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COM

DICAS PARA
FOTOGRAFIA
DE PAISAGEM
CONSELHOS PARA CONSEGUIR BONS RESULTADOS

Maurício Reis
INTRODUÇÃO
A fotografia de paisagem tem qualquer ligá-la, chegar a determinado local, dis- cada vez que saio para fotografar... pai-
coisa que atrai. Não por ser fácil, que parar e já está. No fim, o equipamento é sagens.
não é, mas talvez por ser acessível a (quase) mesmo o menos importante de Algumas poderão parecer básicas, mas
todos. toda a equação. Digo quase porque a nem sempre são tidas em conta no mo-
Em vários momentos da nossa vida de- seleção da objetiva, por exemplo, tem mento imediatamente antes, durante,
paramo-nos com cenários fantásticos, grande influencia no resultado final e a ou depois de carregar no botão de dis-
cobertos por uma luz de cortar a respi- distância focal usada pode alterar dra- paro da câmara.
ração. Nascer e pôr do sol, nevoeiro, maticamente a forma como o cenário é Por outro lado, não quero tornar o livro
gelo, céu carregado de nuvens, são guardado. Contudo, isto nada tem a ver muito extenso, pelo que vou tentar uma
apenas pequenos exemplos que nos com melhores e mais caras objetivas... abordagem simples e direta aos temas.
obrigam a pegar na máquina para regis- Para conseguir bons resultados convém A acompanhar terá fotografias minhas
tar o que os nossos olhos presenciam. ter pelo menos os conhecimentos mais que foram feitas com base nas dicas
Só que, infelizmente, cenários bonitos e básicos de fotografia. E, neste livro, vou que partilho.
luz magnífica por si só não garantem fo- partir do princípio que já tem noção do Quero, ainda, que o leitor se sinta inspi-
tografias deslumbrantes. que é prioridade à abertura ou veloci- rado e com vontade de sair para foto-
Contrariamente ao que muitas pessoas dade, ISO, ou profundidade de campo. grafar e pôr em prática o que
pensam, fotografar paisagens requer al- Ou melhor, neste pequeno livro tentarei eventualmente aprender aqui.
guns, digamos, ingredientes. Não é só mostrar algumas regras e dicas que na
comprar a melhor câmara fotográfica, maior parte das vezes levo em conta de Maurício Reis

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Carlos Santos
CONHECER O LOCAL dispor hoje em dia, pode não ser total- gens espetaculares. Mesmo perto de
mente desculpa para não conseguir casa encontro motivos interessantes
É muito fácil chegarmos a um local que uma fotografia com impacto. para as minhas fotografias. Com a van-
não conhecemos e tirarmos uma Antes de viajar procure na Internet mais tagem que posso voltar a estes locais
grande fotografia, mas será que esta- informações, ou até fotografias, do local sempre que bem entender e às melho-
mos, realmente, a aproveitar ao máximo para onde vai. Neste campo costumo res alturas do dia, ou da estação do
a paisagem que está à nossa frente? entrar no Google Earth para dar uma ano.
Continuo a acreditar que o conheci- vista de olhos ao terreno que vou pisar. O seu olhar pode estar viciado e achar
mento de determinada área é funda- Até posso simular a posição do sol para que o local onde vive não tem nada de
mental em fotografia. ter uma ideia do que fazer quando che- bonito para fotografar. Mas, acredite,
Ao visitar um local mais do que uma vez gar. Com todos os dados em meu pode estar a cometer um erro. Outras
terá dividendos mais tarde. Por norma, poder posso, inclusive, ficar com uma pessoas, de outra cidade, ou país,
costumo despender algum tempo a ideia do que carregar na mochila do podem pensar o contrário quando um
pensar na foto que gostaria de fazer, o equipamento. dia o visitarem. Por isso, olhe em volta,
que quero que fique nela, onde me co- Uma vez lá, costumo perder (ou melhor, veja como se põe o sol, ou como
locar e qual a melhor altura do dia para ganhar) alguns minutos para dar uma nasce, se costuma criar-se nevoeiro,
o efeito, isto é, onde estará o sol, se a volta pelo local. Por vezes até tiro foto- como fica com o céu carregado de nu-
maré está a encher ou a vazar, entre grafias de “teste” para ver o que fun- vens. Enfim, olhe com atenção. Olhe
outras variáveis. ciona ou não, antes de decidir o que com olhos de quem gosta de fotografia
Se estiver em viagem, tudo isto pode quero ou não fazer. de paisagem. Com olhos de fotógrafo.
ser complicado de colocar em prática. Mas não precisamos de ir para o outro E inspire-se...
Mas com a informação que temos ao lado do globo para conseguirmos ima-

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ATENÇÃO AO TEMPO exemplo, o melhor mesmo é nem fala- garam também diversas aplicações
rem para mim. Sim, posso ficar um bo- para o iPhone e Android que oferecem
Para mim esta é uma das dicas essen- cado rabugento quando Ele lá em cima estas informações de forma imediata e
ciais. O tempo e as suas consequên- decide trocar-me as voltas. em qualquer parte do mundo.
cias podem fazer ou dar cabo de uma Mas para os menos dados à coisa da
fotografia. Com o passar dos anos fui meteorologia, a Internet é um grande
aprendendo a perceber o estado do aliado. Existem vários sites que ofere-
tempo: quando é que vai estar céu cem informação detalhadíssima. O
limpo, ou carregado de nuvens, quando Tábua de Marés
vou ter à disposição nevoeiro, quando é (www.tabuademares.com) – completís-
que o céu terá cores vibrantes. Mas se simo – ou Weather.com
às vezes ainda erro – afinal não sou o S. (www.weather.com) são apenas dois
Pedro –, na maior parte das vezes já sei que uso com bastante regularidade.
como vai começar ou terminar o dia. E como gosto particularmente de foto-
Só uma confidência. Por vezes chego a grafias junto à costa, com o mar como
ser demasiado obsessivo com o es- um dos elementos da composição, re-
tado do tempo. Fico nervoso quando tiro da Internet, no início de cada ano,
sei que o pôr do sol vai ser fantástico e, tabela das marés para as áreas que vi-
por uma razão qualquer, não consigo sito com regularidade e tabela com as
fotografar. Se me levanto cedo a pensar horas do nascer e pôr do sol ao longo
que vou ter um início de dia glorioso e dos meses. Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@35mm,
acabo por receber um céu limpo, por Com a chegada dos smartphones che- f/14, 0.6”, ISO 100, 0.6 ND Grad (Hard)

