Você está na página 1de 33

STEPHANIE KAROLINE ÁVILA CUNHA

EFEITOS DA EXPOSIÇÃO PRÉ NATAL A DROGAS ILÍCITAS NO


DESENVOLVIMENTO MOTOR DE FILHOS DE MÃES VICIADAS

Trabalho de conclusão de curso


apresentada à Universidade Federal de
São Paulo - Escola Paulista de Medicina,
para obtenção do Título de especialista em
Neurologia Clínica na Reabilitação

São Paulo
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
UNIFESP

EFEITOS DA EXPOSIÇÃO PRÉ NATAL A DROGAS ILÍCITAS NO


DESENVOLVIMENTO MOTOR DE FILHOS DE MÃES VICIADAS

Orientador:
Prof. Dr. Thais Massetti

São Paulo
2022
Cunha Ávila Karoline, Stephanie

EFEITOS DA EXPOSIÇÃO PRÉ NATAL A DROGAS ILÍCITAS NO


DESENVOLVIMENTO MOTOR DE LACTENTES. Stephanie Karoline Ávila
Cunha. - São Paulo, 2022.

xiii, 74f.

Monografia de Conclusão de Curso (Especialista) – Universidade Federal de São


Paulo. Departamento de Neurologia/Neurocirurgia, Disciplina de Neurologia Clínica,
Setor de Investigações nas Doenças Neuromusculares.

Título em inglês: EFFECTS OF PRENATAL EXPOSURE TO ILLICIT DRUGS ON


MOTOR DEVELOPMENT OF INFANTS

1. Drogas ilícitas, 2. Desenvolvimento motor, 3. Uso de drogas por gestante,


4.Transporte placentário, 5. Desenvolvimento embrionário
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
DEPARTAMENTO DE NEUROLOGIA E NEUROCIRURGIA
DISCIPLINA DE NEUROLOGIA CLÍNICA

Chefe do Departamento:

Profº. Dr. Denis Bernardi Bichuetti

Chefe de Disciplina:

Profº. Dr. Gilmar Fernandes do Prado

Coordenador do Programa de Pós-Graduação


de Neurologia / Neurociências:
Profº. Dr. Gilmar Fernandes do Prado
STEPHANIE KAROLINE ÁVILA CUNHA

EFEITOS DA EXPOSIÇÃO PRÉ NATAL A DROGAS ILÍCITAS NO


DESENVOLVIMENTO MOTOR DE FILHOS DE MÃES VICIADAS

Presidente da Banca:
Profº. Dr.

Banca Examinadora

Prof°. Dr.
Prof°. Dr.
Profº. Dr.

Aprovada em: ......./......./2022


DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho à Deus, para que toda honra e toda glória seja dada ao
Seu Santo Nome.
Dedico também ao meu marido André Luiz Cunha, pois sem a sua ajuda,
certamente eu não teria conseguido realizá-lo.
Outra dedicatória é a comunidade científica, especialmente aos profissionais
que atuam no cuidado materno-infantil, na expectativa de que possa ser um
instrumento para conscientização e promoção de saúde.
E por fim, dedico esse trabalho às gestantes e mães para que possam ter a
informação necessária sobre o assunto, a fim de que possam tomar decisões
assertivas para si e para a saúde de seus filhos.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que com todo seu amor me fez perseverar
frente às adversidades e me deu vitória em cada provação que passei até aqui.
Ao meu marido André Luiz Cunha que esteve presente nos momentos em que
eu mais precisei, tanto para realização desse trabalho quanto em tudo na minha
vida, me apoiando, me ajudando e me encorajando a seguir em frente e
conquistar todos os meus objetivos, por mais desafiadores que sejam.
E por fim, agradeço meus pacientes e familiares, por depositar sua confiança
no meu trabalho, fazendo como que eu exija de mim mesma, a busca por
qualificação profissional e conhecimento, que contribuam efetivamente para a
reabilitação de cada um deles.
SUMÁRIO

Dedicatória......................................................................................................... vi
Agradecimentos................................................................................................. vii
Lista de Abreviaturas ......................................................................................... ix
Resumo.............................................................................................................. x
1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 1
Alterações cardiovasculares......................................................................... 2
Alterações respiratórias................................................................................ 2
Alterações gastrointestinais.......................................................................... 3
Alterações hematológicas............................................................................ 3
Alterações metabólicas................................................................................ 3
Alterações hepáticas.................................................................................... 4
Interação do uso de substâncias ilícitas no corpo materno.......................... 4
Desenvolvimento Embrionário...................................................................... 5
Interação do uso de drogas ilícitas na saúde do feto................................... 6
2 OBJETIVOS....................................................................................................... 7
Objetivo geral................................................................................................ 7
Objetivos específicos.................................................................................... 7
3 MÉTODO............................................................................................................ 8
4 RESULTADOS................................................................................................... 9
5 DISCUSSÃO...................................................................................................... 16
6 CONCLUSÕES.................................................................................................. 19
8 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 20
Abstract...............................................................................................SEM PG.......
LISTA DE ABREVIATURAS

EUA – Estados Unidos da América


VRE - Volume de Reserva Expiratório
VR - Volume Residual
CRF - Capacidade Residual Funcional
SNC – Sistema Nervoso Central
RM – Ressonância Magnética
NNNS - NICU Network Neurobehavioral Scale
AIMS – Alberta Infant Motor Scale
TIMP - Test of Infant Motor Performance
FA – Anisotropia Fracionada
RESUMO

