Você está na página 1de 38

© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

ONDJA KI

OMBELA a origem das chuvas

ilustrações de RACHEL CAIANO

Rio de Janeiro, 2018


2a edição
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

Copyright © 2014
Ondjaki e Rachel Caiano

Editoras
Cristina Fernandes Warth
Mariana Warth

Coordenação editorial
Livia Cabrini

Coordenação gráfica e projeto de capa


Aron Balmas

Esta edição mantém a grafia do texto original em português de Angola, adaptado ao novo
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, com preferência à grafia angolana nas situações
em que se admite dupla grafia e preservando-se o texto original nos casos omissos.

Todos os direitos reservados à Fernandes & Warth Editora e Distribuidora Ltda.


É vetada a reprodução por qualquer meio mecânico, eletrônico, xerográfico etc.,
sem a permissão por escrito da editora, de parte ou totalidade do material escrito.

Dados Internacionaisde Catalogação na Publicação (CIP)


O66o
Ondjaki
Ombela:a origem das chuvas/Ondjaki ; ilustrações de
Rachel Caiano. ––2. ed. -- Rio de Janeiro, RJ :Pallas
Míni, 2018.
36 p. : il., color.

ISBN: 978-85-67751-09-2

1.Literatura infantil angolana 2. Cultura - mito


I.Título II. Caiano,Rachel

CDD028.5
18-0673 CDU 028.5

Pallas Míni
Rua Frederico de Albuquerque, 56 – Higienópolis
cep 21050-840 – Rio de Janeiro – RJ
Tel./fax: 21 2270-0186
www.pallaseditora.com.br
pallas@pallaseditora.com.br
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

APRESENTAÇÃO
Umbundo é uma das línguas faladas pelos
bantos de Angola.
Ombela, em umbundo, quer dizer “chuva”.
Ondjaki é um escritor angolano. Entre outras
muitas coisas, ele escreve livros para crianças.
Ondjaki sempre gostou muito da chuva, da
água e do mar.
Então ele começou a pensar: como será que a
chuva foi criada?
E resolveu escrever um conto com jeito de
lenda antiga, que explicasse a origem da chuva.
As lindas figuras ajudam a contar a história da
menina-deusa Ombela, que inventou um modo
de fazer chuvas diferentes quando aprendeu a
lidar com a alegria e a tristeza.
Acompanhe Ombela nesse caminho. Chegue
mais perto da natureza, aprenda sobre seus
mistérios e descubra o segredo das chuvas!
Dizem os mais-velhos
que a chuva nasceu
da lágrima de Ombela,
uma deusa que estava triste.
— Estou triste e vou chorar...
mas para que as minhas lágrimas não
matem os bichos nem as pessoas que vivem
na Terra, vou deixar que tenham muito sal e
que alimentem todos os mares.
O pai de Ombela, ao saber da sua tristeza,
veio falar com ela:

— Minha filha, a tristeza faz parte da vida.


— Eu sei, pai. Mas quando estou triste, dói-me o peito.

O pai de Ombela sorriu.


Depois apagou o sorriso do seu rosto e disse:

— Que sorte, minha filha, que só te dói o peito.


— E tu, pai, quando estás triste, o que te acontece?
— Fico mais pequenino, filha.
— Os deuses podem ficar mais pequenos?
— Podem — respondeu o pai de Ombela. — Os deuses,
com o passar do tempo, ficam cada vez mais pequenos.
Ombela limpou a sua primeira lágrima
e quase se esquecia de chorar.

— Não te esqueças de chorar — lembrou-lhe o pai.


Assim como a lua tem muitas faces, no mundo, por
vezes, faz Inverno e outras vezes faz Verão. Mes-
mo nós, os deuses, não podemos sempre
— Se é hora de sorrir, deves sorrir.
Se precisas de chorar, deves chorar.
Ombela começou a chorar.
Tinha muitas lágrimas e parecia muito triste.
Chorou durante algum tempo
e assim se encheram os oceanos dessa
água tão salgada.
— Penso que é hora de parar de chorar.
Não sei se choro porque ainda estou triste
ou porque gosto tanto de olhar o mar...
O pai de Ombela, ao saber da sua dúvida, veio falar com ela.

— Minha filha, quero que saibas mais uma


coisa: as lágrimas não nascem dos olhos ape-
nas quando estamos tristes. Existem também as
lágrimas de felicidade. Quero mostrar-te uma coisa.
O pai de Ombela pôs as suas mãos em concha e
mostrou-lhe as flores, as árvores, os animais e
tudo o que na Terra precisava de água doce.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

Com o seu dedo desenhou alguns rios.


Depois inventou os lagos e as lagoas.

— Estes riscos que vês na Terra, e estes lugares


que parecem buracos vazios, esperam agora
novas lágrimas tuas.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

— Parecem caminhos e lugares de água...


— Sim, são caminhos e lugares de água.
— Vamos chamar-lhes rios, lagos, lagoas — sorriu
Ombela. — Já não estou tão triste e ainda tenho
lágrimas comigo.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

— Agora vou fazer chover sobre a terra:


a lágrima da tristeza vai chamar-se “água salgada”.
A nova lágrima será a “água doce”.

O pai de Ombela sorriu e retirou-se.


© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

Dizem os mais-velhos que a chuva


é sinal de que Ombela está a chorar.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

Se essa chuva cai sobre o mar,


Ombela está triste.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

Se cai sobre a terra, sobre os rios,


sobre os lagos, Ombela está feliz.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

Dizem que Ombela teve muitas filhas...


E que todas sabem fazer chover.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

Ondjaki
Nasceu em Luanda, em 1977. Prosador e poeta, é membro da União dos Escritores
Angolanos. Está traduzido para francês, espanhol, italiano, alemão, inglês, sérvio,
sueco, polonês (www.kazukuta.com).
Venceu os prêmios Sagrada Esperança (Angola, 2004), António Paulouro (Portu-
gal, 2005), Grande Prêmio APE (Portugal, 2007), Grinzane Young Writer (Etiópia,
2008), FNLIJ (Brasil, 2010 & 2013), JABUTI (Brasil, 2010), Caxinde (Angola, 2011),
Bissaya Barreto (Portugal, 2012) e o prêmio José Saramago (Portugal, 2013).

Rachel Caiano
Nascida em 1977, artista plástica e ilustradora, com formação em artes de palco,
desenvolveu projetos nas áreas de edição de objetos de autor, pintura e ilustração.
Finalista do Prêmio SPA 2013 e do Prêmio Jovens Criadores 2007, alguns dos seus
livros constam da exposição “The White Ravens” 2008 e 2009, uma seleção inter-
nacional dos melhores livros. Ilustrou livros de diferentes gêneros e colabora em
diversas publicações periódicas.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.
© Pallas Míni. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.
Nesta estória, Ondjaki aborda
o mito que fala da “origem das chuvas”.
Fala-se da deusa OMBELA (“chuva”, em
umbundu). De como o seu pai lhe ensinou a
chorar. De como as suas lágrimas eram
salgadas ou doces.
Esta é a estória de OMBELA , a
que aprendeu a fazer chover usando as
suas lágrimas.
Pelo menos é assim que contam
os mais-velhos.

Você também pode gostar