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ESTEJA LÁ

Tudo bem. Já conhece um bom local, o


tempo também estará interessante, mas
falta o principal: você! Sim, o lugar mais
bonito do mundo, com o pôr do sol
mais fantástico dos últimos anos é uma
visão deslumbrante, mas se não estiver
lá para registar o momento, de nada
serve. E, mais do que equipamento
caro, ou todos os dados sobre o estado
do tempo, estar lá, no local, é o funda-
mental da fotografia. Principalmente na
fotografia de paisagem.
Ser fotógrafo de paisagem é uma aven-
tura constante, mas que nos obriga a Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@21mm, f/16, 1.6”, ISO 100, 0.9 ND Grad (Hard)
estar no local certo à hora certa e, de-
pois, tomar as decisões mais corretas, Esteja eu a falar de um paraíso perdido blema para todos nós. Assim, procurar
quer técnicas, ou estéticas. O problema na Indonésia, ou da praia perto de casa, locais é uma das chaves fundamentais
disto é que é mais fácil falar que fazer, o dilema de saber para onde ou quando que todos precisamos de cultivar. Ou
não é? ir para conseguir uma fotografia fantás- seja, tem em mãos a parte mais difícil
Ok, estar lá! Mas aonde? A que horas? tica torna-se, por vezes, um grande pro- desta arte. Depois, quando encontrar o

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local dos seus sonhos e estiver lá, vem amigo do despertador. sol propriamente dito. Quando este sur-
a parte mais fácil: fotografar. Depois, ao final do dia, como está claro gir no horizonte, acredite que o cartão
Costumo dizer que o fotógrafo de pai- até muito mais tarde, quando chego a de memória da sua máquina já terá al-
sagens tem horas pouco sociáveis. Tal- casa já toda a família jantou. É nesta es- gumas imagens que impressionarão os
vez a culpa tenha a ver com a “hora tação do ano que ser fotógrafo de pai- seus amigos.
dourada” – a primeira hora dos raios de sagem é mais “difícil”. Saímos cedo e Por outro lado, ao final do dia, faça o
sol da manhã e a última hora ao pôr do chegamos tarde. Um dia terei as malas mesmo exercício e não se vá embora
sol ao final da tarde. É nestas alturas com a roupa à porta de casa... logo que o sol desapareça. Fique, pelo
que mais gosto de fotografar. Por outro lado, o inverno é a verdadeira menos, mais meia a uma hora. Afinal,
É um martírio – e tiro pouco prazer época de sonho para todos nós. Está agora é que as boas fotos podem
nisso – fotografar noutras horas dos dia frio? Chove? Pouco importa. Faço as acontecer. Usufrua destas dicas e,
que não ao amanhecer ou ao final do pazes com o despertador e já consigo acredite, as suas fotografias vão ganhar
dia. Não há luz nenhuma tão agradável sair para fotografar bem mais tarde do outra vida, outras cores, outro am-
como nestes dois momentos. Ponto que no verão. Ao final do dia consigo biente... e muitos elogios.
final na discussão. deslumbrar-me com a fotografia e ainda Mas, para que isto aconteça, você tem
No verão pode ser dramático, porque chegar a tempo de fazer o jantar para a que estar lá! E estar lá, é o fundamental
me obriga a saltar muito cedo (repito, família. Regresso a casa e as roupas para o fotógrafo de paisagem.
muito cedo) da cama, de forma a che- voltam para o armário...
gar ao local que pretendo fotografar Aconselho a chegarem, pelo menos,
ainda a tempo de apanhar a primeira luz cerca de meia-hora antes do sol nascer.
do dia. E como gosto de chegar um As cores do início de dia são muito
pouco antes disto acontecer, é difícil ser mais gratificantes do que o nascer do

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APOSTE TUDO NA QUALIDADE

Não vale a pena estar com rodeios. A


fotografia de paisagem tem que ter
qualidade. Se não for na composição,
que seja na definição da imagem pro-
priamente dita.
Admito que sou um adepto do uso do
tripé em paisagens, quer precise ou não
dele. Obriga-me a ser mais analítico
com a composição. E mesmo antes de
definir os parâmetros da máquina, veri-
fico se está tudo bem firme nos apertos
do tripé.
Como referi anteriormente, gosto de fo-
tografar junto ao nascer e pôr do sol, o
que invariavelmente significa ter baixos
níveis de luz. Consequência, as veloci- Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@21mm, f/13, 1/5”, ISO 100, Polarizador, 0.6 ND Grad (Hard)
dades de obturação são longas e ter
um tripé torna-se essencial, para evitar rer a um saco cheio de areia, ou a um tripé – mesmo um dos mais baratos é
imagens tremidas. suporte que esteja disponível por perto, melhor do que nada, apenas deve certi-
Sim, já ouviu certamente falar em recor- mas nada disto substitui um verdadeiro ficar-se se ele aguenta com a câmara e

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objetiva. em fotografia de paisagem, em horas Todos conhecemos as vantagens deste
Depois de ter a sua máquina estável, de pouca luz, vai ter muitos segundos formato. Quero ter ao meu dispor toda
deve tentar ao máximo reduzir as possi- de exposição pela frente. a gama de tons e cores possíveis. E ao
bilidades de provocar vibrações na Também importa referir que raramente fotografar em RAW consigo receber di-
mesma, fotografando “sem mãos”. subo o valor ISO para além de 100 ou reitinho do sensor da câmara toda a in-
Bem, não me interprete mal. 200, máximo. Só o mudarei se for formação não processada pelo mesmo,
O que quero dizer é que deve recorrer a mesmo obrigado a isso e se houver o que não acontece com o JPEG. Se
duas formas simples de o fazer: ou usa uma boa razão para tal, como fotogra- quer estar de forma séria e obter o má-
o temporizador interno, ou compra um far retratos em ambientes de pouca luz. ximo de qualidade da sua máquina,
disparador remoto. Embora as câmaras atuais sejam capa- pura e simplesmente não há outro ca-
A última opção é a que mais gosto de zes de oferecer resultados inacreditá- minho a seguir.
usar e, obviamente, a que aconselho. E veis no que antes se consideravam Mais, o que vê no LCD da sua câmara
não precisa de gastar rios de dinheiro valores ISO astronómicos, existe um sempre que tira uma fotografia é um
num comando. No eBay encontra-os a preço a pagar, pelo menos no que res- JPG e não o RAW propriamente dito,
preços extraordinariamente baixos, peita à fotografia de paisagem: ruído. E pelo que o ficheiro final que descarregar
mesmo os mais completos, que permi- nós não queremos disto nas nossas fo- para o computador terá ainda mais
tem funções mais avançadas. tografias, pois não? qualidade. E esta é a palavra mágica
E esqueça tirar fotografias “à mão” con- Obviamente que fotografo em RAW. O para a fotografia de paisagem.
fiando nos sistemas de redução de vi- JPEG nunca me fez mal, mas para con-
bração de algumas objetivas. Só seguir espremer tudo o que a minha
funcionam até determinadas velocida- máquina tem para me dar, só o RAW
des, a partir daí, não há volta a dar. E, pode estar definido.

