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Farmacologia e farmacoterapia do

sistema nervoso central e autônomo

Autora
Dra. Jaqueline Rocha Borges dos Santos
Videoaula - Apresentação do professor

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Introdução
O sistema nervoso central (SNC) estabelece conexões neurais com respostas observadas por
meio de sinapses. Essas respostas refletem as alterações em potencial de ação de membranas
de neurônios. Os clássicos potenciais, denominados potencial excitatório pós-sináptico (PEPS) e
potencial inibitório pós-sináptico (PIPS), ocorrem por neurotransmissão envolvendo
neurotransmissor excitatório ou inibitório, respectivamente. O equilíbrio entre esses potenciais
garante um organismo isento de enfermidades. Todavia, qualquer alteração nesse circuito por
excesso de PEPS, causado devido ao estresse crônico, por exemplo, evidencia distúrbio de
ansiedade e depressão. Inicialmente, para compreender a farmacologia e a farmacoterapia de
enfermidades que acometem o SNC e o SNA (sistema nervoso autônomo), são necessárias
clareza e fluência da linguagem vinculada à neurotransmissão.

Os neurônios enviam impulsos elétricos de uma parte para outra da mesma célula por meio de
axônios. Os neurônios comunicam-se pela liberação do primeiro mensageiro químico
(neurotransmissor) para os receptores do segundo neurônio. Essa comunicação é química e não
elétrica. Isso quer dizer que o impulso elétrico do primeiro neurônio é convertido em sinal
químico na sinapse existente entre ele e o segundo neurônio. Esse processo é denominado
neurotransmissão química (STAHL, 2009).

Vale relembrar que as sinapses não ocorrem somente entre axônios, mas também entre axônios
e dendritos; entre axônios e corpos celulares; entre dendritos; e entre dendritos e corpos
celulares, como uma “teia de aranha”.

Dentre os neurotransmissores estão clássicos em produzir excitabilidade neuronal denotando


PEPS, como por exemplo o glutamato; e clássicos em produzir PIPS, como o ácido-gama-
aminobutírico (GABA).

Os neurotransmissores noradrenalina (NA) e acetilcolina (ACh), predominantes no SNA, também


participam de neurotransmissão no SNC. Desse modo, não podemos desvincular os que
participam dos dois sistemas, uma vez que isso sinaliza os efeitos sistêmicos observados no
organismo.

A diferença, quando aprofundarmos a discussão do ponto de vista farmacológico e


farmacoterápico, dar-se-á pela capacidade de um fármaco passar a barreira hematoencefálica e,
portanto, produzir efeito também no SNC.
O SNA, como o próprio nome diz, é um sistema autônomo, uma vez que a resposta do organismo
frente aos estímulos independe de manifestação voluntária. Para melhor exemplificar,
imaginemos que você está em uma rua sem saída à meia-noite e o pneu de seu carro fura.
Naturalmente, o seu organismo irá responder diante dessa situação que conduz ao receio e ao
medo. Nesse ínterim, neurotransmissores do SNA simpático, como NA e adrenalina, serão
liberados. Eles causarão taquicardia, vasoconstrição, aumento da pressão arterial, dilatação da
pupila (midríase), dentre outras alterações da homeostase normal. Essas alterações são
involuntárias, ou seja, são produzidas diante do medo ocasionado pela situação exemplificada.
Resumidamente, isso quer dizer que as sensações produzidas geram, de maneira involuntária, a
liberação de neurotransmissores que compõem o SNA, sem que o indivíduo queira. Isso é
diferente de uma manifestação voluntária como querer pegar um lápis ou uma caneta que está
sobre uma mesa.

O SNA é dividido em simpático e parassimpático. De maneira geral, as alterações endógenas


produzidas por esses sistemas são opostas, exceto em glândulas como as sudoríparas. As fibras
nervosas do SNA são duas, pré-ganglionar e pós-ganglionar. O neurotransmissor liberado de
todas as fibras pré-ganglionares, tanto no SNA simpático como no parassimpático, é a
acetilcolina.

Há, no entanto, algumas diferenças na fibra pós-ganglionar. No SNA simpático, a NA é liberada


dessas fibras na maioria dos sistemas orgânicos, convertida em adrenalina no córtex da
suprarrenal, e, na glândula sudorípara, a liberação é de ACh.

No SNA parassimpático, a ACh é liberada de todas as fibras pós-ganglionares. Por essa


correlação com a fibra pós-ganglionar do SNA simpático na glândula sudorípara conseguimos
compreender que ACh é liberada em ambas subdivisões do SNA, contradizendo a teoria de que
seus efeitos são opostos em todos os sistemas orgânicos. Na glândula sudorípara, por exemplo,
isso não ocorre.

Alguns autores compreendem ainda uma terceira subdivisão do SNA autônomo. Além do
simpático e do parassimpático, consideram que o sistema digestório tem características
próprias não norteadas somente por NA e ACh, mas também pela presença de outras
substâncias endógenas.

Nas próximas seções veremos como a compreensão da relação entre a fisiologia do SNC e do
SNA é necessária para a aplicação da farmacologia e, consequentemente, da prática terapêutica
ou farmacoterapia.
Videoaula - Introdução ao sistema nervoso autônomo e Sistema
nervoso central

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1. Farmacologia e farmacoterapia do SNC

1.1 Considerações gerais sobre a farmacologia do SNC

O conhecimento acerca da fisiologia facilita o entendimento e a aplicação da farmacologia do


SNC. Neste contexto, os neurotransmissores fundamentalmente garantem um equilíbrio neural
balanceado entre PEPS e PIPS.

É natural visualizar que os efeitos concretizados de uma sinapse ocorrem porque os


neurotransmissores ligam-se a receptores específicos. Inseridos em uma neurotransmissão
consolidada, a densidade de receptores e as diferenças de localização em regiões neurais, bem
como o subtipo de receptores, esboçam as diferenças de efeitos e os papéis desempenhados por
estes no cérebro.

Para melhor compreender essa explanação, tomemos como exemplo os receptores


serotoninérgicos ou de serotonina (5HT). O receptor do tipo 1A, chamado receptor 5HT1A, tem
relação parcial com ansiedade. Isso quer dizer que agonistas parciais dele produzem efeito
ansiolítico. Por outro lado, o receptor do tipo 2A, ou receptor 5HT2A, quando ativado
excessivamente por serotonina, demonstra anorgasmia (ausência de orgasmo). Esse fato repete-
se com outros neurotransmissores e seus respectivos receptores.

Neste módulo, destacaremos alguns neurotransmissores que fazem parte da base biológica, ou
seja, da hipótese neural para justificar alterações em circuitos cerebrais. Dentre os
neurotransmissores associados à farmacologia de enfermidades no SNC estão: NA, dopamina
(DA), 5HT, ACh, GABA e glutamato. Como se pode notar, NA e DA participam de neurotransmissão
no SNC e no SNA. Assim, falaremos da farmacologia e da farmacoterapia envolvendo esses
neurotransmissores tanto na seção sobre SNC como na sobre SNA.

1.2 Considerações gerais sobre a farmacologia do SNA


Figura 1 - Efeitos de ativação do SNA em vários órgãos e sistemas do
organismo.

Fonte: Lopes; Rosso (2002)

Para um coerente entendimento de efeito farmacológico e fisiologia do SNA, vale destacar o


papel dos receptores desse sistema, considerando os adrenérgicos e os colinérgicos. A NA liga-
se aos receptores adrenérgicos, conhecidos como receptores alfa (α) e beta (β). A distribuição
deles, assim como o subtipo expresso nos sistemas orgânicos, expõe a diferença de seu papel
no organismo.

Os receptores α bem conhecidos e identificados são: α1 e α2. Os receptores β bem identificados


são: β1, β2 e β3. Para o SNA parassimpático, os receptores específicos de ACh são denominados
receptores nicotínicos e muscarínicos (M). Ambos são conhecidos como receptores colinérgicos.
A expressão e a localização deles são diferentes, dependendo do sistema orgânico estudado.

Os receptores nicotínicos são receptores acoplados aos canais catiônicos, participando em


mediação de neurotransmissão sináptica na junção neuromuscular, nos gânglios autonômicos e
em vários locais no SNC. Já os receptores muscarínicos (M) são receptores acoplados à proteína
G, mediadores das sinapses parassimpáticas pós-ganglionares (coração, musculatura lisa,
gânglios) e de vários locais no SNC. Os receptores muscarínicos bem conhecidos são: M1
(neurais), M2 (cardíacos) e M3 (glandulares).

O Quadro 1 destaca alguns receptores de ambos os sistemas autonômicos, assim como a


função e a alteração observada na forma de efeito em alguns sistemas orgânicos. A Figura 1
ilustra os efeitos diante da ativação autonômica tanto do SNA simpático como do
parassimpático no organismo.
Quadro 1 - Receptores do SNA: relação com alguns sistemas orgânicos e efeitos produzidos

Efeito SNA Receptor SNA Efeito SNA Receptor SNA


Órgão simpático simpático parassimpático parassimpático

Coração Aumenta β1 Diminui M2


frequência frequência

Vasos sanguíneos (p. ex.: Constrição α Dilatação M3


tecido erétil)

Brônquios Dilatação β2 Constrição M3

Órgão sexual masculino Ejaculação α Ereção M3

Olho (p. ex.: pupila) Dilatação α Constrição M3

Fonte: Adaptado de Gilman et al. (2010).

Relação farmacologia-farmacoterapia de enfermidades relacionadas


1.3 ao SNC e ao SNA

São inúmeras as situações que associam o SNC ao SNA, o que pode ser explicado pela presença
de neurotransmissores comuns, central e perifericamente. Por essa razão, não podemos
desvincular efeitos concomitantes no SNC e no SNA, em especial quando fármacos apresentam
a capacidade de atuar em ambos somada à exibição de não seletividade. Por isso, a
compreensão da farmacologia e da farmacoterapia deve seguir um rumo unidirecional e, em
alguns momentos, bidirecional.

Para saber relacionar bem os efeitos farmacológicos e a farmacoterapia estabelecida, faz-se


necessário um mínimo conhecimento da fisiopatologia, que, com frequência, não é plenamente
elucidada. Outro fato que deve ser desmistificado é a utilização de fármacos pertencentes a
grupos farmacológicos conhecidos para outras doenças, como exemplo, bloqueadores de canais
de cálcio para enxaqueca ou anticonvulsivantes para transtorno maníaco-depressivo (TMD).

Naturalmente, a farmacologia clínica busca a correlação aplicada desses assuntos, com a


discussão inesgotável da farmacoterapia estabelecida. Vale destacar que a atualização de
farmacoterapias determinadas às doenças aqui tratadas é contínua.

Começaremos agora a navegar por esse entrelaçado SNC-SNA, e convido-o à leitura com a visão
de que esses assuntos não estão esgotados; sendo ilimitados e continuamente renovados pela
descoberta de novos mecanismos e fármacos.
Videoaula - Farmacologia e farmacoterapia da depressão

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Farmacologia e farmacoterapia da depressão e do transtorno
2.
maníaco-depressivo
Grande parte das doenças mentais manifesta-se na primeira metade da vida, com uma
prevalência de duração média de 10 anos, que varia de acordo com fatores biológicos
preexistentes. Alguns pacientes que denotam quadros psicopatológicos de início tardio têm
fatores etiológicos distintos daqueles que evoluíram com doença desde longa data. Os
transtornos mentais de início tardio são diagnosticados pelo quadro inicial sistêmico de
transtornos neuropatológicos do envelhecimento. Em fases anteriores da vida, destacam-se as
anormalidades do neurodesenvolvimento, geneticamente determinadas em razão da
variabilidade genética individual.

O diagnóstico patológico de desordens neuronais deve ser baseado em várias etapas: anamnese
detalhada com o paciente e com familiares ou cuidadores, exame psiquiátrico minucioso, exame
clínico geral, avaliação neurológica, identificação de efeitos adversos de medicamentos, exames
laboratoriais e de neuroimagem. Esses procedimentos são valiosos e importantes para o
diagnóstico de doenças como a depressão (DAVIDSON et al., 2002; QURAISHI; FRANGOU, 2002).

De acordo com Santos et al. (2006), a depressão torna o portador incapacitado para resolver as
situações cotidianas. O portador da doença sustenta filosoficamente o raciocínio de que “não há
mais uma luz no fim do túnel”. A resposta ao tratamento é difícil, em especial porque há uma
demora na visualização da resposta terapêutica. Isso se deve ao fenômeno de modulação nos
receptores pós-sinápticos, denominado down regulation. A ausência de resposta terapêutica
caracteriza a denominada depressão resistente ao tratamento.

Os primeiros antidepressivos, conhecidos como inibidores da enzima monoaminoxidase (IMAOs),


foram descobertos em estudos para pacientes portadores de tuberculose. Na verdade, tais
fármacos não se demonstraram capazes de combater o agente etiológico da tuberculose, porém
foram eficazes para amenizar alguns sintomas típicos de pacientes infectados pelo bacilo de
Koch, tais como apatia, tristeza e desânimo. Esses sintomas foram associados à depressão, que,
até então, era uma enfermidade isenta de um diagnóstico preciso. Com o avançar dos anos, entre
as décadas de 1960 e 1980, outros grupos farmacológicos antidepressivos foram introduzidos.
Ainda assim, a base biológica precisava ser conhecida e desvendada. Após os IMAOs, foram
introduzidos os antidepressivos tricíclicos (ADTs) à prática clínica. Na década de 1980, os
fármacos inibidores seletivos da recaptura ou recaptação de serotonina (ISRS) começaram a ser
utilizados.
Atualmente, há outros grupos farmacológicos antidepressivos mais seletivos quanto à
propriedade antidepressiva, exibindo também menor perfil de efeitos colaterais (MORENO et al.,
1999).

A substituição de antidepressivos ou a combinação e potencialização deles representam a


estratégia terapêutica mais empregada na depressão resistente ao tratamento. Essas medidas
são adotadas para se garantir uma melhor resposta terapêutica. Na potencialização, o segundo
fármaco – que não precisa ser, necessariamente, um antidepressivo - aumentará o efeito do
primeiro.

Outro aspecto a se considerar é a depressão nos idosos. Nesse caso, deve-se ter cautela na
escolha terapêutica, uma vez que o idoso apresenta perfil fisiológico diferente, que se reporta ao
perfil farmacocinético. Além disso, o idoso, na maioria das vezes, é submetido à polifarmácia, que
colabora com o aumento de interações medicamentosas. O ideal é eleger um antidepressivo com
menor perfil de efeitos colaterais, ou seja, um fármaco mais seletivo.

Nas próximas sessões, veremos a classificação dos antidepressivos de maneira mais detalhada,
começando com os primeiros descobertos (IMAOs irreversíveis) até chegarmos aos inibidores da
recaptura de serotonina e antagonistas do receptor 5HT2A.

Videoaula - Antidepressivos

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2.1 Inibidores da monoaminoxidase (IMAOs)


Os primeiros antidepressivos descobertos foram os IMAOs. De fato, a descoberta desse efeito foi
acidental, com base em observações de melhora do quadro depressivo em pacientes portadores
de tuberculose. Na década de 1950, um estudo com um fármaco tuberculostático IMAO
demonstrou melhora de depressão como uma comorbidade associada à tuberculose. Com isso,
descobriu-se que a inibição da MAO não estava relacionada a ações tuberculostáticas, mas sim
a um evento bioquímico imediato que demonstrava ações antidepressivas.

