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HENRIQUE
Apontamentos Teóricos de
Órgãos de Máquinas
Rosa Marat-Mendes
(Professora Coordenadora)
2024
Folhas de Apoio à unidade curricular Órgãos de Máquinas Introdução ao Projeto
Índice
1. Introdução ao Projeto ................................................................................................................... 3
1.1. Introdução ............................................................................................................................................... 3
1.2. Definição de Projeto ............................................................................................................................. 3
1.3. Fases do Projeto ..................................................................................................................................... 6
1.3.1. Descrição das principais fases ......................................................................................................................... 6
1.4. Fatores a considerar no projeto ....................................................................................................... 7
1.4.1. Resistência. Noção de coeficiente de segurança ...................................................................................... 7
1.4.2. Normas ...................................................................................................................................................................... 9
1.4.3. Fiabilidade............................................................................................................................................................. 11
1.4.4. Custo ........................................................................................................................................................................ 11
1.4.5. Prevenção .............................................................................................................................................................. 11
1.4.6. Fabrico .................................................................................................................................................................... 11
1.5. Método das tensões admissíveis e método dos estados limites ..........................................11
1. Introdução ao Projeto
1.1. Introdução
Um projeto surge quase sempre da obrigação em satisfazer uma necessidade. Nasce da necessidade
em “transformar” uma ideia num projeto que se destina a executar uma tarefa qualquer.
A partir dai, segue-se o estudo detalhado das suas partes: a forma como serão montadas, tamanho e
localização dos componentes, tais como: veios, engrenagens, parafusos, molas, rolamentos, etc... Este
processo passa por várias revisões onde melhores ideias substituem as iniciais até que se escolhe a que
melhor se adequa à necessidade.
Projetar um sistema mecânico é um tipo de problema diferente do que selecionar um componente. Muitas
vezes, as exigências do sistema tornam evidentes os requisitos funcionais de um componente. Entretanto,
projetar um sistema mecânico grande, compreendendo potencialmente milhares ou mesmo milhões de
elementos da máquina, é um problema muito mais aberto.
Para projetar sistemas mecânicos superiores, um engenheiro deve ter experiência em relação aos elementos
da máquinas. Por exemplo, um sistema mecânico não irá incorporar uma engrenagem de parafuso sem-fim
ou uma mola de Belleville se o projetista não tiver conhecimento de que estes dispositivos existem.
Para efeitos desta disciplina, o projeto é a transformação de conceitos e ideias em máquinas úteis. Uma
máquina é uma combinação de mecanismos e outros componentes que transformam, transmitem ou usam
energia, carga ou movimento para uma finalidade específica.
Uma máquina compreende vários elementos de máquinas diferentes devidamente concebidos e dispostos
para trabalhar juntos como um todo. As decisões fundamentais relativas à carga, cinemática e escolha de
materiais devem ser feitas durante o projeto de uma máquina. Outros fatores, como força, fiabilidade,
deformação, tribologia (fricção, desgaste e lubrificação), custo e requisitos de espaço também precisam ser
considerados. O objetivo é então produzir uma máquina que não só seja suficientemente robusta para
funcionar adequadamente por um tempo razoável, mas também seja economicamente viável.
A necessidade humana pode ser precisa ou pelo contrário, pode ser imprecisa e requerer maior esforço ao
projetista na especificação dos seus requisitos.
1) “O veio motor deste redutor está a dar problemas; houve 8 falhas nos últimos 6 meses. Temos de corrigir
esta situação.”
Deste modo, depreende-se que uma necessidade nunca tem uma resposta única nem uma solução correta.
O “bom” hoje, pode ser “mau” amanhã devido ao aperfeiçoamento e ao crescimento dos conhecimentos,
assim como da alteração da sociedade.
Um dos exemplos mais dramáticos dessa alteração, em termos de materiais aplicados na engenharia, é o
caso da aviação. Os primeiros aviões eram feitos de madeira de baixa densidade (ex: balsa), arame de aço
e seda (Figura 1.1(a)). No entanto à medida que os aviões ficavam maiores, a madeira tornava-se menos
prática, passou-se à utilização do alumínio, como por exemplo no DC3 (Figura 1.1(b)) proporcionando alta
rigidez à flexão e baixo peso. Devido à pressão por uma economia de combustível e menor emissões de
carbono, houve a necessidade da utilização de materiais ainda de menor peso. Desta forma, no final do século
XX passou-se a utilizar materiais compósitos, como por exemplo no Boeing 787 (Figura 1.1(c)), em que 80%
do volume é de plástico reforçado com fibra de carbono.
Figura 1.1 – (a) biplano Wright de 1903; (b) Douglas DC3 de 1935; (c) Boeing 787 Dreamliner de 2010.
Tal como se disse, não há uma solução correta, há uma solução satisfatória, adequada ao fim em vista e
formulada com o conhecimento atual. No entanto a solução terá de ser exequível, ou seja, deverá ter
possibilidade de execução quer em termos técnicos quer em termos económicos.