O uso de drogas ilícitas é um hábito de vida prejudicial à saúde, sendo


que seu uso pela população feminina tem crescido ao longo dos anos. Nas
mulheres grávidas o uso de drogas tem maior impacto devido à alterações
fisiológicas características da gestação, além disso, causa impacto também na
saúde do feto devido transporte placentário das substâncias. O objetivo desse
estudo é entender se existem e quais são as consequências do uso de drogas
ilícitas durante a gestação para o desenvolvimento motor do bebê. Esse estudo
trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura, onde foram utilizados artigos
em português, inglês, espanhol e francês para coleta de dados, selecionados
nas plataformas de dados Scielo, Pubmed, Capes, Bireme, Ebsco, Medline,
Lilacs, publicados de 2001 a 2021, assim como livros acadêmicos. Conclui-se
que o uso de drogas ilícitas durante a gestação pode causar alterações
anatômicas e funcionais que causam prejuízo no desenvolvimento motor do
bebê.
1 INTRODUÇÃO

O consumo de drogas ilícitas por mulheres grávidas tem se tornado um


problema social mundial crescente nas últimas décadas.
O aumento da incidência de gestantes que usam e são dependentes de
drogas deve-se a vulnerabilidade à agentes químicos devido ao diferente estado
metabólico, o aumento da oferta, a disseminação do acesso e ao contexto social
propício ao uso.¹
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA realizou uma
pesquisa patrocinada pela Substance Abuse and Mental Health Services
Administration onde observou que nos anos de 2012 a 2013, cerca de 5,4% das
gestantes usavam drogas ilícitas, sendo destas, 9% no primeiro trimestre, 4,8%
no segundo trimestre e 2,4% no terceiro trimestre de gestação. ² Outro estudo de
1992 analisou a urina de mulheres grávidas do estado da Califórnia e identificou
que 5% das mulheres usavam substâncias ilícitas durante o período
gestacional.²
No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em parceria
com a Fundação Oswaldo Cruz em 2014, entrevistou 32.359 usuários de crack
que frequentavam a “Cracolândia”, destes, 20% eram mulheres e 10% estavam
grávidas.³
A gravidez humana é o período de formação de um bebê, abrangindo o
período desde a fecundação até o nascimento, o qual dura em média 40
semanas (280 dias). A fecundação por sua vez ocorre no momento em que um
espermatozóide (gameta masculino) se une a um ovócito (gameta feminino)
formando um zigoto, o qual será implantado no útero feminino.8
A gestação causa diversas modificações no organismo materno para que
o corpo feminino se adeque as necessidades orgânicas da mãe e do feto. As
primeiras alterações são hormonais, seguidas do crescimento uterino. Há
também alterações cardiovasculares, respiratórias, gastrointestinais,
hematológicas, metabólicas, entre outras.4
Alterações cardiovasculares

Dentre as alterações cardiovasculares podemos citar o aumento do


tamanho do coração devido a hipertrofia do músculo cardíaco e aumento das
camaras.4
Acontece também o aumento da frequência cardíaca de forma gradual,
sendo que por volta da 28ª e 36ª semanas de gestação, ela atinge o pico
4
máximo e depois diminui, porém não atinge os valores basais anteriores.
O débito cardíaco também sofre alteração, sendo observado um aumento
a partir do segundo mês e entre a 28ª e 36ª semana atinge o máximo de
4
elevação, entre 30 - 40% do basal, até que se estabiliza até o parto.
A resistência periférica sofre uma diminuição de até 30% entre a 8ª e 12ª
semana. Isso ocorre devido fatores hormonais como a ação das prostaciclinas,
que resulta em um aumento do fluxo sanguíneo renal, uterino e das
extremidades.4
A pressão arterial sofre oscilações durante a gestação, porém retorna a
valores basais pré gestacionais.4

Alterações respiratórias

A caixa torácica sofre um aumento de 5-7 cm de sua circunferência total,


resultado da elevação do diafragma em função do aumento do útero, que
diminui o diâmetro vertical, porém é contrabalanceado pelo aumento do diâmetro
ântero-posterior.4
Após o 5º mês de gestação observa-se uma redução do volume de
reserva expiratório (VRE), volume residual (VR) e da capacidade residual
funcional (CRF). No parto observa-se que a VRE está 100-150 ml menor e o VR
está reduzido em torno de 200 ml, decorrente disso há uma redução da CRF em
20% em comparação com mulheres não gestantes.4
Alterações gastrointestinais

O refluxo gastroesofágico é comum, devido a função do esfíncter


esofágico estar prejudicada pelo deslocamento do estômago no sentido cefálico,
ocasionado pelo aumento do volume uterino.4
Quadros de pirose e esofagite também podem ocorrer devido ao aumento
do volume de suco gástrico e a diminuição da função do cárdia.4
Além disso a hérnia hiatal é uma patologia que também pode estar
presente durante a gestação, devido ao esvaziamento gástrico lentificado pelo
deslocamento do piloro, em função da ação da progesterona e do aumento
uterino.4

Alterações hematológicas

É comum a gestante desenvolver uma condição chamada de anemia


fisiológica da gravidez ou pseudo-anemia da gravidez. Isso ocorre devido a
diminuição dos eritrócitos e da hemoglobina que é causada pelo aumento do
volume plasmático em relação as hemácias, levando a uma hemodiluição
desses componentes sanguíneos.4
Ocorre também um aumento dos fatores de coagulação VII, VIII, X e do
fibrinogênio, levando a maior adesão das plaquetas e consequente estado de
hipercoagulação.4