Antes de falar sobre a farmacologia e a farmacoterapia, vale relembrar o que é a MAO. É uma
enzima que degrada ou metaboliza neurotransmissores monoaminérgicos. Envolvidos com a
depressão, por comporem a base biológica da doença, estão os neurotransmissores serotonina,
noradrenalina e dopamina. Os três são monoaminas, ou neurotransmissores monoaminérgicos.
Há dois tipos dessa enzima, a saber: MAO A e MAO B. Em razão de suas respectivas localizações
em certas regiões cerebrais, a MAO do tipo A está mais relacionada à depressão, enquanto a
MAO do tipo B está mais associada a processos neurodegenerativos.

Quando falamos em depressão, devemos ter clareza, portanto, de que a MAO do tipo A é
considerada um alvo mais específico e seletivo. Essa enzima, além de estar localizada em
neurotransmissão monoaminérgica no neurônio pré-sináptico, também aparece no fígado.

Dentre os fármacos IMAOs, estão os IMAOs irreversíveis e não seletivos e os IMAOs reversíveis e
seletivos na inibição da MAO A. Na atualidade, os primeiros não representam primeira opção
para depressão. Ao contrário, constituem última opção na farmacoterapia antidepressiva, uma
vez que causam inúmeras reações adversas vinculadas à propriedade irreversível da inibição
enzimática. Essa situação leva à necessidade de restrições e reeducação alimentar, evitando-se
alimentos que atuem, de alguma maneira, como precursores da formação de noradrenalina (NA)
ou dopamina (DA) por meio dos aminoácidos neles presentes.

O aminoácido tiramina está presente em alimentos e assemelha-se, do ponto de vista estrutural,


ao aminoácido precursor de NA e DA denominado tirosina. Alimentos que contêm tiramina (como
queijo e vinho), associados aos IMAOs irreversíveis, conduzem ao aumento da pressão arterial.
Isso ocorre porque a tiramina ficará acumulada no organismo, ou seja, não será metabolizada
pela MAO, já que esta enzima encontra-se inibida pelo fármaco IMAO. Ao mesmo tempo, a
tiramina, por ser análogo estrutural da tirosina, colabora com a formação de NA e DA.

Esse cuidado não é necessário de maneira tão veemente com os IMAOs reversíveis e seletivos na
inibição da MAO A. A justificativa já está explícita na reversibilidade do efeito farmacológico.
Somado a esse fato, há inibição seletiva da isoforma relacionada com a depressão: MAO do tipo
A.
A Tabela 1 resume a farmacoterapia, bem como os fármacos IMAOs utilizados para depressão.

Tabela 1 - Tratamento farmacológico para depressão por via oral: IMAOs irreversíveis e não seletivos e
IMAOs reversíveis e seletivos na inibição da MAO A

Fármaco Farmacoterapia

Fenelzina1 15 mg 2-3x/dia, até 60-90 mg/dia. Em idosos: 7,5 mg/dia (dose inicial), até 15-60
mg/dia, divididos em três a quatro doses.

Tranilcipromina1 10 mg até 2x/dia.

Isocarboxazida1 10-20 mg/dia.

Moclobemida2 150-600 mg/dia, sendo que a dose usual é 300-600 mg/dia, geralmente divididos em
duas ou três doses diárias.

Legenda: 1 Fármacos IMAOs irreversíveis; 2 Fármacos IMAO reversíveis e seletivos por inibir a MAO A

2.2 Antidepressivos tricíclicos (ADTs)

Os ADTs são amplamente utilizados para depressão, embora apresentem vários efeitos
colaterais devido aos seus cinco mecanismos de ação. A ampla demonstração de propriedades
farmacológicas exibidas por vários mecanismos de ação exige que um bom conhecedor de
farmacologia saiba aplicá-los à farmacoterapia de maneira benéfica. Esse fator é considerado
decisivo no estabelecimento de uma farmacoterapia adequada que garanta eficácia e adesão
com inexpressivas reações adversas.

Conforme dito, os ADTs apresentam cinco mecanismos de ação que merecem ser destacados
para que possamos fazer uma equilibrada relação da farmacologia com a farmacoterapia. Eles
antagonizam o receptor histamínico, o receptor α-adrenérgico e o receptor colinérgico, além de
inibirem a bomba de recaptura (ou recaptação) de noradrenalina e a bomba de recaptura de
serotonina. Desses mecanismos de ação, somente os dois últimos têm relação com a depressão,
por aumentarem dois neurotransmissores monoaminérgicos, associados à capacidade de
produzir down regulation ou redução, ou seja, subsensibilidade dos receptores pós-sinápticos.

Aliás, esse é o grande objetivo na farmacoterapia antidepressiva: reduzir a quantidade de


receptores pós-sinápticos, o que acontecerá com a ocupação deles, garantida pelo aumento dos
neurotransmissores que se ligam aos receptores, ativando-os. Porém, antes de falarmos da
relação entre os mecanismos de ação que justificam alguns efeitos colaterais, vale destacar a
farmacoterapia com alguns ADTs. O Quadro 2 mostra fármacos ADTs e a farmacoterapia
recomendada para a depressão.

Quadro 2 - Farmacoterapia em adultos, por via oral, para depressão com ADTs
Fármaco Farmacoterapia

Amitriptilina A posologia é 75 mg a 150 mg por dia. Na depressão grave, entretanto, pode chegar até a
300 mg por dia na fase aguda.

Imipramina O tratamento inicial é estabelecido com 25 mg, de uma a três vezes ao dia. Pode-se
aumentar a posologia diária gradualmente para 150 mg a 200 mg. Essa posologia deverá
ser atingida ao final da primeira semana de tratamento e mantida até a ocorrência de
uma melhora clínica. A dose de manutenção deve ser determinada individualmente por
meio da redução cuidadosa da posologia, situando-se usualmente entre 50 mg e 100 mg
diários.

Desipramina A posologia a ser estabelecida é com doses de 25 mg a 50 mg três vezes ao dia. A dose
máxima é 200 mg por dia.

Nortriptilina A posologia é estabelecida com a dose de 25 mg três ou quatro vezes ao dia. A dose diária
total pode ser administrada uma vez ao dia. A dose máxima é 100 mg por dia.

Clomipramina O tratamento é estabelecido com a dose de 25 mg de duas a três vezes ao dia, ou 75 mg


uma vez ao dia. Em casos graves, a dose máxima é de 250 mg por dia.

Trimipramina A posologia é estabelecida com a dose de 75 mg por dia, chegando a até duas vezes ao
dia; doses superiores a 200 mg/dia não são recomendadas, sendo que a dose de
manutenção é de 50 mg a 150 mg por dia.

Doxepina O tratamento é estabelecido com a dose de 25 mg três vezes ao dia; pode-se aumenta-la,
se necessário, a até 50 mg três vezes ao dia.

Protriptilina A posologia é estabelecida com doses de 15 mg a 40 mg por dia, divididas em três ou


quatro vezes. A dose máxima é de 60 mg por dia.

Há também os denominados antidepressivos tetracíclicos, como maprotilina, mianserina e


mirtazapina. Os ADTs causam sedação e ganho de peso devido à propriedade anti-histamínica;
hipotensão postural (ou ortostática) em razão de sua propriedade antialfa-adrenérgica; e
retenção urinária, xerostomia, constipação intestinal, dentre outras, por conta de sua propriedade
anticolinérgica.

2.3 Inibidores seletivos da recaptura de serotonina (ISRSs)

Devido à maior seletividade com relação à propriedade farmacodinâmica, os fármacos ISRSs


atualmente representam o principal grupo farmacológico utilizado para depressão. Isso sinaliza,
de maneira crescente, que o neurotransmissor serotonina configura um importante alvo de
estudos à depressão, uma vez que é considerado o principal neurotransmissor associado à base
biológica dessa doença.

Naturalmente, as estruturas vinculadas à neurotransmissão serotoninérgica são alvos


importantes de estudos da terapêutica antidepressiva, com o propósito de elucidar mecanismos
e alvos para aumentar ou mimetizar a ação de serotonina (VEENSTRA-VANDER et al., 2000).
Como o próprio nome sinaliza, os fármacos ISRSs inibem de maneira seletiva a bomba de
recaptura de serotonina, tanto no axônio como na região somatodendrítica.

A Figura 2 ilustra de maneira didática esse mecanismo de ação.

Figura 2 - Mecanismo de ação dos antidepressivos ISRSs

Ilustração do mecanismo de ação dos antidepressivos ISRSs, demonstrado


por inibição da bomba de recaptura de serotonina no axônio e também nos
dendritos (A) e down regulation dos receptores pós-sinápticos (B) devido ao
aumento de serotonina e consequente ocupação dos referidos receptores.
Esse fenômeno é responsável pela melhora dos sintomas depressivos,
ocorrendo no mínimo duas semanas após o início do tratamento (tempo
mínimo exigido para que ocorra redução na quantidade de receptores pós-
sinápticos). Fonte: adaptado de Stahl (2009).

Como os ISRS são praticamente isentos de risco em cardiopatas, devido à ausência de


propriedade adrenérgica, os efeitos adversos resultam do bloqueio da bomba de recaptação de
serotonina, tais como náuseas, vômitos, diarreia, insônia, ansiedade, agitação, acatisia, tremor,
cefaleia e disfunção sexual. Comparativamente, as consequências de superdosagens são menos
perigosas que as produzidas por ADTs (SCALCO, 2002).

Os ISRSs inibem de maneira seletiva a recaptação de serotonina, resultando em aumento do


neurotransmissor na fenda sináptica. Exemplos de fármacos com essa propriedade são:
citalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina. Eles compõem resultado de pesquisa
para o desenvolvimento de moléculas tão eficazes quanto as dos ADTs, todavia com baixos
problemas relacionados à segurança e à tolerabilidade (MORENO; MORENO; SOARES, 1999).

Variantes no gene associado ao transportador de serotonina 5HTT estão sob estudo, pois há
evidências de que os ISRSs interferem com a atividade da proteína que transporta a serotonina,
removendo-a da fenda sináptica (LIMA; SOUGEY; VALLADA, 2004).

Vale considerar que, no grupo farmacológico antidepressivo dos ISRSs, embora todos os
fármacos apresentem o mesmo mecanismo de ação, há algumas diferenças quanto à potência,
claramente verificadas com as doses diferentes utilizadas para cada fármaco. As propriedades
farmacocinéticas, como tempo de meia-vida, metabólitos gerados, enzimas metabolizadoras,
dentre outras, também são diferentes.
As diferenças e variações potenciais e/ou seletivas, tanto farmacodinâmicas como
farmacocinéticas, justificam as diferenças terapêuticas observadas na utilização de ISRSs
(MORENO et al., 1999; DESHAUER et al., 2008).

A Tabela 2 explicita as diferenças farmacocinéticas exibidas pelos ISRSs.

Tabela 2 - Perfil farmacológico de alguns fármacos ISRSs, como: sertralina, fluoxetina, fluvoxamina,
paroxetina e citalopram

Parâmetro
farmacocinético Sertralina Fluoxetina Fluvoxamina Paroxetina Citalopram

Meia-vida 26h 15,6h 10h (agudo) 10h (agudo) 33h


(crônico) 21h (crônico)

Atividade Sem Inibição da Sem inibição Sem inibição de Sem inibição


metabólitos inibição de recaptação de recaptação; inibição de de
recaptação, e de recaptação, isoenzimas recaptação;
leve isoenzimas. mínima desconhecida. leve inibição
inibição de inibição de de
isoenzimas. isoenzimas. isoenzimas.

Estado de 7 dias 6-8 7 dias (maior 7 dias (maior em idoso) 7-14 (maior
equilíbrio semanas em idoso) em idoso)
estável (maior em
idoso)

Inibição de
isoenzimas

CYP2D6 Leve Substancial Leve Substancial Leve

CYP1A2 Mínima Mínima Substancial Mínima (?) Leve

CYP3A3/4 Mínima Leve Moderada ? ?

CYP2C19 Mínima Leve Substancial ? Mínima

Esquema 50 mg/dia 20 mg/dia. 50 mg ou 100 20 mg/dia. Pode ser 20 mg/dia. A


terapêutico até o mg/dia, necessário aumentar a dose pode ser
para depressão máximo de podendo dose. Isso deve ser feito aumentada a
200 mg/dia. chegar a 300 gradativamente, em até 60 mg/dia
mg/dia. aumentos de 10 mg a 50 (dose
mg/dia. máxima).

Fonte: Goodnick; Goldstein (1998).

A metabolização desses ISRSs é reduzida com o tempo, devido à propriedade inibidora


enzimática, dose-dependente, relacionada às enzimas do CYP450 (GOODNICK; GOLDSTEIN,
1998). Outros aspectos farmacocinéticos podem ser observados com relação à
biodisponibilidade, metabolismo de primeira passagem pouco expressivo, alto grau de ligação às
proteínas plasmáticas e possibilidades de interações medicamentosas por competição na
ligação com as proteínas plasmáticas.

Deve-se considerar também o potencial de interações medicamentosas envolvendo enzimas do


sistema do citocromo P450 (CYP450), uma vez que existe um grau de inibição para algumas
isoformas de CYP, conforme apresentado na Tabela 2.

Assim, vale a observação e a monitorização de pacientes submetidos à farmacoterapia com


ISRSs e o potencial inibidor enzimático, com consequente aumento de efeito farmacológico do
outro fármaco.

Os ISRSs são considerados por vários autores e pesquisas como a primeira linha de tratamento
para depressão, devido ao menor perfil de efeitos colaterais. Todavia, com o tempo de utilização,
a farmacovigilância sugere que esses fármacos não são isentos de risco no que concerne a esse
fator. Pode ocorrer perda de peso, devido à diminuição do apetite, conduzindo a consequências
indesejáveis para pacientes debilitados. Efeitos extrapiramidais associados ao parkinsonismo,
reações distônicas e acatisia, além de piora em pacientes com doença de Parkinson ou em uso
de antipsicóticos foram relatados (COULTE; PILLANS, 1995; POLLOCK, 1999 apud SCALCO, 2002).

Na farmacoterapia com ISRSs, é preciso ter cuidado na associação entre antidepressivos, pois o
excesso de serotonina gerado pode causar a denominada síndrome serotoninérgica. Nesse
quadro, o paciente pode apresentar enxaqueca (comumente relatada), náuseas, confusão mental
e reações extrapiramidais leves. Distúrbios de saciedade, sono e distimia podem ocorrer diante
da retirada abrupta de ISRSs.

Notavelmente, os ISRSs apresentam menos efeitos colaterais devido à seletividade quanto ao


mecanismo de ação. Por essa razão, são elencados com prioridade na farmacoterapia
antidepressiva.

2.3.1 Algumas interações medicamentosas com ISRSs na metabolização

As interações medicamentosas na metabolização contam com a participação de algumas


isoenzimas. Por exemplo, a isoforma 1A2 de CYP450, por participar da metabolização de alguns
antidepressivos, pode estar envolvida em interações medicamentosas quando dois ou mais
fármacos administrados dependerem dela para serem metabolizados.

Isso pode fomentar o potencial inibidor enzimático exibido por alguns fármacos ISRSs. Nesse
contexto, os processos de metabolização de outros fármacos estarão inibidos por um ISRS. A
metabolização reduzida conduz ao aumento do tempo de meia-vida. O fármaco teofilina, os
antipsicóticos atípicos (por exemplo: clozapina) e a cafeína são exemplos que, nessas
circunstâncias, apresentarão níveis aumentados da concentração plasmática provocados por
inibidores da isoenzima de CYP.

