quanto com as proteínas transportadoras podem au‐
mentar o risco de aparecimento de efeitos adversos [ 14 , 21 , 22 ]. A maioria desses medica‐
mentos está reconhecida noTabela 2.
Figura 2:
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Tabela 2:
um
Metabolismo minoritário. b Gen codificante. Adaptado [ 8 , 16 , 31 ]. CYP, citocromo P; OATP, transportador
de ânions orgânicos; P-gp, glicoproteína-P.
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Como exemplo de fá rmaco lipó filo, a atorvastatina é metabolizada em 85% pela enzima
CYP3A4 e també m é substrato de OATP1B1, BCRP e també m transportadores de fluxo depen‐
dentes de ATP como a proteína de resistê ncia a vá rios medicamentos (MDR1) [ 9 , 16 ]. A ex‐
pressã o e atividade destas proteínas reguladoras de transporte sã o um fator limitante para o
efeito fisioló gico das estatinas e que determina a concentraçã o do medicamento que entrará
ou que será expulso do hepatocito. Por isso, e como veremos no apartado de farmacogené tica,
variantes gené ticas dos genes que codificarã o essas proteínas estarã o associadas a mudanças
na concentraçã o do medicamento e seu efeito.
Foram descritas muitas interaçõ es entre a atorvastatina e outros medicamentos que sã o inibi‐
dores potentes do CYP3A4, como por exemplo: os azó is antifú ngicos (itraconazol, voriconazol);
os macró lidos (eritromicina e claritromicina); os inibidores da protease do HIV (darunavir, fo‐
samprenavir, ritonavir, saquinavir e tipranavir) e do HCV (telaprevir) e os antagonistas do ca‐
nal de cá lcio (mibefradil), que levam a um incremento considerável da á rea abaixo da curva
(AUC) de a concentraçã o plasmá tica da atorvastatina.
Um estudo sobre as interaçõ es do faldaprevir mostrou que este medicamento aumenta umas 8
vezes a exposiçã o sistê mica da atorvastatina, mas a vida mé dia de eliminaçã o desta ú ltima se
reduz levemente sugerindo que essa interaçã o é principalmente devida a uma inibiçã o do
transportador de captaçã o hepá tica OATP1B [ 33 ]. Online com este hallazgo, os resultados dos
estudos de Yamazaki e col. [ 34 ]. e los de Alam K e col [ 35 ]. demostra que a inibiçã o deste
transportador SLCO1B1 pelo isavuconazol e pela cloroquina, respectivamente, favorecendo o
incremento na exposiçã o e no risco de SAMS.
No que diz respeito aos transportadores OATP2B1 e BCRP, eles sã o expressos principalmente
nos enteró citos pelo que podem promover ou atenuar a absorçã o, respectivamente. Vá rios es‐
tudos demonstraram que o tratamento concomitante da pravastatina com medicamentos inibi‐
dores do OATP1B1, como a ciclosporina, o glecaprevir ou o pibrentasvir, aumenta de forma sig‐
nificativa o valor da AUC da pravastatina no plasma [ 14 , 36 ].
Farmacogenética
Para poder implementar a farmacogené tica na prá tica clínica, o grau de evidê ncia na associa‐
çã o gen-fá rmaco (gen acionável que permite recomendaçõ es sobre o tratamento) estabelecido
nas guias distintas deve ser o mais elevado (1A). Entre as guias mais importantes, cabe desta‐
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car o CPIC, DPWG, PharmGKB, a Rede Canadense de Farmacogenô mica para Segurança de Me‐
dicamentos (CPNDS) ou a Rede Nacional Francesa de Farmacogené tica (RNPGx). As metodolo‐
gias para qualificar a evidê ncia científica, as recomendaçõ es terapê uticas conforme genotipa‐
das e o grau de recomendaçã o variam conforme o guia [ 38 , 39 ]. No entanto, há trê s genes
selecionados em comum por CPIC, DPWG e PharmGKB, dos quais 3 tê m efeito sobre as estati‐
nas: ABCG2, CYP2C9 e SLCO1B1 . Na verdade, as definiçõ es dos alelos do SLCO1B1 estã o em con‐
sonâ ncia com os padrõ es do PharmVar [ 40 ].