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VEJA COMO A MÁQUINA VÊ nos ver como a máquina vê. É quase o
mesmo que a dica de grande fotógrafos
Os mais puristas olharam de lado, mas que nos diziam que, para vermos como
uma das melhores “invenções” das a máquina, deveríamos tapar um dos
atuais câmaras fotográficas, talvez a se- olhos.
guir ao histograma (que abordarei mais Já dei por mim a olhar para determi-
à frente), é o LiveView. Para a fotografia nado cenário e não conseguir ver algo
de eventos sociais, como casamentos e que fosse apelativo. Depois, com o Li-
batizados, não será propriamente o que veView ligado, movo a máquina em
interesse ao fotógrafo. Mas para a foto- redor e olho para o ecrã LCD da má-
grafia de paisagem é dos melhores alia- quina. Qual não é o meu espanto ao ve-
dos. Quando comprei a primeira rificar que em determinada posição
máquina com esta função (Canon 50D), posso conseguir uma fotografia apela-
ainda resisti durante algum tempo à tiva. Se nunca experimentou faça este
mesma, mas depois de ter experimen- exercício e vai ficar espantado com
tado o LiveView, a minha vida mudou. aquilo que a máquina “vê”.
Para melhor. Desde há muito tempo que não consigo
Recorrendo à ampliação posso agora viver sem o LiveView para a minha foto-
ter uma maior precisão no momento (e grafia de paisagem. E, acredito,
local) da focagem. E só por isto já valia quando experimentar e conseguir tirar Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@32mm,
a pena o seu uso. partido desta função da sua máquina, f/16, 30”, ISO 50, 0.9 ND Grad (Hard)

Contudo, tem outra vantagem: permite- também não vai querer outra coisa.

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OS TRUQUES DA COMPOSIÇÃO são colocados num dos “terços”. No
momento da composição da fotografia
Quando enquadra as suas imagens há desenhe por cima dela quatro linhas
um número de truques de composição imaginárias: duas horizontais e duas
tentados e testados, que podem ser verticais. Depois é só posicionar o ob-
usados. Embora a fotografia seja uma jeto a fotografar, ou com mais “força” na
arte e, como tal, podemos quebrar re- paisagem, nos pontos de cruzamento
gras estabelecidas, nos meus enqua- dessas linhas, ou então junto à linha su-
dramentos tento ao máximo não fugir perior ou inferior – o horizonte ou a
muito das mesmas, porque são, efetiva- copa de uma árvore, por exemplo. Para
mente, eficazes. quem tenha dificuldade em imaginar
Sempre que estiver por detrás da sua tais linhas, as máquinas digitais mais re-
câmara fotográfica, tente usar pelo centes permitem colocar esta grelha a
menos uma das regras que a seguir partir dos menus de configuração.
apresento. Uma vez familiarizado com Linhas condutoras e padrões: Paredes, tri-
as mesmas será mais fácil chegar a um lhos, rochas, pedras alinhadas, pontes,
determinado local e encontrar forma de passadiços, podem ser particularmente
conseguir boas composições. úteis para o fotógrafo de paisagem,
Regra dos terços: Talvez a mais famosa quando apontem para o objeto princi-
das que aqui deixo. De uma forma bá- pal. Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@21mm,
sica, a fotos são mais agradáveis esteti- Nas minhas saídas fotográficas dou por f/11, 3.2”, ISO 100, Polarizador, 0.6 ND Grad (Hard)
camente quando os objetos da imagem mim, muitas vezes, à procura de linhas

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condutoras que guiem o olhar para de- Experimente encontrar bons motivos - Experimento composições verticais e
terminado assunto. Por exemplo, junto para os colocar logo ali, à frente de horizontais.
à beira-mar, quando a maré está mais tudo, como um barco, um pneu, um - Tento colocar o objeto principal longe
vazia, na existência de rochas, tento ramo de uma árvore, só para dar alguns do centro da imagem e afastado dos li-
usá-las como meio para chegar ao sol exemplos. Isto não só completa o cená- mites da mesma.
no horizonte, por exemplo. Se a linha rio, como oferece interesse a toda a Como em tudo, convém não exagerar
condutora fizer uma curva em ‘s’, ainda foto. em algumas destas regras. Muitas
pode funcionar melhor. Mas há muitas outras pequenas dicas vezes menos é mais. E, muitas vezes,
Proporção: Se o interesse de uma foto de composição que pode ter em conta as melhores fotografias são mesmo as
estiver todo de um lado, a outra parte quando fotografar paisagens (e não só). mais simples.
parecerá vazia, sem motivo que mereça A seguir deixo algumas que me acom- Resumindo: experimente e experi-
atenção. Nestes casos tente, de al- panham nas minhas saídas e que acho mente. Não tem nada a perder, a não
guma forma, equilibrar a composição. pertinente partilhar: ser o tempo para apagar algumas fotos
Se por qualquer razão não o conseguir - Pergunto-me muitas vezes porque do cartão.
fazer no momento da captura, consi- estou a tirar a foto e a quem se destina.
dere o corte na edição, quando já tiver Mesmo que para mim, faço esta per-
a foto no computador. Nem sempre é gunta algumas vezes.
fácil, mas uma foto desequilibrada é - O que torna este cenário único?
muito pouco estética. - Quando e como posso tirar a foto,
Primeiro plano: Ter um objeto proemi- para que fique ainda melhor?
nente no primeiro plano dá uma enorme - Imagino a paisagem através da pers-
sensação de profundidade à fotografia. petiva de várias objetivas.

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EXPOSIÇÃO E FOCAGEM experientes podem ficar espantados modo de medição parcial ou pontual.
depois de testarem. Mas uma forma de assegurar exposi-
Gosto de estar no controlo da situação. Quando estou para fotografar uma pai- ções perfeitas é conjugar este modo de
Talvez por isto as minhas máquinas sagem, depois da composição, a pri- medição matricial com o alerta das altas
nunca passaram pelos modos total- meira coisa em que penso é na luzes e o histograma.
mente automáticos de exposição. Seja profundidade de campo que pretendo, De uma forma básica, o sistema de me-
para que género de fotografia for. ou preciso, o que determina a minha dição divide a cena em pequenos fra-
Os modos de exposição que mais uti- escolha da abertura. Logo, o lógico gmentos e avalia os níveis de luz em
lizo são Prioridade à Abertura (Av), ou será selecionar o respetivo modo, neste todos eles, para oferecer uma exposi-
Manual (M). De longe a longe recorro à caso Prioridade à Abertura. Desde há ção que guarda toda a gama de tons
Prioridade ao Obturador (Pv), ou melhor, alguns anos que prefiro o modo Manual do cenário. Ou seja, o que este tipo de
prioridade à velocidade. Mas é muito, mas, para ser sincero, este não me ofe- medição faz é calcular a média da luz
muito raro. rece mais do que o Av. existente de determinada cena, à seme-
E, julgo, que para fotografia de paisa- Mas atenção, que para criar fotos pa- lhança do que se fazia no grande for-
gem a prioridade à abertura resolva norâmicas, por exemplo, o modo Ma- mato, em filme – medições pontuais da
todos os seus problemas, mesmo que nual é “obrigatório”, de forma a manter luz do cenário a fotografar e depois cal-
nunca tenha experimentado sair do a exposição igual para todo o cenário. cular a média.
modo automático da máquina. A seguir, modo de medição. Eu uso Resumindo e concluindo, com este
No meu caso gosto mesmo muito de quase sempre a medição matricial. É modo de trabalhar a minha máquina
definir o modo Manual. Ao contrário do óbvio que a escolha é muito subjetiva e está pronta para todas as alterações
que possa pensar, dá uma liberdade envolve toda uma forma de trabalhar. que ocorram na paisagem que quero
enorme e é tão fácil que até os menos Sei que outros fotógrafos preferem o fotografar no momento. E como a velo-