Um exemplo, de várias soluções possíveis e satisfatórias, são os saca-rolhas apresentados na Figura 1.2,
em que todos eles satisfazem o fim em vista.
Os projetos podem-se classificar quanto à área de conhecimento relativa à necessidade. No caso especifico
destas folhas, pretende-se que o tema seja o Projeto em Engenharia Mecânica. No entanto a Engenharia
Mecânica é sempre interdisciplinar, podendo englobar aspectos de várias disciplinas de Engenharia Mecânica
e aspetos de outras áreas de Engenharia, como sejam a Eletrónica, Química, etc... não esquecendo no
entanto que envolve sempre uma análise económica.
Os principais objectivos de um projeto em Engenharia Mecânica são os de criar e/ou recondicionar e/ou
melhorar e/ou adaptar um sistema. “A Engenharia oferece à sociedade opções adequadas e exequíveis que
constituem uma alternativa desejada ao curso natural dos acontecimentos” (Figura 1.3).
O processamento total de um projeto passa por várias fases, desde o reconhecimento de uma necessidade
até ao seu fabrico. Na Figura 1.4 está representado um exemplo de um diagrama de fluxo com as principais
fases a ter em conta num projeto. As ligações do diagrama de fluxo estabelecem uma sequência.
Necessidade
Especificações
Exequibilidade
Anteprojeto
Projeto de
Conjunto
Projeto Optimização
Detalhado
Avaliação
Decisão
Fabrico
Avaliação – A avaliação do projeto é a verificação final do seu êxito - São realizados ensaios e
protótipos. Esta fase é a grande geradora de alterações ao projeto.
Apresentação do projeto – A comunicação do projeto aos outros, por exemplo ao responsável Superior,
ao cliente ou ao investigador é um passo vital do projeto. Nesta fase não há regras fixas, mas há linhas de
orientação para a sua forma mais corrente que é a escrita, ou seja através de um Relatório de Projeto.
Na fase do desenho (que se deve iniciar antes do cálculo) deve-se proceder à comparação de
formas/dimensões e fica grande parte do projeto definido. Apenas se devem seguir cálculos de verificação,
em regra simples, de pormenores críticos. Um factor a considerar no projeto será portanto toda e qualquer
característica que influencie de forma essencial o projeto de um componente ou de todo o sistema. Alguns
dos fatores que se deverão ter em conta aquando do dimensionamento e cálculo de um projeto são os que
se apresentam de seguida.
• Variações nas propriedades do material (heterogeneidade de lote para lote, no mesmo lote e na
própria peça);
• Efeito de escala (a resistência de uma peça grande é menor do que a de uma peça mais pequena,
ex: provete);
• Situações de funcionamento com cargas acima da carga máxima admitida nos cálculos (sobrecargas
ou cargas concentradas, quando os cálculos foram efetuados pressupondo que as cargas eram
distribuídas);
• Lubrificação (peças que estejam em contacto com uma má lubrificação podem ter o seu período de
vida útil apreciavelmente reduzido devido a um desgaste exagerado);
• Segurança do utilizador/operador (as incertezas associadas aos diferentes fatores que condicionam
o projeto podem ter consequências graves, especialmente se uma falha do componente projetado
colocar vidas humanas em risco);
No caso geral, o projetista deve prevenir-se destas varáveis aplicando um fator de correção, normalmente
designado por Fator ou Coeficiente de Segurança ou do inglês Factor of Safety ou Design Factor, dado
pela sigla, 𝒄. 𝒔. ou 𝒏, pela equação ( 1.1 ):
Em que 𝑛 é um factor de correção da propriedade para lhe definir um valor admissível a não ser ultrapassado,
𝜎.(0 , de forma que desastres como os da Figura 1.5 não ocorram. No caso da fratura do navio Liberty (Figura
1.5(a)), em que mais de 200 navios fraturaram, chegou-se à conclusão de que, o efeito das concentrações
de tensões e das tensões residuais na soldadura, não tinham sido tomadas em conta. A partir daí “nasceu o
estudo da mecânica da fratura”. Já no caso da ponte Silver Bridge no Ohio (Figura 1.5(b)), chegou-se à
conclusão de que colapsou devido a falhas na manutenção e a carga excessiva (mais do que o seu projeto
inicial determinava).
(a) (b)
Figura 1.5 – (a) fratura frágil no navio Liberty (1943); (c) fratura da ponte Silver Bridge (1967).
Tomemos como exemplo um projeto de um componente em que a tensão admissível seja de 175 N/mm2 e o
material utilizado apresente uma tensão limite de elasticidade de 350 N/mm2. Nesse caso, o coeficiente de
segurança adotado seria igual a 2 em relação à tensão limite de elasticidade.
