Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Autora
Dra. Jaqueline Rocha Borges dos Santos
Videoaula - Apresentação do professor
Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
"https://player.vimeo.com/video/767335920".
Introdução
O sistema nervoso central (SNC) estabelece conexões neurais com respostas observadas por
meio de sinapses. Essas respostas refletem as alterações em potencial de ação de membranas
de neurônios. Os clássicos potenciais, denominados potencial excitatório pós-sináptico (PEPS) e
potencial inibitório pós-sináptico (PIPS), ocorrem por neurotransmissão envolvendo
neurotransmissor excitatório ou inibitório, respectivamente. O equilíbrio entre esses potenciais
garante um organismo isento de enfermidades. Todavia, qualquer alteração nesse circuito por
excesso de PEPS, causado devido ao estresse crônico, por exemplo, evidencia distúrbio de
ansiedade e depressão. Inicialmente, para compreender a farmacologia e a farmacoterapia de
enfermidades que acometem o SNC e o SNA (sistema nervoso autônomo), são necessárias
clareza e fluência da linguagem vinculada à neurotransmissão.
Os neurônios enviam impulsos elétricos de uma parte para outra da mesma célula por meio de
axônios. Os neurônios comunicam-se pela liberação do primeiro mensageiro químico
(neurotransmissor) para os receptores do segundo neurônio. Essa comunicação é química e não
elétrica. Isso quer dizer que o impulso elétrico do primeiro neurônio é convertido em sinal
químico na sinapse existente entre ele e o segundo neurônio. Esse processo é denominado
neurotransmissão química (STAHL, 2009).
Vale relembrar que as sinapses não ocorrem somente entre axônios, mas também entre axônios
e dendritos; entre axônios e corpos celulares; entre dendritos; e entre dendritos e corpos
celulares, como uma “teia de aranha”.
Alguns autores compreendem ainda uma terceira subdivisão do SNA autônomo. Além do
simpático e do parassimpático, consideram que o sistema digestório tem características
próprias não norteadas somente por NA e ACh, mas também pela presença de outras
substâncias endógenas.
Nas próximas seções veremos como a compreensão da relação entre a fisiologia do SNC e do
SNA é necessária para a aplicação da farmacologia e, consequentemente, da prática terapêutica
ou farmacoterapia.
Videoaula - Introdução ao sistema nervoso autônomo e Sistema
nervoso central
Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
"https://player.vimeo.com/video/767336159".
1. Farmacologia e farmacoterapia do SNC
Neste módulo, destacaremos alguns neurotransmissores que fazem parte da base biológica, ou
seja, da hipótese neural para justificar alterações em circuitos cerebrais. Dentre os
neurotransmissores associados à farmacologia de enfermidades no SNC estão: NA, dopamina
(DA), 5HT, ACh, GABA e glutamato. Como se pode notar, NA e DA participam de neurotransmissão
no SNC e no SNA. Assim, falaremos da farmacologia e da farmacoterapia envolvendo esses
neurotransmissores tanto na seção sobre SNC como na sobre SNA.
São inúmeras as situações que associam o SNC ao SNA, o que pode ser explicado pela presença
de neurotransmissores comuns, central e perifericamente. Por essa razão, não podemos
desvincular efeitos concomitantes no SNC e no SNA, em especial quando fármacos apresentam
a capacidade de atuar em ambos somada à exibição de não seletividade. Por isso, a
compreensão da farmacologia e da farmacoterapia deve seguir um rumo unidirecional e, em
alguns momentos, bidirecional.
Começaremos agora a navegar por esse entrelaçado SNC-SNA, e convido-o à leitura com a visão
de que esses assuntos não estão esgotados; sendo ilimitados e continuamente renovados pela
descoberta de novos mecanismos e fármacos.
Videoaula - Farmacologia e farmacoterapia da depressão
Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
"https://player.vimeo.com/video/767336728".
Farmacologia e farmacoterapia da depressão e do transtorno
2.
maníaco-depressivo
Grande parte das doenças mentais manifesta-se na primeira metade da vida, com uma
prevalência de duração média de 10 anos, que varia de acordo com fatores biológicos
preexistentes. Alguns pacientes que denotam quadros psicopatológicos de início tardio têm
fatores etiológicos distintos daqueles que evoluíram com doença desde longa data. Os
transtornos mentais de início tardio são diagnosticados pelo quadro inicial sistêmico de
transtornos neuropatológicos do envelhecimento. Em fases anteriores da vida, destacam-se as
anormalidades do neurodesenvolvimento, geneticamente determinadas em razão da
variabilidade genética individual.
O diagnóstico patológico de desordens neuronais deve ser baseado em várias etapas: anamnese
detalhada com o paciente e com familiares ou cuidadores, exame psiquiátrico minucioso, exame
clínico geral, avaliação neurológica, identificação de efeitos adversos de medicamentos, exames
laboratoriais e de neuroimagem. Esses procedimentos são valiosos e importantes para o
diagnóstico de doenças como a depressão (DAVIDSON et al., 2002; QURAISHI; FRANGOU, 2002).
De acordo com Santos et al. (2006), a depressão torna o portador incapacitado para resolver as
situações cotidianas. O portador da doença sustenta filosoficamente o raciocínio de que “não há
mais uma luz no fim do túnel”. A resposta ao tratamento é difícil, em especial porque há uma
demora na visualização da resposta terapêutica. Isso se deve ao fenômeno de modulação nos
receptores pós-sinápticos, denominado down regulation. A ausência de resposta terapêutica
caracteriza a denominada depressão resistente ao tratamento.
Outro aspecto a se considerar é a depressão nos idosos. Nesse caso, deve-se ter cautela na
escolha terapêutica, uma vez que o idoso apresenta perfil fisiológico diferente, que se reporta ao
perfil farmacocinético. Além disso, o idoso, na maioria das vezes, é submetido à polifarmácia, que
colabora com o aumento de interações medicamentosas. O ideal é eleger um antidepressivo com
menor perfil de efeitos colaterais, ou seja, um fármaco mais seletivo.
Nas próximas sessões, veremos a classificação dos antidepressivos de maneira mais detalhada,
começando com os primeiros descobertos (IMAOs irreversíveis) até chegarmos aos inibidores da
recaptura de serotonina e antagonistas do receptor 5HT2A.
Videoaula - Antidepressivos
Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
"https://player.vimeo.com/video/767337015".
Antes de falar sobre a farmacologia e a farmacoterapia, vale relembrar o que é a MAO. É uma
enzima que degrada ou metaboliza neurotransmissores monoaminérgicos. Envolvidos com a
depressão, por comporem a base biológica da doença, estão os neurotransmissores serotonina,
noradrenalina e dopamina. Os três são monoaminas, ou neurotransmissores monoaminérgicos.
Há dois tipos dessa enzima, a saber: MAO A e MAO B. Em razão de suas respectivas localizações
em certas regiões cerebrais, a MAO do tipo A está mais relacionada à depressão, enquanto a
MAO do tipo B está mais associada a processos neurodegenerativos.
Quando falamos em depressão, devemos ter clareza, portanto, de que a MAO do tipo A é
considerada um alvo mais específico e seletivo. Essa enzima, além de estar localizada em
neurotransmissão monoaminérgica no neurônio pré-sináptico, também aparece no fígado.
Dentre os fármacos IMAOs, estão os IMAOs irreversíveis e não seletivos e os IMAOs reversíveis e
seletivos na inibição da MAO A. Na atualidade, os primeiros não representam primeira opção
para depressão. Ao contrário, constituem última opção na farmacoterapia antidepressiva, uma
vez que causam inúmeras reações adversas vinculadas à propriedade irreversível da inibição
enzimática. Essa situação leva à necessidade de restrições e reeducação alimentar, evitando-se
alimentos que atuem, de alguma maneira, como precursores da formação de noradrenalina (NA)
ou dopamina (DA) por meio dos aminoácidos neles presentes.
Esse cuidado não é necessário de maneira tão veemente com os IMAOs reversíveis e seletivos na
inibição da MAO A. A justificativa já está explícita na reversibilidade do efeito farmacológico.
Somado a esse fato, há inibição seletiva da isoforma relacionada com a depressão: MAO do tipo
A.