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cidade é essencial, eu preciso de estar car cada detalhe, luz e gradação de posta o gráfico encosta-se à direita. É
atento ao que se passa à minha frente e tons. E, para tal basta usar e entender o claro que tudo isto tem a ver com o
não preocupado com cálculos matemá- histograma. Para mim a melhor inven- objeto, ou cenário que tenha acabado
ticos... ção depois da câmara fotográfica. Exa- de fotografar.
gero? Talvez, mas, Meu Deus, como eu Mas, de uma forma geral, não precisa
Histograma gosto da ajuda deste gráfico. de ligar muito à forma do gráfico. A
Se soubermos o que ele nos apresenta nossa atenção deve ir para os pontos
Com a evolução da tecnologia é fácil e o que representa, então quase que preto e branco.
acreditar que basta apontar a câmara nem precisamos de olhar para a ima- Quando fotografo tenho sempre o cui-
em qualquer direção para ela fazer todo gem propriamente dita para sabermos dado de usar o histograma para avaliar
o trabalho por nós. se a exposição está ou não como deve a exposição e determinar se estou a
Os modos de medição, exposição e fo- ser. guardar toda a informação possível,
cagem modernos são altamente sofisti- Para não entrar em muitos detalhes té- sem ter brancos “queimados” (gráfico a
cados, disso ninguém duvide, pelo que cnicos, até porque este é um livro com tocar na parte direita), ou sem detalhe
se deixar tudo no modo automático terá dicas e não para acabar com as suas nas sombras (gráfico encostado à es-
uma imagem final mais ou menos bem insónias, o histograma mostra, através querda).
exposta... na maior parte das vezes. de um gráfico, os níveis de luz de uma Com o LiveView, o modo Prioridade à
Só que eu acho que consigo (ou conse- exposição, desde o puro preto, à es- Abertura e o modo de medição matricial
guimos se se juntar a mim nesta aven- querda, até ao ponto mais branco, à di- definidos, movendo a compensação à
tura que é a fotografia de paisagem) reita. exposição em + ou - consigo mover o
fazer muito melhor do que a minha câ- Numa imagem subexposta terá o grá- histograma para a direita ou esquerda e
mara fotográfica. Sou capaz de ir bus- fico chegado à esquerda; numa sobrex- assim ajustar a exposição até à perfei-

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ção. Fácil! mesma. final do dia, deixo a máquina definida
Recorrendo à foto da neve (página 35), para ‘Daylight’. E raramente altero o ba-
Balanço de brancos onde o sol já se pôs, como exemplo: a lanço em pós-produção.
predominância de cor a essa hora do Enfim, são hábitos e formas de traba-
No que respeita ao balanço de brancos dia é azulada. Embora os nossos olhos lhar como tantas outras. Se é a mais
uso a definição ‘Daylight’ para fotografia ajustem quase automaticamente a tem- correta? Não sei. Para mim serve na
de paisagem, basicamente por uma peratura de cor, mesmo assim conse- perfeição.
razão – para mim algo importante, pois guimos ver que, de facto, existe um
se não fosse, também não usava, tom azul antes de ficar totalmente es- Foco
certo? curo. Se eu tiver a máquina em AWB
Ouço muitas vezes, “se fotografas em (balanço de brancos automático), Já tenho tudo preparado para uma
RAW depois ajustas isso em pós-pro- quando fotografar, ela vai-me eliminar grande fotografia. Mas falta algo muito
cessamento, pelo que o balanço de esse tom (azulado), ajustando a ima- importante: o foco. Em fotografia de
brancos que usas na máquina é irrele- gem de forma a ficar com um tom neu- paisagem trabalho quase sempre com
vante”. Certo. Mas a verdade é que se tro. Isto é, a neve fica de facto mais focagem manual. Principalmente desde
tivermos o balanço de brancos em au- “branca” e os montes castanhos. Mas que recorro ao LiveView para precisão
tomático, o que vamos ver no ecrã LCD era isso que via no momento? Não. no foco.
da máquina estará adulterado. Básica e Então quem sou eu para interferir com Quem chega à fotografia de paisagem é
rapidamente, o que o balanço de bran- aquilo que a mãe natureza me oferece? normalmente avisado para selecionar a
cos automático faz é tentar neutralizar E como gosto de ver no ecrã da má- menor abertura possível e recorrer a um
uma predominância de cor ajustando, quina as nuances que vão ocorrendo na tripé para conseguir as imagens mais
dentro do possível, a temperatura da temperatura de cor, seja no início ou nítidas com profundidade de campo

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total. Evito ao máximo recorrer à aber- De uma forma rápida e de fácil entendi- sira os valores da abertura e distância
tura mínima, f/22 por exemplo, a não mento, a distância hiperfocal é distância focal, que o programa calcula a distân-
ser que tenha mesmo, mas mesmo de de focagem que nos permite maximizar cia por si.
ser. A difração causada por abertura tão a profundidade de campo, para uma Mas esta técnica não é tão complicada
pequena do diafragma degrada a per- determinada combinação da abertura e como à partida parece. De facto, se
formance da objetiva, suavizando ligei- distância focal. Quando a objetiva está tiver uma objetiva com escala de pro-
ramente a imagem. focada para essa distância, todos os fundidade de campo, não podia ser
Assim, encorajo o leitor a empregar a objetos à distância de metade da dis- mais simples – simplesmente alinhe
abertura ideal da objetiva – ou f/stop tância hiperfocal até ao infinito estarão com a marca de infinito.
que ofereça menos difração – que, num bem definidos, ou detalhados, ou foca- Se é mesmo novo na fotografia e não
sensor APS-C, por exemplo, anda em dos. entende muito bem o que acabei de
f/11 e num modelo ‘full frame’ se alinha Por exemplo, sei que com uma abertura dizer, não fique preocupado, pois tenho
por f/16. Estes valores proporcionam f/16 e distância focal de 16mm, se focar uma dica, menos científica mas ba-
profundidade de campo suficiente na num objeto colocado à distância hiper- seado na prática, que pode seguir:
grande maioria das cenas, particular- focal de 90 centímetros, tudo o que es- pode ser suficiente focar a cerca de um
mente se usar a técnica da distância hi- tiver compreendido entre 45cm e o terço do cenário para conseguir bons
perfocal. infinito ficará bem focado. Como é que resultados e ótima profundidade de
Aqui o ponto de focagem é fundamen- eu sei isto? Fácil. Basta imprimir as ta- campo.
tal para conseguimos a profundidade belas que aqui deixo e carregá-las no
de campo máxima. Como referi no iní- saco de transporte da sua máquina.
cio, desligue a focagem automática Ou, então, puxe uma das muitas aplica-
para tomar as rédeas. ções para o seu smartphone, depois in-

