Você está na página 1de 6

Émile Durkheim

David Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) foi
um sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês.
Considerado o pai da sociologia, formalmente tornou-a uma disciplina acadêmica. Durkheim
é citado como um dos principais arquitetos da ciência social moderna, junto a Karl Marx e
Max Weber.

Muito de seu trabalho estava preocupado com a forma como as sociedades poderiam
manter sua integridade e coerência na modernidade, uma era em que tradicionais laços
sociais e religiosos não são mais assumidos e em que novas instituições sociais têm
surgido. Seu primeiro trabalho sociológico importante foi Da Divisão do Trabalho Social
(1893). Em 1895, publicou As Regras do Método Sociológico e criou o primeiro
departamento europeu de sociologia, tornando-se o primeiro professor de sociologia da
França.[3] Em 1898, fundou a revista L'Année Sociologique. Sua monografia seminal, O
Suicídio (1897), um estudo das taxas de suicídio em populações católicas e protestantes, foi
uma investigação social moderna pioneira e serviu para distinguir a ciência social em
relação à psicologia e à filosofia política. As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912)
apresentou uma teoria da religião, comparando a vida social e cultural das sociedades
primitivas e a das sociedades modernas.
Da divisão do trabalho social (em francês, De la division du travail social) é um livro escrito
pelo sociólogo Émile Durkheim publicado originalmente em 1893. Ele analisa as funções
sociais do trabalho e procura mostrar como, na modernidade, tal divisão é a principal fonte
de coesão social.

Biografia

Infância e educação
Émile Durkheim nasceu em Épinal, em Lorena, vindo de uma longa linhagem de devotos
judeus francesesː seu pai, avô e bisavô tinham sido rabinos. Começou sua educação em
uma escola rabínica, mas, em uma idade precoce, decidiu não seguir os passos de sua
família e mudou de escola. Durkheim levou uma vida completamente secular. Muito de seu
trabalho foi dedicado a demonstrar que os fenômenos religiosos resultam mais do social do
que de fatores divinos. Enquanto optou por não seguir a tradição da família, não cortou, no
entanto, os laços com sua família ou com a comunidade judaica. Muitos de seus
colaboradores e alunos mais proeminentes eram judeus, e alguns tinham relações de
sangue com Durkheim. Marcel Mauss, um antropólogo notável da era pré-guerra, era seu
sobrinho. Uma de suas sobrinhas foi Claudette (nascida Raphael) Bloch, uma bióloga
marinha e mãe de Maurice Bloch, que se tornou um eminente antropólogo.

Estudante precoce, Durkheim entrou na École Normale Supérieure (ENS) em 1879, em sua
terceira tentativa. A classe em que entrou naquele ano foi uma das mais brilhantes do
século XIX, e muitos de seus colegas de classe, tais como Jean Jaurès e Henri Bergson,
viriam a se tornar grandes figuras da história intelectual da França. Na ENS, Durkheim
estudou sob a direção de Numa Denis Fustel de Coulanges, um classicista com uma visão
de cientista social, e escreveu sua dissertação em latim sobre Montesquieu. Ao mesmo
tempo, leu Auguste Comte e Herbert Spencer. Assim, Durkheim se interessou por uma
abordagem científica à sociedade muito cedo em sua carreira. Isto significou o primeiro de
muitos conflitos com o sistema acadêmico francês, que não tinha currículo de ciências
sociais na época. Durkheim achou os estudos humanísticos desinteressantes, voltando sua
atenção da psicologia e filosofia à ética e, eventualmente, à sociologia. Obteve seu
agrégation em filosofia em 1882, apesar de terminar em penúltimo em sua turma, devido
uma doença grave no ano anterior.