A Tabela 1 resume a farmacoterapia, bem como os fármacos IMAOs utilizados para depressão.
Tabela 1 - Tratamento farmacológico para depressão por via oral: IMAOs irreversíveis e não seletivos e
IMAOs reversíveis e seletivos na inibição da MAO A
Fármaco Farmacoterapia
Fenelzina1 15 mg 2-3x/dia, até 60-90 mg/dia. Em idosos: 7,5 mg/dia (dose inicial), até 15-60
mg/dia, divididos em três a quatro doses.
Moclobemida2 150-600 mg/dia, sendo que a dose usual é 300-600 mg/dia, geralmente divididos em
duas ou três doses diárias.
Legenda: 1 Fármacos IMAOs irreversíveis; 2 Fármacos IMAO reversíveis e seletivos por inibir a MAO A
Os ADTs são amplamente utilizados para depressão, embora apresentem vários efeitos
colaterais devido aos seus cinco mecanismos de ação. A ampla demonstração de propriedades
farmacológicas exibidas por vários mecanismos de ação exige que um bom conhecedor de
farmacologia saiba aplicá-los à farmacoterapia de maneira benéfica. Esse fator é considerado
decisivo no estabelecimento de uma farmacoterapia adequada que garanta eficácia e adesão
com inexpressivas reações adversas.
Conforme dito, os ADTs apresentam cinco mecanismos de ação que merecem ser destacados
para que possamos fazer uma equilibrada relação da farmacologia com a farmacoterapia. Eles
antagonizam o receptor histamínico, o receptor α-adrenérgico e o receptor colinérgico, além de
inibirem a bomba de recaptura (ou recaptação) de noradrenalina e a bomba de recaptura de
serotonina. Desses mecanismos de ação, somente os dois últimos têm relação com a depressão,
por aumentarem dois neurotransmissores monoaminérgicos, associados à capacidade de
produzir down regulation ou redução, ou seja, subsensibilidade dos receptores pós-sinápticos.
Quadro 2 - Farmacoterapia em adultos, por via oral, para depressão com ADTs
Fármaco Farmacoterapia
Amitriptilina A posologia é 75 mg a 150 mg por dia. Na depressão grave, entretanto, pode chegar até a
300 mg por dia na fase aguda.
Imipramina O tratamento inicial é estabelecido com 25 mg, de uma a três vezes ao dia. Pode-se
aumentar a posologia diária gradualmente para 150 mg a 200 mg. Essa posologia deverá
ser atingida ao final da primeira semana de tratamento e mantida até a ocorrência de
uma melhora clínica. A dose de manutenção deve ser determinada individualmente por
meio da redução cuidadosa da posologia, situando-se usualmente entre 50 mg e 100 mg
diários.
Desipramina A posologia a ser estabelecida é com doses de 25 mg a 50 mg três vezes ao dia. A dose
máxima é 200 mg por dia.
Nortriptilina A posologia é estabelecida com a dose de 25 mg três ou quatro vezes ao dia. A dose diária
total pode ser administrada uma vez ao dia. A dose máxima é 100 mg por dia.
Trimipramina A posologia é estabelecida com a dose de 75 mg por dia, chegando a até duas vezes ao
dia; doses superiores a 200 mg/dia não são recomendadas, sendo que a dose de
manutenção é de 50 mg a 150 mg por dia.
Doxepina O tratamento é estabelecido com a dose de 25 mg três vezes ao dia; pode-se aumenta-la,
se necessário, a até 50 mg três vezes ao dia.
Variantes no gene associado ao transportador de serotonina 5HTT estão sob estudo, pois há
evidências de que os ISRSs interferem com a atividade da proteína que transporta a serotonina,
removendo-a da fenda sináptica (LIMA; SOUGEY; VALLADA, 2004).
Vale considerar que, no grupo farmacológico antidepressivo dos ISRSs, embora todos os
fármacos apresentem o mesmo mecanismo de ação, há algumas diferenças quanto à potência,
claramente verificadas com as doses diferentes utilizadas para cada fármaco. As propriedades
farmacocinéticas, como tempo de meia-vida, metabólitos gerados, enzimas metabolizadoras,
dentre outras, também são diferentes.
As diferenças e variações potenciais e/ou seletivas, tanto farmacodinâmicas como
farmacocinéticas, justificam as diferenças terapêuticas observadas na utilização de ISRSs
(MORENO et al., 1999; DESHAUER et al., 2008).
Tabela 2 - Perfil farmacológico de alguns fármacos ISRSs, como: sertralina, fluoxetina, fluvoxamina,
paroxetina e citalopram
Parâmetro
farmacocinético Sertralina Fluoxetina Fluvoxamina Paroxetina Citalopram
Estado de 7 dias 6-8 7 dias (maior 7 dias (maior em idoso) 7-14 (maior
equilíbrio semanas em idoso) em idoso)
estável (maior em
idoso)
Inibição de
isoenzimas
Os ISRSs são considerados por vários autores e pesquisas como a primeira linha de tratamento
para depressão, devido ao menor perfil de efeitos colaterais. Todavia, com o tempo de utilização,
a farmacovigilância sugere que esses fármacos não são isentos de risco no que concerne a esse
fator. Pode ocorrer perda de peso, devido à diminuição do apetite, conduzindo a consequências
indesejáveis para pacientes debilitados. Efeitos extrapiramidais associados ao parkinsonismo,
reações distônicas e acatisia, além de piora em pacientes com doença de Parkinson ou em uso
de antipsicóticos foram relatados (COULTE; PILLANS, 1995; POLLOCK, 1999 apud SCALCO, 2002).
Na farmacoterapia com ISRSs, é preciso ter cuidado na associação entre antidepressivos, pois o
excesso de serotonina gerado pode causar a denominada síndrome serotoninérgica. Nesse
quadro, o paciente pode apresentar enxaqueca (comumente relatada), náuseas, confusão mental
e reações extrapiramidais leves. Distúrbios de saciedade, sono e distimia podem ocorrer diante
da retirada abrupta de ISRSs.
Isso pode fomentar o potencial inibidor enzimático exibido por alguns fármacos ISRSs. Nesse
contexto, os processos de metabolização de outros fármacos estarão inibidos por um ISRS. A
metabolização reduzida conduz ao aumento do tempo de meia-vida. O fármaco teofilina, os
antipsicóticos atípicos (por exemplo: clozapina) e a cafeína são exemplos que, nessas
circunstâncias, apresentarão níveis aumentados da concentração plasmática provocados por
inibidores da isoenzima de CYP.
De acordo com Stedman et al. (2002), outro sistema citocrômico importante é CYP450 2D6.
Nesse contexto, vários são os ISRSs que inibem esse sistema, como os fármacos fluoxetina,
paroxetina (com elevado potencial), fluvoxamina, sertralina e citalopram (com menor potencial).
Desse modo, a administração desses ISRSs associados com ADTs aumenta os níveis destes
últimos, podendo causar toxicidade.
Dessa forma, podemos ver como é importante realizar a anamnese no doente sempre que se
medica com um ISRSs, pois é fundamental a clareza de todos os medicamentos que serão
utilizados, uma vez que, se o ISRS é inibidor do citocromo que metaboliza um fármaco, ocorrerá
aumento da concentração sérica deste.
Grupo
farmacológico/alimento/fumo Exemplos Interação e efeitos
Como o próprio nome já sinaliza, esses fármacos atuam modulando a neurotransmissão que
envolve neurotransmissores adrenérgicos. Nesse caso estão os neurotransmissores
monoaminérgicos noradrenalina e dopamina. O protótipo desse grupo farmacológico é
representado pelo fármaco bupropiona. Com relação à farmacologia, ele atua inibindo as bombas
de recaptura de noradrenalina e dopamina.
Na dose de 37,5 mg, ele inibe somente a bomba de recaptura de serotonina; na de 75 mg, inibe as
bombas de recaptura de serotonina e noradrenalina; e, na de 150 mg, inibe as bombas de
recaptura das três monoaminas: serotonina, noradrenalina e dopamina. Esse fato é interessante
no estabelecimento da farmacoterapia, por possibilitar uma relação dose-dependente de efeito,
ou seja, à medida que a dose aumenta, há agregação de outro mecanismo de ação.