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TABELA DISTÂNCIA HIPERFOCAL (ft/m) - sensores APS-C

12mm 15mm 17mm 20mm 24mm 28mm 35mm 50mm


f/8 3.2/1 5/1.5 6.4/2 8.9/2.7 12.6/3.8 17/5.2 27/8.2 55/16.8
f/11 2.3/0.7 3.5/1.1 4.5/1.4 6.2/1.9 9/2.7 12/3.7 19/5.8 39/11.9
f/16 1.7/0.5 2.5/0.8 3.3/1 4.4/1.3 6.4/2 8.6/2.6 14.5/4.4 27/8.2
f/22 1.2/0.4 0.9/0.3 2.3/0.7 3.2/1 4.5/1.4 6/1.8 9.5/2.9 19.2/5.9

TABELA DISTÂNCIA HIPERFOCAL (ft/m) - sensores Full Frame

16mm 20mm 24mm 28mm 35mm 50mm


f/8 3.8/1.2 5.6/1.7 8/2.4 11/3.4 17/5.2 35/10.7
f/11 2.6/0.8 3.9/1.2 5.8/1.8 7.8/2.4 12/3.7 25/7.6
f/16 1.9/0.6 2.9/0.9 4/1.2 5.5/1.7 8.5/2.6 17.5/5.3
f/22 1.4/0.4 2/0.6 2.9/0.9 3.9/1.2 6/1.8 12.5/3.8

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USE FILTROS Depois vêm os filtros de densidade neu- diente se faz de forma mais forte ou
tra gradientes. Sinceramente, não con- suave, respetivamente. Qual usar?
Existem basicamente dois tipos de fil- seguiria viver sem eles. São os Bem, depende de muitos fatores.
tros que são essenciais para o fotógrafo melhores amigos do fotógrafo. São os Regra que, por ser regra, tem exce-
de paisagem. Primeiro, o filtro polariza- meus melhores aliados. ções. De qualquer modo aqui vai: use
dor. É o único filtro que não pode ser Colocados sobre a objetiva – com su- ‘hard’ quando tiver um horizonte bem
aplicado, ou replicado, quando tiver a porte próprio para o efeito, embora definido e ‘soft’ quando existirem ele-
foto no computador. também os possa segurar à mão – fun- mentos que o ultrapassem, como mon-
Entre as inúmeras funções, aumenta a cionam como dispositivos de controle tanhas, prédios, etc...
saturação e remove reflexos de superfí- de contraste, que nos permitem maxi- Outros fotógrafos seguem uma outra
cies como a água e vidro. Se só puder mizar a exposição da terra, de forma a forma de os usar: com distâncias focais
comprar um filtro, esse deverá ser (sem reter importantes detalhes nas som- médias a longas, com aberturas médias
dúvida) um polarizador. bras, sem perdermos a espetaculari- a grandes, use um ‘hard’ e com objeti-
Contudo, convém ter atenção no seu dade do céu. Ou seja, será brindado vas grande angulares e pequenas aber-
uso. Em objetivas grande angular, ou com exposições equilibradas no céu e turas, com muita profundidade de
ultra grande angular, pode acabar por na terra. campo, use ‘soft’. Para ser sincero,
ter zonas do céu mais escuras, contri- Estão disponíveis em diferentes fatores nunca experimentei esta última. Eu
buindo para um resultado inestético. de absorção, normalmente 1, 2 e 3 tenho outra “técnica”.
Tenha ainda em mente que ao usar um f/stops, mas se procurar bem encontra- No modo de prioridade à abertura faça
filtro polarizador está a cortar cerca de os em valores mais elevados. uma leitura na parte da terra e anote a
1 stop e meio de luz, resultando em Estes filtros dividem-se nas versões velocidade de disparo que a câmara in-
tempos de exposição mais baixos. ‘hard’ e ‘soft’, onde a transição do gra- dicar.

40
Em seguida, faça nova leitura mas
numa área do céu que seja luminosa –
mas não pode ser a mais luminosa de
todas, ou seja, uma intermédia – e volte
a anotar a velocidade de disparo.
Agora é só contar a diferença entre
elas, em stops. A diferença indica o
fator de absorção total do filtro que
deve usar. Por exemplo, se o céu indica
1/125 segundos a f/11 e a terra o faz a
1/15 segundos, isso quer dizer que vai
precisar de um filtro ND gradiente de
três stops – alinhado de maneira a es-
curecer o céu –, de forma a equilibrar Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@19mm, f/18, 2.5”, ISO 50, 0.9 ND Grad (Hard)
completamente o contraste. Mas, aten-
ção, há sempre uma certa margem de
manobra. Um stop abaixo da leitura
pode, por vezes, dar-lhe um olhar mais
realista uma vez que, normalmente, o
céu é mais claro em um stop que a lhor ND gradiente a usar no momento. que um dos ND Gradientes que tiver à
terra. Se a sua máquina é recente e já conta mão a escurecer o céu e verifique o re-
Agora uma dica para encontrar o me- com LiveView, socorra-se deste e colo- sultado. Muito forte, tire-o e coloque

41
outro com fator de absorção (ou corte gens. olho nu e é uma das razões pela qual
de luz) mais baixo. Isto é, se com um Habitualmente, durante o dia a veloci- os filtros ND devem ter lugar cativo no
ND Grad 0.9 (3 stops) o céu ficou muito dade de disparo mais lenta que a sua seu saco.
escuro em relação à terra, tire-o e colo- câmara pode usar é ainda assim dema- Resumindo e concluindo, para os que
que um ND Grad 0.6 (2 stops), e assim siado rápida para conseguir resultados querem comprar filtros mas não sabem
sucessivamente. O resultado é visível aceitáveis. Por exemplo, ao fotografar exatamente quais, deixo a lista com
imediatamente no LCD da máquina. uma queda de água. aqueles que considero a combinação
Outra questão a ter em conta: a sua câ- Ora, os filtros de densidade neutra perfeita, que me ajudam a controlar efi-
mara vai ajustar a exposição automati- estão disponíveis na mesma variedade cazmente o contraste e a prolongar ex-
camente durante esta operação. O que de fatores de absorção que os seus pri- posições em todas as situações de luz:
significa que não vai ter necessidade de mos gradientes e isso permite-lhe usar 0.6 ND Grad (Soft) – 2 stops
alterar as definições. Poderá, no en- velocidades de disparo de quase um 0.6 ND Grad (Hard) – 2 stops
tanto, ter de mudar as definições de segundo durante o dia. Ou mesmo 0.9 ND Grad (Hard) – 3 stops
compensação de exposição de forma a mais do que isso... 0.9 ND Full – 3 stops
garantir o aspeto que realmente pre- O resultado é espantoso! Na fotografia 10x ND (Lee Big Stopper, por exemplo)
tende ver na sua fotografia. de uma paisagem, o movimento fica re- – 10 stops
Já os filtros ND, ou Densidade Neutra – gistado nas nuvens, na relva, nas árvo- Polarizador circular
não confundir com os ND gradientes –, res, dando à imagem aquele aspeto Em breve dedicarei um livro somente a
são os ideais quando queremos abran- etéreo. E onde houver água, pode pro- este acessório tão importante para o fo-
dar o mundo, aumentar a exposição e longar a exposição de forma a torná-la tógrafo.
usar o movimento para dar aquele mais suave, por exemplo.
toque especial a determinadas ima- É um efeito impossível de observar a