Alterações metabólicas

No período da gestação ocorrem alterações hormonais, como o aumento


da concentração de estrogênio, progesterona, cortisol, gonadotrofina coriônica e
hormônio lactogênio placentário; e a diminuição da concentração de
adiponectina. Esse quadro hormonal leva a resistência insulínica e
consequentemente, a desenvolver hiperinsulinemia progressiva. 5
Devido essas alterações hormonais, também ocorre o fenômeno de
lipólise (processo de degradação de lipídios), que tem o intuito fisiológico de
assegurar os nutrientes de forma apropriada para o feto. Porém em função da
lipólise, são liberados ácidos graxos livres pelo tecido adiposo, contribuindo para
a resistência insulínica. Além disso, se associados ao aumento dos níveis de
5
triglicérides pode levar ao depósito de lipídios no fígado e coração.
Fisiologicamente, a placenta e o tecido adiposo materno secretam
adipocinas, como a leptina e a adiponectina, que são proteínas que influenciam
a produção de insulina, o uso de glicose e a síntese de glicogênio, atuando no
controle da ingestão alimentar e no aumento do gasto energético.5

Alterações hepáticas

Durante a gestação e no puerpério, a atividade da colinesterase sérica


encontra-se reduzida em aproximadamente 24% e 33%, respectivamente.
Acontece também uma elevação sérica dos níveis de transaminases e
colesterol. Além disso, ocorre uma redução dos níveis de proteínas totais e da
relação albumina/ globulina, enquanto que o fluxo sanguíneo e o nível
plasmático das bilirrubinas não sofrem nenhuma alteração.4

Interação do uso de substâncias ilícitas no corpo materno

Devido a diminuição fisiológica da colinesterase no organismo materno, o


tempo de metabolização de drogas ilícitas é prolongado, aumentando a
susceptibilidade da gestante e do feto aos efeitos de tais substâncias.6
O aumento considerável do uso de substâncias ilícitas pela população
obstétrica repercute em complicações maternas e também perinatais e
neonatais.³
As drogas estimulantes do SNC atuam inibindo a recaptação dos
neurotransmissores adrenalina e noradrenalina na fenda pré sináptica,
provocando ativação adrenérgica e, consequentemente, levando a hipertensão,
taquicardia, hipertermia, vasoconstrição.7
Também inibe a recaptação do neurotransmissor dopamina em
decorrência da ligação com o carreador, levando inicialmente ao acúmulo de
dopamina na fenda sináptica e ativando o sistema dopaminérgico, o que causa
excitação das vias mesolímbicas e mesocorticais e a um estado de euforia. Em
contrapartida, com o uso crônico do entorpecente, há uma redução de dopamina
nas terminações sinápticas, levando a um estado de disforia e dependência da
droga.7
Outro efeito é o bloqueio da serotonina e do triptofano (precursor da
serotonina), impedindo a homeostase e levando a alterações do sono.7
Além disso, possui uma atuação no sistema nervoso periférico, causando
um bloqueio no aumento da permeabilidade ao sódio, e consequentemente, a
propagação dos impulsos nervosos.7

Desenvolvimento Embrionário

A concepção se inicia com a fecundação, fase onde acontece uma


sucessão de eventos moleculares a partir da união de um espermatozóide com
um ovócito, formando um zigoto.8
O zigoto passa por um processo de divisão celular chamado clivagem,
onde através das sucessivas divisões por mitose, é formado o blastômero. Os
blastômeros se agrupam e formam a mórula.8
Após quatro dias da fecundação, a mórula alcança o útero, formando o
blastocisto. O fluido uterino chega ao interior da mórula formando a cavidade
blastocística. Com o aumento do volume do fluido, os blastômeros são
separados em trofoblastos (camada externa que formará a parte embrionária da
placenta) e embrioblasto (blastômeros que darão origem ao embrião).8
Com a progressão da implantação do blastocisto, o embrioblasto dá
origem a uma placa bilaminar de células achatadas chamada disco embrionário,
composto por duas camadas, epiblasto e hipoblasto.8
O disco embrionário bilaminar passa pelo processo de gastrulação, onde
é convertido em disco embrionário trilaminar, dando origem as camadas
germinativas (ectoderma, mesoderma e endoderma), que por sua vez dão
origem aos tecidos e órgãos. Esse processo é o início da morfogênese
(desenvolvimento da estrutura e forma dos órgãos)8
A ectoderme dá origem ao sistema nervoso, retina, tecido nervoso e
epitelial, como pelos, unhas, glândulas sebáceas e sudoríparas. Já a
mesoderme dá origem ao tecido conjuntivo, epitelial e muscular como a derme, o
sistema muscular, sistema esquelético, sistema cardiovascular, células
sanguíneas, medula óssea e sistema urogenital. E a endoderme dá origem ao
tecido epitelial do sistema respiratório e trato gastrointestinal, como glândulas
salivares, fígado, pâncreas e revestimento da bexiga. Esse processo é
conhecido como organogênese.8

Interação do uso de drogas ilícitas na saúde do feto

Drogas como álcool, cocaína, sedativos e hipnóticos possuem baixo peso


molecular e são lipofílicas, o que permite o transporte placentário com facilidade,
principalmente por vias intravenosas, uma vez que não passam pelo sistema
hepático da gestante e vão diretamente para a circulação sanguínea fetal,
posteriormente afetando o SNC do feto.7
As drogas estimulantes tem efeito vasoconstritor, resultando em declínio
do suprimento sanguíneo útero-placental e vasoconstrição da circulação fetal,
afetando o desenvolvimento do feto principalmente durante a organogênese.9
No terceiro trimestre gestacional, momento em que os vasos sanguíneos
fetais estão mais capacitados para contraírem, podem surgir efeitos
teratogênicos de involução de estruturas, como anormalidades urogenitais,
deformidades distais, alterações cardíacas, e malformações do SNC, causados
principalmente por isquemia e anóxia.7
A ação dessas drogas alteram a atividade dos neurotransmissores e
podem interferir no crescimento cerebral e na arquitetura cortical, modificando a
diferenciação neuronal e a densidade do córtex.9
Bebês expostos a drogas estimulantes podem apresentar sucção
excessiva, instabilidade autonômica, choro frequente, tremores, irritabilidade,
anormalidade do tônus muscular, alteração na postura, alterações
comportamentais.9
2 OBJETIVOS

Objetivo geral:

Descrever os efeitos do uso de drogas ilícitas durante o período gestacional no


desenvolvimento motor de filhos de mães viciadas, utilizando-se de uma revisão
da literatura.