De acordo com Stedman et al. (2002), outro sistema citocrômico importante é CYP450 2D6.
Nesse contexto, vários são os ISRSs que inibem esse sistema, como os fármacos fluoxetina,
paroxetina (com elevado potencial), fluvoxamina, sertralina e citalopram (com menor potencial).
Desse modo, a administração desses ISRSs associados com ADTs aumenta os níveis destes
últimos, podendo causar toxicidade.

Alguns ISRSs, em especial os fármacos fluvoxamina e fluoxetina, são inibidores do CYP450


2C9/10/19 (subfamília 2C), todavia, fluvoxamina é um inibidor mais potente da atividade dessa
isoenzima. Outro citocromo é o CYP450 3A4, que também tem como inibidores os ISRSs como
fluoxetina e fluvoxamina (CORREIA et al., 2007).

Dessa forma, podemos ver como é importante realizar a anamnese no doente sempre que se
medica com um ISRSs, pois é fundamental a clareza de todos os medicamentos que serão
utilizados, uma vez que, se o ISRS é inibidor do citocromo que metaboliza um fármaco, ocorrerá
aumento da concentração sérica deste.

O Quadro 3 aponta algumas interações medicamentosas com ISRSs documentadas, com a


participação do CYP450.

Quadro 3 - Aponta algumas interações medicamentosas com ISRSs na metabolização, envolvendo o


CYP450

Grupo
farmacológico/alimento/fumo Exemplos Interação e efeitos

Antibióticos Eritromicina Aumento do nível plasmático de citalopram devido à


inibição da metabolização via CYP 3A4.

Moduladores adrenérgicos Bupropiona Efeito aditivo em depressão resistente. Bupropiona pode


reverter as disfunções sexuais dos ISRSs. Casos de
ansiedade, pânico, delírio e mioclonias têm sido relatados
com fluoxetina devido à inibição da metabolização de
bupropiona (via CYP 3A4 e 2D6), competição pela ligação
proteica e efeito farmacológico aditivo.

Antifúngicos Cetoconazol, Aumento no nível de citalopram devido à inibição


itraconazol metabólica via CYP 3A4.
Grupo
farmacológico/alimento/fumo Exemplos Interação e efeitos

Betabloqueadores Pindolol Aumento na concentração de serotonina em sítios pós-


sinápticos; aumento no início da resposta terapêutica.
Aumento na vida média do pindolol (aproximadamente
28%) com fluoxetina; aumento no nível plasmático com
paroxetina devido à inibição da metabolização via CYP
2D6.

Cafeína - Aumento nos níveis de cafeína com fluvoxamina devido à


inibição da metabolização via CYP 1A2; a vida média
aumenta de 5 a 31 horas. Aumento do nervosismo e da
insônia.

Cisaprida - Interação com fluoxetina, fluvoxamina e nefazodona;


inibição da metabolização de cisaprida via CYP 3A4,
resultando em aumento nos níveis deste fármaco, com
possível efeito cardiovascular.

Omeprazol - Aumento no nível de citalopram devido à inibição da


metabolização via CYP 2C19.

Fumo - tabagismo - Aumento na metabolização de sertralina em 25% via CYP


1A2.

Tacrina - Aumento no nível de tacrina com fluvoxamina; o pico


plasmático aumenta até cinco vezes, e a diminuição na
depuração, em 88%, devido à inibição da metabolização
via CYP 1A2.

Teofilina - Aumento no nível de teofilina com fluvoxamina devido à


diminuição da metabolização via CYP 1A2.

Fonte: Bezchlibnyk-Butler; Jeffries (1999).

2.4 Moduladores adrenérgicos

Como o próprio nome já sinaliza, esses fármacos atuam modulando a neurotransmissão que
envolve neurotransmissores adrenérgicos. Nesse caso estão os neurotransmissores
monoaminérgicos noradrenalina e dopamina. O protótipo desse grupo farmacológico é
representado pelo fármaco bupropiona. Com relação à farmacologia, ele atua inibindo as bombas
de recaptura de noradrenalina e dopamina.

Em estudos iniciais, o fármaco mostrou-se eficiente em amenizar os sintomas decorrentes da


abstinência produzida em dependentes de nicotina. Assim, na prática, a bupropiona é
amplamente empregada com pacientes que desejam descontinuar o fumo, mas necessitam de
tratamento para auxiliar com os sintomas decorrentes da abstinência. A dose mínima
terapêutica é 150 mg, chegando a 450 mg por dia.
2.5 Inibidores de dupla recaptura

Dentre os fármacos intitulados inibidores de dupla recaptura, está o protótipo do grupo, a


venlafaxina. Como o próprio nome sinaliza, esse fármaco inibe duas bombas de recaptura.
Todavia, de acordo com a dose administrada, é capaz de inibir uma terceira bomba de recaptura
de neurotransmissor monoaminérgico. Aliás, as doses empregadas correlacionam-se com os
mecanismos de ação.

Na dose de 37,5 mg, ele inibe somente a bomba de recaptura de serotonina; na de 75 mg, inibe as
bombas de recaptura de serotonina e noradrenalina; e, na de 150 mg, inibe as bombas de
recaptura das três monoaminas: serotonina, noradrenalina e dopamina. Esse fato é interessante
no estabelecimento da farmacoterapia, por possibilitar uma relação dose-dependente de efeito,
ou seja, à medida que a dose aumenta, há agregação de outro mecanismo de ação.

Inibidores da recaptura de serotonina e antagonistas de receptor


2.6 5HT2A

Como o próprio nome do grupo farmacológico sinaliza, esses fármacos inibem a bomba de
recaptura de serotonina e, além disso, antagonizam o receptor 5HT2A. O bloqueio desse receptor
serotoninérgico impede o efeito colateral devido à ativação dele por aumento de serotonina –
como abordado na seção sobre antidepressivos inibidores seletivos da recaptura de serotonina
(ISRSs) – denominado anorgasmia.

Inserido nesse grupo farmacológico, está o fármaco trazodona. Ele também apresenta
propriedade anti-histamínica e antialfa-adrenérgica. Por esses outros mecanismos de ação, a
trazodona causa sedação e priapismo, relacionados respectivamente com essas propriedades. A
dose mínima terapêutica por dia é 50 mg, podendo ser empregados até 150 mg por dia.

2.7 Carbonato de lítio e adjuvantes terapêuticos ao TMD

O lítio foi utilizado pela primeira vez por Cade em 1949 no tratamento de pacientes psiquiátricos.
Alguns anos depois, Schou et al. (1954) comprovaram a eficácia dessa substância para o
tratamento de pacientes maníacos e para a profilaxia do TMD. Foi o primeiro fármaco aprovado
pela Food and Drug Administrationpara o tratamento do TBP, sendo utilizado há mais de 50 anos
para o tratamento da fase aguda e a manutenção da doença. É o único medicamento com
propriedades estabilizadoras de humor comprovadas.

O efeito terapêutico do lítio está intimamente relacionado a suas concentrações séricas. Níveis
séricos elevados (1,06 mmol/L) promovem a melhora de sintomas maníacos em 73% dos
pacientes; com níveis moderados (0,94 mmol/L), 57% dos pacientes apresentam melhora dos
sintomas; e, em níveis séricos baixos (0,43 mmol/L), essa melhora diminui para 39%. Apesar de
apresentar efeito antimaníaco considerável, este ocorre com latência de 7 a 14 dias com
concentrações séricas elevadas, aumentando o risco de efeitos adversos e até mesmo de
redução da adesão ao tratamento (ROSA et al., 2006).

A monitorização sérica de lítio faz-se necessária devido à toxicidade gerada e ao perfil de efeitos
colaterais, que comprometem a eliminação de fármacos. Além disso, pode-se acompanhar e
conhecer a concentração plasmática para se determinar, de maneira adequada, o estado de
equilíbrio estável de lítio e, posteriormente, proceder de maneira mais precisa ao ajuste de dose e
o estabelecimento do esquema terapêutico. Assim, o reajuste de dose deve ser garantido a partir
do pleno conhecimento da concentração sérica de lítio, o que também corrobora a necessidade
de individualização do tratamento, principalmente porque esse fármaco apresenta baixo índice
terapêutico (baixa margem de segurança).

Os efeitos adversos, a variabilidade farmacocinética individual e as interações medicamentosas


são fatores que contribuem para a eficácia do tratamento e para a não adesão a ele. A
interrupção do medicamento está associada a uma diminuição dos níveis plasmáticos do
fármaco e ao alto risco de recaídas. As taxas de recaída são bem menores quando o tratamento
é descontinuado de forma gradual. Mesmo após a introdução de outros fármacos, como
anticonvulsivantes e antipsicóticos, na terapêutica do TMD, o lítio continua sendo o modulador
de humor mais prescrito, responsável por 50% das prescrições após o primeiro episódio de crise.

O metabolismo do trifosfato de inositol é afetado pelo lítio, culminando em alterações na


concentração de cálcio e de seus depósitos intracelulares devido à inibição de enzimas que
participam na formação do inositol. O lítio é muito semelhante a outros elementos, como sódio,
potássio, cálcio e magnésio, elevando os níveis de serotonina, diminuindo os níveis de
norepinefrina e alterando as concentrações de dopamina, GABA (ácido gama-aminobutírico) e de
acetilcolina.

A diminuição de AMPc explica a estabilidade de quadros maníacos, típicos no transtorno


maníaco-depressivo. Assim, o alvo terapêutico é diminuir de alguma maneira esse segundo-
mensageiro por meio da inibição competitiva de magnésio. Esse mineral é um cofator importante
à conversão de ADP em ATP e, posteriormente, colabora com a ativação da enzima adenilil ou
adenilato ciclase. Esta ativa o segundo-mensageiro AMPc. O lítio diminui ou impede, portanto, a
ativação de AMPc.

Existem evidências também de que o lítio aumenta os níveis de GABA e promove up regulation
nos receptores GABAérgicos hipocampais. Com um baixo índice terapêutico, esse fármaco
ocasiona muitos efeitos adversos que podem ser indícios de intoxicação por ele.

O tratamento com lítio está associado de início a um aumento transitório da excreção de 17-
hidroxicorticosteroides, sódio, potássio e água, porém esses efeitos não se mantêm além de 24
horas. Nos primeiros dias, a excreção de potássio normaliza-se, há retenção de sódio, e pode
aparecer edema pré-tibial. Associou-se a retenção de sódio com o aumento da secreção de
aldosterona, respondendo à administração de espironolactona. Ela, bem como o edema,
desaparece espontaneamente em alguns dias.

O comprometimento da função tireoidiana é esperado com a utilização de lítio. Para tanto, deve
haver monitorização constante do funcionamento da tireoide antes de começar o tratamento
(para o estabelecimento da dose a ser administrada) e durante seu curso. As alterações no
funcionamento da tireoide acontecem porque o lítio diminui ou inibe o AMPc necessário à
regulação do TSH (GILMAN et al., 2010). Desse modo, são observados efeitos adversos
endócrino-metabólicos, como: aumento de peso, fadiga, lentidão de movimentos, sonolência,
fraqueza muscular, náuseas, tonturas, dentre outros.

Sintomas como tremores, náuseas, diarreia e vômitos podem ser indícios de intoxicação por lítio.
Por esse motivo, a monitoração sérica é necessária, pois permite o ajuste da dose para o
paciente e evita a ocorrência desse problema.

Dentre as toxicidades observadas, há neurotoxicidade relatada, podendo causar lesões cerebrais


irreversíveis, como desmielinização em múltiplas regiões cerebrais, principalmente no cerebelo
(ARAÚJO et al., 2006).

Já em intoxicação aguda, os sintomas mais comuns observados são vômitos, diarreias, tremor
grosseiro, ataxia, coma e convulsões. Os efeitos mais graves de intoxicação envolvem o SNC e
compreendem confusão mental, hiper-reflexia, tremores grosseiros, disartria, convulsões,
podendo evoluir para coma e óbito. Arritmias cardíacas, hipotensão e albuminúria também
podem ocorrer.

Essas alterações em diversos sistemas relacionam-se à capacidade do lítio de agir de modo


intracelular em mecanismo de segundo mensageiro, alterando níveis de neurotransmissores,
diminuindo ou até inibindo a resposta diante do funcionamento de receptores que não estão
presentes somente no SNC, mas também perifericamente e em outros sistemas orgânicos não
vinculados a ele.
Videoaula - Introdução aos antipsicóticos

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3. Farmacologia e farmacoterapia de distúrbios psicóticos
A psicose é uma síndrome, ou seja, é caracterizada por um conjunto de sintomas, podendo estar
associada a muitos transtornos psiquiátricos diferentes. De acordo com o DSM-IVR ou CID-10,
não é considerada transtorno psiquiátrico isoladamente. Nesse contexto, psicose é sinônimo de
delírios e alucinações, incluindo sintomas como discurso e comportamento desorganizados e
distorções grosseiras na avaliação da realidade. Assim, ela pode ser considerada por um
conjunto de sintomas no qual o indivíduo apresenta prejuízo da capacidade de reconhecer a
realidade, comunicar-se e relacionar-se com os outros, além de prejuízo da capacidade mental
aliada a resposta afetiva baixa (STAHL, 2009).

A doença que apresenta a psicose como característica definidora é a esquizofrenia. Esta é uma
patologia crônica do SNC, caracterizada por denominados sintomas positivos, como: delírios,
alucinações auditivas, ilusões, agitação extrema podendo estar associada a crises agressivas,
comportamentos destrutivos, desagregação do pensamento; e sintomas negativos, tais como:
dificuldade de julgamento e de atenção, desorganização do pensamento, embotamento afetivo e
falta de motivação. De acordo com recente revisão da Organização Mundial da Saúde, a taxa de
prevalência é de aproximadamente 1% da população mundial.

A farmacoterapia para distúrbios psicóticos começou a ser estabelecida e conhecida a partir da


década de 1960. Antes disso, existia fundamentalmente a eletroconvulsoterapia. Os conhecidos
neurolépticos clássicos, ou antipsicóticos típicos, foram, de fato, introduzidos entre as décadas
de 1950 e 1960. Os primeiros fármacos aprovados e introduzidos na prática clínica foram
clorpromazina e haloperidol. Os antipsicóticos atípicos começaram a ser utilizados somente em
1988. O protótipo da classe é o fármaco clozapina. Depois dele, outros foram aprovados e
introduzidos à prática clínica, como olanzapina e risperidona.

O grande objetivo no emprego da farmacoterapia antipsicótica é promover a remissão dos


sintomas, com destaque à remissão de surtos psicóticos. Com isso, a adesão ao tratamento e a
escolha do fármaco são fatores decisivos ao restabelecimento do paciente, para impedir
recaídas manifestadas com surtos psicóticos.

Outro fator importante que influencia o efeito farmacológico dos antipsicóticos, bem como a
adesão ao tratamento, são as consideráveis interações medicamentosas, uma vez que é comum
a associação de vários fármacos à terapêutica antipsicótica. Para tanto, o desenvolvimento de
novos antipsicóticos tem por objetivo, entre outros aspectos, a diminuição de efeitos colaterais e
de interações farmacológicas.
Videoaula - Antipsicóticos típicos

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3.1 Antipsicóticos típicos

Conforme discutido na introdução desta seção, os primeiros antipsicóticos foram descobertos


na década de 1950. Nessa época, houve a descoberta acidental, com o fármaco clorpromazina –
que era conhecido apenas por sua propriedade anti-histamínica –, dos efeitos antipsicóticos
quando empregado em pacientes portadores de esquizofrenia. Isso quer dizer que, além de
propriedade anti-histamínica, esse fármaco apresenta atividade bloqueadora sobre os receptores
dopaminérgicos.