42
IMPRIMA AS SUAS FOTOGRAFIAS

Não adianta ter a foto mais bonita do


mundo se ela ficar guardada nos con-
fins do disco do computador. Infeliz-
mente, com o digital, é o que mais
acontece nos dias de hoje. Nem quero
imaginar a quantidade de fotografias
espetaculares que estão escondidas
nos PC de todo o mundo.
E se não é no disco, é nas mais diver-
sas galerias online, como Flickr, Olha-
Canon 50D, Sigma 10-20mm f/4-5.6@20mm, f/8, 13”, ISO 100, 0.6 ND Grad (Hard)
res, 1x, só para citar alguns dos mais
conhecidos. mesmo que não ganhe nada em troca, gerir a impressão das suas imagens
Mas, acredite, que ter e ver uma foto- pelo menos terá a satisfação de as ver num livro (estilo Blurb.com), ou em
grafia impressa é uma sensação única. impressas para serem admiradas por álbum.
E, para tal, pode seguir vários cami- outras pessoas. Outra ideia ainda: ofe- O que interessa mesmo é que imprima.
nhos. O mais simples, mas não propria- reça as suas fotografias de paisagem Passe para o papel as fotografias que
mente o mais económico, é ter uma no aniversário dos seus amigos, no tanto prazer lhe deram tirar. Dê-lhes
boa impressora em casa. Participe tam- Natal, ou quando você bem entender. vida. E se forem boas o suficiente para
bém enviando as suas melhores foto- Se forem já prontinhas a colocar na pa- conseguir ganhar algum dinheiro, ainda
grafias para revistas da especialidade, rede, ainda melhor. Por fim, posso su- melhor...

48
PREPARA-SE BEM com bateria carregada e uma lanterna
são indispensáveis. Informe sempre (re-
Para o fim deixei algo que, por norma, pito, sempre!) alguém sobre o que vai
as pessoas se costumam esquecer fazer, para onde e quando pensa re-
quando saem para fotografar, mas que gressar. Tudo isto poderá ajudá-lo se al-
Canon 5D MK II, Canon 70-200mm f/4L@70mm,
considero muito relevante. guma coisa correr mal.
f/8, 1/25”, ISO 100
Embora a fotografia de paisagem não
seja, geralmente, uma atividade peri-
gosa, convém levar em consideração
alguns cuidados a ter, pois nunca sabe-
mos o que pode acontecer.
Vista-se de forma adequada e, mesmo
assim, carregue consigo uma peça de
roupa a mais do que aquilo que pensa
precisar, mesmo que esteja calor e sol
quando abandonar o carro. Um casaco
impermeável pode ser precioso se o
tempo mudar e começar a chover. É
também uma boa ideia levar na mochila
do equipamento fotográfico uma bebida
e algo que possa comer, como barras
energéticas, por exemplo. Um telemóvel

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Final do dia colorido, Castro Marim, Portugal Campo de arroz ao final do dia, Montemor-o-Velho, Portugal Neve no campo, Condeixa, Portugal
Uma das melhores formas de encontrar locais para fo- Conhecer os locais que vai fotografar só tem vantagens, Ao fim de algum tempo, encontrar locais fotogénicos
tografar é... sair da frente do computador. Calce os sa- principalmente se estes forem perto da sua casa. Pode perto de casa começa a ser tarefa difícil. Mas, mais uma
patos, dê corda às pernas e ponha-se a caminho. regressar aos mesmos em diferentes alturas do dia, do vez, tudo se resume a pôr os pés ao caminho e olhar
Depois olhe com atenção à sua volta. Olhe novamente. ano, ou com as mais diversas condições do estado do com atenção. Só assim teremos a certeza de descobrir
Ter bons sítios gravados no seu cérebro, para futura vi- tempo. Propositadamente, grande parte das fotografias paisagens para esta nossa paixão.
sita, é algo de muito valioso. deste livro são de locais bem perto de onde vivo, para Canon 5D MK II, Canon 70-200mm f/4L@70mm, f/11, 0,4”,
Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@17mm, f/8, 1,6”, ISO mostrar que não precisa de viajar para muito longe para ISO 100, 0.6 ND Grad (Soft)
100, 0.9 ND Grad (Hard) conseguir imagens com algum impacto.
Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@40mm, f/16, 1”, ISO
50, 0.6 ND Grad (Hard)

53
Sol atrás da nuvens, Figueira da Foz, Portugal A rocha e o sol, Figueira da Foz, Portugal Reflexos, Gatões, Montemor-o-Velho, Portugal
O fotógrafo de paisagem vive com as nuvens na cabeça Se gosta ou quer iniciar-se na fotografia junto ao mar, Pode ter a câmara mais cara do mercado, mas se não
- e às vezes com a cabeça nas nuvens. Um céu carre- tenha muita atenção, não só ao estado do tempo, mas estiver no local no momento certo, de nada lhe valerá o
gado oferece dramatismo a uma fotografia, ao contrário às marés. Idealmente, prefiro quando está na fase de dinheiro gasto. Eu prefiro muito mais estar a fotografar,
de um céu limpinho. E saber intrepretar os sinais do transição de preia para baixa-mar. Assim não corro o ou seja, a estar lá, no terreno, do que em frente ao
tempo só lhe trará benefícios. Para esta foto ainda tive risco de estar em algum local da praia e ficar cercado computador. Infelizmente, nem sempre é possível.
de aguardar que o sol ficasse um pouco coberto pelas de água se a maré estiver a encher. Mas seja em que si- Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@28mm, f/16, 8”, ISO
nuvens, para um efeito ainda mais interessante. Num tuação for, nunca, mas nunca arrisque. Uma fotografia 100, Polarizador, 0.9 ND Grad (Hard)
local superior várias pessoas assistiam a este espetá- não vale a sua vida.
culo, mas só eu o registei. Como é bom ser fotógrafo... Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@17mm, f/16, 20”, ISO
Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@30mm, f/11, 1/15”, 100, 0.6 ND Grad (Hard)
ISO 100, Polarizador, 0.6 ND Grad (Hard)

