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Fotografia noturna

Justamente quando a luz está menos presente é que algumas das mais
belas imagens surgem. Descubra como aproveitar a escuridão para
obter as melhores fotos da noite.
Por Luciano De Sampaio em 20 de Novembro de 2009

A fotografia é - como a origem grega do nome diz - a arte de desenhar com a luz.
Curioso então perceber que muitas vezes as imagens mais bonitas não são
completamente iluminadas, claras e com céus brilhantes. Além das horas
intermediárias – nascer e pôr do sol – é comum encontrar fotos ímpares feitas à
noite. Talvez justamente pela escassez da luz disponível, a fotografia noturna
encanta, com seus fundos salpicados de pontos e traços de faróis.

Cuidados especiais
Antes mesmo de começar a falar de fotografia, deve-se
sempre lembrar que as ruas das grandes cidades – mesmo
durante o dia, mas especialmente à noite – não são
totalmente seguras. Andar em grupo e evitar regiões
reconhecidamente perigosas – parques e outras áreas não
habitadas, por exemplo – são atitudes que podem garantir
as belas imagens que você fará no decorrer de uma
incursão fotográfica noturna. Como dizem os escoteiros:
sempre alerta!

Outra coisa importante a levar em consideração é: se você mora no Sul do país,


ou em outras regiões onde faz frio, levar um agasalho e uma térmica com uma
bebida quente pode aumentar consideravelmente o conforto e o prazer em se
fotografar à noite. Norte e Nordeste já não oferecem o mesmo problema, então
quem mora nessas regiões já tem uma vantagem.

O que levar?
Claro que o equipamento para fotografar na calada da noite é bastante próximo
daquele usado em qualquer outra situação. Câmera, lentes (para as dSLR e
as micro 4/3), flash, cartão de memória, baterias extra (tanto para a câmera quanto
para o flash, se você tiver acesso a iluminação externa à câmera) são o mínimo
necessário.

Sobre a câmera, se você tiver condições, uma dSLR ou uma compacta que tenha
opções de ajuste manual – em especial a velocidade bulb, que permite exposições
com duração de horas – são ideais. Caso não tenha acesso a esse tipo de
equipamento, descubra qual a velocidade mais baixa da sua câmera e se prepare
para fazer suas fotos em função disso. Outra consideração necessária é a
sensibilidade à luz do seu sensor. Para fotografar à noite é comum imaginar que
se deve usar ISO alto deixando a câmera mais sensível, porém isso não é sempre
verdade. Para se obter exposições realmente longas – chegando a durar a noite
inteira, inclusive – ou até mesmo como experiência, vale a pena arriscar um valor
ISO mais baixo.

Porém existem outras peças que podem


facilitar muito – e em alguns casos são mesmo
obrigatórias para – a obtenção de bons
resultados. Logo de cara, o acessório principal
para quem pretende fotografar à noite é o tripé.
Como a condição de luz é muito precária,
exposições longas são praticamente regra
depois que o Sol se pôs. Como todo o resto, se
você não tiver um tripé, além de ser possível
improvisar apoiando a câmera em objetos que
estejam no local, às vezes arriscar fotografar na mão pode oferecer resultados
surpreendentes e criativos.

Com o tripé, outra coisa que pode ajudar – mas não é essencial, até por ser
complementar às câmeras dSLR – é um disparador remoto. Seja por cabo ou sem
fio, uma extensão dessas ajuda a prevenir trepidações na câmera, e normalmente
permitem o uso do autofoco e de diversos modos de disparo.