De maneira semelhante aos fármacos antidepressivos tricíclicos, a clorpromazina, considerada


um neuroléptico clássico, apresenta também outras propriedades farmacológicas, a saber:
antialfa-adrenérgica, anticolinérgica e, como já mencionado, anti-histamínica. Essas outras
propriedades não garantem, porém, efeito terapêutico antipsicótico causado pelo bloqueio dos
receptores de dopamina.

Tais propriedades denotam efeitos colaterais produzidos por esses antipsicóticos, também
chamados de típicos, como ganho de peso, sedação, hipotensão ortostática, cicloplegia,
constipação intestinal, dentre outros. Curiosamente, a propriedade antidopaminérgica somente
foi elucidada nas décadas de 1960 e 1970, em especial o bloqueio do receptor de dopamina-2
(D2). O Quadro 4 mostra alguns antipsicóticos típicos utilizados no Brasil, com a respectiva
farmacoterapia.
Quadro 4 - Esquema terapêutico por dia ou semana de antipsicóticos típicos para adultos

Fármaco Esquema terapêutico

Clorpromazina Na crise, 25 mg a 50 mg por via intramuscular (preferencialmente), repetida a cada


15 minutos. Após: 25 mg, por via oral, duas a três vezes/dia. Podem ser empregados
75 mg, por via oral, à noite (em dose única). Manutenção: 75 mg a 300 mg/dia; dose
máxima: 1.000 mg/dia.

Levomepromazina Iniciar com 25 mg a 50 mg, três vezes ao dia, aumentando gradativamente até a dose
de 150 mg a 250 mg. Em solução oral, as doses variam de 50 mg a 200 mg até 1 g a 2
g/dia. As gotas devem ser diluídas em água açucarada e nunca instiladas
diretamente na língua. Em geral, inicia-se o tratamento com 150 mg/dia,
aumentando-se progressivamente até 600 mg/dia.

Tioridazina Para pacientes psicóticos hospitalizados, 100 mg a 600 mg/dia. Em pacientes


psicóticos ambulatoriais, 50 mg a 300 mg/dia. Para pacientes com quadros de
agitação e geriátricos, 25 mg a 200 mg. Em pacientes em supressão de álcool, a dose
é de 100 mg a 200 mg/dia. Em distúrbios mentais não psicóticos graves, 25 mg a 150
mg/ dia. A solução oral concentrada de 30 mg/mL deve ser diluída em água ou suco
cítrico. Cada dose deve ser diluída no momento de uso. É recomendado utilizar duas
colheres de sopa de líquido diluente para cada dose de 25 mg.

Flufenazina A dose inicial por via oral é de 2,5 mg a 10 mg ao dia, dividida entre seis e oito horas,
devendo ser aumentada gradativamente conforme a necessidade. A dose de
manutenção por via oral é de 1 mg a 5 mg por dia em dose única ou dividida. A dose
máxima por dia para adultos é de 20 mg.

Pipotiazina Por via oral, a dose é de 10 mg a 20 mg por dia, em uma única administração. Por via
intramuscular (ação rápida), 10 mg a 20 mg/dia em uma ou duas administrações. Por
via intramuscular (ação lenta), pode variar entre 25 mg e 200 mg, embora as doses
habituais sejam de 50 mg a 100 mg; em geral, a administração é realizada a cada
quatro semanas.

Trifluoperazina Para pacientes hospitalizados e ambulatoriais, a dose é de 1 mg ou 2 mg, duas


vezes/dia. Para quadros de ansiedade não psicótica, não se deve exceder 5 mg por
dia ou mais de 12 semanas. Para pacientes hospitalizados, a dosagem inicial é de 2
mg até 5 mg, duas vezes/dia. A maioria dos pacientes apresentará resposta ótima
com 15 mg ou 20 mg diários, embora uns poucos possam necessitar de 40 mg ao dia
ou mais. Os níveis ótimos de dosagem terapêutica devem ser atingidos dentro de
duas ou três semanas.

Penfluridol Trata-se de um fármaco administrado semanalmente. A dose semanal única de


manutenção varia entre 20 mg e 60 mg (um a três comprimidos), por via oral. Essa
dose deve ser monitorizada durante um período de tratamento entre quatro e oito
semanas, iniciando com 10 mg na primeira semana, sendo elevada gradativamente.
Alguns pacientes podem necessitar de doses maiores que 60 mg, podendo atingir
100 mg (dose máxima).

Haloperidol A dose inicial é de 0,5 mg a 2 mg, duas a três vezes ao dia, podendo ser aumentada
gradativamente em função da resposta terapêutica e da tolerância. A dose de
manutenção está entre 1 mg e 15 mg ao dia, devendo ser reduzida até o mais baixo
nível de efetividade.
Fármaco Esquema terapêutico

Pimozida A dose inicial recomendada para pacientes com esquizofrenia crônica é de 2 mg a 4


mg por dia, com aumentos semanais de 2 mg a 4 mg, até que se estabeleça um efeito
terapêutico considerado desejável ou que apareçam reações adversas importantes.
A dose média de manutenção situa-se em torno de 6 mg diários, variando entre 2 mg
e 12 mg/dia. A dose máxima permitida é de 20 mg.

Sulpirida Para os estados neuróticos depressivos: 100 mg a 200 mg (duas a quatro doses de 50
mg) ao dia, administrados em duas tomadas diárias (manhã e noite). Para as
síndromes vertiginosas: 150 mg a 300 mg ao dia, em duas tomadas. Para quadros de
esquizofrenia: 400 mg a 800 mg ao dia, em duas tomadas. Para quadros intensos de
surto psicótico, a dose é 400 mg, duas vezes ao dia, com aumento de até 1.200 mg ao
dia, se necessário.

Fonte: Korolkovas; França (2012).

Videoaula - Antipsicóticos atípicos

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3.3 Discussão comparativa na determinação da farmacoterapia

Se analisarmos do ponto de vista farmacodinâmico, ou seja, conhecendo bem os mecanismos de


ação, prontamente deduzimos que os antipsicóticos atípicos são mais vantajosos por
apresentarem efeitos colaterais menores ou nulos nas vias dopaminérgicas não relacionadas
com os sintomas psicóticos. No entanto, mesmo que apresentem perfil de efeitos colaterais
menor, podem causar agranulocitose, que é uma reação adversa de interesse em
farmacovigilância, exigindo monitorização rigorosa dos pacientes.
Ao contexto social, a abordagem farmacoterapêutica justificada com os antipsicóticos atípicos
resgata um portador de esquizofrenia ou psicose à vida com menores possibilidades de piora
dos sintomas negativos da doença. Essa possibilidade de convívio e de restabelecimento do
paciente na sociedade é sinônimo de inserção social.

Com relação à eficácia, um estudo randomizado envolvendo 2.589 pacientes constatou que, em
um período de 7 a 24 meses, houve maior abandono de tratamento com os antipsicóticos típicos
haloperidol e clorpromazina, comparados com clozapina (antipsicótico atípico). O mesmo estudo
também confirmou eficácia similar em um período de 4 a 10 semanas. Esses dados referem-se
ao tratamento de surto agudo (WAHLBECK; CHEINE; ESSALI, 2004).

A agressividade é um comportamento comum nos surtos psicóticos, com consequências


desagradáveis ao paciente e também aos familiares. Os antipsicóticos atípicos superaram o
haloperidol na diminuição de número e intensidade dos eventos agressivos, principalmente após
os primeiros 24 dias de tratamento, em avaliação comparativa de eficácia dos fármacos
clozapina, olanzapina, risperidona e haloperidol no controle da agressividade (medida por
escalas) de 157 pacientes tratados por 14 semanas (VOLAVKA, 2004). A clozapina apresenta
melhor efeito com relação à redução da agressividade em pacientes resistentes e com maior
comportamento agressivo (WANNMACHER, 2004).

Em tratamento de manutenção, o antipsicótico típico, como o haloperidol, aponta melhora de


sintomas em um período de 6 a 24 semanas, porém com aumento de efeitos colaterais como o
parkinsonismo (JOY; ADAMS; LAWRIE, 2002). Outro estudo, envolvendo comparação do
antipsicótico atípico risperidona com o típico haloperidol, mostrou eficácia igual ou superior da
primeira em tratamento crônico, com menos efeitos extrapiramidais e melhor resposta sobre
sintomas negativos.

A relativa falta de efeitos extrapiramidais indica que a risperidona, por sua vez, apresenta melhor
perfil de efeitos adversos do que os antipsicóticos típicos (CHOUINARD et al., 1993; MARDER;
MEIBACH, 1994).

Diante de reduzida adesão ao tratamento com fármacos administrados por via oral para ambos
(antipsicóticos típicos e atípicos), uma alternativa são as injeções intramusculares de
antipsicóticos típicos (por exemplo: decanoato de bromoperidol, haloperidol e flufenazina) ou do
antipsicótico atípico risperidona, permitindo também maior intervalo de tempo entre as doses
administradas.
Estudos demonstram que ambos, típicos e atípicos, são eficazes para quadros de psicose, sendo
os atípicos superiores em quadros agudos de surtos psicóticos, assim como em tratamento de
manutenção, considerando o menor perfil de efeitos colaterais.

Videoaula - Ansiolíticos

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4. Farmacologia e farmacoterapia da ansiedade
A ansiedade é uma emoção normal em situações de ameaça, sendo considerada parte da reação
evolutiva de sobrevivência chamada de reação de “fuga ou luta”. Embora pareça normal ficar
ansioso quando um animal feroz está atacando, até sendo considerada uma adaptação, há
várias situações em que a presença da ansiedade é uma má adaptação e constitui um transtorno
psiquiátrico (STAHL, 2009).

Os primeiros fármacos introduzidos na década de 1960 com atividade ansiolítica, ainda muito
empregados para ansiedade, são denominados benzodiazepínicos (BZDs). O primeiro fármaco
BZD foi aprovado no início da década de 1960, o conhecido clordiazepóxido. Devido à ausência
de outro tipo de tratamento farmacológico, a adesão da classe médica à prescrição de fármacos
desse grupo foi rápida, justificada pela eficácia das propriedades: ansiolítica, hipnótica e
miorrelaxante (BERNIK et al., 1991; SILVA, 1999).

Os fármacos ansiolíticos BZDs foram extensivamente utilizados de maneira exagerada, uma vez
que os diagnósticos de neurose de ansiedade e transtorno de ansiedade generalizada foram
amplamente aplicados na década de 1960 (STAHL, 2009). O reflexo da má utilização desses
fármacos foi observado em pacientes portadores de depressão, que eram diagnosticados como
ansiosos. A utilização por tempo prolongado de benzodiazepínicos, aliada ao diagnóstico
incorreto, gerou décadas de pacientes dependentes, uma vez que, sabidamente, esses fármacos
causam dependência.

O conceito do transtorno de ansiedade generalizada (TAG) foi revisto com fragmentação


conceitual, considerando estados diferentes de ansiedade. Isso ocorreu justamente porque
fármacos como diazepam e alprazolam tornaram-se alguns dos mais prescritos no mundo. De
modo complementar, cresciam as críticas por essa utilização exagerada, enfatizada por uma
sociedade “supermedicada”. Em partes, esses fatos levaram à redefinição conceitual do TAG,
aliado ao reconhecimento de tipos e manifestações diferentes de ansiedade.

Nesse contexto, o transtorno de pânico foi diferenciado do TAG, e, por conseguinte, a fobia social
foi conceitual e sintomatologicamente separada daquele. Somado a isso, o transtorno
obsessivo-compulsivo e o transtorno de estresse pós-traumático foram diferenciados do TAG.
Há também a ansiedade de curta duração, causada por estresse, que desaparece em poucos
meses. A fragmentação conceitual, embasada em manifestações clínicas diagnosticadas,
resultou na caracterização de TAG por um diagnóstico residual, ou seja, ansiedade incapacitante
que não é causada por nenhuma das outras síndromes de transtornos de ansiedade conhecidos.
Dentro da base biológica, a explicação fundamental envolve o neurotransmissor denominado
ácido gama aminobutírico (GABA). A redução de neurotransmissão gabaérgica justifica quadros
de ansiedade. Aliado a essa falta de neurotransmissão, denotando menor potencial inibitório
pós-sináptico (PIPS), está também o excesso de excitabilidade neuronal ou potencial excitatório
pós-sináptico (PEPS), causado, por exemplo, por noradrenalina. Compondo a base para
depressão e ansiedade mistas (DAM), por entendimento de que ambas as patologias estão
relacionadas e crescem no estilo de vida moderno, está o neurotransmissor serotonina.

Nesse caso, a falta de serotonina para se ligar ao receptor 5HT1A explica o misto entre
ansiedade e depressão em manifestações sintomatológicas. Associar a farmacologia com essa
base biológica sem dúvida compõe o ponto de partida da farmacoterapia que deve ser
estabelecida.

Iniciando com os clássicos fármacos utilizados para ansiedade, os BZDs, como mencionado
acima, temos o primeiro mecanismo de ação, bem conhecido há tempos. Os BZDs atuam como
agonistas do receptor GABA A pós-sináptico, potencializando a ação do GABA nele. Na verdade,
os BZDs causarão uma modulação alostérica nesse receptor, de modo que o PIPS acontecerá
por tempo prolongado. Devido à propriedade agonista no receptor GABA A, ocorrerá abertura de
canais do íon cloreto, conduzindo ao aumento deste no neurônio pós-sináptico, com
consequente hiperpolarização, e, portanto, PIPS. A esse mecanismo atribui-se o efeito ansiolítico
produzido pelos fármacos BZDs. Do ponto de vista farmacológico, assume-se propriedade
sedativa e hipnótica deles.

O Quadro 6 resume o esquema terapêutico de fármacos BZDs empregados no TAG,


administrados por via oral.

Quadro 6 - Esquema terapêutico de benzodiazepínicos para adultos ao transtorno de ansiedade


generalizada, empregados por via oral

Fármaco Esquema terapêutico

Diazepam A dose é de 5 mg a 20 mg/dia. Normalmente, a dose oral única não deve ser superior a
10 mg.

Alprazolam A dose inicial é de 0,25 mg até 0,5 mg, administrada até três vezes ao dia. Os limites da
dose habitual são 0,5 mg até 4,5 mg ao dia, em doses divididas na administração diária.

Clonazepam A dose é de 0,25 mg a 4 mg ao dia. Em geral, a dose recomendada deve variar entre 0,5 a
1,5 mg/dia (dividida em três vezes).

Clordiazepóxido Em casos de pequena e média gravidade, a dose recomendada é de 10 mg, de três a


quatro vezes ao dia. Nos casos graves, de 20 mg, de duas a quatro vezes ao dia.

Lorazepam A dose média é de 1 mg a 4 mg por dia, em dose única ou dividida.


Fármaco Esquema terapêutico

Clorazepato A dose média é de 5 mg a 30 mg por dia, à noite (antes de dormir).