54
Barco ao amanhecer, Vila Real Sto António, Portugal Luz do amanhecer, Montemor-o-Velho, Portugal Barcos ao anoitecer, Santa Luzia, Tavira, Portugal
Acordar cedo pode custar, mas tem as suas recompen- O nascer do sol é um espetáculo indescritível, principal- No verão, chegar cedo a casa ao final do dia é uma
sas. Se não me tivesse levantado ainda antes do sol mente se as condições climatérias estiverem do nosso missão impossível. A luz acompanha-nos até bem mais
nascer, não tinha conseguido a luz fabulosa desta foto- lado. Mas para conseguir esta fotografia levantei-me tarde no relógio, o que obriga, muitas vezes, a comer a
grafia. Com quase toda a gente a dormir, tinha a natu- zangado com o despertador. A temperatura na rua era horas menos próprias. Esta fotografia, de fim de dia, foi
reza só para mim. baixa e pouco convidativa para mais uma aventura. Mas tirada às 21H11. Se fui capaz de ir para casa a seguir?
Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@21mm, f/22, 1,3”, ISO quem conseguiria resistir a um nascer de dia assim? Nem pensar, ainda tinha tanta luz à minha disposição
100, 0.9 ND Grad (Hard) Canon 50D, Canon 55-250mm f/4-5.6IS@65mm, f/8, 2,5”, ISO que me “obriguei” a ficar por mais quase uma hora.
100, IS desligado, 0.9 ND Grad (Hard) Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@17mm, f/8, 4”, ISO
200, 0.6 ND Grad (Soft)

55
Cor gloriosa, Tamariz, Portugal Estaleiro, Figueira da Foz, Portugal Barracão, Figueira da Foz, Portugal
Às horas a que costumo fotografar dificilmente conse- Uma boa ferramenta que deve ter para fotografar paisa- Há muito que descobri as vantagens do LiveView. E,
guiria boas imagens se não tivesse um tripé. Era impos- gens é um comando disparador remoto. Evita, desta agora, quase só uso o óculo (Viewfinder) da máquina
sível conseguir a mesma qualidade se fotografasse “à forma, qualquer possibilidade de fazer tremer a máquina para fotografia de retrato. Os puristas podem não con-
mão”. Ou melhor, pura e simplesmente não conseguia no momento do disparo. Se ainda não tem um, pense cordar, mas o LiveView é uma das melhores ferramen-
os mesmos resultados. Sinceramente, nem me ocorre em adquiri-lo. Enquanto não chega, socorra-se do tem- tas que as marcas oferecem aos seus clientes. Mas
outra forma de estar na fotografia, se não for para con- porizador. É melhor do que carregar diretamente no como em tudo na vida, quem não quer, não usa, não é?
seguir o melhor possível. botão do obturador da câmara. Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@17mm, f/11, 0,4”, ISO
Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@17mm, f/16, 13”, ISO Canon 5D MK II, Canon 24-70mm f/2.8L@24mm, f/16, 120”, 100, Polarizador, 0.6 ND Grad (Hard)
50, 0.6 ND Grad (Hard) ISO 50

56
Cores de outono, Sintra, Portugal Passadiço em madeira, Figueira da Foz, Portugal Água para campos de arroz, Montemor-o-Velho, Portugal
Experimente levantar a máquina e rodá-la (ou ande) As regras em fotografia existem apenas para nos guiar. As fotografias com linhas condutoras em forma de ‘S’
olhando somente para o ecrã LCD com o LiveView acti- Ajudam-nos a equilibrar composições. Mas podem e são quase sempre bem recebidas. Nesta imagem tam-
vado. Desta forma estará a ver como a câmara vê e, devem ser apenas vistas como regras, que podem ser bém gosto do padrão da água do primeiro plano, que
acredite, descobrirá enquadramentos que muitas vezes quebradas. Nesta foto encontra parte das regras de oferece um certo dinamismo à mesma.
não deteta com os seus olhos. Outra técnica consiste que falo no texto principal: terços, linha condutora e Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@21mm, f/11, 10”, ISO
em tapar um dos seus olhos para ter uma perspetiva de proporção. O passadiço, que termina na interseção do 100, Polarizador, 0.9 ND Grad (Hard)
como a sua câmara visualiza o cenário. terço superior direito, conduz-nos até ao horizonte. Se
Canon 5D MK II, Canon 24-70mm f/2.8L@46mm, f/8, 1/10”, não tivesse deixado as casas do lado esquerdo, a ima-
ISO 100, Polarizador gem ficaria desiquilibrada.
Canon 50D, Sigma 10-20mm f/4-5.6@20mm, f/16, 1,6”, ISO
100, 0.6 ND Grad (Hard)

57
Campos pela manhã, Montemor-o-Velho, Portugal Panorâmica ao fim do dia, Tamariz, Portugal Neve azul ao fim do dia, Serra da Estrela, Portugal
Quando temos uma regra mesmo à frente dos olhos e Tanto gosto de usar o modo Prioridade à Abertura, Com o balanço de brancos definido para ‘Daylight’ rete-
debaixo dos pés, não vale a pena inventar. Poderia ter como o modo Manual. Para paisagem qualquer um nho o tom azul do final de dia. Se tivesse optado pelo
sucesso com outro enquadramento e composição, mas deles é bastante fiável. Mas para panorâmicas não há balanço de brancos automático, a máquina tentaria
com tão fortes linhas condutoras era impossível não outra forma de trabalhar: o modo Manual é obrigatório. neutralizar a cor de todo o cenário, mas para algo que
deixar de as usar. Só assim é possível ter consistência ao nível da exposi- ela consideraria mais correto, o que não corresponderia
Canon 5D MK II, Canon 70-200mm f/4L@70mm, f/11, 0,6”, ção, entre todas as fotos que darão origem ao resultado ao que eu estava a ver no momento. Sim, se fotografo
ISO 100, 0.6 ND Grad (Hard) final. em RAW posso ajustar o balanço de brancos mais
Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@24mm, f/8, 10”, ISO tarde, no computador. Mas quase nunca o faço. Gosto
100, 0.9 ND Grad (Hard) . 6 fotografias verticais de visualizar no LCD da câmara aquilo que vejo no mo-
mento.
Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@17mm, f/11, 1,6”, ISO
100

58
Azul elétrico, Figueira da Foz, Portugal Frio amanhecer, Montemor-o-Velho, Portugal Ponte púrpura, Maiorca, Portugal
Para as minhas fotografias de paisagem altero quase Com a máquina em modo de Prioridade à Abertura, ou Se tivermos especial cuidado com a exposição, profun-
sempre o sistema de focagem de automático para ma- Manual, com o sistema de medição definido em matri- didade de campo e focagem, a qualidade conseguida
nual. Assim tenho controlo absoluto sobre o que quero cial e graças ao histograma, facilmente sei como está a com as atuais câmaras digitais é fenomenal.
realmente focar. exposição das minhas fotografias. Sabendo interpretar Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@20mm, f/11, 15”, ISO
Canon 5D MK II, Canon 24-70mm f/2.8L@50mm, f/7,1, 4”, a informação disponibilizada pela máquina, posso tra- 100, 0.6 ND Grad (Hard)
ISO 200 balhar com confiança.
Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@20mm, f/16, 2,5”, ISO
100, Polarizador, 0.6 ND Grad (Hard)