Objetivos específicos:

• Investigar se há dados na literatura sobre os efeitos do uso isolado de drogas


ilícitas ou associado a drogas lícitas no desenvolvimento motor de bebês,
crianças e adolescentes expostos durante o período pré-natal.

• Analisar dados da literatura sobre o padrão motor de filhos de mães viciadas


que foram expostos a drogas ilícitas isoladamente ou associada a drogas lícitas
durante o período gestacional.

• Descrever as alterações anatômicas identificadas em filhos de usuárias de


drogas ilícitas e drogas lícitas associadas, decorrentes de seu uso durante o
período gestacional e sua influência no desempenho motor
3 MÉTODO

Este estudo constitui-se de uma revisão da literatura, no qual foi realizada


uma consulta a artigos científicos selecionados através de busca no banco de
dados Scielo, Pubmed, Capes, Bireme, Ebsco, Medline, Lilacs, além de livros
acadêmicos.
A busca nos bancos de dados foi realizada utilizando terminologias em
português, inglês e espanhol. Os descritores utilizados foram: “drogas ilícitas”,
“gravidez”, “gestação”, “feto”, “bebês”, “lactentes”, “efeitos do uso de drogas”,
“maconha”, “cocaína”, “crack”, “ecstasy”, “metanfetamina”, “bebês do crack”,
“drugs” “ilicits drugs”, “pregnant”, “babies”, “fetus”, “crack babies”,
“methamphetamine”.
Foram considerados como critérios de inclusão para o estudo, artigos
publicados entre 2001 a 2021 que abordem o tema consequências, prevalência
e alterações estruturais e motoras fetais oriundas do uso de drogas ilícitas
isoladamente ou associado a drogas lícitas durante a gestação, onde
obrigatoriamente inclua o tema exposição a drogas ilícitas no período pré-natal,
podendo ter assuntos relacionados diretamente ou indiretamente com o
desenvolvimento motor, que contribuam efetivamente para o objetivo do estudo.
Foram excluídos estudos publicados antes de 2001, que abordem
conteúdo de uso de drogas lícitas e exposição a drogas ilícitas no período pós
natal.
Inicialmente foram selecionados 12 artigos para esse estudo, sendo que
destes, 8 artigos foram incluídos segundo os critérios de inclusão e 4 artigos
foram excluídos baseados nos critérios de exclusão.
4 RESULTADOS