O benefício de fazer testes farmacogê nicos antes de iniciar o tratamento é bem documentado
pelas agê ncias reguladoras, como a Food and Drug Administration (FDA) ou a Agência Europeia
de Medicamentos (EMA), que estã o a favor de realizar testes gené ticos antes de iniciar o trata‐
mento de certezas farmacê uticas. No entanto, sua implementaçã o na prá tica clínica demorou a
ser desenvolvida devido ao fato de que entidades distintas trabalham sobre diferentes medica‐
mentos, genes ou variantes gené ticas por gê nero [ 39 ]. Por esse motivo, vá rios países euro‐
peus selecionaram um painel farmacogené tico que inclui 12 genes, 58 variantes gené ticas a se‐
rem analisadas, o que permite estabelecer recomendaçõ es sobre 57 medicamentos, com grau
de evidê ncia 1A de acordo com as guias CPIC e DPWG [ 41 ].
Este painel foi avaliado em um estú dio multicê ntrico europeu e os resultados demonstram que
a terapia individualizada baseada em testes farmacogené ticos, dependendo das combinaçõ es
medicamentosas específicas, permite diminuir os efeitos adversos e melhorar a evoluçã o clí‐
nica dos pacientes [42 ] . Em fevereiro de 2023, o Consorcio Farmacogenô mico Ubicuo (U-PGx)
publicou os resultados do estudo multicé ntrico, elaborado em 7 países europeus com um total
de 6.944 pacientes, chamado teste farmacogené tico preventivo (ou antecipado) para prevenir
reaçõ es adversas (PREPARE). O objetivo era avaliar os benefícios da realizaçã o do teste pre‐
ventivo do painel farmacogené tico previamente selecionado [ 41 ], conhecido como “passa‐
porte gené tico”. Este painel inclui o genó tipo de CYP2C9 e SLCO1B1 . É de destacar que a ator‐
vastatina foi o medicamento mais avaliado e os resultados evidenciaram uma reduçã o de 30%
nas reaçõ es adversas clinicamente relevantes para os medicamentos avaliados, demonstrando
també m poder fazê -lo de forma custo-efetiva [ 42 ].
Nos ú ltimos anos foram levados a cabo diversos estudos para avaliar o impacto das variaçõ es
gené ticas de enzimas de biotransformaçã o e transportadores na farmacociné tica e na farmaco‐
dinamia das estatinas. Devido ao fato de que na maioria dos estudos a relaçã o dose-resposta
foi observada na aparê ncia de toxicidade com um nível de evidê ncia 1A (enquanto referente à
eficá cia o grau de evidê ncia é menor), os polimorfismos que afetam a farmacociné tica de as es‐
tatinas podem influenciar tanto na apariçã o como na gravidade das reaçõ es adversá rias [ 8 , 9 ,
14 , 16 ]. No guia do CPIC atualizado no ano de 2022 [ 9 ] é exposta a influê ncia da farmacoge‐
né tica no fenotipo das estatinas incluindo farmacociné tica, SAMS, hepatotoxicidade, efeito hipo‐
lipemiante e eficá cia clínica. Neste guia, sã o considerados os estudos mais relevantes, bem
como a opiniã o de especialistas para avaliar vá rios genes e os que você obteve maior nível de
evidê ncia em sua associaçã o com a apariçã o do poder RAM SLCO1B1 ( todas as estatinas),
ABCG2 (rosuvastatina) e CYP2C9 (fluvastatina), estabelecendo uma sé rie de recomendaçõ es
que podem ajudar a reduzir o SAMS. Embora haja revisõ es sobre outras açõ es como a influê n‐
cia no efeito hipolipemiante, o guia apenas estabelece recomendaçõ es sobre as reaçõ es adver‐
sá rias. Quanto a outros genes como HMGCR , CYP3A4 ou CYP3A5 , embora seus estudos este‐
jam sendo realizados, ainda nã o há evidê ncia suficiente para implementá -los na clínica. Na la
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Tabela 3é resumida a relaçã o entre o genó tipo (diplotipos) e sua associaçã o com a funçã o das
proteínas reguladoras de transporte, ou neste caso a previsã o do fenotipo metabolizador para
SLCO1B1 , ABCG2 e CYP2C9, respectivamente, com base nos documentos do CPIC [ 9 ] .
Tabela 3:
ABCG2 Função normal n/D Portador de dois alelos de função c.421 C/C (rs2231142)
normal
a
Expressado em alelo 2. b Expressado em alelo 3. Adaptado de [ 9 ]. n/a, não aplicável.
A seguir, sã o descritos os trê s genes referenciados e como seu genotipado nos permite prever
o fenotipo metabolizador ou a funçã o transportadora e as recomendaçõ es para o tratamento.