59
Girassóis, Évora, Portugal Rochas dispersas, Costa Vicentina, Portugal Rocha, São Pedro de Moel, Portugal
Recorra à hiperfocal para maximizar a profundidade de Escolher o filtro correto está sempre dependente do Baixar o tempo de exposição o suficiente para gravar
campo. Mas não vai precisar de andar sempre a fazer contraste na imagem, ou melhor, no cenário que está a movimento nem sempre se afigura fácil. O movimento
cálculos complicados para o efeito. Mais uma vez com compôr. Por exemplo, nesta fotografia usei um 0.6 ND desejável é muito subjetivo e depende muito do que o
a ajuda do LiveView verá a sua tarefa bastante simplifi- Grad (Hard) que cortou dois stops de luz no céu, permi- fotógrafo quer transmitir. Nesta imagem pretendi reter
cada e as suas imagens “hiperfocadas”... com detalhe tindo o perfeito balanço de tons no topo e fundo da algum detalhe da água e ao mesmo suavizar o movi-
do primeiro plano até ao horizonte. imagem. mento da mesma junto à grande rocha em primeiro
Canon 5D MK II, Canon 24-70mm f/2.8L@70mm, f/8, 1/250”, Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@23mm, f/16, 32”, ISO plano.
ISO 100, Polarizador 100, 0.6 ND Grad (Hard) Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@24mm, f/13, 1,3”, ISO
100, 0.6 ND, 0.6 ND Grad (Hard)

60
Pontão na Cova Gala, Figueira da Foz, Portugal Céu elétrico, Montemor-o-Velho, Portugal Água nos campos, Montemor-o-Velho, Portugal
O filtro Lee Big Stopper corta tanto na quantidade de Uso filtros gradientes para guardar o máximo detalhe Recorro a filtros porque gosto de obter o melhor resul-
luz (aproximadamente 10 stops) que chega ao sensor, possível nas minhas imagens. É acessório relativamente tado possível diretamente na máquina e não deixar para
que uma exposição que nem sequer demoraria 1 se- rudimentar, mas funciona na perfeição. depois remendar no computador. É impossível salvar o
gundo a concretizar prolongou-se para 91 segundos. Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@17mm, f/16, 2”, ISO céu de uma fotografia se não tiver lá qualquer informa-
Tempo suficiente para ficarmos inquietos à espera que a 50, 0.9 ND Grad (Hard) ção.
imagem surja no ecrã LCD com o resultado. Isto ainda é Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@17mm, f/11, 1/8”, ISO
pior quando tenho exposições de cinco ou seis minu- 100, 0.6 ND Grad (Hard)
tos.
Canon 5D MK II, Canon 17-40mm f/4L@19mm, f/16, 91”, ISO
100, Lee Big Stopper (10x), 0.6 ND Grad (Hard)

61
Barcos no nevoeiro ao nascer do dia, Figueira da Foz, Papoila, Montemor-o-Velho, Portugal Ponte à noite, Figueira da Foz, Portugal
Portugal Faça da sua casa a sua própria galeria. Ou então ofe- As fotografias panorâmicas ficam sempre bem na pa-
Há fotografias que têm mesmo de passar para o papel reça a amigos e familiares algumas das suas melhores rede de qualquer espaço, seja na sala, corredor, ou na
para podermos usufruir da sua beleza. E quanto maior, fotografias impressas. Crie o seu próprio livro, ou álbum. empresa. Melhor do que na pasta ‘Panorâmicas’ do
melhor. Esta fotografia contém pequenos pormenores Tenha a satisfação de ver as suas imagens ganharem disco do computador.
que só são (bem) visíveis em tamanho grande. E, de vida. Canon 5D MK II, Canon 24-70mm f/2.8L@51mm, f/18, 71”,
preferência, em papel. Canon 5D MK II, Canon 24-70mm f/2.8L@66mm, f/2.8, ISO 50
Canon 5D MK II, Canon 70-200mm f/4L@87mm, f/18, 1/60”, 1/500”, ISO 400
ISO 50

62
O AUTOR EQUIPAMENTO
Carlos Santos

Maurício Reis nasceu em 1971 e é, atualmente, diretor Como se trata de um livro de fotografia e como sei que
da revista zOOm - Fotografia Prática. os leitores gostam sempre de saber que equipamento
A paixão pela fotografia nasce em 1999, mais ou menos fotográfico usa o fotógrafo, deixo a lista do que faz
em simultâneo com o aparecimento das primeiras má- parte da minha mochila.
quinas digitais mais avançadas. O digital começava a Mas aproveito para referir que mais do que a câmara X,
dar os primeiros passos, ainda com uma qualidade ou objetiva Y, o mais importante é você, aquilo que vê e
muito inferior ao analógico. Mas é a nova forma de estar aquilo que sente quando tira fotografias. Se a sua pai-
na fotografia que o atrai. xão for mesmo grande, terá bons resultados indepen-
A partir de 2005 inicia a sua autoformação e dois anos dentemente do material que use.
depois compra a câmara que viria a revolucionar a sua O principal é que se divirta, que aproveite os momentos
vida. em que está a fotografar.
Desde então dedica-se, principalmente, à fotografia de
paisagem. Esta atividade permitiu-lhe adquirir novos co- Canon 5D MK II
nhecimentos e a olhar o mundo de uma forma mais Canon 17-40mm f/4L
apaixonada, mesmo o que vê ao sair de casa. Canon 24-70mm f/2.8L
O gosto pela fotografia e pela partilha dos conhecimen- Canon 70-200mm f/4L
tos levou à criação da revista zOOm onde, com a ajuda Canon 50mm f/1.8 II
de outros colaboradores, tenta oferecer um produto Flash Canon 430EX II
que, mais do que abordar a técnica, prefere ser uma Tripé Manfrotto 055CXPRO3
fonte de inspiração. Cabeça Manfrotto Ball Head Q2
É possível encontrar os trabalhos do autor em diversos Filtros Hitech ND Grad 0.3, 0.6 e 0.9 Hard; ND Grad 0.6 Soft;
espaços, nomeadamente no Flickr, 500px, ou na sua ND Full 0.9
página pessoal em www.mreisphotography.pt.vu. Filtro Lee Big Stopper (10 stops)
Acessórios diversos

Caso deseje, pode contactar o autor através do endereço de


e-mail: mreisphotography@gmail.com

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DICAS PARA FOTOGRAFIA DE PAISAGEM
CONSELHOS PARA CONSEGUIR BONS RESULTADOS
MAURÍCIO REIS

EDIÇÃO
Revista zOOm - Fotografia Prática
www.zoomfp.com
Fotografia-DG
www.fotografia-dg.com

Copyright 2011 por Maurício Reis


Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro
pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer meio
sem permissão escrita por parte do editor ou autor.

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