Triazolam A dose recomendada é de 0,25 mg à noite (antes de dormir). Uma dose de 0,125 mg
pode ser eficaz para alguns pacientes que exibem baixo peso. A dose de 0,5 mg deve
ser usada em casos excepcionais de pacientes que não respondem à administração da
dose recomendada. Não se deve exceder a dose de 0,5 mg.

Flurazepam A dose recomendada é de 15 mg a 30 mg antes de deitar (uma hora antes).

Clobazam A dose inicial usual é de 20 mg por dia. Se houver necessidade, pode ser aumentada
para 30 mg/dia.

Flunitrazepam A dose recomendada é de 0,5 mg a 1 mg por dia. Em casos excepcionais, pode ser
elevada a até 2 mg.

Brotizolam A dose recomendada é de 0,25 mg uma vez ao dia, ao deitar.

Fonte: Korolkovas; França (2012).

Ainda falando de fármacos BZDs, inserido como ansiolítico está o fármaco midazolam. Este,
porém, é empregado para sedação associada a procedimentos pré-cirúrgicos, assim como para
finalidade diagnóstica (por exemplo: antes de endoscopia) e também em associação ao
analgésico opioide fentanil (em esquemas terapêuticos de indução de coma, para reduzir
pressão intracraniana, por exemplo).
Farmacologia e farmacoterapia às doenças
5.
neurodegenerativas

5.1 Doença de Alzheimer

As enfermidades neuropsicopatológicas vêm crescendo e ganhando espaço entre as doenças do


mundo moderno, embora sem uma cura e com base biológica ainda sendo desvendada. Dentre
tais patologias, está a doença de Alzheimer.

A doença de Alzheimer é considerada a mais importante doença neurodegenerativa da


atualidade. Em países desenvolvidos, é tida como a terceira causa de morte, perdendo apenas
para doenças cardiovasculares e para o câncer.

Em uma tentativa de conhecer a base biológica, em 1960, estudos de microscopia eletrônica


sinalizaram duas possíveis lesões em pacientes portadores dessa doença:

(1) placas neuríticas (ou senis), que contêm depósitos extracelulares de proteína β-amiloide (APP) e

(2) um emaranhado neurofibrilar localizado normalmente no citoplasma perinuclear e um composto

de proteínas Tau hiperfosforiladas. Essas lesões clássicas podem ocorrer de maneira independente

e, até hoje, não há um consenso se as mesmas seriam causas ou consequências do desenvolvimento

da DA (FRIDMAN et al., 2004, p. 19).

Atualmente, é sabido que

mutações nos genes codificadores para a APP [Amyloid b (A4) precursor protein], apoE (apolipoprotein

E), PSEN1 (presenilin 1) e PSEN2 (presenilin 2) são consistentemente associadas com o

estabelecimento da DA. Esses genes localizam-se em diferentes cromossomos e pelo menos alguns

deles devem participar de uma via neuropatogênica comum, que culmine com o desencadeamento

da doença. Esses quatro genes são, até o dia de hoje, os mais importantes e mais consistentes

marcadores para a DA. No entanto, as alterações nos mesmos não são suficientes nem necessárias

para explicar todos os casos de DA (FRIDMAN et al., 2004, p. 20).

Considerando a dificuldade de definição precisa da base biológica, assim como do estágio


preciso de progressão correlacionada à dimensão da neurodegeneração, a farmacoterapia é
definida e embasada a partir da seguinte sequência: (1) terapêutica específica para reverter
processos fisiopatológicos; (2) abordagem profilática, para retardar o início da demência ou
prevenir o declínio cognitivo; (3) tratamento sintomático, para restaurar as capacidades
cognitivas, bem como as habilidades funcionais e o comportamento; (4) terapêutica
complementar, que busca tratamento de manifestações não cognitivas, como depressão,
psicose, distúrbio de sono e agressividade (FORLENZA, 2005).

A farmacoterapia da doença de Alzheimer é a seguinte, lembrando que os fármacos não curam,


mas apenas amenizam sintomas da doença:

Inibidores de colinesterase: (1) reversíveis: tacrina, galantamina e donepezil; (2) pseudoirreversível


(ou lentamente reversível): rivastigmina.
Antagonista não competitivo do receptor NMDA: memantina.

A Tabela 3 destaca os fármacos utilizados na doença de Alzheimer, com doses definidas e


esquema terapêutico diário.

Tabela 3 - Farmacoterapia à doença de Alzheimer, com esquema terapêutico diário e respectivas doses
Fármaco Dose (mínima até a máxima/dia) Esquema terapêutico diário

Tacrina 40-160 mg Quatro vezes

Donepezil 5-10 mg Dose única

Rivastigmina 6-12 mg Duas vezes

Galantamina 12-24 mg Duas vezes

Memantina 10-20 mg Duas vezes

Fonte: elaborado pela autora.

Há ainda outras abordagens terapêuticas à doença de Alzheimer, por exemplo, a utilização de


antioxidantes, como vitamina E (alfa-tocoferol) em doses de 1.000 UI duas vezes ao dia, ou
IMAOs (reversíveis na inibição da MAO B), como selegilina, com dosagem de 10 mg uma vez ao
dia.

Estudos apontam benefícios adicionais de: (1) estrógeno, por sugerir que 17-beta-estradiol pode
atenuar a neurotoxicidade promovida por beta-amiloide; (2) anti-inflamatórios esteroides (AIEs)
por exercerem efeito neuroprotetor, modificando a patogênese e o risco de doença de Alzheimer,
porque fenômenos inflamatórios ocorrem secundariamente ao longo da maturação e nas
adjacências de placas senis (ou neuríticas), como parte da cascata do beta-amiloide; (3)
estatinas, a partir de estudos que demonstram uma interdependência entre o metabolismo do
colesterol e a via metabólica do beta-amiloide; (4) ginkgo-biloba, por conter glicosídeos de
ginkgoflavonas e terpenoides, cuja ação combinada promove aumento do suprimento sanguíneo
cerebral, além de reduzir a densidade de radicais livres de oxigênio nos tecidos nervosos
(FORLENZA, 2005).
As perspectivas de tratamento são motivadas por estudos de fármacos com propriedade
antiamiloide, em especial devido à descoberta de um gene raro, associado à mutação na doença
de Alzheimer, que demonstra uma proteção contra o desenvolvimento dela. O gene descoberto
protege contra a produção do peptídio beta-amiloide (principal etiologia da doença de
Alzheimer), por interferir em enzima que catalisa a proteína precursora de beta-amiloide (APP),
conduzindo a menor formação desse peptídio com potencial neurodegenerativo. Essa
descoberta teve maior impacto em população estudada da Escandinávia (JONSSON et al., 2012).
Mesmo sendo raro, esse fato compõe um interessante raciocínio para os estudos de
tratamentos, tanto para o desenvolvimento de fármacos antiamiloides e de novas estratégias de
moléculas associadas à estrutura desse gene quanto para a formulação de fármacos que sejam
semelhantes (análogos estruturais) a ele.

Videoaula - Parkinson

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"https://player.vimeo.com/video/767338595".

5.2 Doença de Parkinson


Figura 3 - Ilustra a região neuronal afetada na DP e a relação com a
neurotransmissão dopaminérgica normal e deficiente

Fonte: Piveta (2011)

Dentre as doenças neurodegenerativas existentes, sem dúvida a doença de Parkinson (DP) é a


que mais representa esse grupo de enfermidades, dada a maior incidência mundial em indivíduos
acima de 50 anos no cenário mundial. A DP é caracterizada por um distúrbio neurológico de
movimento, no qual ocorre degeneração da substância negra (ou nigra) mesencefálica, com
início assintomático, seguido de evolução dos sintomas motores. Há também sintomas menos
conhecidos e não motores, como hipersalivação, náuseas e transtornos gastrointestinais.
Estima-se que os sintomas apareçam aproximadamente quando cerca de 50% dos neurônios
dopaminérgicos já foram degenerados e apenas 20% da dopamina permanece liberada.

A farmacoterapia fundamental consiste na administração de levodopa (também intitulada


levodopoterapia). O fármaco levodopa atua como precursor da dopamina, competindo no
processo de síntese daquela, aumentando a biodisponibilidade dela no sistema nervoso central
(SNC), o que melhora a tolerância do paciente ao tratamento.

Como a dopamina administrada por via oral não ultrapassa a barreira hematoencefálica, o
fármaco levodopa é utilizado. Ele competirá com dopa, resultando na formação de levodopamina,
mas há o inconveniente relacionado com esse fármaco, que apresenta variados efeitos adversos.

Nesta seção, será apresentada a farmacoterapia da DP para acentuar e discutir a eficácia dos
fármacos, já que, na prática neurológica, o tratamento é marcado por uma série de controvérsias,
tanto no emprego quanto na indicação, somadas ao fato de que os fármacos não curam a
doença.

O desequilíbrio entre as neurotransmissões dopaminérgica (pela dopamina) e colinérgica (pela


acetilcolina) justifica os distúrbios neurológicos progressivos do movimento muscular
evidenciados na DP, caracterizados por rigidez muscular, bradicinesia (lentidão em iniciar e
continuar os movimentos voluntários), tremores e anomalias de postura e marcha. Ocorre,
especialmente, degeneração na região neuronal denominada nigroestriada, dopaminérgica. A
Figura 3 ilustra a região neuronal afetada na DP. O Quadro 7 mostra os principais
antiparkinsonianos, seus mecanismos de ação e prováveis interações medicamentosas.

Quadro 7 - Destaca a farmacoterapia antiparkinsoniana para adultos, por via oral

Fármaco Mecanismo de ação Farmacoterapia

Biperideno Bloqueio da A dose inicial usual é de 1 mg (1/2 comprimido) duas vezes


neurotransmissão ao dia (correspondendo a 2 mg) ou 1 comprimido de 2 mg
colinérgica. uma vez ao dia. A dose de manutenção é de 3 mg a 16
mg/dia. A dose máxima diária recomendada é de 16 mg (8
comprimidos ao dia).

Amantadina Provável aumento na Um comprimido duas vezes ao dia. Eventualmente,


síntese, liberação ou aumentar até um comprimido três vezes ao dia.
recaptação de dopamina.

Bromocriptina Agonista de receptores Dose inicial de 1,25 mg à noite durante a primeira semana.
dopaminérgicos. Aumentar para 2,5 mg à noite na segunda semana. Na
semana seguinte, para 2,5 mg duas vezes ao dia, passando
para 2,5 mg três vezes ao dia. Dependendo da resposta,
aumentar 2,5 mg semanalmente. A dosagem terapêutica
média, tanto em monoterapia quanto em tratamento
combinado, é de 10 mg a 40 mg por dia.

Carbidopa + Diminuição no A enzima periférica dopa descarboxilase é saturada pela


levodopa metabolismo da levodopa carbidopa com doses entre 70 mg e 100 mg diariamente.
(associados no trato gastrintestinal e Pacientes não recebendo levodopa inicial: 13,5 mg de
na mesma tecidos periféricos e carbidopa + 125 mg de levodopa uma ou duas vezes ao dia.
formulação) aumento de sua Ajuste: acréscimo de 13,5 mg de carbidopa e 125 mg de
disponibilidade no SNC levodopa a cada dia, ou em dias alternados, até ser atingida
por inibir a enzima dopa a dose ótima. Manutenção: um comprimido (27 mg de
descarboxilase apenas carbidopa + 250 mg de levodopa) de três a quatro vezes por
perifericamente. dia. Se necessário, a posologia pode ser aumentada
Carbidopa não passa a gradativamente, em dias alternados, até o máximo de oito
barreira comprimidos por dia. A terapia deve ser individualizada e
hematoencefálica. ajustada de acordo com a resposta terapêutica desejada.
Levodopa é precursora da
dopamina no SNC,
aumentando seus níveis.
Fármaco Mecanismo de ação Farmacoterapia

Benserazida + Benserazida inibe a Nos estágios iniciais da doença de Parkinson, é


levodopa enzima dopa recomendável iniciar o tratamento com ¼ de comprimido
(associados descarboxilase de levodopa + benserazida 250 (62,5 mg), de três a quatro
na mesma perifericamente. vezes ao dia. A dose pode ser aumentada lentamente, de
formulação na acordo com a resposta do paciente. A otimização do efeito
proporção 1:4 em geral é obtida com uma dose diária de levodopa +
de dose) benserazida correspondente a 300-800 mg de levodopa +
75-200 mg de benserazida, dividida em três ou mais
administrações. Podem ser necessárias quatro a seis
semanas para se atingir o efeito ideal. A dose média de
manutenção é de ½ comprimido (125 mg) de levodopa +
benserazida 250, de três a seis vezes ao dia.

Selegilina Diminuição no 5 mg duas vezes ao dia (café da manhã e almoço), ou 10 mg


metabolismo da VO, pela manhã. Idosos: 5 mg uma vez ao dia (pela manhã),
dopamina e aumento de podendo aumentar para duas vezes ao dia.
seus níveis no cérebro,
por inibir a enzima
monoaminoxidase (MAO)
B de maneira reversível.

Entacapona Aumenta dopamina 200 mg, podendo estar associada a um comprimido de


disponível no SNC, por carbidopa + levodopa. A dose máxima é de 200 mg dez
inibir a enzima catecol-o- vezes ao dia (2 g/dia).
metil-transferase (COMT).

5.3 Esclerose múltipla

A esclerose múltipla (EM) é doença inflamatória e desmielinizante do sistema nervoso central.

Admite-se que células T ativadas por autoantígeno ainda não determinado, passam da periferia para

o SNC pela barreira hematoencefálica, evento considerado essencial na patogênese da

desmielinização (TILBERY et al., 2000, p. 452).

A disfunção do sistema imunológico resulta no ataque do corpo ao seu próprio tecido nervoso.
As células T são ativadas e desencadeiam esses ataques. Normalmente, essas células estão
envolvidas em defender o corpo contra agentes infecciosos externos, como os vírus e as
bactérias. As células T altamente estimuladas no cérebro são responsáveis pelo dano à bainha
de mielina, pois elas também ativam outras células de defesa, chamadas macrófagos. Estes
“consomem” as bainhas de mielina que envolvem os neurônios. O resultado é que surgem
buracos na mielina, os quais provocam uma transmissão mais lenta dos impulsos ao longo das
vias de fibras nervosas. Essa transmissão mais lenta gera os sintomas comumente observados
na EM (GOLD; RIECKMANN, 2000).
A esclerose múltipla acomete jovens de 20 a 40 anos, com maior incidência no sexo feminino e
população branca.

Geograficamente incide com maior prevalência nas regiões situadas entre os paralelos 44 e 64 N,

sendo consideradas áreas de alta prevalência aquelas com número de casos acima de 30/100.000

habitantes, média prevalência áreas com número de casos entre 5 a 30/100.000 habitantes e baixa

prevalência com número de casos inferior a 5/100.000 habitantes. O Brasil é considerado um país de

baixa prevalência da EM, existindo contudo regiões que apresentam média incidência, como

demonstram estudos em cidades como São Paulo, Belho Horizonte e Botucatu. Especula-se que essa

diferença entre as diversas regiões do Brasil decorra em parte de nossa diversidade genética e de

nosso índice de miscigenação (GRZESIUK, 2006, p. 636).

Curiosamente, a incidência e a prevalência de EM em população negra é quase inexistente. Ainda


não há substancial embasamento científico para explicar tal fato (OLIVEIRA et al., 1999), mas
supõem-se que, a diferenças geneticamente determinadas, teriam correspondência sistemas e
respostas imunológicas diferentes.

