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Toxicologia Geral
Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
nos Sistemas Nervoso Autônomo e Central
Revisão Textual:
Prof.ª M.ª Sandra Regina Fonseca Moreira
Processos Farmacodinâmicos de
Fármacos nos Sistemas Nervoso
Autônomo e Central
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Conhecer os fármacos que atuam no sistema nervoso autônomo: agonistas e antagonistas
colinérgicos, agonistas e antagonistas adrenérgicos e relaxantes musculares de ação periférica;
• Conhecer os fármacos que atuam no sistema nervoso central: Anestésicos inalatórios, intraveno-
sos e locais, anticonvulsivantes, tranquilizantes, hipnoanalgésicos, ansiolíticos e antidepressivos.
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nos Sistemas Nervoso Autônomo e Central
Embora se esteja ainda muito longe de compreender a base celular e molecular das
múltiplas e complexas funções do SNC, os progressos farmacológicos obtidos nos últi-
mos anos já permitem uma intervenção terapêutica eficaz e relativamente seletiva em
muitas situações decorrentes de perturbações funcionais do SNC.
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O Sistema Nervoso Autônomo (SNA) consiste em três divisões anatômicas princi-
pais: simpática, parassimpática e o sistema nervoso entérico. O SNA se encontra,
em grande parte, fora da influência do controle voluntário. Os principais processos que
ele regula são:
• A contração e o relaxamento da musculatura lisa;
• Todas as secreções exógenas e certas secreções endócrinas;
• Os batimentos cardíacos;
• O metabolismo energético, particularmente no fígado e na musculatura esquelética.
Outros sistemas são também afetados pelo controle autonômico, incluindo rins, siste-
ma imunológico e sistema somatossensorial. A inervação do SNA é usualmente dupla,
todavia, um sistema costuma predominar:
• Sistema Simpático: as fibras simpáticas pré-ganglionares abandonam o sistema
nervoso central a partir de T1 a L2 (toracolombares), passam pela cadeia simpá-
tica e seguem para os tecidos e órgãos pelos neurônios pós-ganglionares. Dentre
as ações promovidas pelo sistema parassimpático estão a contração das pupilas,
o aumento da liberação de secreções como suor e saliva, a redução de batimentos
cardíacos e a contração da musculatura lisa;
• Sistema Parassimpático: as fibras parassimpáticas (crâniossacrais) que partem do
sistema nervoso central pelos nervos cranianos III, VII, IX e X e ainda pela terceira
e quarta raízes espinhais sacrais. Praticamente 75% de todas as fibras nervosas
parassimpáticas estão nos dois nervos vagos que proporcionam uma extensa iner-
vação toracoabdominal. As fibras parassimpáticas pós-ganglionares se encontram
nas paredes dos órgãos de modo que promovem a manutenção das funções vitais
essenciais para a vida.
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Quando falamos sobre sistema nervoso há inúmeras formas de comunicação via neu-
rotransmissores entre os neurônios, dentre eles podemos citar dopamina, histamina,
glicina, ácido gama-aminobutírico (GABA), dentre outros. São estes neurotransmis-
sores que desencadeiam respostas teciduais e glandulares, além de estimularem a pro-
dução de enzimas e hormônios.
Os canais iônicos podem ter sua função alterada devido à ação dos fármacos, que
podem interagir diretamente com um receptor (como nos canais iônicos regulados por
ligantes), ou quando o próprio fármaco se liga à proteína do canal e altera a função
(como nos canais iônicos regulados por voltagem).
Por fim temos as moléculas transportadoras, que são proteínas responsáveis pelo
transporte de pequenas moléculas orgânicas e íons pelas membranas celulares e que
podem ser alvo para a ação de fármacos.
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A acetilcolina é sintetizada a partir da substância colina. Para a reação bioquímica que
transforma colina em acetilcolina é necessário a atuação da enzima colina acetiltransfe-
rase, também conhecida como acetil-CoA. A acetilcolina é encontrada apenas como me-
diador endógeno (substância sintetizada pelo próprio organismo). Quando liberada pelas
fibras pré ou pós-ganglionares, promovem velozmente as respostas biológicas.
A proteína G é um heterodímero formado por duas subunidades: α para ligação com GTP
(guanosina trifosfato), que possibilita o reconhecimento específico de receptores e efetores,
e por subunidades β e γ, que formam um dímero bastante estável. Quando está em repouso
o receptor-heterodímero, a subunidade α contém GDP ligado e o complexo α-GDP: βγ está
acoplado ao receptor sem o ligante. ]
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Agonistas Colinérgicos
Como discutido anteriormente, os efeitos parassimpáticos são desempenhados pela
acetilcolina. Para que a acetilcolina exerça suas funções biológicas, ela deve ser cap-
tada por receptores presentes nas membranas celulares dos órgãos “alvo”. As reações
mediadas pela acetilcolina são relacionadas com o sistema colinérgico (por causa da
colina). Assim, a via colinérgica é a via da acetilcolina, e esta atua no sistema nervoso
parassimpático. Assim, quando falamos em transmissão colinérgica, referimo-nos ao
sistema nervoso parassimpático e como ele regula os tecidos (Quadro 1).