Uma lanterna pode ser um bom substituto para o flash. Como os tempos de
exposição são longos, é possível iluminar partes de uma cena e manter outras
completamente no escuro, principalmente se você estiver afastado das luzes dos
grandes centros. Naturalmente, uma lanterna pequena exige mais tempo para
iluminar um objeto na fotografia, devido à sua baixa intensidade. Caso você
escolha usar a lanterna como iluminação auxiliar, é válido levar também alguns
recortes de papel celofane de diversas cores, para tentar um visual diferente nas
suas imagens. Lembre-se também de que, ao contrário do flash – que ilumina uma
área grande e de maneira relativamente uniforme – a lanterna serve
principalmente para ressaltar detalhes e para dar efeitos dramáticos .
Um cronômetro pode ser seu melhor amigo – se você já tiver alguma experiência
com fotometria principalmente – ao fotografar no período noturno. Caso a sua
câmera tenha o tempo bulb de exposição, o sensor fica exposto enquanto o botão
da câmera estiver pressionado (uma das funções do disparador remoto é garantir
que você não precisará ficar horas com o dedo apoiado no botão), e o tempo de
exposição deve ser controlado de alguma forma. Um timer ou alarme de relógio
resolve o problema facilmente.

Tentativa e erro
Olha, fotografar à noite não é fácil. Não basta apenas contar com as luzes da
cidade e pensar “ok, todos esses pontinhos de luz formam uma foto bonita”, pois
não formam. Composição – o que você vai mostrar na foto – é essencial, bem
como o cuidado com o tempo de exposição. Em câmeras com controle manual
isso é bem mais fácil de fazer, mas mesmo as compactas podem entregar bons
resultados. O mais importante é, com certeza, pensar em como você quer que a
foto saia antes de apertar o disparador.

Em cenas com contraste muito alto – luzes muito fortes, como postes de rua – é
uma boa ideia tirar as lâmpadas do enquadramento. Com isso, o resto do cenário
tem uma visualização muito melhor, já que o clarão da iluminação urbana não
roubará a atenção. Letreiros de lojas e bares, luzes mais fracas ou distantes, em
contrapartida, oferecem cores e formas interessantes e podem transformar uma
foto comum em uma imagem memorável.

Mas o principal é descobrir como a sua câmera se comporta fotografando nessa


situação crítica. Treinar bastante, fazer várias fotos ruins para só então chegar a
um resultado realmente agradável não tem nada de errado. A grande maioria dos
fotógrafos faz isso o tempo todo, inclusive. Aproveite as oportunidades que tiver
para testar configurações, modos de captura de imagem e também sua
desenvoltura com todos os acessórios mencionados acima.
Temas no escuro

A quantidade de coisas que podem ser fotografadas à noite é tão vasta quanto os
motivos para fotos diurnas. Paisagens, retratos, detalhes das ruas, tudo isso
oferece muitas possibilidades justamente porque, à noite, mostra-se bem diferente
do que as pessoas estão acostumadas a ver durante o dia. Explorar essa
familiaridade estranha é um dos segredos da fotografia noturna.

A luz noturna
Assim como durante o dia o fotógrafo se preocupa com a posição do Sol, à noite é
necessário prestar atenção na Lua e onde ela se encontra no céu. Apesar de a
intensidade da luz ser bem menor, o luar também causa sombras, da mesma
forma que a estrela mais próxima do planeta. Quanto mais alta no firmamento, a
Lua gera sombras relativamente duras, curtas, marcadas e bem definidas. À
medida que o satélite se aproxima do horizonte, as sombras se alongam e ficam
mais suaves.
Outro detalhe importante: quanto mais próxima de prédios e outros elementos
humanos a Lua estiver, maior ela parecerá em relação a estes. A fase do astro
também importa, já que a intensidade de reflexão será menor fora da Lua cheia, e
– para todos os efeitos – inexistente na Lua nova. Além disso, como as exposições
são mais longas, quando o tempo com o obturador aberto superar dois minutos, a
probabilidade de a Lua aparecer deformada aumenta, já que esse é o tempo
aproximado que ela leva para percorrer seu próprio diâmetro no ciclo celeste .

Já as estrelas e os outros planetas praticamente não influenciam em foto noturna,


a não ser como pontos de luz no céu. Entretanto, assim como a Lua, as estrelas
também transitam na abóbada celeste, e, quanto mais afastado da linha do
equador você estiver, maior é a percepção desse movimento. Muitas vezes, os
riscos gerados pelas estrelas aumentam a dramaticidade da foto dando uma
sensação de tontura. Porém nem sempre é esse o objetivo da foto, então atenção
e cuidado são recomendados.