Como tentativa de explicar a base biológica,

O processo autoimune na EM implica na ativação das células T por um ou mais antígenos da

mielina (peptídeos da proteína básica da mielina) apresentadas por moléculas do complexo maior

de histocompatibilidade da classe II (MHC II) na superfície de astrócitos, células da microglia e

endoteliais no SNC (TILBERY et al., 2000, p. 457).

A partir desse mínimo conhecimento científico, um dos raciocínios da farmacoterapia é utilizar


fármacos imunossupressores e/ou imunomoduladores, além daqueles com alguma propriedade
antiviral, uma vez que as possíveis alterações que envolvem o SNC podem estar ligadas à
manifestação viral neste sistema.

Os interferons são proteínas produzidas por quase todas as células de vertebrados e atuam na

função celular e na imunorregulação, sendo utilizadas em várias doenças como lúpus eritematoso

disseminado, artrite reumatoide e linfomas e mais recentemente na EM. A EM apresenta-se com

atividade clínica recorrente ou contínua, sugerindo que ela pudesse estar relacionada à persistência

ou latência de um vírus no SNC. Este fato motivou o uso de interferons na doença, uma vez que este

tem também atividade antiviral (TILBERY et al., 2000, p. 456).


Os corticosteroides são os primeiros fármacos prescritos aos pacientes durante um surto de EM
para reduzir sua gravidade e duração devido à supressão do sistema imunológico (DOWLING;
BOSCH; COOK, 1980).

Foram realizadas tentativas terapêuticas nos anos 50, em pacientes com EM tratados com o

hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). O ACTH estimula a produção da cortisona no córtex da

suprarrenal. A administração deste hormônio na vigência de um surto de EM gerou melhora

expressiva. O tratamento com ACTH há aproximadamente 25 anos se tornou a terapia de referência

para os surtos de EM (exacerbações agudas). Todavia, atualmente não é mais utilizado (MORALES et

al., 2007, p. 456).

Os fármacos anti-inflamatórios esteroides (AIEs) reduzem a inflamação característica na EM,


devido à supressão da migração das células imunológicas para o SNC. Todavia, não demonstram
em longo prazo influência no curso da doença do paciente portador de EM. Nos estudos iniciais à
terapêutica da EM, não existia clareza de discernimento sobre os efeitos positivos em um surto.
Foi realizado um estudo, em 1980, sobre o efeito da administração endovenosa de
metilprednisolona em alta dose, culminando na demonstração de um potente efeito
antiexacerbador. Comparativamente com o uso de ACTH, metilprednisolona apresentou eficácia
superior.

O benefício do tratamento deve ser demonstrado com a redução da gravidade e da duração dos
surtos, bem como uma diminuição discreta de espasmos. Portanto, esse AIE representa um
positivo tratamento para os surtos, porém não para a terapia contínua. AIEs devem ser avaliados
como tratamentos contínuos com cuidado, devido às conhecidas reações adversas associadas a
esses fármacos, com: osteoporose (devido à inibição de osteoblastos e ativação de
osteoclastos), desgaste muscular, bem como ganho de peso, conduzindo a quadros de
obesidade (DOWLING; BOSCH; COOK, 1980).

A terapia por longo prazo com AIEs administrados em baixas doses não é recomendada. Com o
propósito de

prevenir outro breve surto de manifestação inflamatória, após a administração endovenosa de

metilprednisolona, durante 2-3 semanas prednisona pode ser administrada na forma de

comprimidos, em doses gradativamente reduzidas. A prescrição de altas doses de corticosteroides

também na forma de comprimidos é adotada por alguns neurologistas, considerado eficaz durante

um surto. No entanto, há escassos estudos controlados que corroboram esse achado (DOWLING;

BOSCH; COOK, 1980, p. 34).


Outros fármacos, com propriedade imunossupressora, também utilizados no tratamento de
surtos na EM são: metotrexato, azatioprina, cladribina e ciclosporina; acetato de glatirâmer e
mitoxantrona (os benefícios potenciais destes dois fármacos são superados pelo risco de efeitos
colaterais); imunoglobulina endovenosa e plasmaferese - em episódios agudos graves em
pacientes anteriormente não incapacitados (GOODIN et al., 2002).

O uso de imunoglobulina endovenosa (0,15-0,2 g/kg) por dois anos também apresentou como
resultado em alguns estudos a redução da taxa anual de surtos, porém nenhuma diferença foi
observada com relação à progressão da doença (MOREIRA, 2002).

Os imunossupressores como opção de tratamento à EM e, mais recentemente, os


imunomoduladores modificaram o desenvolver da doença nos últimos anos. O Ministério da
Saúde aprovou, em 1997, a dispensação, a distribuição e o uso de interferon beta 1b (Betaferon®)
e interferon beta 1a (Rebif®) no Sistema Único de Saúde. Consequentemente, houve uma
demanda crescente na prescrição desses fármacos e emergiu a necessidade da elaboração de
protocolos e recomendações para o uso de imunomoduladores na EM (ACADEMIA BRASILEIRA
DE NEUROLOGIA, 2005).

Com relação aos critérios de diagnóstico da doença, é recomendável a adoção de critérios


firmados pelo Painel Internacional para o Diagnóstico da Esclerose Múltipla para todos os
envolvidos no atendimento de pacientes com EM (ACADEMIA BRASILEIRA DE NEUROLOGIA,
2005). Isso é importante para possibilitar a correlação da classificação da doença com a
prescrição do fármaco mais adequado, já que esta pode não ser compatível com a fase da
doença em que determinado paciente se encontra. Assim, sugere-se a adoção como
classificação da EM: remitente-recorrente, secundária-progressiva, primária-progressiva e
progressiva com surtos (ACADEMIA BRASILEIRA DE NEUROLOGIA, 2005).

Outro tratamento para EM, ainda não muito acessível e em fase de estudos quanto aos
potenciais benefícios, é o transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH).

A utilização de TCTH em doenças autoimunes apresenta positivas bases experimentais e clínicas. O

sucesso desta abordagem terapêutica foi evidenciado em modelos animais de doença autoimune e

em pacientes portadores de EM. Em 1996 foi feito o primeiro transplante isolado na Suíça e, a partir

disto, inúmeros pacientes foram submetidos ao transplante (VOLTARELLI, 2002, p. 10).

Para tanto,
é necessário conhecer bem o papel da célula tronco hematopoética infundida, desde a escolha do

melhor tipo de transplante (auto, alo ou minialo), passando pela necessidade de depleção de células

T e B concomitantes até os melhores esquemas de mobilização e de condicionamento (VOLTARELLI,

2002, p. 10).

Estudos têm demonstrado também que, além da terapia medicamentosa apropriada de acordo
com a fase da doença na EM, mudanças da dieta podem auxiliar na melhora da qualidade de vida
desses pacientes. De acordo com Dworkin et al. (1984), os ácidos graxos essenciais são aquelas
gorduras de que o corpo necessita para a manutenção da saúde, mas é incapaz de produzir, por
isso devem ser obtidas da dieta. Os autores ainda destacam

O ácido linoleico é o mais amplamente usado desses ácidos graxos essenciais e está presente em

grandes quantidades no óleo de prímula e no óleo de starflower. Ele é chamado ácido graxo da série

ômega-6, com o 6 referindo-se ao local em que é encontrada a ligação não saturada. Outro tipo de

ácido graxo essencial é a série ômega-3, encontrada nos óleos de peixe e no óleo de linhaça. Há

evidências de que esses ácidos graxos essenciais podem alterar a resposta inflamatória nas

doenças autoimunes, como ocorre na EM (DWORKIN et al.,1984, p. 1442).

Na EM recorrente-remitente, a dieta saudável sugerida é a mesma recomendada à população


adulta. A manutenção do funcionamento intestinal saudável, com aumento de ingestão de
vitamina B12 e de ácidos graxos essenciais, constitui uma mudança salutar. É recomendável o
uso de óleos (por exemplo, de girassol) poli-insaturados e alimentos com pouca gordura, a
exemplo do leite desnatado ou semidesnatado, bem como preferência por carnes magras e
vegetais (PAYNE, 2001).

Para pacientes portadores de EM secundária-progressiva, o ajuste na dieta compõe um fator


importante. Inúmeras morbidades coexistem na EM secundária- progressiva, sinalizando
limitações ao cotidiano do paciente. Por exemplo: a obesidade, como consequência da fadiga,
depressão e processos dolorosos requerem atenção, devido às consequências oriundas de tal
quadro. Por essa razão, a reeducação alimentar, com ajustes na ingestão de gordura,
carboidratos e bebidas alcoólicas, é necessária ao paciente portador de EM secundária-
progressiva.

Por outro lado, há pacientes que perdem peso, o que pode estar relacionado à desnutrição. Isso
aumenta a vulnerabilidade a infecções (PAYNE, 2001). A perda de peso e a desnutrição são
consequências motivadas por: mobilidade reduzida, deficiência de visão e fadiga, aliadas aos
problemas físicos no ato de se alimentar causados por tremores, por exemplo.
De acordo com o Projeto Diretrizes da Associação Médica Brasileira e do Conselho Federal de
Medicina, excluindo-se a forma progressiva primária da EM, bem como a remissão caracterizada
como doença muito avançada e mulheres em que a possibilidade de concepção não pode ser
controlada, a farmacoterapia é estabelecida com os fármacos interferon beta 1b (injeção
subcutânea) e interferon beta 1a (administração subcutânea e administração intramuscular).

A Tabela 4 descreve o esquema terapêutico da EM com interferon beta. Complementarmente, o


fármaco acetato de glatirâmer, também com propriedade imunossupressora (como mencionado
anteriormente), pode ser usado diariamente na dose 20 mg de modo subcutâneo.

Tabela 4 - Esquema terapêutico com o fármaco interferon beta para EM

Fármaco Esquema terapêutico

Interferon beta 1b 9,6 MUI por via subcutânea, em dias alternados.

Interferon beta 1a 12 MUI por via subcutânea, três vezes por semana.

Interferon beta 1a 6 MUI por via intramuscular, uma vez por semana.

Fonte: AMB; CFM (2001).


6. Farmacologia e farmacoterapia da enxaqueca
Figura 4 - Ilustra a relação entre as fibras perivasculares sensitivas
simpáticas e parassimpáticas interagindo com agentes vasoativos locais
na produção da inflamação neurogênica

Legenda: SP = substância P; CGRP = peptídeo relacionado ao gene da


calcitonina; NKA = neurocinina A; ET = endotélio; NO = óxido nítrico; NA =
noradrenalina; NPY = neuropeptídio Y. Fonte: Vincent (1998).

De acordo com Martins e Silva (2010), a enxaqueca é uma doença multifatorial, com participação
neuronal e vascular, manifestada em processos crônicos ou agudos. As respostas de
neurotransmissores não se restringem a um único sistema neuronal, mas estendem-se a vários
como o serotoninérgico, adrenérgico, glutamatérgico e dopaminérgico. Conforme destacado, no
componente multifatorial, estão incluídas as seguintes possibilidades de fatores: alimentos,
alterações hormonais, utilização de análogos a hormônios, calor ou frio excessivo, longo tempo
de jejum, insônia, alterações do ciclo circadiano, estresse, poluição, ruídos, odores intensos,
fatores genéticos, dentre outros.

Para Olesen, Larsen e Lauritzen (1981; p. 346), “a ideia de que a aura (fenômeno neurológico
focal de natureza principalmente visual, que usualmente antecede a fase dolorosa na crise de
enxaqueca) surge devido à vasoconstrição; e a dor, devido à vasodilatação”.
A Figura 4 busca ilustrar conexões neuronais envolvendo não somente neurotransmissores nos
mecanismos implicados na dor produzida na enxaqueca.

A Tabela 5 aponta grupos farmacológicos e fármacos que podem ser usados para enxaqueca,
valendo relembrar que não são exclusivos para essa patologia. Pode-se notar também o grau ou
a intensidade do efeito e das reações adversas.

Tabela 5 - Farmacoterapia da enxaqueca: relação entre grupo farmacológico/ fármaco, eficácia e


eventos adversos
Grupo farmacológico/fármaco Eficácia Eventos adversos

Betabloqueadores 4+ 2+

Antisserotoninérgicos

Pizotifeno 4+ 2+

Metisergida 4+ 4+

Bloqueadores de canais para cálcio

Verapamil 2+ 1+

Flunarizina 4+ 2+

Antidepressivos

IMAOs 4+ 4+

ADTs 4+ 2+

ISRSs 2+ 1+

Anticonvulsivantes

Divalproato/valproato 4+ 2+

Gabapentina 2+ 2+

Topiramato 4+ 2+

Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) 2+ 2+

Fonte: Adaptado de Krymchantowski; Rapoport; Jevoux (2007).


7. Farmacologia e farmacoterapia da obesidade
De acordo com Mancini (2003, p. 25), “obesidade é uma doença universal de prevalência
crescente e que vem adquirindo proporções alarmantemente epidêmicas, sendo um dos
principais problemas de saúde pública da sociedade moderna”. A obesidade é uma doença
crônica que agrava ou contribui para o aparecimento de inúmeras comorbidades, como a atual
inserção na caracterização de síndrome metabólica. Determinar a farmacoterapia da obesidade
representa um grande desafio.

A estratégia terapêutica da obesidade tem passado por profundas modificações nos últimos
anos. Esse fato associa-se às inúmeras discussões que permeiam a obesidade, em especial ao
princípio há muito adotado de estímulo ao efeito anorexígeno. O adequado planejamento de
reeducação alimentar, tido como superior às dietas tradicionais, representa a ideal possibilidade
de tratamento não farmacoterápico. Vale destacar a importância da atividade física, que deve ser
estabelecida de acordo com a aptidão física de cada indivíduo.

De acordo com Fortes et al. (2006), “a obesidade é um fator predisponente para diversas
enfermidades, tais como: câncer, calculose biliar, doenças respiratórias e ósteo-articulares,
hipertensão arterial, dislipidemia, resistência à insulina, diabetes, além de estar associada a
efeito negativo na saúde reprodutiva”.No Brasil, grande número de mortes prematuras entre
adultos é causado por estas morbidades (MARTINS et al, 1993).

Diante da polêmica e intermitente discussão acerca da farmacoterapia para obesidade, que


resultou na feliz decisão de retirada das anfetaminas em 2011 no Brasil, o arsenal terapêutico é
restrito. Ainda em 2011, quando as anfetaminas foram descontinuadas do tratamento para
obesidade, devido aos riscos insuperáveis de dependência e tolerância, além da anorexia gerada,
o fármaco sibutramina passou a ser obrigatoriamente utilizado de maneira rigorosa,
fundamentada na RDC 52/11.

Na terceira semana de maio de 2013, a Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância


Sanitária (ANVISA) votou pela continuidade da utilização de sibutramina no Brasil, mantendo o
determinado na referida RDC.

De acordo com a RDC 52/11, as orientações para estabelecimento de farmacoterapia com


sibutramina, respeitando a dose máxima de 15 mg/dia, estão sujeitas a algumas restrições,
como: monitorização para promover redução de peso de 5% a 10%, além de controle de
parâmetros metabólicos tidos como fatores de risco; utilização apenas em pacientes com índice
de massa corpórea igual ou maior que 30 kg/m2, vinculado à mudança nos hábitos alimentares e
incorporação de atividade física.