Como o próprio nome do grupo farmacológico sinaliza, esses fármacos inibem a bomba de
recaptura de serotonina e, além disso, antagonizam o receptor 5HT2A. O bloqueio desse receptor
serotoninérgico impede o efeito colateral devido à ativação dele por aumento de serotonina –
como abordado na seção sobre antidepressivos inibidores seletivos da recaptura de serotonina
(ISRSs) – denominado anorgasmia.
Inserido nesse grupo farmacológico, está o fármaco trazodona. Ele também apresenta
propriedade anti-histamínica e antialfa-adrenérgica. Por esses outros mecanismos de ação, a
trazodona causa sedação e priapismo, relacionados respectivamente com essas propriedades. A
dose mínima terapêutica por dia é 50 mg, podendo ser empregados até 150 mg por dia.
O lítio foi utilizado pela primeira vez por Cade em 1949 no tratamento de pacientes psiquiátricos.
Alguns anos depois, Schou et al. (1954) comprovaram a eficácia dessa substância para o
tratamento de pacientes maníacos e para a profilaxia do TMD. Foi o primeiro fármaco aprovado
pela Food and Drug Administrationpara o tratamento do TBP, sendo utilizado há mais de 50 anos
para o tratamento da fase aguda e a manutenção da doença. É o único medicamento com
propriedades estabilizadoras de humor comprovadas.
O efeito terapêutico do lítio está intimamente relacionado a suas concentrações séricas. Níveis
séricos elevados (1,06 mmol/L) promovem a melhora de sintomas maníacos em 73% dos
pacientes; com níveis moderados (0,94 mmol/L), 57% dos pacientes apresentam melhora dos
sintomas; e, em níveis séricos baixos (0,43 mmol/L), essa melhora diminui para 39%. Apesar de
apresentar efeito antimaníaco considerável, este ocorre com latência de 7 a 14 dias com
concentrações séricas elevadas, aumentando o risco de efeitos adversos e até mesmo de
redução da adesão ao tratamento (ROSA et al., 2006).
A monitorização sérica de lítio faz-se necessária devido à toxicidade gerada e ao perfil de efeitos
colaterais, que comprometem a eliminação de fármacos. Além disso, pode-se acompanhar e
conhecer a concentração plasmática para se determinar, de maneira adequada, o estado de
equilíbrio estável de lítio e, posteriormente, proceder de maneira mais precisa ao ajuste de dose e
o estabelecimento do esquema terapêutico. Assim, o reajuste de dose deve ser garantido a partir
do pleno conhecimento da concentração sérica de lítio, o que também corrobora a necessidade
de individualização do tratamento, principalmente porque esse fármaco apresenta baixo índice
terapêutico (baixa margem de segurança).
Existem evidências também de que o lítio aumenta os níveis de GABA e promove up regulation
nos receptores GABAérgicos hipocampais. Com um baixo índice terapêutico, esse fármaco
ocasiona muitos efeitos adversos que podem ser indícios de intoxicação por ele.
O tratamento com lítio está associado de início a um aumento transitório da excreção de 17-
hidroxicorticosteroides, sódio, potássio e água, porém esses efeitos não se mantêm além de 24
horas. Nos primeiros dias, a excreção de potássio normaliza-se, há retenção de sódio, e pode
aparecer edema pré-tibial. Associou-se a retenção de sódio com o aumento da secreção de
aldosterona, respondendo à administração de espironolactona. Ela, bem como o edema,
desaparece espontaneamente em alguns dias.
O comprometimento da função tireoidiana é esperado com a utilização de lítio. Para tanto, deve
haver monitorização constante do funcionamento da tireoide antes de começar o tratamento
(para o estabelecimento da dose a ser administrada) e durante seu curso. As alterações no
funcionamento da tireoide acontecem porque o lítio diminui ou inibe o AMPc necessário à
regulação do TSH (GILMAN et al., 2010). Desse modo, são observados efeitos adversos
endócrino-metabólicos, como: aumento de peso, fadiga, lentidão de movimentos, sonolência,
fraqueza muscular, náuseas, tonturas, dentre outros.
Sintomas como tremores, náuseas, diarreia e vômitos podem ser indícios de intoxicação por lítio.
Por esse motivo, a monitoração sérica é necessária, pois permite o ajuste da dose para o
paciente e evita a ocorrência desse problema.
Já em intoxicação aguda, os sintomas mais comuns observados são vômitos, diarreias, tremor
grosseiro, ataxia, coma e convulsões. Os efeitos mais graves de intoxicação envolvem o SNC e
compreendem confusão mental, hiper-reflexia, tremores grosseiros, disartria, convulsões,
podendo evoluir para coma e óbito. Arritmias cardíacas, hipotensão e albuminúria também
podem ocorrer.
Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
"https://player.vimeo.com/video/767337475".
3. Farmacologia e farmacoterapia de distúrbios psicóticos
A psicose é uma síndrome, ou seja, é caracterizada por um conjunto de sintomas, podendo estar
associada a muitos transtornos psiquiátricos diferentes. De acordo com o DSM-IVR ou CID-10,
não é considerada transtorno psiquiátrico isoladamente. Nesse contexto, psicose é sinônimo de
delírios e alucinações, incluindo sintomas como discurso e comportamento desorganizados e
distorções grosseiras na avaliação da realidade. Assim, ela pode ser considerada por um
conjunto de sintomas no qual o indivíduo apresenta prejuízo da capacidade de reconhecer a
realidade, comunicar-se e relacionar-se com os outros, além de prejuízo da capacidade mental
aliada a resposta afetiva baixa (STAHL, 2009).
A doença que apresenta a psicose como característica definidora é a esquizofrenia. Esta é uma
patologia crônica do SNC, caracterizada por denominados sintomas positivos, como: delírios,
alucinações auditivas, ilusões, agitação extrema podendo estar associada a crises agressivas,
comportamentos destrutivos, desagregação do pensamento; e sintomas negativos, tais como:
dificuldade de julgamento e de atenção, desorganização do pensamento, embotamento afetivo e
falta de motivação. De acordo com recente revisão da Organização Mundial da Saúde, a taxa de
prevalência é de aproximadamente 1% da população mundial.
Outro fator importante que influencia o efeito farmacológico dos antipsicóticos, bem como a
adesão ao tratamento, são as consideráveis interações medicamentosas, uma vez que é comum
a associação de vários fármacos à terapêutica antipsicótica. Para tanto, o desenvolvimento de
novos antipsicóticos tem por objetivo, entre outros aspectos, a diminuição de efeitos colaterais e
de interações farmacológicas.
Videoaula - Antipsicóticos típicos
Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
"https://player.vimeo.com/video/767337580".
Tais propriedades denotam efeitos colaterais produzidos por esses antipsicóticos, também
chamados de típicos, como ganho de peso, sedação, hipotensão ortostática, cicloplegia,
constipação intestinal, dentre outros. Curiosamente, a propriedade antidopaminérgica somente
foi elucidada nas décadas de 1960 e 1970, em especial o bloqueio do receptor de dopamina-2
(D2). O Quadro 4 mostra alguns antipsicóticos típicos utilizados no Brasil, com a respectiva
farmacoterapia.
Quadro 4 - Esquema terapêutico por dia ou semana de antipsicóticos típicos para adultos
Levomepromazina Iniciar com 25 mg a 50 mg, três vezes ao dia, aumentando gradativamente até a dose
de 150 mg a 250 mg. Em solução oral, as doses variam de 50 mg a 200 mg até 1 g a 2
g/dia. As gotas devem ser diluídas em água açucarada e nunca instiladas
diretamente na língua. Em geral, inicia-se o tratamento com 150 mg/dia,
aumentando-se progressivamente até 600 mg/dia.
Flufenazina A dose inicial por via oral é de 2,5 mg a 10 mg ao dia, dividida entre seis e oito horas,
devendo ser aumentada gradativamente conforme a necessidade. A dose de
manutenção por via oral é de 1 mg a 5 mg por dia em dose única ou dividida. A dose
máxima por dia para adultos é de 20 mg.
