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Lucas F r ^
• -9
CIA
>STURA PROIBICIONISTA
ECESSIDADE
A PRAT CA
PREVENTIVA DIFERENCIAL
É FUNDAMENTAL PROPICIAR QUE
AS PESSOAS, EM ESPECIAL OS
JOVENS, POSSAM REFLETIR SOBRE
SEU PRÓPRIO AUTOCUIDADO,
PREVENINDO, PORTANTO, QUE ELE
POSSA SOFRER DANOS EVITÁVEIS E
COLOCAR-SE EM RISCO AO BEBER
S E N S A T O PARA PAIS P R E O C U P A D O S E
B E M INTENCIONADOS. P E D I R Q U E OS
F I L H O S JAMAIS E N T R E M E M CONTA-
TO COM D E T E R M I N A D A S U B S T Â N C I A É
MAIS DO Q U E O DISCURSO MAIS A C E S -
S Í V E L , É T A M B É M O MAIS A P L I C A D O
E M G R A N D E P A R T E DAS F A M Í L I A S E
ESCOLAS, L U G A R E S CENTRAIS ONDE A
P R E V E N Ç Ã O P R I M A R I A S E D Á . No entan
to, tal modelo preventivo baseado na postura proibi-
tiva alcança certos limites ao lidar com substâncias
e comportamentos altamente tolerados e difundidos,
tais como o uso de álcool e tabaco, que muitas ve-
zes sequer é visto como droga. Como prevenir o uso
de bebidas se muitas vezes nós, adultos, professores,
psicólogos, médicos ou qualquer outra referência de
comportamento não damos o exemplo de temperança
e abstinência? Será que o discurso preventivo do não
use drogas consegue ter alguma efetividade no uso
do álcool, uma vez que existe uma ampla e poderosa
publicidade destinada aos jovens que incessantemente
associa a bebida ao esporte e ao sexo? Será que a
ALTERNATIVA - A NECESSIDADE DE UMA
P R Á T I C A PREVENTIVA
1- Lei seca; proibiu a fabricação, transporte, venda e consumo de álcool nos EUA entre 1920 e 1933. 53
"Podemos prevenir um uso precoce de álcool com trabalhos preventivos que lidem com o sentido de beber
para estudantes de colégio."
modalidades de uso que fazem com que a bebida experimentações, por mais que não exista ainda de-
possa ser vista como ameaçadora e temida. Se mui pendência, já há a possibilidade de um adolescente
tas vezes há desejo de prevenir impondo abstinên- beber até perder os sentidos, ficando extremamente
cia, é exatamente porque estas possibilidades ne- vulnerável a um abuso sexual ou a algum tipo de
gativamente citadas são generalizadas e niveladas furto, entre outros riscos. Precisamos pensar exa-
enquanto únicas possíveis. A proibição plena parte tamente no sentido do uso da bebida: se há uma
de uma generalização, toma a parte como o todo. A necessidade de ser aceito pela turma em um inces-
prática preventiva aqui proposta aprende a distin- sante sentimento de exclusão; se há a vontade de
guir os mais diversos usos possíveis de drogas, e a parecer ser mais velho, em atos que tipicamente as-
identificar quais são de fato mais problemáticos, e sociamos a adultos, tais como beber e fumar; etc. Se
quais devem ser mais prevenidos. diagnosticarmos que o uso e abuso de álcool se dá
Como, no entanto, podemos identificar se há visando maior aceitabilidade do grupo, é exatamente
um uso nocivo em questão? E como preveni-lo? este o foco do trabalho preventivo, seja ele terapêu-
A resposta não é simples, e por mais que o foco tico ou educacional.
seja o uso de bebidas alcoólicas, deve se ultrapassar Focar e debater apenas a bebida pode deixar o
exatamente este foco inicial para refletirmos qual jovem vulnerável para as questões que o conduzem
o cenário mais amplo no qual ele ocorre. Devemos inevitavelmente à bebida. Identificar e trabalhar as
pensar o uso de bebidas sempre no interior da vida questões anteriores que conduzem ao uso de álcool
do usuário. Se a vida como um todo está boa, o uso é o mais fundamental para que possamos fazer um
de bebidas alcoólica será um; se a vida está desor- trabalho efetivo e amplo. Para isto, é necessário um
denada, o uso de bebidas será outro. Devemos nos diagnóstico preciso do contexto total no qual o uso
atentar à vida do usuário de uma forma ampla, e ver da bebida está imerso.