Todavia, o uso desse fármaco está contraindicado para: pacientes portadores de DM2 associado
a outro fator de risco, como hipertensão ou dislipidemia; indivíduos com idade acima de 65 anos
ou adolescentes; pacientes que utilizam concomitantemente algum fármaco que atua no sistema
nervoso central; e pacientes com precedente de alguma doença coronariana. Por essa razão,
notamos como é importante a estabilidade de alterações metabólicas evidenciadas na síndrome
metabólica.

Pelos motivos expostos acima, em especial quando um paciente é portador de cardiopatia e


diabetes, o fármaco sibutramina não pode ser utilizado contra a obesidade. Nesses casos, o
fármaco orlistat é o único fármaco que compõe o arsenal terapêutico específico à obesidade.
Esse fármaco atua inibindo as lipases pancreáticas, impedindo assim a absorção de gorduras.
Por essa razão, uma farmacoterapia estabelecida com orlistat exige uma reeducação alimentar,
para impedir flatulências e diarreias geradas pela ingestão exacerbada de gorduras, uma vez que
estas serão eliminadas pelas fezes. A dose mínima desse fármaco é 120 mg/dia, podendo chegar
a até 360 mg/dia (dose máxima).
8. Farmacologia e farmacoterapia do SNA
A pretensão nesta seção é discutir a farmacologia e a farmacoterapia do SNA, com a consciência
de que esse tema é amplo, também se relacionando com o SNC em vários aspectos. Portanto,
algumas características do funcionamento e das respostas autonômicas serão aqui destacadas,
como: autoimunidade e sua relação com as placas motoras terminais na doença miastenia
gravis; hipotonia na bexiga diante de retenção urinária pós-operatória; farmacologia e
farmacoterapia com anticolinérgicos nos tratos gastrintestinal e respiratório; utilização de
betabloqueador para glaucoma; utilização de relaxantes musculares em procedimentos
cirúrgicos e diante da necessidade de intubação; e farmacologia e farmacoterapia da
fibromialgia.

8.1 Farmacologia e farmacoterapia de miastenia gravis

De acordo com Cunha, Scola e Werneck (1999), a miastenia gravis (MG) é uma enfermidade que
acomete as junções neuromusculares, com demonstração sintomática de fadiga excessiva.
Fármacos que inibem a enzima colinesterase são utilizados e colaboram com a melhora dos
sintomas. Todavia, com o tempo, eles deixam de produzir efeito. Isso ocorre porque a MG é uma
doença autoimune, na qual, nas junções neuromusculares, os receptores colinérgicos são
bloqueados e destruídos por anticorpos antirreceptores de acetilcolina.

MG é causada por anticorpos antirreceptores de acetilcolina, em grande parte dos portadores desta

doença. Nos anos 70 foi estabelecido o papel destes anticorpos na etiologia de MG, uma vez que a

plasmaférese comprovou eficácia na remoção dos anticorpos e ocasionou melhora dos sintomas por

mais de 2 meses (VINCENT; PALACE; HILTON-JONES, 2001, p. 2123).

Consideravelmente, toda doença autoimune acaba afetando outros sistemas além dos
relacionados à enfermidade. Por exemplo, é comum em processos autoimunes a destruição de
tireoglobulina, motivo pelo qual o paciente começa a apresentar distúrbios da tireoide: primeiro,
exibe um quadro de hipertireoidismo, e após, de hipotireoidismo. Vale destacar que podem
ocorrer concomitantemente com MG: lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, aplasia de
células vermelhas, colite ulcerativa, síndrome de Sjögren e doença de Addison (AMATO; RUSSEL,
2008).

As complicações clínicas mais proeminentes da doença são: tetraparesia e insuficiência


respiratória (crise miastênica). O índice de mortalidade é baixo, 1,7 por milhão da população
geral, minimizados devido aos avanços da farmacoterapia definida (DRACHMAN, 1994).
O tratamento de manutenção da MG consiste na utilização de fármacos inibidores da
acetilcolinesterase, AIEs, imunossupressores e também imunoglobulina humana. Para tanto, vale
destacar que os fármacos anticolinesterásicos produzem efeito até um determinado momento
na evolução da doença, pois, com o tempo, a destruição excessiva de receptores de acetilcolina
não permitirá a concretização de efeito colinérgico em placa motora terminal. O fármaco AIE
prednisona, devido à propriedade imunossupressora, é empregado em pacientes refratários ao
tratamento com o inibidor da acetilcolinesterase, o fármaco piridostigmina.

O imunossupressor azatioprina é indicado para pacientes glicocorticoiderresistentes ou com


consideráveis efeitos adversos ou que precisem reduzir a dose de prednisona. O fármaco
ciclosporina é reservado para pacientes com MG generalizada que não responderam à
terapêutica estabelecida com prednisona, tampouco com azatioprina ou à associação dos dois.
Já o fármaco imunossupressor ciclofosfamida deve ser usado apenas para casos de
refratariedade aos anteriores. Para farmacoterapia com imunoglobulina humana, estudos não
são plenamente conclusivos e definidores para manutenção e em longo prazo, porém
demonstra-se eficácia em formas agudas de MG. O Quadro 8 resume a farmacoterapia para MG
com esses fármacos destacados.

Quadro 8 - Fármacos e farmacoterapia determinada à miastenia gravis em adultos

Fármaco Esquema terapêutico

Piridostigmina A dose recomendada é de 30-60 mg, por via oral, a cada seis horas. A dose deve ser
gradualmente ajustada diante do controle de sintomas miastênicos e redução dos
efeitos adversos. A maioria dos adultos necessita de 60-120 mg a cada 4-6 horas.

Prednisona Dois esquemas são recomendados: (1) iniciar com altas doses matinais diárias, por via
oral, por duas semanas e, a seguir, utilização alternada até o controle pleno dos
sintomas. Após esse período, deve-se diminuir 5 mg a cada 2-3 semanas. Nessa fase,
caso haja recidiva, considera-se associação com outro imunossupressor; (2) iniciar
com doses baixas (15-20 mg/dia) com aumento gradual (5 mg a cada 2-4 dias) até
melhora dos sintomas. O primeiro esquema é preferido nos casos moderados a graves;
o segundo, nos casos generalizados leves ou puramente oculares refratários. Embora
ambos os esquemas terapêuticos estejam associados à piora transitória da força
muscular (10%-30% dos casos), esse efeito adverso é minimizado pelo aumento gradual
da dose desse fármaco.

Azatioprina Iniciar com dose de 50 mg/dia, por via oral, com aumento gradual durante 1-2 meses
até 2-3 mg/kg/dia.

Ciclosporina Iniciar com 3-4 mg/kg/dia, por via oral, em duas doses, com aumento gradual de 6
mg/kg/dia, se necessário, para o controle dos sintomas. Após melhora com dose
máxima, deve-se diminuir a dose ao longo de meses até a mínima tolerável.

Ciclofosfamida Pulsoterapia intravenosa mensal com 500 mg/m2 de superfície corporal por 12 meses.
Fármaco Esquema terapêutico

Imunoglobulina A melhor evidência de eficácia é demonstrada na dose de 1 g/kg de peso por três dias
humana consecutivos, sendo essa a dose recomendada para este protocolo.

Fonte: Brasil (2010).

8.2 Farmacologia e farmacoterapia de hipotonia na bexiga

Nas rotinas cirúrgicas, diante da necessidade de sedação e analgesia do paciente submetido a


uma cirurgia, é notória a observação de efeitos colaterais após um procedimento invasivo. Dentre
tais efeitos, a retenção urinária é a mais comum e incômoda ao paciente em leito hospitalar.
Inseridos em medidas para promover excreção urinária e reverter diminuição da motilidade do
trato urinário, fármacos agonistas colinérgicos são usados.

Do ponto de vista fisiológico, a acetilcolina na musculatura lisa da bexiga ativa os receptores


muscarínicos e, consequentemente, promove contração dessa musculatura e aumento da
motilidade, conduzindo à excreção urinária.

A seletividade do fármaco betanecol para os receptores muscarínicos é demonstrada. Esse


fármaco promove o aumento da motilidade do trato urinário e é principalmente empregado para
pacientes que apresentam retenção urinária pós-operatória e pós-parto. Além disso, tem
benéfica utilização para quadros de bexiga neurogênica hipotônica (GOLAN et al., 2009).

A farmacoterapia com betanecol, para adultos, é a seguinte: 10 mg a 50 mg três a quatro vezes


ao dia, por via oral. Em solução estéril subcutânea, a dose usual é de 5 mg/mL, embora alguns
pacientes respondam a doses menores, como 2,5 mg/0,5 mL.

Farmacologia e farmacoterapia de trato respiratório, trato


8.3 gastrointestinal e glaucoma
Nesta seção, serão abordados tratamentos em que o uso de anticolinérgicos (ou fármacos
parassimpatolíticos) é considerado como broncodilatadores ou quando é necessário o uso pela
propriedade antiespasmódica. Depois disso, serão abordados antagonistas adrenérgicos
(fármacos simpatolíticos) utilizados para reduzir a pressão intraocular.

Os antagonistas dos receptores muscarínicos, incluindo o representante mais conhecido,


atropina, impedem os efeitos da acetilcolina por antagonizar a ligação com os receptores
colinérgicos (muscarínicos), localizados em regiões neuroefetoras da musculatura lisa,
musculatura cardíaca e células glandulares, além dos gânglios periféricos e do SNC. Fármacos
anticolinérgicos produzem pouco antagonismo dos efeitos da acetilcolina (ACh) em receptores
nicotínicos. Isso é confirmado com os efeitos da atropina, que produz bloqueio parcial, em doses
relativamente altas, nos gânglios autonômicos em que a transmissão envolve especialmente a
ação da ACh sobre receptores nicotínicos. Desse modo, como na junção neuromuscular os
receptores são em grande parte ou somente desse tipo, são requeridas doses muito altas da
atropina ou de fármacos similares para produzir antagonismo (GILMAN et al., 2010).

A utilização de antagonistas colinérgicos com atuação nas junções neuromusculares (ou


neuroefetoras) exibe potencial e sensibilidade diferentes, correlacionados também com doses
diferentes. Por exemplo:

Baixas doses de fármacos antagonistas colinérgicos suprimem a secreção salivar e brônquica, além

de suprimir também a transpiração. As pupilas se dilatam com doses mais altas, ocorre inibição da

acomodação do cristalino para a visão de perto e bloqueio dos efeitos vagais sobre o coração,

conduzindo ao aumento da frequência cardíaca. O controle parassimpático da bexiga e do trato

gastrintestinal é inibido por doses ainda maiores, resultando na inibição da micção e redução do

tônus e da motilidade gastrintestinal. Para inibição da secreção e motilidade gástricas são

necessárias doses ainda maiores. Por esta razão, atropina e a maioria dos anticolinérgicos

relacionados, reduzem o tônus gastrintestinal e deprimem a secreção gástrica, além de afetar de

maneira dose-dependente, a acomodação ocular, a micção e a secreção salivar. (GILMAN et al., 2010;

p. 108).

O Quadro 9 mostra os efeitos da atropina relacionados à dose, de acordo com o discorrido no


parágrafo anterior, justamente para favorecer um nítido entendimento acerca dessa relação, com
aumento de efeitos produzidos à medida que a dose aumenta. Aqui está exemplificado o fármaco
atropina, por ser este um representante importante com propriedade anticolinérgica, inspirando a
síntese de outros fármacos com propriedade semelhante.

Quadro 9 - Dose-dependência dos efeitos da atropina no organismo

Dose Efeitos

0,5 Redução discreta de frequência cardíaca; leve ressecamento da boca; inibição da transpiração.
mg

1 mg Ressecamento da boca; sede; aceleração do coração, algumas vezes precedida por redução da
frequência cardíaca; dilatação pupilar suave.

2 mg Frequência cardíaca rápida; palpitação; ressecamento acentuado da boca; pupilas dilatadas; leve
turvamento da visão para perto (leve cicloplegia).

5 mg Acentuação de todas as alterações acima relatadas; dificuldades na fala e na deglutição; agitação e


fadiga; cefaleia; pele quente e ressecada; dificuldade ao urinar; redução do peristaltismo intestinal.
Dose Efeitos

10 Todos os sintomas acima relatados, todavia, mais acentuados; pulsação rápida; íris praticamente
mg e fechada; visão muito embaçada (cicloplegia); pele ruborizada, quente, ressecada e escarlate;
mais ataxia, agitação e excitação; alucinações e delírio; coma.

Fonte: Gilman et al. (2010).

Na farmacoterapia do trato respiratório, a atropina e outros fármacos relacionados reduzem as


secreções das vias respiratórias superiores e inferiores. Nos brônquios, a exemplo do produzido
pelo fármaco brometo de ipratrópio, eles causam dilatação brônquica. Brometo de ipratrópio não
produz efeitos adversos sobre o mecanismo de depuração mucociliar, ao contrário da atropina e
de outros antagonistas muscarínicos. Por essa razão, é preferido em oposição à atropina.

Na nebulização, forma de utilização do brometo de ipratrópio, as doses são as seguintes: para


adultos a dose recomendada é de 0,25-0,5 mg /20-40 gotas/1 mL a cada 4 a 6 horas; para
crianças acima de 5 anos, de 0,125-0,25 mg/10-20 gotas/0,5-1 mL a cada 4 a 6 horas. Já para
crianças menores de 5 anos, a posologia deve ser adaptada a critério médico, sendo que os
estudos realizados demonstram ser a dose adequada a de 0,05-0,125 mg/4-10 gotas/0,2-0,5 mL
a cada 4 a 6 horas.

Conforme mencionado, esse fármaco deve ser administrado via inalatória por nebulização da
solução diluída em 3-5 mL de solução salina (NaCl 0,9%), utilizando-se oxigênio ou ar
comprimido, e inalada até finalizar a solução. A solução deve ser diluída sempre antes de cada
utilização.

Para o trato gastrintestinal, embora não sejam fármacos de primeira escolha, existe o raciocínio
de utilização de anticolinérgicos em casos de gastrite e úlcera péptica, por causarem redução da
motilidade gástrica e da secreção ácida gástrica no estômago. Nesse contexto, o fármaco
pirenzepina, mais seletivo na inibição do receptor muscarínico M1 (receptor localizado no
estômago), é recomendado, para adultos, na dose de 50 mg a cada 12 horas. A dose máxima por
dia é de 150 mg, e, se necessário, para alguns pacientes pode haver uma modificação na
farmacoterapia, administrando-se 50 mg a cada oito horas.

A duração do tratamento é de quatro a seis semanas, podendo prolongar-se por até três meses
(em casos resistentes). Esse fármaco deve ser administrado em jejum, 30 minutos antes das
refeições. Ainda para o trato gastrintestinal, o fármaco hioscina pode ser utilizado para êmese
associada à cinetose na forma de adesivo transdérmico.

Para reduzir espasmos associados ao trato gastrintestinal, espasmos e discinesias das vias
biliares e espasmos do trato geniturinário, pode ser utilizado o fármaco anticolinérgico
escopolamina. O esquema terapêutico da escopolamina é estabelecido da seguinte forma: para
adultos e crianças (maiores de seis anos), a dose recomendada é de 10 mg 1-2 vezes ao dia; em
solução oral (10 mg/1 ml = 20 gotas) para adultos e crianças (maiores de seis anos),
recomendam-se de 20 a 40 gotas, 3-5 vezes ao dia. Já em crianças de um a seis anos,
recomendam-se de 10 a 20 gotas, três vezes ao dia e, em lactentes, 10 gotas, três vezes ao dia.