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Quadro 1 – Principais tipos de receptores colinérgicos do Sistema
Nervoso Periférico e suas respectivas ações terapêuticas
Antagonistas Colinérgicos
Os antagonistas colinérgicos, também chamados de anticolinérgicos, ou bloquea-
dores dos receptores muscarínicos (antimuscarínicos), inibem as respostas da estimu-
lação dos nervos colinérgicos pós-ganglionares do sistema parassimpático, em especial
aqueles que inervam as glândulas exócrinas e os músculos lisos, ou seja, são seletivos.
Os anticolinérgicos evitam que a acetilcolina exerça sua atividade ao nível dos seus re-
ceptores existentes nas células efetoras. Essas substâncias (Quadro 2) não impedem a
biossíntese da acetilcolina. E, devido a serem lipossolúveis, são absorvidos rapidamente
pelo intestino e atravessam a barreira hematoencefálica.
Agonistas Adrenérgicos
Agonistas adrenérgicos são fármacos que, direta ou indiretamente, estimulam o
adrenorreceptor e mimetizam os efeitos simpáticos, já que são estimulados por adre-
nalina ou noradrenalina, como discutido anteriormente.
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Antagonistas adrenérgicos
São drogas cujo principal efeito consiste em ocupar os receptores α ou β fora do
sistema nervoso central, por isso são denominadas antagonistas ou bloqueadores de
receptores α ou β (Quadro 3). Essa atividade adrenérgica pode ser bloqueada em vários
pontos do processo estimulante simpático.
Os α bloqueadores apresentam efeito vigoroso sobre a pressão arterial, atuando
principalmente sobre o músculo liso e plaquetas. O uso terapêutico dos α antagonistas
compreende hipertensão arterial sistêmica, hipertensão secundária, como feocromoci-
toma, disfunção sexual, hiperplasia benigna prostática, dentre outros. Também possui
efeitos cardiovasculares, atuando sobre o tônus arterial e venoso causando uma diminui-
ção na resistência vascular periférica e pressão arterial. Os β bloqueadores apresentam
efeitos no coração, cérebro, músculo liso e estriado cardíaco, além dos lipócitos.
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provocarem relaxamento muscular. Podem exercer seu bloqueio na pré-sinapse, no neu-
rônio, ou na pós-sinapse, na fibra muscular. Entretanto, todos os fármacos clinicamente
importantes atuam na pós-sinapse.
Há várias substâncias empregadas na clínica que atuam, principalmente, na inter-
rupção da transmissão do impulso nervoso na junção neuromuscular esquelética.
Com base nos efeitos característicos dessas substâncias elas podem ser classificadas em:
agentes competitivos de bloqueio não-despolarizante, por meio de um antagonista,
cujo exemplo clássico é a tubocurarina (Curare), e agentes de bloqueio despolarizan-
tes, por meio de um agonista, como a succinilcolina. Os bloqueadores neuromuscula-
res também atuam em outros locais importantes, incluindo os gânglios autônomos.
A tubocirarina é usada em anestesia, atuando como bloqueador competitivo da
acetilcolina nos receptores nicotínicos da placa terminal, promovendo assim a parali-
sia motora. A succinilcolina age por um mecanismo diferente, no qual seu efeito inicial
e despolarizar a membrana do mesmo modo que a acetilcolina, embora com maior
persistência, pois não é metabolizada nas sinapses. Com isto, resulta um breve período
de disparo manifestado por fasciculação muscular transitória, onde as membranas per-
manecem despolarizadas e não respondem a impulsos subsequentes.
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Anestésicos inalatórios
Utilizados para manter o estado anestésico após administração de um agente intra-
venoso. Possuem indução e recuperação rápida, permitindo um controle flexível sobre
a profundidade da anestesia. Como exemplos desse grupo de fármacos temos o óxido
nitroso, o halotano, o metoxiflurano, o enflurano e o isoflurano
Anestésicos intravenosos
São utilizados para a rápida indução de anestesia, a qual é, então, mantida com
um agente inalatório; agem rapidamente, produzindo inconsciência tão logo o fármaco
atinja seu local de ação. Como exemplos desse grupo de fármacos temos o tiopental, a
quetamina, o etomidato e o propofol.
Anestésicos locais
São substâncias capazes de impedir, de modo reversível, a condução de impulsos
nas fibras nervosas, através do bloqueio dos canais de sódio. Desse modo, as sensações
que vêm da periferia para o SNC (aferentes) e as mensagens que o SNC manda para a
periferia (eferentes) são suspensas. Como exemplos desse grupo de fármacos temos a
cocaína, a procaína, a lidocaína, a prilocaína, a tetracaína e a bupivacaína.
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Você Sabia?
O primeiro anestésico local descoberto foi a cocaína, um alcaloide contido em porcenta-
gens consideráveis nas folhas de um arbusto das montanhas dos Andes.