Chang et al.10 realizaram um estudo com 13 crianças de 3 a 16 anos, com


histórico de exposição à metanfetamina no período pré-natal e um grupo
controle sem histórico de exposição a drogas de 15 crianças entre 3 a 15 anos.
As crianças foram submetidas a um exame de Ressonância Magnética e
avaliações neuropsicológicas, sendo o Teste Purdue Pegboard utilizado para
avaliar a função motora manual. A ressonância magnética mostrou volumes
cerebrais menores da substância cinzenta subcortical e volume relativo menor
no putâmen, globo pálido e hipocampo nas crianças expostas a mentanfetamina
em relação ao grupo controle. Na avaliação da função motora manual não houve
diferença significativa entre os grupos.
Chang et al.11 fizeram um estudo com 36 bebês expostos a
metanfetamina e tabaco no período gestacional, 32 expostos a tabaco no
período gestacional e 71 não expostos à drogas. Todas as crianças foram
submetidas ao exame de Ressonância Magnética durante o sono, sem sedação
e foram avaliadas com o Exame Neurológico Amiel - Tison com idade de 1
semana pós-natal, novamente com 1 a 2 meses e depois com 2 a 4 meses. A
Ressonância Magnética mostrou trajetórias de difusidade média e radial da
coroa radiada posterior de meninos expostos à metanfetamina e tabaco mais
altas e que decresceram acentuadamente em comparação com o grupo tabaco
e controle. Meninas expostas a estimulantes tiveram menor pontuação de
anisotropia fracionada da coroa radiada anterior e demonstraram tendência a ter
desenvolvimento mais lento em relação a difusidade radial da coroa radiada
anterior do que o grupo não exposto. A avaliação neurológica com o Exame
Amiel- Tison demonstrou que o grupo exposto a metanfetamina e tabaco
apresentou maior atraso no desenvolvimento do tônus muscular ativo e na
pontuação total quando comparado ao grupo não exposto.
Singer et al.12 selecionaram para seu estudo, 28 lactentes expostos a
Ecstasy no período intrauterino e 68 lactentes não expostos. Todos os bebês
foram avaliados com a NICU Network Neurobehavioral Scale (NNNS) com 1
mês de idade corrigida, que mostrou que bebês expostos tiveram uma tendência
não significativa em demonstrar baixo nível de reatividade motora e
comportamento letárgico, e menor probabilidade de apresentar respostas
hipertônicas no tônus. Posteriormente foram avaliados com a Escala Motora
Infantil de Alberta (AIMS) aos 4 meses de idade corrigida que demonstrou que
bebês expostos a maior uso de Ecstasy tiveram um desempenho motor pior do
que os bebês não expostos e expostos com menor uso; e com a Escala Bayley
de Desenvolvimento Infantil II mostrando qualidade motora significativamente
pior, menor coordenação e mais propensão a movimentos letárgicos e atrasados
em bebês expostos e com efeito dose-resposta, onde quanto maior o uso da
droga, a qualidade motora encontrada foi pior.
Frata et al.13 efetuaram um estudo com 33 bebês expostos a drogas
ilícitas durante a gestação (crack, cocaína e maconha) e 33 bebês não expostos
a drogas com idade de 0 a 12 meses. As crianças foram avaliadas utilizando a
Escala Motora Infantil de Alberta (AIMS), que evidenciou pior desempenho motor
nas posturas prono, supino, sentado, em pé, no escore total e no percentil, além
de maior associação com atraso e suspeita de atraso no desenvolvimento motor
das crianças expostas a drogas em comparação com o grupo controle.
Chiriboga, Kuhn e Wasserman14 realizaram um estudo com 27 lactentes
expostos a alta dosagem de cocaína na fase intrauterina, 56 expostos a baixa
dosagem de cocaína na fase intrauterina e 206 lactentes não expostos, todos
com 6 meses de idade. Os mesmos foram submetidos a avaliação com a Escala
Bayley de Desenvolvimento Infantil II, que demonstrou que bebês expostos a
cocaína apresentaram maior incapacidade de adotar a postura de sentar-se
independentemente e taxas maiores de hipertonia, postura extensora e Reflexo
de Preensão Palmar Persistente, sendo que houve uma tendência de aumento
de acordo com o nível elevado de exposição à cocaína.
15
Lima et al. analisaram o prontuário de 20 bebês expostos a drogas de
abuso na gestação (Maconha, Crack, Cocaína, Tabaco e Álcool) e 31 bebês não
expostos à drogas, com 6 à 9 meses de idade corrigida. O desempenho motor
dos lactentes foi avaliado utilizando o Teste de Triagem de Desenvolvimento de
Denver II, que apontou que bebês expostos à drogas apresentaram menor
classificação em desempenho normal, e maior classificação em atraso e cautela,
demonstrando pior desempenho na classificação geral, incluindo pior
desempenho motor fino e da função motora grossa, sendo essa mais afetada.
Gasparin, Silveira, Garcez e Levy16 avaliaram 25 recém-nascidos
expostos a crack e/ou cocaína no período pré-natal e 25 recém-nascidos não
expostos, divididos em 8 bebês expostos e prematuros, 8 bebês não expostos e
prematuros, 17 bebês nascidos a termo expostos e 17 bebês nascidos a termo
não expostos. Todos foram avaliados com o Teste Infantil de Performance
Motora (TIMP), que revelou que os bebês expostos a drogas, prematuros e a
termo, apresentaram maior atraso motor e menor índice dentro da média de
normalidade em comparação como os bebês não expostos. Porém esses
resultados não são capazes de determinar o atraso motor em decorrência do
uso de drogas.
Lester et al.17 realizaram um estudo com 658 lactentes com exposição
pré-natal à cocaína e/ou opiáceos e 730 lactentes não expostos, nascidos a
termo e prematuros com 1 mês de idade cronológica e corrigida,
respectivamente. Todos foram avaliados com a NICU Network Neurobehavioral
Scale (NNNS), que apontou que os bebês expostos à cocaína apresentaram pior
qualidade do movimento comparados ao grupo não exposto, e aqueles que
também tinham baixo peso associado ao uso dessa droga apresentaram pior
qualidade do movimento, maior hipertonia e maior número de reflexos alterados.
Além disso, os bebês com maior exposição à cocaína apresentaram maior
hipertonia e reflexos alterados do que bebês com menor exposição à droga, e
quando associado também a baixo peso apresentaram maior número de
reflexos alterados, pior qualidade do movimento e maior hipertonia comparados
ao grupo menos exposto. Não foram encontrados efeitos significativos no padrão
motor de bebês expostos à opiáceos.
Tabela de Resultados

Autor Ano Objetivo Método Tipo de Droga Instrumento de Resultados


Avaliação

Chang L, Smith M. L, 2004 Examinar os possíveis efeitos Estudo de Coorte Metanfetamina Ressonância A análise de medidas repetidas da RM evidenciou volumes
LoPresti C, et al. neurotóxicos da exposição pré-natal à Magnética e Teste cerebrais menores da substância cinzenta subcortical, nos quatro
metanfetamina no cérebro em Purdue Pegboard volumes independentemente do hemisfério (P=0,022) e a análise
desenvolvimento e na cognição específica por região com a RM mostrou volume relativo menor no
putâmen (P=0,011), globo pálido (P=0,021) e hipocampo
bilateralmente (P=0,016) nas crianças expostas a me ntanfetamina
em relação ao grupo controle. Não houve diferença significativa da
função motora manual avaliada pelo teste Purdue Pegboard (P=ns)

Chang L, Oishi K, Skranes 2016 Investigar se as anormalidades Estudo Metanfetamina e Ressonância As análises da RM da substância branca, mostraram que as
J, Buchthal S, et al. cerebrais microestruturais relatadas Prospectivo e Tabaco Magnética e Exame trajetórias de difusidade média da coroa radiada posterior de
em crianças com exposição pré-natal á Longitudinal Amiel-Tison meninos expostos à metanfetamina e tabaco iniciaram mais altas e
metanfetamina e/ou tabaco estão decresceram acentuadamente em comparação com o grupo tabaco e
presentes no nascimento, antes das não exposto (P=008). Meninas expostas a estimulantes tiveram
influências ambientais da infância menor pontuação de anisotropia fracionada da coroa radiada
anterior (p=06) e demonstraram tendência a ter desenvolvimento
mais lento em relação a difusidade radial da coroa radiada anterior
do que o grupo controle (P=07). Na avaliação com o Exame Amiel-
Tison o grupo exposto a metanfetamina e tabaco apresentou atraso
no desenvolvimento do tônus muscular ativo (P=002) e na
pontuação total (P=009) comparado ao grupo controle