A longa exposição

Mesmo as câmeras compactas têm modos de longa exposição, e para fotografar à


noite, ele é praticamente obrigatório. Dificilmente uma foto é feita em menos de 15
ou 20 segundos - por coincidência o tempo máximo de disparo de algumas
compactas mais antigas. Com isso, é importante perceber que algumas
características das fotos serão diferentes: movimentos estarão “borrados”, carros e
outros objetos iluminados que se movam deixarão traços de luz, e a composição
da imagem deve levar todos esses efeitos em consideração.

Como nesse tipo de exposição, o sensor recebe pequenas quantidades de luz


durante um longo período, as cores representadas são bem diferentes das obtidas
durante o dia. Mesmo que não sejam tão contrastadas – diferença entre claros e
escuros – as imagens apresentam uma saturação bastante forte, com cores muito
vivas. Isso deve ser parte da preocupação do fotógrafo noturno também, pois pode
determinar um melhor ângulo para certas fotos, em busca de cores ainda mais
vibrantes.

Ruído
Nos tempos da fotografia analógica, os filmes usados para fotos noturnas tinham
uma característica chamada grão. A imagem obtida nesses filmes parecida uma
pintura pontilista, feita apenas encostando o lápis no papel. O sensor digital,
entretanto, não dispõe da química que era responsável por esse efeito, e, como
depende da luz para formar imagem, em condições de baixa iluminação alguns
defeitos podem surgir. O conjunto desses problemas é conhecido por ruído.

Em câmeras mais modernas, vários sistemas


eletrônicos e computacionais ajudam a evitar o
aparecimento dos famosos pontos verdes e
vermelhos característicos das fotos com
problemas de ruído. O surgimento deles ocorre
devido ao cálculo aproximado que a câmera
realiza para tentar identificar informação visual
em áreas do sensor que não receberam luz
suficiente.

Outro tipo de ruído bastante comum em imagens noturnas deve-se ao


superaquecimento do sensor. Como todo chip, o funcionamento ideal desse
equipamento ocorre em uma determinada faixa de temperaturas. Já que as
exposições noturnas são muito longas, o sensor passa muito tempo em
funcionamento, superaquecendo. Ao contrário dos pontos verdes e vermelhos
ocasionados pelo processador, o ruído gerado no sensor cria distorções de
intensidade e contraste nas cores.

Para resolver problemas de ruído o ideal é utilizar um valor ISO mais baixo, que
evita justamente a formação de pontos coloridos graças à ação do processador, e
fotografar em RAW para tentar minimizar o impacto do sensor em aberrações de
cor na imagem final. Caso sua câmera não ofereça essas possibilidades, fotografe
na maior qualidade possível, para ter condições de tratar a imagem depois de
descarregá-la para o seu computador.

A abóboda celeste
Perceba que fotografar à noite não é a mesma coisa que fotografar
os corpos celestes que se mostram durante a noite. Fotografar os
planetas, as estrelas e a Lua é uma atividade bem mais complicada,
e exige uma série de equipamentos (pelo menos uma teleobjetiva e uma dSLR).
Por isso você não vai encontrar grandes explicações sobre fotografia dos astros –
nesse artigo pelo menos, mas quem sabe num próximo, específico sobre
astrofotografia?
Invente!
Agora que você já tem uma ideia de como aproveitar ao máximo as noites para
fotografar, que tal arriscar de alguma forma diferente? De todas as recomendações
feitas nesse artigo, as únicas que você não deve deixar de lado nunca são as
relativas à segurança. Todo o resto é relato de experiências que várias pessoas
fazem, e quem sabe um dia alguém não usa a experiência que você ainda vai
fazer para tentar ajudar outros a aproveitarem melhor seu equipamento
fotográfico?

Mãos à obra! Junte seu equipamento, convide seus amigos e que você tenha
noites excelentes fotografando o mundo de um jeito que ninguém vê fora da
fotografia.

Leia mais em: http://www.tecmundo.com.br/imagem/3125-fotografia-


noturna.htm#ixzz2hEbfMx3y

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