quais as questões que levam a pessoa a beber. Focar Nesta lógica preventiva, podemos inclusive pre
apenas no uso de drogas, ainda que possa ser bas- venir não apenas adolescentes, mas também adultos
tante nocivo e alarmante, é desprezar exatamente de terem um comportamento de risco relativo ao uso
aquilo que é mais central. de álcool. Se formos prevenir especificamente o uso
Podemos prevenir um uso precoce de álcool do álcool, o público alvo da prevenção é exatamente
com trabalhos preventivos que lidem com o senti- aqueles que nunca experimentaram alguma bebida
do de beber para estudantes de colégio. Possível alcoólica. Mas se a prevenção não é contra o uso de
mente ali não encontraremos bebedores crónicos, álcool em si, mas sim ao uso nocivo, podemos ex-
mas experimentadores, e já há um risco envolvi- pandir o modelo preventivo a toda pessoa que tenha
do. Se há um uso esporádico, ainda que através de acesso ao álcool uma vez que uma pessoa pode ter
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um uso controlado, sem muitos riscos, e em determi- ou pornografia. Cada vez mais a humanidade fica
nado momento da vida ter o uso do álcool intensifi- vulnerável com aquilo que lhe é mais constitutiva, e
cado por algum motivo específico. No caso, o modelo cada vez mais buscamos meios de dissimular a frá-
preventivo é o mesmo, identificar o sentido do uso do gil transitoriedade da condição humana. A tendência
álcool para determinada pessoa, como, por exemplo, ao abuso e à compulsão, portanto, já está em nosso
lidar com o estresse de um trabalho extenuante. Se período histórico antes de estar em cada um de nós
este for o caso, o foco do trabalho preventivo é exa- (Ong, 2016).
tamente repensar as condições centrais que originam Hoje lida-se com o álcool também deste modo,
o abuso de álcool, ou seja, a relação com o trabalho, tentando repelir o tédio, dissimulando alguma dor
e não simplesmente ter como objetivo a simples i n - ou simplesmente tentando ser aceito. Conseguindo
terrupção do uso de bebidas alcoólicas. É como, ao identificar os elementos decisivos que fazem com
surgimento da febre, lutar com todas as forças para que alguém passe a abusar do álcool permite aos
que a febre passe a qualquer custo, não considerando poucos tratar cada uma destas questões, efetuando
exatamente as condições para seu aparecimento, ou um gradativo desinteresse pelo abuso de álcool. Para
seja, aquilo que é mais decisivo. A prevenção, quando prevenir o abuso de bebidas, é necessário desfocar
é efetiva, ruma à origem. o abuso e olhar para o cenário que possibilita com
Precisamos pensar de forma ampla e abrangen- determinada pessoa esteja mais vulnerável a ele.
te para prevenir o uso nocivo de bebidas alcoólicas. Concluindo, assim como o uso de internet, in
Focar apenas o álcool desarticula o uso dos elementos gestão de comida ou prática sexual, o uso de álcool
mais decisivos que fazem alguém passar a abusar do não deve ser simplesmente banido, impondose abs-
álcool em alguma situação específica. Devese, para tinência indiscriminada, mas sim incentivar que o
prevenir o álcool, desfocar o álcool e abranger a vida usuário, que pode ser do jovem ao adulto, reflita o
da pessoa como um todo, possibilitando visualizar lugar que a bebida ocupa em sua vida, possibilitando,
porque o abuso de álcool ali faz algum sentido. com isso, uma remodulação do uso.
Vivemos uma época de compulsões e tampo- Após o jovem alcançar sua maioridade e estar
namentos. Tentamos alcançar soluções práticas nas legalmente apto a beber, o fundamental é propiciar
mais diversas esferas. Tentase dissimular a dor do que ele possa refletir sobre seu próprio autocuidado,
existir e o tédio que inevitavelmente desperta em prevenindo, portanto, que ele possa sofrer danos evi-
momentos imprevisíveis. E isto não necessariamente táveis e colocar se em risco ao beber. Ao identificar
com drogas, pode ser com compras, com diversões mos um hábito de abuso ou compulsão pela bebida,
das mais diversas, com séries televisivas, com sexo é fundamental diagnosticar exatamente aquilo que é
dissimulado sob o efeito da bebida. É necessário per-
ceber precisamente o que permanece velado sob o
efeito depressor do álcool, seja ela um luto, o tédio
que incessantemente busca diversões sociais ou até
mesmo timidez e vontade de inclusão. Ao nos situar-
mos amplamente no contexto da vida, e não apenas
no do uso do álcool, é possível lidar com os elementos
originários e decisivos da compulsão. É exatamente
desfocando o uso do álcool que se dá a prevenção,
e não porque o uso do álcool é pouco relevante, mas
apenas por ele ser o último elo de uma cadeia com-
plexa. É apenas na visualização do contexto total que
a prevenção pode se dar de uma maneira efetiva,
compreendendo o uso de álcool não como o todo, mas
como o último elo de uma cadeia de vários elementos.
TE
^ É IMft)RTANTá' Entender as origens do
< o tratamento da dependência quír problema ajuda a evitar que ele
g exige uma abordagem terapêutiêS se agrave e também auxilia na
o nas questões do paciente e em SL busca por um caminho de
cQ interação com a sociedade^^ recuperação e reabilitação