Singer L, Moore D, Fulton 2012 Identificar prospectivamente mulheres Estudo Ecstasy NICU Network Na avaliação com a NNNS, bebês expostos a Ecstasy tiveram uma
S, et al. que usaram Ecstasy durante a Prospectivo Neurobehavioral tendência não significativa em demonstrar baixo nível de
gravidez e documentar padrões e Scale (NNNS), reatividade motora e comportamento letárgico, e menor
correlações de uso com resultados Escala Bayley de probabilidade de apresentar respostas hipertônicas no tônus
neonatais e na primeira infância dos Desenvolvimento (P=b.069). Na avaliação com a Bayley, bebês expostos a Ecstay
filhos Infantil II, Escala demonstraram qualidade motora significativamente pior (P=b.05),
Motora Infantil de menor coordenação e mais propensão a movimentos letárgicos e
Alberta (AIMS) atrasados, com efeito dose-resposta demonstrando que com maior
uso médio da droga, a qualidade motora encontrada foi pior
(P=b.042). Na avaliação com a AIMS, bebês expostos a maior uso
de Ecstasy tiveram um desempenho motor pior do que os bebês não
expostos e expostos com menor uso (P=b.04)

Frata B, Chies N, Pires S, 2018 Comparar no primeiro ano de vida, o Estudo Descritivo, Cocaína, Crack e Escala Motora Na categorização do desempenho motor da AIMS, o grupo exposto
et al. desenvolvimento motor de bebês Comparativo e Maconha Infantil de Alberta a drogas ilícitas apresentou pior desempenho em relação ao grupo
filhos de usuárias de drogas com Associativo (AIMS) não exposto, nas posturas prono (P=0,20), supino (P=0,11), sentado
filhos de não usuárias e analisar a Transversal (P=0,53), Em pé (P=0,66), no escore total (P=0,20) e no percentil
influência dos fatores de risco (P=<0,001). O grupo exposto a drogas ilícitas apresentou associação
significativa com atraso e suspeita de atraso no desenvolvimento
motor em relação ao outro grupo (P=<0,001)

Chiriboga A. C, 2006 Avaliar se a exposição pré-natal à Estudo Cocaína Escala Bayley de Na categorização neurológica e motora da Bayley, os bebês
Wasserman A. G cocaína tem efeitos adversos sobre os Prospectivo Desenvolvimento expostos a cocaína apresentaram maior incapacidade de adotar a
resultados neurológicos, de Infantil II postura de sentar-se independentemente (P=08) em comparação ao
desenvolvimento e comportamentais grupo não exposto. Também mostraram taxas significativamente
do bebê e se algum efeito é maiores de hipertonia (P=06), postura extensora (P=03) e Reflexo
dependente da dose de Preensão Palmar Persistente (P=02), sendo que houve uma
tendência de aumento significativa de acordo com o nível elevado
de exposição à droga (P=0005), (P=009), (009).
Lima E. R, Aleixo A. A, 2017 Analisar as características do Estudo Maconha, Crack, Teste de Triagem do Na avaliação do desempenho motor, houve uma classificação em
Araújo B. L, et al. desenvolvimento neuropsicomotor de Retrospectivo Cocaína, Tabaco e Desenvolvimento normal, atraso e cautela, onde os bebês expostos à drogas
lactentes filhos de mães usuárias de Transversal Álcool Denver II apresentaram um desempenho categorizado em menor quantidade
drogas de abuso na gestação normal e maior quantidade de cautela e atraso, demonstrando pior
desempenho na classificação geral (P=<0,001), que inclui pior
desempenho motor fino (0,118) e pior desempenho da função
motora grossa, sendo esse mais afetado P=0,003)

Gasparin M, Silveira L. J, 2012 Analisar o comportamento motor oral Estudo Cocaína e Crack Teste Infantil de Na avaliação da performance motora, os bebês prematuros expostos
Garcez W. L, Levy S. B e global de recém-nascidos de mães Transversal Performance Motora apresentaram escore 62,5% de atraso motor e 37,5% dentro da
que fizeram uso de crack e/ou cocaína (TIMP) média de normalidade em comparação a 50% de atraso motor e
durante a gestação e verificar se há média normal dos bebês não expostos. Os bebês a termo expostos
relação entre o desenvolvimento dos apresentaram escore 82,4% de atraso motor e 17,6% dentro da
sistemas sensório motor oral (SSMO) média de normalidade em comparação a 76,5% e 23,5%
e motor global respectivamente, do grupo não exposto. Os resultados encontrados
não foram significativos para determinar o atraso motor em
decorrência do uso de drogas.

Lester M. B, Tronick Z. E, 2002 Descrever os efeitos da exposição pré- Estudo Cocaína e Opiáceos NICU Network Os bebês avaliados que foram expostos à cocaína quando
LaGasse L, et al. natal à cocaína e/ou opiáceos no Prospectivo Neurobehavioral comparados à bebês não expostos, apresentaram pior qualidade do
resultado do neurodesenvolvimento Multicêntrico Scale (NNNS) movimento (P=044). Os bebês expostos à cocaína que tinham baixo
em bebês nascidos a termo e Longitudinal peso associado ao uso dessa droga apresentaram pior qualidade do
prematuros com 1 mês de idade movimento (P=001), maior hipertonia (P=001), e maior número de
reflexos alterados (P=020), sendo que bebês expostos a altas doses
de cocaína apresentaram maior hipertonia (P=042) e reflexos
alterados (P=039) e quando associado a baixo peso apresentaram
maior número de reflexos alterados (P=011), pior qualidade do
movimento (P=049) e maior hipertonia (P=018). Não foram
encontrados efeitos significativos no padrão motor de bebês
expostos à opiáceos.
5 DISCUSSÃO