Facilita a captaçã o hepá tica das estatinas (e compostos endó genos como bilirrubina ou 17-
beta-glucuronosilestradiol). Uma funçã o diminuída, herdada geneticamente ou adquirida de‐
vido a medicamentos inibidores, pode aumentar a exposiçã o sistê mica gerando SAMS. O gen
SLCO1B1 tem 109 quilobases, está localizado no cromossoma 12 (Chr 12p12.2) e ainda foram
identificadas variantes distintas de nucleó tido ú nico (SNVs), apenas algumas tê m relevâ ncia clí‐
nica. O mais comum e o que tem o nível mais alto de evidê ncia clínica é c.521T>C, rs4149056,
presente nos alelos *5 ou *15 e está associado a um aumento da exposiçã o sistê mica da esta‐
tina e aparaçã o de SAMS. Há diferenças na frequê ncia alé lica de acordo com a origem é tnica,
sendo na Europa de 0,02 para SLCO1B1*5 e 0,15 para SLCO1B1*15 .
Pessoas com alelos de funçã o aumentada (SLCO1B1*14/*14 ) tê m um fenô meno de funçã o au‐
mentada. Aqueles com uma alelo normal e uma funçã o aumentada (SLCO1B1*1/*14 ) ou com
duas alelos de funçã o normal (SLCO1B1*1/*1 ) tê m um fenotipo de funçã o normal. Por ú ltimo,
aqueles que possuem um alelo nã o funcional (p.ej., SLCO 1B1*5 ) junto com um alelo de funçã o
normal ou aumentado tê m um fenotipo de funçã o diminuída e aqueles que possuem alelos nã o
funcionais (p.ej., SLCO 1B1*5/*5 ) tem um fenô meno de funçã o ineficaz [ 9 , 43 ]. Segundo di‐
versos estudos, as variantes do SLCO1B1 demonstraram apenas uma pequena diminuiçã o
(<5%) no efeito hipolipemiante de sinvastatina, atorvastatina, lovastatina e pravastatina. Uma
metaaná lise realizada em 2015 nã o encontrou diferenças significativas para SLCO1B1 c521T>C,
exceto para a simvastatina onde teve um efeito maior [ 44 ]. Outra metaaná lise concluiu que a
fluvastatina em pacientes SLCO1B1 TT produziu uma grande reduçã o de colesterol total e LDL [
45 ]. Na mesma linha, foi demonstrado que os pacientes TT tiveram um efeito hipolipemiante
maior em comparaçã o com heterocigotos [ 44 ].
Por outro lado, vá rios estudos que demonstraram uma evidê ncia clara a respeito do risco de
toxicidade ao aumentar as concentraçõ es sistê micas de algumas estatinas e aumentar por
tanto o risco de miopatia. Em um estudo (n = 59) em que a terapia foi baseada no genotipado
de SLCO1B1 * 5 , os pacientes portadores apresentaram um aumento na reduçã o de C-LDL e
uma melhoria na adesã o em comparaçã o com o grupo de controle [ 8 ].
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CYP2C9
Todos aqueles pacientes que sã o portadores de uma variante em algum desses trê s genes, que
se traduzem em um fenotipo de metabolizador ineficaz ou de transportador ineficaz, tendem a
ter maior risco de exposiçã o sistê mica elevada a uma determinada estaçã o e,
conseqü entemente, maior risco de apariçã o de SAMS, exigindo um ajuste de dose ou mudança
de estatina.
No que diz respeito a outros polimosfirmos nã o avaliados por este guia, um estudo (n = 156)
demonstrou uma possível associaçã o entre CYP3A5 * 1 e o acú mulo de atorvastatina, mas es‐
ses resultados devem ser confirmados no contexto de futuros estudos com coortes indepen‐
dentes [ 47 ] .
Na laTabela 4sã o descritas as recomendaçõ es terapê uticas sobre o ajuste de dose para as di‐
versas estatinas com base no fenotipo, previstas anteriormente pela aná lise do genó tipo. Os
dados sã o baseados no guia do CPIC [ 9 ] e na metaaná lisis [ 45 , 46 , 48 ]. É aconselhável reali‐
zar a aná lise do genó tipo antes de iniciar o tratamento e també m considerar as recomenda‐
çõ es pertinentes a respeito do tipo e dose de estatina.
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Tabela 4:
a Em todos os casos em que há um aumento de risco de miopatía é porque está associado a um aumento de
exposição do medicamento. b Nomenclatura segú n CPIC. c Variante genética e SNP de referência (rs). Detalhes
emTabela 3. Adaptado de [ 9 ].