Pipotiazina Por via oral, a dose é de 10 mg a 20 mg por dia, em uma única administração. Por via
intramuscular (ação rápida), 10 mg a 20 mg/dia em uma ou duas administrações. Por
via intramuscular (ação lenta), pode variar entre 25 mg e 200 mg, embora as doses
habituais sejam de 50 mg a 100 mg; em geral, a administração é realizada a cada
quatro semanas.
Haloperidol A dose inicial é de 0,5 mg a 2 mg, duas a três vezes ao dia, podendo ser aumentada
gradativamente em função da resposta terapêutica e da tolerância. A dose de
manutenção está entre 1 mg e 15 mg ao dia, devendo ser reduzida até o mais baixo
nível de efetividade.
Fármaco Esquema terapêutico
Sulpirida Para os estados neuróticos depressivos: 100 mg a 200 mg (duas a quatro doses de 50
mg) ao dia, administrados em duas tomadas diárias (manhã e noite). Para as
síndromes vertiginosas: 150 mg a 300 mg ao dia, em duas tomadas. Para quadros de
esquizofrenia: 400 mg a 800 mg ao dia, em duas tomadas. Para quadros intensos de
surto psicótico, a dose é 400 mg, duas vezes ao dia, com aumento de até 1.200 mg ao
dia, se necessário.
Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
"https://player.vimeo.com/video/767337916".
Com relação à eficácia, um estudo randomizado envolvendo 2.589 pacientes constatou que, em
um período de 7 a 24 meses, houve maior abandono de tratamento com os antipsicóticos típicos
haloperidol e clorpromazina, comparados com clozapina (antipsicótico atípico). O mesmo estudo
também confirmou eficácia similar em um período de 4 a 10 semanas. Esses dados referem-se
ao tratamento de surto agudo (WAHLBECK; CHEINE; ESSALI, 2004).
A relativa falta de efeitos extrapiramidais indica que a risperidona, por sua vez, apresenta melhor
perfil de efeitos adversos do que os antipsicóticos típicos (CHOUINARD et al., 1993; MARDER;
MEIBACH, 1994).
Diante de reduzida adesão ao tratamento com fármacos administrados por via oral para ambos
(antipsicóticos típicos e atípicos), uma alternativa são as injeções intramusculares de
antipsicóticos típicos (por exemplo: decanoato de bromoperidol, haloperidol e flufenazina) ou do
antipsicótico atípico risperidona, permitindo também maior intervalo de tempo entre as doses
administradas.
Estudos demonstram que ambos, típicos e atípicos, são eficazes para quadros de psicose, sendo
os atípicos superiores em quadros agudos de surtos psicóticos, assim como em tratamento de
manutenção, considerando o menor perfil de efeitos colaterais.
Videoaula - Ansiolíticos
Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
"https://player.vimeo.com/video/767338157".
4. Farmacologia e farmacoterapia da ansiedade
A ansiedade é uma emoção normal em situações de ameaça, sendo considerada parte da reação
evolutiva de sobrevivência chamada de reação de “fuga ou luta”. Embora pareça normal ficar
ansioso quando um animal feroz está atacando, até sendo considerada uma adaptação, há
várias situações em que a presença da ansiedade é uma má adaptação e constitui um transtorno
psiquiátrico (STAHL, 2009).
Os primeiros fármacos introduzidos na década de 1960 com atividade ansiolítica, ainda muito
empregados para ansiedade, são denominados benzodiazepínicos (BZDs). O primeiro fármaco
BZD foi aprovado no início da década de 1960, o conhecido clordiazepóxido. Devido à ausência
de outro tipo de tratamento farmacológico, a adesão da classe médica à prescrição de fármacos
desse grupo foi rápida, justificada pela eficácia das propriedades: ansiolítica, hipnótica e
miorrelaxante (BERNIK et al., 1991; SILVA, 1999).
Os fármacos ansiolíticos BZDs foram extensivamente utilizados de maneira exagerada, uma vez
que os diagnósticos de neurose de ansiedade e transtorno de ansiedade generalizada foram
amplamente aplicados na década de 1960 (STAHL, 2009). O reflexo da má utilização desses
fármacos foi observado em pacientes portadores de depressão, que eram diagnosticados como
ansiosos. A utilização por tempo prolongado de benzodiazepínicos, aliada ao diagnóstico
incorreto, gerou décadas de pacientes dependentes, uma vez que, sabidamente, esses fármacos
causam dependência.
Nesse contexto, o transtorno de pânico foi diferenciado do TAG, e, por conseguinte, a fobia social
foi conceitual e sintomatologicamente separada daquele. Somado a isso, o transtorno
obsessivo-compulsivo e o transtorno de estresse pós-traumático foram diferenciados do TAG.
Há também a ansiedade de curta duração, causada por estresse, que desaparece em poucos
meses. A fragmentação conceitual, embasada em manifestações clínicas diagnosticadas,
resultou na caracterização de TAG por um diagnóstico residual, ou seja, ansiedade incapacitante
que não é causada por nenhuma das outras síndromes de transtornos de ansiedade conhecidos.
Dentro da base biológica, a explicação fundamental envolve o neurotransmissor denominado
ácido gama aminobutírico (GABA). A redução de neurotransmissão gabaérgica justifica quadros
de ansiedade. Aliado a essa falta de neurotransmissão, denotando menor potencial inibitório
pós-sináptico (PIPS), está também o excesso de excitabilidade neuronal ou potencial excitatório
pós-sináptico (PEPS), causado, por exemplo, por noradrenalina. Compondo a base para
depressão e ansiedade mistas (DAM), por entendimento de que ambas as patologias estão
relacionadas e crescem no estilo de vida moderno, está o neurotransmissor serotonina.
Nesse caso, a falta de serotonina para se ligar ao receptor 5HT1A explica o misto entre
ansiedade e depressão em manifestações sintomatológicas. Associar a farmacologia com essa
base biológica sem dúvida compõe o ponto de partida da farmacoterapia que deve ser
estabelecida.
Iniciando com os clássicos fármacos utilizados para ansiedade, os BZDs, como mencionado
acima, temos o primeiro mecanismo de ação, bem conhecido há tempos. Os BZDs atuam como
agonistas do receptor GABA A pós-sináptico, potencializando a ação do GABA nele. Na verdade,
os BZDs causarão uma modulação alostérica nesse receptor, de modo que o PIPS acontecerá
por tempo prolongado. Devido à propriedade agonista no receptor GABA A, ocorrerá abertura de
canais do íon cloreto, conduzindo ao aumento deste no neurônio pós-sináptico, com
consequente hiperpolarização, e, portanto, PIPS. A esse mecanismo atribui-se o efeito ansiolítico
produzido pelos fármacos BZDs. Do ponto de vista farmacológico, assume-se propriedade
sedativa e hipnótica deles.
Diazepam A dose é de 5 mg a 20 mg/dia. Normalmente, a dose oral única não deve ser superior a
10 mg.
Alprazolam A dose inicial é de 0,25 mg até 0,5 mg, administrada até três vezes ao dia. Os limites da
dose habitual são 0,5 mg até 4,5 mg ao dia, em doses divididas na administração diária.
Clonazepam A dose é de 0,25 mg a 4 mg ao dia. Em geral, a dose recomendada deve variar entre 0,5 a
1,5 mg/dia (dividida em três vezes).
Triazolam A dose recomendada é de 0,25 mg à noite (antes de dormir). Uma dose de 0,125 mg
pode ser eficaz para alguns pacientes que exibem baixo peso. A dose de 0,5 mg deve
ser usada em casos excepcionais de pacientes que não respondem à administração da
dose recomendada. Não se deve exceder a dose de 0,5 mg.
Clobazam A dose inicial usual é de 20 mg por dia. Se houver necessidade, pode ser aumentada
para 30 mg/dia.
Flunitrazepam A dose recomendada é de 0,5 mg a 1 mg por dia. Em casos excepcionais, pode ser
elevada a até 2 mg.
Ainda falando de fármacos BZDs, inserido como ansiolítico está o fármaco midazolam. Este,
porém, é empregado para sedação associada a procedimentos pré-cirúrgicos, assim como para
finalidade diagnóstica (por exemplo: antes de endoscopia) e também em associação ao
analgésico opioide fentanil (em esquemas terapêuticos de indução de coma, para reduzir
pressão intracraniana, por exemplo).