Compreender os efeitos que o uso de drogas ilícitas causa na saúde do


bebê é de extrema importância para nortear a promoção de medidas preventivas
e interventivas na população materno-infantil.
Um estudo anterior relacionou o efeito vasoconstritor das drogas
estimulantes como cocaína e crack a efeitos teratogênicos graves como
anormalidades urogenitais, deformidades distais, defeitos cardíacos e
malformações do SNC. 7
Outro estudo demonstrou que recém-nascidos filhos de mães usuárias de
drogas apresentam alguns fatores devido a ação da cocaína no SNC, como
prematuridade, baixo peso, retardo de crescimento intra-uterino, menor
porcentagem de gordura e massa corpórea e menor perímetro cefálico. Além de
síndrome de abstinência, caracterizada pela frequência cardíaca e pressão
arterial aumentadas, icterícia frequente, síndrome da dificuldade respiratória,
febre, redução do sono, irritabilidade, excitação, sudorese, tremores, convulsões,
vômitos, diarréia, hiperfagia, escoriações na pele, alteração no tempo de
emissão e timbre do choro. 7
Estudos que abordam o padrão motor de lactentes expostos à drogas
ilícitas ou que correlacionem os efeitos dessa exposição e sua influência no
desempenho motor são escassos e inconsistentes, demonstrando a
necessidade de abordar esse tema.
Dentre os resultados do presente estudo, destacamos os achados de
Chang et al10, que apontaram que crianças expostas a drogas apresentaram
uma diminuição no volume do putâmen e globo pálido, que compõem os núcleos
da base.
De acordo com Scalzo e Teixeira-Junior18, os núcleos da base tem
participação nos circuitos fronto-estriatrais, cujo um dos cinco circuitos é o motor.
Os núcleos da base atuam fornecendo disparos para a realização de sequências
de movimentos aprendidos, sem maior demanda atencional e no planejamento e
sequenciamento de atos motores voluntários, devido a integração com regiões
corticais, principalmente com a área motora suplementar.
Destacamos também os achados de Chang et al11, que apontaram
alteração da difusidade média da coroa radiada posterior e diminuição da
anisotropia fracionada da coroa radiada anterior na ressonância magnética de
crianças expostas a drogas.
A coroa radiada é uma faixa de substância branca constituída por fibras
mielinizadas de projeção aferentes e eferentes do córtex cerebral. É dividida em
três regiões: anterior, superior e posterior. A parte anterior é formada por fibras
relacionadas às áreas corticais anteriores (fibras tálamo-frontais e fronto-
talâmicas) e partes das vias piramidais. A parte superior é constituída por fibras
das radiações talâmicas superiores (fibras tálamo-frontais centrais e tálamo-
parietais e fronto e parieto-talâmicas). A parte posterior é formada pelas vias
piramidais (trato corticoespinhal e fibras fronto e parieto-pontinuas) e por
radiações talâmicas posteriores (tálamo-parietais e occipitais e parieto- e
occipitotalâmicas). Essas fibras são responsáveis pela ação motora proximal e
distal de membros.19
A ressonância magnética possui uma sensibilidade ao movimento das
moléculas de água (difusão). Dentre os tipos de difusão podemos citar a
anisotrópica, quando há restrição ao movimento das moléculas de água, como
quando atingem uma barreira de feixes organizados e íntegros da substância
branca, fazendo com que a difusão da água ocorra ao longo das fibras. Valores
de FA altos são representativos do grau de mielinização e de densidade axonal.
Já a difusibilidade média é uma medida de difusão livre, que representa uma
perda de anisotropia e aumento na difusão livre da água. Essa perda da difusão
anisotrópica pode estar relacionada à anormalidades dentro da microestrutura
tecidual, como em perda axonal e desmielinização.19
Tais achados demonstram alterações em estruturas envolvidas no
processo motor, sugerindo que o desempenho motor pode ser afetado.
Em relação a características motoras, esse estudo mostra as diferenças
encontradas pelos autores que investigaram crianças expostas a drogas ilícitas,
12,17 12
como qualidade motora pior ; movimentos letárgicos ; menor coordenação
motora 12; incapacidade de adotar postura sentado 13,14
; hipertonia 14,17
; e reflexos
14,17
alterados , em comparação com crianças não expostas, sendo que alguns
estudos demonstraram haver efeito dose-resposta, uma vez que quanto maior
12,14,17
os níveis de exposição a drogas pior foram as alterações encontradas.
Quanto ao desempenho motor final, os autores encontraram pior
12,13,15
desempenho motor em crianças expostas a drogas e maior índice de
suspeita de atraso e atraso motor. 13,15,16
Esses achados podem corroborar o pressuposto de que as alterações
estruturais em áreas motoras, causadas pelo uso de drogas ilícitas durante o
10
período gestacional, encontradas nos estudos de Chang et al e Chang et al 11,
levam a alterações no padrão motor e consequentemente à prejuízos e atrasos
no desempenho motor.
Os resultados dos estudos que investigam os efeitos nocivos da
exposição a drogas ilícitas na saúde da criança, incluindo o presente estudo,
podem ser enviesados pelo uso concomitante de outras drogas e presença de
fatores biológicos negativos como prematuridade, baixo peso ao nascer, apgar
baixo, e também por fatores ambientais desfavoráveis como baixa escolaridade,
baixa renda, mães com maior número de filhos, moradia inadequada.
Esse estudo possui limitações metodológicas como dificuldade em isolar
resultados dos efeitos específicos de cada droga, sobreposição do uso de
drogas com problemas sociais e biológicos, sendo difícil isolar o efeito especifico
de cada fator, heterogeneidade dos resultados obtidos nos estudos
selecionados, impossibilidade de definir o grau de toxicidade de cada dose de
exposição e tempo de uso da droga.
6 CONCLUSÕES