A posologia de butilbrometo de escopolamina baseada no peso corpóreo de uma criança até os


seis anos de idade pode ser calculada como segue: crianças até três meses: 1,5 mg por quilo por
dose, repetidas três vezes ao dia; crianças entre 3 e 11 meses: 0,7 mg/kg/dose, repetidas três
vezes ao dia; crianças de um a seis anos: 0,3 mg/kg/dose a 0,5 mg/kg/dose, repetidas três vezes
ao dia.

Quanto à utilização em oftalmologia, a produção de midríase (dilatação da pupila) é necessária


para exame completo de retina e disco óptico, além de tratamento para iridociclite e queratite.
Nesse caso, é usado o anticolinérgico tropicamida (1%) de maneira tópica (colírio), instilado nos
olhos. Quanto ao esquema terapêutico, recomenda-se a instilação de uma ou duas gotas.
Passados cinco minutos, deve-se instilar mais uma ou duas gotas. Diante da ausência de
atendimento ao paciente, decorridos 20-30 minutos da primeira instilação, deve ser instilada
uma gota adicional, com o propósito de prolongar os efeitos cicloplégico e midriático.

Com relação ao tratamento de glaucoma, doença caracterizada por aumento da pressão


intraocular, fármacos agonistas colinérgicos são empregados. O glaucoma é a causa mais
comum de cegueira irreversível nos dias de hoje. Os agentes hipotensores oculares são a única
farmacoterapia disponível para seu tratamento (ALMODIN et al., 2012). O betabloqueador timolol
0,5% é usado para esse problema.

Farmacologia e farmacoterapia de relaxantes musculares em


8.4 cirurgia
A utilização de bloqueadores neuromusculares gerando paralisia muscular permite intubação e
ventilação mais facilmente em procedimentos. Para causar paralisia muscular, o fármaco ideal
deve ter início rápido, duração curta e mínimos efeitos colaterais, além de ser reversível. Dentre
os relaxantes disponíveis para esse fim, nenhum cumpre com todos esses critérios. Esses
fármacos estão inseridos em duas categorias: agentes despolarizantes e agentes não
despolarizantes (McALLISTER; GNAUCK, 1999; GERARDI et al., 1996; WALLS et al., 2000).

Em anestesia geral, os fármacos bloqueadores neuromusculares colaboram ao ocasionar o


relaxamento requerido em processos de intubação na traqueia (GRIFFITH; JOHNSON apud
MARIA; TARDELLI; RODRIGUES, 2004).
O grau de relaxamento da musculatura da área cirúrgica é muito importante para o adequado

fechamento da cavidade. Frequentemente, nesta fase da anestesia, há necessidade de doses

adicionais de bloqueador neuromuscular com o objetivo de intensificar o relaxamento muscular.

Este fato adquire particular importância quando a complementação do bloqueio neuromuscular é

realizada com agentes de duração prolongada (MARIA; TARDELLI; RODRIGUES, 2004, p. 5).

Um representante dos relaxantes musculares, o fármaco succinilcolina, causa despolarização


por se ligar aos receptores pós-sinápticos, e, por conseguinte, produz

um período de excitação repetitiva, resultando em fasciculações musculares transitórias. Estas são

seguidas de bloqueio da transmissão neuromuscular e paralisia flácida. Clinicamente, a

succinilcolina produz fasciculações com contrações assincrônicas das fibras musculares, que

cessam com início da paralisia. A hipercalemia e aumento da pressão intracraniana são dois efeitos

adversos secundários ao aumento da atividade muscular (AMANTÉA et al., 2003, p. S133).

Outro efeito é a bradicardia. O início de ação produzido por succinilcolina é extremamente rápido
(paralisia em menos de 1 minuto), com duração de 5 a 10 minutos, na dose de 1 a 2 mg/kg. Esta
propriedade é preferida na sequência rápida de intubação (McALLISTER; GNAUCK, 1999;
GERARDI et al., 1996; WALLS et al., 2000 apud AMANTÉA et al., 2003).

Todavia, succinilcolina pode causar hipertermia maligna, caracterizada por uma reação
metabólica potencialmente fatal, devido às alterações térmicas exacerbadas (hipertermia), dano
em célula muscular, hipercoagulabilidade e alterações no equilíbrio hidroeletrolítico.

Já os fármacos bloqueadores neuromusculares não despolarizantes atuam como antagonistas


competitivos nos receptores colinérgicos (nicotínicos) localizados nas placas motoras terminais.
Comparados aos agentes despolarizantes, os não despolarizantes apresentam um tempo de
meia-vida maior. Em intubação, dentre os agentes não despolarizantes, rocurônio, atracúrio e
vecurônio são mais utilizados.

O fármaco rocurônio apresenta duração intermediária e é considerado tão eficaz quanto a


succinilcolina. O relaxamento muscular produzido por ele ocorre entre 30 e 45 segundos, na dose
de 0,6-1,2 mg/kg intravenosa ou intramuscular, todavia, a duração é de 30 a 45 minutos. Um
efeito indesejável que pode ocorrer é a taquicardia, facilmente antagonizada pelo fármaco
anticolinesterásico neostigmina. Esse é um fato interessante à reversão do efeito, uma vez que
neostigmina aumenta acetilcolina (por inibir a enzima acetilcolinesterase). O aumento de
acetilcolina competirá com o fármaco rocurônio na ligação com o receptor colinérgico. O
raciocínio aqui colocado vale para todos os outros agentes não despolarizantes.

O fármaco atracúrio também é um bloqueador neuromuscular com duração intermediária


utilizado na dose de 0,4 a 0,6 mg/kg. Uma vantagem é que a duração não é aumentada por
grandes ou repetidas doses, mas o fármaco está associado com a liberação de histamina.

Por apresentar reduzidos efeitos cardiovasculares e não produzir liberação de histamina, o


vecurônio também é utilizado como uma alternativa à succinilcolina. O início de ação é de 30 a
90 segundos, com duração de 90-120 minutos, na dose de 0,15 a 0,2 mg/kg.

O pancurônio, um relaxante muscular que apresenta um tempo de duração longo (ao redor de uma

hora), é utilizado frequentemente em terapia intensiva pediátrica, especialmente durante a

manutenção em ventilação mecânica e durante o transporte e realização de exames (AMANTÉA et

al., 2003, p. S134).

8.5 Farmacologia e farmacoterapia da fibromialgia

A fibromialgia (FM) pode ser compreendida como uma síndrome clínica dolorosa associada a
outros sintomas, também denominada de síndrome da fibromialgia. De acordo com a Associação
Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, Projeto Diretrizes para Fibromialgia (2004, p.
3),

a síndrome da fibromialgia pode ser definida como uma síndrome dolorosa crônica, não

inflamatória, de etiologia desconhecida, que se manifesta no sistema músculo-esquelético, podendo

apresentar sintomas em outros aparelhos e sistemas. Sua definição constitui motivo de

controvérsia, basicamente pela ausência de substrato anatômico na sua fisiopatologia e por

sintomas que se confundem com a depressão maior e a síndrome da fadiga crônica. Por estes

motivos, alguns ainda consideram-na uma síndrome de somatização.

A etiologia e a fisiopatologia da FM ainda são consideradas obscuras. Discussões atuais


apontam mecanismos centrais de modulação e amplificação da dor dando origem à FM. Sugere-
se que o distúrbio primário na FM ocorra devido a uma alteração em algum mecanismo central
de controle da dor, podendo resultar em disfunção de neurotransmissores. Essa disfunção
neuronal e hormonal inclui uma deficiência de neurotransmissores inibitórios em níveis espinais
ou supraespinais (serotonina, encefalina, noradrenalina e outros) ou uma hiperatividade de
neurotransmissores excitatórios (substância P, glutamato, bradicinina e outros peptídeos).
Também são consideradas disfunções geneticamente predeterminadas e desencadeadas por
situações de estresse não específico, por exemplo, uma infecção viral, estresse psicológico ou
trauma físico (BRADLEY; McKENDREE-SMITH, 2002).

O eixo hipófise-hipotálamo-adrenal e o sistema nervoso simpático, que compreendem os principais

sistemas de resposta ao estresse, juntamente com suas interações com as disfunções neuro-

hormonais, também são implicados na fisiopatologia (HELFENSTEIN JUNIOR; GOLDENFUM; SIENA,

2012, p. 360).

Fatores ambientais, hormonais e genéticos são considerados no seu desenvolvimento,


conduzindo a alterações na expressão e funcionamento de receptores neuro-hormonais.

Alterações no eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal (HPA), evidenciadas por aumento de cortisol


endógeno e consequente retroalimentação negativa (inibindo a produção de mais hormônio),
colaboram com a manifestação sintomática da FM. De modo complementar, o que motiva as
neuroadaptações sofridas pelo eixo HPA são estímulos de estresse crônico imprevisível,
contando também com a participação de sistemas de neurotransmissores, como serotoninérgico
e adrenérgico.

Como não há uma clara explicação para os sintomas típicos de FM, a farmacoterapia é definida
tendo como referência os mecanismos explicitados nos parágrafos anteriores. Além disso, é
comum a associação de FM em pacientes com depressão ou ansiedade. Por essa razão, o
tratamento também visa melhorar sintomas depressivos e ansiosos, bem como a qualidade do
sono.

Embora o objetivo seja reduzir a dor, os AIEs não são recomendados como tratamento de
primeira escolha, apenas se a FM está associada com outros sintomas dolorosos de cefaleia e
dores articulares.

No Brasil, há dois dos três medicamentos aprovados pelo FDA (Food and Drug Administration)
para o tratamento da FM: pregabalina e duloxetina. A pregabalina é um modulador do canal de
cálcio, diminuindo a liberação de neurotransmissores excitatórios da dor nas terminações
nervosas, especialmente a substância P e o glutamato. Os estudos demonstram alívio
significativo de dor, fadiga, ansiedade e distúrbios do sono com esse fármaco. A duloxetina é um
inibidor da receptação da serotonina e da noradrenalina que também tem se mostrado eficaz na
redução da dor e na melhora da capacidade funcional na FM, independentemente da presença de
depressão.
Os antidepressivos tricíclicos, especialmente a amitriptilina e a ciclobenzaprina, tomados em dose

única duas a três horas antes de deitar, podem ser eficazes na melhora da dor e da qualidade do

sono, além de contribuírem para a capacidade funcional (HELFENSTEIN JUNIOR; GOLDENFUM;

SIENA, 2012, p. 362).

Com propriedade miorrelaxante, mas não antidepressiva, o fármaco ciclobenzaprina também é


utilizado para FM. Afinidades de ciclobenzaprina foram determinadas para os receptores
serotoninérgicos do tipo 5-HT2, para os receptores de histamina tipo H1 e para os receptores
adrenérgicos α-2. A ciclobenzaprina apresentou alta afinidade para os receptores 5-HT2 e os
receptores adrenérgicos α-2. Esse fármaco não apresenta um grande efeito em receptores H1, o
que poderia explicar um menor potencial de ganho de peso. Além desses, há outros fármacos
utilizados para FM, conforme mostra a Tabela 6.

Tabela 6 - Fármacos e esquema terapêutico à fibromialgia


Fármacos Esquema terapêutico

Amitriptilina 12,5–50 mg, administrada duas a quatro horas antes de deitar.

Ciclobenzaprina 10-30 mg, administrada duas a quatro horas antes de deitar.

Fluoxetina 10-40 mg, administrada pela manhã.

Alprazolam 0,5 mg a 3 mg aumentam a efetividade da resposta terapêutica associada a anti-


inflamatório esteroide. Não deve ser utilizado em pacientes com FM continuamente
devido à dependência química.

Fonte: AMB; CFM (2004).

De modo complementar à farmacoterapia apresentada, o paracetamol e a dipirona constituem


alternativas para analgesia, como tratamento coadjuvante. A utilização de tramadol associado
ao paracetamol contribui para a melhora da dor nos pacientes com fibromialgia (BENNETT et al.,
2003).
Videoaula - Considerações finais

Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
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Considerações finais
Diante da discussão acerca da farmacologia e da farmacoterapia ao SNC e ao SNA, pode-se
notar que há uma inter-relação direta ou indireta de enfermidades. A justificativa para esse fato é
corroborada pela localização tanto periférica como central de neurotransmissores. De modo
complementar, algumas doenças, por exemplo, a fibromialgia, estão fundamentadas de maneira
obscura, nesse caso com participação neuronal nos reflexos dolorosos periféricos. Por outro
lado, fármacos inicialmente estudados para atuar em junção neuromuscular e que conseguem
passar a barreira hematoencefálica são usados para doenças neurodegenerativas, inibindo a
enzima acetilcolinesterase, por exemplo, os anticolinesterásicos. Aqui aparece uma capacidade
considerada de precípua importância à discussão que permeia a relação SNC-SNA: a passagem
de moléculas pela barreira hematoencefálica.

Neste módulo, estudamos que antidepressivos são usados para tratar fibromialgia, mais uma vez
fortalecendo a relação SNC-SNA. De maneira complementar, as bases fisiopatológicas não estão
plenamente desvendadas, e a associação de fibromialgia em pacientes com depressão e
ansiedade é demonstrada.

Outra enfermidade, a doença de Alzheimer, que tem fármacos direcionados ao aumento da


acetilcolina em regiões de placas motoras terminais, os denominados anticolinesterásicos, conta
com eles para a melhora de distúrbios cognitivos.

No mesmo caso estão os mecanismos de ação de fármacos antidepressivos e antipsicóticos,


além das propriedades relativas à depressão e aos distúrbios psicóticos, respectivamente. Como
exemplo, as propriedades anti-histamínica, antiadrenérgica e anticolinérgica, produzindo efeitos
colaterais no SNA.

A visão de que esses assuntos aqui tratados são ilimitados, com renovação contínua de
farmacoterapias, alimenta a necessidade de atualização e saber nessa área. Por essa razão, em
farmacologia clínica, a prática será ditada pelo conhecimento refinado de farmacologia e
farmacoterapia, aliada à consciência de que, em inúmeros momentos, as respostas do SNC
entrelaçam-se com as do SNA, sendo o contrário também é verdadeiro.
Autoria
Dra. Jaqueline Rocha Borges dos Santos
Autora
Possui graduação em Ciências Farmacêuticas (1999), mestrado em Farmacologia pela
Universidade Estadual de Campinas e doutorado em Farmacologia pela Universidade de São
Paulo. Realizou doutorado sanduíche na University of California - Santa Barbara (UCSB).
Realizou estágio de pós-doutorado na Universidad de Granada (UGR), Espanha, com atividades
desenvolvidas no Hospital Universitário Virgen de las Nieves; e na Universidade de São Paulo,
com estudo de modulação produzida por canabidiol no sistema dopaminérgico. Tem experiência
nas áreas de: Cuidado Farmacêutico, Farmacovigilância, Farmacologia, Farmacoterapia e
Farmácia Hospitalar; atuando principalmente nos seguintes temas: educação em saúde, uso
racional de medicamentos, sensibilização comportamental entre estresse e etanol, canabinoides,
distúrbios psiquiátricos, distúrbios endócrinos e interações medicamentosas.

André Luiz de Moura


Autor do vídeo

Graduado em Farmácia - UNIMEP; Mestre em Biologia Funcional e Molecular - UNICAMP; Doutor


em Ciências - Área de concentração em Farmacologia - UNIFESP. Docente na disciplina de
Farmacologia de Quimioterápicos.
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