Farmacologia e farmacoterapia às doenças
5.
neurodegenerativas
(1) placas neuríticas (ou senis), que contêm depósitos extracelulares de proteína β-amiloide (APP) e
de proteínas Tau hiperfosforiladas. Essas lesões clássicas podem ocorrer de maneira independente
mutações nos genes codificadores para a APP [Amyloid b (A4) precursor protein], apoE (apolipoprotein
estabelecimento da DA. Esses genes localizam-se em diferentes cromossomos e pelo menos alguns
deles devem participar de uma via neuropatogênica comum, que culmine com o desencadeamento
da doença. Esses quatro genes são, até o dia de hoje, os mais importantes e mais consistentes
marcadores para a DA. No entanto, as alterações nos mesmos não são suficientes nem necessárias
Tabela 3 - Farmacoterapia à doença de Alzheimer, com esquema terapêutico diário e respectivas doses
Fármaco Dose (mínima até a máxima/dia) Esquema terapêutico diário
Estudos apontam benefícios adicionais de: (1) estrógeno, por sugerir que 17-beta-estradiol pode
atenuar a neurotoxicidade promovida por beta-amiloide; (2) anti-inflamatórios esteroides (AIEs)
por exercerem efeito neuroprotetor, modificando a patogênese e o risco de doença de Alzheimer,
porque fenômenos inflamatórios ocorrem secundariamente ao longo da maturação e nas
adjacências de placas senis (ou neuríticas), como parte da cascata do beta-amiloide; (3)
estatinas, a partir de estudos que demonstram uma interdependência entre o metabolismo do
colesterol e a via metabólica do beta-amiloide; (4) ginkgo-biloba, por conter glicosídeos de
ginkgoflavonas e terpenoides, cuja ação combinada promove aumento do suprimento sanguíneo
cerebral, além de reduzir a densidade de radicais livres de oxigênio nos tecidos nervosos
(FORLENZA, 2005).
As perspectivas de tratamento são motivadas por estudos de fármacos com propriedade
antiamiloide, em especial devido à descoberta de um gene raro, associado à mutação na doença
de Alzheimer, que demonstra uma proteção contra o desenvolvimento dela. O gene descoberto
protege contra a produção do peptídio beta-amiloide (principal etiologia da doença de
Alzheimer), por interferir em enzima que catalisa a proteína precursora de beta-amiloide (APP),
conduzindo a menor formação desse peptídio com potencial neurodegenerativo. Essa
descoberta teve maior impacto em população estudada da Escandinávia (JONSSON et al., 2012).
Mesmo sendo raro, esse fato compõe um interessante raciocínio para os estudos de
tratamentos, tanto para o desenvolvimento de fármacos antiamiloides e de novas estratégias de
moléculas associadas à estrutura desse gene quanto para a formulação de fármacos que sejam
semelhantes (análogos estruturais) a ele.
Videoaula - Parkinson
Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
"https://player.vimeo.com/video/767338595".
Como a dopamina administrada por via oral não ultrapassa a barreira hematoencefálica, o
fármaco levodopa é utilizado. Ele competirá com dopa, resultando na formação de levodopamina,
mas há o inconveniente relacionado com esse fármaco, que apresenta variados efeitos adversos.
Nesta seção, será apresentada a farmacoterapia da DP para acentuar e discutir a eficácia dos
fármacos, já que, na prática neurológica, o tratamento é marcado por uma série de controvérsias,
tanto no emprego quanto na indicação, somadas ao fato de que os fármacos não curam a
doença.
Bromocriptina Agonista de receptores Dose inicial de 1,25 mg à noite durante a primeira semana.
dopaminérgicos. Aumentar para 2,5 mg à noite na segunda semana. Na
semana seguinte, para 2,5 mg duas vezes ao dia, passando
para 2,5 mg três vezes ao dia. Dependendo da resposta,
aumentar 2,5 mg semanalmente. A dosagem terapêutica
média, tanto em monoterapia quanto em tratamento
combinado, é de 10 mg a 40 mg por dia.
Admite-se que células T ativadas por autoantígeno ainda não determinado, passam da periferia para
A disfunção do sistema imunológico resulta no ataque do corpo ao seu próprio tecido nervoso.
As células T são ativadas e desencadeiam esses ataques. Normalmente, essas células estão
envolvidas em defender o corpo contra agentes infecciosos externos, como os vírus e as
bactérias. As células T altamente estimuladas no cérebro são responsáveis pelo dano à bainha
de mielina, pois elas também ativam outras células de defesa, chamadas macrófagos. Estes
“consomem” as bainhas de mielina que envolvem os neurônios. O resultado é que surgem
buracos na mielina, os quais provocam uma transmissão mais lenta dos impulsos ao longo das
vias de fibras nervosas. Essa transmissão mais lenta gera os sintomas comumente observados
na EM (GOLD; RIECKMANN, 2000).
A esclerose múltipla acomete jovens de 20 a 40 anos, com maior incidência no sexo feminino e
população branca.
Geograficamente incide com maior prevalência nas regiões situadas entre os paralelos 44 e 64 N,
sendo consideradas áreas de alta prevalência aquelas com número de casos acima de 30/100.000
habitantes, média prevalência áreas com número de casos entre 5 a 30/100.000 habitantes e baixa
prevalência com número de casos inferior a 5/100.000 habitantes. O Brasil é considerado um país de
baixa prevalência da EM, existindo contudo regiões que apresentam média incidência, como
demonstram estudos em cidades como São Paulo, Belho Horizonte e Botucatu. Especula-se que essa
diferença entre as diversas regiões do Brasil decorra em parte de nossa diversidade genética e de
mielina (peptídeos da proteína básica da mielina) apresentadas por moléculas do complexo maior
Os interferons são proteínas produzidas por quase todas as células de vertebrados e atuam na
função celular e na imunorregulação, sendo utilizadas em várias doenças como lúpus eritematoso
atividade clínica recorrente ou contínua, sugerindo que ela pudesse estar relacionada à persistência
ou latência de um vírus no SNC. Este fato motivou o uso de interferons na doença, uma vez que este
Foram realizadas tentativas terapêuticas nos anos 50, em pacientes com EM tratados com o
para os surtos de EM (exacerbações agudas). Todavia, atualmente não é mais utilizado (MORALES et
O benefício do tratamento deve ser demonstrado com a redução da gravidade e da duração dos
surtos, bem como uma diminuição discreta de espasmos. Portanto, esse AIE representa um
positivo tratamento para os surtos, porém não para a terapia contínua. AIEs devem ser avaliados
como tratamentos contínuos com cuidado, devido às conhecidas reações adversas associadas a
esses fármacos, com: osteoporose (devido à inibição de osteoblastos e ativação de
osteoclastos), desgaste muscular, bem como ganho de peso, conduzindo a quadros de
obesidade (DOWLING; BOSCH; COOK, 1980).
A terapia por longo prazo com AIEs administrados em baixas doses não é recomendada. Com o
propósito de
também na forma de comprimidos é adotada por alguns neurologistas, considerado eficaz durante
um surto. No entanto, há escassos estudos controlados que corroboram esse achado (DOWLING;
O uso de imunoglobulina endovenosa (0,15-0,2 g/kg) por dois anos também apresentou como
resultado em alguns estudos a redução da taxa anual de surtos, porém nenhuma diferença foi
observada com relação à progressão da doença (MOREIRA, 2002).
Outro tratamento para EM, ainda não muito acessível e em fase de estudos quanto aos
potenciais benefícios, é o transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH).
sucesso desta abordagem terapêutica foi evidenciado em modelos animais de doença autoimune e
em pacientes portadores de EM. Em 1996 foi feito o primeiro transplante isolado na Suíça e, a partir
Para tanto,
é necessário conhecer bem o papel da célula tronco hematopoética infundida, desde a escolha do
melhor tipo de transplante (auto, alo ou minialo), passando pela necessidade de depleção de células
2002, p. 10).