Pode-se concluir que a prevalência do uso de drogas ilícitas é elevada e


que mulheres em período fértil e gestantes compõem o grupo de risco, sendo
que as gestantes e os fetos são mais suscetíveis aos efeitos das drogas em
função da alterações fisiológicas decorrentes desse período.
Embora não seja possível determinar um padrão específico de alterações
estruturais e motoras que causam prejuízo no desempenho motor, é possível
concluir que o uso de drogas ilícitas envolve maior número de alterações
neuromotoras e repercussões negativas no desenvolvimento motor de lactentes.
Tais alterações impactam de forma significativa o desenvolvimento motor
e a saúde dos bebês e crianças expostos a drogas ilícitas no período
gestacional, portanto, é necessário que mais estudos sejam realizados, com
delineamento adequado, para uma investigação minuciosa sobre quais os
efeitos que essas alterações causam no desenvolvimento motor, a fim de
melhorar a compreensão sobre o tema e as medidas de prevenção ao uso de
drogas ilícitas durante a gestação.
7 REFERÊNCIAS

1. Ruoti CM., et al. Uso y Abuso de Drogas Durante el Embarazo. Mem. Inst.
Investig. Cienc. Salud. 2009; 7(2): 32-44.
2. Scoyoc VA., et al. Beliefs and Behaviors of Pregnant Women with
Addictions Awaiting Treatment Initiation. Child Adolesc Soc Work J. 2016.
3. Abraham FC, Hess BRA. Efeitos do uso do Crack Sobre o feto e o
Recém-nascido: Um Estudo de Revisão. Revista de Psicologia da IMED.
2016 8(1): 38-51.
4. Reis GFF. Maternal Physiologic Changes During Pregnancy. Rev Bras
Anest. 1993; (43): 1: 3- 9.
5. Callegari MBS, et al. Obesity and Cardiometabolic Risk Factors During
Pregnancy. Rev Bras Ginecol Obstet. 2014.
6. Alencar GCJ, et al. Crack Babies: Systematic Review of Effects In
Newborns and Children In The Use Of Crack During Pregnancy. Revista
de Pediatria SOPERJ. 2011; 12(1):16-21.
7. Matos CJ. et al. Neurological Effects of Exposure to Prenatal
Cocaine/Crack. Arquivos do MUDI. 2011; (15): 1-3.
8. Keith LM, Persaud TVN. Embriologia Básica. 7ª edição. Rio de Janeiro.
Elsevier. 2008
9. Rodrigues PA, et al. Como o crack e outras drogas podem influenciar no
desenvolvimento de crianças que foram expostas durante o período
gestacional. Pesquisas e Práticas Psicossociais. 2018; 13(1): 1421.
10. Chang L, et al. Smaller subcortical volumes and cognitive deficits in
children with prenatal methamphetamine exposure. Psychiatry Research:
Neuroimaging. 2004; 132: 95–106.
11. Chang L, et al. Sex-Specific Alterations of White Matter Developmental
Trajectories in Infants With Prenatal Exposure to Methamphetamine and
Tobacco. JAMA Psychiatry. 2016; 2794.
12. Singer TL, et al. Neurobehavioral outcomes of infants exposed to MDMA
(Ecstasy) and other recreational drugs during pregnancy. Neurotoxicology
and Teratology. 2012; 34: 303–310.
13. Frata B, et al. O Uso de Drogas na Gestação como Fator de Risco para
Atraso no Desenvolvimento Motor de Bebês de 0 a 12 Meses de Idade
Corrigida. Fundamentos e Práticas da Fisioterapia. 2018; (15): 150-160.
14. Chiriboga AC, et al. Prenatal cocaine exposures and dose-related cocaine
effects on infant tone and behavior. Neurotoxicology and Teratology. 2007
(29): 323–330.
15. Lima ER, et al. Características do desenvolvimento neuropsicomotor de
lactentes filhos de mães que fizeram uso de drogas durante a gestação. J
Hum Growth Dev. 2018; 28(1):27-34.
16. Gasparin M, et al. Comportamento motor oral e global de recém-nascidos
de mães usuárias de crack e/ou cocaína. Rev Soc Bras Fonoaudiol.
2012;17(4):459-63.
17. Lester MB, et al. O Estudo do Estilo de Vida Materno: Efeitos da
Exposição a Substâncias Durante a Gravidez no Resultado do
Neurodesenvolvimento em Bebês de 1 Mês de Idade. PEDIATRICS.
2017; 110: 1182-1192.
18. Scalzo LP, Teixeira-Junior LA. Participação dos Núcleos da Base no
Controle do Tônus e da Locomoção. Fisioter. Mov. 2009; 22 (4): 595-603.
19. Engelhardt E, Moreira MD. A substância branca cerebral. Localização dos
principais feixes com anisotropia fracionada direcional. Rev Bras Neurol.
2008; 44 (2): 19-34.
8 ABSTRACT

The use of illicit drugs is a life habit harmful to health, and its use by the
female population has grown over the years. In pregnant women, drug use has a
greater impact due to the physiological changes characteristic of pregnancy, in
addition, it also impacts the health of the fetus due to the placental transport of
substances. The objective of this study is to understand if there are and what are
the consequences of the use of illicit drugs during pregnancy for the baby's motor
development. This study is a literature review, where articles in Portuguese and
English were used for data collection, selected in the data platforms Scielo,
Pubmed, Capes, Bireme, Ebsco, Medline and Lilacs published from 2001 to
2021, as well as academic books. It is concluded that the use of illicit drugs
during pregnancy can cause anatomical and functional changes that impair the
baby's motor development.

Você também pode gostar