Anticonvulsivantes
Esse grupo de fármacos, como o próprio nome sugere, atua revertendo episódios
convulsionantes. Um exemplo disso é a epilepsia, que é um distúrbio caracterizado por
uma crise associada a convulsões, dependendo da área do cérebro afetada, que tomam
várias formas e são devidas a descargas neuronais episódicas. A epilepsia pode ser clas-
sificada de duas formas:
• Crises Parciais: Que podem ainda ser do tipo Simples (quando não há perda da
consciência, com distúrbios focais sensoriais, motores, autônomos e psíquicos); ou do
tipo Complexa (que é caracteriza por episódios de alucinações sensoriais complexas e
distorção mental, perda da consciência e é a mais comum entre os tipos de epilepsia);
• Crises Generalizadas: que se apresenta como Crise Tônico-clônica (quando há
perda da consciência, queda, extensão rígida de tronco e membros, contração rít-
mica dos membros); pode se apresentar também como Crise de Ausência (quando
há perda da consciência por um curto período de tempo, sendo mais comum entre
crianças, com ou sem piscar de olhos); e, por fim, como Crise Mioclônica (quando
há curtos episódios de contração muscular, esse é o tipo mais raro).
Tranquilizantes
Esse grupo de fármacos são também conhecidos como antipsicóticos, neurolép-
ticos ou antiesquizofrênicos e são usados para tratar a esquizofrenia, por exemplo,
uma das formas mais comuns e debilitantes de doença mental.
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Hipnoanalgésicos e Ansiolíticos
Os fármacos destes grupos são usados no tratamento da ansiedade, síndrome do
pânico e fobia, denominados ansiolíticos, e os fármacos usados no tratamento da
insônia, denominados hipnóticos. Os ansiolíticos atuam seletivamente sobre a ansie-
dade, não interferindo com as funções cognitivas e vegetativas, estimulando a ação dos
neurotransmissores que promovem efeitos sobre as emoções e no controle do sono.
Dependendo do mecanismo de ação desses fármacos, podem ser classificados em:
• Benzodiazepínicos: São fármacos com efeitos que reduzem a ansiedade e a agres-
sividade, sedação e indução ao sono, redução do tônus muscular e da coordenação
motora, efeito anticonvulsivante e amnésia retrógrada. Potenciam a inibição neuro-
nal mediada pelo ácido gama-aminobutírico (GABA). São exemplos desse grupo de
fármacos o alprazolam, clonazepam, cloxazolam, diazepam e lorazepam;
• Agonistas dos receptores de serotonina: São os fármacos mais recentemen-
te desenvolvidos, que possuem atividade ansiolítica com discreta sedação. Como
exemplo deste grupo de fármacos temos a buspirona;
• Barbitúricos: São fármacos que apresentam efeitos desde sedação e redução da
ansiedade à inconsciência e morte por falência respiratória e cardiovascular. Devido
aos efeitos adversos que apresentam são considerados perigosos, por isso não são
mais recomendados como ansiolíticos/hipnóticos, considerando que os benzodia-
zepínicos são bem mais seguros.
Antidepressivos
A depressão é uma condição psiquiátrica extremamente comum. Atualmente existe
uma série de teorias neuroquímicas e uma variedade de diferentes tipos de fármacos
usados em seu tratamento.
Os fármacos pertencentes a cada uma das classes são bastante homogêneos, distin-
guindo-se mais pelos aspectos quantitativos do que qualitativos, assim como pela farma-
cocinética. Eles pertencem às seguintes categorias:
• Inibidores da captura da monoaminas: São os fármacos antidepressivos tricíclicos
(imipramina, amitriptilina) e os fármacos inibidores seletivos da captura da serotonina
(fluoxetina, paroxetina, sertralina);
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• Inibidores da Monoaminooxidases (IMAO): São fármacos que inibem a ação da
enzima monoamina oxidase (MAO), que é responsável por degradar monoaminas
como a noradrenalina, tiramina, dopamina e serotonina, promovendo assim um au-
mento na concentração dessas substâncias no corpo e no cérebro. Isso garante uma
condição de excitação dos neurônios que possuem receptores para esses mediado-
res. Os fármacos IMAO são a fenelzina, tranilcipromina, iproniazida e moclobemida;
• Antidepressivos variados: bupropiona, mianserina, trazodona.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Farmacologia e Terapêutica em Veterinária
BOOTH, N. H.; MCDONALD, L. E. Farmacologia e Terapêutica em Veterinária.
8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
Farmacologia Clínica: Fundamentos da Terapêutica Racional
FUCHS, F. D.; FERREIRA, M. B. C.; WANNMACHER, L. Farmacologia Clínica:
Fundamentos da Terapêutica Racional. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
Vídeos
Neurotransmissores
https://youtu.be/FD8Qaw1TS-k
Leitura
Sistema colinérgico: revisitando receptores, regulação e a relação com a doença de Alzheimer,
esquizofrenia, epilepsia e tabagismo
VENTURA, A. L. M. et al. Sistema colinérgico: revisitando receptores, regulação
e a relação com a doença de Alzheimer, esquizofrenia, epilepsia e tabagismo. Rev.
psiquiatr. clín., São Paulo, v. 37, n. 2, p. 66-72, 2010.
https://bit.ly/3lE6suu
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Referências
RANG, H. P. Farmacologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
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