Estudos têm demonstrado também que, além da terapia medicamentosa apropriada de acordo
com a fase da doença na EM, mudanças da dieta podem auxiliar na melhora da qualidade de vida
desses pacientes. De acordo com Dworkin et al. (1984), os ácidos graxos essenciais são aquelas
gorduras de que o corpo necessita para a manutenção da saúde, mas é incapaz de produzir, por
isso devem ser obtidas da dieta. Os autores ainda destacam
O ácido linoleico é o mais amplamente usado desses ácidos graxos essenciais e está presente em
grandes quantidades no óleo de prímula e no óleo de starflower. Ele é chamado ácido graxo da série
ômega-6, com o 6 referindo-se ao local em que é encontrada a ligação não saturada. Outro tipo de
ácido graxo essencial é a série ômega-3, encontrada nos óleos de peixe e no óleo de linhaça. Há
evidências de que esses ácidos graxos essenciais podem alterar a resposta inflamatória nas
Por outro lado, há pacientes que perdem peso, o que pode estar relacionado à desnutrição. Isso
aumenta a vulnerabilidade a infecções (PAYNE, 2001). A perda de peso e a desnutrição são
consequências motivadas por: mobilidade reduzida, deficiência de visão e fadiga, aliadas aos
problemas físicos no ato de se alimentar causados por tremores, por exemplo.
De acordo com o Projeto Diretrizes da Associação Médica Brasileira e do Conselho Federal de
Medicina, excluindo-se a forma progressiva primária da EM, bem como a remissão caracterizada
como doença muito avançada e mulheres em que a possibilidade de concepção não pode ser
controlada, a farmacoterapia é estabelecida com os fármacos interferon beta 1b (injeção
subcutânea) e interferon beta 1a (administração subcutânea e administração intramuscular).
Interferon beta 1a 12 MUI por via subcutânea, três vezes por semana.
Interferon beta 1a 6 MUI por via intramuscular, uma vez por semana.
De acordo com Martins e Silva (2010), a enxaqueca é uma doença multifatorial, com participação
neuronal e vascular, manifestada em processos crônicos ou agudos. As respostas de
neurotransmissores não se restringem a um único sistema neuronal, mas estendem-se a vários
como o serotoninérgico, adrenérgico, glutamatérgico e dopaminérgico. Conforme destacado, no
componente multifatorial, estão incluídas as seguintes possibilidades de fatores: alimentos,
alterações hormonais, utilização de análogos a hormônios, calor ou frio excessivo, longo tempo
de jejum, insônia, alterações do ciclo circadiano, estresse, poluição, ruídos, odores intensos,
fatores genéticos, dentre outros.
Para Olesen, Larsen e Lauritzen (1981; p. 346), “a ideia de que a aura (fenômeno neurológico
focal de natureza principalmente visual, que usualmente antecede a fase dolorosa na crise de
enxaqueca) surge devido à vasoconstrição; e a dor, devido à vasodilatação”.
A Figura 4 busca ilustrar conexões neuronais envolvendo não somente neurotransmissores nos
mecanismos implicados na dor produzida na enxaqueca.
A Tabela 5 aponta grupos farmacológicos e fármacos que podem ser usados para enxaqueca,
valendo relembrar que não são exclusivos para essa patologia. Pode-se notar também o grau ou
a intensidade do efeito e das reações adversas.
Betabloqueadores 4+ 2+
Antisserotoninérgicos
Pizotifeno 4+ 2+
Metisergida 4+ 4+
Verapamil 2+ 1+
Flunarizina 4+ 2+
Antidepressivos
IMAOs 4+ 4+
ADTs 4+ 2+
ISRSs 2+ 1+
Anticonvulsivantes
Divalproato/valproato 4+ 2+
Gabapentina 2+ 2+
Topiramato 4+ 2+
A estratégia terapêutica da obesidade tem passado por profundas modificações nos últimos
anos. Esse fato associa-se às inúmeras discussões que permeiam a obesidade, em especial ao
princípio há muito adotado de estímulo ao efeito anorexígeno. O adequado planejamento de
reeducação alimentar, tido como superior às dietas tradicionais, representa a ideal possibilidade
de tratamento não farmacoterápico. Vale destacar a importância da atividade física, que deve ser
estabelecida de acordo com a aptidão física de cada indivíduo.
De acordo com Fortes et al. (2006), “a obesidade é um fator predisponente para diversas
enfermidades, tais como: câncer, calculose biliar, doenças respiratórias e ósteo-articulares,
hipertensão arterial, dislipidemia, resistência à insulina, diabetes, além de estar associada a
efeito negativo na saúde reprodutiva”.No Brasil, grande número de mortes prematuras entre
adultos é causado por estas morbidades (MARTINS et al, 1993).
Todavia, o uso desse fármaco está contraindicado para: pacientes portadores de DM2 associado
a outro fator de risco, como hipertensão ou dislipidemia; indivíduos com idade acima de 65 anos
ou adolescentes; pacientes que utilizam concomitantemente algum fármaco que atua no sistema
nervoso central; e pacientes com precedente de alguma doença coronariana. Por essa razão,
notamos como é importante a estabilidade de alterações metabólicas evidenciadas na síndrome
metabólica.
De acordo com Cunha, Scola e Werneck (1999), a miastenia gravis (MG) é uma enfermidade que
acomete as junções neuromusculares, com demonstração sintomática de fadiga excessiva.
Fármacos que inibem a enzima colinesterase são utilizados e colaboram com a melhora dos
sintomas. Todavia, com o tempo, eles deixam de produzir efeito. Isso ocorre porque a MG é uma
doença autoimune, na qual, nas junções neuromusculares, os receptores colinérgicos são
bloqueados e destruídos por anticorpos antirreceptores de acetilcolina.
MG é causada por anticorpos antirreceptores de acetilcolina, em grande parte dos portadores desta
doença. Nos anos 70 foi estabelecido o papel destes anticorpos na etiologia de MG, uma vez que a
plasmaférese comprovou eficácia na remoção dos anticorpos e ocasionou melhora dos sintomas por
Consideravelmente, toda doença autoimune acaba afetando outros sistemas além dos
relacionados à enfermidade. Por exemplo, é comum em processos autoimunes a destruição de
tireoglobulina, motivo pelo qual o paciente começa a apresentar distúrbios da tireoide: primeiro,
exibe um quadro de hipertireoidismo, e após, de hipotireoidismo. Vale destacar que podem
ocorrer concomitantemente com MG: lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, aplasia de
células vermelhas, colite ulcerativa, síndrome de Sjögren e doença de Addison (AMATO; RUSSEL,
2008).
Piridostigmina A dose recomendada é de 30-60 mg, por via oral, a cada seis horas. A dose deve ser
gradualmente ajustada diante do controle de sintomas miastênicos e redução dos
efeitos adversos. A maioria dos adultos necessita de 60-120 mg a cada 4-6 horas.
Prednisona Dois esquemas são recomendados: (1) iniciar com altas doses matinais diárias, por via
oral, por duas semanas e, a seguir, utilização alternada até o controle pleno dos
sintomas. Após esse período, deve-se diminuir 5 mg a cada 2-3 semanas. Nessa fase,
caso haja recidiva, considera-se associação com outro imunossupressor; (2) iniciar
com doses baixas (15-20 mg/dia) com aumento gradual (5 mg a cada 2-4 dias) até
melhora dos sintomas. O primeiro esquema é preferido nos casos moderados a graves;
o segundo, nos casos generalizados leves ou puramente oculares refratários. Embora
ambos os esquemas terapêuticos estejam associados à piora transitória da força
muscular (10%-30% dos casos), esse efeito adverso é minimizado pelo aumento gradual
da dose desse fármaco.
Azatioprina Iniciar com dose de 50 mg/dia, por via oral, com aumento gradual durante 1-2 meses
até 2-3 mg/kg/dia.
Ciclosporina Iniciar com 3-4 mg/kg/dia, por via oral, em duas doses, com aumento gradual de 6
mg/kg/dia, se necessário, para o controle dos sintomas. Após melhora com dose
máxima, deve-se diminuir a dose ao longo de meses até a mínima tolerável.
Ciclofosfamida Pulsoterapia intravenosa mensal com 500 mg/m2 de superfície corporal por 12 meses.
Fármaco Esquema terapêutico
Imunoglobulina A melhor evidência de eficácia é demonstrada na dose de 1 g/kg de peso por três dias
humana consecutivos, sendo essa a dose recomendada para este protocolo.
