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O Estado Islâmico conforma-se como um califado proclamado há poucos anos que afirma

ter autoridade religiosa sobre todos os muçulmanos do mundo, apresentando como pretensão maior
a tomada da maior parte das regiões do globo que apresentem maioria islâmica. Suas aspirações
primordiais envolvem a tomada da região chamada de Levante, que inclui territórios da Jordânia,
Israel, Palestina, Líbano, Chipre e Turquia. O modus operandi do grupo consiste basicamente em
obrigar os indivíduos das áreas sob sua jurisdição se converterem ao islamismo, obedecendo as
correntes sunitas – base do grupo – de interpretação da religião e sob a lei charia, que consubstancia
o aparato normativo islâmico. Àqueles que se mostram contrários a isso restam poucas alternativas,
sendo a maioria deles assassinados de maneiras atípicas e chocantes, envolvendo desde
fuzilamentos até cordões de bomba, afogamento e crucificação. Diante disso, existe uma quantidade
grande de grupos em combate ao EI, especialmente o Hezbollah, os peshmergas e as milícias
cristãs.
Primeiro deles, o Hezbollah, configura-se como um grupo de atuação paramilitar e política
com orientação no fundamentalismo islâmico xiita – corrente que vai completamente de encontro
ao que perpassa o Estado Islâmico -, visando combatê-lo especialmente pela discrepância na
interpretação religiosa e pelos anseios sunitas em invadir e dominar o território libanês. O grupo
atua em favor do governo sírio de Bashar al-Assad no combate aos terroristas do Estado Islâmico no
afã de resguardar a fronteira entre Síria e Líbano, havendo variadas declarações do líder do
movimento libanês, Hassan Nasrallah, convocando o mundo arábe a combater o EI:

“Hoje enfrentamo-nos a um tipo de perigo que não tem precedentes na


história e que vai contra a própria humanidade. Trata-se não só de uma
ameaça para a resistência no Líbano ou para as autoridades da Síria ou o
Governo no Iraque ou um grupo no Iêmen. É um perigo para todos.
Ninguém deve enterrar a cabeça na areia. Convidamos todo mundo no
Líbano e na região a assumir a responsabilidade e fazer frente a este perigo e
pôr fim ao silêncio, à vacilação e à neutralidade.”

Em relação aos peshmerga, estes são os combatentes curdos, sediados especialmente no


norte do Iraque, que tentam fazer alguma resistência ao avanço dos jihadistas sunitas também em
direção ao Iraque. Estão organizados em torno das Unidades de Proteção Popular, já tendo
recuperado diversas áreas da fronteira turco-síria, como por exemplo os entornos da cidade de
Kobani. Sua atuação insistente também foi a responsável por fazer com que o EI abandonasse
Sinyar, região próxima a Mosul, uma das cidades que foi palco de cerca de cinco mil assassinatos
protagonizados pelo auto-proclamado califado, sem falar nas milhares de mulheres feitas de
escravas sexuais e dos milhares de fugitivos que se deslocaram para as montanhas sem água ou
alimento.
Os peshmerga, “aqueles que encaram a morte”, conformam uma das forças mais temidas
pelo Estado Islâmico pois suas tropas são formadas por voluntários, ou seja, indivíduos que tem
como real anseio e objetivo de vida a derrocada dos sunitas do Estado Islâmico, que já é conhecido
por ter em suas fileiras jovens estrangeiros ressentidos e convencidos a partir de uma propaganda
utópico e manipuladora, o que fez com que o comando do grupo terrorista tenha emitido ordens
constantes de abater de qualquer maneira os peshmergas. Atualmente vem recebendo algum apoio
dos Estados Unidos, mas nada muito marcante, o que gera um temor dentro do governo do Iraque
pois é sabido que os curdos desejam a independência e uma pátria, já que são o maior povo sem
território do mundo todo.
Finalmente, em relação às milícias cristãs, estas tem surgido desde que o Estado Islâmico se
inclinou a atacar violentamente grupos cristãos principalmente no Iraque, exemplificando o ataque
que se deu a uma aldeia perto de Mosul, em tempos de festa de Natal, em que o EI matou vários
iraquianos cristãos, dando início ao surgimento da Brigada Babilônia ou Resistência Cristã
Iraquiana, que hoje congrega cerca de 30 grupos e mais de 100 mil soldados também voluntários.
Vale destacar curiosamente uma aliança pouco vista, já que dentre esses 30 grupos, a maior parte
deles é muçulmano, sendo somente e Brigada Babilônia cristã.
Atualmente estas milícias são patrocinadas pelo governo central iraquiano, chegando a
receber mais de 1 bilhão de dólares ao ano, engajados no combate ao avanço do Estado Islâmico e
disseminação da jihad sunita pelo mundo arábe. Segue uma entrevista ao líder da Brigada,
Babilônia, Rayan al-Kildani, que ilustra a vontade com que esses grupos combatem seu opositor:

“Quantos homens você tem?”, pergunta a reportagem da BBC.


Ele responde: “isso é um segredo militar”.
“Vocês têm centenas de homens ou milhares?”
“Muitos”.
“Armas?”
“Foguetes”, ele diz. “De tamanho médio. Isso é guerra. Você não pode lutar
uma guerra com metralhadoras”.
“Então, vocês são uma milícia cristã”, diz a reportagem.
“O que o Estado Islâmico está fazendo com cristãos é terrível”, ele
responde. “Eles são o demônio”.
“Sua milícia já combateu alguma vez?”
“Nós lutamos lado a lado com as milícias muçulmanas. Somos o primeiro
poder cristão na história do Iraque”.
E continua: “Eu sei que a Bíblia diz que quando você recebe um tapa, você
deve oferecer o outro lado da face. Mas nós temos forças de defesa muito
boas agora. Ninguém vai fazer nenhum mal aos cristãos. Alguns tiveram
suas casas tomadas. Eu fui pessoalmente a essas casas para dizer às pessoas
que chegaram que deixassem as residências. O sofrimento cristão acabou”.
Um dos telefones dele toca. Ele olha para o número que está chamando, dá
um grunhindo e entrega para alguém atender.
“E sobre o mandamento 'Não matarás'?”, a BBC pergunta.
“Nós temos que lutar, temos que nos defender. Jesus mesmo disse que se
você não tem uma espada, você deve sair e comprar uma”.
“Ele disse isso mesmo?”, pergunta a reportagem.
“Está na Bíblia”, insiste Kildani.
“Em Mateus”, diz um homem. “Lucas”, afirma outro. “Mateus e Lucas”,
eles dizem juntos. Kildani olha para um dos assistentes que está brincando
com um joguinho no celular.
“Encontre”, ele ordena.
O jovem com o telefone anda até o repórter. Ele tem um verso em árabe na
tela do celular.
É Lucas, capítulo 22, versículo 36: “Se você tem uma bolsa, pegue, e
também uma mala; e se você não tem uma espada, venda o seu casaco e
compre uma”.

Fontes:

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160411_milicia_crista_np
http://elmed.io/la-heroica-lucha-de-los-kurdos-contra-el-isis/
http://hezbollahrc.blogspot.com.br/

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