Não havia nenhuma maneira de um homem com os seus pontos de vista receber uma
nomeação acadêmica importante em Paris. De 1882 a 1887, ensinou filosofia em várias
escolas provinciais. Em 1885, decidiu sair para a Alemanha, onde, por dois anos, estudou
sociologia em Marburgo, Berlim e Leipzig. Como Durkheim indicou em vários ensaios, foi
em Leipzig que aprendeu a apreciar o valor do empirismo e sua linguagem de coisas
concretas e complexas, em nítido contraste com as ideias mais abstratas, claras e simples
do método cartesiano. Em 1886, como parte de sua tese de doutorado, havia terminado o
rascunho de seu A Divisão das Tarefas na Sociedade, e estava trabalhando no sentido de
estabelecer a nova ciência da sociologia.
Carreira acadêmica
Seu período na Alemanha resultou na publicação de numerosos artigos sobre ciência social
alemã e filosofia; Durkheim ficou particularmente impressionado com o trabalho de Wilhelm
Wundt. Seus artigos ganharam reconhecimento na França, e recebeu uma nomeação
docente na Universidade de Bordeaux em 1887, onde estava a ensinar o primeiro curso de
ciências sociais da universidade. Seu título oficial era Chargé d'un Cours de Science Sociale
et de Pédagogie e, assim, ele lecionou pedagogia e sociologia (esta última nunca tinha sido
ensinada na França antes). A nomeação do cientista social ao corpo docente,
principalmente humanista, foi um importante sinal da mudança dos tempos, e também da
crescente importância e reconhecimento das ciências sociais. A partir desta posição,
Durkheim ajudou a reformar o sistema escolar francês e introduziu o estudo da ciência
social em seu currículo. No entanto, sua crença controversa de que a religião e a
moralidade podiam ser explicadas em termos puramente de interação social lhe renderam
muitas críticas. Também em 1887, Durkheim se casou com Louise Dreyfus. Eles tiveram
dois filhos, Marie e André.

A década de 1890 foi um período de notável produção criativa de Durkheim. Em 1892,


publicou Da Divisão do Trabalho Social, sua tese de doutorado e declaração fundamental
da natureza da sociedade humana e seu desenvolvimento. Seu interesse em fenômenos
sociais foi estimulado pela política. A derrota da França na guerra franco-prussiana levou à
queda do regime de Napoleão III, que foi, então, substituído pela Terceira República. Isto,
por sua vez, resultou em uma reação contra a nova regra secular e republicana, já que
muitas pessoas consideraram uma abordagem vigorosamente nacionalista necessária para
rejuvenescer o poder desvanecido da França. Durkheim, um judeu e acérrimo defensor da
Terceira República, com uma simpatia em direção ao socialismo, foi, assim, uma minoria
política que galvanizou a situação política. O caso Dreyfus de 1894 só reforçou sua postura
ativista.

Em 1902, Durkheim finalmente alcançou seu objetivo de assumir uma condição de


destaque em Paris quando passou a lecionar a cadeira de educação na Sorbonne.
Durkheim tinha apontado para a posição anteriormente, mas o corpo docente parisiense
demorou mais para aceitar o que alguns chamaram de "imperialismo sociológico" e admitir
as ciências sociais em seu currículo. Ele se tornou um professor catedrático
(especificamente, Professor de Ciências da Educação) lá em 1906, e em 1913 ele foi
nomeado para a cátedra em "Educação e Sociologia". Como as universidades francesas
são, tecnicamente, instituições de formação de professores do ensino médio, essa posição
deu a Durkheim uma influência considerável - suas palestras eram as únicas obrigatórias
para todo o corpo discente. Durkheim teve muita influência sobre a nova geração de
professores. Por volta dessa época, ele também serviu como assessor do Ministério da
Educação. Em 1912, ele publicou sua última grande obra, As Formas Elementares da Vida
Religiosa.
Morte
A eclosão da Primeira Guerra Mundial teve um efeito trágico na vida de Durkheim. Seu
esquerdismo foi sempre patriótico, ao invés de internacionalista ele procurou uma forma
secular e racional de estilo de vida francês. Mas a chegada da guerra e da inevitável
propaganda nacionalista que se seguiu tornou difícil sustentar essa posição já matizada.
Enquanto Durkheim trabalhou ativamente para apoiar seu país na guerra, sua relutância em
ceder ao fervor nacionalista simplista (combinado com a sua origem judaica) fez dele um
alvo natural da agora ascendente direita francesa. Mais grave ainda, as gerações de
estudantes que Durkheim tinha treinado estavam agora a servir no exército e muitos deles
morreram nas trincheiras. O próprio filho de Durkheim, André, morreu na guerra em
dezembro de 1915, uma perda da qual Durkheim nunca se recuperou. Emocionalmente
devastado, Durkheim entrou em colapso após um acidente vascular cerebral em 1917. Ele
foi enterrado no cemitério de Montparnasse, em Paris.