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Este desenvolvimento da farmacogené tica foi possível graças ao trabalho de grupos de especi‐
alistas que superaram os obstá culos permitidos em sua implementaçã o clínica [ 50 ] e que fo‐
ram transportados respostas e as ferramentas necessá rias para: a identificaçã o dos pares
gene-fá rmacos com evidê ncia 1A; o desenvolvimento de guias farmacogené ticos com recomen‐
daçõ es de claras para a escolha e ajuste do tratamento; a padronizaçã o metodoló gica e a no‐
menclatura dos alelos; realizar o relató rio farmacogené tico em sistemas eletrô nicos (compatí‐
veis com os utilizados na saú de); avançar em estatística gené tica ou té cnicas de Machine Lear‐
ning; demonstrar o custo-benefício; a formaçã o do saneamento pessoal e da sociedade [ 9 , 26
, 49 ].
Estas primeiras experiê ncias representam uma grande oportunidade para estabelecer e me‐
lhorar os diferentes padrõ es de todo o procedimento (desde a solicitaçã o do painel de farma‐
cogené tica antecipada até a elaboraçã o do relató rio farmacogené tico) e poder avaliar de forma
adequada a utilidade clínica da farmacogené tica como ferramentas para selecionar para os me‐
dicamentos e doses mais adequadas com o objetivo de reduzir significativamente a RAM, e me‐
lhorar na medida da possível eficá cia, dos tratamentos desde a atençã o primá ria [ 51 , 52 ].
Um aspecto relevante na aná lise farmacogené tica, alé m da norma que melhorará a robustez
dos resultados e facilitará sua comparaçã o entre diversos centros, é a necessidade de estar ins‐
crito em Programas de Controles de Qualidade Externa.
Centrados na farmacogené tica das estatinas, sã o necessá rios estudos multicé ntricos prospecti‐
vos nos que sã o avaliados de forma adequada as interaçõ es medicamentosas, com repercussã o
na atividade dos CYP e transportadores OATP1B1 e BCRP, que dã o lugar a um incremento na
exposiçã o dos estatinas e al riego de padecer SAMS. Alé m disso, é necessá rio estudar se o mo‐
nitoramento das concentraçõ es desses medicamentos no plasma (fenotipo metabolizador) em
combinaçã o com o genó tipo pode facilitar um ajuste da dose mais personalizado.
Diversos estudos mostram que os testes farmacogené ticos em relaçã o à s estatinas parecem ter
custo-efetivos, especialmente quando esses genes sã o analisados no contexto do painel farma‐
cogené tico de 12 genes, conforme mencionado [ 42 , 53 ].
O painel atual selecionado para o teste de farmacogené tica antecipado melhorará o tempo e
deverá nutrir-se desde a investigaçã o com os novos hallazgos gen-fá rmaco de alta evidê ncia e
com a inclusã o da aná lise de novos alelos ou haplotipos identificados para pares de gen-fá r‐
maco ya establecidos. Referente aos genes de interesse para as estatinas, apesar de as reco‐
mendaçõ es dos ú ltimos guias se basearem na reduçã o do SAMS, as investigaçõ es futuras pode‐
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rã o avaliar o impacto do teste farmacogené tico antecipado nã o apenas no risco do SAMS, mas
també m na adesã o no tratamento, nos níveis de cLDL e no risco de doenças cardiovasculares [
9 ].
Esta evoluçã o no conhecimento sobre o benefício clínico dos testes farmacogené ticos antecipa‐
dos (e no caso da monitorizaçã o plasmá tica dos medicamentos) deve ter sido difundida e é o
principal motivo da formaçã o continuada do sanitá rio pessoal e da sociedade.
Em resumo, nesta nova era da implementaçã o clínica da medicina de precisã o, a aná lise farma‐
cogené tica antecipada das estatinas trouxe um claro benefício clínico por seu potencial para
reduzir de forma significativa a apariçã o de RAMs nos pacientes tratados. Por outro lado, é ne‐
cessá ria a padronizaçã o de dados clínicos e metodologias analíticas para poder definir as reco‐
mendaçõ es sobre o tratamento personalizado para cada estatina.
Material suplementar
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Notas
Material Complementar
Notas de rodapé
Contribuíram por
Contribuição dos autores: Todos os autores aceitaram a responsabilidade de todo o conteúdo deste manuscrito e
aprovaram sua apresentação.
Nota do artigo: A versão traduzida do artigo pode ser encontrada aqui: https://doi.org/10.1515/almed-2023-0123 .
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