Baixas doses de fármacos antagonistas colinérgicos suprimem a secreção salivar e brônquica, além
de suprimir também a transpiração. As pupilas se dilatam com doses mais altas, ocorre inibição da
acomodação do cristalino para a visão de perto e bloqueio dos efeitos vagais sobre o coração,
gastrintestinal é inibido por doses ainda maiores, resultando na inibição da micção e redução do
necessárias doses ainda maiores. Por esta razão, atropina e a maioria dos anticolinérgicos
maneira dose-dependente, a acomodação ocular, a micção e a secreção salivar. (GILMAN et al., 2010;
p. 108).
Dose Efeitos
0,5 Redução discreta de frequência cardíaca; leve ressecamento da boca; inibição da transpiração.
mg
1 mg Ressecamento da boca; sede; aceleração do coração, algumas vezes precedida por redução da
frequência cardíaca; dilatação pupilar suave.
2 mg Frequência cardíaca rápida; palpitação; ressecamento acentuado da boca; pupilas dilatadas; leve
turvamento da visão para perto (leve cicloplegia).
10 Todos os sintomas acima relatados, todavia, mais acentuados; pulsação rápida; íris praticamente
mg e fechada; visão muito embaçada (cicloplegia); pele ruborizada, quente, ressecada e escarlate;
mais ataxia, agitação e excitação; alucinações e delírio; coma.
Conforme mencionado, esse fármaco deve ser administrado via inalatória por nebulização da
solução diluída em 3-5 mL de solução salina (NaCl 0,9%), utilizando-se oxigênio ou ar
comprimido, e inalada até finalizar a solução. A solução deve ser diluída sempre antes de cada
utilização.
Para o trato gastrintestinal, embora não sejam fármacos de primeira escolha, existe o raciocínio
de utilização de anticolinérgicos em casos de gastrite e úlcera péptica, por causarem redução da
motilidade gástrica e da secreção ácida gástrica no estômago. Nesse contexto, o fármaco
pirenzepina, mais seletivo na inibição do receptor muscarínico M1 (receptor localizado no
estômago), é recomendado, para adultos, na dose de 50 mg a cada 12 horas. A dose máxima por
dia é de 150 mg, e, se necessário, para alguns pacientes pode haver uma modificação na
farmacoterapia, administrando-se 50 mg a cada oito horas.
A duração do tratamento é de quatro a seis semanas, podendo prolongar-se por até três meses
(em casos resistentes). Esse fármaco deve ser administrado em jejum, 30 minutos antes das
refeições. Ainda para o trato gastrintestinal, o fármaco hioscina pode ser utilizado para êmese
associada à cinetose na forma de adesivo transdérmico.
Para reduzir espasmos associados ao trato gastrintestinal, espasmos e discinesias das vias
biliares e espasmos do trato geniturinário, pode ser utilizado o fármaco anticolinérgico
escopolamina. O esquema terapêutico da escopolamina é estabelecido da seguinte forma: para
adultos e crianças (maiores de seis anos), a dose recomendada é de 10 mg 1-2 vezes ao dia; em
solução oral (10 mg/1 ml = 20 gotas) para adultos e crianças (maiores de seis anos),
recomendam-se de 20 a 40 gotas, 3-5 vezes ao dia. Já em crianças de um a seis anos,
recomendam-se de 10 a 20 gotas, três vezes ao dia e, em lactentes, 10 gotas, três vezes ao dia.
realizada com agentes de duração prolongada (MARIA; TARDELLI; RODRIGUES, 2004, p. 5).
succinilcolina produz fasciculações com contrações assincrônicas das fibras musculares, que
cessam com início da paralisia. A hipercalemia e aumento da pressão intracraniana são dois efeitos
Outro efeito é a bradicardia. O início de ação produzido por succinilcolina é extremamente rápido
(paralisia em menos de 1 minuto), com duração de 5 a 10 minutos, na dose de 1 a 2 mg/kg. Esta
propriedade é preferida na sequência rápida de intubação (McALLISTER; GNAUCK, 1999;
GERARDI et al., 1996; WALLS et al., 2000 apud AMANTÉA et al., 2003).
Todavia, succinilcolina pode causar hipertermia maligna, caracterizada por uma reação
metabólica potencialmente fatal, devido às alterações térmicas exacerbadas (hipertermia), dano
em célula muscular, hipercoagulabilidade e alterações no equilíbrio hidroeletrolítico.
O pancurônio, um relaxante muscular que apresenta um tempo de duração longo (ao redor de uma
A fibromialgia (FM) pode ser compreendida como uma síndrome clínica dolorosa associada a
outros sintomas, também denominada de síndrome da fibromialgia. De acordo com a Associação
Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, Projeto Diretrizes para Fibromialgia (2004, p.
3),
a síndrome da fibromialgia pode ser definida como uma síndrome dolorosa crônica, não
sintomas que se confundem com a depressão maior e a síndrome da fadiga crônica. Por estes
sistemas de resposta ao estresse, juntamente com suas interações com as disfunções neuro-
2012, p. 360).
Como não há uma clara explicação para os sintomas típicos de FM, a farmacoterapia é definida
tendo como referência os mecanismos explicitados nos parágrafos anteriores. Além disso, é
comum a associação de FM em pacientes com depressão ou ansiedade. Por essa razão, o
tratamento também visa melhorar sintomas depressivos e ansiosos, bem como a qualidade do
sono.
Embora o objetivo seja reduzir a dor, os AIEs não são recomendados como tratamento de
primeira escolha, apenas se a FM está associada com outros sintomas dolorosos de cefaleia e
dores articulares.
No Brasil, há dois dos três medicamentos aprovados pelo FDA (Food and Drug Administration)
para o tratamento da FM: pregabalina e duloxetina. A pregabalina é um modulador do canal de
cálcio, diminuindo a liberação de neurotransmissores excitatórios da dor nas terminações
nervosas, especialmente a substância P e o glutamato. Os estudos demonstram alívio
significativo de dor, fadiga, ansiedade e distúrbios do sono com esse fármaco. A duloxetina é um
inibidor da receptação da serotonina e da noradrenalina que também tem se mostrado eficaz na
redução da dor e na melhora da capacidade funcional na FM, independentemente da presença de
depressão.
Os antidepressivos tricíclicos, especialmente a amitriptilina e a ciclobenzaprina, tomados em dose
única duas a três horas antes de deitar, podem ser eficazes na melhora da dor e da qualidade do
Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
"https://player.vimeo.com/video/767338918".
Considerações finais
Diante da discussão acerca da farmacologia e da farmacoterapia ao SNC e ao SNA, pode-se
notar que há uma inter-relação direta ou indireta de enfermidades. A justificativa para esse fato é
corroborada pela localização tanto periférica como central de neurotransmissores. De modo
complementar, algumas doenças, por exemplo, a fibromialgia, estão fundamentadas de maneira
obscura, nesse caso com participação neuronal nos reflexos dolorosos periféricos. Por outro
lado, fármacos inicialmente estudados para atuar em junção neuromuscular e que conseguem
passar a barreira hematoencefálica são usados para doenças neurodegenerativas, inibindo a
enzima acetilcolinesterase, por exemplo, os anticolinesterásicos. Aqui aparece uma capacidade
considerada de precípua importância à discussão que permeia a relação SNC-SNA: a passagem
de moléculas pela barreira hematoencefálica.
Neste módulo, estudamos que antidepressivos são usados para tratar fibromialgia, mais uma vez
fortalecendo a relação SNC-SNA. De maneira complementar, as bases fisiopatológicas não estão
plenamente desvendadas, e a associação de fibromialgia em pacientes com depressão e
ansiedade é demonstrada.
A visão de que esses assuntos aqui tratados são ilimitados, com renovação contínua de
farmacoterapias, alimenta a necessidade de atualização e saber nessa área. Por essa razão, em
farmacologia clínica, a prática será ditada pelo conhecimento refinado de farmacologia e
farmacoterapia, aliada à consciência de que, em inúmeros momentos, as respostas do SNC
entrelaçam-se com as do SNA, sendo o contrário também é verdadeiro.
Autoria
Dra. Jaqueline Rocha Borges dos Santos
Autora
Possui graduação em Ciências Farmacêuticas (1999), mestrado em Farmacologia pela
Universidade Estadual de Campinas e doutorado em Farmacologia pela Universidade de São
Paulo. Realizou doutorado sanduíche na University of California - Santa Barbara (UCSB).