Metodologia
Em As Regras do Método Sociológico (1895), Durkheim expressou sua vontade de
estabelecer um método que garantisse o caráter verdadeiramente científico da sociologia.
Uma das questões levantadas diz respeito à objetividade do sociólogo: como estudar um
objeto que, desde o início, condiciona e se relaciona com o observador? De acordo com
Durkheim, a observação deve ser tão imparcial e impessoal quanto possível, embora uma
"observação perfeitamente objetiva" neste sentido nunca possa ser alcançada. Um fato
social deve sempre ser estudado de acordo com sua relação com outros fatos sociais,
nunca de acordo com o indivíduo que o estuda. A sociologia deve, portanto, privilegiar a
comparação em vez do estudo de fatos singulares independentes.

Durkheim buscou criar uma das primeiras abordagens científicas rigorosas dos fenômenos
sociais. Junto com Herbert Spencer, ele foi uma das primeiras pessoas a explicar a
existência e a qualidade de diferentes partes de uma sociedade por referência à função que
desempenhavam na manutenção do cotidiano (ou seja, como fazem a sociedade
"funcionar"). Ele também concordou com a analogia orgânica de Spencer, comparando a
sociedade a um organismo vivo. Portanto, seu trabalho às vezes é visto como um precursor
do funcionalismo. Durkheim também insistiu que a sociedade era mais do que a soma de
suas partes.

Pensamento resumido

Politicamente, Durkheim permaneceu bastante discreto. Ele conhecia as ideias de Karl


Marxː no entanto, rejeitou a sua obra, considerando-a não científica e extremamente
dogmática; e considerou o marxismo, em sua essência, muito reacionário, radical,
presumivelmente violento e conflituoso.

Durkheim acreditava que a ciência social poderia, em última análise, fornecer uma base de
valores, e que uma ética científica será possível um dia, ele, no entanto, argumenta que,
naquele momento, a ciência não estava suficientemente avançada para fazê-la, e que a
ciência ainda não podia discernir o conteúdo ou as particularidades dessa nova moralidade.

Durkheim aborda que embora as doutrinas socialistas possam variar na forma como
buscam atingir seus objetivos, todas compartilham a crença de que a ordem existente deve
ser destruída para criar uma nova e embora a violência não seja necessária para alcançar o
socialismo, é vista como uma parte necessária do processo, e esse espírito radical e
revolucionário é fruto da crença de que há uma completa incompatibilidade entre o que é e
o que deveria ser.

Influência e Legado

Durkheim teve um impacto importante no desenvolvimento da antropologia e da sociologia


como disciplinas. O estabelecimento da sociologia como uma disciplina acadêmica
independente e reconhecida, em particular, está entre os maiores e mais duradouros
legados de Durkheim. Dentro da sociologia, seu trabalho influenciou significativamente o
estruturalismo, ou funcionalismo estrutural. Acadêmicos inspirados por Durkheim incluem
Marcel Mauss, Maurice Halbwachs, Célestin Bouglé, Gustave Belot, Alfred Radcliffe-Brown,
Talcott Parsons, Robert K. Merton, Jean Piaget, Claude Lévi-Strauss, Ferdinand de
Saussure, Michel Foucault, Clifford Geertz, Peter Berger, o reformador social Patrick Hunout
e outros.

Mais recentemente, Durkheim influenciou sociólogos como Steven Lukes, Robert N. Bellah
e Pierre Bourdieu. Sua descrição de consciência coletiva também influenciou
profundamente o nacionalismo turco de Ziya Gökalp, o pai fundador da Sociologia turca.

Fora da sociologia, Durkheim influenciou filósofos, incluindo Henri Bergson e Emmanuel


Levinas, e suas ideias podem ser identificadas, inexplicitamente, no trabalho de certos
teóricos do estruturalista da década de 1960, como Alain Badiou, Louis Althusser e Michel
Foucault.

Considerações Finais
Ao longo deste documento, exploramos a vida e as contribuições intelectuais de Émile
Durkheim, um dos principais teóricos clássicos da sociologia. Durkheim deixou um legado
duradouro na disciplina, suas ideias e conceitos ainda são amplamente estudados e
discutidos até os dias de hoje.
Feito por: Adrian Guilherme
Fonte: Wikipedia

Você também pode gostar