É fundamental que o projetista tenha plena consciência do significado do coeficiente de segurança adotado,
pois a utilização de valores inadequados pode resultar num sobre-dimensionamento do componente
projetado, o que acarreta um peso excessivo, alto custo, entre outros fatores, ou em um sub-
dimensionamento, o que aumenta o risco de falha durante o funcionamento do componente.
1.4.2. Normas
Em projetos simples e de pouca responsabilidade, o coeficiente de segurança pode ser atribuído com base
em indicações de certos livros da especialidade. Em projetos de Grande responsabilidade, só com
experimentação e cuidadosa análise estatística se pode definir um coeficiente de segurança. Em certos
projetos específicos, o coeficiente de segurança é indicado por normas e códigos de projeto respetivos.
Alguns exemplos são os seguintes (nota: algumas das normas listadas já foram objeto de atualização):
• Códigos BS 5500 (British Standard Specification for Unfired fusion Welded Pressure Vessels, BSI,
1988), ASME VIII Div.2 (Pressure Vessels. Alternative Rules, 1977) e AD-Merkblatt (Manufacture
and Testing of Pressure Vessels, S1, 1973) para o projeto, construção e ensaio de reservatórios sob
pressão.
• Código BS 5400 (Steel, Concrete and Composite Bridges Code, 1980) para o projeto de pontes.
Para projeto de construção naval e estruturas e equipamentos marítimos podem referir-se, entre muitas
outras, as seguintes:
• Loyd’s Register - The Rules and Regulations for the Classification of Ships. July 2020, includes the
following Parts:
o Part 1 Regulations
o Part 2 Rules for the Manufacture, Testing and Certification of Materials (formerly known as
Part 2)
o Part 3 Ship Structures (General)
o Part 4 Ship Structures (Ship Types)
o Part 5 Main and Auxiliary Machinery
o Part 6 Control, Electrical, Refrigeration and Fire
o Part 7 Other Ship Types and Systems
o Part 8 Rules for Ice and Cold Operations
• Det Nork Veritas - DNV GL rules for classification: Ships (RU-SHIP), Edition 2020-07
(https://www.dnv.com/news/rules-for-classification-of-ships-july-2021-edition-203529)
1.4.3. Fiabilidade
1.4.4. Custo
• aplicação de gráficos de “Ponto de equilíbrio”. (Indicam a solução mais rentável para o fim em vista).
1.4.5. Prevenção
O fabricante de um produto é responsável por danos materiais e humanos devido a falha intrínseca ou à
sua operação se não foram tomadas as medidas preventivas. Para tal deverá ter em conta com os seguintes
pontos entre outros:
• colocar redes/proteções;
1.4.6. Fabrico
Na primeira abordagem, a tensão máxima, 𝜎0.4 , que atua na estrutura ou componente é comparada com a
tensão admissível, 𝜎.(0 . A tensão admissível é uma função das propriedades mecânicas do material em
questão, como a tensão limite de elasticidade, 𝜎" , ou a tensão de ruptura, 𝜎5 , afetadas por um
coeficiente de segurança apropriado, 𝑛. Equação (1.2):
𝜎" 𝑜𝑢 𝜎5 ( 1.2 )
𝜎0.4 ≤ 𝜎.(0 , sendo 𝜎.(0 =
𝑛
Na segunda abordagem, as cargas aplicadas, majoradas por fatores apropriados, são comparadas com as
cargas características do estado limite da estrutura ou componente, através da equação (1.3):
7
( 1.3 )
4 𝑌6 ∙ 𝑄60 ≤ 𝜙 ∙ 𝑅#
689
Onde 𝑌6 são os factores de majoração das cargas aplicadas, 𝑄60 são as cargas médias aplicadas, 𝜙 é o
coeficiente de segurança ou de incerteza na definição das características mecânicas do material e 𝑅# é a
Resistência nominal, calculada de acordo com os códigos, baseada nas características mecânicas do
material.
Referências Bibliográficas:
[1] Juvinal, R.C. Marshek, K.M. Machine Component Design. 5th Edition, John Wiley & Sons, Inc. 2012.
[3] Moura Branco, C. Martins Ferreira, J. Domingos da Costa, J. Silva Ribeiro, A. Projecto de Órgãos de
Máquinas. Fundação Calouste Gulbenkian. 2005.
[4] Hamrock, B.J. Jacobson, B.O. Schmid, R.S. Fundamentals of Machine Elements. 3rd edition. CRC Press.
2014.
[5] Budynas, R.G., Nisbett, J.K. Shigley’s Mechanical Engineering Design. 9th Edition, McGraw-Hill. 2011.
[6] Pina da Silva F., Matos Almas E., Carinhas H. Folhas de Órgãos de Máquinas. Secção de Folhas da
AEIST, Instituto Superior Técnico.
[7] Franco Correia, V. Órgãos de Máquinas, Textos de Apoio, Volume 1. ENIDH. 2021.
[9] Silva, A., Ribeiro, C.T., Dias, J., Sousa, L. Desenho Técnico Moderno, 4ª edição, Lidel, 2004.