Realizou estágio de pós-doutorado na Universidad de Granada (UGR), Espanha, com atividades
desenvolvidas no Hospital Universitário Virgen de las Nieves; e na Universidade de São Paulo,
com estudo de modulação produzida por canabidiol no sistema dopaminérgico. Tem experiência
nas áreas de: Cuidado Farmacêutico, Farmacovigilância, Farmacologia, Farmacoterapia e
Farmácia Hospitalar; atuando principalmente nos seguintes temas: educação em saúde, uso
racional de medicamentos, sensibilização comportamental entre estresse e etanol, canabinoides,
distúrbios psiquiátricos, distúrbios endócrinos e interações medicamentosas.
AMANTÉA, S. L. et al. Acesso rápido à via aérea.Jornal de Pediatria (Rio de Janeiro), v. 79, supl. 2,
p. S127-38, 2003.
CALIL, H. M.; PIRES, M. L. N.; CASTEL, S. Síntomas de interrupción del tratamiento con
antidepresivos: enfoque de los inhibidores selectivos de la receptación de serotonina. Acta
Psiquiátrica y Psicológica de América Latina, v. 1, n. 1, p. 28-32, 1998.
CUNHA, F. M. B.; SCOLA, R. H.; WERNECK, L. C. Miastenia grave: avaliação clínica de 153
pacientes. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, São Paulo, v. 57, n. 2B, p. 457-64, 1999.
DAVIDSON, R J. et al. Neural and behavioral substrates of mood and mood regulation. Biological
Psychiatry, v. 52, n. 6, p. 478-502, 2002.
DESHAUER, D. et al. Selective serotonin reuptake inhibitors for unipolar depression: a systematic
review of classic long-term randomized controlled trials. Canadian Medical Association Journal,
v. 178, n. 10, p. 1293-301, 2008.
DOWLING, P. C.; BOSCH, V. V.; COOK, S. D. Possible beneficial effect of high-dose intravenous
steroid therapy in acute demyelinating disease and transverse myelitis. Neurology, v. 30, v. 7 pt. 2,
p. 33-6, 1980.
DRACHMAN, D. B. Myasthenia gravis. New England Journal of Medicine, v. 330, n. 25, p. 1797-
810, 1994.
DWORKIN R. H. et al. Linoleic acid and multiple sclerosis: a reanalysis of three double-blind trials.
Neurology, v. 34, n. 11, p. 1441-5, 1984.
FORTES, R. C. et al. Orlistat e sibutramina: bons adjuvantes para a perda e manutenção de peso?
Revista de Nutrição Clínica, v. 21, n. 3, p. 244-51, 2006.
GILMAN, A. G. et al. The pharmacological basis of therapeutics. 12nd ed. New York: McGraw-Hill,
2010.
GOLD, R.; RIECKMANN, P. Pathogenese und Therapie der Multiplen Sklerose. Bremen: Uni-Med
Verlag, 2000. 109 p.
GOODIN, D. S. et al. Disease modifying therapies in multiple sclerosis. Report of the Therapeutics
and Technology Assessment Subcommittee of the American Academy of Neurology and the MS
Council for Clinical Practice Guidelines. Neurology, v. 58, n. 1, p. 69-178, 2002.
GUYTON, A. C; HALL, J. E. Fisiologia humana e mecanismos das doenças. 6ª ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
JOY, C. B.; ADAMS, C. E.; LAWRIE, S. M. Haloperidol versus placebo for schizophrenia. The
Cochrane Library, v. 2. Oxford: Update Software, 2002.
JONSSON, T. et al. A mutation in APP protects against Alzheimer’s disease and age-related
cognitive decline. Nature, v. 488, n. 7409, p. 96-9, 2012.
KOROLKOVAS, A.; FRANÇA, F. F. A. C. Dicionário Terapêutico Guanabara: edição 2012/ 2013. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
KRYMCHANTOWSKI, A. V.; RAPOPORT, A. M.; JEVOUX, C. C. The future of acute care and
prevention of headache. Neurological Sciences, v. 28, Suppl. 2, p. S166-78, 2007.
MARCOLIN, F. Interações farmacológicas com drogas psiquiátricas. Rio de Janeiro: Medsi, 1998.
MOTA DE FREITAS, D.; CASTRO, M. M.; GERALDES, C. F. Is competition between Li+ and Mg2+ the
underlying theme in the proposed mechanisms for the pharmacological action of lithium salts in
bipolar disorder? Accounts of Chemical Res [http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16618096]
earch, v. 39, n. 4, p. 283-91, 2006.
OLESEN, J.; LARSEN, B.; LAURITZEN, M. Focal hyperemia followed by spreading oligemia and
impaired activation of rCBF in classic migraine. Annals of Neurology, v. 9, n. 4, p. 344-52, 1981.
OLIVEIRA, E. M. L. et al. Esclerose múltipla: estudo clínico de 50 pacientes acompanhados no
Ambulatório de Neurologia UNIFESP-EPM. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 57, n. 1, p. 51-5,
1999.
PAYNE, A. Nutrition and diet in the clinical management of multiple sclerosis. Journal of Human
Nutrition and Dietetics, v. 14, n. 5, p. 349-57, 2001.
PIVA, J. P. et al. Obstrução de vias aéreas superiores. In: PIVA, J. P.; CARVALHO, P.; GARCIA, P. C.
Terapia intensiva em pediatria. 4ª ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1997. P. 133-52.
PIVETA, M. A fraqueza das células-tronco. Pesquisa FAPESP, n. 183, p. 18-21, 2011. Disponível
em: http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2012/04/016-021-183.pdf
[http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2012/04/016-021-183.pdf] . Acesso em:
25.jul. 2013.
PRIOR, T. I.; BAKER, G. B. Interactions between the cytochrome P450 system and the second-
generation antipsychotics. Journal of Psychiatry and Neuroscience, v. 28, n. 2, p. 99-112, 2003.
SCALCO, M. Tratamento de idosos com depressão utilizando tricíclicos, IMAO, ISRS e outros
antidepressivos. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 24, supl. 1, p. 55-63, 2002.
SCHOU, M. et al. The treatment of manic psychoses by the administration of lithium salts.
Journal of Neurochemistry, v. 17, n. 4, p. 250-60, 1954.
STEDMAN, C. A. et al. Cytochrome P450 2D6 genotype does not predict SSRI (fluoxetine or
paroxetine) induced hyponatraemia. Human Psychopharmacology, v. 17, n. 4, p. 187-90, 2002.
SULLIVAN, K. J.; KISSON, N. Securing the child's airway in the emergency department. Pediatric
Emergency Care, v. 18, n. 2, p. 108-20, 2002.
SUPLICY, H. L. et al. Obesidade, tratamento farmacológico: critérios para indicação. São Paulo:
Lemos, 1998. 452 p.
TILBERY, CHARLES P. et al. Interferon beta 1-a na esclerose múltipla: experiência de um ano em
62 pacientes. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 58, n. 2B, p.452-9, 2000.
TODRES, I. D.; FRASSICA, J. J. Tracheal intubation. In: TODRES, I. D.; FUGATE, J. H. Critical care of
infants and children. 1ª ed. Boston: Little, Brown and Company, 1996. P. 31-41.
VINCENT, A.; PALACE, J.; HILTON-JONES, D. Myasthenia gravis. Lancet, v. 357, n. 9274, p. 2122-8,
2001.
VOLAVKA, J. et al. Overt aggression and psychotic symptoms in patients with schizophrenia
treated with clozapine, olanzapine, risperidone, or haloperidol. Journal of Clinical
Psychopharmacology, v. 24, n. 2, p. 225-8, 2004.
WAHLBECK, K.; CHEINE, M.; ESSALI, M. A. Clozapine versus typical neuroleptic medication for
schizophrenia. The Cochrane Library, v. 3. Oxford: Update Software, 2004.
ZUNG, S.; MICHELON, L.; CORDEIRO, Q. O uso do lítio no transtorno afetivo bipolar. Arquivos
Médicos dos Hospitais e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa São Paulo, v. 55, n. 1,
p. 30-7, 2010.